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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Rohden 1937 por Quintão - Rohden 1945



            Em duas ocasiões, localizamos textos que se referem ao prof. Huberto Rohden. Vale a pena compará-los....




Casos e Coisas

III

                        Em nossa anterior respiga (compilação) [1], vimos a sem cerimonia com que o Rev. Rohden procura legitimar a autoridade da sua Igreja.

            Os espiritistas conscienciosos sabemos que a história do catolicismo é a maior intrujice (logro) impingida à humanidade no transcurso da sua laboriosa evolução planetária.

            Aranhol (armadilha) de mitos e símbolos decalcados no paganismo; qual mais fantasioso e absurdo, sempre variável consoante às circunstâncias de tempo e meio, não é preciso ser douto, mas simplesmente lido e sofrivelmente racionalista para lhe repugnar as credenciais que avoca, de árbitro da consciência humana, de suserania espiritual.

            Basta ler sem espirito preconcebido os Evangelhos do Senhor, para concluir que toda a obra do catolicismo é o que pode haver de mais contrário, teórica e praticamente, à índole do Cristianismo. Nem por menos, melhor pudera dizê-lo Gonzalez Blanco :

            “O Cristianismo em seus primórdios não foi mais que uma instituição monástica, que não conseguiu adaptar-se e muito menos aplicar-se a qualquer sociedade humana, até que se mundanizou, convertendo-se em catolicismo”. (1)

            (1)  Nuevo Ideal de Ia Humanidad, pág. 326

            Mas, ainda bem que o caroável (amável) jesuíta admite a coexistência de outras religiões, que levam a criatura a dar com os costados no céu ...

            Na conclusão de seus escritos na “Ordem” e pela ordem, obrigada a ilustração fotográfica - um facies de alma regalada em corpo teuto bem nutrido, antes que esquálido cenobita (de existência austera) sequioso de angelitudes - pergunta-nos ele com embelecos (atrativos)  de freira noviça:

            qual a religião do mundo que tem levado ao céu maior número de almas?

            Em boa tese, é claro que a resposta só poderia ser dada com estatísticas autenticas, admitindo haja lá, no dito cujo céu de sua imaginaria concepção, uma burocracia especializada.

            Não pensem, porém, que o Rev. em sanhas de anfigurismo (?) se detenha em considerações que tais. Não. Ele, nisso de histórias, vai de vento fresco com Quintiliano (orador do século I) que diz ser a história escrita para contar, não para, provar, - scribitur ad narrandun, non ad probandun.

            Ainda assim, louvemos o escrúpulo do Rev., porque estamos em crer que se ele aventurasse um número concreto, não deixaria de abiscoitar admiração maior da Ordem e dos seus pios leitores coordenados.

            O interessante, porém, é que a pergunta implicitamente comporta a hipótese de outras religiões, capacitadas de cooperação eficiente na obra do “Sindicato dos Despachantes celestes”...

            Essa abnegação, de um exclusivismo até agora fechado, maciço, irredutível, é já um progresso que as outras religiões devem registar e agradecer ao Rev. .

            Quanto a nós, ficamos sabendo que, no jogo dos palpites e pelo censo matemático de sua Reverendíssima, não temos prestígio que valha perante o instituto do Pistolão divino ... E sabem os confrades por que? Porque ainda não fabricamos - fabricar é bem o termo - homens virtuosos, heróis de perfeição cristã, “santos”, em suma! (sic).

            Satisfeito com o achado da sua grande alma, devorada a esfinge, gorgolejante de parenética e fremente de entusiasmo, prossegue, então, com a “lista de chamada”, dos beneficiários da sua indústria, a começar pela Virgem Santíssima de mil nomes, os Apóstolos, alguns varões realmente conspícuos, e a terminar com a Terezinha do Menino Jesus!

            Aí transparece a filáucia (egoísmo)  dos métodos jesuíticos, sempre apriorísticos, da catequese eclesiástica.

            Método difuso, confuso, abstruso, obtuso e aleivoso (fraudulento) , sempre.

            Desarticulada a peça, examinada a frio, que se pode inferir?

            l. - que o padre admite católicos antes de haver catolicismo. O carro adiante dos bois ...

            2. - quer, sejam da sua Igreja apenas, os que só por espírito de caridade nela se filiaram ocasionalmente, antes que por vocação ortodoxa.

            3. - julga-se consciente e onipotente para arbitrar santidades alheias.

            4. - omite todos os santarrões da sua grei, que, analisados e somados, dariam um tratado de tetarogenia (?)  criminal e aberração religiosa.

            Não. Positivamente, não. O Rev. Rohden não conhece, ou melhor, finge não conhecer o Espiritismo, pois de outra forma não argumentaria tão puerilmente, a indagar quais os santos que a doutrina dos Espíritos tem incorporado às milícias celestes. Porque a verdade é que nenhum adepto da Nova Revelação é candidato à santificações de improviso, ou de encomenda, para uso-fruto de beatitudes indefinidas e problemáticas.

            Nós, nenhum de nós, pretende ser santo, senão num sentido relativíssimo, pela quota de iluminação e pacificação da própria consciência.

            E assim pensando, e sentindo, melhor nos integramos na palavra de Verdade com o reino dentro de nós, qual o situou o Cristo de Deus.         

            O clero, e todo clero, deve mesmo contrabater o Espiritismo, porque o Espiritismo integral é a vitória do Cristo sacrificado há vinte séculos e usurpado à consciência das massas, sem embargo de lutas cruentas, ignóbeis, desencadeadas em seu nome.

            O Espiritismo apoiado em fatos, antes que em teorias, representa a emancipação da consciência humana, para compreender a imanência dos seus destinos.

            O espírita não crê apenas porque viu, sentiu, soube; mas sabe porque viu, sentiu, creu.

            De resto, não se pode presumir paralelismo religioso entre Espiritismo e Catolicismo.

            Religioso católico é o individuo que aceita Deus condicionalmente, mediante fórmulas e ritos exteriores, consagrados. O espírita cristão não faz a religião, não vive da religião, nem combate a religião de quem quer que seja.

            O que o espirita não aplaude é a hipocrisia das religiões.

            Ele não inventa sistemas de salvação e compressão, não fabula milagres, não violenta consciências, não manda crer e sim raciocinar.

            Afinal, o Rev.  incide no erro, erro ou versucia (sagacidade) , de supor que a doutrina espírita se adscreve (acrescentar ao que já foi escrito) ao comércio das evocações e manifestações dos mortos, quando a verdade é que ela assenta, inteirinha, na racionalidade da sua filosofia.

            Nem é o homem a procurar os Espíritos, mas estes a manifestarem-se espontaneamente ao homem, qual o fizeram de todos os tempos, a dentro mesmo dos arraiais católicos, e apenas sob um prisma teológico mais consentâneo com a mentalidade contemporânea. Há desvios e aberrações? De acordo ... São do homem, não da Doutrina. E quantos apontaríamos à Igreja?

            O homem, em tese, ainda é aquele homem velho a que se refere o Divino Mestre, e nessa categoria - aqui a bola do padre é boa - estão aqueles confrades que exornam as fachadas dos Centros Espiritas com os nomes dos “santos” do seu tronchudo hagiológio (estudo dos santos), dele padre. Também se poderia alegar que o caso é menos sério e a coisa menos grave, porque a homenagem é antes ideal que nominal ...

            Mas, para que? Essa gente é ferrenha, é testuda (teimosa), e, ao menos nisso, não custa fazer-lhes a vontade.

            Que a questão não é mesmo de casca e sim de miolo...


M. Quintão
Reformador (FEB) 16 Fev 1937





Confissões
           
            Não iremos transcrever trechos das Confissões de Santo Agostinho, mas de um livro - Deus -  da autoria de uma das mais cultas inteligências da famosa Companhia de Jesus, o Rev. Padre Huberto Rohden, atualmente, segundo estamos informados, professor de uma Universidade mantida pelos padres jesuítas na América do Norte:

            "- O teu reino não é deste mundo. Querem os homens - humanos, por demais humanos - que o teu reino, Senhor, que no mundo está, seja também deste mundo.

            "Querem os homens provar com eruditos silogismos que a alma do teu Evangelho é compatível com o corpo do nosso mundo - deste mundo tão imundo...

            "Querem os homens demonstrar matematicamente que o espírito do Sermão da Montanha não é contrário ao espírito da nossa sociedade - desta nossa sociedade burguesa e sem espírito. "

            "Querem os homens fazer do Cristianismo uma religião moderna, elegante, grã-fina - religião de salão e de palácio ...

            "Reduzem a artísticas cruzinhas de ouro e madrepérola, para ornamento e vaidade, o tosco e sanguinolento madeiro que o teu Messias arrastou ao Gólgota, com sofrimento atroz...

            "Querem polir e envernizar esteticamente o símbolo da redenção, com medo de se ferirem em suas agudas arestas...

            "É assim que os cristãos entendem o seu Cristianismo - que não é o Cristianismo do teu Cristo...

            "Desde que o primeiro imperador cristão tirou da noite tri-secular das catacumbas a tua igreja e a levou da cruz aos salões, começou a decadência do teu reino - do teu reino, não em si mesmo, mas entre os homens ...
           
            "O clima da tua igreja é o clima do Getsêmane e do Gólgota - e fora deste clima não pode ela viver e prosperar ...

            "Tua igreja é uma perene tempestade de Pentecostes - e não um salão de festas forrado de tapetes e guarnecido de poltronas...

            "As igrejas degeneraram, muitas delas, em sectarismo político - e o homem dos nossos dias tem horror a todos os fetiches, a todas as jaulas do corpo e da alma ...

            "A alma "naturalmente cristã" volta-se, com irresistivel avídez para o sol, para o Cristo, para ti, Senhor - e foge de todos os lampiões e de todas as lanternas multicores com que os homens pretendem substituir o sol do teu Evangelho ... "

            "Sucedeu, então, à benéfica inimizade dos Pílatos a maléfica amizade dos Constantinos, que desceram da cruz a igreja do Nazareno, arrancaram-lhe das mãos os cravos e deram-lhe o cetro do poder mundano; substituíram a coroa de espinhos por uma coroa de ouro e pedras preciosas: em vez da púrpura sagrada do seu sangue redentor cobriram-na com a púrpura profana da Babilônia, e mandaram o Cristo dos séculos sentar-se no trono da política e dos interesses mundanos, em vez de doutrinar os povos da cátedra divina da cruz ...

            "E o teu reino, Senhor, que deste mundo não é, mundanizou-se nas mãos de homens que são deste mundo. Ficou-lhe, sim, pura e inalterada a alma - porque nenhuma potência do inferno pode adulterar a alma do teu reino -  mas a tal ponto se mundanizou o corpo da tua igreja que dificilmente se pode descobrir-lhe a alma divina através desse corpo profano ...

            "Se os cristãos continuarem na sua infeliz tentativa de intoxicar o teu reino com a peçonha da política profana e dos compromissos interesseiros, teu Messias, quando voltar, não encontrará fé entre os homens ...

            Os trechos que ai estão, inclusive as reticências, são do próprio Autor. Só nos resta afirmar que estamos de perfeito acordo com o muito ilustre escritor jesuíta.



assina     I. Pequeno
(Antônio Wantuil de Freitas)
in ‘Reformador’ (FEB) em  Dezembro  1945




[1] Infelizmente, ainda não temos o exemplar mencionado no texto. Do Blog. 



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