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domingo, 8 de maio de 2011

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IV.       Há uma referência feita por Joseph-Marie Sauget a um São Marinho, chamado o Velho, festejado no dia 8 de agosto e que morreu em 290. Baseado em documentos antigos, o mártir, escreve Sauget, teria residido em Anazarba, cidade da Cilícia, na Ásia Menor, região onde os cristãos seriam batidos pelos sarrecenos em 1190.
            Preso porque aceitava o Evangelho de Jesus, ao tempo do Imperador Diocleciano, foi transferido para Tarso e colocado à frente do governador Lísias. Pela recusa em prestar sacrifícios aos ídolos, foi torturado e condenado à morte por decapitação, fora da cidade. Se corpo foi jogado, após, às feras.
            Esse autor faz também alusão aos mártires Frontone, Secondino e a outro Marino, ligados à região de Antióquia. Confessa, entretanto, serem escassas as notícias sobre eles.

V.        De acordo com a tradição, no início do século IV, para fugir das perseguições que se moviam aos cristãos da época, um talhador de pedra chamado Marinus (310-395), alsaciano de origem, chegou ao monte Titano, nos Apeninos, e ali começou a explorar as pedreiras da região. Marinus, criatura muito piedosa, acabou por converter ao Cristianismo a proprietária das terras, tendo, igualmente, curado seus filhos, há muito enfermos. Como recompensa, recebeu de presente as terras que circundam o monte, aproveitando-as para ali criar uma comunidade cristã. Por volta do ano 755, já se falava do ‘Castellum Sacti Marino’. Em 855, o mosteiro do monte Titano era mencionado em documentos. E, com o tempo, à volta dele se reuniu e desenvolveu uma população organizada que deu origem à Republica de São Marinho, o mais antigo país republicano na Europa e o menor do mundo, situado ao Norte da Itália.
            É comemorado a 4 de setembro.

VI.      A menção de Philippe Roillard a uma biografia de São Marinho, escrita no século VI, pelo nobre Dinamio, não vem acompanhada de muitos informes. Nascido em Orléans, França, teria entrado para a vida monástica de sua própria cidade natal, sendo eleito primeiro monge do convento de Bodon ou de Val-Benoit, na diocese de Sisteron, eleição confirmada pelo bispo Giovanni. Pouco antes de morrer, recebeu a visita de Lucrécio, bispo de Die, a ele comunicando que os bárbaros haviam invadido a Itália e destruído seu convento.            
            Foi morto no dia 27 de janeiro do ano 550.

VII.      No século XII vamos identificar outro São Marinho, monge dos Tirrenos e eleito pelo governo da abadia de Cava, em 9 de julho de 1146, um mês após a morte de seu antecessor, o beato Falcone. Permanecendo no cargo durante 24 anos, cuidava do vestuário dos companheiros, bem como zelava pelas relíquias do convento, incluindo sua documentação. Esses dados nos são fornecidos por Giovanni Mongelli, apoiado em obras da literatura francesa e italiana.

VIII.    De acordo com Alfonso M. Zimmermann, há uma história destacando duas figuras de mártires na Baviera: Marinho e Aniano, ambos mortos pelos bárbaros. Os corpos dos dois foram solenemente transladados por volta de 755, pelo bispo Guiseppe de Frisinga para a Igreja de Aurisium.

IX.       Chamados na Alemanha “santos peregrinos”, Marino, Vímio e Zímio viveram provavelmente na segunda metade do século XII como eremitas no vale do Altmühl, nos arredores de Dietfurt. Todos os três depois da morte foram venerados pelo povo como santos - esclarece Minoka Kornstedt.

X.        A Bibliotheca Sanctorum (Istituto Giovanni XXIII - Della Pontificia Universitá Lateranense) faz ainda referências aos seguintes vultos:                   
            a) São Marinho, mártir de Eleuteropoli - trabalho realizado por Vicente Grumel;
            b) São Marinho, bispo venerado em Besalù - obra de Justo Fernández Alonso;
            c) São Marinho, mártir em Alvernia - estudo empreendido por Gérard Mathon.
           
Uma Vida Não Revelada
            A relação apresentada, embora cansativa, evidencia a multiplicidade de santos com o nome Marinho.
            Há, entretanto, na lista que a literatura católica divulga, uma omissão.
            Se a obra “50 Anos Depois” fosse aceita pela Igreja, não só ficaria completa a relação como se daria justo realce a um dos mais elevados Espíritos que têm habitado o Planeta.
            O livro que Emmanuel escreveu através da psicografia de Francisco Cândido Xavier e que a FEB lançou em 1940 é a história do Irmão Marinho. Nome que se funde com o da personagem central da obra: Célia Lucius. Nome que a Igreja - desde seus primórdios - santificou, embora os católicos não tenham dele ouvido qualquer referência.
            Escreve o autor espiritual (Emmanuel):
            “(...) A Igreja Romana lhe guarda, até hoje, as generosas tradições (...).”
            Guarda. Não divulga.
            Será porque ‘nos seus arquivos envelhecidos”, a história  não  esteja  completa  como  era  de  se almejar,  sem
detalhes da vida do Irmão Marinho, antes de entrar para o convento de Alexandria, no Egito?
            Existirá outro motivo para esta omissão?
            No último capítulo de “50 Anos Depois” (Segunda Parte), lemos:
            “Debalde procuraram investigar a origem e antecedentes da jovem mártir, para só conservarem da sua presença e dos seus feitos imorredoura lembrança, a fim de poderem, mais tarde, justificar a sua exemplificação santificante.”(Grifei.)
            Denunciam as expressões que no século II, nas proximidades do ano 145, já havia interesse da parte religiosa em colocar em relevo a figura do Irmão Marinho, ou seja, de Célia Lucius.
            É possível que o pouco que esta organização religiosa tenha em seus arquivos esteja mesmo com “(...) datas e as denominações, as descrições e apontamentos (...) confusos e obscuros pelo dedo viciado dos narradores humanos”, usando aqui as palavras do próprio Emmanuel.
            Foi por esta razão que ele se dedicou à narrativa em torno do Irmão Marinho do século II, preenchendo, desta forma, uma lacuna existente.
            E o faz com sacrifício, acredito. Porque a verdade é  que, na recordação dos fatos ocorridos naquela distante época, emocionou-se sobremodo: o resgate implacável na personalidade de Nestório; a desencarnação de Ciro - e a sua mesma - em circunstâncias tão penosas; os dramas angustiantes vividos pelos componentes da família Lucius e, mais particularmente, as provas cruciais reservadas ao coração de Célia, debaixo da condição de uma jovem jogada num mundo de maldade!
            Adentrando na narrativa, fixemos a atenção em Minturnes, cidade da Itália antiga, fronteira da Campânia. Nesse local vai a neta de Cneio Lucius encontrar um ancião conhecido pelo nome de Marinho. Trata-se, na verdade, de Lésio Munácio, “filho de antigos guerreiros, cujos ascendentes se notabilizaram nos feitos da República”. É essa veneranda figura que vai encaminhá-la como se filho fora, a um mosteiro distante de Alexandria 10 léguas, onde passará a viver com o mesmo nome do ancião de Minturnes.
            É oportuno recordar que esse ancião, embora de vida exemplar em sua localidade, não entrou em cogitação por parte da Igreja. Disso daria, naturalmente, noticia Emmanuel, como também as diversas obras consultadas quando da elaboração do presente artigo.
            Isto não ocorre com a figura do Irmão Marinho, do mosteiro, do qual guardou a Igreja - embora veladamente - “generosas tradições”.
            Os arquivos devem recordá-lo como humilde servidor.
            Quando isolado da comunidade, representa, na casinhola de um horto, o trabalho exaustivo em benefício dos sofredores.
            Sua desencarnação, em conseqüência de repetidas hemoptises, é golpe profundo para todos.
            A dor, porém, é mais aguda quando descoberta sua verdadeira identidade.
            - (...) Prestando as derradeiras homenagens ao Irmão Marinho, os religiosos do mosteiro conheceram a verdade dolorosa. Só então se certificaram de que o caluniado irmão dos pobres e da infância desvalida era uma virgem cristã, que exemplificava, entre eles, as mais elevadas virtudes evangélicas - escreve Emmanuel.

                                   ***

            Era necessário que o autor de “Há Dois Mil Anos” escrevesse, também, “50 Anos Depois”.
            Não apenas para dar continuidade à história de Pompílio Crasso, na figura sofrida de Públio Lêntulus, na roupagem de um escravo...
            A narrativa em torno de Célia, o Irmão Marinho de um morteiro do Egito, afora completar a relação dos vultos santificados pelo Catolicismo com este nome, fez luz sobre quem mesmo antes de incorporar-se a uma organização religiosa de Alexandria já era, em meio à sociedade romana, o exemplo inigualável de amor e renúncia, perdão e perseverança no Bem!
            A responsabilidade de se fazer o relato claro e fiel dessa suave figura do século II da nossa Era, desempenhou-a Emmanuel com honestidade.
            Constitui seu relato, a revelação da vida oculta de um ‘santo’ da milenar Igreja Católica!

Bibliografia

1.“50 Anos Depois”, Emmanuel, Ed. FEB.
2.“Vocabulário Histórico-Geográfico”, Roberto Macedo, Ed. FEB.
3.“A Caminho da Luz”, Emmanuel, Ed. FEB.
4. “Geomundo” e “Geoatlas”, Ed. Codex Ltda.
5. “Atlas Histórico Escolar”, MEC.
6. “Encyclopedia e Dicionário Internacional”, W. M. Jackson, Inc..
7. “Bibliotheca Sanctorum”, Istituto Giovanni XXIII.
8. “Conhecer”,  Abril Cultural Ltda.
9. “Enciclopedia Mirador Internacional”.                      
10. “Enciclopedia Cattolica”.

19 b Célia




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Uma Narrativa Comovente

            A história de Célia começa no ano 131 da nossa era, em Esmirna, cidade da Lídia, na Ásia Menor. é nesse florescente porto comercial da época, então sob o domínio romano, que vamos localizar a família Lucius: Helvídio, a esposa Alba Lucínia e as filhas Helvídia e Célia.
            Presta serviço nesse lar o antigo senador Públio Lêntulus, reencarnado na personalidade do escravo Nestório, posteriormente sacrificado, juntamente com Ciro - alma querida do coração de Célia -, em um circo, num dos repugnantes espetáculos proporcionados pelo Imperador Adriano à população.
            Helvídio é filho de Cneio Lucius, nome que tem o respeito de todo o Império, em decorrência de sua cultura e generosidade. De início o avô de Célia está ligado aos templos de Júpiter e Serápis. Mas compreenderá, em breve, as belezas das máximas de Jesus. E é esta mesma aceitação do Evangelho do Senhor que vai proporcionar-lhe condições de ser o espírito protetor da neta amada, em seus momentos de extrema aflição.
            Em Roma, que após Esmirna será a residência da família de Helvídio, surge a figura de Cláudia Sabina, personagem de influência decisiva no destino de Célia e, afinal, no de todos os familiares. Inconformada porque não é correspondida pelo amor de Helvidio, perpetra terrível plano de vingança. Através da amiga Hatéria, serviçal de Alba Lucínia, para introduzir, sorrateiramente, no lar desta, uma criança que mandara buscar na coluna lactária, no mercado de legumes - ou Forum Olitorium -, que, de acordo com a explicação de Emmanuel, era o local onde ficavam expostos, diariamente, os recém-nascidos enjeitados. Objetiva, com este plano, incriminar a pessoa da respeitável senhora.
            Célia, para resguardar o nome da mãe, embora inocente em todo esse quadro e consciente das responsabilidades que terá de assumir, admite como seu filho a criança.
            É expulsa de casa.
            Enfrenta as maiores dificuldades.
            Tem a seu lado, porém, nos momentos mais cruciais, o amorável Espírito do avô, que a conforta.
            Em Minturnes, local que mais tarde passará a chamar-se Trajetta, conhece uma figura patriarcal e veneranda que a acolhe, sugerindo-lhe, mais tarde, prosseguir viagem, oculta debaixo de trajes masculinos, até um mosteiro, perto de Alexandria, no Egito, onde se reúnem mais de quatro dezenas de cristãos  ricos, desiludidos dos prazeres do mundo.
            Passa a residir nesse mosteiro.
            Acusada e punida por uma falta não cometida, perde o privilégio de ocupar uma das celas do mosteiro e é obrigada a morar em modesta habitação não longe do convento.
            Desencarna após entregar-se a um incomparável trabalho de assistência aos necessitados, emoldurado pela renúncia do seu magnânimo coração.
            De volta à Espiritualidade, diz Emmanuel, a alma ditosa de mártir “é conduzida numa onda de luz e perfumes, aos páramos do Infinito”.

São Marinho e a Igreja

            A grafia italiana San Marino, que com o passar dos anos se internacionalizou, tem alternado, em francês, com Saint-Marin, ocorrendo também em português a expressão São Marinho.
            Um estudo que se faça em torno desse nome revela ao pesquisador não apenas uma figura centralizadora, mas vultos diversificados, em diferentes séculos e regiões, merecedores, todos, da atenção e do respeito por parte da área católica.
            Essa diversificação tem criado, no próprio seio da Igreja, muitas expressões reticenciosas, gerando, não raramente, indagações que ficam sem as devidas respostas.
            Vejamos, a seguir, o resultado de um estudo levantado entre diversos autores (Poderá o leitor apreciar o expressivo número de vultos com o nome Marinho, todos santificados pela Igreja.)

I.          Claude Boillon comenta que, na cripta da abadia beneditina de Saint-Savin-sur-Gartempe (Poitou, França), foi descoberto no século XVII um sarcófago com uma inscrição indicando que ali repousava ‘o ilustre mártir Marinho’ festejado no século XVIII em cerimônia dupla. Sem explicar os detalhes de semelhante cerimônia, Boillen confessa que os dados sobre esse santo foram adquiridos mais tarde, sendo verdadeiramente fantástica sua cronologia. Esses dados apresentam-no como um romano do século VII que, tendo ingressado como monge no convento Condancence, tornou-se depois eremita, passando a residir próximo à Vila Maurianensis.
            Seu culto, diz o autor, não é limitado a Saint-Savin: a ele foi dedicada, também, uma igreja na diocese de Bourges, meta de contínuas peregrinações.

II.        O estudo feito por Agostino Amore sobre São Marinho é longo, mas apresenta alguns pontos obscuros. Ele explica que o Martiriólogo Romano e relembra no dia 26 de dezembro, afirmando que era um rapaz, filho de um senador romano, preso pelo Imperador Numeriano e decapitado depois de muitos tormentos. Em outro trecho escreve que Giovanni Malalas aceita São Marinho como um mártir de Gindara e que suas relíquias foram conservadas na igreja de São Guiliano, em Antióquia. Mas, ao término do trabalho, o próprio Amore confessa: “-Quem foi na realidade o mártir de Gindara, venerado em Antióquia, não sabemos!”

III.       Mário Sgarbossa e Luigi Giovannini confiam a Eusábio o relato sobre São Marinho: um oficial do exército imperial em Cesaréia da Palestina, cidade próxima das fronteiras da Galiléia e da Samaria. Relata o autor de ‘História da Igreja” que o cargo era de Marinho. Aguardava ele a entrega da vara de videira, símbolo do grau de centurião romano, quando um dos mais obstinados pretendentes ao cargo declarou Marinho impossibilitado às dignidades romanas, por ser cristão, fato que este confirmou perante o juiz Aqueu, magistrado que lhe possibilitou três horas para melhor reflexão. Ao sair do tribunal encontrou Marinho o bispo Teotecno que o levou a uma igreja, colocando-o entre uma espada e uma bíblia, pedindo, a seguir, que optasse por uma das duas.
            Escolheu a Bíblia.
            O bispo o abençoou saindo o cristão feliz e pronto para o sacrifício.
            Passadas as três horas, voltou e proclamou sua fé.
            Foi condenado à pena capital no ano 261, sendo comemorado pela Igreja no dia 3 de março.

18 c Célia


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A Vida Oculta de um “Santo”


 Kleber Halfeld
Reformador (FEB), pág. 22 -  Novembro 1984

               
         Em 1940 a FEB lançava a 1ª edição da obra “50 Anos Depois...”, romance ditado pelo Espírito Emmanuel, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier. No ano anterior, ao completar seu trabalho, o conhecido mentor espiritual esclarecera na Carta ao Leitor:      
            “(...) Este livro é o repositório da verdade sobre um coração sublime de mulher, transformada em santa, cujo heroísmo divino foi uma luz acesa na estrada de numerosos Espíritos amargurados e sofredores.” (Grifei.)
            E mais adiante:
            (...) A Igreja Romana lhe guarda, até hoje, as generosas tradições, nos seus arquivos envelhecidos, se bem que as datas e as denominações, as descrições e apontamentos se encontrem confusos e obscuros pelo dedo viciado dos narradores humanos.” (Grifei.)
            Este prefácio, escrito no dia 19 de dezembro de 1939, na cidade de Pedro Leopoldo, MG, denuncia que tempo e viciações das narrativas constituem dois importantes fatores para adulteração ou até mesmo soterramento da Verdade - embora temporariamente.
            É possível que as gerações futuras não experimentem semelhante distorção em face da tecnologia que os meios de comunicação habilmente têm criado. Sem necessidade de apreciações detalhadas, bastaria a citação da fotografia ou do vídeo-tape, excelentes sistemas para  perpetuação de imagem e do som, e, portanto, da fixação de uma realidade.
            Convivemos, ainda hoje, com datas e denominações, descrições e apontamentos, que se distanciaram, sobremodo, da veracidade primitiva, inicial, condicionamento a que ficaram sujeitos quase todos os setores da Antigüidade, incluindo o religioso.
            Focalizando Célia Lucius, personagem central das páginas de ‘50 Anos Depois”, pretende o presente trabalho não somente evidenciar o acerto das palavras do antigo senador Públio Lêntulus como, também, dizer de uma omissão cometida através dos séculos!

Conceitos Judiciosos

            Quem já leu “50 Anos Depois” terá observado as carinhosas expressões de seu autor à figura de Célia Lucius. Semelhantes apreciações passam a constituir ponto de reflexão para seus leitores, porquanto a verdade é que Emmanuel sempre se nos apresenta como a respeitável Entidade que cataloga com sobriedade e, portanto, com critério definido, aqueles a quem empresta  adjetivação elogiosa.
            Exemplo sugestivo temos na obras “A Caminho da Luz”, onde vamos localizar um dos poucos elogios - ou, talvez, o único - que ele tenha feito  a um Espírito encarnado. Isto ocorre exatamente no capítulo V (A Índia - Os rajás e os Párias). É interessante lembrar que o livro foi editado pela FEB em 1939, ano em que ainda se encontrava encarnado naquele país asiático um inconfundível “mahatma”: Gandhi!
            No mencionado tópico, leremos:
            “Ainda hoje, o espírito iluminado de Gandhi, que é obrigado a agir na esfera da mais atenciosa psicologia dos seus irmãos de raça, não conseguiu eliminar esses absurdos sociais do seio do grande povo de iniciados e profetas (...).” (Diz respeito à organização das castas, que têm separado de forma chocante as coletividades na Índia.) (Grifei.)
            Fora, porém, do âmbito dos encarnados, vez por outra, articula Emmanuel expressões equilibradas de elogio a este ou àquele vulto, como já na introdução deste trabalho foi realçado. 
            Mas, além dos conceitos assinalados, anotemos ainda os que seguem, tirados do romance em pauta:
            “(...) Refiro-me a Célia, figura central das páginas desta história, cujo coração, amoroso e sábio, entendeu a aplicou todas as lições do Divino Mestre, no transcurso doloroso de sua vida (...).”
            E continua o antigo senador romano:
            “(...) Na seqüência dos fatos, dentro da narrativa, seguirás os seus passos de menina e de moça, como se observasses um anjo pairando acima de todas as contingências da Terra. Santa pelas virtudes e pelos atos de sua existência edificante, seu Espírito era bem o lírio nascido do lodo das paixões do mundo, para perfumar a noite da vida terrestre, com os olores suaves das mais divinas esperanças do Céu.”
            Simples jogo de frases criadas ao acaso?
            De forma alguma, considerando-se a personalidade de quem as escreveu!
            Mas ainda acrescenta ele:
            “(...) É a história de um sublime coração feminino que se divinizou no sacrifício e na abnegação (...).”
            Finalmente, estes conceitos:
            “(...) Os exemplos de uma alma santificada no sofrimento e na humildade, ensinar-te-ão a amar o trabalho e as penas de cada dia (...).”
            “Busca entender a essência deste repositório de verdades espirituais e, do plano espiritual, o Espírito purificado de nossa heroína derramará em teu coração o bálsamo consolador das esperanças sublimes.”



17 Joanna de Ângelis



17


Ao Amanhecer


Joanna de Ângelis
 por Divaldo Franco
em "Episódios Diários"

Dia novo, oportunidade renovada.
Cada  amanhecer representa divina concessão, que não podes nem deves desconsiderar.
Mantém, portanto, atitude positiva em relação aos acontecimentos que devem ser enfrentados:
- otimismo diante das ocorrências que surgirão;
- coragem no confronto das lutas naturais;
- recomeço na tarefa interrompida;
- ocasião de realizar o programa planejado.
Cada amanhecer é convite sereno à conquista de valores, que parecem inalcançáveis. 
À medida que o dia avança, aproveita os minutos, sem pressa nem postergações do dever.
Não te aflijas ante o volume de coisas e problemas que tens pela frente. 
Dirige cada ação à sua finalidade específica. 
Após concluir um serviço, inicia outros, sem mágoa dos acontecimentos desagradáveis, 
volve à liça com disposição, avançando, passo a passo, 
até o momento de conclusão dos deveres planejados. 
Não tragas do dia precedente o resumo das desditas e dos aborrecimentos.
Amanhecendo, começa o teu dia com alegria renovada e sem passado negativo,
 enriquecido pelas experiências que te constituirão recurso valioso para a vitória que buscas.
                                        

16 Joanna de Ângelis



Arte e Ciência de Ajudar


 Joanna de Ângelis
 “Momentos de Meditação”

               Ninguém está seguro de nada, enquanto se encontra na Terra. A roda das ocorrências não para.
            Quem hoje está no alto, amanhã terá mudado de lugar e vice-versa. E não é só por isso.
            Quem aprende a abrir a mão em solidariedade, termina por abrir o coração em amor.
            Dá o primeiro passo, o mais difícil. Repete-o, treina os sentimentos e te adaptarás à arte e ciência de ajudar. Há quem diga que os infelizes de hoje estão espiando os erros de ontem, na injunção de carmas dolorosos. Ajudá-los, seria impedir que os resgatassem.
            É correto que a dor de agora procede de equívocos anteriores, porém, a indiferença dos enregelados, por sua vez, está lhes criando situações penosas para mais tarde.
            Transforma o fogo devorador que te consome em força que produza para o benefício geral.
            Uma chispa descuidada teia incêndio voraz, destruidor, enquanto as labaredas voluptuosas, sob controle, fundem e purificam os metais para fins úteis.
            Considera a paixão de Alarico, o conquistador imperioso, e a de Agostinho, o libertador, seu contemporâneo...
            Recorda a paixão de Nero, o dominador arbitrário e a de Sêneca, seu mestre - escravo, a quem ele mandou matar.
            A paixão de Herodes pelo trono e a de Jesus pela Verdade possuíam a mesma intensidade, somente que a canalização das suas forças era dirigida em sentidos opostos.


15 Joanna de Ângelis



15

 Juana de Asbaje

            No século XVII, ela reaparece no cenário do mundo, para mais uma vida dedicada ao Bem. Renasce na pequenina San Miguel Nepantla, há uns 80 quilômetros  da cidade do México, com o nome de Juana y Ramirez de Santillana, filha de mãe basco e mãe indígena.”
            “...resolveu entrar no Convento das Carmelitas descalças, aos 16 anos de idade. Desacostumada com a rigidez ascética, adoeceu e retornou à corte. Seguindo orientação de seu confessor, foi para a Ordem de São Jerônimo da Conceição, que tem menos obrigações religiosas, podendo dedicar-se às letras e à ciência. Tomou o nome de Sóror Juana Inês de la Cruz.”
            “Em 1695,  houve uma epidemia de peste na região. Juana socorreu durante o dia e a noite as suas irmãs religiosas que, juntamente coma maioria da população, estavam enfermas. Foram morrendo, aos poucos, uma  a uma das suas assistidas e quando não restavam mais religiosas, ela, abatida e doente, tombou vencida, aos 44 anos de idade.” 

Soror Joana Angélica de Jesus

            Passados 66 anos do seu regresso à Pátria Espiritual, retornou, agora na cidade de Salvador (BA), em 1761, como Joana Angélica, filha de uma abastada família. Aos 21 anos ingressou no Convento da Lapa, como franciscana, com o nome de Sóror Joana Angélica de Jesus .”
            “Foi irmã, escrivã e vigária, quando, em 1815, tornou-se Abadessa e, no dia 20 de fevereiro de 1822, defendendo corajosamente o convento, a casa de Cristo, assim como a honra das jovens que ali moravam, foi assassinada por soldados que lutavam contra a independência do Brasil.”  

            “... mantenhamos o indestrutível ideal e pensamento do Cristo, no mundo, através da ação do bem sem limites, não importando quanto tempo passe e quanto sacrifício ainda nos seja exigido”

            Em nossa caminhada, passo a passo com Jesus, reencontramos  Joanna de Ângelis em duas lindas mensagens constantes d’ O Evangelho Segundo o Espiritismo. Essas mensagens não nos chegaram assinadas mas sim foram identificadas pela Espiritualidade Superior à virtuosos médiuns da atualidade. A primeira encontra-se  no Cap. IX. A  segunda consta do Cap. XVIII e é apresentada a seguir:  

            A Paciência...

            A dor é uma bênção que Deus envia aos seus eleitos; não vos aflijais, pois, quando sofrerdes, mas bendizei, ao contrário, o Deus Todo Poderoso que vos marcou pela dor nesse mundo para a glória no céu.
            Sede pacientes; a paciência é também uma caridade e deveis praticar a lei da caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus.
            A caridade que consiste na esmola dada aos pobres, é a mais fácil das caridades; mas há uma bem mais penosa e, conseqüentemente, mais meritória: perdoar àqueles que Deus colocou sobre nosso caminho para serem os instrumentos dos nossos sofrimentos e colocar a nossa paciência à prova.
            A vida é difícil, eu o sei; ela se compõe de mil nadas que são picadas de alfinetes que acabam por ferir; mas é preciso considerar os deveres que nos são impostos, as consolações e as compensações que temos por outro lado, e, então, veremos que as bênçãos são mais numerosas que as dores.
            O fardo parece menos pesado quando se olha do alto, do que quando se curva a fronte para o chão.
            Coragem, amigos, o Cristo é o vosso modelo; Ele sofreu mais que qualquer de vós e não tinha nada a se censurar, enquanto que vós tendes vosso passado e expiar e vos fortalecer para o futuro. Sede, pois, pacientes, sede cristãos, essa palavra encerra tudo.
                                    Joanna de Ângelis, Havre, 1862                               

14 Joanna de Ângelis



14

            Desde esse dia, memorável para a sua existência, a mulher de Cusa experimentou na alma a claridade constante de uma resignação sempre pronta ao bom trabalho e sempre ativa para a compreensão de Deus. Como se o ensinamento do Mestre estivesse agora gravado indelevelmente em sua alma, considerou que, antes de ser esposa na Terra, já era filha daquele Pai que, do céu, lhe conhecia a generosidade e os sacrifícios. Seu espírito divisou em todos os labores uma luz sagrada e oculta.
            Procurou esquecer todas as características inferiores do companheiro, para observar somente o que possuía ele de bom, desenvolvendo, nas menores oportunidades, o embrião vacilante de suas virtudes eternas.
            Mais tarde, o céu lhe enviou um filhinho, que veio duplicar os seus trabalhos; ela, porém, sem olvidar as recomendações de fidelidade que Jesus lhe havia feito, transformava suas dores num  hino de triunfo silencioso em cada dia.
            Os anos passaram e o esforço perseverante lhe multiplicou os bens da fé, na marcha laboriosa do conhecimento e da vida.
            As perseguições políticas desabaram sobre a existência do seu companheiro. Joana, contudo, se mantinha firme.
            Torturado pelas idéias odiosas da vingança, pela dívidas insolváveis, pelas vaidades feridas, pelas moléstias que lhe verminaram o corpo, o ex -intendente de Ântipas voltou ao plano espiritual, numa noite de sombras tempestuosas. Sua esposa, todavia, suportou os dissabores mais amargos, fiel aos seus ideais divinos edificados na confiança sincera. Premida pelas necessidades mais duras, a nobre dama de Cafarnaum procurou trabalho para se manter com o filhinho que Deus lhe confiara. Algumas amigas lhe chamaram a atenção, tomadas de respeito humano.  Joana , no entanto, buscou esclarecê-las, alegando que Jesus igualmente havia trabalhado, calejando as mãos nos serrotes de modesta carpintaria e que, submetendo-se ela a uma situação de subalternidade no mundo, se dedicara primeiramente ao Cristo, de quem se havia feito escrava devotada.
            Cheia de alegria sincera, a viúva de Cusa esqueceu o conforto da nobreza material, dedicou-se aos filhos de outras mães, ocupou-se com os mais subalternos afazeres domésticos, para que seu filhinho tivesse pão. Mais tarde, quando a neve das experiências do mundo lhe alvejou os primeiros anéis da fronte, uma galera romana a conduzia em seu bojo, na qualidade de serva humilde...
            No ano 68, quando as perseguições ao Cristianismo iam intensas, vamos encontrar, num dos espetáculos sucessivos do circo, uma velha discípula do Senhor amarrada ao poste do martírio, ao lado de um homem novo, que era seu filho.
            Ante o vozerio do povo, foram ordenadas as primeiras flagelações.
            Abjura!...  exclama  um executor das ordens imperiais, de olhar cruel e sombrio.
            A antiga discípula do Senhor contempla o céu, sem uma palavra de negação ou de queixa. Então o açoite vibra sobre o rapaz seminu, que exclama, entre lágrimas:
            “-Repudia a Jesus, minha mãe!...Não vês que nos perdemos?! Abjura!... por mim, que sou teu filho!..”
            Pela  primeira vez, dos olhos da mártir corre a fonte abundante das lágrimas.
            As rogativas do filho são espadas de angústia que lhe retalham o coração.
            “Abjura!.. Abjura!”
            Joana ouve aqueles gritos, recordando a existência inteira. O lar risonho e festivo, as horas de ventura, os desgostos domésticos, as emoções maternais, os fracassos do esposo, sua desesperação e sua morte, a viuvez, a desolação e as necessidades mais duras... Em seguida, ante os apelos desesperados do filhinho, recordou que Maria também fora mãe e, vendo o seu Jesus crucificado no madeiro da infâmia, soubera conformar-se com os desígnios divinos. Acima de todas as recordações, como alegria suprema de sua vida, pareceu-lhe ouvir ainda o Mestre, em casa de Pedro, a lhe dizer:
            “-Vai filha! Sê fiel!”
            Então, possuída de força sobre-humana, a viúva de Cusa, contemplou a primeira vítima ensangüentada e, fixando no jovem um olhar profundo e inexprimível, na sua dor e na sua ternura, exclamou firmemente:
            “-Cala-te, meu filho! Jesus era puro e  não desdenhou o sacrifício. Saibamos sofrer na hora dolorosa, porque, acima de todas as felicidades transitórias do mundo, é preciso ser fiel a Deus!”
            A esse tempo, com os aplausos delirantes do povo, os verdugos lhe incendiavam, em derredor, achas de lenha embebidas em resina inflamável. Em poucos instantes, as labaredas lamberam-lhe o corpo envelhecido. Joana de Cusa contemplou com serenidade a massa de povo que não lhe entendia o sacrifício.
            Os gemidos de dor lhe morriam abafados no peito opresso. Os algozes da mártir cercaram-lhe de impropérios a fogueira:
            “-O teu Cristo soube apenas ensinar-te a morrer?”, perguntou um dos verdugos.
            A velha discípula, concentrando a sua capacidade de resistência, teve ainda forças para murmurar:
            “-Não apenas a morrer, mas também a vos amar!...”
Nesse instante, sentiu que a mão consoladora do Mestre lhe tocava suavemente os ombros, e lhe escutou a voz carinhosa e inesquecível:
            “-Joana, tem bom ânimo!... Eu aqui estou!...”



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Joanna de Ângelis


Lucas (8,2) - Os doze estavam com Ele, como também algumas mulheres...

            Reproduzimos trechos extraídos de “Boa Nova” (FEB), de Humberto de Campos por Chico Xavier e  de  “A Veneranda  Joanna de Ângelis”  por Divaldo Franco e Celeste Santos:

Joana de Cusa...
            Entre a multidão que invariavelmente acompanhava a  Jesus nas pregações do lago, achava-se sempre uma mulher de rara dedicação e nobre caráter, das mais altamente colocadas na sociedade de Cafarnaum. Tratava-se de  Joana, consorte de Cusa, intendente de Ântipas, na cidade onde se conjugavam interesses vitais de comerciantes e de pescadores.
Joana possuía verdadeira fé; contudo não conseguiu forrar-se às amarguras domésticas, porque seu companheiro de lutas não aceitava as claridades do Evangelho. Considerando seus dissabores íntimos, a nobre dama procurou o Messias, numa ocasião em que Ele descansava em casa de Simão, e lhe expôs a longa série de suas contrariedades e padecimentos. Alto funcionário de Herodes, em perene contato com os representantes do Império, repartia as preferências religiosas, ora com os interesses da comunidades judaica, ora com os deuses romanos, o que lhe permitia viver em tranqüilidade fácil e rendosa. Joana confessou ao Mestre os seus temores, suas lutas e desgostos no ambiente doméstico, expondo suas amarguras em face das divergências religiosas existentes entre ela e o companheiro.
            Após ouvir-lhe a longa exposição, Jesus lhe ponderou:
            “-Joana, só há um Deus, que é o nosso Pai, e só  existe uma fé para as nossas relações com o seu amor. Certas manifestações religiosas, no mundo, muitas vezes não passam de vícios populares nos hábitos exteriores. Todos os templos da terra são de pedra; eu venho, em nome de Deus, abrir o templo de fé viva no coração dos homens. Entre o sincero discípulo do Evangelho e os erros milenários do mundo, começa a travar-se o combate sem sangue da redenção espiritual. Agradece ao Pai o haver-te julgado digna de um bom trabalho, desde agora. Teu esposo não te compreende a alma sensível? Compreender-te-á um dia. É leviano e indiferente? Ama-o, mesmo assim. Não te acharias ligada a ele se não houvesse para isso razão justa. Servindo-o com amorosa dedicação, estarás cumprindo a vontade de Deus. Falas-me de teus receios e de tuas dúvidas. Deves, pelo Evangelho, amá-lo ainda mais. Os sãos não precisam de médico. Além disso, não poderemos colher uvas nos abrolhos, mas podemos amanhar o solo que produziu cardos envenenados, a fim de cultivarmos nele mesmo a videira maravilhosa do amor e da vida.”
            Joana deixava entrever no brilho suave dos olhos a íntima satisfação que aqueles esclarecimentos lhe causavam; mas, patenteando todo o seu estado d’alma, interrogou: 
            -Mestre, vossa palavra me alivia  o espírito atormentado; entretanto, sinto dificuldade extrema para um entendimento recíproco no ambiente do meu lar. Não julgais acertado que lute para impor os vossos princípios? Agindo assim, não estarei reformando o meu esposo para o céu e para o vosso reino?”
            O Cristo sorriu serenamente e retrucou:
            “-Quem sentirá mais dificuldade em estender as mãos fraternas, será o que atingiu as margens seguras do conhecimento com o Pai, ou aquele que ainda se debate entre as ondas da ignorância ou da desolação, da inconstância ou da indolência do espírito? Quanto à imposição das idéias - continuou Jesus, acentuando a importância de suas palavras - por que motivo Deus não impõe a sua verdade e o seu amor aos tiranos da Terra? Por que não fulmina com um raio o conquistador desalmado que espalha a miséria e a destruição, com as forças sinistras da guerra?
            A sabedoria celeste não extermina as paixões: transforma-as. Aquele que semeou o mundo de cadáveres desperta, às vezes, para Deus, apenas com uma lágrima. O Pai não impõe a reforma a seus filhos: esclarece-os no momento oportuno.
            Joana, o apostolado do Evangelho é o de colaboração com o céu, nos grandes princípios da redenção.
            Sê fiel a Deus, amando o teu companheiro do mundo, como se fora teu filho. Não percas tempo em discutir o que não seja razoável. Deus não trava contendas com as suas criaturas e trabalha em silêncio, por toda a Criação. Vai!... Esforça-te também no silêncio e , quando convocada ao esclarecimento, fala o verbo doce ou enérgico da salvação, segundo as circunstâncias!
            Volta ao lar e ama o teu companheiro como o material divino que o céu colocou em tuas mãos para que talhes uma obra de vida, sabedoria e amor!...”
            Joana de Cusa experimentava um brando alívio no coração. Enviando a  Jesus um olhar de carinhoso agradecimento, ainda lhe ouviu as últimas palavras:
            “-Vai, filha !...  Sê fiel!”


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Maria de Magdala

 por Alberto Lessa
Reformador(FEB) 15.11.1917
               
            Dos personagens que rodearam o Cristo na sua missão evangelizadora, Maria de Magdala é uma das que mais se destaca pelo poder maravilhoso de sua fé.
            A cortesã do castelo de Magdala, cercada de inúmeros galanteadores que, como corvos grasnavam em torno de sua carne moça e estuante, ouvindo falar de Jesus e sendo a Ele arrastada para curar-se da sua enfermidade moral, sentiu-se como que eletrizada ouvindo a sua palavra regeneradora.
            O seu espírito adormecido na matéria, despertou ao suave chamamento do Mestre.
            E, desde então, rompendo com o passado negro, Maria, depôs aos pés de seu Salvador todas as grandezas do mundo e, delas despojando-se, alcançou o verdadeiro bem, que foi a modificação completa dos seus bastardos sentimentos.
            Como Magdala somos todos nós que nos sentamos à mesa farta da caridade de Jesus.
            Que como a ex-cortesã judaica possamos perseverar até o fim.


11 2 Maria de Magdala



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            Maria foi ter com eles e, sentindo-se isolada, com amplo direito de empregar  a sua liberdade, reuniu-os sob as árvores da praia e lhes transmitiu as palavras de Jesus, enchendo-lhes os corações das claridades do Evangelho.
            As autoridades locais, entretanto, ordenaram  a expulsão imediata dos enfermos. A grande convertida percebeu tamanha alegria no semblante dos infortunados, em face de suas fraternas revelações  a respeito das promessas do Senhor, que se pôs em marcha para  Jerusalém, na companhia deles. Todo o grupo passou a noite ao relento, mas sentia-se que os júbilos do Reino de Deus agora os dominavam. Todos se interessavam pelas descrições de Maria, devoravam-lhe as exortações, contagiados de sua alegria e de sua fé. Chegados à cidade, foram conduzidos ao vale dos leprosos, que ficava distante, onde Madalena penetrou com espontaneidade de coração. Seu espírito recordava as lições do Messias e uma coragem indefinível se assenhoreara de sua alma. Dali em diante, todas as tardes, a mensageira do Evangelho reunia a turba de seus novos amigos e lhes dizia o ensinamento de Jesus. Rostos ulcerados enchiam-se de alegria, olhos sombrios e tristes tocavam-se de nova luz.
            Maria lhes explicava que Jesus havia exemplificado o bem até a morte, ensinando que todos os seus discípulos deviam ter ânimo para vencer o mundo.
            Os agonizantes arrastavam-se até junto dela e lhe beijavam a túnica singela. A filha de Magdala, lembrando o amor do Mestre, tomava-os em seus braços fraternos e carinhosos.
            Em breve tempo, sua epiderme apresentava, igualmente, manchas violáceas e tristes. Ela compreendeu a sua nova situação e recordou a recomendação do Messias de que somente sabiam viver os que sabiam imolar-se.
            E experimentou grande gozo, por haver levado aos seus companheiros de dor uma migalha de esperança. Desde a sua chegada, em todo o vale se falava daquele Reino de Deus que a criatura devia edificar no próprio coração.
            Os moribundos esperavam a morte com um sorriso ditoso nos lábios, os que a lepra deformara ou abatera guardavam bom ânimo nas fibras mais sensíveis.  Sentindo-se ao termo de sua tarefa meritória, Maria de Magdala desejou rever antigas afeições de seu círculo pessoal, que se encontrava, em Éfeso.  Lá estavam João e Maria, além de outros companheiros dos júbilos cristãos. Adivinhara que as suas últimas dores terrestres vinham muito próximas; então, deliberou pôr em prática seu humilde desejo.
            Nas despedidas, seus companheiros de infortúnio material vinham suplicar-lhe os derradeiros conselhos e recordações. Envolvendo-os no seu carinho, a emissária do Evangelho lhes dizia apenas:
     "- Jesus deseja intensamente que nos amemos uns aos outros e que participemos de suas divinas esperanças, na mais extrema lealdade a Deus!...”
            Dentre aqueles doentes, os que ainda se equilibravam pelos caminhos lhe traziam o fruto das esmolas escassas e as crianças  abandonadas vinham beijar-lhe as mãos.
            Na fortaleza de sua fé, a ex-pecadora abandonou o vale, através das estradas ásperas, afastando-se de misérrimas choupanas.
            A peregrinação foi-lhe difícil e angustiosa.
            Para satisfazer aos seus intentos recorreu à caridade, sofreu penosas humilhações, submeteu-se ao sacrifício. Observando as feridas pustulentas que substituíam sua antiga beleza, alegrava-se em reconhecer que seu espírito não tinha motivos para lamentações.  Jesus a esperava e sua alma era fiel.
            Realizada a sua aspiração, por entre dificuldades infinitas, Maria achou-se, um dia, às portas da cidade; mas, invencível abatimento lhe dominava os centros de força física. No justo momento de suas efusões afetuosas, quando o casario de Éfeso se lhe desdobrava à vista, seu corpo alquebrado negou-se a caminhar. Modesta família de cristãos do subúrbio recolheu-a a uma tenda humilde, caridosamente.
            Madalena pôde ainda rever amizades bem caras, consoante seus desejos. Entretanto, por largos dias de padecimentos debateu-se entre a vida e a morte.
            Uma noite, atingiram o auge as profundas dores que sentia.
             Sua alma estava iluminada por brandas reminiscências e, não obstante seus olhos se acharem selados pelas pálpebras intumescidas, via com os olhos da imaginação o lago querido, os companheiros da fé, o Mestre bem-amado.
            Seu espírito parecia transpor as fronteiras da eternidade radiosa. De minuto a minuto, ouvia-se-lhe um gemido surdo, enquanto os irmãos de crença lhe rodeavam o leito de dor, com as preces sinceras de seus corações amigos e desvelados. Em dado instante, observou-se que seu peito não mais arfava. Maria, no entanto, experimentava consoladora sensação de alívio. Sentia-se sob as árvores de Cafarnaum e esperava o Messias. As aves cantavam nos ramos próximos e as ondas sussurantes vinham beijar-lhe os pés. Foi quando viu Jesus aproximar-se, mais belo que nunca. Seu olhar tinha o reflexo do céu e o semblante trazia um júbilo indefinível, O Mestre estendeu-lhe as mãos e ela se prosternou, exclamando, como antigamente:
             “-Senhor !..”
            Jesus recolheu-a brandamente nos braços e murmurou:
            “-Maria, já passaste a porta estreita!...
            Amaste muito!
            Vem!
            Eu te espero aqui !”