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quarta-feira, 17 de novembro de 2021

A encarnação fluídica do Cristo

 

“A encarnação fluídica do Cristo”

Trecho do livro:

“A queda original segundo o Espiritismo”

por J-Guillet

(Pesquisa e coordenação de Jorge Damas Martins - Ed. CRBBM – RJ)

CRBBM – Casa de Recuperação e Benefícios Bezerra de Menezes – RJ - Brasil

                 Págs. 68 (parte) - 69 - 70 – 71 (parte).

          “Resta-nos para falar, como corolário da queda, a encarnação fluídica do Cristo, dito de outro modo, do “mistério da Encarnação”.

            É nos Evangelhos de J. B. Roustaing, tão ricos, aliás, em documentos espíritas, que se acham as explicações mais completas sobre esta teoria que, sempre, tem apaixonado as inteligências, e que, ultimamente ainda, tem provocado, muito inutilmente, um tão grande número de objeções.

            Com efeito, de duas uma: ou o Cristo teve um nascimento comum, ou teve um nascimento “misterioso”. A primeira hipótese deve ser absolutamente descartada por todo aquele que crê no Evangelho, visto que o Evangelho é claro a este respeito. Em todo caso, e ainda que se diga isso, é impossível considerar Jesus como um ser normal de nosso planeta; tudo em sua vida, em seus atos, prova o contrário; sua entrada e saída do mundo, tudo nele tem um caráter de tal modo estranho, que se é forçado a reconhecer nele uma existência extra-humana.

            Quanto ao seu nascimento “miraculoso”, é uma outra questão. O Cristo não pode ter nascido materialmente, carnalmente, sem intervenção humana; também essa maneira de ver tem ela por consequência inevitável a negação da “maternidade” de Maria, no sentido usual da palavra.

            Essa opinião é confirmada pelo próprio São Paulo que vê em Jesus “o soberano sacrificador, sem pai, nem mãe, sem genealogia! (He. 6:20 e 7:1), e para quem Deus formou um corpo (He. 10:5), não um corpo comum, porque há corpos celestes e corpos terrestres (I Cor. 15:40). Porém, ela é formulada no Evangelho, por essas palavras de Jesus a sua “mãe”: “Mulher, o que há de comum entre vós e eu? (Jo. 2:4), e por esta outra em que, falando de João Batista, Jesus disse: “Não há maior do que ele entre os que são nascidos de mulher” (Mt. 11:11 e Lc. 7:28).

            O próprio Cristo afirma, assim, seu “nascimento” extraterrestre, dando a entender que ele não é nascido de mulher.

            Aos racionalistas que contestam a autoridade ou a veracidade do Evangelho, nós lhe diremos isto: Jesus, do qual não se pode negar a existência na Terra, só é conhecido historicamente pelo Evangelho; ora se negais o Evangelho, negais também a existência de Jesus.

            Devemos então tomar o Cristo tal como nos é apresentado, porque a negação do Evangelho sobre este ponto arrasta a possível negação de todo o Livro; e uma vez por esse caminho, o que resta dos profetas e da tradição hebraica?

Jesus é então um personagem histórico real, visto que sua doutrina foi a base de uma das maiores religiões que tenham existido na Terra, sua ação está manifesta no estabelecimento que Ele prometera e anunciara.

            Segue-se que seja necessário prender-se à letra na leitura da Santa Escritura? Não. Diz-se que a Vulgata, redigida por São Jerônimo, só contém, por assim dizer, o resumo do ensinamento evangélico. Apesar disso, para a obra de são Jerônimo, todo espírita cristão não pode se recusar a admitir a intervenção medianímica tanto quanto e talvez melhor do que para “O Livro dos Espíritos, e que, por consequência, os Evangelhos que ele redigiu são a reprodução quase fiel do pensamento de Jesus e dos eventos que acompanharam seu “nascimento”, sua “vida” e sua “morte”.

            O espiritismo tem sua base na palavra de Jesus, e “O Livro dos Espíritos” afirma que sua missão consiste em explicar esta palavra e em tornar a verdade inteligível para todos (627). Ora, onde encontrar a verdade se essa não está no Evangelho? 




segunda-feira, 3 de maio de 2021

O Cristo Agênere

 


‘O Cristo Agênere – Considerações morais’

Fonte: ‘A queda original segundo o Espiritismo’

por J.-E. Guillet

Pesquisa e coordenação: Jorge Damas Martins

Copyright:  Casa de Recuperação e benefícios Bezerra de Menezes RJ RJ

                 Transcrevemos abaixo trecho das páginas 73 e 74 da obra referida acima na certeza da posterior autorização da CRBBM quanto à flexibilização de seus direitos exclusivos de reprodução.


             Eis agora as objeções e considerações morais.

                “Se o Cristo, diz-se, só teve um corpo fluídico, ele não provou nem a dor nem o sofrimento. Se ele não sofreu, a cena do jardim das Oliveiras, sua paixão e sua agonia são apenas um vão simulacro e uma comédia indigna que lhe tira todo o mérito que ele pode ter aos nossos olhos.”

                Os sofrimentos e a dores são de duas espécies: físicas e morais. Quanto mais o ser se eleva, á medida que seu ideal cresce, ele faz pouco caso das privações, menos ainda dos gozos materiais, e oferece sua vida, de boa vontade, para o triunfo de uma ideia. É como se tem visto os heróis e os mártires, por meio dos mais cruéis suplícios, morrerem com sorriso nos lábios. Vede Joanna D’Arc, Savoranola e todos os grandes perseguidos, e dizei se neles o sofrimento moral não ultrapassou a dor física?

                Mas sem procurar exemplos tão altos, qual é aquele dentre nós que, vendo sofrer alguém dos seus, não provaria as mesmas torturas que o ser amado? Crê-se que a mãe que visse massacrar seu filho sob seus olhos não sofreria mais do que ele?

                Está demonstrado que a dor física entorpece pouco a pouco o ser que a sente; é o que faz que um ferido, por exemplo, quase sempre perca os sentidos se o sofrimento é muito violento. Por outro lado, o estado psicológico no qual ele então se encontra neutraliza às vezes completamente a dor: como atestam as religiosas de Loudun, que nada sentiam dos atrozes tratamentos que elas se auto infligiam.

            Pois bem, pensar-se-á que, na paixão do Cristo, seja preciso ter-se em conta apenas a dor física? Será que os golpes da flagelação, do coroamento de espinhos, da crucificação não se repercutiam moralmente sobre a sua alma? Que diferença haveria então entre o mártir divino e os dois ladrões que participavam o seu suplício? e qual era o mais doloroso para ele ou o de estar crucificado, ou o de estar posto na classe dos criminosos?

                E é assim que a questão se apresenta por seu lado verdadeiramente grandioso. Se se imagina este Espírito puro, um Messias da mais elevada ordem, deixar os esplendores celestes para vir fazer o que? Repor sobre o caminho reto uma humanidade decaída; ser exposto a se ver insultado, vilipendiado como ninguém o foi jamais; ser condenado, ele, a Luz do mundo, a vir parlamentar com um Caifás, um Herodes, um Pilatos; ser obrigado a se valer constantemente de seu Pai celeste para aceitar sua missão, apesar dos benefícios que semeava sob seus passos; ser flagelado, achincalhado, maculado, por uma multidão vil amotinada contra ele; ser enfim abandonado, traído, renegado pelos seus, por aqueles mesmos que se aprouvera de encher do seu amor; e isso depois de uma vida dolorosa, fluidicamente falando; porque não é necessário se dissimulá-lo; ser atacado materialmente durante longos anos em um corpo perispirítico deve ser para um Espírito desta elevação uma prisão horrível e um suplício sem igual.

                E quem nos prova, de fato, que uma encarnação fluídica em um mundo material não seja um grande sofrimento e um devotamento admirável da parte de um Espírito puro!

P.S.: Este livro pode ser obtido via internet acessando o site da CRBBM: www.crbmm.org


quinta-feira, 11 de julho de 2013

A igreja ensina...


          "A igreja ensina, caríssimo Dr. .... , que toda a geração humana, aqui e além - durante a vida e depois da morte, sofre a pena do pecado original, de que nasce contaminada.
            Se ela é infalível, este ensino é pura verdade.                                               
            Mas, diga-nos, bom amigo, se este ensino é pura verdade, o que ficam valendo as palavras do Senhor, repetidas por Jesus: nem o pai paga pelo filho, nem o filho pelo pai, mas cada um paga por suas próprias obras? (2)                                        
           
            Confesse que este dente é difícil de arrancar!                                              
           
            A simples razão, não obsecrada pelo fanatismo, julga impossível que a justiça indefectível responsabiliza o filho pela culpa do pai. É coisa que não exalta a Suprema Perfeição - e que, portanto, não confere com o critério absoluto da verdade.                                          
            Mas, enfim, a simples razão não faz prova contra esses decretos da igreja infalível, embora antinômico do infalível critério.    
           
            O conceito, porém, tão claro, positivo e categórico, que acima deixamos grifado, corta toda a dúvida entre a razão e a decretaI romana.             
           
            Ou existe a culpa original - e Deus não disse a verdade pela boca do profeta e de Jesus, ou é verdade o que disseram estes - o pecado original é um desses ensinos humanos, de envolta com as verdades divinas, necessárias no tempo em que a humanidade não podia suportar a luz da verdade pura.        

            Se quiserdes, consideramos autênticas uma e outra versão, certos, porém, de que, visto se contradizem, uma é de origem divina e a outra de origem humana.                              
            Como, então, reconheceremos o caráter de cada uma? Submetendo-as ao critério para vermos qual exalta e qual deprime as infinitas perfeições.
                                                
            Ora, dizei-vos, com a razão desprevenida e com a mão na consciência: o que exalta a suma perfeição: responsabilizar cada um por suas obras, ou responsabilizar o filho pelas obras do pai?                                        
           
            Aí tem bem discernidas, caro amigo, as origens divinas e humanas, das duas versões.             
                                                                                     
            Além disto que é ‘tranchant’(absoluto, categórico) temos ainda melhor prova da falsidade do dogma romano.                 

            O pecado é do espírito e não do corpo - e o espírito é criado por Deus e só o corpo é criado pelo pai terrestre.

            Assim, pois, se os espíritos, que são quem delinque e sofre a pena do delito, não são criados pelo pai terreno, como passará o deste ao de seu filho a sua mácula?    
       
             Compreende-se a transmissão dos vícios orgânicos, pois que o organismo do pai é que gera o do filho; a transmissão do pecado do espírito, ninguém poderá compreender, pois que o espírito do pai não gera o do filho.

            Bom amigo. Encare esta questão pela face que bem lhe parecer - e será sempre levado fatalmente a esta conclusão? A igreja sustenta uma doutrina falsa, porque deprecia a justiça indefectível, ao passo que a sua oposta exalta essa justiça.

            E, se a igreja sustenta e propaga doutrinas falsas, uma que seja, a igreja não pode ser infalível.

            Se o pecado original fosse uma verdade, todos os homens, antes de pecarem na vida; isto é, antes de terem a consciência de seus atos, na primeira infância, teriam igual responsabilidade pela culpa do primeiro par humano.  

            Se não for assim, onde a justiça igual de Deus?

            Mas, se for assim, na hipótese da transmissão da culpa original, onde a justiça igual de Deus à vista da infinita desigualdade de condições físicas - morais e intelectuais, com que vimos à vida?

            Pois, se somos todos criados por Deus para esta vida - e somos todos igualmente contaminados da culpa original, como e porque não nascemos em identidade de condições, se Deus é justo?                   
                                              
            A igreja estaca diante desta esfinge, cuja palavra não pode traduzir, sem ferir a justiça soberana.                                                                                                             
           
            Porque? Porque a igreja não conhece ainda a sublime lei que o Espiritismo veio revelar ao mundo: a lei das múltiplas existências corporais.

            Submeta o fato à esta lei - e reconhecerá, pela glória que daí resulta para a Infinita Perfeição, que ela confere com o infalível critério da verdade, embora derribe o dogma tacanho e impossível da vida única.                             
                                  
            A desigualdade que se observa na primeira infância dos seres humanos, e portanto, no tempo em que eles não podem ajuntar pecado seu ao pecado original; essa desigualdade procede da desigualdade de provas', que fizeram estes seres em vidas anteriores, na idade em que exercitam a liberdade, nessas tais vidas.    

            Uns vêm assim adiantados moralmente - outros intelectualmente - no geral, perfeitos fisicamente.      
                                  
            Vice-versa, vêm uns atrasados moral e intelectualmente e alguns imperfeitos fisicamente: cegos, surdos, mudos, aleijados e idiotas".     
           
            A escala é infinita, porque infinito foi o modo porque exerceram o livre arbítrio.        
             Não entra isto pela razão? Não resulta disto a justiça igual, que pune cada um segundo suas obras? Não é impossível conciliar esta variedade com a justiça igual, mesmo admitindo o pecado original, permanecendo o princípio da vida única?          

            Deixemos entretanto o tradicionalismo e reconheçamos que a fé raciocinada sobrepuja a fé passiva, que sopita a razão, lume que Deus nos deu.

            Crer, porque nos mandam crer é tão indigno da criatura e do Criador como exalta-os: crer porque nossa razão se conforma com tal crença.            
                       
            Crer em Deus pelo impulso de nossa alma, baseado no testemunho de nossa razão, é o verdadeiro ato de fé, que nunca será: crer em Deus, porque ensinam que Ele existe e mandam que creiam n'Ele.          
                       
            Ora, se a igreja romana conserva no arquivo de suas verdades todos estes absurdos impossíveis infalibilidade, vida única, morte eterna, e fé passiva, como submeter o Espiritismo a suas decretais, quando ele é o enviado de Jesus, embora desconhecido do mundo, como foi o próprio Jesus?                              
           
            Bom amigo, repetimos: nossa autoridade é igual, assim foram nossos merecimentos iguais aos seus."     MAX          
           
Artigo de autoria de MAX ,
nome fantasia adotado por Adolpho Bezerra de Menezes

 Livro:  ‘Jesus não é Deus’
 série de artigos publicados no ‘Jornal do Brasil’ em 1895.
Coordenação e Notas: Jorge Damas Martins

AEFA – Associação Espírita Francisco de Assis
Rio de Janeiro – RJ

1995

Jesus e Maria



“Jesus nasceu de Maria
A Virgem cheia de graça!
Entrou nela, saiu dela,
Como o Sol pela vidraça.”

por Newton Boechat
Conforme citação em ‘Jesus não é Deus’
 série de artigos  do Dr Adolpho Bezerra de Menezes como publicados no ‘Jornal do Brasil’, em 1895.

Coordenação e Notas: Jorge Damas Martins

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Roustaing 'À Luz da Verdade'


'À luz da Verdade" 

            "Vendo Jesus Natanael aproximar-se, disse dele: eis um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento!' Perguntou-lhe Natanael : 'Donde me conheces?' Respondeu Jesus: Antes de Filipe chamar-te, eu te vi,quando estavas debaixo da figueira'. Replicou-lhe Natanael:'Rabbi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel'! Disse-lhe Jesus: 'por dizer-te que te vi debaixo da figueira, crês? Verás coisas maiores que estas' ...E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo, que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o filho do homem" (João. I: 47-51).

            Inaldo, combativo confrade espírita, na abençoada tarefa de divulgar o Consolador prometido pelo Cristo de Deus, vens, em À Luz da Verdade, com excelente didática, focar luz, na sempre atual problemática em torno da magnífica obra mediúnica, Os Quatro Evangelhos, compilada pelo missionário de Bordeaux, Jean Baptiste de St. Omer Roustaing.

            Inaldo, um verdadeiro espírita, em quem não há fingimento, à semelhança do escolhido israelita Natanael (Bartolomeu), sentastes à meditar debaixo da figueira frondosa da revelação da Revelação, que os espíritos Evangelistas, assistidos pelos Apóstolos e Moisés, através da médium Émilie Aimée Charlotte Bréard Collignon, em espírito e verdade, iluminaram a Terceira Revelação, que o sábio Allan Kardec teve a missão de codificar.

            Inaldo, agasalhado pelo propósito espírita do instruí-vos; após ler, reler e muito meditar sobre tudo que se publicou, contra e a favor, de Os Quatro Evangelhos, e com a proteção inestimável dos amigos espirituais, os anjos de Deus, - que subindo e descendo sobre os filhos dos homens, realizam a sagrada missão de esclarecer e confortar -, conseguistes, Inaldo, visualizar os céus abertos, o paroket do mistério crístico rasgado, perante seus olhos, olhos de ver; e, decifrastes o espírito da Nova Revelação.

            Inaldo, tomado de inconformação, a inconformação dos que conhecem mais, mas sabem que serão cobrados pela guarda e multiplicação dos talentos recebidos; tomado ainda, pelo outro propósito espírita, do amai-vos, colocastes todas as suas iluminadas reflexões no papel e nos legastes À Luz da Verdade, um livro urgente, conciso e arquitetado em pinceladas de saborosa inteligência.

            Inaldo, aqui queremos nos afastar dos prefácios que mais envernizam que contribuem e, também, com sua licença, apresentar verdades, verdades que corroboram em acentuar o papel histórico de Roustaing e sua Obra, como colunas do Espiritismo, no seu aspecto de Evangelho Redivivo.

            Assim, à luz da verdade, temos:

            •          Em 1861 Allan Kardec indicou o Grupo Espírita do Sr. Sabó, dirigido espiritualmente por Fénelon, para Roustaing receber as primeiras orientações sobre a nova Doutrina.

            •          Na Revue, em 1861, Kardec felicita Roustaing pelas interpretações de mensagens mediúnicas por ele estudadas, e chega a afirmar que Roustaing passou a mestre na tarefa de interpretar.

            •          Quando da visita de Kardec a Cidade progressiva de Bordeaux, no final de 1861, entre tantos discursos, o médico e escritor, Dr. Bouché de Vitray, afirma perante o eminente Codificador: "O Sr. Roustaing ... destinado a representar papel marcante nos fatos do Espiritismo".

            •          Em janeiro de 1862, a Sra. Collignon passa a frequentar o Grupo do Sr. Sabó.

            •          Em 1864 e 1865, Kardec saúda duas brochuras de Collignon, Conselhos às Mães de Família e Palestras Familiares sobre o Espiritismo, com palavras mais que elogiosas.

            •          Em 1866, Kardec comenta o lançamento de Os Quatro Evangelhos, com entusiasmo, e escreve que não há nada nele que contradiga O Livro dos Espíritos e O livro dos Médiuns.

            •          Em 1867, em A Gênese, o Codificador registra a sua opinião pessoal, sobre a verdade do corpo fluídico, ensinada em espírito verdadeiro, por Roustaing. Escreve que não é impossível sua existência à luz da verdade espírita; porém, deixava a confirmação pelos espíritos, no futuro.

            •          Em 1870, a obra Os Quatro Evangelhos podia, também, ser adquirida na Sociedade Para a Continuação das Obras de Allan Kardec; Sociedade idealizada pelo Codificador e fundada por sua fiel esposa, a Sra. Rivail. Os pedidos deveriam ser encaminhados para o Gerente da Livraria Espírita, M. Bittard .

            •          De 1869 a 190 I, Pierre-Gaetan Leymarie, o grande administrador da Sociedade e redator-chefe e diretor da Revue Spirite, foi um grande estudioso, defensor e divulgador das ideias as propaladas por Roustaing. Há dezenas de comentários seus, nesse sentido, na Revue.

            •          Em 1882, quando da 2ª tiragem de Os Quatro Evangelhos, em sua folha de rosto, há o registro, que em Paris o livreiro dessa obra, era a Sociedade fundada por Allan Kardec. Naquela época o endereço da Sociedade era: Rue des Petits Champs, 5.

            •          A obra de Roustaing chegou ao Brasil (1870) através do pioneiro Luís Olímpio Teles de Menezes, fundador do 1º grupo e periódico espíritas, em nossa pátria, em 1865 e 1869, respectivamente.

            •          Em 1873, o 1º grupo espírita na capital do Império, o Grupo Confúcio, estudava, com entusiasmo, Os Quatro Evangelhos.

            •          Em 1880, o Grupo Ismael, com Sayão, Bittencourt, Bezerra, Frederico Silva e outros, estudava sistematicamente a obra de Roustaing.

            •          Em 1883 surge o Reformador, atualmente a mais antiga e ininterrupta revista de divulgação do Espiritismo. O Reformador sempre priorizou propagar o binômio espírita Kardec- Roustaing.

            •          Em 1884, o Plano Maior, materializa no Brasil, a Federação Espírita, que já nasceu agasalhando a mensagem de Roustaing.

            •          Em 1887, Max (Bezerra de Menezes) começa sua série de artigos espíritas, em jornais leigos, por dez anos. O Paiz, O Jornal do Brasil e A Gazeta de Notícias estamparam, por diversas vezes, de forma clara e destemida, matérias elucidando o pensamento de Roustaing, que para Bezerra, era pouco acessível às inteligências de certo grau para baixo.

            •          Em 1889, Bezerra de Menezes assume a presidência da FEB e se encarrega de transferir o Grupo Ismael (com seu programa doutrinário) para ser a célula espiritual da Federação.

            •          Em 1895, Bezerra assume com plenos poderes a direção da Federação e inclui, imediatamente, Os Quatro Evangelhos no Estatuto da Casa de lsmael. Esta atitude formal foi um fortalecimento do estado de fato
             
            •          Em 1898, Bezerra começa a publicar a tradução de Os Quatro Evangelhos, no Reformador, feita pelo Marechal F. R. Ewerton Quadros, 1º presidente da Federação.  Ainda nesse ano, temos o lançamento do mavioso Jesus Perante a Cristandade, que abraça as verdades de Roustaing, do Espírito Bittencourt Sampaio, pelo médium Frederico Silva. O grande fato foi a imprensa leiga reconhecer o puro e verdadeiro estilo que da outra vida veio, firmado pelo próprio Bittencourt Sampaio.

            •          Em 1903 surge o elucidativo A Personalidade de Jesus, que estuda Roustaing, de Leopoldo Cirne, o substituto de Bezerra de Menezes, nas tarefas da Federação.

            •          Em 1909, a Federação lança a definitiva tradução de Roustaing, feita por Guillon Ribeiro. Foi Guillon o tradutor das obras de Kardec, publicadas pela FEB, as mais vendidas, e colaborador de Ruy Barbosa no trabalho de revisão do Projeto do Código Civil.

            •          Em 1926 começa ostensivamente as atividades mediúnicas de Yvonne A Pereira, um dos principais médium do Espiritismo. É Yvonne estudiosa de Roustaing e sua obras retratam os ensinos da revelação da Revelação.

            •          Em 1931 se projeta para o mundo a mediunidade missionária de Francisco Cândldo Xavier, um autêntico estudioso e defensor das ideias de Roustaing.

            •          De 1932 começa a brilhar A Grande Síntese, que brotou através da maior antena psíquica de nosso século, o apóstolo do Cristo, Pietro Ubaldi. Nesta obra, Cristo volta para renovar seus ensinamentos no Mar da Galileia e, entre tantos outros pontos, de comum acordo com Roustaing, foca, que num futuro biológico, usaremos corpos ectoplasmáticos, conforme o de Jesus, quando entre nós. Ainda, em 1932, a médium América Delgado capta o espírito Guerra Junqueiro, que confirma, em Funerais da Santa Sé: Jesus não foi jamais involucrado em lama!

            •          Em 1936, Antônio Lima nos oferece A Vida de Jesus. Emmanuel, através da pena de Chico Xavier, registra no elucidativo prefácio: "Os homens devem saber que o Missionário Divino não viveu a mesma lama de suas existências ... Que a família genuinamente cristã .,. pratique largamente sua doutrina, esperando, com a humildade requerida, o tempo propício à compreensão de determinadas verdades ..."

            •          Em 1937, temos uma bela definição de Pietro Ubaldi, em Ascese Mística: Jesus é o fato tangível e inegável em que o super sensível se materializou.

            •          Em 1938 aparece o maravilhoso Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, do espírito Humberto de Campos, pelo Chico Xavier, que informa: - em se tratando do Espiritismo, Roustaing organizaria o trabalho da fé.

            •          Em 1939 refulge a mediunidade de Zilda Gama, que lendo o pensamento do espírito Victor Hugo, em Dor Suprema, revela que Jesus possuía como que uma clâmide materializada a revestir-lhe o corpo sideral.

            •          Na Páscoa de 1945, Pietro Ubaldi entrega ao mundo A Nova Civilização do Terceiro Milênio, que sem rodeios, assevera que Francisco de Assis, espiritualmente distante da evolução cósmica do Cristo, foi o máximo que a biologia humana conseguiu suportar.

            •          De 1948 se destaca Elos Doutrinários, de Ismael Gomes Braga. Nele encontramos sábios apêndices, do erudito amigo Zêus Wantuil e, entre eles, temos Os Docetas, Precursores do Espiritismo. Chico Xavier, estudioso e sincero, escreve para Antônio Wantuil: Li o trabalho de Zêus, referente ao Docetismo ... estou encantado.

            •          Em 1949, temos no dia 05 de outubro a concretização do sonho do inesquecível Bezerra de Menezes: a assinatura do Pacto Áureo. Com relação a Roustaing a FEB esclarece: é obrigatório o estudo da obra de Roustaing? - Para nós (FEB) sim, para as adesas não.

            •          Em 1952 temos um fenômeno extraordinário! O espírito Bezerra de Menezes assina, como quando entré nós, pela mediunidade de Chico Xavier, o novo Estatuto do Grupo Espírita Regeneração, no Maracanã, Rio de janeiro, que observa o estudo sistemático de Roustaing, conforme sua primeira página.

            •          Em 1968, no dia 06 de Outubro, Divaldo Franco, o ilustre confrade baiano, em emocionante palestra, no Grupo Espírita Fabiano, no Rio de janeiro, narra o que todos já sabíamos: Eu fui a Roustaing, que é minha fonte inexaurível de estudos evangélicos! Há quase vinte anos que eu leio o benfeitor João Batista Roustaing.

            •          Em 1970, Pietro Ubaldi conclui sua magnífica obra de 24 Vol., com o incomparável Cristo. Nele, Ubaldi derrama toda a sua sabedoria, amadurecida pelos irmãos tempo e sofrimento; e, como não podia deixar de ser, em comum acordo com o pensamento de Roustaing, explica a necessidade da evolução de Jesus, através dos reinos infra-humanos e espiritual consciente, sem falir, rumo a perfeição sideral.

            •          Em 1979 Francisco Thiesen e Zêus Wantuil, legam ao movimento espírita, a biografia de fôlego de Allan Kardec, em 03 volumes; e, numa harmonia perfeita com a vida e obra do grande Codificador, citam Roustaing 19 vezes e Collignon 07.

            •          Em 1999, mais um grande evento em torno de Os Quatro Evangelhos. A Casa de Recuperação e Benefícios Bezerra de Menezes, em Botafogo, Rio de janeiro, inaugura, sua page na Rede Mundial de Informações, a Internet, com o endereço: http://www.casarecupbenbm.org.br.

            Nesse site encontramos uma inovação genial: A Praça Allan Kardec e o Museu Virtual Roustaing.

            Vale Conferir!
xxx

            Inaldo, À Luz da Verdade (e só citamos alguns fatos) vemos que a História do Espiritismo, no que de há de mais positivo, conspira em favor de Roustaing e de sua monumental compilação, Os Quatro Evangelhos, que tanto lemos, estudamos, admiramos e divulgamos.

Jorge Damas Martins

 Prefácio do livro  
“À Luz da Verdade” 
de Inaldo Lacerda Lima

(SODEAS Editora Auta de Souza, 2000)


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

'A Evolução de Adão'


     “A Evolução de Adão”
por Jorge Damas Martins e Roberto Silveira

(Edição dos autores – 1ª Ed – 1984)

Prefácio     por          Felipe Salomão

ENSAIO SOBRE “EVOLUÇÃO”

            Escrever um livro não é tarefa fácil. Primeiro, porque o espírita, em geral, é um estudioso e tem ao seu dispor uma bibliografia excelente e diversificada. Depois, a escolha do tema é um desafio.

            Os autores do presente livro, Jorge Damas Martins e Dr. Roberto Silveira, conseguem com muita habilidade vencer os obstáculos acima.

            Apresentam-nos este “A EVOLUÇÃO DE ADÃO”, trabalho a quatro mãos, dentro de uma linha doutrinária muito coerente, num esforço perseverante de pesquisa e estudo de texto.

            O Jorge Damas Martins, conquanto ainda novato no movimento espírita[1], não ficou na rama das considerações Doutrinárias. Aprofundou-lhes o sentido e tem se esmerado em procurar “o espírito que vivifica” nos conceitos que lhe são oferecidos. Seu primeiro livro “PONTE EVANGÉLICA” —, recentemente editado, dá-nos esta confirmação.

            O Dr. Roberto Silveira, seu sogro, já está há mais tempo na Doutrina Espírita, tendo publicado “AGENDA DE UM PSIQUIATRA ESPÍRITA”, “AQUI E ACOLÁ” (A Psiquiatria nos Dois Planos da Vida) e “ELE ESTÁ BEM, OBRIGADO”. E aqui estão os dois reunidos para a apresentação deste estudo sobre a temática da evolução.

            Antes de mais nada, deve-se dizer que eles conseguem realizar verdadeira “costura”, abordando obras de Allan Kardec, J. B. Roustaing, Pietro Ubaldi, Emmanuel, André Luiz, num admirável poder de síntese. Evidentemente, as ideias expostas são o produto da sua interpretação e resultado da sua madureza espiritual. E eles as expõem dentro do espírito de liberdade que bem caracteriza a Doutrina Espírita. Liberdade, aliás, tão útil à oxigenação de ideias, de formulação de pensamentos e que permite a livre discussão dos assuntos, sem as amarras do dogmatismo ou a prisão do fanatismo.

            A primeira parte do livro, escrita pelo Jorge, trata da queda espiritual e sua demonstração nas chamadas “Sagradas Escrituras”. Começa com a substanciosa introdução “Lei, Liberdade e Consequências” onde o autor apresenta um verdadeiro tratado sobre evolução, dor e sua razão de ser no processo evolutivo, para o espírito que faliu. Aqui fica nítida a diferença entre a dor-resgate e a dor-aprendizado, com que pretendem justificar a necessidade do sofrimento para a caminhada do Ser rumo às finalidades maiores. E uma verdade irretorquível ressuma das ideias expostas: só há uma fatalidade — a da nossa evolução.

            A seguir, o texto do Gênesis é esmiuçado tim-tim por tim-tim. É como se colocasse uma lente de aumento sobre a narrativa escriturística para melhor esclarecê-la. E não fica na mera especulação interpretativa, segundo a “letra que mata”. Há a preocupação da explicação científica, segundo a física moderna, da qual André Luiz já revelara alguns conceitos, como o da “LUZ COAGULADA”, de que modernamente se fala.

            Há amarração de todos os textos e autores entre si, verificando-se uma sólida argumentação. E não fica por aí. Vai-se ao original para se descobrir o verdadeiro significado das palavras, a fim de melhor compreendê-las. Conquanto muito se tenha escrito sobre o assunto, aqui ADÃO, EVA, SERPENTE, ÉDEN, JARDIM DO ÉDEN, PARAÍSO, EXPULSÃO, PECADO, encontram o seu significado verdadeiro, sua simbologia é desvendada e uma explicação detalhada nos é apresentada.

            É uma tese e, somente como tal, poderá ser refutada, isto é, com apresentação de dados, de ideias, de argumentos.

            Até aqui se falou filosoficamente sobre a QUEDA. Na segunda parte, o Dr. Roberto Silveira, aborda o problema da QUEDA como fato consumado, isto é, nossa vida, depois de havermos nos rebelado contra a LEI DE DEUS.

            E, também, ele, apresenta uma inovação. É a tentativa de se partir de uma ideia apresentada pelo psiquiatra ALBERT MOREL, que aceitando a queda espiritual, encontra nela a causa dos desvios psíquicos da humanidade. E com a mestria que lhe é conferida pelos longos anos de trabalho psiquiátrico, o autor faz-nos uma emocionante narrativa da reencarnação. Não como deve ser, mas como é. Aqui as almas desfilam seus dramas e os seus problemas existenciais, cuja explicação lógica só a reencarnação pode dar. E, sabemos, reencarnação oriunda de queda, que todos nós nos iguala pelo simples fato de estarmos ligados a este mundo de expiação e provas, chamado Terra. Esta mesma razão que permitiu ao Cristo de Deus desafiar aos acusadores da chamada mulher adúltera: “Aquele que estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. Evidentemente que Ele não falava somente aos homens ali presentes. Falava aos espíritos reencarnados, por isso mesmo submetidos à Lei, por estarem comprometidos e em queda espiritual. Por isso ninguém teve coragem para atirar pedra. Ele, o Filho de Deus, no entanto, estava sem pecado (“Quem de vós me arguirá de pecado?”), mas Espírito Puro ofereceu seu imenso amor na compreensão dos conflitos da alma humana, sem acusar e sem pactuar com o erro (“Vai e não peques mais”). Não se consegue ler a narrativa apresentada pelo Dr. Roberto Silveira aos poucos. Há um envolvimento emocional tão grande, que somos dominados pelo desejo de chegar ao fim, de ver a narrativa toda, para compreender o que se passa com o espírito comunicante. E aqui, com as luzes da Lei dos Renascimentos, tudo se explica, tudo se aclara.

            Enfim, o presente livro não é para ser lido. É para ser estudado, tanto e tais são os argumentos e ideias aqui apresentados.

            E, ao fazermos esta apresentação por deferência dos autores, concluímos afirmando que esta é uma obra que enriquece o patrimônio cultural espírita.
           
                                                          


[1] Nota do Blogueiro – Observação de Felipe Salomão em 1984. Já lá se vão quase 30 anos e a pena do Dr Damas só fez brilhar desde então.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Jesus não é Deus II


VI[1]

            Está limpo o terreno – a nossa arena.
            A sua igreja desceu às condições humanas do sacerdócio hebreu – e o Espiritismo subiu a emparelhar com ela, pelo modo como fizeram os apóstolos com a doutrina do Sacrificado.
            Tanto vale a sua crença como a minha, com a diferença, porém, de que a minha assenta sobre a última palavra do céu, que veio a reformar a sua; como a sua foi a última palavra a reformar a lei escrita, pela qual se batia contra ela o sacerdócio, firmado nos mesmos princípios em que se firma hoje o clero católico, para se bater contra a minha.
            A igreja, pela lei de progressividade da revelação religiosa e científica – por sua falibilidade, que já foi demonstrada e que não pode deixar de ser diante da lei do progresso, também demonstrada – e principalmente pelas promessas que foram feitas por Nosso Senhor Jesus: de mais ampla revelação, cujos sinais se encontram no Espiritismo; a igreja é uma seita, como ela qualifica o Espiritismo – seita tão veneranda diante desta nova, como era o sacerdócio diante da cristã.
            Podemos, pois, bater no mesmo terreno – com as mesmas armas – sem superioridade de qual de nós; porque, afastados os preconceitos, nós e vós não somos senão campeões que procuram a verdade à luz da razão[2] - e de conformidade com o critério infalível de toda a verdade.
            Discutido o primeiro ponto que nos nivelou, pela perda do caráter de infalibilidade, que se arrogava a vossa doutrina – e pela exibição do caráter divino da nossa, passemos a outras provas do nosso arrerto[3]: o Espiritismo veio limpar de erros o ensino da igreja, como o cristianismo limpou deles o ensino mosaico.
            Empregando esta linguagem, precisamos defini-la. Nem o cristianismo limpou todos os erros da lei escrita: pois que, para isso, fora preciso ensinar todas as verdades, o que o próprio Jesus categoricamente declarou que não fizera, nem o Espiritismo limpará todos os da igreja, filhos de sua interpretação literal das sagradas letras; pois que o ensino espírita também é progressivo – e a última verdade só será dada ao mundo quando este tiver atingido o último grau de progresso de que é capaz o homem terreno[4].
            Entretanto, a revelação espírita, no grau em que se acha, já põe à mostra inúmeros erros, que a igreja guarda como verdades eternas.
            É destas que vamos tratar, bom amigo, para provar-lhe: que nossa crença tem o mesmo caráter divino que a sua, que o senhor pôs em discussão: Jesus é Deus?
            Está claro, e esta é a dedução do estudo que temos trazido até aqui, que nenhum de nós pode recorrer a argumento de autoridade; porque a autoridade de sua lei é a mesma da nossa, firmando-se no Evangelho, de que ambos tiram sua razão de ser.
            A razão é o divino critério, aquela baseada na observação e na experiência – e este servindo de farol em meio das cerrações que nos envolvem; eis nossas armas – e eis os instrumentos que a nova revelação recomenda como meio de distinguir a verdade do erro.
            Deus não pode querer uma fé passiva (crer porque mandam crer) – uma fé que não dá mérito – que tolhe a liberdade: condição imprescindível para que o ser humano possa ter responsabilidade e dê razão de ser à justiça soberana.
            Deus só pode querer fé raciocinada, acorde e com a liberdade, que dá mérito e demérito, bases essenciais do julgamento.
            Como punir o Senhor a alma, que desertou da fé imposta por ser ela em tese e com relação a certos princípios, contrária a essa razão, que é uma luz, por Ele posta em nós, para nos guiarmos no exercício de nossa liberdade?[5]
            A igreja, por motivos puramente humanos, sujeita a razão à sua autoridade, que, pelos mesmos motivos, vestiu da infalibilidade divina.
            O Espiritismo, não aspirando as glórias e os poderes do mundo – e partindo do princípio da justiça eterna, cuja razão de ser é a responsabilidade do ser humano, indevidamente, porque “cada um segundo suas obras” [6] – e seguro de que não há responsabilidade sem liberdade efetiva, em todas as relações daquele ser, chega à conclusão de que o Pai, dando livre arbítrio ao filho, deu-lhe necessariamente a luz para servir-se dele.
            O contrário seria o mesmo que confiar um instrumento mortífero a quem não tem a ciência de utilizar-se dele.
            O homem é responsável pelos atos de sua liberdade, porque teve de Deus a razão, para guiar-se na prática de tais atos, a que não seria, se fosse arrastado por imposições de quem quer que seja, ainda que fosse o próprio Deus[7].
            Assim, pois, liberdade sujeita a uma autoridade indeclinável, não é liberdade – não provoca responsabilidade, que autorize a justiça de Deus.
            Só a liberdade livre de peias, que não sejam as da razão, pode arrastar responsabilidade – e juízo.
            Com isto, não varremos a igreja, nem sua legítima autoridade, apenas combatemos-lhe os excessos.
            A igreja ensina – e seu ensino tem a autoridade do saber e a experiência, fundamentos da mais respeitável competência; mas o ensino da igreja não pode ser imposto, porque assim anular-se-ia a liberdade e a responsabilidade do homem.
            A lei posta pelo espiritismo é esta:
            A igreja, com a sua competência ensina: o homem, com sua liberdade, esclarecida por sua razão, raciocina e aceita ou não o ensino da igreja, assumindo a responsabilidade de seu juízo.
            É como se diz em todos os ramos do exercício da atividade e da inteligência humana.
            O prático, o mestre ensina os meios que tem por melhores – a moral; o discípulo é livre de aceitar ou não os conselhos e as instruções, ou de seguir seu alvedrio, carregando por isto com a completa responsabilidade do bom ou do mal que lhe sobrevier.
            Acabe com sua infalibilidade e com a fé passiva, duas coisas repugnantes à razão universal – e Roma será a cabeça da religião de Jesus.
            Vamos adiante.                 

Livro:       ‘Jesus não é Deus’
(série de 20 artigos publicados no ‘Jornal do Brasil’ em 1895)
Autor:  Bezerra de Menezes (Max)
Coordenação e Notas: Jorge Damas Martins
           


[1] Ineditoriais; Espiritismo; Estudos Filosóficos;
  11.Março.1895, pág.2, Segunda-feira, “Jornal do Brasil”
[2] Ver II Cor. 3:17.
[3] Essa palavra não existe. Deve ser asserto, a mais próxima do contexto, e que quer dizer asserção, ou seja, afirmação, alegação, proposição sustentada como verdadeira. (Comentário de Luciano dos Anjos).
[4] Ver a opinião de Max, sobre a progressividade da revelação espírita, no Apêndice III
[5] Ver “LE” perg. 621: “Onde está escrita a lei de Deus?” – “Na vossa consciência.”
[6] Ver Mt. 16:27.
[7] Ver “LE” perg. 262.