Pesquisar este blog

Mostrando postagens com marcador Leon Denis. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Leon Denis. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

A Libertação do Homem

 

Léon Denis

A libertação do homem

por Léon Denis

Reformador (FEB) Outubro 1944

             “O livre arbítrio é a expansão da personalidade e da consciência. Para sermos livres é necessário querer sê-lo e fazer esforço para vir a sê-lo, libertando-nos da escravidão da ignorância e das paixões baixas, substituindo o império das sensações e dos instintos pelo da razão. Isto só se pode obter, por uma educação e uma preparação prolongada das faculdades humanas: libertação física pela limitação dos apetites; libertação intelectual pela conquista da verdade; libertação moral pela procura da virtude.”


sábado, 1 de maio de 2021

Allan Kardec

 

Allan Kardec

Reformador (FEB) Agosto 1946

             Tendo na sessão de 11 de Setembro de 1888, do Congresso Espírita de Paris, declarado o Sr. Fauvety que considerava Allan Kardec o filósofo popular por excelência, pediu a palavra o Sr. Léon Denis, e pronunciou um longo discurso, donde extraímos os seguintes trechos:

             “Examinemos, se o quiserdes, as acusações que se invocam contra Allan Kardec. Ele poupou muito, diz-se, ele deixou muito lugar em sua obra às ideias místicas e católicas; primeiramente digo, e vou prová-lo: nada há de católico nas obras de A. Kardec. O mestre poupou o Cristianismo e não o Catolicismo. São coisas bem diferentes. Fez obra de transição, a exemplo de todos os grandes iniciadores.”

            ‘”Não vos viemos dizer que devamos ficar confinados no círculo, por mais vasto que seja, do espiritismo kardeciano. Não; o próprio mestre vos convida a avançar nas vias novas, a alargar a sua obra.”

            “Estendemos as mãos a todos os inovadores, a todos os de boa vontade, a todos os que têm no coração o amor da Humanidade.”

                                                (Extraído de ‘Reformador’ de 15-X-1890).


segunda-feira, 1 de março de 2021

Todos sabem

 

Leon Denis

Todos sabem

por Léon Denis  in “O Problema do Ser

             “Todos os experimentadores sérios sabem que existem duas espécies de Espiritismo: - um, praticado a torto e a direito, sem método, sem elevação de pensamento, atrai para nós os basbaques do Espaço, os Espíritos levianos e zombeteiros, que são numerosos na atmosfera terrestre; o outro, de mais circunspecção, praticado com seriedade, com sentimento respeitoso, põe-nos em relação com os Espíritos adiantados, desejosos de socorro e esclarecer aqueles que os chamam com fervor de coração.”

 


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

A Vida no Além

Léon Denis

 A Vida no Além

do livro “Depois da Morte”, pág. 242

por Léon Denis

           O Espírito, pelo poder de sua vontade, opera sobre os fluidos do espaço, os combina, os dispõe a seu gosto, lhes dá as cores e as formas que convêm ao seu fim. É por meio desses fluidos que se executam obras que desafiam toda comparação e toda análise. Construções aéreas, de cores brilhantes, de zimbórios resplandecentes: circos imensos onde se reúnem em conselho os delegados do Universo; templos de vastas proporções donde se elevam acordes de uma harmonia divina; quadros variados, luminosos: reproduções de Vidas humanas, vidas de fé e de sacrifício, apostolados dolorosos, dramas do infinito. Como descrever magnificências que os próprios espíritos se declaram impotentes para exprimir no vocabulário humano?

            É nessas moradas fluídicas que se ostentam as pompas das festas espirituais. Os Espíritos puros, ofuscantes de luz, se agrupam em famílias. Seu brilho, as cores variadas de seus invólucros, permitem medir a sua elevação, determinar os seus atributos. Suaves e encantadores concertos, comparados aos quais os da Terra não são mais que ruídos discordantes: por cenários têm eles o espaço infinito, o espetáculo maravilhoso dos mundos que rolam na extensão, unindo suas notas às vozes celestes, ao hino universal que sobe a Deus.

            Todos esses espíritos, associados em bandos inumeráveis, se conhecem e se amam. Os laços de família, os afetos que os uniam na vida material, quebrados pela morte, aí se reconstituem para sempre. Destacam-se dos diversos pontos do espaço e dos mundos superiores para comunicarem mutuamente os resultados de suas missões, de seus trabalhos, para se felicitarem pelos sucessos obtidos e coadjuvarem-se uns aos outros nas empresas difíceis. Nenhum pensamento oculto, nenhum sentimento de inveja tem ingresso nessas almas delicadas a essas reuniões onde todos recolhem as instruções dos mensageiros divinos, onde se aceitam as tarefas que contribuem para elevá-los ainda mais.

 

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Da Cremação








                Tema recorrente, reapresentamos matérias colhidas ao longo dos anos em Reformador (FEB) para que possam ser avaliadas pelos leitores deste Blog.

Cremação de Cadáveres
Editorial do Reformador (publicado originalmente em 15 / 5/ 1883)
Reformador (FEB) Outubro 1968

      A cremação do cadáver humano é um dos problemas que atualmente ocupam a atenção de alguns espíritos investigadores.

      Esse problema tem sido tratado sob o ponto de vista científico e até hoje, em nome da ciência, os crematistas têm alcançado vitória, ao menos pelos autorizados defensores que já contam.

      Alguns defensores da cremação têm usado os seguintes argumentos:

      “É tempo de se tomar a sério a higiene pública e de atender, com vontade de bem servi-la, aos reclamos que a ciência de um lado, de outro a Pátria, dirigem às sumidades do poder.

      “Os argumentos apresentados pelos anticrematistas, em favor da continuação dos cemitérios, carece, de base científica, isto é, assentam na observação parcial e incompleta dos fatos.

      “Pasteur, não satisfeito com demonstrar que certas moléstias são só e exclusivamente devidas à vida que palpita e pulula nas mais ínfimas camadas da escala zoológica, foi além e provou que essas moléstias podem transmitir-se do morto ao vivo.

      “O cadáver colocado no subsolo derrama produtos de combustão incompleta, a decomposição se perverte em putrefação com todo o seu séquito abominável e perigosíssimo de gases mefíticos e de líquidos pestíferos.

     “Quanto mais úmido for o solo, tanto mais perniciosamente se manifestará a putrefação.

      “A porosidade, porém, nem sempre mantém o solo em boas condições para a decomposição, pode o terreno, com o tempo, saturar-se com os restos orgânicos e entregá-los, mal oxidados, à água e ao ar atmosférico em contato com ele, lançando assim o gérmen de envenenamento.

      Foi provado exuberantemente que o tifo e outras epidemias nasceram pelo uso de água impura e, entre nós mesmos, há bem pouco tempo, na epidemia que dizimou a população de Vassouras, a causa primordial devia-se ter procurado nas águas infectadas no seu percurso por terrenos pútridos.

            “O cadáver humano, com a sua massa considerável de substância orgânica mole, forçosamente tem de dar lugar a grandes fenômenos de putrefação. Esses serão tanto mais formidáveis quanto piores forem as condições do terreno no qual se fez o enterro.

            “Mas ainda que o solo fosse muito poroso, enxuto e por conseguinte, acessível ao ar, e, além disso, protegido contra os raios do Sol por abundante arborização e contra as inundações pela escolha de alguma eminência, nunca os cemitérios perderiam o seu caráter pernicioso, por não ser possível evitar neles a putrefação do cadáver.

     “E onde temos cemitérios que reúnam aquelas condições atenuantes, principalmente nas cidades populosas?

     “O valor dos terrenos obriga as administrações públicas a utilizar o mesmo lugar em enterros sucessivos, com intervalos insuficientes para a decomposição, saturando assim o solo de tal forma com substâncias mal oxidadas, que em poucos anos perde as condições necessárias para a decomposição.”

***

     Temos de acrescentar alguns argumentos sob outro ponto de vista em resposta a algumas objeções, a fim de arrancar os escrúpulos sistemáticos ou religiosos de alguns anticrematistas.

    A cremação do cadáver não deve ser combatida pelos que admitem o dogma: carnis resurrectionem, a pretexto desse dogma, porque é amesquinhar a fé pensar que o incinerado não poderá ressuscitar por ter sido queimado, em vez de ter sido inumado.

    O corpo sepultado sofre a mesma decomposição e volatiliza-se do mesmo modo que o incinerado, em tempo mais ou menos breve, e, se admitem que Deus quer ressuscitar os corpos inumados, porque duvidar que Ele possa querer ressuscitar os corpos incinerados?

     Não estão uns e outros na letra da escritura: Pulvis eris in pulverem reverteris?

     Logo a cremação não pode ser repelida, por escrúpulo religioso, como contrária ao dogma da ressurreição da carne.

     “Objetam alguns que é doloroso desaparecerem assim, repentinamente, as formas das pessoas queridas.”

     A estes dizemos, aceitando mesmo como sinceras as suas objeções, que mais doloroso e mais repugnante seria se vissem de que modo desaparecem essas formas veneradas, debaixo da terra, em meio aos horrores da putrefação.

     Como são minados esses lábios, esses olhos queridos, essas faces outrora tão aveludadas, pelos vermes imundos; como são intumescidas pela fermentação pútrida; como destilam venenos terríveis em troco da piedade que se lhes consagra.

     E se ao cabo de alguns anos vissem parte destes restos mal oxidados espalhados pelo solo calcados aos pés por trabalhadores insensibilizados pelo ofício, misturados com outros despojos, ainda poderiam erguer a voz para proclamar o enterramento como mais piedoso, mais estético do que a cremação?

      “Objetam outros que pode ser posta no forno crematório uma pessoa em letargia, com as aparências da morte.”

      A esses responderemos que aos especialistas compete verificar a morte; e que, nos casos de morte aparente, se o especialista se enganar, o letárgico irá para o forno e ali morrerá antes de voltar a si; que será melhor que ser inumado e voltar a si, dentro de um caixão, onde os seus gritos ficam abafados, sofrendo o martírio da morte por falta de respiração e a tortura pela fome.

     Demais, os crematistas não impedem que, nos casos em que se supunha morte aparente, fiquem os corpos em depósito por certo tempo até o começo da putrefação, se for necessário.

     “Objetam ainda outros que os cemitérios servem para manter o culto dos mortos, e que, sendo extintos, esse culto desaparecerá.”

     A esses explicaremos que os crematistas não pedem a extinção dos cemitérios, e, ao contrário, querem um, para nele se reunirem as urnas das famílias e de associações, nas quais se encerrem as cinzas dos parentes e associados, e, assim, o sentimento cultual será mantido e desenvolvido.

      Ainda aconselharíamos que as cinzas pudessem ser depositadas nos templos religiosos ou em suas casas, onde o culto seria mais fácil, mais íntimo, mais fervoroso e também mais solene.

      “A única objeção séria contra a cremação, diz o Dr. Colette, é a que se faz a perda da possibilidade das exumações e das investigações médico-legais que se praticam sobre os cadáveres algum tempo depois da morte, mas, acrescenta aquele douto médico, não valerá mais a saúde de populações inteiras do que a impunidade de algum criminoso?”

      E, ainda que esse fato se dê, o criminoso não ficará impune perante o tribunal infalível de sua consciência, que com os grilhões do remorso o torturará.

      A religião, que tem o dever de guiar o espírito da criatura, pelo caminho do bem, ao Criador, deve limitar-se a acompanhar a alma na fé em Deus, e, como religião da vida eterna, deixar o cadáver aos homens da ciência.

      Que a religião nada tem com o cadáver, nem deve intervir de modo algum, provam estas palavras do Divino Mestre: “Deixai que os mortos enterrem seus mortos.”
***
      Assim pensamos, e, expondo essas ideias, temos em vista despertar a atenção sobre esse problema, a fim de que a luz apareça assaz intensa para que ele tenha a solução mais conveniente, porque, como Espíritas Evolucionistas, temos certeza de que esta questão nada afeta a alma e, portanto, nada tem com a religião.

      A Ciência Espírita, que demonstra a necessidade da encarnação e do prolongamento das existências terrestres a fim de nos podermos regenerar e progredir, expiando os nossos erros, será a primeira a querer a cremação, se se provar exuberantemente que ela é necessária a bem da higiene pública e, se essa prova for dada, acreditamos que a Igreja não negará o seu concurso ao estabelecimento da cremação geral, porque, no caso contrário, poderia ser acusada de cúmplice no crime de suicídio público.

            Porém, desde já deve estabelecer-se no Brasil a cremação facultativa, porque esse é um dos direitos da LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA.

Cremação de Cadáveres
Gilberto Perez Cardoso
Reformador (FEB) pág. 33 Maio 1979

      Assunto polêmico, tendo despertado recentemente a atenção de observadores, é o da cremação de corpos. Embora já abordado, por diversas vezes, em revistas espíritas, trazendo inclusive opiniões de Espíritos desencarnados, parece-nos que comporta mais acurado estudo com vistas à rememoração por parte do leitor e a uma síntese do conhecimento acumulado sobre o assunto.

      Antes, porém, de reestudá-lo mais diretamente, seria interessante observarmos aspectos relativos à desencarnação, o que nos permitirá, posteriormente, concluir a respeito da cremação.

      O decesso, em si, é bastante complexo. Na atualidade, a compreensão que dele temos, através de obras mediúnicas, é sobremodo resumido, mas ainda assim nos permite depreender que difere consideravelmente de ser para ser. Parece não haver um processo desencarnatório idêntico a outro, assim como não há duas criaturas absolutamente iguais entre si. Cada uma é um ‘mundo’ próprio, com emoções e pensamentos próprios, que naturalmente a individualizam. Dessa forma, o desenlace - que dependerá fundamentalmente do estágio evolutivo do Espírito desencarnante, isto é, dos seus anseios, ideias e sentimentos, do acervo de experiências conquistadas em vivências pregressas e da maneira como se conduziu na última romagem terrena - variará sensivelmente de indivíduo para indivíduo.

     “O Livro dos Espíritos” elucida suficientemente bem a questão no capítulo III - Da volta do espírito, extinta a vida corpórea, à vida espiritual -, nas respostas dadas às perguntas nº 155 a), 156, 157, 158, 162 e respectivos comentários aduzidos pelo Codificador da Doutrina Espírita. Na realidade, a alma se desprende do corpo gradualmente e não subitamente, sendo que o tempo de separação varia: rápido nos Espíritos que foram desprendidos e benfazejos em vida, cultivando hábitos enobrecedores; demorado, naqueles que se deixaram obcecar pelas materialidades, interesses subalternos e utilitaristas do mundo, com pouco ou quase nenhum desenvolvimento de atividade moral e intelectual, o que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida, mas uma simples afinidade com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. Mesmo em casos de morte violenta, quando a morte não resulta da extinção gradual das forças vitais’, e o desencarnado não se burilou, deslocando o centro de consciência, ‘mais tenazes são os laços que prendem o corpo ao perispírito e, portanto, mais lento o desprendimento completo’.

      André Luiz, em “Evolução em Dois Mundos”, faz um estudo bastante interessante do fenômeno desencarnatório. Compara-o à chamada metamorfose dos insetos, quando a larva experimenta períodos de transformação, em cada um dos quais se renova para atingir a condição de adulto. O ciclo larva-ninfa-inseto adulto é bem estudado pelos entomologistas. Segundo estes, inicialmente ocorre progressiva redução de atividade, cessando a alimentação e ocorrendo a paralisação dos movimentos; ‘encrisalida-se’ em fios de seda trabalhados pela lagarta com a secreção das glândulas salivares, agregados a tecidos vegetais, formando o casulo onde repousa por dias ou até por meses. Na posição de pupa, há essencial alteração em seu organismo, produzida por uma como que histólise (dissolução de tecidos), ao mesmo tempo em que órgãos novos são elaborados pela histogênese (formação de tecidos, à custa dos que perdurarem). A histólise efetua-se por ação de enzimas ou fermentos em tecidos menos nobres, como os do aparelho digestivo e músculos, ocorrendo reduzida atuação nos sistemas circulatório e nervoso. Durante a histogênese, os remanescentes dos tecidos desfeitos pela histólise perdem suas características próprias, como se involuíssem, sendo então utilizados para a configuração dos novos órgãos típicos. Após a metamorfose, só então é que o inseto, integralmente renovado, abandona o casulo, transformando-se na borboleta alada e multicor - o mesmo indivíduo, só que somando em si as experiências dos três aspectos fundamentais de sua existência: larva-ninfa-inseto adulto.
          
    De forma semelhante, o ser humano, depois do período infantil, atravessa expressivas etapas de renovação interior e maturação, configuradas na juventude, adultície, madureza e velhice. Somente após o esgotamento da força vital no curso da existência, obedecendo a programação pré-encarnatória, através da senectude, caquexia, é que se habilita a transformações mais profundas: ocorre redução gradativa da atividade; declinam as atividades fisiológicas e instala-se a inércia; protege-se habitualmente, desde então, adotando o decúbito dorsal no leito, em preparação do processo liberatório. Chega o momento da imobilidade na cadaverização, mumificando-se qual crisálida, mas ‘envolvendo-se no imo do ser com os fios dos próprios pensamentos, conservando-se nesse casulo de forças mentais, tecido com as suas próprias ideias reflexas dominantes ou secreções de sua própria mente, durante um período que pode variar entre minutos, horas, dias, meses ou decênios.’ (os últimos grifos são nossos.)

      A observação de André Luiz sobre o tempo necessário para a elaboração desse processo é de suma importância em relação ao que nos propomos apreciar posteriormente. O fenômeno descrito - o da cadaverização da forma somática -, presidido pelo corpo espiritual, corresponde a uma histólise de células vivas, desagregados do citoplasma e que se mantinham, até então, ligados ao corpo físico, são aproveitados num processo que o próprio André Luiz, alegando falta de termo adequado, nomeou de ‘histogênese espiritual’. À semelhança do que ocorre no inseto, as enzimas atuantes na histólise humana têm por alvo os tecidos menos nobres, com escassa influência sobre os sistemas nervoso e circulatório. Pela ‘histogênese espiritual’, os tecidos citoplasmáticos, desvencilhados do corpo físico, como que atendendo a processo involutivo, retornam ao tipo de células embrionárias, que, dividindo-se agora em outra faixa vibratória, plasmam o psicossoma, segundo o padrão ditado pela mente. Ressalta André Luiz que: “Apenas aí, quando os acontecimentos da morte se realizam, é que a criatura humana desencarnada, plenamente renovada em si mesma, abandona o veículo carnal a que se jungia (...); quando não trabalhou para renovar-se, nos recessos do espírito, passa a revelar-se em novo peso específico, segundo a densidade da vida mental em que se gradua, dispondo de novos elementos com que atender à própria alimentação, equivalentes as trompas fluídico-magnéticas da sucção (...), patentes nas criaturas encarnadas, a se lhes expressarem na aura comum, como radículas alongadas de essência dinâmica, exteriorizando-lhes as radiações específicas, trompas ou  antenas essas pelas quais assimilamos ou repelimos as emanações das coisas e dos seres que nos cercam, tanto quanto as irradiações de nós mesmos, uns para com os outros.” Consequentemente, através da compreensão do complexo mecanismo da desencarnação, poderemos analisar em seguida o problema da cremação dos corpos.

     Não nos prenderemos, aqui, demasiadamente aos argumentos de ordem utilitária, que, se por um lado possam pesar um pouco na balança, a nosso ver cedem a prioridade aos de ordem espiritual.

     Sem dúvida que a cremação seria uma medida mais higiênica; resolveria o problema da falta de espaço nos centros superpovoados; diminuiria o risco de epidemias; seria um processo mais econômico; realizada após a autópsia, com fins médico-legais, evitaria o contra-argumento da possibilidade da necessidade de exumação cadavérica, transcorrido algum tempo da desencarnação.

      Por outro lado, o nosso país tem grande extensão territorial, o que não acarretaria problemas de espaço, tão alegados. Hoje, sabemos que, embora os agentes infecciosos tenham papel incisivo na instalação de uma doença, a resistência à mesma será muito mais consequência da saúde do indivíduo, obtida através de bons hábitos, boa alimentação; e se áreas com escoamento e higiene adequados fossem reservadas aos cemitérios, a questão estaria resolvida. Como podemos ver, a nível humano, várias possibilidades e argumentos são plausíveis e aceitáveis.

     Sob o ponto de vista espiritual, o assunto foi ventilado na “Revue Spirite”:

            1876/4 (pp. 130/134);
            1884/9 (pp. 576/579);
            1890/2 (pp. 72/75). Sob outros ângulos, pronunciou-se também em...

            1877 (p. 117);
            1879 (págs. 261/262 e 331/332);
            1886 (p. 694).

    O Irmão X, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, manifesta-se em mensagem contida no ‘Reformador’ - ‘O Problema da Cremação’, 1952 (p. 199). Aliás, ‘Reformador’, em várias oportunidades, evidenciou o assunto:

            setembro 1952 (pp. 201 e 205);
            novembro 1952 (p. 269);
            outubro 1963 (p. 224);
            setembro 1968 (p. 216);
            outubro 1968 (pp. 231 e 232.)

     Destacaremos, em resumo, as opiniões de Irmão X, Léon Denis e Emmanuel.

     O Irmão X nos adverte de que a atitude crematória é um tanto precipitada podendo vir a ter consequências desagradáveis para o espírito desencarnante:

     “... morrer não é libertar-se facilmente. Para quem varou a existência na Terra entre abstinências e sacrifícios, a arte de dizer adeus é alguma coisa da felicidade ansiosamente saboreada pelo Espírito, mas para o comum dos mortais, afeitos aos comes e bebes de cada dia, para os senhores da posse física, para os campeões do conforto material e para os exemplares felizes do prazer humano, na mocidade ou na madureza, a cadaverização não é serviço de algumas horas. Demanda tempo, esforço, auxílio e boa-vontade. Eis por que, se pudéssemos, pediríamos tempo para os mortos. Se a lei divina fornece um prazo de nove meses para que a alma possa nascer ou renascer no mundo com a dignidade necessária, e se a legislação humana já favorece os empregados com o benefício do aviso prévio, por que razão o morto deve ser reduzido a cinza com a carne ainda quente?”

       Léon Denis, na obra “O Problema do ser, do Destino e da Dor”, 10ª Edição da FEB, p. 135, comenta que, ao consultar os Espíritos sobre a cremação de corpos, concluiu que,

      “em tese geral, a cremação provoca desprendimento mais rápido, mais brusco e violento, doloroso mesmo para a alma apegada à Terra por seus hábitos, gostos e paixões. É necessário certo arrebatamento psíquico, certo desapego antecipado dos laços materiais, para sofrer sem dilaceração a operação crematória. É o que se dá com a maior parte dos orientais, entre os quais está em uso a cremação. Em nossos países do Ocidente, em que o homem psíquico está pouco desenvolvido, pouco preparado para a morte, a inumação deve ser preferida, posto que, por vezes, dê origem a erros deploráveis, por exemplo, o enterramento de pessoas em estado de letargia. Deve ser preferida, por que permite aos indivíduos apegados à matéria que o Espírito lhes saia lenta e gradualmente do corpo; mas, precisa ser rodeada de grandes precauções. As inumações são, entre nós, feitas com muita precipitação”.

    Emmanuel, em “O Consolador”, questão nº 151, opina:

    “Na cremação, faz-se mister exercer a piedade com os cadáveres, procrastinando por mais horas o ato de destruição das vísceras materiais, pois, de certo modo, existem sempre ecos de sensibilidade entre o Espírito desencarnado e o corpo onde se extinguiu o ‘tônus vital’, nas primárias horas sequentes ao desenlace, em vista dos fluidos orgânicos que ainda solicitam a alma para as sensações da existência material”.

     Salientamos as últimas opiniões que exemplificam e analisam as consequências da cremação precipitada. Acreditamos que devamos agir perante o problema utilizando os conhecimentos de que dispomos, levando em consideração os sábios conselhos expressos e, principalmente, atuando com bom senso e prudência, a fim de que não causemos sofrimento a outrem, nem aumentemos o fardo cármico que carregamos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Fraternidade, Fraternidade!


Fraternidade, Fraternidade!  
Léon Denis
por Divaldo Franco
Reformador (FEB) Julho 1971

            No momento em que o homem terreno realiza uma pausa na corrida armamentista para sondar os espaços infinitos; no instante em que as experiências espaciais coletam dados antes imensuráveis e informações preciosas; na hora em que a Terra experimenta, sofregamente, a dissolução dos costumes e uma dor angustiante se espalha por todos os quadrantes, conclamando as personalidades esquizóides ao suicídio e a posições inomináveis no campo da personalidade; no período em que as guerras calamitosas abrem as fauces hiantes, dilacerando as estruturas sociais da Civilização e exaurindo as inesgotáveis fontes de confiança do espírito humano; quando a Ciência atinge as mais elevadas manifestações do conhecimento tecnológico e o homem, simultaneamente, caminha obumbrado pelos corredores da amargura, retido ainda nos bastiões da ignorância e da loucura, merece que façamos uma análise dos acontecimentos da História Universal e fazendo-a, recordemos as epopeias que se desenrolaram às margens dos rios que foram matrizes das nobres culturas da antiguidade oriental: o Nilo, o Tigre, o Eufrates, que prosseguem no ritmo multimilenário das suas águas, lambendo os alicerces das cidades do passado, que pareciam fadadas à Eternidade e sucumbiram, seguindo modorrentas, lavando as pedras que se desconjuntaram das grandes construções ou que mergulharam no hoje fantástico açude, em Assuan, quase não mais evocando a memória semimorta dos povos pretéritos que, então, retornam à nossa mente indagadora: assírios e babilônios, os que viveram na opulência de Nínive ou na grandeza da Média, da Pérsia, como nos colossos do Egito, com suas cidades faustosas, sejam Alexandria ou Menfis, caracterizadas pelo poder e pela abundância, transformadas em metrópoles que pareciam desafiar a posteridade dos tempos e o suceder dos espaços...

            E com elas lembramos os construtores de impérios e os vencedores de exércitos que comandaram tropas sanguinárias, para serem vitimados logo após pela própria irracionalidade de propósitos, como sucedeu a Dario I e Assurbanipal, a Salmanazar e a Baltazar, a Nabucodonosor e Hamurabi, aos dois Sargãos e aos gloriosos dominadores das semi-eternas dinastias egípcias, que duraram um dia, mas de cuja glória somente as pedras talhadas guardam descoloridas impressões, refletidas nas gastas efígies que o passar ininterrupto dos tempos, em vendavais contínuos, como o atritar incessante das areias em convulsões no intérmino das eras modificaram profundamente.         

*

            Recordamos as glórias dos seus estados títeres e depois o desertar dos povos que os abandonaram, transformando-os em cidades mortas, - advertências graves à história do futuro nos seus fundamentos inabordáveis e raramente aproveitados! - Atingimos, pelo pensamento, as civilizações mediterrâneas da Europa, alcançamos o Egeu e evocamos a grandeza da Hélade, para logo após revermos Roma diante do Tirreno, recém-saída do Lácio, e sentir lhe as conquistas fabulosas que da Península Itálica à Ibérica se transformaram em matrizes de novas culturas dando origem a cidades que se converteram em amontoados tristes, com as vidas fanadas sejam originadas nas imensas e longínquas estepes nevadas ou hajam descido das cordilheiras quase inacessíveis, como consequência dos exércitos de Alexandre, o macedônio, ou. remanescentes de Cambises, o persa, ou hajam surgido com os grandes conquistadores mongóis e bárbaros, rastreadas de sangue, cobertas de cinzas, sepultadas em lama ou afogadas pelos rios das lágrimas, vítimas dos Impulsos, sob cujo guante caíram, no furor das loucuras dominadoras de um momento, passando a intérminas aflições de muitas gerações.

            Rememoramos, também, o esforço da Cultura, tentando libertar-se da ignorância medieval, para estabelecer o empirismo indagador, a espocar, logo depois, no renascimento das ideias e das artes abrindo à História novos fastos e novas glórias que culminaram na Revolução da França, quando se pretendeu estabelecer os “direitos do homem” e proclamar os ideais consubstanciados na liberdade, que é a lei da Vida, na igualdade, que é a materialização daqueles Direitos humanos, e na fraternidade, que é o corifeu das duas outras, a fim de sentir o eclodir das paixões que gritavam nas turbas vitoriosas de Napoleão e foram desmoralizadas pelo Carbonário, mais tarde ao trair os ideais da República através do restabelecimento da decaída Monarquia ...

            Relembramos os colossos e aflições das lutas intérminas pela hegemonia dos Estados Italianos, pela reorganização da Prússia, pelas ambições dos Estados Latinos e Anglo-Saxônicos, para, nesta atualidade, rever a Humanidade dividida novamente em 3 grandes blocos, decorrentes do egoísmo dominador: subdesenvolvida, desenvolvida e terceiro mundo, na vã quão louca correria da dominação totalitária para estabelecer na Terra o estágio da posse bélica, tão transitória quanto as expressões da vaidade que perpassa como quadra primaveril e morre entanguido da realidade do Tempo.

            Somos, então, impelidos a recordar Jesus, o Esteta da Fraternidade legítima, sulcando o solo dos corações e plantando na terra do amor os pilotis do santuário da compreensão humana, instaurando de logo o Reino da Tolerância, tendo como alicerce a Manjedoura de humildade e como ápice os braços rasgados de uma cruz de infâmia, formando todo um cendal de estrelas para aqueles que aspiram à imortalidade e à vida.

            Ainda aí, todavia, evocamos mil disputas humanas, as “guerras de Religião” que ocultavam, nas suas manifestações intestinas, as ambições cruéis da política ultramontana dos homens, sempre ávidos pelas posições de destaque e do relevo mentiroso que se esfumam e convertem em cinzas da ilusão, como resultado do fogo desaparecido, ora reminiscências amargas...

            Despertamos hoje, porém, em pleno fastígio do Espiritismo cristianizante, que recoloca as balizas do período da fraternidade ideal no mundo de angústias, dando início à era do amor precioso para a elaboração verdadeira da felicidade no país desconhecido dos corações.

            Diante das conquistas inabordáveis do homem, homem que já se fez hóspede inusitado do satélite pardo-acinzentado da Terra, somos constrangidos a reconhecer a vitória do engenho humano sobre as barreiras antes intransponíveis do seu habitat e simultaneamente verificamos a inexequibilidade das suas conquistas face às ambições desvairadas que o governam e as pretensões de transformar, talvez, Selene dantes sonhadora em base míssil, para atacar os países ditos adversários, que se anteponham às ambições totalitárias dos governos arbitrários e loucos que sempre sonham com Estados Moloques, cujas rédeas desejam reter nas mãos inábeis e nos espíritos furiosos.

            Repetimos: Fraternidade, Fraternidade!

            Disputavam antes o teu nome qirondinos  jacobinos e proclamavam-te Robespierre e Danton, Marat e Condorcet, nos dias da loucura e do Terror; fazendo que silenciasses a voz sob o caudal de sangue que corria da arma de José Guilhotin. Sobreviveste, porém, e cantas aos ouvidos do mundo a epopeia idealista dos dias de amanhã. Quando, cansado e sofrido, o espírito humano compreender que é necessário amar, que a evolução depende do conhecimento mas também de ti, então voltarás triunfalmente à Terra de todos, para abraçares os homens numa só família. Nessa hora, o Rei Apoteótico e Singular, vencedor da sepultura vazia e da morte, cantará aos ouvidos do mundo a melodia do gozo decorrente da paz em pleno milênio de luz, que já agora amanhece, não obstante o crepúsculo profundo que experimentamos através de dores ásperas.

            ...E para que não tardem as primeiras claridades do empreendimento sublime e do entendimento entre os homens, demo-nos as mãos como elos preciosos da corrente da vida, onde quer que estejamos, vivendo a Fraternidade de agora: na célula da família ou no organismo da sociedade onde mourejamos, para que ela possa agigantar-se por toda a Terra partindo de nós, os cristãos novos que, acreditando na Imortalidade, vivemo-la desde hoje, mediante o intercâmbio puro e santo entre as duas esferas da vida, bendizendo o nome - Fraternidade, Fraternidade! - e esparzindo amor.
 Léon Denis




sexta-feira, 10 de julho de 2015

Tendes por templo o universo



            Torna-se deveras necessária uma explicação mais extensa e satisfatória em torno da produção de Léon Denis.

            Filósofo dos mais profundos, mestre do pensamento esclarecido e dono da palavra  sadiamente empolgada, não se pode dirigir a obra do escritor a determinadas faixas etárias, uma vez que  tem a caracterizá-la a universalidade de ensinos; ela não se acha adstrita a particularismos grupais.

            Mas, como nos dizem os Espíritos amigos, "a verdade está na síntese" - assertiva essa já proclamada a viva voz por grande número de filósofos. Por isso mesmo, o perigo de distorção da produção de Denis está exatamente na interpretação que mentes imaturas lhe podem dar.

            Já de imediato, como entender a unidade de problemas suscitada pelo filósofo quando, a páginas 54 do livro "O Problema do Ser, do Destino e da Dor", edição de 1961, colocamo-nos face a face com a seguinte asserção:

            "O primeiro problema que se apresenta ao pensamento é o próprio pensamento", ou seja, "o primeiro problema que se apresenta ao ser pensante é o próprio pensamento." E, mais adiante: "O problema do ser e o problema da alma fundem-se num só." Vamos, como pensadores evangelizados, dissecar a peça anatômica que se apresenta à nossa frente.

            Inicialmente, o que é a UNIDADE, ou a UNICIDADE suscitada por Denis? Certamente, se pusermos em movimento toda a nossa capacidade de compreensão, entenderemos a Unidade como uma interligação mental, e portanto, interior, com reflexos na vida exterior, isto é, na vida de relação, e não uma vinculação interna totalmente desmembrada do exterior.

            No entanto, como dissemos, nem sempre é fácil interpretar o pensamento de Denis. O seu vocabulário riquíssimo e belo esconde uma profundidade e complexidade (esta, em relação ao nosso parco entendimento) plenamente justificáveis face à amplitude da visão espiritual do filósofo.

            Assim é que boa parte da juventude entende Denis como um grande "reacionário", ou um socialista extremado, dentre outros qualificativos, como o de pessimista no que toca aos destinos da sociedade terrena. Um segundo Nietzche, enfim.

            A maioria, após a leitura (não o estudo) de suas obras, enterra-se em um castelo de sólidas rochas, reagindo egoisticamente no que concerne aos problemas do mundo - que também são dela - e adota a filosofia do protesto pela não intervenção no campo prático da coletividade.

            Refutam usos e costumes; atacam maciçamente o arcabouço que lhes foi legado ou que por eles foi herdado, esquecendo-se de que "renovar não é destruir" (André Luiz, "Agenda Cristã", FEB, psicografia de Chico Xavier) e de que o marasmo não cria. Com tal proceder, fatalmente surge a piora de uma situação que podemos classificar como negra, acionando os mecanismos da Lei de retorno, gerando o verdadeiro caos social. Cultiva-se, de tal modo, a desordem mental, que os Espíritos amigos sempre condenaram, condenam e condenarão com veemência. E muitos, meus amigos... muitos justificam suas posições irrefletidas neste ou naquele volume de Léon Denis!..

            E, o que é pior, muita gente dentro da própria Doutrina Espírita procura combater a orientação segura do Alto, resguardando-se no socialismo, no não conformismo e em tantos outros "ismos", "que Léon Denis proclamou no livro tal, à página tal", ou, então, "com base no que ele afirmou na mensagem que o médium Y recebeu no Centro Z".

            Por aí se compreende que uma pequena frase de uma simples página, de um só livro do grande batalhador espírita é o bastante para abarcar uma série de problemas que se apresentam jungidos uns aos outros, formando uma unidade, e que existirão ainda por muito tempo. Além disso, esquecem-se os arautos desses "ismos" de que o nosso mundo ainda precisa depurar-se. A maioria dos espíritos que aqui reencarnam trazem profundos débitos de vidas pregressas, que se manifestam sob a forma de expiação e de prova por encarnações inteiras. De tal modo, o entrelaçamento de fios vinculatórios de uma causa às demais exterioriza-se como uma verdadeira teia, onde a aranha venenosa (o embotamento total do homem pela própria culpa) é suprema dominadora.


            Denis mostra claramente - muito embora, repetimos, não seja um Nietzche - que essa realidade dominadora se projeta a terrenos afastados, ameaçando minar toda uma estrutura cristã. E um dos campos mais propícios às suas sinistras investidas é o dos jovens, esclarece-nos.

            "Nos meios universitários, reina ainda a mais completa incerteza sobre a solução dos mais importantes problemas com que o homem jamais se defrontou em suas passagens pela Terra."

            Aqui ressurge a mencionada unidade, como produto mesmo da própria natureza gregária do Homem. A juventude não deve e não pode passar à crisálida do insulamento, alegando um choque de gerações e, suas desilusões, gerando a descrença e, consequentemente, o medo. Tudo isto nos esclarece Léon Denis.

            Ainda em "O problema do Ser, do Destino e da Dor", Denis enfoca, à plena luz de sua compreensão, o problema do jovem no mundo moderno, aludindo inclusive à obra de Carl du Prel, "La Mort et l'au delà", onde, a páginas 7, o conhecido mestre nos diz que a Filosofia não auxiliava a resolver o problema da mortalidade
que afligia a idade adulta e, ainda mais, os jovens.

            Fruto de uma visão falha, que não prepara a juventude para a vida, embasava-se ela no Naturalismo de um Hegel, no Positivismo de um Auguste Comte ou, o que é pior, no Materialismo de um Stuart Mill, tudo isso na busca de um ideal "incerto" e "flutuante". Denis nos mostra, com uma clareza meridiana, que a descrença gera o medo, que embota toda e qualquer perspectiva mais ampla, mais acalentadora. Esta é, aliás, a tônica da obra de Denis. O pessimismo e o fanatismo contribuem ainda mais para a descrença na Força Maior que dirige o Universo inteiro, chegando-se ao ápice da negação com a frase, ou melhor, a sentença "Deus está morto", com o que Nietzche consubstanciou a sua posição de negador de si mesmo, porque nenhum homem que negue a Deus pode reconhecer-se a si próprio.

            Raoul Pictet, que Denis também cita com frequência, afirma que "o desânimo precoce e o pessimismo dissolvente são ameaças terríveis para o futuro".

            A mocidade, cultuando, quer o êxito e a riqueza, quer o protesto contra o estabelecido de há muito - que lentamente irá mudando -, não atingiu ainda a posição de síntese que nos é apresentada pela Espiritualidade Maior. Em ambas as posições configura-se a descrença na Providência Maior e nas próprias forças que ela nos outorga. Cultua-se o acaso e a influência de condições primárias, em que a vontade não intervém, conforme nos elucida Raoul Pictet em sua obra "Étude Critique du Matérialisme et du Spiritisme par Ia Physique Expérimentale".

            Ressalte-se ainda uma posição muito em voga, adotada por criaturas de todas as idades, segundo a qual a existência deve ser considerada como mero caso fortuito,
produto, tanto ela quanto o Universo, de uma gigantesca explosão que teria lançado
os corpos celestes em movimento de rotação em torno de um centro, que para o nosso sistema planetário seria o Sol. Parece-nos, sem dúvida, ter havido semelhante explosão, mas... perguntaríamos se se poderia prescindir de um motor inicial que movimentasse os corpos e provocasse a própria explosão. Mais uma vez, vamos beber ensinamentos na opulenta obra de Denis, que nos informa que o choque interatômico das moléculas que, segundo Kant, teria ocasionado a movimentação é totalmente improcedente, uma vez que a energia desprendida por tal explosão é igual em todos os sentidos, o que, como facilmente se depreende, não estaria em condições de gerar movimento. Além disso, vamos lembrar a resposta de Albert Einstein, quando inquirido sobre o acaso:

            - "Não creio no acaso porque igualmente não creio que Deus pudesse jogar
dados com o Universo."

            Seria necessário mais algum depoimento?

            Naturalmente, alguém há de alegar que Einstein estaria fora de suas faculdades quando assim disse. Quanto a estes, deixemos que novas luzes se façam para eles.

            Tal é a situação de grande parte dos moços na atual vida terrena... e talvez ainda o seja por muitas encarnações. Descrentes de si mesmos, tudo negam, tudo rebatem e atacam; não percebem, entretanto, que, ao negar a Deus, negam-se a si mesmos e a toda a humanidade, à Natureza, enfim, à própria vida de que somos o exemplo mais gritante, uma vez que já estamos investidos do livre arbítrio e, conseguintemente, já nos encontramos raciocinando.

            Se a essência espiritual veio do reino mineral, passou pelo vegetal, animal... se
no vegetal só possuía sensação e no animal adquiriu instinto... do mesmo modo, no estágio humano conscientizou-se de uma liberdade maior, muito embora a igualdade perante Deus imponha determinadas restrições, em benefício da própria harmonia universal. É essa harmonia que os jovens negam, isolando-se em castas e em seitas utópicas, onde podem viver plenamente as ilusões do clima em que gravitam... ilusões das quais não são os exclusivos culpados, uma vez que, indubitavelmente, o meio influencia aqueles que ainda não se encontram embasados no Santo Evangelho do Cristo de Deus!

            Não obstante, conforme nos diz Léon Denis, "as potências da alma são inúmeras e somente esperam o alarma vitorioso para que entrem em funcionamento, criando, modificando e extinguindo situações", tudo para melhor.

            Por isso, os Espíritos amigos não se cansam de nos aconselhar o estudo e o raciocínio. Denis assim também o faz.

            Antes de vermos em suas obras monumentais o socialista intransigente, entendamos seus propósitos primeiros. Como todo verdadeiro espírita, como o próprio Cristo o fez, Denis é socialista na medida em que acha que devemos dar a cada um pouco do que é nosso, principalmente nossos valores morais: nosso amor, nosso carinho, nossa compreensão, nosso alento e nosso discernimento.

            Não vamos, é imprescindível, misturar política com Doutrina Espírita! ... Se
compreendermos Denis, compreenderemos também que não podemos mudar o mundo, que não podemos destruir sem construir; que não nos achamos, mesmo, em condições para assim agir. Deixemos que o progresso se faça aos poucos. Não vamos simplesmente afirmar que Denis dá ao substantivo pobreza sempre e sempre o sentido material. "Entre nós sempre haverá pobres", diz-nos Antônio Luiz Sayão, a páginas 433 de seu "Elucidações Evangélicas".

            Haverá sempre a pobreza moral e, mesmo quando esta houver desaparecido, haverá sempre espíritos mais evoluídos que outros; assim sendo, sempre existirão os mais pobres. E, materialmente falando, o mesmo Sayão, a páginas 434 da mesma obra, nos diz: "O desaparecimento, a cessação completa da pobreza material, de maneira que cada um viva folgadamente do seu labor, será um sonho, enquanto a nossa depuração moral não nos houver suavizado as futuras expiações."

            Novamente perguntamos:

            Será necessário mais algum testemunho?

            Tudo isto que vimos dizendo, nesta exposição, traduz o pensamento de Léon Denis quanto aos problemas do mundo. A idade adulta, ele pede um pouco mais de paciência e compreensão; um pouco mais de esclarecimento e lealdade para com a juventude. A esta, ele pede um pouco mais de calma, de perseverança, de raciocínio, de entendimento das premissas maiores de espiritualização.

            Relembremos as palavras do filósofo:

            "As potências da alma são inúmeras e somente esperam o alarma vitorioso para que entrem em funcionamento, criando, modificando e extinguindo situações, tudo para melhor."

            Não são poucos os amigos da Espiritualidade Maior que se manifestam em apoio às palavras de Denis, com esclarecimentos que são da própria Doutrina Cristã.

            Bezerra de Menezes chama a atenção para a presença do Evangelho na vida de
cada um, inclusive como medida de levantamento das forças íntimas, de que Denis
tanto nos fala. Assim:

            "Sobrevém a queda, acarretando sérias consequências àquele que conhece as forças que traz em si e que cai, fragorosamente, esquecido do Evangelho."

            Do mesmo modo, externa-se o venerável Bittencourt Sampaio, lembrando ao homem que a lei é evolução e que o marasmo é o câncer da alma:

            Dentro das possibilidades de cada um, manifesta-se o manancial de forças espirituais.

            "Mesmo assim, nada obsta a que o esforço próprio venha acentuar a evolução,
desenvolvendo aos poucos a vista espiritual."

            Ainda Eurípedes Barsanulfo assevera:

            "Lutemos com todas as forças que nos são próprias e que dormitam em nosso imo, encaminhando-as para a ação paulatina e franca nas searas do Mestre."

            Mesmo ante todos estes testemunhos, corroboradores da mensagem de Léon Denis, há os que objetam que a tendência do Espírito é o que verdadeiramente atua, cerceando todos os esforços dirigidos a mais além. Concordamos em parte com semelhante tese. É bem verdade que as tendências espirituais são dominantes, não podendo ser imediatamente transformadas.

            Mas, relembramos novamente o filósofo do Espiritismo quando, dirigindo-se a todas as idades, fala da vontade, potência-chave da alma, que pode elevar, se assim o quisermos, bem como obrigar-nos ao estacionamento, se assim o desejarmos. "A vontade", assevera Denis, "é um meio para pormos em movimento as demais forças pelo uso persistente e tenaz desta faculdade soberana que nos há de permitir modificar a nossa natureza, vencer todos os obstáculos, dominar a matéria, a doença e a morte." ("O Problema do Ser, do Destino e da Dor", pág. 305.)

            Ainda a esse propósito, manifestou-se com muita sabedoria o Espírito Ubaldo Ramalhete, relembrando com todo o seu carinho uma frase de Suffis Ferdousis, que se acha contida na obra de Denis e que bem expressa o descaso da humanidade pelos tesouros eternos do espírito:

            "Vós viveis no meio de armazéns cheios de riqueza e morreis de fome à porta."

            Como abrir essas portas do tesouro eterno? Como possibilitar a exteriorização da alma, rasgando o véu que encobre o firmamento de glórias sublimes?

            Não pelo ódio ou pelo rancor; muito menos pela inveja ou pelo prazer fútil. Mas, sim, diz-nos Léon Denis, "pelo amor e compreensão que alcançamos pela dor, essa revelação que a natureza guarda e contra a qual tanto nos debatemos". Mais adiante, visivelmente inspirado pelo Alto, prossegue: "Abri o vosso ser interno, abri as janelas da prisão da alma aos eflúvios da vida universal e, de súbito, essa prisão encher-se-á de claridade, de melodias... um mundo todo de luz penetrará vosso ser!"

            Frequentemente, escutamos as mais bizarras interpretações das assertivas de Denis. No entanto, os Espíritos amigos sempre nos lembram a paciência e a tolerância, como apanágio do verdadeiro espírita... E, relembrando o próprio Cristo, nunca tivemos notícia de que ele tenha abandonado a cruz ao meio do caminho para entrar em luta com a multidão. Cabe-nos apenas transmitir a mensagem de amor que a Espiritualidade Maior derrama sobre todos nós, relembrando sempre que o homem progride, malgrado as aparências ... que tudo isto é necessário à caminhada (Denis assim também o afirma). "A todo homem é dada a ventura da elevação espiritual. Esta é um progresso contínuo, ininterrupto, porque é essencialmente vida, ainda que a aparência seja de natureza contrária para nossos modestos sentidos." (Bittencourt Sampaio.)

            Para que todos entendam em espírito e em verdade a obra de Léon Denis, é apenas necessário que consigamos, pela vontade e pelo amor, dizer o "abre-te, Sésamo" que nos mostrará a mais intensa claridade do "entendimento com Jesus".

A Problemática
da juventude
na obra
de Léon Denis

Gilberto Campista Guarino
Reformador (FEB) Dezembro 1972