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quarta-feira, 28 de abril de 2021

Ernesto Bozzano

 


Ernesto Bozzano

A Redação

Reformador (FEB) Novembro 1943

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Nascimento: 9 de janeiro de 1862, Gênova, Itália 

Desencarne:   24 de junho de 1943, Gênova, Itália

             Dolorosíssima notícia foi para a família espírita, a do falecimento de Ernesto Bozzano. Custamos a dar-lhe crédito, visto que estavam cortadas as nossas comunicações com o Velho Mundo. Depois que estalou a guerra, foram diminuindo a pouco e pouco as correspondências com os nossos amigos de além-mar, principalmente com a França, em mão dos alemães, e com a Itália, até então em guerra com a nossa pátria.

            Nada sabíamos, pois, do estado de saúde do velho batalhador, nem dele tivemos mais notícias, até que nos chegou a triste nova de sua morte, através do noticiário das revistas estrangeiras.

            Profundo foi o abalo em nossos corações, aliás já tão experimentados ultimamente, desde que a catástrofe hedionda da guerra se abateu sobre o mundo inteiro.

            Bozzano, só por só, valia uma legião de pugnadores. Foi o maior polemista no campo do psiquismo. Defensor destemeroso e intemerato da doutrina espiritista, nunca deixou de pé um único argumento contra essa doutrina. Esgrimiu, cortesmente, com todos os grandes adversários do Espiritismo. Entre as suas réplicas célebres contam-se as que deu ao professor Morselli, atualmente traduzida pela Federação Espirita Brasileira, sob o título - A propósito da obra “Psicologia e Espiritismo”, do professor Henrique Morselli; a que fez por motivo da campanha promovida pelo Sr. René Sudre, e que se acha também traduzida pela Federação, sob o título - A propósito da “Introdução à Metapsíquica Humana”; a elegante e incisiva, dada ao seu eminente amigo Charles Richet, vulto assaz conhecido de todos os que se dedicam à metapsíquica. Muitas de suas monografias e grande número de artigos, publicados na Revue Spirite, na Revue Métapsychique, na “Luce e Ombro” e, posteriormente, na Ricerca Psichica., eram artigo de polêmica, que tinham por objetivo demonstrar o erro flagrante em que incidiam os propugnadores de várias teorias, mais ou menos científicas, e que procuravam com elas afugentar o espantalho da comunicabilidade dos mortos.

            Bozzano não os poupava. A sua linguagem era sempre elevada; nunca descaiu da linha impecável de um cavalheiro; os seus argumentos, porém, se tornavam arrasadores. Ninguém lhes resistia; raríssimos tinham a coragem de voltar à peleja para os afrontar. Ele foi a maior clava lançada contra o sofisma, os artifícios, as construções engenhosas, o jogo de palavras, a má fé, o conservantismo.

            Por vezes, sua pena era enérgica; entretanto, nunca foi contundente. Pelejou contra os maiores adversários do Espiritismo, sem que descesse jamais do terreno sereno, honesto da argumentação. Enfrentou o mais temível contraditor, o Dr. Eugène Osty, diretor do Instituto Metapsíquico Internacional, médico de inestimável valor, com grande poder de lógica, mas que não perdia a oportunidade de mostrar que os fenômenos supranormais tinham outras causas, que não aquelas apresentadas pelos espiritistas. E navegara este, desassombrado, durante vários anos nesse oceano tão do gosto dos antagonistas das “almas do outro mundo”, quando Bozzano lhe surgiu pela frente e deixou patente a inanidade do seu raciocínio e do seu esforço anti-espírita.  

            Foi um gigante nas letras psíquicas. Possuía todos os nobres requisitos de um polemista de escol: Inteligência, conhecimento, lógica, linguagem, polidez. 

            O professor Bragadini desejou um dia saber como Bozzano, filósofo materialista que era, se havia interessado pelas ciências psíquicas. E o mestre respondeu-lhe de bom grado, visto que, dizia ele, “as conversões filosóficas contém sempre ensinos preciosos.” E dizia bem, - conversões filosóficas, - porque, no seu caso,  “tratava-se de uma conversão, em toda a acepção do termo".

            Nascido em Genova, em 1862, teve uma vida vazia de acontecimentos sensacionais. Estudava sempre. Já na adolescência, sentia que os ramos do saber humano tinham sobre seu espírito fascinação irresistível. Desde cedo, procurou penetrar no mistério do ser humano, e isto se tornou para ele uma paixão absorvente. Aos 15 anos, sua razão rebelava-se contra toda à crença proveniente de um ato de fé. Procurou penetrar no pensamento dos grandes filósofos como PIatão, Hegel, Descartes, Lotze, Rosmini, Giobertl.

            Tomava-o o abismo da dúvida, e os postulados da metafisica lhe pareciam outros tantos atos de fé; voltou-se para a filosofia científica e releu Buchner, Moleschott, Vogt, Feuerbach, Haeckel, Comte, Taine, Guyau, Le Dantec, Morselli, - com quem viria contender mais tarde, - Sergi, Ardigo, Herbert Spencer e outros.

            Este último empolgou-o; pareceu-lhe que o positivismo mecanicista de Spencer continha toda a verdade que ele sofregamente buscava. Tornou-se um positivista, e discutia com os que ousavam contestar os postulados mecanicistas. Parecia-lhe impossível houvesse pessoas de senso, medianamente cultivadas, capazes de crer na sobrevivência da alma. E não só assim pensava, como o dizia e escrevia.

            Esse passado filosófico, em que mergulhou durante 10 anos - diz Bozzano - tornou-o indulgente e tolerante para uma classe especial de adversários que supõem poder refutar as conclusões rigorosamente experimentais extraídas dos fatos estudados pelos espiritistas  de hoje, lhes opondo os preceitos da biologia, da fisiologia, da psicologia e a sua pretendida eficácia demonstrativa, na qual também ele acreditara, e o acreditaria ainda, “se no horizonte do saber humano não tivesse surgido a aurora de uma ciência nova, que dominava as demais, - a metapsíquica, denominada pelo prof. Richet - a “Rainha das Ciências”, mas que a posteridade chamará - a “Ciência da Alma”.

            Ribot lhe enviou certa vez uns números dos Anais das Ciências Psíquicas; os primeiros fascículos produziram-lhe desastrosa impressão; mais tarde vira um artigo do prof. Rosembach, que se revoltava contra a intrusão, na ciência, de um novo misticismo, e explicava ele os novos fatos pela hipótese alucinatória, combinada com as coincidências fortuitas, as imaginações exaltadas e assim por diante.

            Tão insustentável lhe pareceu essa refutação, que produziu no filósofo o efeito contrário a que se propunha o refutador.

            Começou, então, a interessar-se pelo psiquismo, ”e, sem disso ter consciência, estava na estrada de Damasco.”

            O volume de Aksakoff foi a primeira obra a abalar profundamente a solidez da sua fé positivista; seguiram-se outras; foi uma época penosa de perturbação moral, “porque ele assistia, desencorajado, ao desabamento dum sistema de convicções filosóficas adquiridas à custa de longas meditações, e às quais a adaptação psicológica e ética do seu espírito já se tinha afeito.”

            Procurou remontar às origens do movimento espírita. Pediu as principais obras, nos grandes centros. Catalogava, então, o conteúdo das obras por meio de um repertório alfabético com a intenção de se servir desses índices para a análise comparada dos fatos e dos quadros sintéticos, os quais deveriam conduzi-lo à convergência das provas, - critério superior de qualquer inquérito científico.

            E foi nessa base que ele assentou suas novas convicções espiritualistas.

            Estabelecida uma sólida cultura no assunto, entregou-se às pesquisas experimentais. Fundou com Venzano, Peretti e Arnaldo Vassalo, em Gênova, a Sociedade de Estudos Psíquicos, mais tarde Centro Científico Minerva. Eram 70 os membros, e não foi difícil descobrir que, entre eles, havia poderosos médiuns. Vieram depois as experiências com Eusápia Paladino, onde foram obtidos, em onze meses, “o que a médium pode oferecer de melhor em sua vida”. O resultado desses trabalhos expô-los Bozzano na sua obra “A Hipótese Espírita e as teorias científicas”.

            Chegou Bozzano, finalmente e firmemente, à seguinte conclusão:

 

            “Todo aquele que, em lugar de perder-se em discussões ociosas, empreender pesquisas sistemáticas e nelas perseverar, acabará por se convencer que os fenômenos supranormais constituem um complexo de provas animistas e espiritistas, que todas convergem para uma demonstração rigorosamente científica da existência e da sobrevivência da alma humana.”

             Tal é, em resumo, a resposta de Bozzano ao seu inquiridor, espécie de autobiografia, que foi publicada em Milão, no Ali del Pensiero, e em Paris, na Revue Spirite, em 1939.

                                                                                  *

             O poder mágico da argumentação do pranteado filósofo deriva precisamente dessa “convergência de provas", verdadeira catapulta, contra a qual faziam risível figura as fragílimas razões que costumam apresentar os opositores.

            Bozzano, durante mais de 40 anos, acumulara os fatos do psiquismo e neles é que assentava sua vigorosa construção. Era sulla base dei fatti, como se exprimia, que repousava a sua crença, e daquela base inexpugnável não havia forças capazes de o desalojarem.”

            Durante sua vida, acumulou e classificou as provas que constituem hoje o alicerce de sua obra monumental. Ele deixou para mais de 70 monografias e cada uma delas constitui demonstração irrecusável da sobrevivência. Todas reunidas formam um feixe irresistível, uma documentação cerrada, um desses trabalhos imperecíveis, que atravessam os séculos, lançando o mesmo brilho que as estrelas fulgurantes lançam através do espaço, muitos milênios depois de sua morte.

            Poucos lutadores tiveram o fôlego de Bozzano, sua capacidade de trabalho, seu poder de indução e dedução, sua paciência de pesquisador, sua dedicação ao estudo, seu amor à boa causa, sua fé de apóstolo.

            Queremos tratar, ainda, de um feitio especial de seu espírito: - o desinteresse, o desprendimento dos bens materiais. Poderia ganhar uma fortuna com seus escritos. 

            Era conhecido em todas as partes do mundo; todos os espíritas o estimavam e  admiravam; os adversários reverenciavam-no; os inimigos da doutrina temiam-no. Teria, se quisesse, auferido grandes lucros. Mas tudo ele dava. Concedia direitos de tradução e impressão do inesgotável documentário que eram os seus livros sem nada pedir em troca. Era a cessão gratuita, era o desprendimento evangélico, era o altruísmo que leva as almas ao Senhor. Seu trabalho mental, seu esforço intelectual, o labor ininterrupto de vários decênios tornou-se patrimônio da humanidade.

 *

             Seu amor aos fatos, seu apego às provas, seu espírito científico, sua atividade no terreno exaustivo da documentação, levaram muitos a supor que ele era pouco dado à feição religiosa do Espiritismo, ou a ela nenhuma simpatia votava.

            Nada menos certo. Ele apenas se opunha a que o Espiritismo se confinasse numa única religião, ou dela adotasse os princípios formalísticos. O que ele achava e até foi motivo de uma tese, é que era tal a amplitude do Espiritismo, que abrangia todas as religiões, sendo como um imenso vestíbulo por onde podiam entrar os grandes princípios e as leis imutáveis do Criador, qualquer que fosse a doutrina religiosa donde emanassem.

 *

             Havia um gênero de oponentes, para os quais Bozzano tinha muita complacência e não discutia: eram os homens de fé. Estes se assemelhavam a uns tantos grupos, em que ele classificava os escritores de assuntos psíquicos. E assim referia:

             “O menos esclarecido dos grupos em questão é, indubitavelmente, o dos negadores irredutíveis, que não se detém nunca na ideia de que possam estar errados. Assiste-se, então, a um fenômeno curioso e é que, quando os defensores da hipótese espírita os refutam, baseando-se nos fatos, eles nada respondem, porque nada podem responder, mas continuam, imperturbáveis, a sustentar a doutrina materialista, tal como se tivessem respondido ao contraditor e pulverizado o.” (“Revue Spirite”, 1929).

             É realmente fato comum e a que estamos habituados por uma convivência continua, diuturna.

            Finalizando este artigo, conviria lembrar um rápido esboço da obra de Bozzano, e umas rápidas vistas sobre o autor, feita por Ismael Gomes Braga na “Luz deI Porvenir”, em Maio de 1934.

             Dizia esse nosso confrade e amigo:

             “Todas as objeções, por melhor formuladas, todos os sofismas engenhosos, todo o fanatismo cego, esmaecem inteiramente diante dos livros de Bozzano, diante dos fatos inteligentemente acumulados e expostos com paciente habilidade pelo velho Mestre.

            Autêntico homem de ciência, incansável compilador e classificador de fatos, nada parece indigno de estudo meticuloso, de análise atenta ao espírito perspicaz do campeão da tese - O animismo prova o Espiritismo.

            Vemo-lo reunir fatos tomados nos povos primitivos, aos animais, às coisas mais desconcertantes: psicometria, licantropia, precognição, obsessão e assombração, pensamento e vontade, como forças modeladoras e organizadoras da matéria, profecias.

            Simultaneamente, refuta, de maneira definitiva, as obras dos inimigos do Espiritismo, em todos os domínios do pensamento, e sempre com admirável generosidade. Sabe reconhecer o mérito dos adversários, característica dos grandes espíritos que entrevem horizontes insuspeitos do homem vulgar.

            Vemo-lo reconhecer, ainda, a probidade do negativista obstinado René Sudre, admirar a profundeza de Morselli, reconhecer a erudição de AIfano, encantar-se com a filosofia de Spencer. Ele vê em tudo uma parte do belo, como acontece aos que se elevam acima da mediocridade.

            A Inteligência prodigiosa de que é dotado permite-lhe ter em mãos a mais espantosa classificação de fatos produzidos no mundo inteiro, durante mais de 80 anos, e poder com eles responder a todos os ataques contra o Espiritismo, venham de onde vier.”

             Assim se referia ao Mestre, Ismael Braga, quando ainda vivia ele no seu castelo da Itália, nesse estudo que nunca abandonou e que, certamente não abandonará, apesar de transpostos os umbrais que nos conduzem à outra vida.

            Deixa em língua portuguesa, além das monografias citadas, ‘Os Fenômenos de Bilocação’, ‘A Crise da Morte’, ‘Xenoglossia’, ‘Os Fenômenos psíquicos no momento da morte’, todos traduzidos pela Federação, além de outros trabalhos traduzidos por diversos confrades.

            A morte de Bozzano causou sincera tristeza entre os espíritas brasileiros, que não cansavam de admira-lo como trabalhador, de segui-lo como mestre de estimá-lo como confrade.

            Conforta-nos a certeza de que ele continuará no Espaço a gloriosa missão que tão bem manteve na Terra, mas o seu desaparecimento produz em nossos olhos uma espécie de escuridão, como aquela que nos é deixada depois da visão deslumbrante de um meteoro.




quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A grande transformação do mundo


A grande transformação do mundo
por Antônio Túlio
Reformador (FEB) Novembro 1940

            Dia virá em que todos compreenderão e nesse dia terá começo um novo ciclo glorioso para a evolução social, moral e espiritual do gênero humano.  Bozzano - Animismo ou Espiritismo? (Pág. 161)

            Esse dia não vem longe como parece. A dor está fazendo sua obra providencial. Ídolos caem e se esboroam por toda parte. O homem corre sem rumo nem norte em busca da felicidade e colhe desilusões.

            Levanta altares novos, desencanta-se e arrasa tudo para reconstruir o castelo de seus sonhos sobre a areia movediça do mundo exterior. Julgou-se capaz de ser feliz, se satisfeitas suas necessidades materiais, mas surgiram necessidades e anseias novos. Lutou, penou, sangraram-lhe os pés na subida íngreme da montanha das ilusões materiais. Tudo inútil! A insatisfação toma novas formas, cresce e avoluma-se sempre como a bola de neve.

            Formas políticas, organizações econômicas, transportes rápidos, produção vertiginosa, e tudo redunda em novas dores, em novas decepções. A riqueza, o prestígio, a fama, os gozos, tudo já o enfada, a tudo já aborrece.

            Atribui os males que o afligem aos seus semelhantes e os vence na luta, mas a ilusão se desnuda. Combate o mal por toda parte, no mundo exterior, mas deixa-o progredir sempre, crescer sempre dentro de si mesmo.

            A ansiedade avulta, as dificuldades se avolumam.

            Já é tempo de iluminar por dentro a sociedade!

            Cada homem deverá ser um policial sempre alerta a vigiar todos os seus pensamentos e atos. Cada homem tem de ser um tribunal severo e inflexível em seus julgamentos contra si mesmo.       

            Como chegaremos a isso?         

            "Conhecendo a verdade que nos tornará livres".
           
            A verdade interna do ser, acordando a consciência adormecida na ilusão voluptuosa da matéria.

            Para lá marcharemos impelidos pelo azorrague impiedoso da dor.

            Que somos? De onde vimos? Por que sofremos? Para onde vamos?              

            Somos espíritos em prova, vimos das trevas do erro, sofremos as consequências do mal, vamos para a luz e para Deus.

            Sim, Bozzano, esse dia virá e muito breve. Um mundo novo surgirá dos escombros do velho. A grande transformação já se vem processando um pouco por toda parte. O homem acorda de seu longo pesadelo para a alvorada do porvir...

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Estela Livermore & Florence Cook


 Florence Cook

Estela Livermore & Florence Cook
por Ernesto Bozzano
in ‘Metapsíquica Humana’
pg. 151 e seguintes da 4ª Ed. FEB - 1992

            “Dos casos clássicos de materialização de fantasmas, o de Estela Livermore é, a meu ver, o que melhor pode suportar confronto com o de Katie King, embora um do outro enormemente diferindo pelas modalidades dentro das quais se realizam. Mas de qualquer maneira constituem eles os dois casos mais maravilhosos desta espécie e os mais dignos de atenção, principalmente pelo excepcional período de duração durante o qual se desenrolaram. Somente o caso de Estela Livermore, embora como o de Katie King familiar a todos os que se ocupam desses estudos, é relativamente muito menos conhecido nos detalhes de realização, porque todos os escritores, que dele se têm ocupado, vão beber informações na resumida exposição que dele fez Alexandre Aksakof, em "Animismo e Espiritismo".         

            Poucos investigadores tiveram o ensejo de consultar as atas originais, que foram, em sua maior parte, publicadas por Benjamim Coleman no seu livro "Le Spiritualisme en Amérique" e quase por inteiro na revista "The Spiritual Magazine" (1862-1869). Esta última revista inseriu os fac-símiles da letra medianímica de Estela em confronto com a de Estela viva (número de novembro 1862), tendo-se verificado a perfeita identidade das duas criaturas. Publicaram-se também copiosos resumos dessas sessões nos livros de Epes Sargent, "Planchette, the Despair of Science" (1874) e Dr. Robert Dale Owen:
"The Debatable Land" (1874).

            O capítulo em que este último trata do assunto adquire importância probante especial, visto Dale Owen, antes de dar-lhe publicidade, haver procurado o banqueiro Livermore, narrador protagonista dos fatos e submetido à sua revisão o capítulo que lhe dizia respeito, que depois foi ainda levado à apreciação de John F. Gray, outra testemunha ocular.
           
            Como o resumo aparecido no livro de Aksakof não permite se forme qualquer ideia aproximada do valor teórico dessa maravilhosa série de experiências, vou alongar-me um pouco, transcrevendo os originais de Livermore.

            Para aqueles que completamente ignoram o caso, direi que Charles F. Livermore era um banqueiro muito conhecido em Nova Iorque, que, em 1860, teve a infelicidade de perder a mulher. Um ano depois, céptico inveterado embora, deixou-se seduzir pelo desejo de comunicar-se, se possível, com o Espírito de sua mulher, dando início a uma série de sessões com a célebre médium Kate Fox.

            O processo de materialização do fantasma de Estela (nome este da morta) deu-se gradualmente, de modo que só na quadragésima terceira sessão estava ela em condições de se poder manifestar visivelmente.

            As sessões efetuaram-se em completa escuridão, mas o lugar destinado ao estudo era, em dado momento, iluminado por grandes globos luminosos, de origem supranormais, deles se ocupando outro fantasma materializado, que tinha por hábito acompanhar Estela com o fim de facilitar as materializações. Dizia-se o Espírito de Benjamin Franklin. Havia, com efeito, uma semelhança perfeita de traços e de porte entre o fantasma materializado e os retratos de Franklin.

            As materializações de Estela tornaram-se de mais em mais perfeitas, até atingir a forma materializada uma consistência suficiente para poder suportar a luz intensa
de uma lanterna furta-fogo. Só raramente conseguia exprimir-se de viva voz, comunicando-se, em geral, por escrito, mas não por intermédio da médium. Escrevia diretamente com a própria mão e na presença de Livermore, que para esse fim fornecia papel previamente por ele rubricado. Fazia-o comumente em francês, língua que, quando viva, falava com perfeição e que era de todo ignorada da médium. A letra guardava sempre impecável semelhança de talho e característicos com a da esposa falecida de Livermore.

            Este tomava nota minuciosa de todos os fenômenos ocorridos durante a sessão, de que lavrava uma ata. O maior número de sessões realizou-se na própria residência do banqueiro, que sistematicamente entre as suas guardava as mãos da médium durante o tempo das sessões, que, não raro, eram assistidas pelo irmão, pelo cunhado, M. Groute e pelo Dr. John F. Gray, que atestaram, por escrito, a autenticidade dessas manifestações prodigiosas, assim como a escrupulosa exatidão das atas.

            O número de sessões foi de 388, que se prolongaram por cinco anos consecutivos.

            Passo agora a narrar alguns episódios, começando pelos da sessão em que Estela, visivelmente, apareceu pela primeira vez.     

            15 de abril, 1861 - Livermore começa por uma descrição minuciosa das medidas de controle adota das para garantir-se contra qualquer possibilidade de fraude, e continua: Desde que a luz foi apagada, ouviram- se passos semelhantes aos de uma pessoa descalça e o frufru próprio da seda, ao mesmo tempo que por meio de pequenas pancadas me era comunicado: "Meu querido, estou presente em pessoa, não fale."

            Simultaneamente por detrás de mim, formava-se a pouco e pouco, uma luz globular, que a mim e à médium permitiu ver diante de nós um rosto encimado por um diadema e, em seguida, uma cabeça inteiramente envolvida de véus brancos, que se elevava lentamente. Desde que atingiu certa altura, os véus foram tirados e então pude ver diante de mim a cabeça e o rosto de minha mulher, envolvidos de uma auréola luminosa do diâmetro aproximado de 18 polegadas. A identificação da morta foi Imediata e completa; à semelhança dos traços juntava-se, de modo maravilhoso, a expressão característica da fisionomia. Pouco depois o globo luminoso elevou-se e uma mão de mulher apareceu-lhe pela frente. Estas duas manifestações se repetiram por diversas vezes, como se houvesse intuito de dissipar qualquer possível sombra de dúvida. O fantasma abaixou depois a cabeça sobre o globo luminoso, deixando cair sobre o mesmo uma basta madeixa, que apresentava analogia perfeita com a cabeleira de minha mulher, não só quanto à cor, como também pela abundância e comprimento. Repetidamente fizeram-na passar suavemente sobre o meu rosto e o da médium, deixando-nos a impressão de cabelos naturais. (Epes Sargent, pág. 57)

            18 de abril, 1861 - Subitamente a mesa se ergueu do solo; a porta foi violentamente sacudida; as cortinas se levantaram e se abaixaram diversas vezes; tudo no quarto se agitava. Respondiam às nossas perguntas por pancadas retumbantes na porta, na janela e no teto, traduzindo isto, ao que nos disseram, a intervenção de poderosos Espíritos cuja presença era indispensável à predisposição do ambiente para as manifestações de ordem mais elevada.

            Por detrás de nós começou a formar-se e a elevar-se uma substância luminosa semelhante à gaze, ouvindo-se ao mesmo tempo o frufru dos tecidos de seda, enquanto um barulho semelhante à crepitação elétrica se tornava de mais em mais intenso e vigoroso.

            Uma forma de mulher girou em torno à mesa, de mim se aproximou, tocando-me de leve... Por meio das pancadas convidaram-me a olhar para além da fonte luminosa; obedecendo, vi aparecer um olho humano. Logo depois, a fonte de luz se afastou, seguida da crepitação e, à proporção que se afastava, ia recuperando o esplendor que pouco a pouco havia perdido; volta em seguida ao lugar que antes ocupava, tornando visível uma mão de mulher, de aparência normal, ocupada em manejar a gaze, de forma já mudada, para tomar-lhe uma das pontas e suspendê-la.

            Com um estremecimento de alegria indescritível, sob o lado suspenso da gaze vi aparecer o rosto de minha mulher e mais precisamente a fronte e os olhos, cuja expressão era perfeita... Desaparecia e tornava a aparecer repetidas vezes, manifestando-se de cada vez de modo mais completo, tomando uma expressão de serena beatitude.

            Pedi-lhe que me beijasse e, com grande surpresa minha, tive o prazer de ver e de sentir que ela me enlaçava o pescoço com os braços, dando-me um beijo sonoro, palpável, material, não obstante a interposição de um tecido análogo à gaze. Aproximou depois a cabeça até encostá-la à minha, envolvendo-me com sua rica cabeleira e dando-me ainda novos beijos, cujo rumor podia ser claramente ouvido.

            Nesse momento, a fonte de luz foi afastada a meia distância entre mim e a parede, distante uns dez pés mais ou menos. A crepitação acentuou-se, dando maior intensidade à luz, de modo a bem clarear o canto do quarto e a desvendar em toda a plenitude a figura de minha mulher, virada para a parede, com o braço estendido, sustendo no côncavo da mão o globo de luz que agitava de momento em momento para avivar a luminosidade que, frequentemente, enfraquecia.

            Pronunciou murmurando, mas de modo muito distinto, o meu e o seu nome; aproximou-se do espelho de maneira a fazer ver a sua imagem, que nele refletia, constituindo isso, a meu ver, uma das maravilhosas provas da memorável sessão...
(Epes Sargent, pág. 59)

            A seguir foi soletrado, por pequenas pancadas: "Observa-me, vou levitar-me." E imediatamente, em plena luz, o fantasma elevou-se até o teto, onde permaneceu suspenso durante alguns instantes, para descer suavemente e então desaparecer...

            O cômodo estava iluminado de modo a se poder discernir facilmente os pequenos veios do mármore em que pousava o espelho... (Dale Owen, pág. 388)

            2 de Junho, 1861 - Pelo meio habitual ditaram: "Examine cuidadosamente todos os cantos do quarto, feche a porta e coloque a chave no bolso." Tudo fiz imediatamente.

            Com um estremecimento de alegria indescritível, sob o lado suspenso da gaze vi aparecer o rosto de minha mulher e mais precisamente a fronte e os olhos, cuja expressão era perfeita... , Desaparecia e tornava a aparecer repetidas vezes, manifestando-se de cada vez de modo mais completo, tomando uma expressão de serena beatitude.

            Pedi-lhe que me beijasse e, com grande surpresa minha, tive o prazer de ver e de sentir que ela me enlaçava o pescoço com os braços, dando-me um beijo sonoro, palpável, material, não obstante a interposição de um tecido análogo à gaze. Aproximou depois a cabeça até encostá-la à minha, envolvendo-me com sua rica cabeleira e dando-me ainda novos beijos, cujo rumor podia ser claramente ouvido.

            Nesse momento, a fonte de luz foi afastada a meia distância entre mim e a parede, distante uns dez pés mais ou menos. A crepitação acentuou-se, dando maior intensidade à luz, de modo a bem clarear o canto do quarto e a desvendar em toda a plenitude a figura de minha mulher, virada para a parede, com o braço estendido, sustendo no côncavo da mão o globo de luz que agitava de momento em momento para avivar a luminosidade que, frequentemente, enfraquecia.

            Pronunciou murmurando, mas de modo muito distinto, o meu e o seu nome; aproximou-se do espelho de maneira a fazer ver a sua imagem, que nele refletia, constituindo isso, a meu ver, uma das maravilhosas provas da memorável sessão... (Epes Sargent, pág, 59.)

            A seguir foi soletrado, por pequenas pancadas: "Observa-me, vou levitar-me." E imediatamente, em plena luz, o fantasma elevou-se até o teto, onde permaneceu suspenso durante alguns instantes, para descer suavemente e então desaparecer...

            O cômodo estava iluminado de modo a se poder discernir facilmente os pequenos veios do mármore em que pousava o espelho... (Dale Owen, pág. 388)

            2 de Junho, 1861 - Pelo meio habitual ditaram: "Examine cuidadosamente todos os cantos do quarto, feche a porta e coloque a chave no bolso." Tudo fiz imediatamente.
 
            Não havia ainda retomado o meu lugar, quando os móveis começaram a deslocar-se e a agitar-se, enquanto pancadas ressoavam em torno de nós; ruídos terríveis e prolongados, imitando roncos do trovão, sucediam-se sobre a mesa.

            Feito silêncio, ouviu-se ligeiro sussurro e uma forma materializada se veio colocar a meu lado; senti como a sua aura penetrando-me todas as fibras do organismo. Bateu no costado da cadeira, depois no meu ombro e, debruçando-se sobre mim, pôs-me a mão sobre a cabeça e deu-me um beijo na testa, enquanto que uma espécie de tecido muito tênue me roçava o rosto. Nesse mesmo tempo um globo de luz brilhante veio interpor-se entre nós, acompanhado de uma forte crepitação. Levantei os olhos e vi diante deles o rosto de Estela iluminado pelo globo, que brilhava intensamente. O rosto se mostrava espiritualmente tão belo como nunca me foi dado ver coisa alguma na Terra. Olhava-me com uma expressão de radiosa beatitude.

            Tirou-me das mãos uma folha de papel, que me entregou depois com uma mensagem escrita num francês de perfeita correção. Como já tive ensejo de dizer, a médium não conhecia uma só palavra de francês. (Dale Owen, pág. 390.)

            18 de agosto, 1861. (8 horas da noite) - Estou só com a médium. O ar está pesado e quente. Como de hábito, examinei cuidadosamente o quarto, fechei a porta com duas voltas à chave, que coloquei no meu bolso.

            Meia hora de espera tranquila e vimos surgir do solo uma grande luz esferoidal, completamente envolvida em véus, e que, depois de se erguer até à altura das nossas cabeças, se foi colocar sobre a mesa. E as pancadas ditaram: "Nota que desta vez intervimos sem provocar os ruídos habituais." Todo o aparecimento de luz, com efeito, era, em geral, precedido de uma série de crepitações, de estalidos, de pancadas violentas, seguidas de movimento e transporte de objetos; desta vez o fenômeno se desenrolou dentro da mais absoluta calma.

            Tive o pressentimento de que essa sessão se destinava a fins especiais, privando-me, por conseguinte, de qualquer manifestação da parte de minha mulher. Mal havia formulado esse pensamento e a luz se elevou, tomando-se brilhante e permitindo percebesse uma cabeça coberta de um boné branco envolto em bordados.

            Era uma cabeça sem traços, e perguntei que significava tal aparição. Responderam-me tiptologicamente: "Quando estava doente... " Imediatamente compreendi! O boné era a reprodução fiel de outro muito especial que minha mulher usara durante a sua última moléstia.

            Havia trazido comigo diversas folhas de papel, maiores que de costume, completamente diferentes das que habitualmente empregava, e marcadas de sinais especiais. Coloquei-as sobre a mesa, de onde foram retiradas para reaparecerem
perto do chão, a três ou quatro polegadas do tapete.

            Não podia fazer uma ideia do que se passava, porque não estava iluminada senão a superfície da folha de papel e mais umas três ou quatro polegadas de cada lado, todo o espaço iluminado não medindo mais que um pé de diâmetro.

            Inesperadamente veio pousar, sobre esta folha, mão imperfeitamente conformada, que tinha entre os dedos a minha pequena lapiseira de prata; começou a mão a mover-se lentamente sobre a folha, da esquerda para a direita, como quem escreve; quando chegava ao fim da linha, voltava a começar outra.

            Pediram-nos que não observássemos com demasiada insistência o fenômeno, mas por pouco tempo de cada vez, a fim de, com os nossos olhares, não perturbarmos a força em ação.

            Como o fenômeno, porém, se prolongou por quase uma hora, essa recomendação não impediu pudéssemos observa-lo de modo perfeito. A mão que escrevia não ficou normalmente conformada senão por algum tempo, reduziu-se depois a um amontoado de substância escura, de tamanho um pouco menor que a de uma mão normal; continuava, todavia, a dirigir o lápis e quando chegava ao extremo inferior da folha a virava, continuando a escrever no verso. Terminada a manifestação, as folhas que eu havia fornecido marcadas me foram devolvidas cobertas pelos dois lados de uma letra corrente e miúda.

            ...É claro que em tais circunstâncias não havia qualquer possibilidade de fraude; eu apertava entre as minhas as duas mãos da médium; a porta estava fechada e a chave no meu bolso, tendo eu tomado previamente todas as precauções possíveis. (Epes Sargent, pág. 62.)

            26 de agosto, 1861 - Logo que entramos no quarto, a forma de Estela apareceu. Imóvel, permaneceu no meio do aposento, enquanto uma luz espiritual girava rapidamente em seu torno e dela muito próxima, iluminando mais especialmente ora o rosto, ora o pescoço, ora a nuca, no intuito evidente de bem fazer-nos ver essas partes do corpo.
           
            Enquanto assim a contemplávamos, a onda dos seus cabelos lhe invadiu o rosto e ela a afastou com as mãos, por diversas vezes.

            Tinha os cabelos ornados de rosas e de violetas. Foi a mais perfeita das suas manifestações; aparecia nítida e natural qual quando viva...

            4 de outubro, 1861 - Pancadas de rara violência no assoalho, estremecendo a casa até os alicerces. Quando cessaram, vimos aparecerem os fantasmas materializados de minha mulher e de Franklin. Ambos a mim vieram; este, aplicando-me pancadinhas amigáveis no ombro; aquela, acariciando-me o rosto. Estávamos no escuro, mas as crepitações elétricas fizeram-se ouvir e imediatamente a luz brilhou de novo, permitindo-me ver em pé a figura de um homem alto e robusto.

            A meu pedido esse fantasma passeou pelo quarto, apresentando-se a meus olhos em posições diferentes e muito nitidamente.

            Seguiu-se a vez de minha mulher, que se manifestou em plena claridade e em toda a sua beleza. Planava, atravessando assim o quarto; passou pertinho da mesa, que roçou com as abas do seu vestido branco, fazendo mesmo cair por terra as folhas de papel, os lápis e outros pequenos objetos que sobre a mesma se achavam. Algumas vezes a vimos vendar o rosto com o tecido medianímico; outras, sacudindo-lhe para a frente as abas flutuantes.
           
            Fez-nos ver e apalpar o tecido, que me pareceu de natureza muito delicada; colocou-o depois sobre a mesa e por trás dele a fonte luminosa, de modo a bem podermos examinar o tecido, muito semelhante ao de uma teia de aranha; dir-se-ia que o sopro seria suficiente para desfazê-lo. Repetiu por diversas vezes a experiência e, finalmente, fez passar sobre meu rosto os bordos do vestido ondulante, que me pareceu consistente. Cada vez que o tecido medianímico de nós se aproximava, sentíamos emanações de um perfume muito puro, lembrando o "feno fresco" e a "violeta". (Sargent, pág. 65)

            10 de novembro, 1861 - Mal nos havíamos assentado, as pancadas ditaram: "Desta vez conseguiremos." Pouco depois, minha mulher apareceu.

            Dando-me de leve com a mão no ombro, informou-me de que estava ocupada em ajudar Franklin. Este apareceu imediatamente, deixando-se pela primeira vez ver-lhe o rosto.

            Um outro fantasma materializado, trazendo em uma das mãos a luz, mantinha-se ao meu lado e projetava-lhe a luz diretamente sobre o rosto. Toda a minha perplexidade, a respeito da identidade de Franklin, desapareceu como que por encanto. Onde quer que esta fisionomia se me apresentasse, tê-la-ia, sem sombra de hesitação, nela reconhecido a de Franklin, cujos traços tinha vivos na mente, por muito lhe haver visto o retrato original.

            Deverei mesmo acrescentar que a grandeza do seu caráter ressaltava muito mais da expressão viva do rosto do fantasma que daquele seu retrato, que evidentemente não a poderia traduzir. Trazia roupa parda talhada à antiga e gravata branca. A cabeça era vigorosa e alvos cachos lhe ornavam as têmporas. Sua figura deixava transparecer a bondade, a inteligência, a espiritualidade; tinha a aparência de um homem carregado de anos, de dignidade, de solicitude paternal, a quem qualquer pessoa se sentiria bem de recorrer para obter conselhos inspirados na sabedoria e na bondade... Apresentou-se por diversas vezes: duas delas aproximou-se de tal modo que permitia se visse até dentro dos próprios olhos.

            Minha mulher apareceu três vezes vestida de branco e cercada de flores; sua figura, verdadeiramente angélica, traduzia uma expressão de calma e felicidade celestiais. (Sargent, pág, 67.)

            12 de novembro, 1861 - Ouvimos a crepitação e a luz tornou-se logo brilhante, permitindo víssemos diante de nós, assentado à mesa, o fantasma materializado de Franklin, cuja sombra se projetava na parede, exatamente como a de uma pessoa viva. Guardava uma posição digna, o corpo ligeiramente enviesado sobre o espaldar da cadeira, braços descansando sobre a mesa. De tempos em tempos inclinava-se para nós, examinando-nos com seu olhar profundo e penetrante; os longos cachos brancos acompanhavam-lhe os movimentos.

            Pediu-nos fechássemos os olhos um instante. Quando de novo os abrimos, vimo-lo de pé sobre a cadeira de onde, qual uma estátua, nos dominava. Desceu em seguida, tomando o seu lugar anterior, enquanto ruídos de toda a sorte partiam de diversos pontos do quarto, o que aliás se dava a cada um dos seus movimentos.

            Informaram-me de parte de minha mulher que um fantasma iria entregar a Franklin um bilhete para mim. (Devo esclarecer que, no correr das manifestações que estou descrevendo, dois outros fantasmas, vestidos de tecido branco, concorriam, de modo visível, para a produção dos fenômenos; um deles era o que trazia a luz.) Vi, com efeito, um fantasma aproximar-se de Franklin, para ele estender a mão em que trazia a folha de papel, colocá-la sobre os seus joelhos, para tirá-la, em seguida, e entregar-lha diretamente.

            A força em ação era grande e tal permaneceu durante toda a noite, permitindo ao meu silencioso visitante permanecer materializado e assentado diante de mim durante uma hora e um quarto, seguidamente. (Sargent, pág, 67.)

            29 de novembro, 1861 - Além da médium e de mim, meu irmão assistiu à sessão. Condições desfavoráveis; uma tempestade com chuva e relâmpagos desencadeou-se no momento.

            Feita a escuridade, vimos surgir do chão uma grande luz espírita. Calcei-me de uma luva e meu irmão fez outro tanto. A luz então se veio colocar no côncavo da minha mão enluvada; foi-me assim dado constatar que uma mão de mulher nela se encontrava. Como viesse a mim diversas vezes, tive ensejo de segurar e apalpar atentamente essa mão espírita em todo o seu tamanho. Note-se que com a outra segurava as duas da médium.

            O filhinho falecido do meu irmão manifestou-se em seguida; chegou-lhe a vez de me apertar a mão, que foi segura pouco depois por uma outra de grande tamanho, verdadeira mão de homem, provavelmente a de Franklin, que apertou a minha e a sacudiu tão vigorosamente que todo o meu corpo foi abalado. Todas essas mãos apertaram também a do meu irmão. Não devemos deixar de notar que, no mesmo espaço de alguns minutos, três mãos, diferentes em forma e dimensão, vieram sucessivamente colocar-se nas nossas, de modo a nos permitir identifica-las; a primeira, de mulher; a segunda, de um menino; a terceira, de um homem adulto e robusto; cada qual, respectivamente, caracterizado pela delicadeza, pela fragilidade e pela força.

            A meu pedido, a porta de dois batentes se abriu completamente e se fechou por diversas vezes, com extraordinária violência. (Sargent, pág. 68.)

            30 de novembro, 1861 - Sessão em minha casa. Os mesmos cuidados de sempre. Condições favoráveis; tempo frio e lindo.

            Feito escuro, ouviram-se logo pancadas fortes sobre a mesa, seguidas da crepitação elétrica, mas nenhuma luz apareceu. "Esta noite conseguiremos", disseram-nos. Em dado momento, pediram-me fósforos e convidaram-nos a fechar os olhos. Tirei do meu bolso um fósforo de cera e, estendendo o braço, depositei-o sobre a mesa. Imediatamente uma mão o tomou e, riscando-o três vezes na mesa, conseguiu acendê-lo.

            Abrimos os olhos; o fósforo de cera iluminava perfeitamente O quarto; diante de nós estava Franklin, de joelhos, por detrás da mesa, que a sua cabeça suplantava, mais ou menos, de um pé. Nós o contemplamos enquanto o fósforo durou; o fantasma desapareceu de repente. Por pancadinhas na mesa, ditaram-nos, então: "Meus queridos filhos, depois desta última prova, será possível que o mundo ainda duvide? Para convencê-lo é que assim trabalhamos. - Benjamin Franklin."

            E imediatamente depois: - "Meu querido, como estou contente! - Estela."

            Entregaram-me em seguida uma folha de papel em que estava escrito: "Esta sessão, de todas, é a mais importante. O filhinho falecido do meu irmão manifestou-se em seguida; chegou-lhe a vez de me apertar a mão, que foi segura pouco depois por uma outra de grande tamanho, verdadeira mão de homem, provavelmente a de Franklin, que apertou a minha e a sacudiu tão vigorosamente que todo o meu corpo foi abalado. Todas essas mãos apertaram também a do meu irmão. Não devemos deixar de notar que, no mesmo espaço de alguns minutos, três mãos, diferentes em forma e dimensão, vieram sucessivamente colocar-se nas nossas, de modo a nos permitir identificá-las; a primeira, de mulher; a segunda, de um menino; a terceira, de um homem adulto e robusto; cada qual, respectivamente, caracterizado pela delicadeza, pela fragilidade e pela força.

            A meu pedido, a porta de dois batentes se abriu completamente e se fechou por diversas vezes, com extraordinária violência. (Sargent, pág. 68.)

            30 de novembro, 1861 - Sessão em minha casa. Os mesmos cuidados de sempre. Condições favoráveis; tempo frio e lindo.

            Feito escuro, ouviram-se logo pancadas fortes sobre a mesa, seguidas da crepitação elétrica, mas nenhuma luz apareceu. "Esta noite conseguiremos", disseram-nos. Em dado momento, pediram-me fósforos e convidaram-nos a fechar os olhos. Tirei do meu bolso um fósforo de cera e, estendendo o braço, depositei-o sobre a mesa. Imediatamente uma mão o tomou e, riscando-o três vezes na mesa, conseguiu acendê-lo.

            Abrimos os olhos; o fósforo de cera iluminava perfeitamente o quarto; diante de nós estava Franklin, de joelhos, por detrás da mesa, que a sua cabeça suplantava, mais ou menos, de um pé. Nós o contemplamos enquanto o fósforo durou; o fantasma desapareceu de repente. Por pancadinhas na mesa, ditaram-nos, então: "Meus queridos filhos, depois desta última prova, será possível que o mundo ainda duvide? Para convencê-lo é que assim trabalhamos. - Benjamin Franklin."

            E imediatamente depois: - "Meu querido, como estou contente! - Estela."

            Entregaram-me em seguida uma folha de papel em que estava escrito: "Esta sessão, de todas, é a mais importante.

            Experimentamos muitas vezes e tivemos de renovar constantemente os nossos esforços antes de conseguir o que acabais de ver; felizmente, foram eles coroados de êxito. Para demonstrar que sou uma criatura absolutamente como vós, bastou-me desta vez esfregar um fósforo; mas quantas tentativas antes de conseguir manifestar-me à luz terrestre! Enfim, as dificuldades foram vencidas! - B. Franklin." (Sargent, página 69)

            12 de dezembro, 1861 - Sessão em minha casa. Tinha-me prevenido de uma lanterna furta-fogo, na qual havia adaptado um obturador munido de regulador, de modo a poder projetar, à vontade, um círculo de luz no diâmetro aproximado de dois pés sobre a parede, numa distância de dez pés. Coloquei a lanterna acesa e aberta sobre a mesa e tomei, nas minhas, as mãos da médium. Imediatamente a lanterna foi suspensa, e nós convidados a segui-la. Era ela conduzida por um Espírito que nos precedia e do qual víamos nitidamente a forma inteira se desenhar, envolta em véus brancos cujos extremos arrastavam pelo chão. Depositou a lanterna sobre a escrivaninha; paramos também. Achávamo-nos em frente à janela existente entre a escrivaninha e o espelho. A lanterna elevou-se, de novo, erguendo-se, entre a escrivaninha e o espelho, a uma altura aproximada de cinco pés, de onde projetava toda a luz sobre a janela, permitindo víssemos a figura de Franklin, assentado na poltrona.

            Durante dez minutos e sem interrupção, o feixe de luz projetado pela lanterna iluminou lhe a fisionomia e o corpo inteiro, de tal maneira que pudemos examiná-lo à vontade.

            Seu semblante traduzia indizível contentamento e a maior naturalidade, bem como o cabelo e os olhos que brilhavam de vida. Não tardei, porém, a notar que o fantasma se ressentia grandemente da influência dissolvente da luz terrestre; os olhos perderam o brilho, e os traços a vivaz expressão que sempre tinham, quando os contemplava à luz espiritual.

            Por mais de uma vez pediram-me que acionasse o regulador da lanterna, de modo a deixar passar mais, ou menos, luz; fazendo-o, tive o ensejo de constatar que a lanterna estava suspensa no ar, sem qualquer ponto de apoio.

            Finda esta manifestação, encontramos sobre a mesa uma folha de papel onde estava escrito: "Isto ainda, meus filhos, é para o bem da Humanidade. Apenas com esse fim, esforço-me e trabalho. - B. Franklin." (Dale Owen, pág. 394.)

            23 de janeiro, 1862 - Em frente à porta apareceu minha mulher, toda vestida de branco e envolta de um véu transparente. Tinha na fronte uma coroa de flores. A luz espírita projetava o facho luminoso sobre todo o seu corpo, iluminando-o completamente; olhávamos para ele, com vivo interesse e prazer, quando de repente desapareceu, rápido como o pensamento, produzindo um ruído semelhante ao silvo do vento. Ditaram-nos: "Esta noite a saturação elétrica é grande. Aproveitei-a para mostrar-vos a celeridade com que podemos desmaterializar-nos." Um instante depois, reapareceu em seu aspecto natural e consistente como dantes. (Sargent, pág. 71)

            15 de fevereiro, 1862 - Atmosfera úmida e desfavorável. Além da médium, comigo assistia à sessão o meu cunhado, M. Groute, a quem a reunião havia de modo especial sido consagrada.

            Pedi demonstrações de força e sem demora recebemos a seguinte mensagem: "Atenção! Ouvi-o; ele chega rapidamente. Retirai da mesa as vossas mãos." E, imediatamente, ouvimos espantoso rumor metálico, fazendo estremecer a casa de lado a lado. Era como se um pesado monte de correntes fosse jogado do alto, com enorme violência sobre a mesa. O mesmo barulho por três vezes se repetiu, mas com força decrescente.

            Depois disto, uma grande mesa de mármore, muito pesada, começou a caracolar pelo quarto; uma grande caixa fez outro tanto. Um guarda-chuva, colocado sobre a mesa, pôs-se a dar voltas, como que voando pelo quarto, tocando ora num ora noutro, parando, finalmente, nas mãos do Sr. Groute.

            Tais manifestações tinham certamente por fim convencer o incrédulo, recém-vindo, da realidade da existência de um poder invisível. E o fim foi atingido, pois meu cunhado havia tomado todas as precauções para se prevenir contra um possível embuste; entre outras, a de selar a porta e a janela. (Sargent, pág. 73.)

            16 de fevereiro, 1862 - Pelo fim da sessão, o Espírito materializado de Benjamin Franklin escreveu o que se segue, em uma folha de papel: "Meus filhos, neste momento as nossas armas acabam de obter uma grande vitória." No dia seguinte, tivemos notícia de que, de fato, no correr da noite, o Exército federal havia enfim tomado de assalto o Forte Donaldson, sobre o rio Tennessee. (Sargent, pág. 75.)

            22 de fevereiro, 1862 - Atmosfera úmida; condições desfavoráveis.

            Depois de cerca de meia hora de espera, uma luz cilíndrica e muito brilhante, envolvida em véus, como de costume veio pousar sobre a mesa; perto dela apareceu uma haste com duas rosas abertas, um botão e folhas. Flores, botão, folhas e haste eram de rara perfeição. As rosas foram-nos dadas a cheirar; achei-as perfumadas como as rosas naturais são, ao ser colhidas; o perfume era mesmo mais suave e delicado. Foi-nos permitido tocá-las, aproveitando então eu para delas fazer minucioso exame. "Cuidado! Tenha a máxima precaução", disseram-me.

            Notei que a haste e as folhas estavam um tanto viscosas e, como perguntasse o motivo, disseram-me que era devido às condições de umidade e impureza da atmosfera. O galho era mantido sempre perto e às vezes por cima da luz, que parecia ter a propriedade de transmitir-lhe vitalidade e substância, como se o alimentasse; o mesmo poder parecia conferido à mão que o segurava.

            Já havia observado, aliás, que todas essas criações espíritas parecem formar-se e conservar-se à custa das reservas elétricas contidas no globo luminoso, pois ao menor indício de perda ou de enfraquecimento de consistência, levavam-nas para perto da fonte luminosa e, como que por encanto, recuperavam a seiva e a vitalidade perdidas.

            Pelo meio habitual, disseram-nos: "Vede como se vão dissolver rapidamente." E logo as flores começaram a murchar, dobraram-se sobre a haste e fundiram-se como cera que se chegasse ao fogo, assim desaparecendo tudo do mimoso galho, em menos de um minuto.

            Disseram-nos ainda: "Elas vão tornar a vir" e imediatamente apareceu diante do cilindro um filamento branco, que rapidamente se desenvolveu em forma de galho; as folhas reconstituíram-se, depois o botão e em seguida as rosas, tudo de uma maneira perfeita e em tempo igual àquele em que se deu a dissolução. O fenômeno repetiu-se algumas vezes, oferecendo um espetáculo maravilhoso. Prometeram reproduzi-lo à luz do gás, quando as condições atmosféricas permitissem. (Sargent, pág. 75)

            25 de fevereiro, 1862 - Além da médium, assistia comigo à sessão o Sr. Groute. O quarto em que se faziam as sessões era contíguo a outro muito menor, ao qual se chegava por uma portazinha de corrediça. A porta que conduzia aos dois aposentos bem como a janela foram cuidadosamente seladas pelo Sr. Groute... Feito isto e bem revistados os dois quartos, uma luz brilhante surgiu do chão, permitindo a mim e à médium víssemos a forma de um fantasma de homem, de pé, junto a nós. Não conseguimos, desde logo, identificá-lo, devido à grande quantidade de véus que lhe envolviam o rosto, mas pouco depois pudemos nitidamente discernir os traços bem conhecidos de Franklin. Groute não havia tido ainda permissão de se aproximar; mas como as condições de força começassem a melhorar, ou antes, como os efeitos inibitórios de sua presença houvessem sido suplantados em parte, disseram-lhe: "Caro amigo, agora pode vir ver." Groute aproximou-se então, achando-se assim, por sua vez, em presença do fantasma... Embora a luz não estivesse tão boa como habitualmente, ele pode ver bastante para verificar que os traços do fantasma correspondiam em tudo aos de Franklin, de acordo com o retrato original que conhecia também. Com efeito, mesmo nas condições de luz em que então nos achávamos, os olhos, os cabelos, os traços, a expressão fisionômica, ao mesmo, tempo que uma parte dos véus de que se vestia o fantasma, eram nitidamente discerníveis. O abaixamento repentino da luz, todavia, havia sido grande, devido à. presença contrariante de Groute; observação curiosa e instrutiva ao mesmo tempo. Quando Groute estava no quarto contíguo, a luz brilhava como de costume, mas enfraquecia à proporção que ele se aproximava, do mesmo moem que readquiria o brilho habitual se ele novamente se afastava. Este interessante fenômeno demonstra que a natureza de uma pessoa viva exerce influência direta sobre essas criações do mundo invisível, influência que age, às vezes, como elemento perturbador e neutralizante, sem que para tal seja necessária mais do que a sensação de surpresa, de receio ou de outra qualquer emoção decorrente de uma insuficiente familiaridade com os fenômenos medianímicos. (Sargent, pág. 77.)

            3 novembro, 1862 - Estela apareceu com o rosto velado pelos cabelos em desordem; para ver-lhe a fisionomia tive de afastá-los com as minhas mãos. Elevou-se depois lentamente até que os pés atingissem a altura da minha cabeça, sobre a qual tocou, enquanto as abas do vestido flutuante me roçavam pelo rosto e pela cabeça. (Owen, pág., 395.)

            21 de outubro, 1863 - Havia-me munido, esta noite, da lanterna furta-fogo, e, logo que a forma materializada de Estela apareceu, projetei sobre ela toda a luz. Estela estremeceu ligeiramente, mas quedou-se imóvel, deixando-me dirigir-lhe o facho luminoso sobre o rosto, sobre os olhos, peito, vestimenta, enfim, por toda parte. Depois de haver-me deixado convenientemente examiná-la, desapareceu subitamente, ditando-me, em seguida: "Só vencendo grandes dificuldades, consegui permanecer materializada durante esse tempo." (Owen, pág. 396.)

            Relativamente a Groute, eis como Dale Owen resume a ata de duas sessões a que assistiu, como testemunha:

            Presente à sessão de 28 de fevereiro de 1863 (número 346), o Sr. Groute segurava as mãos da médium. Fechado o gás, Livermore sentiu-se empurrado por uma mão de grande dimensão, para o divã; ergueu-se a luz do chão, deixando ver, por cima do divã, a figura de Franklin. Tão bem como os demais, Groute a pôde ver e logo se convenceu de que efetivamente se tratava -de uma forma humana viva; correu à porta para se certificar de ter sido ela ou não aberta. Voltou depois a contemplar a forma, cujas vestes pode apalpar.

            Seu cepticismo, porém, era exagerado e, uma semana mais tarde, manifestou desejo de assistir a outra sessão, a fim de tirar as coisas a limpo. Quis ele mesmo fechar as portas e as janelas e, ao fazê-lo, resmungava estar disposto a não mais se deixar embrulhar.

            Desta vez a forma de Franklin apareceu muito mais nítida ainda, segurando ele mesmo no côncavo da mão a luz com a qual se iluminava, como se quisesse mostrar, ao incrédulo "Tomé", que ele era o mais interessado em fornecer-lhe os meios de bem poder examiná-lo de um modo satisfatório.

            Groute, que desde o começo da sessão segurava com as suas as mãos da médium e as de Livermore, aproximou-se do fantasma, viu-o bem, tocou-o e, como o apóstolo Tomé, declarou-se finalmente convencido. (Owen, pág. 393.)

            O Dr. Gray relatou-me esta outra observação, muito interessante. Durante uma das últimas manifestações de Franklin, este apresentou-se, a princípio, com o rosto imperfeitamente formado, de modo que parecia ter apenas uma das vistas; em lugar da outra e de parte da face existia uma cavidade informe, que dava à fisionomia um aspecto horrível.

            Kate Fox, a médium, ficou tão impressionada que não se pode conter e deu um grito, o que provocou a extinção imediata da luz que iluminava o local.

            "Tolinha, exclamou o Dr. Gray, tomando lhe as mãos, não compreendes que assim atrapalhas a mais interessante das experiências, a da gradual materialização de um Espírito?"

            Essa interpretação filosófica do fenômeno teve a virtude de acalmar um pouco a moça, dissipando lhe o pavor supersticioso. Cinco minutos depois, a figura de Franklin de novo apareceu, mas desta vez perfeita e com tal expressão de calma, de dignidade e de bondade no olhar, que a médium foi a primeira a exclamar: "ó, como é belo!" (Dale Owen, pág. 407)

            Suspendo aqui, não sem verdadeiro pesar, as citações extraídas do relatório, teoricamente muito importante, do Sr. Livermore. Na seleção que fiz, julguei de certa
utilidade afastar-me um pouco do nosso tema a fim de apresentar um quadro generalizado dos fenômenos obtidos no correr dessas memoráveis experiências. 

            Nos trechos que acabo de transcrever, notam-se numerosos incidentes que bem reclamam uma confrontação com outros análogos, obtidos através da mediunidade de William Stainton Moses, da Sra. d'Espérance, de Eusápia Paladino, da Sra. Hollis, da Sra. Salmon, de Eva C. e de Linda Gazzera; mas isto me desviaria demasiado do tema especial deste trabalho.

            Limitar-me-ei, portanto, a abordar apenas as principais analogias, renunciando a citar exemplos.

            A primeira analogia deveras notável que me ocorre apresentar é a das luzes obtidas por Livermore, que também o foram por Stainton Moses; não só apresentavam a mesma forma e dimensões, como em ambos os casos vinham envolvidas em uma espécie de tecido semelhante à gaze. Os analistas das sessões de Stainton Moses falam também, como Livermore, de uma mão medianímica existente no interior das luzes que pela tal mão pareciam adimentadas.

            Relativamente à emanação de perfumes, há interessantes pontos de contato entre as duas séries de experiências, embora de modo muito mais variado nas curtas sessões com Moses, em que os perfumes de toda ordem ora transudavam da fronte do médium, ora se expandiam em profusão pela sala, a ponto de tornar o ar irrespirável, ora eram extraídos de flores frescas, previamente para esse fim trazidas. Poucas flores bastavam para produzir farta quantidade de perfumes; notando-se que as que eram submetidas a esse processo murchavam logo, secando imediatamente. 

            Outra analogia digna de nota e esta com a medianimidade de Eusápia Paladino, é a das formas materializadas não tomarem contato com as pessoas vivas sem a interposição de um tecido medianímico ou mesmo de um tecido ou tegumento natural. Vimos Livermore e seu irmão obrigados a tomarem luvas para receber no côncavo da mão a luz medianímica, e Estela, para beijar Livermore, interpor previamente uma substância semelhante à gaze.

            Particularidades idênticas se verificam nas sessões com Eusápia, no correr das quais as formas materializadas, em geral, não tocavam nem se deixavam tocar senão através de tecidos ou de cortinas, do mesmo modo que não deixavam traço na massa modeladora sem a interposição de um tecido medianímico.

            Outra analogia ainda. Nas sessões de Livermore, como nas com Eusápia Paladino, quando os fenômenos de certa importância se aprestavam ou estavam em via de realização, as personalidades medianímicas exortavam a que se não fixasse demasiado a vista sobre os mesmos, isto devido ao poder desintegrante que o olhar humano e a atenção concentrada exercem sobre as forças exteriorizadas. Assim, enquanto a mão materializada e iluminada escrevia na presença de Livermore, este era convidado "a não olhar com demasiada insistência o fenômeno, mas com pequenos intervalos, a fim de não perturbar, pela fixidez do olhar, a força em ação". Em outras circunstâncias, pediam aos experimentadores que fechassem, ainda que por um instante, os olhos: "Franklin nos convidou a fechar os olhos por um instante; logo que os abrimos, vimo-lo de pé sobre a cadeira, de onde nos dominava, como uma verdadeira estátua." E mais adiante: "Pediram-me fósforos e nos preveniram de fechar os olhos."