7e
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Transitoriamente, sim; porque o
mundo, em meio dos formidáveis desmoronamentos a que, de dezesseis anos para
cá, vimos assistindo, característicos da terminação de um ciclo evolutivo e
histórico, está sendo preparado para um fecundo e definitivo renascimento
espiritual, que só pode e só há de operar-se, consoante vozes proféticas o têm
anunciado, com a eloquente confirmação dos fatos de que mais adiante falaremos,
pela restauração da doutrina de Jesus em espírito e verdade.
Sente-se, com efeito, ou melhor,
sentia-se na fase precedente a que nos temos reportado, um anseio, de ano para
ano acentuado, pelo advento de uma Era Nova. Ao mesmo tempo que as almas
generosas, a que aludíamos há pouco, tornando-se eco das aspirações gerais,
multiplicavam esforços na cogitação de medidas convergentes para a consecução
da paz universal, nos círculos espiritualistas ganhava corpo a ideia de uma próxima
renovação. Estimulava-se mediante o estudo comparativo de religiões, a tendência
conciliadora no sentido de uma unificação religiosa, para a qual, esperava-se,
contribuiria, mais que a simples divulgação, a propaganda intensa das doutrinas
orientais, com o objetivo de uma aproximação preparatória. Anunciava-se a
segunda vinda do Cristo, empenhando-se os fundadores da Ordem da Estrela do
Oriente em preconizar a sua manifestação por um "veículo" adequado -
um moço indiano, que estava sendo adestrado para essa mística investidura (1) - tendo, por seu lado, um eloquente
orador e sacerdote católico - o padre Júlio Maria - realizado aqui no Rio uma série
de conferências sobre o assunto de atualidade, que era aquele próximo advento,
e "o fim do mundo", tomando por tema impressionantes passagens do
Apocalipse.
(1) Apreciaremos oportunamente a
significação desse fato em nosso ponto de vista.
Quaisquer que fossem os intuitos
particularistas, os motivos tendenciosos ou as origens ocultas, de varia natureza,
a que o movimento se prendia, certo é que, como um sinal
dos tempos, acentuava-se desse modo a rumorosa expectativa da Era Nova, que
viesse mudar a face do mundo e pôr termo às iniquidades pluriseculares, que o
têm infelicitado.
Mas sobreveio a grande conflagração,
com os seus gigantescos esboroamentos, o colapso vital e financeiro das nações
nela empenhadas e a considerável modificação do mapa
politico da Europa, desviando, por força do imediatismo dos problemas postos em
equação, a atenção de tudo o que não fosse a reparação dos calamitosos efeitos
da catástrofe. A partir daí um precipitar de sucessivas crises não tem cessado
de abalar os fundamentos da velha ordem político-social em que assentava a
existência dos povos. A implantação do regime soviético na Rússia, cuja influência
contagiosa não pretendeu atingir somente a remota China, tentando propagar ao
Oriente, mediante repetidas guerras civis, a mesma violenta subversão dos
valores humanos que inclui no seu programa de governo, mas tem procurado
insinuar-se no ocidente, com idêntico objetivo; a tentativa republicana posta
em prática na Alemanha, como um derivativo à formidável desorganização causada
pela guerra, cujo desfecho acelerou; a transformação da mentalidade otomana,
expressa no banimento de algumas das tradições, usos e costumes nacionais, como
um índice de adaptação às tendências renovadoras de que a grande conflagração
foi, por excelência, a geratriz ; esses e outros vertiginosos sucessos, mais
tarde seguidos de outros, como a recente “desobediência civil" na Índia,
em que o Mahatma Gandhi, interrompendo momentaneamente a sua função de líder religioso,
se tem convertido em agitador político, para promover a emancipação de sua pátria
e de sua raça do secular domínio britânico, de tal modo têm absorvido as
atividades no velho mundo, asiático e europeu, como uma necessidade imediata e
preparatória de outros sucessos de mais elevada significação e importância, que
o problema da renovação espiritualista teve que ser, forçosa e temporariamente,
posto de lado.
Complicando as subversões e
tentativas de subversão politica, senão constituindo, sob determinado aspecto,
o seu fator primacial, os interesses econômicos têm determinado um retrocesso
nas tendências e aspirações de certos povos, como sucedeu na Itália, em que o
fascismo, instituído num rasgo de audácia, para salva-la da anarquia, e seguido
da implantação do regime ditatorial em outras nações latinas, vítimas da mesma
inquietude e desorganização suscitadas pela guerra, outra coisa não fez senão
abrir caminho para o que um estadista inglês denominou "a crise do liberalismo", e
restaurar, como nas sociedades semibárbaras do passado, a supremacia da força
no governo dos povos, com proscrição de todo idealismo, sobre o qual pretende
consolidar o seu triunfo, assegurando a ordem material, sim, mas cometendo o
grave erro de fazer consistir no bem
estar dessa natureza, de resto só transitoriamente conseguido, o supremo
objetivo da nacionalidade a cujos destinos vem presidindo.
Sem duvida a vida material tem para
o homem implacáveis exigências que o arrastam, quando não satisfeitas, à prática
de desvarios, imposta pela natureza animal nele preponderante.
E é por isso que a generalização, verdadeiramente mundial, da crise econômica
nos últimos, recentes anos, gerada pela superprodução, avolumando de modo assustador
o exército internacional dos "sem trabalho", vem constituindo a
absorvente e, por assim dizer, exclusiva preocupação dos estadistas de todas as
latitudes, obrigados a procurar-lhe
urgente solução, antes que as graves e ameaçadoras perturbações, que traz no
bojo, se convertam em realidade. Quando, pois, o instinto de conservação,
imperioso no individuo como nos conglomerados humanos, formula por tantos
rugidos surdos as suas exigências, perder-se-iam no vácuo as vozes que falam de
espiritualidade.
E, todavia, são esses mesmos pródromos
da grande crise final que se avizinha, agravados pelas calamidades que lhes
farão cortejo - convulsões da natureza física, peste, fome,
possivelmente a "guerra química" em diabólico preparativo - que hão
de compelir o mundo à cogitação do magno problema.
Queiram, com efeito, ou não queiram
os materialistas de todos os matizes, "nem só de pão vive o homem",
segundo a palavra da Escritura. Vive, e deve sobretudo viver, "de toda
palavra divina". Porque essa palavra tem sido sonegada ao povo, em sua
clara e verídica expressão, e feito objeto de exploração das castas sacerdotais
em todo o mundo, é que a humanidade se vê, de todos os lados, premida de males
que os seus responsáveis visíveis se tornaram incapazes de remediar.
Crises politicas, crise econômica e
financeira, crise religiosa - porque ela aí está também visível no desprestígio
e impotência das religiões para restabelecer a confiança, a paz e a harmonia
entre os homens - são modalidades várias de uma crise única, isto é, crise
espiritual, que se traduz pela depressão do caráter, nas classes
intelectualmente superiores, e em todas as camadas sociais pela dissolução de
costumes, a hipertrofia do egoísmo
e o culto excessivo da matéria. Quando essa crise atingir o apogeu, a que
rapidamente se encaminha, e as calamidades de toda ordem lançarem a humanidade
na anarquia e desespero, será forçoso procurar a salvação.
De onde virá ela? Da ciência? - Mas
a ciência humana, fragmentaria, materialista e orgulhosa, cuja falência, de
resto, já foi, há meio século, proclamada por Brunetière, será capaz de
realizar esse prodígio? Poderá vir de uma nova religião a salvação para a
humanidade?
Numa época menos angustiosa que a
nossa, pelo menos em seus caracteres universais, um clarividente sacerdote
cristão - e dizemos propositadamente cristão e não católico
- o abade Lamennais, golpeado de decepções pelo partido politico do Vaticano,
formulou no livro ‘Affaires de Rome’,
em que teve necessidade de lançar a público a odisseia do seu ministério na
França, historiando com vivacidade e intrepidez, não destituídas contudo de
humildade, da qual jamais se apartou, o malogro de seus esforços no sentido de
reconciliar a igreja com o espirito do Cristianismo, formulou - dizemos - uma
admirável profecia, com que nos apraz encerrar esta primeira parte do nosso
trabalho.
Precedeu-a de uma síntese expressiva
da situação geral dos espíritos e das aspirações e necessidades do seu tempo,
nestes termos, que convém reproduzir para mais clara e coordenada compreensão
do vaticínio que pôs, como, remate, no seu livro:
"Observai - disse ele - o estado dos espíritos:
após uma época de dúvida, efeito inevitável de causas de ora em diante
suficientemente conhecidas, sentiram-se eles mal no vácuo produzido. Ao homem é
necessária alguma coisa mais que a mera ciência circunscrita em limites que tão
rapidamente são alcançados. Uma eterna aspiração rumo do infinito, isto é, da
causa perpetuamente incompreensível de tudo o que existe, constitui o instinto
religioso nele imperecível. Despertado, em nossos dias, no recesso das almas,
onde se havia como, transitoriamente adormecido, esse instinto as inquieta e
atormenta, fazendo-as experimentar, no que de mais elevado e íntimo possuem,
uma d'essas dores, inexprimíveis
que empolgam as criaturas, ao ser violada uma das leis primordiais de sua
natureza. Daí essas tentativas tão veementes quão frustrâneas, esses esforços
inauditos empenhados em criar uma religião, como se tal coisa se criasse, como
se a religião não fosse, de par e simultaneamente, a lei invariável e a
palpitante energia que une entre si os seres criados, unindo-os ao seu autor.
Falhou e devia falhar a tentativa, porque o Cristianismo, quaisquer que sejam
as aparências contrárias, não tem cessado de dominar os povos, nem dele se
podem estes separar mais do que poderiam separar-se de si mesmos, pois que que ele,
e somente ele, encerra o que lhes há a de satisfazer os desejos que os agitam,
possui em si o principio real de seu desenvolvimento futuro; tanto como o de
seu desenvolvimento passado. Em sua essência, expressão perfeita das leis da
humanidade, não será jamais esgotado pela humanidade. O mundo, que o parece
desconhecer atualmente, a ele tornará, porque é ele que impulsiona o mundo: Mens
agitat molem..."
"Mas, se os homens - continua -
premidos pela imperiosa necessidade de reconciliar-se, por assim dizer, com
Deus, de preencher o vácuo imenso neles produzido pela ausência da religião, se
tornarem novamente cristãos, não se suponha que o Cristianismo, a que se hão de
apegar, possa jamais ser o que lhes é apresentado sob o nome de catolicismo. Já
o explicamos porque, mostrando em um futuro inevitável e próximo o Cristianismo
concebido e o Evangelho interpretado de um modo pelos povos e do outro pelo
entendimento de Roma; de um lado o pontificado e do outro a raça humana: está
dito tudo. Não será, menos ainda, coisa alguma que se assemelhe ao
protestantismo, sistema espúrio, inconsequente, estreito, que, sob uma
falaciosa aparência de liberdade, se resolve, para as nações, no brutal
despotismo da força e, no que respeita aos indivíduos, no egoísmo."
E aqui vem, positivo, clarividente,
o vaticínio:
"Ninguém poderá prever como se há de operar essa
transformação ou, se o preferirem assim denominar, esse movimento novo do Cristianismo
no seio da humanidade; mas há de, sem a mínima dúvida, operar-se, e grandes
massas de homens serão atraídas para a sua órbita, não por um repentino
impulso, o que significaria não mais que uma transitória perturbação. Há de
ser, ao começo, como um ponto apenas perceptível, uma diminuta agregação, de
que se hão de rir talvez. Pouco a pouco esse ponto crescerá, essa agregação se
há de ampliar, para ela hão de os homens afluir de toda parte, porque será um
refúgio para quem padece na alma e no corpo. E a humilde planta se converterá
numa árvore cujos ramos cobrirão a terra, e sob a sua fronde virão abrigar-se
os pássaros do céu. É o que não vacilamos em anunciar com
profunda convicção. Os que se ufanam de conduzir o gênero humano por caminhos
que o extraviam de seu objetivo, perigosamente se equivocam. Mas é necessário
que aconteça o que deve acontecer e que cada qual
vá para onde deve ir. Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos
homens de boa vontade!"
Essa resoluta profecia, feita
"com profunda convicção" e rematada, como se vê, com o mesmo hino de
glorificação entoado pela "multidão da milícia celestial" que aos
humildes pastores, nas montanhas da Judeia, viera anunciar o nascimento do
Salvador do mundo - cumpre assignalar - foi estampada na edição de 1836-1837 do
mencionado livro Affaires de Rome (páginas
301 a 303), formulada, portanto, muitos anos antes de esboçar-se o movimento de
renovação espiritualista contemporâneo, cujas primeiras, indecisas
manifestações, mais tarde contudo acentuadas no sentido de restabelecer, em espírito
e verdade, o Evangelho, não vieram a público senão depois da segunda metade do
século passado. Nas páginas subsequentes às considerações que nos parece
oportuno, como esclarecedor intermédio, aduzir em seguida, ver-se-á com que
surpreendente exatidão essa profecia se realizou, pelo menos em sua primeira
parte.
Mas o que não pode o abade Lamennais
prever - e é essa a tarefa que nos temos, penosa e voluntariamente, imposto -
foram as obstinadas investidas que mais uma vez lançaria o AntiCristo contra a
humilde planta renascida, para impedir-lhe o crescimento e sufocar lhe a
expansão.
Por quanto tempo? - Ao Senhor
pertence abrevia-lo, a nós, homens, cooperar com Ele, orando, vigiando e
agindo, a fim de que a segunda parte da profecia e sua radiosa culminância
tenham também completa realização.
Antes que este século haja
terminado.
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Como informamos, pararemos aqui a postagem desse livro raro. A partir daqui, sua temática passaria a abordar uma difícil situação acontecida a 100 anos atrás que deve ficar guardada no passado. O Blog
Como informamos, pararemos aqui a postagem desse livro raro. A partir daqui, sua temática passaria a abordar uma difícil situação acontecida a 100 anos atrás que deve ficar guardada no passado. O Blog