Dores
de
cá e de lá
Manuel
Quintão
por W. Vieira
Reformador
(FEB) Março 1962
Sim,
existem multidões de Espíritos que ainda experimentam largas torturas na forma
etérea em que se lhes plasmava o corpo de carne!
E
como não senti-las?
Sabes
que mesmo aí, nos domínios da matéria densa, pessoas que sofreram a amputação
de um membro sentem-no ainda, através de terebrantes dores. Que não sentirá
alguém que traga o corpo enfermo e a alma verminada, após sofrer a amputação da
existência física?
De
cá e de lá, somos defrontados por vivos, mortos e semimortos, pois somente
revela habilidade, para morrer, a alma que demonstrou esforço para viver
corretamente; ninguém é promovido de carrasco a salvador ou de réu a herói, a
passe de mágica.
Cada
homem traz a sentença pessoal lavrada na mente e, ao resvalar do catafalco para
o seio da terra, dele depende a liberdade espiritual ou o encarceramento nas
sólidas e indesertáveis prisões da consciência.
Se
a evolução patrocina o êxodo perpétuo das sombras de nosso íntimo, nem por isso
conseguiremos apagar, de um dia para outro, com operações plásticas
irrepreensíveis, as mil cicatrizes de nossos erros, insculpidas na própria
alma.
Na
febre de perecedouros interesses terra-a-terra, o homem, muitas vezes, envolto
na cerração do engano a toldar lhe a vista, afunda-se no pântano lodacento da
incerteza e, desse modo, surgem, aos milhares, os irmãos duvidadores na Terra.
Depois do trespasse, errantes e irredimidos, quando a consciência resmunga,
ainda maculados de lama em prodigiosos ergástulos fluídicos, uns sorriem,
outros gargalham... o sorriso fixo da idiotia, a gargalhada estentórica da
loucura... estigmatizados pelas farpas dos dissabores mais díspares.
Em
razão disso, urge tornar espontâneo, em nós, o gesto de cooperar, seguindo as
Almas Maiores que não medem o bem que fazem.
Adota
a sinceridade na voz, proscrevendo o aguilhão da astúcia camuflada no glacê da melifluidade,
decorrente de intenções escusas que forçam a criatura a exibir atitudes
camaleonescas na vida diária.
Reconheçamos
que, nas pegadas do Cristo descrucificado, ninguém é fraco para lutar contra o
infortúnio nem é vencido perante a provação; a fé soerguedora mantém desnublada
a face padecente, ainda mesmo quando busque romper caminho sob a avalanche de
destroços morais em que se agita, por eleger na caridade a antiga e sempre nova
tarefa que todos necessitamos desempenhar, cada hora, uns para com os outros,
em demanda da vitória sobre nós mesmos, na tecedura interminável do destino.
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