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quarta-feira, 21 de abril de 2021

Cidade de Cafarnaum, você conhece?

 

Cidade de Cafarnaum, 

Você Conhece?

 por Roberto Macedo

         in “Vocabulário Histórico-Geográfico dos Romances de Emmanuel” (Ed. FEB)

            Cidade da Galileia, na Palestina. Situava-se na margem norte do lago de Genesaré, também chamado mar da Galileia ou de Tiberíades. Residência de Pedro, talvez seu berço natal, se não tiver sido originário de Betsaida, na margem oeste do lago (não Betsaida Júlia, filha de Augusto). Residência temporária de Jesus e da Virgem Maria, após o episódio das bodas de Canaã. “A paisagem de Cafarnaum serviu de palco às primeiras lições inesquecíveis e imortais do Cristianismo, em sua primitiva pureza”, diz Emmanuel em “Há Dois Mil Anos...”, porque seu povo “aceitava a Lei de Moisés, mas estava muito longe das manifestações hipócritas do farisaísmo de Jerusalém.”


O idioma de Jesus

 

O Idioma

de Jesus

 por Roberto Macedo

Vocabulário Histórico-Geográfico dos Romances de Emmanuel (FEB)

 

            O aramaico, dialeto semítico, do grupo arameu-assírio, era o falado por Jesus.

         Podem assim ser divididas as línguas semíticas: a)  Grupo arameu-assírio; b) Grupo cananeu; c)  Grupo árabe.

            O arameu-assírio abrangia o assírio propriamente dito e dois dialetos aramaicos: 1) Caldeu ou caldaico; 2) Siríaco ou siro-hebraico.

            Dos dois dialetos aramaicos, predominava o caldeu na Assíria (e Babilônia), o Siríaco na Síria (e Mesopotâmia). Admite-se que o povo israelita, possuidor de língua própria - o hebreu ou hebraico, do grupo cananeu - assimilasse ambos os dialetos aramaicos, quando escravizado pelo rei babilônio Nabucodonosor. Dominados, por sua vez, os babilônios pelos persas, permitiram estes o regresso de israelitas a Jerusalém e surge, então, um período de concomitância: o povo fala dialetos aramaicos, mas subsiste como língua oficial o hebreu, usados também o grego e o latim, este na fase de subjugação romana.

            Daí comunicar-se Jesus com o povo em dialeto aramaico (siríaco ou siro-hebraico) e com os doutores da lei na língua oficial. Por isso, tanto Lucas como João (respectivamente 4:17,21 e 7:15) mencionam o espanto dos circunstantes pela leitura e interpretação de textos sagrados, feitas por Jesus em linguagem clássica, sem aparente aprendizado escolar. Revela o romance “Há Dois mil Anos” que o latino Públio Lêntulus considerou difícil entender-se com o Mestre, porque “certamente Jesus lhe falaria no aramaico...” E o Evangelista Marcos, ao registrar expressões em dialeto, fornece tradução imediata (“Talitha, cumi”, 5:41 - Ephpatha, 7:34; - Lama sabachtani”, 15:34).


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Kardecista, roustainista ou espiritista?




Kardecista, roustainista ou espiritista?
Roberto Macedo
Reformador (FEB) Outubro 1943


Procuremos, preliminarmente, fixar os contornos da palavra "kardecismo", determinando-lhe o verdadeiro conteúdo. Que é "kardecismo"? Ao pé da letra, o partido de Kardec. Nesse sentido, seremos "kardecistas", isto é, partidários religiosos daquele que se tornou universalmente famoso sob o pseudônimo de Allan Kardec? Impõe-se a resposta afirmativa. Todo espiritista ou espírita (para usarmos a expressão que a lei do menor esforço veio tornar usual) é partidário de Kardec, reconhece-o como codificador da doutrina e pioneiro da sua dialética. A própria Federação Espírita Brasileira, tão serena em pleno tumulto, realiza, todas as sextas-feiras, estudos públicos alternados sobre "O Livro dos Espíritos" e "O Livro dos Médiuns". A efígie de Kardec ilumina não só os papéis oficiais da Federação, como a capa do "Reformador", seu órgão representativo. Infelizmente, porém, não é nesse sentido amplo, legitimado pela etimologia, que se costuma empregar o vocábulo "kardecismo". Em ambiente mais teosofista do que propriamente espírita já ouvi a definição seguinte: "Kardecismo é a doutrina que não permite trabalhos práticos." Sem intuito de polêmica, peço licença para discordar. Kardecismo não é doutrina especifica sobre trabalhos práticos, restrita aos horizontes da mediunidade. É todo um sistema, admiravelmente desdobrado através de vários livros. Seus reflexos se estendem ás fronteiras da filosofia, da ciência, da religião. Os que assim definem o kardecismo exageram o escrúpulo revelado por Kardec, em relação aos trabalhos práticos. Exigir cuidados
especiais não é condenar. Urge apresentar o argumento pelo avesso: tanto Kardec aceitou os trabalhos práticos, que até procurou rodeá-los de requisitos assecuratórios da sua utilidade moral. Demais, compreende-se bem que Kardec fosse avaro na propaganda de intercâmbios particulares entre encarnados e desencarnados, numa fase por assim dizer infantil do Espiritismo cristão, mal interpretado e mal praticado ainda hoje, quando adulto.

Não menos prejudicial e inverídico é confundir kardecismo com a tese da corporeidade material de Jesus.

Em primeiro lugar, tenho dúvidas de que Kardec houvesse repelido formalmente a corporeidade fluídica de Jesus. Aceitando o fato como possível, definiu-o como hipótese, parecendo inclinar-se pela sua inviabilidade e inoportunidade, naquela época.

Em segundo lugar, dando de barato que Kardec houvesse rejeitado in totum a corporeidade fluídica, nem por isso estaríamos autorizados a simbolizar nesse acidente todo o conjunto da sua obra. Suponhamos - para aventar um exemplo, perante o qual a ninguém será licito subterfugir - que se tenha em vista definir "getulismo"; ora, o Sr. Getúlio Vargas afirmou algures que o maior poeta do Brasil é Gonçalves Dias; logo, estaria autorizada a definição: "getulista é aquele que admite Gonçalves Dias como o maior poeta do Brasil" . .. Não. A obra do Sr. Getúlio Vargas é profunda demais para caber nesse juízo rasteiro; a opinião sobre Gonçalves Dias não passa de acidente topográfico no panorama do conjunto.

E, em terceiro lugar, lembremo-nos do caráter evolutivo do Espiritismo, proclamada por Kardec, Roustaing e outros bandeirantes da ideia nova. Kardec vacilou a respeito da fluidicidade, faz quase um século; outros vacilam agora, impressionados com o arrojo aparente do fenômeno. Porque seremos tolerantes para com estes e não para com o missionário, em cuja boa vontade encontraram os Espíritos terreno propício à veiculação do Espiritismo? Se Roustaing "sempre considerou a Kardec o verdadeiro fundador da Doutrina Espírita." ("Os Quatro Evangelhos", vol. I, pag. 79), se o mesmo Roustaing encontrou em "O Livro dos Espíritos" - ''uma moral pura, uma doutrina racional, de harmonia com o espírito e o progresso dos tempos modernos" ("Os Quatro Evangelhos", vol. I. pag. 8), isso não empresta a Kardec o dom da infalibilidade ou da imprescritibilidade.

Quanto aos discípulos de Roustaing e de Kardec, talvez nem sempre tão cordatos entre si quanto deveriam, creio que se sentiram empolgados por esse grandioso estado de consciência que é a posse da verdade, mesmo contingente.


Criaturas humanas... O Cristo perdoou a Pedro faltas mais graves e nem por ter sido faltoso sentiu o apóstolo lhe minguarem as forças, no momento supremo, para a gloriosa humilhação do madeiro. Tais discípulos voltarão - se já não voltaram alguns - aliados naturais da evangelização, fraternalmente ligados pelo vínculo superior do Espiritismo, quer dizer do Cristianismo moderno. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A Nossa Política



                           Trecho de um artigo de Roberto Macedo publicado em 
                      Reformador (FEB) Novembro 1946 sob o título ‘A Nossa Política’.

           " ....A Política é essencialmente mundana e visa o governo transitório dos homens; a Religião é essencialmente divina e visa a regeneração eterna dos espíritos. Se puderem nossos confrades, sem violentar a linha de suas provas, afastar-se do braseiro das paixões, tanto melhor para eles. Voluntariamente, coletivamente, é que nos parece menos aconselhável irmos ao encontro do perigo, possibilitando assim o escândalo, tão natural nos homens em épocas de fermentação ideológica, mas tão impróprio nos discípulos d'Aquele que ensinou a mansidão e mandou dar a César o que é de César. Dando a Deus o que é de Deus, estaremos cumprindo o nosso dever moral unanimemente aceito e proclamado; procurando alistar-nos nas hostes de César, estaremos suscitando divergências até mesmo entre nós. Se neutralidade de opinião não existe entre cristãos conscientes do seu direito de pensar, a neutralidade de ação talvez constitua... o mais saudável dever para o confrade propenso à política. Pode ele concorrer para a vitória de sua parcialidade - pelo voto, como arma cívica, - pela prece, como arma divina. A intervenção espontânea no campo da luta, fora dos muros da Doutrina, convém evitar sempre que possível. Lembremo-nos de que o triunfo irresistível dos ideais cristãos depende menos da nossa cooperação individual que da orientação dos Guias e do gradual amadurecimento da Humanidade. Houve, é certo, entre os fundadores da Federação, alguns participantes da Política. Eram, porém, homens cheios de amor, como todos os pioneiros, e atuavam num ambiente menos impregnado de cóleras...   Demais. abandonaram a Política, renunciando ao mundo, quando lhes pareceu oportuno; a última palavra ficou, pois, com a Espiritualidade. Não insinuamos que eles errassem, nem que errem os crentes cujo livre arbítrio os conduza aos campos de batalha da Política. É um direito. Será um dever'? Nosso dever, cremo-la firmemente, é o de nos esforçarmos para sermos os eleitos de Deus."

domingo, 29 de maio de 2011

Herodes!?!


Herodes

            Vários foram os reis sob este nome. Roberto Macedo, em “Vocabulário Histórico - Geográfico dos Romances de Emmanuel”  nos explica quem foi o quê, detalhadamente:

Herodes I (cognominado o Grande ou o Antigo) - Rei da Judéia por ocasião do nascimento de Jesus, a quem procurou eliminar. Pai de Herodes Antipas, um dos julgadores do Cristo.
Herodes Agripa I - Rei da Judéia, neto de Herodes, o Grande ou o Antigo. Pai de Berenice, a quem o general romano Tito pretendeu desposar, impedido de fazê-lo por motivos políticos.
Herodes Agripa II -  Rei da Judéia, contemporâneo da conquista de Jerusalém por Tito, general e futuro imperador romano (ano 70).
Herodes Antipas - Tetrarca da Galiléia e da Peréia. Filho de Herodes I, cognominado o Grande ou o Antigo, rei da Judéia. Casado com a filha de Aretes, rei da Arábia, contraiu novas núpcias ilegítimas com Herodíades, mulher de seu meio - irmão Herodes Filipe. Advertido por João Batista, prendeu-o na fortaleza de Maqueronte e mandou degolá-lo, por solicitação de Salomé, filha de Herodíades, industriada por esta. Perante Herodes Antipas compareceu Jesus para julgamento, como súdito da Galiléia, mas silenciou em presença do tetrarca, eloqüente defesa que acusava o juiz. Mais tarde exilado pelo imperador Calígula para Lugdunum (Lion, na França). Segundo historiadores, veio a morrer na Espanha, o que aliás não se deduz de Atos dos Apóstolos.”


sexta-feira, 6 de maio de 2011

03 (e final) 'Os Apóstolos'


Os Apóstolos          parte III
por Roberto Macedo

 6 - Mateus, assim mencionado por si próprio (10:3) e pelos Atos dos Apóstolos (1:13). Chamava-se antes Levi (ver Marcos, 2:14; 3:18; Lucas, 5:27; 6:15). Filho de Alfeu  (Marcos, 2:14). Ora, filho de Alfeu também o era Tiago menor. Meio irmão, por parte de pai? Mero pormenor biográfico, menos importante que a irmanização, pelo vínculo da solidariedade cristã. Sabe-se que o apóstolo e evangelista Mateus, antes chamado Levi, surge por assim dizer a meio caminho, entre a seleção do grupo inicial e o completo arrebanhamento do escol;
a) - Pedro, André, João, Tiago maior, Filipe “no dia seguinte”;
b) - os demais, silenciada nos Evangelhos a ordem de vocações.
Despertou murmurações a escolha de Mateus. Não era pescador, mas publicano. Denominavam-se publicanos, no império dos Césares, os empresários de rendas públicas, membros da poderosa ordem dos cavaleiros (“ordo equester”); dominada pelos romanos a Palestina, também nesta se intitularam publicanos os cobradores de impostos, destinados ao patrimônio do invasor. Era um símbolo de vassalagem, inconciliável com a noção de “povo eleito”. Em linguagem atual, colaboracionismo com o vencedor. Empenhavam-se publicanos em não perder ensejo de confiança, convenientemente distribuídos em lugares de acesso obrigatório: pontes, estradas, alfândegas, portas de cidades (daí “portageiros”, cobradores de “portagem”). Sentavam-se à mesa ou escritório (telônio) sob as portas, entendido como “portas” o conjunto arquitetônico nas muralhas de cidade: portões de postigo, prolongamento em abóbada, subdivisão das paredes laterais em setores diversos, com finalidade utilitária na paz e defensiva na guerra. Não se forçavam inpunemente as portas (sob o véu da metáfora, aparecem elas diversas vezes no Evangelho: porta estreita, Mateus, 7:14; Lucas, 13:24; portas do inferno, Mateus, 16;18; Cristo é a porta, João, 10:9). Estava Mateus, então Levi, “assentado no seu telônio”, talvez à entrada de Cafarnaum, quando Jesus o convocou. Tudo abandona a partir de então, mas o desconceito social permanece. E labaredas psicológicas procuram atingir a túnica do próprio Cristo: - “Eis um homem glutão e grande bebedor de vinho, amigo dos publicanos e dos pecadores.”
(Lucas, 7:34) A resposta da sinceridade à hipocrisia demonstra como se podem colher lírios no lodo: - “Em verdade vos digo que os publicanos... irão primeiro que vós para o reino de Deus.” (Mateus, 21:31).
7 - Pedro, mencionado como “Simão que se chama Pedro” em Mateus, 4;18; 10:2; como Simão “a quem
(Jesus) pôs o nome de Pedro” em Marcos, 1:16; 3;16; como Pedro e a seguir Simão Pedro em Lucas, 6:14; 9:20; como Simão Pedro em João, 1 :40, 41, o qual lhe acrescenta Cefas; como Pedro em Atos dos Apóstolos (1:13). Ele próprio, em suas epístolas, adotou Pedro e Simão Pedro. Irmão de André (Mateus, 4:18; Lucas, 6;14; João, 1:40). Pescador. Integrante do grupo inicial e espécie de intérprete dos apóstolos, aparentemente o mais assíduo junto ao Mestre, por este singularizado com “pedra”, sobre a qual edificaria sua Igreja (Mateus, 16:18, onde Pedro figura como Simão Bar-Jona, filho de Jona). Pedra eqüivale figuradamente a duro, rijo, isto é, “kepha” em dialeto siríaco, falado por Jesus; daí, calcado em “pedra”, o tradicional “Pedro”, através das formas grega “pétra”, e latina “Petru”, nome de homem. Não somente Pedro, como outros apóstolos e o próprio Jesus estabeleceram distinção entre “pedra” e “pedra principal” ou   “pedra angular”. A principal se identifica com o Cristo, conforme clara sentença de Pedro, proferida quando “cheio do Espírito Santo”: “Este Jesus é a pedra... a qual tem sido posta na cabeça do ângulo. E não há salvação em nenhum outro...” (Atos dos Apóstolos: 4:18, 11, 12). Não discrepam evangelistas e apóstolos: - “...A pedra que rejeitaram... veio a ser a principal... “(Marcos, 12:10); - “Este Jesus é a pedra que foi reprovada por vós...” (Atos, 4:11); - “... sendo o mesmo Jesus Cristo a principal pedra angular...” (Paulo, Epístola aos Efésios, 2;20). Também Jesus, quando sacerdotes  e escribas conjuraram prendê-lo, a si mesmo se refere como pedra angular: - “Pois que quer dizer isto que está escrito: A pedra, que desprezaram os edificadores, esta veio a ser a principal do ângulo?” (Lucas, 20:17). Tal indagação, proferida pelo Cristo, forçava sacerdotes e escribas a recordar o “que está escrito” no Velho Testamento (A pedra que desprezaram os edificadores, esta foi posta na cabeça do ângulo”), Salmos, 97:22; - “...vou a lançar nos fundamentos de Sião uma pedra... provada no fundamento...”, (Isaías, 28:16).  Se nos ativermos à lição de textos sagrados, Jesus é a pedra angular, o principal fundamento - apóstolo divino, em missão de sacrifício; Pedro é a pedra da comunidade humana espiritualizada - apóstolo carnal, em missão de devotamento. Permanece uma para sempre invulnerável; arranhada outra por três sucessivas negações, submergiria em águas amargas de remorso, para emergir a tempo, escorreita de espurcícias, como sólido padrão de esperanças na perfectibilidade. Eis porque acolhe Pedro com serena humildade uma advertência do Mestre: que a pedra não se transformasse em “pedra de escândalo”,    isto    é,    de   tropeço
(escândalo significa o que nos leva a tropeçar, a cair). E em suas epístolas, sem reivindicar primazia, apenas se intitula “apóstolo”, “servo”.
8 - Simão, mencionado como Simão Cananeu, em Mateus, 10:9 e Marcos, 3:18; como “Simão, chamado o Zelador”, em Lucas, 6:15; como Simão, o Zelador, em Atos dos Apóstolos, 1:13. “Zelote”, rejeitado na Vulgata, parece não indicar o apóstolo. Aplicar-se-ia talvez ao membro da seita dos “zelotas”, confundida com a dos sicários ou portadores de punhal, porque ambos, o zelote e o sicário, levavam ao extremo do homicídio sua intransigência religiosa. Pouco se sabe acerca do apóstolo zelador ou zeloso, com base no Novo Testamento. Torna-se difuso ainda o campo de pesquisa, por causa de abundante homonímia; - Simão ou Pedro, já especificado; Simão, o curtidor (Atos, 9:43; 10:6, 17); - Simão, o Fariseu (Lucas, 7:36 a 50);-Simão Iscariote (João, 13:2); - Simão, o mágico (Atos, 8:13, 18 a 24); - Simão, o negro (id., 13:2).
9 - Tadeu, assim mencionado em Mateus, 10:3 e Marcos, 3:18; como “Judas, não o Iscariote” em João, 14:22; como “Judas irmão de Tiago” em Lucas, 6:16 e Atos dos Apóstolos, 1:13. “Irmão de Tiago”, confirma ele próprio (Epístola de Judas, isto é, de Judas Tadeu, na prática simplesmente Tadeu). Qual dos dois Tiagos? O “menor”? Nesse caso, Tadeu seria filho de Zebedeu. Leve-se em conta, porém, que no texto evangélico os filhos de Zebedeu formam um par específico: os dois “Boanerges”, os dois “filhos do Trovão”, isto é, Tiago maior e João Evangelista. Restam as hipóteses de meio irmão, em ambos os casos, ou a de irmão no sentido de parente.
10 - Tiago (maior), mencionado como Tiago, filho de Zebedeu, em Mateus, 10:3 e Marcos, 3:17; como Tiago em Lucas, 6:14 e Atos dos Apóstolos. Na prática, Tiago maior. Irmão de João e filho de Zebedeu  (Mateus, 4:21 e 10:3, citado; Marcos, 1:19; Lucas, 5:10, este dubitativo). Irmão também de Judas Tadeu? Por parte de mãe? Parente? Quem aventou a associação filial foi Lucas (6:16), que não conviveu com os apóstolos diretos; o texto de Atos dos Apóstolos (1:13) corrobora o de Lucas, mas a este evangelista se atribui autoria dos Atos. Fonte única, por conseguinte, aparentemente reforçada pela “Epístola de Judas”, onde “irmão de Tiago” pode não ser “filho do mesmo pai”. Integrante do grupo inicial (ver número  3 - Filipe, número 6-Mateus), participou de episódios culminantes, como transfiguração no Tabor, agonia em Getsêmani, aparição em Tiberíades.
11 - Tiago (menor), mencionado como “Tiago, filho de Alfeu” em Mateus, 10:3; Lucas, 6:15; Atos dos Apóstolos, 1:13; como “Jacob, filho de Alfeu” em Marcos, 3:18. Na prática, Tiago menor. “Irmão” de Jesus (Mateus, 13:55; Marcos 6;3). Com vínculos de carnalidade não se coaduna por certo a natureza do Cristo, cuja transcendência deslumbra os doutos “numa vaga imensa de relâmpagos ofuscadores”. (ver Antônio Lima, “Vida de Jesus”, pág. X). Considere-se outrossim o aclive de ambigüidades. Nem se fixou desde os primórdios a convenção diferenciadora (Tiago menor, Tiago maior), nem cuidaram os antigos de estremar “Tiago” de “Jacob”. Poucos timbraram em diversificar, como o Padre Antônio Vieira, que insiste na grafia “Jacobo”, mas isso em relação a Tiago maior (pelo menos no Sermão da Terceira Quarta feira de Quaresma, vol. III dos Sermões revistos pelo Padre Gonçalo Alves, Porto, 1907, páginas 206, 207, 215, 216, 220, 221). Teremos assim um ‘Jacobo” igual a Tiago maior, um “Jacob” igual a Tiago menor (dado como “irmão” de Jesus) e um Tiago sem aposto, só nitidamente identificável com o filho de Alfeu, após desaparecimento do filho de Zebedeu. A partir de então, apenas subsiste um Tiago, a cujo prenome será dispensável apensar o “menor” , autor inconteste da Epístola dirigida às “doze tribos que estão dispersas”. Quanto a considerá-lo irmão carnal de Jesus, veja-se “Incerteza Relativa em Graus de Parentesco.”
12 - Tomé, assim mencionado em Mateus, 10:3; Marcos, 3: 18; Lucas, 6:15; Atos dos Apóstolos, 1;13; como “Tomé... que se chama Dídimo” em João (20:24; 21:2). Não pertence ao número dos reiteradamente citados no Evangelho.
12 - bis Matias, substituto de Judas Iscariote (Atos dos Apóstolos). Após o primeiro e trágico desfalque, recompunha-se o número de doze, escolhido talvez por correlação com as tribos de Israel: - “... estareis assentados também vós sobre doze tronos, julgando as doze tribos de Israel.” (Mateus, 19:28); - “... sobre tronos para julgar as doze tribos de Israel.” (Lucas, 20:30);  - “E ele me transformou em espírito a um grande e alto monte e me mostrou a santa cidade de Jerusalém... e ... uns nomes escritos, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel... E o muro da cidade tinha doze fundamentos e neles os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro”  (Apocalipse, 21:10, 12, 14, salteadamente).

02 'Os Apóstolos'


Os Apóstolos            Parte II
por Roberto Macedo

Síntese

Apóstolos ou enviados, aqui em ordem alfabética:



A. Mateus
B.Mateus
C.Lucas
D.Atos
1. André
1. André
1. André
1. André
2. Bartolomeu
2. Bartolomeu
2. Bartolomeu
2. Bartolomeu
3. Filipe
3. Filipe
3. Filipe
3. Filipe
4. João
4. Jacob (Tiago, filho de Alfeu)
4. João
4. João
5. Judas Iscariote
5. João
5. Judas (Judas Tadeu)
5. Judas (Tadeu)
6. Mateus Publicano
6. Judas Iscariote
6. Judas Iscariote
6. Mateus
7. Pedro
7. Mateus
7. Mateus
7. Matias (substituto de Iscariote)
8. Simão Cananeu
8. Simão (Pedro )
8. Pedro
8. Pedro
9. Tadeu
9. Simão Cananeu
9. Simão, o Zelador
9. Simão, o Zelador
10.Tiago, filho de Zebedeu
10. Tadeu
10.Tiago
10. Tiago (maior)
11.Tiago, filho de Alfeu
11. Tiago
11. Tiago, filho de Alfeu
11. Tiago, filho de Alfeu
12.Tomé
12. Tomé
12. Tomé
12. Tomé
                                                


A. Coligidos no Evangelho segundo Mateus (1:2 a 4)
B. Coligidos no Evangelho segundo Mateus, 3:16 a 19,
 com aparente acréscimo de Jacob, mera variante de nomenclatura, não discordância.
C. Coligidos no Evangelho segundo Lucas, 4:14 a 16, com variações de matiz na uniformidade estrutural.
No Evangelho segundo João, menos adstrito ao formalismo, falta relacionamento dos doze apóstolos.
 Do texto, emergem esparsamente André, Pedro, Filipe, Judas Iscariote, Tomé (Dídimo)
e o autor, citado em circunlóquio, todos como ‘discípulos’, inclusive Natanael.
D. Em Atos dos Apóstolos, fonte definitivamente identificadora, onde já surge substituição do Iscariote (1:3,26).
            Unânime designação permite facilmente identificar André Bartolomeu (ver “Especificações e Referências”, 2), Filipe, Judas Iscariote, Tomé; João e seu irmão Tiago (maior) poderiam ser “Boanerges”;  Mateus foi antes Levi (ver “Especificações e Referências”, 6); Pedro, Simão Pedro ou ainda Simão Barjona, pouco se vulgarizou como Cefas; Simão ora sobrevive como Cananeu, ora como Zelador, o que não colide; Judas Tadeu simplifica-se em Tadeu; Tiago (menor) filho de Alfeu é Jacob; Tomé subsiste como tal, não como Dídimo; Matias, substituto de Judas Iscariote, insere-se na lista em função suplementar, recomponente do número por Jesus fixado (“...eu vos escolho em número de doze...” João 6:71).


Especificações e Referências

Mediante pesquisa primacial no Novo Testamento, coadjuvada por escassos tributários bibliográficos, eis a especificação dos doze discípulos diretos ou apóstolos, com as respectivas referências de fonte evangélica:
1. André, assim mencionado em Mateus 4:18; 10:2; Marcos, 3:18; Lucas, 6:14; João, 1:40; Atos dos Apóstolos, 1:13. Irmão de Pedro (Mateus, 4;18; Lucas, 6:14; João 1:40). Como Pedro ou Simão Barjona era filho de Jona, também o seria André, a menos que ocorra uma das hipóteses: parente ou irmão por parte de mãe. Investigações de filiação materna carecem de apoio, pois nem sempre textos bíblicos retiram a mulher da penumbra, conservando anônimas a sogra de Pedro, a mãe dos filhos de Zebedeu, a mãe dos Macabeus, etc. Pescador: Integrante do grupo inicialmente convocado, isto é, um dos primeiros, dentre os doze.
2.Bartolomeu, assim mencionado em Mateus, 10:3; Marcos, 3:18; Lucas, 6:14; Atos dos Apóstolos, 1:13.
Se Bartolomeu quer dizer filho de Ptolomeu (Bar - Ptolomeu), temos pelo menos presumível filiação. Variantes de Ptolomeu: Tolmai, Tolmé (Tholmé), Tolomé, do que resultaria a contração Bar-Tolomé. Não se comprova nitidamente que o apóstolo se chamasse Natanael Bartolomeu. O nome de Natanael aparece em João sem indicações (1:45 a 51) e como “discípulo”, originário “de Canã da Galiléia”(21:2 0). O nome de Bartolomeu, positivado como do apóstolo, surge poucas vezes explícito no Evangelho; faltam notícias de convocação e outrossim não consta ele do grupo inicial: André, Filipe (ver número 3, a seguir), João, Pedro, Tiago maior.
3. Filipe, assim mencionado em Mateus, 10:3; Marcos, 3;18; Lucas, 6:14; João, 1:40; Atos, 1;13. Integrante do grupo inicial, conforme transparece do texto de João, em  acessório desacordo com Mateus, que em lugar de Filipe enumera Tiago, filho de Zebedeu (Tiago  maior). Testemunhas ambos, tanto João como Mateus, da vida pública de Jesus, só Mateus parecia fazer cabedal de personativos. João a si próprio se designa por “discípulo amado” e sistematicamente omite seu irmão Tiago maior. Talvez uma circunstância o levasse a não olvidar Filipe: a convocação deste foi quase imediata, porém não concomitante “No dia seguinte, quis Jesus ir à Galiléia e encontrou Filipe.”  (João 1;43). Não se exclui Tiago maior e acrescenta-se Filipe, logo “no dia seguinte”. Conciliados depoimentos, restará o grupo inicial com André, João, Pedro, Tiago maior e Filipe.
Nos textos evangélicos se assinala mais assíduo contato de Jesus com João, Pedro e Tiago maior, razão pela qual interpretações humanas vislumbram nos três uma espécie de estado-maior. “Comissão diretora”, “junta íntima”, opinam respectivamente. Strauss e Renan (ver adiante número 6 - Mateus, número 10 - Tiago maior). Obviamente não se confundirá o apóstolo Filipe com seus homônimos, o tetrarca (Lucas 3;1) e o diácono (Atos, 6:5; 8;5 a 13:26 a 40; 21:8,9).
4. João, assim mencionado em Mateus, 4:21, 10:3; Marcos, 3:17; Lucas, 6:14; Atos, 1:13. A si próprio se define como discípulo “ao qual amava Jesus” (João, 13:23;  20:2,26; 21:7,20), perífrase admissível, se generalizada. De vanglória não se acuse a quem nestes termos enfatizou a imparcialidade do Cristo; - “... como tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. (João, 13:1).  Irmão de Tiago maior, portanto, filho de Zebedeu, conforme Mateus (4:21; 10:3) e Marcos (3:17), acrescentando este haver-lhes dado Jesus o nome de Boanerges, “filho do trovão”. Na prática, João Evangelista. Integrante do grupo inicialmente convocado, indicou-o Jesus para cuidar de Maria, após o episódio do Calvário (João 19:27). Pescador. Anotou em grego suas principais reminiscências, testemunho subjetivo, não meramente sumariado. É o Evangelho segundo João, cujo prólogo se considera como epístola aos cristãos em geral. Escreveu outras epístolas (louvou e conselho de
vigilância) e “ao caríssimo Gaio” louvor ao destinatário e advertência a Diotrefes, “que gosta de ter... a primazia”. Desterrado provisoriamente  na ilha de Patmos pelo imperador Domiciano, admite-se haver composto nesse período o Apocalipse, livro de visões místicas (Apokalypsis”, revelação). 
5. Judas Iscariote, assim mencionado em Mateus, 10:4; Marcos, 3:19; Lucas, 6:16; João 12:4; Atos dos Apóstolos, 1:16 como Judas simplesmente. Filho de Simão Iscariote (João, 13;2), da cidade de “Carith” (variantes “Kerioth”, “Kareiât”, talvez “Kiriathaim”, “Kreiat”), citada em Jeremias e em Amós (respectivamente 48:24, 41 e 2;2). Tesoureiro ou caixa da comunidade apostólica, cujos escassos proventos se destinavam a esmolas. Transportava o saco alongado (bolsa), que habitualmente israelitas atavam à cinta, para recolher pecúnia (João, 12:6; 13:29). Como “amigo” no momento culminante qualificou-o Jesus (Mateus, 26;50 ), que a todos envolveu no manto de perdão (Lucas, 23:34), por não saberem o que faziam.





01 'Os Apóstolos'




Os Apóstolos             Parte 1

por Roberto Macedo




            Congregou Jesus, em torno de si, doze apóstolos diretos: André, irmão de Pedro; Bartolomeu (Natanael?); Filipe; João (Boanerges) Evangelista, irmão de Tiago maior; Judas Iscariote;  Mateus (Levi), irmão de Tiago menor?; Pedro (Simão, Cefas); Simão cananeu, o Zelador ou o Zeloso; Tadeu (Judas Tadeu); Tiago (Boanerges) ou Tiago maior, filho de Zebedeu; Tiago menor,   filho   de    Alfeu   e   Tomé (Dídimo).
            Incumbidos de predicar o Evangelho ou Boa Nova, cada qual se imortalizou como enviado ou “apóstolo” (do grego “apóstolos”, pelo latim “apostolu”).
   Escassas fontes autênticas fornecem, fragmentariamente, a ordem da vocações. Faltam elementos para o quadro integral, em dispositivo cronológico inteiriço. Daí recorrermos à enumeração alfabética, contornando assim um dos obstáculos. Outros subsistem:

a)  - Homonímias, Alterações, Supressão e Acréscimo de Personativos.
b) -  Incerteza Relativa nos Graus de Parentesco.

Homonímias:

- Judas (Iscariote) e Judas (Tadeu), de onde simplesmente Tadeu para o segundo;
- Simão, verdadeiro nome primitivo de Pedro, e Simão Cananeu, o Zelador;
 - Tiago, filho de Zebedeu e Tiago, filho de Alfeu, diferençáveis por filiação conhecida ou ainda pelo recurso prático, algo inadequado, de “Tiago maior” e “Tiago menor”.

Alterações:

 - Simão Barjona ou Simão, filho de Jona, por Jesus camado “kepha” em dialeto (“pétra” em grego, “Petru” em latim), como Pedro ficaria universalmente consagrado, inclusive na memória popular e na própria Igreja do Vaticano (ver  O Evangelho segundo João, 1:42);
 - João e seu irmão Tiago (maior), por Jesus chamados Boanerges, “filho do trovão” (Marcos 3:17), nem sempre se mencionam como João Boanerges e Tiago Boanerges, antes João Evangelista e Tiago maior, distintos assim de João Batista e do outro Tiago;
- Mateus, anteriormente Levi, só após a vocação, mudou de nome, hoje tradicional (Marcos, 2:14; Lucas, 5:27);
-  De Judas Tadeu freqüentemente se elimina “Judas”, mantido não obstante na designação de santo (São Judas Tadeu), mais correntio que São Judas ou São Tadeu; - Tomé também era conhecido como Dídimo (João 11:16), mas a linguagem popular parece inconciliada com o personativo e prefere, no caso, lançar mão de ingênua perífrase (“o que quis ver para crer”).

Supressão, Acréscimo (aparentes):

  - Traduções autorizadas do Evangelho segundo Marcos (3:18) eliminam Tiago menor e, em seu lugar, inserem Jacob, reconstituído o grupo de doze. Supressão de Tiago menor? Acréscimo de Jacob? Argumentos não acomodatícios fornecem invulnerável resposta, ao amparo concomitante da etimologia e da filiação:
a) - Tiago provém da locução “Sant’Iago”, sendo forma  divergente de Jacob (Iakov);
b) - Quer Tiago, quer o suposto Jacob, em todos os evangelistas se identificam com o “filho de Alfeu”  (Mateus 10:3; Marcos 3:18; Lucas 6;15; Atos dos Apóstolos 1:13). Jacob é pois Tiago menor. Na variante de elementos mórficos, permanece una à pessoa física. A rigor, nem supressão, nem acréscimo. Divergência não houve, senão aparente, embora toleráveis em Marcos deslizes desse tipo. Não presenciara tudo quanto narrou. Recolheu informação de Pedro, este como aquele imbuído de inspirações, porém, não discípulo direto. Em resumo, feita honesta ressalva, não subsiste conflito entre evangelistas, quanto à enumeração dos apóstolos; se subsiste, estaria apenas a unanimidade lacerada por um dos evangelistas, restritamente acerca de um dos apóstolos (sobre Natanael, ver adiante “Especificações e Referências”, 2).

Incerteza Relativa em Graus de Parentesco:

O Evangelho segundo Marcos (2;14) aponta Levi, ou seja, Mateus, como filho de Alfeu. Irmão portanto de Tiago menor (ver Mateus 10:3;  Marcos 3:18; sob a forma divergente “Jacob” - Lucas 6:15; Atos dos Apóstolos 1:13).
Ora, esse mesmo Tiago menor, filho de Alfeu, costuma ser designado, sem maior exame, como “irmão de Jesus” (Mateus 13:55; Marcos 6:3).
Ressaltamos, de passagem: raramente, os textos evangélicos especificam familiares do Cristo
(Mateus 12:46;  Marcos 3:31, 32;  Lucas 8:19,20; João 2:12; 7:3,5, 10; Atos dos Apóstolos, 1:14).
Logo, se as interpretações literais aceitassem Mateus como irmão de Tiago menor e este como irmão de Jesus, resvalariam talvez, inadvertidamente, em argumento problemático dos mais melindrosos: Mateus, irmão de Jesus  (ver adiante “Especificações e Referências”, 11).
Sim, no sentido espiritual , porque filhos do mesmo Criador. Não, no sentido carnal, posta de lado a questão transcendente, porque estudos históricos e semânticos esclarecem:
a) - avezaram-se povos orientais a empregar “irmão” no sentido de “parente”;
b) - documentos vetustos fornecem filiações legendárias, em ritmo salteado;
c) - “Irmão” no sentido de “neoconverso” já tinha curso naquela época. Demonstra-o a própria Bíblia. Quando o Velho Testamento, referindo-se a Abraão, informa ser ele “tio de Lot” (Gênese 11:27,30), nem por isso deixa de recair no uso oriental e passa, repetidamente, a definir como “irmãos” o sobrinho e o tio. (Peço-te que não haja rixas entre mim e ti... porque somos irmãos um do outro”, ib., 13;8 - e assim se separaram os dois irmãos um do outro”, ib., 11; 
- “Abraão, tendo ouvido que Lot, seu irmão, ficara prisioneiro...”, ib., 14:14;
- “E recobrou... a Lot seu irmão...”, ib., 17.). Com relação a outras personagens, consulte-se Gênese 24:5; Tobias 7;4 e 8:9; Levítico 25:48; Deuteronômio 2:4,8 etc.
Genealogia e seqüência não inteiriça: “Jorão gerou a Ozias”, assevera-se no Evangelho segundo Mateus, omitidos três ascendentes. Oconias, Joás e Amasias, este sim, pai carnal de Ozias (Paralipômenos, Livro Segundo, 22:1; 27:1,27; 25:1; 26:1). O Rei David, remoto ascendente de Amasias, é dado como seu pai em Reis, Livro Quarto, 14:3. Neoconverso, como irmão, insere-se na Epístola de Tiago menor, dirigida às “doze tribos que estão dispersas”  (1:2).

Fim da primeira Parte

Sobre o Autor:

 Roberto Macedo nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1904 e desencarnou em 1978. Foi espírita convicto, tendo sido, por vários anos, membro do Grupo Ismael, da FEB. Bacharel em Direito, Professor de História Geral, jornalista, diretor do Departamento de História e Documentação do, então, Distrito Federal. Pertenceu à ABI, à IHGRJ, à Academia Carioca de Letras, ao IHGSP, ao Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambucano, ao Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, ao Instituto Genealógico Brasileiro, à Sociedade Capistrano de Abreu. Deixou rica bagagem de obras sobre a História pátria. Publicou apenas uma obra de caráter espírita, o Vocabulário Histórico - Geográfico dos Romances de Emmanuel, em 1960, de onde extraímos o trecho acima. artigo. O ‘Vocabulário Histórico - Geográfico dos Romances de Emmanuel’ (FEB) é obra recomendável a todos os que desejem formar um acervo de livros espíritas de qualidade. 

terça-feira, 15 de março de 2011

E por falar em Judas... Uma coletânea de textos sobre Judas Iscariote - Parte 1




Inicialmente, cabe inserir Judas no contexto bíblico e falar de suas origens. Assim, leiamos a Roberto Macedo:

Os Apóstolos
por Roberto Macedo
Vocabulário Histórico Geográfico  dos Romances de Emmanuel( FEB)

            Judas Iscariote, assim mencionado em Mateus, 10:4; Marcos, 3:19; Lucas, 6:16; João 12:4; Atos dos Apóstolos, 1:16 como Judas simplesmente. Filho de Simão Iscariote  (João, 13;2), da cidade de “Carith” (variantes “Kerioth”, “Kareiât”, talvez “Kiriathaim”, “Kreiat”), citada em Jeremias e em Amós (respectivamente 48:24, 41 e 2;2). Tesoureiro ou caixa da comunidade apostólica, cujos escassos proventos se destinavam a esmolas. Transportava o saco alongado (bolsa), que habitualmente israelitas atavam à cinta, para recolher pecúnia (João, 12:6; 13:29). Como “amigo” no momento culminante qualificou-o Jesus  (Mateus, 26;50), que a todos envolveu no manto de perdão (Lucas, 23:34), por não saberem o que faziam.”

            Passamos a palavra a Amélia Rodrigues aproveitando fragmentos de seu texto sob  título:

Arrependimento 
Tardio

            ...Antes de aparecer às mulheres que foram ao túmulo vazio, Jesus descera às regiões penosas do mundo inferior ao qual se arrojara Judas invigilante.

            Debatendo-se na constrição psíquica do laço que o enforcara e sob a truanesca zombaria daqueles espíritos que o estimularam à tragédia, tornara-se o símbolo da suprema desdita.

            No aturdimento ímpar, sem poder ver o amigo Divino, sentiu, momentaneamente, atenuarem-se-lhe as dores e a loucura, e ouviu-Lhe a voz dúlcida nos refolhos do ser:

            “-Judas, sou Eu! Confia e espera! Ainda há tempo. Nenhuma de minhas ovelhas se perderá. Perdoa-te o ultraje, a fim de que te possas libertar da culpa e recuperar-te. Acende a candeia da esperança e a sombra cederá. Recorda o amor, de modo que a paz se te aninhe no coração. Nunca te deixarei nem te condenarei. Hoje começa época  nova  e  amanhã  é  o  dia  da  vitória.  Repousa um pouco, pois os milênios te aguardam e Eu também estarei esperando por ti.”

            Suavizado o sofrimento pelo reconforto da Presença, Judas adormeceu por um pouco, adquirindo forças para as futuras expiações redentoras.
Amélia Rodrigues
por Divaldo Franco em “Trigo de Deus”