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terça-feira, 10 de agosto de 2021

Simplesmente Maria...

 


Segui a Jesus, 

caminhando pelas sendas que vos traçou, 

quando desempenhava a sua missão terrena.

domingo, 9 de maio de 2021

Dia das Mães!

 



 “- Glória ao excelso Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade.”

            Salve... data preciosa!

            Salve...  Jesus de Nazaré!

            Salve... oh! Doce Virgem, Mãe do meu Senhor!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A virgem chamava-se Maria...


A Virgem chamava-se Maria...”

                Mais uma vez, em mais um dezembro, proponho-me à disquisição da mais bela angulação da Marialogia: a maternidade virginal daquela que teve por missão receber Jesus nos braços. Tenho escrito já sobre o  fenômeno da “pseudociésis” segundo o qual se processa, em determinadas mulheres, todo o ciclo da gestação, não obstante o útero se lhes conservar vazio. Tenho explicado que o fenômeno é de natureza psíquica, podendo ser provocado por auto sugestão consciente, por auto-sugestão inconsciente e, ainda, por sugestão dum agente exterior, como por exemplo um hipnotizador, um magnetizador ou um Espírito desencarnado. Tenho demonstrado, apoditicamente, que os casos de “pseudociésis” não são tão raros quanto se possa supor e que as clínicas ginecológicas os catalogam com muita frequência. Bevin e Klinger estudaram 444 casos em suas clínicas. Tenho lembrado que a Medicina oficial faz questão de ignorar a última causa por mim enunciada, isto é, a “pseudociésis” provocada por Espíritos desencarnados; mas vê com muita naturalidade as demais causas. Tenho registrado casos remotos e casos recentes, aqueles retirados da própria literatura clássica do Espiritismo Científico, como as pesquisas de Gustave Geley relatadas em “Les Vies Successives” (vide “Reformador” de dezembro de 1969, pág. 286), e estes, retirados de obras modernas, como o caso narrado em “Instruções Psicofônicas”, de Francisco Cândido Xavier (idem, ibidem). Tenho tentado explicar ao leitor intransigentemente contrário a Roustaing que Maria sofreu precisamente os efeitos dum completo processo de “pseudociésis”, não apenas por auto-sugestão (cientificada que fora por antecipação de que daria à luz um messias), mas também por sugestão e influenciação (e proteção) dos Espíritos Superiores que a assistiram e a envolveram magneticamente desde o primeiro momento em que se decidiu a contribuir na gloriosa missão do Cristianismo.

                Agora, em mais este dezembro, retorno ao mote para ilustrá-lo com novos elementos de comprovação a tudo quanto tenho dito. É claro que, desconhecendo a gênese e a síndrome do fenômeno, as aparentes gestantes sempre fizeram dele motivo de multifárias interpretações. A ignorância cria lendas, fantasias, até pretensões desmedidas, com a suposição de se estar na iminência de gerar um outro Cristo, etc. (leia-se, a propósito, “Führer, Schwãrmer und Rebellen», de René Fulop Miller, 1891; em português: “Os Grandes Sonhos da Humanidade”, tradução dos Drs. René Ledoux e Mário Quintana). A mulher que ignora a existência da “pseudocíésis” não entende como possa estar grávida sem ter nada no útero. E quando se trata de mulher solteira, ainda paga o amargo risco de ser acusada de leviana e impudente. Por seu turno, a Medicina não quer saber da explicação espírita e leva tudo à conta de histeria, desdobrada em duas hipóteses: a “pseudociésis” propriamente e a “falsa timpanite histérica”. Na primeira hipótese temos o quadro duma gravidez típica, com toda a sua sintomatologia, apenas ausentes, de fato, a fecundação e o feto. Eis aqui, então, a “falsa gravidez”, a “gravidez fantasma”, “gravidez nervosa”, “gravidez aparente”, “gravidez espúria”, “gravidez histérica”, enfim, a “pseudociésis”. Todos esses nomes são sinônimos. Na segunda hipótese temos a simulação histérica do quadro da chamada gravidez atípica, quando a sintomatologia ultrapassa os nove meses, desaparece, reaparece, prolonga-se mais ou menos, tudo subordinado à auto sugestão da mulher.

                Colocado o problema em termos de histeria é claro que para nós, espíritas, crentes ou não de Roustaing, ele não nos interessa nem nos aquenta, pois à mesma conta a Medicina coloca a mediunidade, a incorporação sonambúlica, o próprio Espiritismo. Aliás, a tese da histeria, além de infundada, está, inclusive, bastante superada para muitos dos próprios médicos. Afirmar, ainda hoje em dia, que um médium é histérico é o mesmo que nada afirmar, porque já ninguém empresta crédito a tamanha tolice. Por outro lado, é de se notar que mesmo os mestres da Medicina andaram sempre se desentendendo em torno dessa anomalia. Lasêgne e Joseph Grasset (“Maladies du Systême Nerveux”, 1879) diziam que “a definição de histeria nunca foi e nem será dada”, enquanto Paul Hartemberg (“Les Timides et Ia T'imidité”, Paris, 1901) via na histeria “uma das maiores ilusões da Medicina”.

                Ignoremos, pois, essa causa (a histeria) e suas controvérsias médicas. Concedamos, como bastante, que o fenômeno existe, é real e registrado clinicamente, apresentando duas facetas: características próprias da “falsa gravidez” (“pseudociésis”) e características próprias da timpanite ou falsa timpanite. Se, como Discutem ainda alguns médicos, são de natureza histérica ou não, isso não nos importa, porque, conforme já disse, a histeria, na escola espírita, está mais do que desmoralizada.

                Cabe apenas esclarecer aqui que timpanite é o simples estufamento do ventre, muito comum aliás em números circenses. Essa distensão pode ser, gasosa ou não, total ou parcial. E falsa ou pseudo timpanite histérica é aquela provocada por auto sugestão consciente ou inconsciente. Resumindo essa sutil diferença: a “pseudociésis” é uma falsa gravidez que segue o quadro normal de toda gravidez, exceto quanto à existência dum feto real no útero; a falsa timpanite é uma falsa gravidez que desobedece ao ciclo normal da gestação, podendo aparecer e desaparecer a qualquer tempo, desenvolver-se a menos ou a mais de 9 meses. A primeira é sempre inconsciente; a segunda pode ser consciente ou inconsciente. A primeira é típica da mulher que se engana; a segunda é geralmente típica da mulher que engana. Uma falsa timpanite pode acabar originando uma “pseudociésis”; mas isso é assunto mais complexo que não me parece oportuno ser tratado aqui. O que a mais ainda valeria assinalar é apenas que tanto num caso como noutro “extremamente difícil é o diagnóstico”, conforme afirma o Dr. Clóvis Correia da Costa, no seu livro “Lições de Clínica Obstétrica”, 5ª edição revista e aumentada, Rio, 1953. E, na opinião de Joseph Bolivar De Lee e Jacob Pearl Greenhill, o diagnóstico “engana a habilidade diagnóstica de hábeis cirurgiões e parteiros os mais competentes» (“Tratado de Obstetrícia”, tradução dos Drs. A. Vespasiano Ramos e Ivan Távora Gama, Rio, 1950).

                Agora trago para o leitor alguns casos de “pseudociésia”  muito famosos, que se acham reproduzidos em diversas obras especializadas, cada qual mais interessante que o outro. Um desses casos - absolutamente verídico e dos mais célebres - ensejou inclusive a produção de excelente filme, exibido há cerca de 5 anos nas telas nacionais e intitulado “Madre Maria dos Anjos”. É a história dramática da Irmã Santa Maria dos Anjos, superiora do Convento das Ursulinas, em Loudon (no Malaui). Tinha alucinações, profundas crises nervosas, alegando que se aproximava dela, nesses momentos, o demônio, sacudindo-a e levando-a a víolentíssimas convulsões. Astarot (o demônio) acabou induzindo-a a crer que estava grávida dele e de tal maneira exerceu influência nesse sentido sôbre a pobre mulher que ela entrou em processo sugestivo (ou magnético?) de falsa gravidez. Paul Louis Edouard Maurice Fleury, na sua “Introduction à Ia Médecine de l'Esprit”, pág. 935, conta que para cessar o escândalo foi necessária a intervenção de Laubardemont, que disse a Richelieu: “É coisa estranha que lhe apareçam sinais de gravidez nos vômitos contínuos, nas dores de estômago, nas serosidades esbranquiçadas que lhe saem do seio”. Como é sabido, Maria dos Anjos foi perseguida, injuriada, caluniada, até flagelada devido à sua situação.

                Em seu “Manuel Complét de Médecine Légale” (“Résumé des Meilleurs Ouvrages Publiés”), Paris, 1846, os Drs. Joseph Briand e Ernest Chaudé narram 5 outros casos semelhantes. Num convento, perto de Toulouse, na França, três irmãs apresentaram sintomas de gravidez, permitindo isso que duvidassem da sua castidade. Um médico parteiro, chamado ao convento, diagnosticou a gestação. Elas foram expulsas e, decorridos 9 meses, as crianças não nasceram. Uma delas acabou morrendo. Abriram-lhe então o ventre e verificaram estar vazio. Em outra cidade, uma jovem já sentia até os movimentos do feto em seu útero. Os Drs. Boudeloque e Lorr foram chamados, tendo este último confirmado a gravidez. Mais tarde verificou-se ser uma simples ”pseudociésis”. Finalmente há, naquela obra, narrado o caso duma princesa alemã que, vendo os seios e o ventre crescerem, procurou um parteiro de renome. Este diagnosticou a gravidez, e a princesa preparou todo o enxoval do futuro bebê. No nono mês, um belo dia, saiu-lhe do útero grande porção de água. Era uma hidropsia uterina, com toda a sintomatologia da “pseudociésis”.

                Carl Schroeder, por seu turno, expõe no “Manuel des Accouchements” (1875), três casos não menos interessantes. Num deles o parteiro já se havia decidido, ante a demora, a praticar a craniotomia (retirada da criança morta aos pedaços), ou a cesariana, se estivesse ainda viva. Mas nada foi preciso, porque acabou verificando que não havia criança nenhuma ...

                Vejamos agora 2 exemplos catalogados pelo renomado Hippolyte Bernheim, ilustre professor da Faculdade de Medicina de Nancy, autor de respeitáveis obras sobre o assunto, dentre as quais: “Hypnotisme, Suggestion, Psychotherapie” (1891) e ”Hypnotisme & Suggestion” (1910).

                M. B., de 26 anos, em 4 anos de casada nunca tivera filhos. Um dia cessou-lhe a menstruação, o ventre cresceu e ela ficou muito feliz com a confirmação da parteira: seria mãe. No nono mês, porém, a criança não nasceu. Nem no 10º. Nem no 11º. Chamaram Rivière, que não teve dúvidas em diagnosticar a “pseudociésis”, “provocada pelo desejo ardente de ter filhos”. Decepcionada, a «mãe» viu seu ventre abaixar
quase que instantaneamente ...

                Mme. de Ia P., com 42 anos, anotou em si todos os sinais característicos da gravidez. Ao término da gestação a parteira e o médico aguardaram o momento crítico. Não veio. Passaram-se 30 dias até que o mesmo Rivière foi chamado e diagnosticou novo caso de “pseudociésis”. O ventre da mulher baixou imediatamente.

                Gustave Joseph Witkowski publicou em 1892 um livro intitulado “Anecdotes et Curiosités sur les Accouchements”. É dele o seguinte caso: “O Procurador de Paris, após receber inúmeras cartas anônimas contra Celina B., fez instaurar inquérito por ter ela assassinado o “fruto do seu pecado», de cumplicidade com o amante. Apesar de pretextar inocência, Celina quase foi parar na prisão, pois a própria irmã testemunhou contra ela afirmando que estivera real e visivelmente grávida. Contudo, o exame pericial requerido constatou esterilidade, concluindo assim o relatório: “Gravidez ilusória sob império de alucinações dum psiquismo acometido de monomania”.

                Outro caso igual se passou com Adele C., sendo apenas que esta não se livrou da condenação. Depois de 4 anos de reclusão o inquérito foi reaberto. Uma enfermeira do Hospital Tenon testemunhou a mania de Adele de se passar por grávida e um laudo com cinco assinaturas confirmou esse testemunho, concluindo-se pela gravidez histérica.

                O mesmo Gustave Joseph Witkowski reproduz ainda as palavras de Mme. Junot, esposa de Junot, homem de confiança de Napoleão Bonaparte, quando ela diz que já estava no 5° mês de gestação e, ao viajar ao encontro do marido, no trem, o ventre abaixou completamente, enquanto a sua empregada ria a valer. Diante do fato ela procurou o Dr. Magnien, que lhe diagnosticou uma “gravidez ... de vento” (timpanite).

                Axel Martin Fredrik Munthe, à pág. 253 do seu popularíssimo “Boken om San Michele” (“O Livro de San Michele”), tradução de Jayme Cortezão, Porto Alegre, 1938), romanceou um caso verídico de gravidez histérica que lhe caiu nas mãos. Ele fora procurado pela viúva do reverendo Jonathan, falecido há mais de 10 anos, que lhe confessou estar grávida. Examinando-a, viu tratar-se de simples simulação de gravidez, advinda, muito provavelmente, do desejo de justificar sua esterilidade, pondo a culpa no reverendo Jonathan, que falecera já octogenário, de encefalomalácia (amolecimento cerebral). Axel Munthe contestou a gravidez, e a cliente, revoltada, trocou de médico. A colônia inglesa dividira-se em dois campos, após ouvir a opinião do Dr. Pilkington. Um dia o caso se deslindou... A criança não nasceu, muito menos os gêmeos prognosticados pelo abalizado Dr. Pilkington.

                O Dr. Frederic Loomis, em “The Bond Between us” (“Novas Confissões dum Médico de Senhoras”, tradução do Dr. Elias Davidovich, Livraria O Globo, 1944), pág. 89, narra:

                “Um dia trouxeram-me uma mulher na iminência de dar à luz. Parecia tratar-se de gêmeos, tal o volume do ventre. Percutindo-o, era mais timpânico (de tambor, de gases) do que maciço (de criança, duro). O tamanho do útero também era abaixo do normal. Disse à minha cliente, sob protestos injuriosos, que não ia ter filhos. Uma radiografia tirada não deu feto algum. Ainda assim só se convenceu após anestesia pelo éter que fez com que o ventre baixasse ao normal, ficando chato como uma panqueca”.

                No seu livro “Lições de Clínica Obstétrica”, aqui já citado, Clóvis Correia da Costa conta o caso duma senhora idosa que se sentiu grávida e, já no 8º mês, com perdas sanguíneas, teve de repousar a fim de não perder a criança. Esta já se mexia muito. O médico, porém, estranhou que nunca ouvisse batimentos fetais. “Já no segundo exame desconfiamos e da desconfiança fomos a um exame melhor e à certeza de tratar-se de gravidez imaginária. Aconselhamos radiografia que não foi feita. Lá um ia, dores violentíssimas prenunciaram o parto, e como não se dilatasse o colo, outro colega, pois estávamos de viagem, pela radiografia, confirmou o nosso diagnóstico; a parturiente nunca esteve grávida, pois”.

                Napoleão Teixeira, em ”Gravidez Imaginária” (Contribuição ao Estudo da Pseudociese do ponto de vista Médico-Legal), separata da “Publicações Médicas", n." 175, fevereiro de 1950, SP, descreve:

                “Em abril de 1946, uma senhora com seu filho único já adolescente entrou em nosso consultório. Tinha grande desejo de ter um filho que viria rearmonizar seu lar, pois não era menor o desejo do marido nisso. A cliente era filha de pais excessivamente nervosos. Enfeitam seus antecedentes convulsões, paralisias, etc. Faltaram-lhe as regras num mês e noutros seguintes. A criança já tinha movimentos. O enxovalzinho foi confeccionado com carinho e a família ficou à espera da festinha. No fim dos nove meses, dores violentas prenunciaram que o momento do parto era chegado. Mas as cólicas apareciam e reapareciam e nada de nascer a criança. O marido, já desconfiado, levou-a a um psiquiatra, deste voltou ao obstetra com o diagnóstico de falsa gravidez. Já ostentava a nossa cliente o mais belo dos perfis. O ventre de nono mês estava normalíssimo”.

                Existe, também, nos anais da crônica médica brasileira, um caso que é dos mais extraordinários e que ficou famoso por volta do ano de 1948, na cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais. Os jornais e revistas da época muito se ocuparam do assunto, em especial o Dr. José Ayres de Paiva, talentoso médico que a respeito publicou interessante diagnóstico médico, muito bem fundamentado, a fim de demonstrar que o fenômeno nada tinha de sobrenatural, como pretendiam a causadora, a imprensa, os místicos e a crença popular. Tratava-se de Jandira Gonçalves Pereira, que chegou a publicar um livro intitulado “Almas Gêmeas”, no qual confessava sua crença de que daria à luz outro Cristo, mediante “acumulação fluídica” (mesmo processo descrito por Roustaing relativamente a Jesus), já que não tinha motivos para aceitar que houvesse concebido normalmente. A paciente e autora fala em “turbilhão de emoções e sensações
desconhecidas que, de repente explodem, sem que possamos controlar” (pág. 13). “Sentia que do quadril para baixo eu estava paralisada” (pág. 26). “Meu ventre cresceu como uma gravidez de 4 meses, em 7 dias” (pág. 27). “Comecei a ter leite, as glândulas mamárias se desenvolveram como no estado geral das gestantes” (pág. 27). Do matutino paulista “O Dia”, de 20-04-1948, e do “Diário de Minas”, de 12-02-1953, recolho mais os seguintes detalhes:

                 “Em janeiro de 1948, antes do início da primeira acumulação fluídica, surgiram-me chagas em ambas as mãos, as quais, doendo fortemente, sangraram durante 15 dias”. “Tenho amenorreia, movimento fetal, desejo, medo, agitação nervosa, tudo isso eu tenho”. “Anunciou a gravidez fluídica para daí a 7 dias e efetivamente a 27 daquele mês teve início o fenômeno. Seis meses após processou-se o funcionamento das glândulas mamárias. Em novembro do mesmo fui avisada, pelo mentor, que o que eu tinha no ventre não era feto, mas apenas fluidos”. “A primeira gravidez fluídica deu-se em 27 de abril de 1948, durante 15 meses. Naquele período foram tiradas chapas radiográficas, confirmando a gravidez fluídica. Não encontraram os médicos elemento de gravidez material ou comum. O segundo período de 8 a 14 de junho de 1950. O terceiro, de 8 a 18; o quarto, de 8 a 23 de março de 1951 e, este, cuja duração não se pode prever”. “O leite na primeira manifestação surgiu ... mas depois o meu seio tem-se colocado em posição inalterável”. “Porque se trata de fluidos, por conseguinte não pode haver presença fetal”, “Uma vez sentia as pernas inchadas... amenorreia, movimento fetal, desejo, agitação nervosa. Tudo isso tenho”. “No dia 27, qual não foi minha surpresa ao notar o crescimento do ventre.”

                O Dr. José Ayres de Paiva, que estudou exaustivamente o caso, diagnosticou-o à pág. 16 do seu livro “Mães de Jeovás”, nos seguintes termos:

                “A falsa gravidez histérica está aí, acima, confessada de maneira ampla, clara, insofismável. Trata-se de uma gravidez histérica!” “o mecanismo da distensão abdominal de D. Jandira Gonçalves Pereira é exatamente o mesmo dos casos de falsa timpanite histérica relatados por Bernheim, isto é, por auto sugestão consciente ou inconsciente, prolaba ou distende a cúpula diafragmática para dentro da cavidade
abdominal, baixando o fígado e empurrando as alças intestinais para baixo e para a frente”.

                Ao final do seu trabalho, o autor, que inclusive - o que, no caso, é muito compreensível - procura demonstrar que o fenômeno de Jandira Gonçalves Pereira nada tem de sobrenatural ou de origem fluídica, apresenta algumas conclusões essenciais, dentre as quais: Esses fenômenos “são naturalíssimos, encontram cabal explicação à luz da medicina” (pág. 23). “Versam matéria médica e não mística” ( pág. 23). “Tais casos enquadram-se na psiquiatria, no capítulo da histeria, com ou sem delírios episódicos”. “Já existiram muitos outros ( ... ) na história da medicina psiquiátrica e obstétrica, e na medicina romanceada”. “Todos esses casos são de falsa gravidez ou de falsa timpanite histérica, inclusive o de D. Jandira Gonçalves Pereira” (pág. 24).

                Restaria apenas, antes das minhas considerações finais, transferir ao leitor a explicação fornecida por Hippolyte Bernheim, citando seu colega Talma d'Utbecht, para a mecânica do fenômeno:

                “Talma achou um ventre grande, timpânico, duro. Durante o sono, fica distendido um pouco menos. A respiração é quase exclusivamente costal, alta. O cateterismo gástrico pela sonda dá poucos gases. Durante a anestesia, de costal passava a respiração acosto-abdominal. Depois da anestesia, quando o ventre vai timpanizar-se, constatam-se 4 a 5 inspirações exclusivamente abdominais, sem relaxamento expiratório até quando o ventre volte ao normal. O diafragma não se relaxa, a respiração é puramente costal. O diafragma e o bordo inferior do pulmão eram muito baixos, na linha axilar, ao nível da décima costela. Sob clorofórmio, baixa o ventre e sobe o fígado. As observações de Talma coincidem com as minhas com relação ao mecanismo que produz as falsas timpanites, isto é, o abaixamento diafragmático, de origem essencialmente psíquica, por auto sugestão, constitui o mesmo mecanismo da falsa gravidez histérica”.

                Bem, aí está, meu caro leitor, toda a história da “pseudociésis” e da falsa timpanite histérica. É história provada e comprovada, exceto - como já frisei - quanto à origem histérica, que não apenas é controvertida entre os próprios médicos, como de resto, nós, os espíritas, a desprezamos completamente. No mais, a história é tão antiga que dela já falava Hipócrates, o Pai da Medicina, em seus “Les Aphorismes”:

                “Quando uma mulher que não está gravida, nem convalesce de parto, tem leite, suas regras estão suspensas” (cap. V, § XXXIX) e “numa mulher o afluxo de sangue às mamas pressagia a mania» (cap. XL).

                Ao encerrar este artigo, depois de transcrever tantos casos a respeito, quero referir o mais importante de todos, o mais grave, o mais sério, o mais altanado, o mais sublime caso de “pseudociésis» que a humanidade conhece e que difere dos demais porque revestiu características carismáticas e culminou de forma diferente: ao término do processo, materializou-se, ao lado da parturiente, a figura dum agênere... Leiamos com amor e emoção a belíssima narrativa desse caso singular:

                “No sexto mês foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve! agraciada; o Senhor é contigo. Bendita és tu entre as mulheres. Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. Então disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus. E Isabel, tua parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o sexto mês para aquela que diziam ser estéril. Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas. Então disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra. E o anjo se ausentou dela. Naqueles dias, dispondo-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá, entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; então Isabel ficou possuída do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre” (Lucas, cap. I, vers. 26 a 42).

                Em mais este dezembro, agradeço-te, Maria, a abençoada claridade que permitiste entrar em meu coração, alijando-me do raciocínio terríveis dúvidas do passado e conduzindo-me, através de Roustaing, a entender-te o papel sublime junto ao Cristo, de mãe amorosa e desprendida, realmente sem mácula, não obstante o “nascimento” de teu filho, sendo José de avançada idade ...

por Luciano dos Anjos
Reformador (FEB) Dezembro 1970

domingo, 8 de maio de 2011

20 c Célia


20

IV.       Há uma referência feita por Joseph-Marie Sauget a um São Marinho, chamado o Velho, festejado no dia 8 de agosto e que morreu em 290. Baseado em documentos antigos, o mártir, escreve Sauget, teria residido em Anazarba, cidade da Cilícia, na Ásia Menor, região onde os cristãos seriam batidos pelos sarrecenos em 1190.
            Preso porque aceitava o Evangelho de Jesus, ao tempo do Imperador Diocleciano, foi transferido para Tarso e colocado à frente do governador Lísias. Pela recusa em prestar sacrifícios aos ídolos, foi torturado e condenado à morte por decapitação, fora da cidade. Se corpo foi jogado, após, às feras.
            Esse autor faz também alusão aos mártires Frontone, Secondino e a outro Marino, ligados à região de Antióquia. Confessa, entretanto, serem escassas as notícias sobre eles.

V.        De acordo com a tradição, no início do século IV, para fugir das perseguições que se moviam aos cristãos da época, um talhador de pedra chamado Marinus (310-395), alsaciano de origem, chegou ao monte Titano, nos Apeninos, e ali começou a explorar as pedreiras da região. Marinus, criatura muito piedosa, acabou por converter ao Cristianismo a proprietária das terras, tendo, igualmente, curado seus filhos, há muito enfermos. Como recompensa, recebeu de presente as terras que circundam o monte, aproveitando-as para ali criar uma comunidade cristã. Por volta do ano 755, já se falava do ‘Castellum Sacti Marino’. Em 855, o mosteiro do monte Titano era mencionado em documentos. E, com o tempo, à volta dele se reuniu e desenvolveu uma população organizada que deu origem à Republica de São Marinho, o mais antigo país republicano na Europa e o menor do mundo, situado ao Norte da Itália.
            É comemorado a 4 de setembro.

VI.      A menção de Philippe Roillard a uma biografia de São Marinho, escrita no século VI, pelo nobre Dinamio, não vem acompanhada de muitos informes. Nascido em Orléans, França, teria entrado para a vida monástica de sua própria cidade natal, sendo eleito primeiro monge do convento de Bodon ou de Val-Benoit, na diocese de Sisteron, eleição confirmada pelo bispo Giovanni. Pouco antes de morrer, recebeu a visita de Lucrécio, bispo de Die, a ele comunicando que os bárbaros haviam invadido a Itália e destruído seu convento.            
            Foi morto no dia 27 de janeiro do ano 550.

VII.      No século XII vamos identificar outro São Marinho, monge dos Tirrenos e eleito pelo governo da abadia de Cava, em 9 de julho de 1146, um mês após a morte de seu antecessor, o beato Falcone. Permanecendo no cargo durante 24 anos, cuidava do vestuário dos companheiros, bem como zelava pelas relíquias do convento, incluindo sua documentação. Esses dados nos são fornecidos por Giovanni Mongelli, apoiado em obras da literatura francesa e italiana.

VIII.    De acordo com Alfonso M. Zimmermann, há uma história destacando duas figuras de mártires na Baviera: Marinho e Aniano, ambos mortos pelos bárbaros. Os corpos dos dois foram solenemente transladados por volta de 755, pelo bispo Guiseppe de Frisinga para a Igreja de Aurisium.

IX.       Chamados na Alemanha “santos peregrinos”, Marino, Vímio e Zímio viveram provavelmente na segunda metade do século XII como eremitas no vale do Altmühl, nos arredores de Dietfurt. Todos os três depois da morte foram venerados pelo povo como santos - esclarece Minoka Kornstedt.

X.        A Bibliotheca Sanctorum (Istituto Giovanni XXIII - Della Pontificia Universitá Lateranense) faz ainda referências aos seguintes vultos:                   
            a) São Marinho, mártir de Eleuteropoli - trabalho realizado por Vicente Grumel;
            b) São Marinho, bispo venerado em Besalù - obra de Justo Fernández Alonso;
            c) São Marinho, mártir em Alvernia - estudo empreendido por Gérard Mathon.
           
Uma Vida Não Revelada
            A relação apresentada, embora cansativa, evidencia a multiplicidade de santos com o nome Marinho.
            Há, entretanto, na lista que a literatura católica divulga, uma omissão.
            Se a obra “50 Anos Depois” fosse aceita pela Igreja, não só ficaria completa a relação como se daria justo realce a um dos mais elevados Espíritos que têm habitado o Planeta.
            O livro que Emmanuel escreveu através da psicografia de Francisco Cândido Xavier e que a FEB lançou em 1940 é a história do Irmão Marinho. Nome que se funde com o da personagem central da obra: Célia Lucius. Nome que a Igreja - desde seus primórdios - santificou, embora os católicos não tenham dele ouvido qualquer referência.
            Escreve o autor espiritual (Emmanuel):
            “(...) A Igreja Romana lhe guarda, até hoje, as generosas tradições (...).”
            Guarda. Não divulga.
            Será porque ‘nos seus arquivos envelhecidos”, a história  não  esteja  completa  como  era  de  se almejar,  sem
detalhes da vida do Irmão Marinho, antes de entrar para o convento de Alexandria, no Egito?
            Existirá outro motivo para esta omissão?
            No último capítulo de “50 Anos Depois” (Segunda Parte), lemos:
            “Debalde procuraram investigar a origem e antecedentes da jovem mártir, para só conservarem da sua presença e dos seus feitos imorredoura lembrança, a fim de poderem, mais tarde, justificar a sua exemplificação santificante.”(Grifei.)
            Denunciam as expressões que no século II, nas proximidades do ano 145, já havia interesse da parte religiosa em colocar em relevo a figura do Irmão Marinho, ou seja, de Célia Lucius.
            É possível que o pouco que esta organização religiosa tenha em seus arquivos esteja mesmo com “(...) datas e as denominações, as descrições e apontamentos (...) confusos e obscuros pelo dedo viciado dos narradores humanos”, usando aqui as palavras do próprio Emmanuel.
            Foi por esta razão que ele se dedicou à narrativa em torno do Irmão Marinho do século II, preenchendo, desta forma, uma lacuna existente.
            E o faz com sacrifício, acredito. Porque a verdade é  que, na recordação dos fatos ocorridos naquela distante época, emocionou-se sobremodo: o resgate implacável na personalidade de Nestório; a desencarnação de Ciro - e a sua mesma - em circunstâncias tão penosas; os dramas angustiantes vividos pelos componentes da família Lucius e, mais particularmente, as provas cruciais reservadas ao coração de Célia, debaixo da condição de uma jovem jogada num mundo de maldade!
            Adentrando na narrativa, fixemos a atenção em Minturnes, cidade da Itália antiga, fronteira da Campânia. Nesse local vai a neta de Cneio Lucius encontrar um ancião conhecido pelo nome de Marinho. Trata-se, na verdade, de Lésio Munácio, “filho de antigos guerreiros, cujos ascendentes se notabilizaram nos feitos da República”. É essa veneranda figura que vai encaminhá-la como se filho fora, a um mosteiro distante de Alexandria 10 léguas, onde passará a viver com o mesmo nome do ancião de Minturnes.
            É oportuno recordar que esse ancião, embora de vida exemplar em sua localidade, não entrou em cogitação por parte da Igreja. Disso daria, naturalmente, noticia Emmanuel, como também as diversas obras consultadas quando da elaboração do presente artigo.
            Isto não ocorre com a figura do Irmão Marinho, do mosteiro, do qual guardou a Igreja - embora veladamente - “generosas tradições”.
            Os arquivos devem recordá-lo como humilde servidor.
            Quando isolado da comunidade, representa, na casinhola de um horto, o trabalho exaustivo em benefício dos sofredores.
            Sua desencarnação, em conseqüência de repetidas hemoptises, é golpe profundo para todos.
            A dor, porém, é mais aguda quando descoberta sua verdadeira identidade.
            - (...) Prestando as derradeiras homenagens ao Irmão Marinho, os religiosos do mosteiro conheceram a verdade dolorosa. Só então se certificaram de que o caluniado irmão dos pobres e da infância desvalida era uma virgem cristã, que exemplificava, entre eles, as mais elevadas virtudes evangélicas - escreve Emmanuel.

                                   ***

            Era necessário que o autor de “Há Dois Mil Anos” escrevesse, também, “50 Anos Depois”.
            Não apenas para dar continuidade à história de Pompílio Crasso, na figura sofrida de Públio Lêntulus, na roupagem de um escravo...
            A narrativa em torno de Célia, o Irmão Marinho de um morteiro do Egito, afora completar a relação dos vultos santificados pelo Catolicismo com este nome, fez luz sobre quem mesmo antes de incorporar-se a uma organização religiosa de Alexandria já era, em meio à sociedade romana, o exemplo inigualável de amor e renúncia, perdão e perseverança no Bem!
            A responsabilidade de se fazer o relato claro e fiel dessa suave figura do século II da nossa Era, desempenhou-a Emmanuel com honestidade.
            Constitui seu relato, a revelação da vida oculta de um ‘santo’ da milenar Igreja Católica!

Bibliografia

1.“50 Anos Depois”, Emmanuel, Ed. FEB.
2.“Vocabulário Histórico-Geográfico”, Roberto Macedo, Ed. FEB.
3.“A Caminho da Luz”, Emmanuel, Ed. FEB.
4. “Geomundo” e “Geoatlas”, Ed. Codex Ltda.
5. “Atlas Histórico Escolar”, MEC.
6. “Encyclopedia e Dicionário Internacional”, W. M. Jackson, Inc..
7. “Bibliotheca Sanctorum”, Istituto Giovanni XXIII.
8. “Conhecer”,  Abril Cultural Ltda.
9. “Enciclopedia Mirador Internacional”.                      
10. “Enciclopedia Cattolica”.

19 b Célia




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Uma Narrativa Comovente

            A história de Célia começa no ano 131 da nossa era, em Esmirna, cidade da Lídia, na Ásia Menor. é nesse florescente porto comercial da época, então sob o domínio romano, que vamos localizar a família Lucius: Helvídio, a esposa Alba Lucínia e as filhas Helvídia e Célia.
            Presta serviço nesse lar o antigo senador Públio Lêntulus, reencarnado na personalidade do escravo Nestório, posteriormente sacrificado, juntamente com Ciro - alma querida do coração de Célia -, em um circo, num dos repugnantes espetáculos proporcionados pelo Imperador Adriano à população.
            Helvídio é filho de Cneio Lucius, nome que tem o respeito de todo o Império, em decorrência de sua cultura e generosidade. De início o avô de Célia está ligado aos templos de Júpiter e Serápis. Mas compreenderá, em breve, as belezas das máximas de Jesus. E é esta mesma aceitação do Evangelho do Senhor que vai proporcionar-lhe condições de ser o espírito protetor da neta amada, em seus momentos de extrema aflição.
            Em Roma, que após Esmirna será a residência da família de Helvídio, surge a figura de Cláudia Sabina, personagem de influência decisiva no destino de Célia e, afinal, no de todos os familiares. Inconformada porque não é correspondida pelo amor de Helvidio, perpetra terrível plano de vingança. Através da amiga Hatéria, serviçal de Alba Lucínia, para introduzir, sorrateiramente, no lar desta, uma criança que mandara buscar na coluna lactária, no mercado de legumes - ou Forum Olitorium -, que, de acordo com a explicação de Emmanuel, era o local onde ficavam expostos, diariamente, os recém-nascidos enjeitados. Objetiva, com este plano, incriminar a pessoa da respeitável senhora.
            Célia, para resguardar o nome da mãe, embora inocente em todo esse quadro e consciente das responsabilidades que terá de assumir, admite como seu filho a criança.
            É expulsa de casa.
            Enfrenta as maiores dificuldades.
            Tem a seu lado, porém, nos momentos mais cruciais, o amorável Espírito do avô, que a conforta.
            Em Minturnes, local que mais tarde passará a chamar-se Trajetta, conhece uma figura patriarcal e veneranda que a acolhe, sugerindo-lhe, mais tarde, prosseguir viagem, oculta debaixo de trajes masculinos, até um mosteiro, perto de Alexandria, no Egito, onde se reúnem mais de quatro dezenas de cristãos  ricos, desiludidos dos prazeres do mundo.
            Passa a residir nesse mosteiro.
            Acusada e punida por uma falta não cometida, perde o privilégio de ocupar uma das celas do mosteiro e é obrigada a morar em modesta habitação não longe do convento.
            Desencarna após entregar-se a um incomparável trabalho de assistência aos necessitados, emoldurado pela renúncia do seu magnânimo coração.
            De volta à Espiritualidade, diz Emmanuel, a alma ditosa de mártir “é conduzida numa onda de luz e perfumes, aos páramos do Infinito”.

São Marinho e a Igreja

            A grafia italiana San Marino, que com o passar dos anos se internacionalizou, tem alternado, em francês, com Saint-Marin, ocorrendo também em português a expressão São Marinho.
            Um estudo que se faça em torno desse nome revela ao pesquisador não apenas uma figura centralizadora, mas vultos diversificados, em diferentes séculos e regiões, merecedores, todos, da atenção e do respeito por parte da área católica.
            Essa diversificação tem criado, no próprio seio da Igreja, muitas expressões reticenciosas, gerando, não raramente, indagações que ficam sem as devidas respostas.
            Vejamos, a seguir, o resultado de um estudo levantado entre diversos autores (Poderá o leitor apreciar o expressivo número de vultos com o nome Marinho, todos santificados pela Igreja.)

I.          Claude Boillon comenta que, na cripta da abadia beneditina de Saint-Savin-sur-Gartempe (Poitou, França), foi descoberto no século XVII um sarcófago com uma inscrição indicando que ali repousava ‘o ilustre mártir Marinho’ festejado no século XVIII em cerimônia dupla. Sem explicar os detalhes de semelhante cerimônia, Boillen confessa que os dados sobre esse santo foram adquiridos mais tarde, sendo verdadeiramente fantástica sua cronologia. Esses dados apresentam-no como um romano do século VII que, tendo ingressado como monge no convento Condancence, tornou-se depois eremita, passando a residir próximo à Vila Maurianensis.
            Seu culto, diz o autor, não é limitado a Saint-Savin: a ele foi dedicada, também, uma igreja na diocese de Bourges, meta de contínuas peregrinações.

II.        O estudo feito por Agostino Amore sobre São Marinho é longo, mas apresenta alguns pontos obscuros. Ele explica que o Martiriólogo Romano e relembra no dia 26 de dezembro, afirmando que era um rapaz, filho de um senador romano, preso pelo Imperador Numeriano e decapitado depois de muitos tormentos. Em outro trecho escreve que Giovanni Malalas aceita São Marinho como um mártir de Gindara e que suas relíquias foram conservadas na igreja de São Guiliano, em Antióquia. Mas, ao término do trabalho, o próprio Amore confessa: “-Quem foi na realidade o mártir de Gindara, venerado em Antióquia, não sabemos!”

III.       Mário Sgarbossa e Luigi Giovannini confiam a Eusábio o relato sobre São Marinho: um oficial do exército imperial em Cesaréia da Palestina, cidade próxima das fronteiras da Galiléia e da Samaria. Relata o autor de ‘História da Igreja” que o cargo era de Marinho. Aguardava ele a entrega da vara de videira, símbolo do grau de centurião romano, quando um dos mais obstinados pretendentes ao cargo declarou Marinho impossibilitado às dignidades romanas, por ser cristão, fato que este confirmou perante o juiz Aqueu, magistrado que lhe possibilitou três horas para melhor reflexão. Ao sair do tribunal encontrou Marinho o bispo Teotecno que o levou a uma igreja, colocando-o entre uma espada e uma bíblia, pedindo, a seguir, que optasse por uma das duas.
            Escolheu a Bíblia.
            O bispo o abençoou saindo o cristão feliz e pronto para o sacrifício.
            Passadas as três horas, voltou e proclamou sua fé.
            Foi condenado à pena capital no ano 261, sendo comemorado pela Igreja no dia 3 de março.

18 c Célia


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A Vida Oculta de um “Santo”


 Kleber Halfeld
Reformador (FEB), pág. 22 -  Novembro 1984

               
         Em 1940 a FEB lançava a 1ª edição da obra “50 Anos Depois...”, romance ditado pelo Espírito Emmanuel, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier. No ano anterior, ao completar seu trabalho, o conhecido mentor espiritual esclarecera na Carta ao Leitor:      
            “(...) Este livro é o repositório da verdade sobre um coração sublime de mulher, transformada em santa, cujo heroísmo divino foi uma luz acesa na estrada de numerosos Espíritos amargurados e sofredores.” (Grifei.)
            E mais adiante:
            (...) A Igreja Romana lhe guarda, até hoje, as generosas tradições, nos seus arquivos envelhecidos, se bem que as datas e as denominações, as descrições e apontamentos se encontrem confusos e obscuros pelo dedo viciado dos narradores humanos.” (Grifei.)
            Este prefácio, escrito no dia 19 de dezembro de 1939, na cidade de Pedro Leopoldo, MG, denuncia que tempo e viciações das narrativas constituem dois importantes fatores para adulteração ou até mesmo soterramento da Verdade - embora temporariamente.
            É possível que as gerações futuras não experimentem semelhante distorção em face da tecnologia que os meios de comunicação habilmente têm criado. Sem necessidade de apreciações detalhadas, bastaria a citação da fotografia ou do vídeo-tape, excelentes sistemas para  perpetuação de imagem e do som, e, portanto, da fixação de uma realidade.
            Convivemos, ainda hoje, com datas e denominações, descrições e apontamentos, que se distanciaram, sobremodo, da veracidade primitiva, inicial, condicionamento a que ficaram sujeitos quase todos os setores da Antigüidade, incluindo o religioso.
            Focalizando Célia Lucius, personagem central das páginas de ‘50 Anos Depois”, pretende o presente trabalho não somente evidenciar o acerto das palavras do antigo senador Públio Lêntulus como, também, dizer de uma omissão cometida através dos séculos!

Conceitos Judiciosos

            Quem já leu “50 Anos Depois” terá observado as carinhosas expressões de seu autor à figura de Célia Lucius. Semelhantes apreciações passam a constituir ponto de reflexão para seus leitores, porquanto a verdade é que Emmanuel sempre se nos apresenta como a respeitável Entidade que cataloga com sobriedade e, portanto, com critério definido, aqueles a quem empresta  adjetivação elogiosa.
            Exemplo sugestivo temos na obras “A Caminho da Luz”, onde vamos localizar um dos poucos elogios - ou, talvez, o único - que ele tenha feito  a um Espírito encarnado. Isto ocorre exatamente no capítulo V (A Índia - Os rajás e os Párias). É interessante lembrar que o livro foi editado pela FEB em 1939, ano em que ainda se encontrava encarnado naquele país asiático um inconfundível “mahatma”: Gandhi!
            No mencionado tópico, leremos:
            “Ainda hoje, o espírito iluminado de Gandhi, que é obrigado a agir na esfera da mais atenciosa psicologia dos seus irmãos de raça, não conseguiu eliminar esses absurdos sociais do seio do grande povo de iniciados e profetas (...).” (Diz respeito à organização das castas, que têm separado de forma chocante as coletividades na Índia.) (Grifei.)
            Fora, porém, do âmbito dos encarnados, vez por outra, articula Emmanuel expressões equilibradas de elogio a este ou àquele vulto, como já na introdução deste trabalho foi realçado. 
            Mas, além dos conceitos assinalados, anotemos ainda os que seguem, tirados do romance em pauta:
            “(...) Refiro-me a Célia, figura central das páginas desta história, cujo coração, amoroso e sábio, entendeu a aplicou todas as lições do Divino Mestre, no transcurso doloroso de sua vida (...).”
            E continua o antigo senador romano:
            “(...) Na seqüência dos fatos, dentro da narrativa, seguirás os seus passos de menina e de moça, como se observasses um anjo pairando acima de todas as contingências da Terra. Santa pelas virtudes e pelos atos de sua existência edificante, seu Espírito era bem o lírio nascido do lodo das paixões do mundo, para perfumar a noite da vida terrestre, com os olores suaves das mais divinas esperanças do Céu.”
            Simples jogo de frases criadas ao acaso?
            De forma alguma, considerando-se a personalidade de quem as escreveu!
            Mas ainda acrescenta ele:
            “(...) É a história de um sublime coração feminino que se divinizou no sacrifício e na abnegação (...).”
            Finalmente, estes conceitos:
            “(...) Os exemplos de uma alma santificada no sofrimento e na humildade, ensinar-te-ão a amar o trabalho e as penas de cada dia (...).”
            “Busca entender a essência deste repositório de verdades espirituais e, do plano espiritual, o Espírito purificado de nossa heroína derramará em teu coração o bálsamo consolador das esperanças sublimes.”



17 Joanna de Ângelis



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Ao Amanhecer


Joanna de Ângelis
 por Divaldo Franco
em "Episódios Diários"

Dia novo, oportunidade renovada.
Cada  amanhecer representa divina concessão, que não podes nem deves desconsiderar.
Mantém, portanto, atitude positiva em relação aos acontecimentos que devem ser enfrentados:
- otimismo diante das ocorrências que surgirão;
- coragem no confronto das lutas naturais;
- recomeço na tarefa interrompida;
- ocasião de realizar o programa planejado.
Cada amanhecer é convite sereno à conquista de valores, que parecem inalcançáveis. 
À medida que o dia avança, aproveita os minutos, sem pressa nem postergações do dever.
Não te aflijas ante o volume de coisas e problemas que tens pela frente. 
Dirige cada ação à sua finalidade específica. 
Após concluir um serviço, inicia outros, sem mágoa dos acontecimentos desagradáveis, 
volve à liça com disposição, avançando, passo a passo, 
até o momento de conclusão dos deveres planejados. 
Não tragas do dia precedente o resumo das desditas e dos aborrecimentos.
Amanhecendo, começa o teu dia com alegria renovada e sem passado negativo,
 enriquecido pelas experiências que te constituirão recurso valioso para a vitória que buscas.
                                        

16 Joanna de Ângelis



Arte e Ciência de Ajudar


 Joanna de Ângelis
 “Momentos de Meditação”

               Ninguém está seguro de nada, enquanto se encontra na Terra. A roda das ocorrências não para.
            Quem hoje está no alto, amanhã terá mudado de lugar e vice-versa. E não é só por isso.
            Quem aprende a abrir a mão em solidariedade, termina por abrir o coração em amor.
            Dá o primeiro passo, o mais difícil. Repete-o, treina os sentimentos e te adaptarás à arte e ciência de ajudar. Há quem diga que os infelizes de hoje estão espiando os erros de ontem, na injunção de carmas dolorosos. Ajudá-los, seria impedir que os resgatassem.
            É correto que a dor de agora procede de equívocos anteriores, porém, a indiferença dos enregelados, por sua vez, está lhes criando situações penosas para mais tarde.
            Transforma o fogo devorador que te consome em força que produza para o benefício geral.
            Uma chispa descuidada teia incêndio voraz, destruidor, enquanto as labaredas voluptuosas, sob controle, fundem e purificam os metais para fins úteis.
            Considera a paixão de Alarico, o conquistador imperioso, e a de Agostinho, o libertador, seu contemporâneo...
            Recorda a paixão de Nero, o dominador arbitrário e a de Sêneca, seu mestre - escravo, a quem ele mandou matar.
            A paixão de Herodes pelo trono e a de Jesus pela Verdade possuíam a mesma intensidade, somente que a canalização das suas forças era dirigida em sentidos opostos.


15 Joanna de Ângelis



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 Juana de Asbaje

            No século XVII, ela reaparece no cenário do mundo, para mais uma vida dedicada ao Bem. Renasce na pequenina San Miguel Nepantla, há uns 80 quilômetros  da cidade do México, com o nome de Juana y Ramirez de Santillana, filha de mãe basco e mãe indígena.”
            “...resolveu entrar no Convento das Carmelitas descalças, aos 16 anos de idade. Desacostumada com a rigidez ascética, adoeceu e retornou à corte. Seguindo orientação de seu confessor, foi para a Ordem de São Jerônimo da Conceição, que tem menos obrigações religiosas, podendo dedicar-se às letras e à ciência. Tomou o nome de Sóror Juana Inês de la Cruz.”
            “Em 1695,  houve uma epidemia de peste na região. Juana socorreu durante o dia e a noite as suas irmãs religiosas que, juntamente coma maioria da população, estavam enfermas. Foram morrendo, aos poucos, uma  a uma das suas assistidas e quando não restavam mais religiosas, ela, abatida e doente, tombou vencida, aos 44 anos de idade.” 

Soror Joana Angélica de Jesus

            Passados 66 anos do seu regresso à Pátria Espiritual, retornou, agora na cidade de Salvador (BA), em 1761, como Joana Angélica, filha de uma abastada família. Aos 21 anos ingressou no Convento da Lapa, como franciscana, com o nome de Sóror Joana Angélica de Jesus .”
            “Foi irmã, escrivã e vigária, quando, em 1815, tornou-se Abadessa e, no dia 20 de fevereiro de 1822, defendendo corajosamente o convento, a casa de Cristo, assim como a honra das jovens que ali moravam, foi assassinada por soldados que lutavam contra a independência do Brasil.”  

            “... mantenhamos o indestrutível ideal e pensamento do Cristo, no mundo, através da ação do bem sem limites, não importando quanto tempo passe e quanto sacrifício ainda nos seja exigido”

            Em nossa caminhada, passo a passo com Jesus, reencontramos  Joanna de Ângelis em duas lindas mensagens constantes d’ O Evangelho Segundo o Espiritismo. Essas mensagens não nos chegaram assinadas mas sim foram identificadas pela Espiritualidade Superior à virtuosos médiuns da atualidade. A primeira encontra-se  no Cap. IX. A  segunda consta do Cap. XVIII e é apresentada a seguir:  

            A Paciência...

            A dor é uma bênção que Deus envia aos seus eleitos; não vos aflijais, pois, quando sofrerdes, mas bendizei, ao contrário, o Deus Todo Poderoso que vos marcou pela dor nesse mundo para a glória no céu.
            Sede pacientes; a paciência é também uma caridade e deveis praticar a lei da caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus.
            A caridade que consiste na esmola dada aos pobres, é a mais fácil das caridades; mas há uma bem mais penosa e, conseqüentemente, mais meritória: perdoar àqueles que Deus colocou sobre nosso caminho para serem os instrumentos dos nossos sofrimentos e colocar a nossa paciência à prova.
            A vida é difícil, eu o sei; ela se compõe de mil nadas que são picadas de alfinetes que acabam por ferir; mas é preciso considerar os deveres que nos são impostos, as consolações e as compensações que temos por outro lado, e, então, veremos que as bênçãos são mais numerosas que as dores.
            O fardo parece menos pesado quando se olha do alto, do que quando se curva a fronte para o chão.
            Coragem, amigos, o Cristo é o vosso modelo; Ele sofreu mais que qualquer de vós e não tinha nada a se censurar, enquanto que vós tendes vosso passado e expiar e vos fortalecer para o futuro. Sede, pois, pacientes, sede cristãos, essa palavra encerra tudo.
                                    Joanna de Ângelis, Havre, 1862