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segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Bilhetes



Trabalho!
por Ernani Cabral
Reformador (FEB) Maio 1944  

Se o trabalho foi considerado, outrora, como um ato vil, imposto aos "homens inferiores" hoje ele é tido, justa e exatamente, como função nobre da atividade humana, em busca da perfeição, que só por seu intermédio poderá ser atingida, no porvir.
Qualquer labor honesto é digno de encômios, porque todos cooperam para a grandeza coletiva, cada um no setor que lhe é próprio, seja no exercício de ações manuais ou físicas, seja no campo das atividades mentais, incluindo-se nestas as artísticas, científicas e as morais ou religiosas.
O Universo é um todo coordenado, de planos diferentes, desde os mundos primitivos aos celestiais, dirigidos, em seu conjunto, pela vontade de Deus, que é onisciente e absoluta, repleta de misericórdia.
Até os planetas de expiação, como o nosso, embora prenhes de maldades e de injustiças, cooperam para a grandeza da obra divina, que é perfeita no seu todo, e servem de estágios ou de vastas escolas de regeneração, onde as almas grosseiras se rustem (desgastam), para burilar o diamante divino da sua essência.
Se a vontade é livre, como formoso atributo do Espírito; se a criatura abusa de seu arbítrio e fere as leis morais que regem o Universo, com desequilíbrio de sua felicidade ou da marcha evolutiva que lhe foi, naturalmente, traçada; se “a cada um segundo as suas obras", como o Divino Mestre frisou, é justo que o Espírito se humanize e venha a sofrer em mundos inferiores, para que afinal compreenda que "só o amor constrói para a eternidade".

Aqui o ser expia, tem provações, retempera-se e poderá ascender, se quiser, às regiões mais elevadas, porque cada um trabalha no tecido de sua própria túnica e cria, pelos seus atos, a densidade do perispírito, pois a bondade o vai desmaterializando, enquanto que a maldade o tornará grosseiro e compacto, chumbando-o à Terra, com suas paixões e pecados.

Jesus mesmo proclamou:' "eu e meu Pai obramos incessantemente." (João, 5:17).
Até o Divino Mestre peleja no bom trabalho de nos orientar e de nos redimir, ensinando-nos o caminho da salvação e dirigindo a marcha evolutiva dos Espíritos jungidos à Terra, até libertá-los do pecado. E Deus, que é estático em suas leis eternas e imutáveis, mas dinâmico em sua criação, que é contínua e que sempre se transforma, dentro daquelas leis preestabelecidas, nos dá o exemplo do trabalho constante, útil e fecundo, em prol da sua e da nossa humanidade e de toda a criação!
Também Kardec, o codificador do Espiritismo - a terceira revelação do Senhor - deixou-nos o lema de "trabalho, solidariedade e tolerância".
Devemos cooperar para a obra divina, cônscios de nossas responsabilidades! Precisamos compreender que somos artífices desse labor esplendoroso, cujo supremo diretor é Deus e cujo Mestre é o seu Cristo - expressão de pureza e de amor para a Terra.
Toda a vez que persistimos no pecado, teimando em quebrar o ritmo evolutivo ambiente, somos comparados a maus operários que desbaratam energias, solapando a grande obra e fugindo ao cumprimento dos deveres. Esse gesto de insânia, ou de imperfeições, não chega a macular a perfeição do conjunto mas volta-se contra nós mesmos, imprimindo no perispírito do pecador o estigma de sua rebeldia.
Felizes dos que, sentindo-se falíveis tem a humildade de pedir ao Divino Mestre, constantemente, forças para ascenderem como operários destemerosos dessa bela obra, que é infinita e perfeita, como expressão da bondade e da magnificência do Criador!
Trabalhando, pelejando pela nobre causa da implantação do "reino da fraternidade", servindo a Jesus com paciência, abnegação e fé seremos dignos dele, por havermos acreditado em suas palavras, que são eternas e verdadeiras
porque provêm de Deus!

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Trabalho!


Trabalho!
Ernani Cabral
Reformador (FEB) Maio 1944

Se o trabalho foi considerado, outrora, como um ato vil, imposto aos "homens inferiores" hoje ele é tido, justa e exatamente, como função nobre da atividade humana, em busca da perfeição, que só por seu intermédio poderá ser atingida, no porvir.

Qualquer labor honesto é digno de encômios, porque todos cooperam para a grandeza coletiva, cada um no setor que lhe é próprio, seja no exercício de ações manuais ou físicas, seja no campo das atividades mentais, incluindo-se nestas as artísticas, científicas e as morais ou religiosas.

O Universo é um todo coordenado, de planos diferentes, desde os mundos primitivos aos celestiais, dirigidos, em seu conjunto, pela vontade de Deus, que é onisciente e absoluta, repleta de misericórdia.

Até os planetas de expiação, como o nosso, embora prenhes de maldades e de injustiças, cooperam para a grandeza da obra divina, que é perfeita no seu todo, e servem de estágios ou de vastas escolas de regeneração, onde as almas grosseiras se rustem, para burilar o diamante divino da sua essência.

Se a vontade é livre, como formoso atributo do Espírito; se a criatura abusa de seu arbítrio e fere as leis morais que regem o Universo, com desequilíbrio de sua felicidade ou da marcha evolutiva que lhe foi, naturalmente, traçada; se “a cada um segundo as suas obras", como o Divino Mestre frisou, é justo que o Espírito se humanize e venha a sofrer em mundos inferiores, para que afinal compreenda que "só o amor constrói para a eternidade".

Aqui o ser expia, tem provações, retempera-se e poderá ascender, se quiser, às regiões mais elevadas, porque cada um trabalha no tecido de sua própria túnica e cria, pelos seus atos, a densidade do perispírito, pois a bondade o vai desmaterializando, enquanto que a maldade o tornará grosseiro e compacto, chumbando-o à Terra, com suas paixões e pecados.

Jesus mesmo proclamou:' "eu e meu Pai obramos incessantemente." (João, 5:17).

Até o Divino Mestre peleja no bom trabalho de nos orientar e de nos redimir, ensinando-nos o caminho da salvação e dirigindo a marcha evolutiva dos Espíritos jungidos à Terra, até libertá-los do pecado. E Deus, que é estático em suas leis eternas e imutáveis, mas dinâmico em sua criação, que é contínua e que sempre se transforma, dentro daquelas leis preestabelecidas, nos dá o exemplo do trabalho constante, útil e fecundo, em prol da sua e da nossa humanidade e de toda a criação!

Também Kardec, o codificador do Espiritismo - a terceira revelação do Senhor - deixou-nos o lema de "trabalho, solidariedade e tolerância".

Devemos cooperar para a obra divina, cônscios de nossas responsabilidades! Precisamos compreender que somos artífices desse labor esplendoroso, cujo supremo diretor é Deus e cujo Mestre é o seu Cristo - expressão de pureza e de amor para a Terra.

Toda a vez que persistimos no pecado, teimando em quebrar o ritmo evolutivo ambiente, somos comparados a maus operários que desbaratam energias, solapando a grande obra e fugindo ao cumprimento dos deveres. Esse gesto de insânia, ou de imperfeições, não chega a macular a perfeição do conjunto mas volta-se contra nós mesmos, imprimindo no perispírito do pecador o estigma de sua rebeldia.

Felizes dos que, sentindo-se falíveis tem a humildade de pedir ao Divino Mestre constantemente, forças para ascenderem como operários destemerosos dessa bela, obra, que é infinita e perfeita, como expressão da bondade e da magnificência do Criador!

Trabalhando, pelejando pela nobre causa da implantação do "reino da fraternidade", servindo a Jesus com paciência, abnegação e fé seremos dignos dele, por havermos acreditado em suas palavras, que são eternas e verdadeiras porque provêm de Deus! 


quinta-feira, 20 de julho de 2017

Catequização


Catequização
por Ernani Cabral
Reformador (FEB) Dezembro 1943

Há um assunto delicado de que nos parece oportuno tratar, é o da divulgação que devemos dar ou da propaganda que nos cumpre fazer, na família ou fora dela, das verdades espíritas.

Jesus, falando aos discípulos, ordenou: "E ponde-vos a caminho, pregai, dizendo que está próximo o reino dos céus," (Mateus, 10:7), E logo depois: “O que eu vos digo às escuras, dizei-o às claras; e o que se vos diz ao ouvido, publicai-o dos telhados," (Idem, 1O:27).

Os apóstolos cumpriram a ordem de evangelização dada pelo Divino Mestre: Foram todos de uma atividade fecunda, que tocou às raias do sacrifício. Cumpre-nos recordar o esforço insuperável de Paulo de Tarso, que muito viajou, esforçando-se continuamente, pregando, pela palavra e pelo exemplo, a doutrina do Messias. Graças aos esforços abnegados dessa plêiade, o Cristianismo difundiu-se.

Recordando a ação eficiente e profundamente modelar do "apóstolo dos gentios", existe Paulo e Estevão, essa obra maravilhosa de Emmanuel, que Francisco Cândido Xavier psicografou, e que deveria ser o livro de cabeceira, junto do Evangelho, a fim de serem manuseados, frequentemente, pelos que se filiaram ao exército de moral e regeneração do Cristo de Deus, Veriam e verificariam que não é possível agir com frieza, pois a maior caridade que se pode fazer é catequizar nosso irmão para o conhecimento da verdade e para a prática do bem.

Dizem alguns confrades, entretanto, que só se deve falar no assunto a quem demonstrar curiosidade de conhecê-la; que todos terão a sua hora, quando os tempos forem chegados, e que somente o espírito "maduro" poderá receber e sentir as doçuras do Consolador. Chegam a supor que, por isto, se possuímos católicos ou protestantes na família, devemos deixá-los em paz com as suas convicções, que também são boas.

Ao contrário, vejamos o que têm dito os mensageiros de Deus.

Ainda recentemente, lemos o 3º volume de Trabalhos do Grupo "Ismael", que é talvez o núcleo espírita mais bem orientado no Brasil, porque está sob a direção daquele anjo do Senhor. À página 135 do referido livro, numa comunicação de Richard, acha-se o seguinte conselho: "Todo o trabalho, pois, daqueles que aceitarem um posto nas fileiras do exército de Ismael deve resumir-se em dar todo o seu esforço para a educação da família espírita, por meio de uma propaganda eficiente, fundada nos princípios do Evangelho," E ainda, à página 170, no final daquela obra, ensina Melancheton: "Irmãos, sois co-partícipes de uma doutrina admirável, que enche as almas elas mais altas aspirações e dos mais fortes estímulos. Devotai-vos ainda e sempre ao trabalho de divulgá-la.”

Podemos saber, de antemão, qual o espírito que não se acha "maduro", somente porque nas primeiras investidas se negou a aceitar a nova revelação? Todos têm a sua hora, é verdade, mas assiste-nos o direito e o dever de apressar as conversões, chamando a atenção para a palavra do Divino Mestre, interpretada em espírito e verdade. E quando nada o consigamos, está lançada a semente, que germinará algum dia...

Os espíritas não devem ser mornos, nem comodistas, nem podem rejeitar a luta em prol da divulgação do Cristianismo do Cristo, quando este mesmo nos disse que não veio trazer a paz, mas a espada (Mateus, 10 :34). Se fomos postos em fazer o possível para difundir o verbo divino entre todos os membros dessa família, a menos que, por conveniência ou por covardia, não nos queiramos incompatibilizar, que tenhamos receio da parecer importunos ou fanáticos, amedrontados com a zombaria ou com possíveis inimizades.

É certo que precisamos ter o maior tato possível, sendo "prudentes como as serpentes e símplices como as pombas", conforme nos aconselhou Jesus. Em quaisquer circunstâncias, mesmo perante os que não queiram ouvir nossa palavra, devemos ser tolerantes e caridosos, procurando não irritar nem ferir suscetibilidades; mas, assim agindo, não quer dizer quedemos silenciosos ou indiferentes.

Somente não convém perder tempo, como recomenda Kardec, "com os que não querem ver, nem ouvir e tanto mais resistem, por orgulho, quanto maior for a Importância que se pareça ligar à sua conversão." Mas, mesmo com estes, não há mal em se voltar à carga, sobretudo quando feridos pela dor, que acrisola e redime.

Sejamos sobretudo soldados ativos do exército de Jesus. Nada de indiferenças, nem de comodismos. Evitemos o fanatismo e o exagero. Procuremos ser oportunos e convenientes, mas persistentes e esforçados na divulgação do Espiritismo.

Não compreendemos um chefe de família espírita que deixa de se dar ao trabalho de lançar a boa semente, ao menos no coração dos filhos, para não aborrecer, por exemplo, a sua esposa ou a sua mãe. Foi para esses que Jesus afirmou: “O que ama o pai ou a mãe, mais do que a mim, não é digno de mim; e o que ama o filho ou a filha, mais do que ti. mim, não é digno de mim." (Mateus, 10:37). "Porque vim a separar o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra." (Idem, 10:35).

Recordemo-nos sempre desta afirmação categórica do Divino Mestre: "Todo aquele, pois, que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; e o que me negar diante dos homens, eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus." (Idem, 10:32 e 33).

Necessitamos proceder - é conveniente que se repita - sem intolerância, com habilidade, evitando irritar nosso irmão, mas agindo com persuasão e brandura; maxime com os que residem sob o mesmo teto, pois as discussões acaloradas são nocivas e perturbadoras. Mas orando, pedindo o auxílio do Alto, com amor e paciência, sobretudo com muita paciência, veremos coroados de êxitos os nossos esforços, porque a verdade conforta, liberta e convence. Poucas são as pessoas cujo endurecimento de coração vai ao ponto de ser impermeável à luz do amor e da verdade. E mesmo para esses, o trabalho de evangelização é útil, porque, como já dissemos, lavrado o campo e jogada a semente, algum dia frutificará, nesta ou em outra encarnação, o que não nos deve servir de desalento, pois temos na frente a eternidade. Cumpre-nos, porém, fazer o possível por ativar o desenvolvimento espiritual de nossos semelhantes.


Mas lembremo-nos de "que se conhece o espírita pela sua regeneração moral". Nada como a força do exemplo; esta convence mais do que as palavras, embora o verbo também seja útil para a difusão do bem.

domingo, 18 de junho de 2017

Deus


DeusComo compreende-Lo em espírito e verdade        PARTE 1         
Ernani Cabral
Reformador (FEB) Outubro 1943

Deus é nosso Pai. Foi Ele quem criou nossa alma, dotando-a de imortalidade. Sendo bom e perfeito, merece cultuado; somente a Ele devemos adorar, porque, se nosso espírito goza da imortalidade, também somos deuses, pois existiremos por toda a eternidade. E, como deuses, só devemos prostrar-nos, submissos, ante o nosso Criador, o Deus dos deuses.

Esta afirmativa não é sacrílega, pois que está no Velho e no Novo Testamentos.

"Deus assistiu sempre no conselho dos deuses; no meio dele julga os deuses." (Salmos 81:1).

Jesus, com a sua grande autoridade de Messias, reiterou: "Não é assim que está escrito em vossa lei: Eu disse: sois deuses? Se ela chama deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida ... (João, 10:34-35).

Mas, que é Deus? - "É a alma consciente do universo".

"Deus é espírito, declarou o Divino Mestre, e em espírito e verdade é que o devem adorar os que o adoram." (João, 4:24).

Sabemos que Ele existe; sentimo-lo, mas não podemos penetrar-lhe a essência, nem explica-lo convenientemente. Porque? - Porque somos finitos e Ele é infinito; somos imperfeitos e Ele é absolutamente perfeito.

A parte infinitesimal ainda em estado evolutivo, embora consciente, não pode fazer juízo preciso a respeito do todo, que é completo e lhe foge à percepção, quanto a sua expressão integral.

Sabemos que Ele está em toda parte. Mas, sobretudo, devemos senti-lo em nossos corações.

O Cristo ensinou: "O reino de Deus está dentro de vós. (Lucas, 17 :21). Paulo de Tarso o repetiu: "Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós. (1ª aos Coríntios, 3:16).

Ainda o mesmo apóstolo, falando aos atenienses no areópago, acentuou:

"Deus, que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo o Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos pelos homens, nem é servido por mãos de homens, como se necessitasse de alguma criatura, quando ele mesmo é que dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas. E de um só fez todo o gênero humano, para que habitasse sobre toda a face da terra, assinando a ordem dos tempos e os limites da sua habitação; para que buscassem Deus, se porventura o pudessem tocar ou achar; ainda que não esteja longe de cada um de nós. Porque nele vivemos e nos movemos e existimos, como ainda disseram alguns de vossos poetas: porque dele também somos linhagem. Sendo nós, pois, linhagem de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro ou à prata, ou à pedra lavrada por arte e indústria do homem." (Atos, 17: 14 a 29).

Também não devemos limitá-lo, nem figurá-lo, como fazem infantilmente certos crentes, apresentando-O como um velho barbado e bonachão. Isto, sim, seria sacrilégio, se Deus não perdoasse a simplicidade e a ignorância dos que pretendem compara-lo a um homem, bitolando-o por um ser limitado e imperfeito.

Deus não tem forma, pois está em toda parte; é Espírito, porém não circunscrito, como o nosso, sim absoluto e integral, vivificando a terra e os outros mundos, tudo coordenando, sabiamente, dando vida e evolução ao universo!

É força criadora, harmonizadora, inteligente e justa.

Não há panteísmo nesta explanação, porque, se Deus está nos sois e nos planetas, como nas criaturas, Ele não é o sol, nem os planetas, nem as criaturas, porém, muito mais do que isto! O universo, como já disse alguém, seria o quadro e Ele o pintor. O panteísmo confunde Deus com a sua obra, enquanto que os que adoram a Deus em espírito e verdade sabem que Ele vive no universo, tendo consciência, amor e plenitude, sendo o criador desse todo sublime que expressa a sua grandeza e a sua perfeição.

Até os sofrimentos e as injustiças deste mundo são necessários para nossa evolução; portanto, o conjunto cósmico é completo. A imperfeição é relativa e contingente, pois vive no todo, que é perfeito. É apenas expressão da obra dos deuses, ainda humanos, ainda jungidos à matéria. Com efeito, os homens se rustem (enganam) para o seu próprio aperfeiçoamento espiritual, até conseguirem atingir regiões mais elevadas onde não há desses atritos, por ali imperar a lei de amor, que Jesus também quer dar à terra.

"Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o máximo e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás a teu próximo como a ti mesmo. Nestes dois mandamentos estão toda a lei e os profetas." (Mateus, 22:37 a 39).

Deus, porém, será trino? Haverá três pessoas distintas e um só Deus verdadeiro? - Não,
absolutamente, não! Isto não se encontra no Velho, nem no Novo Testamento; é interpretação dos homens, é criação das igrejas de pedra, dos concílios dogmáticos, que têm falseado a verdade embora de boa fé, criando mistérios impenetráveis, mas esquecidos da advertência do Salvador de que "nada há encoberto que se não venha a descobrir; nem oculto, que se não venha a saber". (Mateus, 10:26).

E os Espíritos do Senhor vieram, no tempo prescrito, derrubar esse e outros dogmas, que tem encoberto a verdade e deturpado a palavra evangélica, criando o temor a um Deus incompreensível, quando o verdadeiro Deus é uno, misericordioso e todo amor!

Jesus, o Espírito mais puro que já baixou à terra, protetor e governador do nosso planeta, interprete da vontade divina para as criaturas deste mundo, não é Deus. Ele procurou sempre evitar que assim o considerassem, como em seguida demonstraremos. O Velho Testamento não nos dá notícia de nenhum deus-trino; ao contrário, fala a cada passo da unidade divina. O mesmo se verifica nos Atos dos Apóstolos e em suas Epístolas, de cuja leitura se conclui que os companheiros do Messias nunca o tiveram como Deus, mas como Filho, isto é, como criatura, com individualidade própria e distinta do Pai, embora integrado no pensamento deste e expressando-o à terra, como o caminho para a salvação, ou, seja, para a purificação, para a elevação espiritual. Apenas no início do Evangelho de João, vemos a afirmativa de que Jesus é Deus; mas, Deus, como filho de Deus; como expressão de Deus para a terra, não o Deus único e verdadeiro, jamais o Deus dos deuses.

Jesus mesmo, respondendo a um homem, declarou: "Porque me chamas tu bom? Ninguém é bom, senão só Deus." (Lucas, 18-19).

Ninguém é bom, ninguém é Deus; só Deus é bom, só Deus é Deus, verdadeiramente. Os demais gozam da divindade, porque imortais, porque podem possuir a Deus no coração. Outros já alcançaram a perfeição sideral, unidos ao Excelso, como Jesus. E governam mundos. O Deus dos deuses, porém, é um só.

 "Não há outro Deus senão só um. Porque, ainda que haja alguns que se chamem deuses, ou no céu ou na terra (e assim sejam muitos os deuses e muitos os senhores), para nós, contudo, há só um Deus, o Pai, de quem tiveram o ser todas as coisas, e nós nele; e só um Senhor, Jesus Cristo, por quem todas as coisas existem e nós outros por ele." (Paulo, 1ª aos Coríntios)

Jesus é Nosso Senhor, porque é o governador do planeta que habitamos, razão por que ninguém chegará ao Pai senão por seu intermédio, isto é, por intermédio de sua doutrina, que vem de Deus e que, conforme o disse Ele, se resume no amor.

O Divino Mestre ainda frisou: "O Pai é maior do que eu." (João, 14:28).

Se ele fosse Deus, que é absoluto, não seria relativo, ou, seja, não seria menor que a outra face de Deus.

Mais claro foi o Bom Pastor nesta afirmativa: "E a ninguém chameis Pai vosso sobre a terra; porque um só é o vosso Pai, que está nos céus." (Mateus, 23:9). "Nem vos intituleis mestres; porque um só é o vosso Mestre, o Cristo." (Idem, 23:10). Logo, Deus é Pai, Jesus é Mestre, porque interprete da vontade divina, médium de Deus.

Quando apareceu a Madalena, depois da "ressurreição", disse: "Não me toques, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai aos meus irmãos e dize-lhes que vou para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus." (João, 20:17).

Nosso Senhor foi aí bem explícito, mandando que ela fosse falar com seus "irmãos".

Os discípulos eram, como nós outros somos, irmãos do Divino Mestre - e não filhos - porque oriundos da mesma linhagem para usarmos do substantivo de que Paulo se serviu.
             
Jesus disse a Madalena: "Vou para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus."

Ora, se ele também fosse Deus ou um desmembramento misterioso da divindade seria igual ao Pai, porque era uma parte componente do Todo Poderoso e não chamaria "irmãos" a seus apóstolos, não trataria a Madalena como tal e nem se expressaria daquela forma, confessando que o Pai tanto era o seu Deus, como o de Marta Madalena e dos discípulos.

É certo que Jesus, Espírito puro, embora criado como nós, muito antes que a terra existisse, jamais faliu. "Cordeiro imaculado", atingiu as regiões siderais em linha reta, sem as sinuosidades que caracterizam, por exemplo, o avanço das nossas almas. É verdadeiramente um Filho de Deus, porque honra ao Pai, fazendo-lhe a vontade, nas mais acendradas manifestações de amor. Por isto, mereceu governar a terra e, possivelmente, outros planetas... (Temos a impressão pessoal de que todo o nosso sistema solar está sob a sua supervisão, sob o seu império meigo e esclarecido. Fomos levados a tal ideia, pelo fato dele ter asseverado: "Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco." (João, 10:16)

Em resumo, Jesus é um Cristo, como muitos outros há nas sublimes regiões em que Ele habita, governadores de outros planetas ou de outros sistemas planetários.

Não obstante, porém, a imensa distância a que dele nos achamos, moral e cientificamente, mesmo procurando-o com ardor, porque sabemos que Ele é "o caminho, a verdade e a vida", ainda assim temos a alegria de proclama-lo nosso estremecido irmão. Irmão superior, valoroso, sábio, cheio de amor e de virtudes, que infelizmente não possuímos, pois somos ainda "escravos do pecado". Eis o que nos distancia do Mestre. A separação é enorme, bem o sabemos. Tangidos, porém, pela sua palavra maravilhosa, seremos libertos e sentiremos a ventura e a graça de nos considerarmos também filhos de Deus, como Ele o é.

Já que falamos em "Santíssima Trindade", ocorre-nos a seguinte pergunta: o Espirito Santo é Deus? - Não, o Espírito Santo não é Deus, embora com Ele se confunda, pois expressa a sua vontade.

Segundo as explicações dadas pelos mensageiros do Senhor, o Espírito Santo é uma expressão que sintetiza a falange de Espíritos elevados, que manifestam a bondade do Excelso para com a terra.   
                
São os anjos e os seres de hierarquia superior nas esferas celestiais e que servem sob as ordens do Pai e de Jesus, pois este exprime sempre a vontade de Deus. É o nome genérico da coorte benfazeja dos Espíritos do Senhor. Assiste os homens de boa vontade, dando-lhes intuições salutares, edificantes (morais e científicas), servindo-lhes de guia, protetor ou anjo de guarda, encaminhando-os ao amor divino, que redime e purifica.

Portanto os que acreditam em Jesus, os que praticam o bem, seja qual for o credo a que pertençam, tem o batismo, a assistência do Espírito Santo, merecem o amparo das falanges do bem que sempre que podem (sem ferirem o livre arbítrio de seus protegidos, que é sagrado), como dádiva de Deus, os livram do mal, isto é, do pecado.

Ele é o Consolador que Jesus prometeu diretamente aos homens de boa vontade, interpretando também, nos tempos prescritos, a palavra do Divino Mestre, fazendo-o em espírito e verdade, para que se cumpram as Escrituras.

Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.” (João 14:26).


DeusComo compreende-Lo em espírito e verdade        PARTE 2         
Ernani Cabral
Reformador (FEB) Novembro 1943


Não há uma só referência na Bíblia donde se deduza que Deus seja trino. Apenas, Jesus, conforme relata Mateus, cáp. 21, vers. 1, disse aos seus discípulos: "Ide pois e ensinai a todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo."

Mas, absolutamente não declarou que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas distintas e num só Deus verdadeiro". Esta conclusão foi tirada, erroneamente, pelos homens, reunidos em concílio, onde nunca existiu unanimidade de vistas. Tal dogma é criação de seres falíveis, é interpelação, enxerto, excrecência posta pelos homens nos Evangelhos do Senhor, porque não repousa, antes contraria, as afirmativas de Jesus. Trata-se, lamentavelmente, de má interpretação dos livros sagrados, como os Espíritos de Deus nos têm desvendado.

Nosso Pai é uno, perfeito, absoluto, eterno, infinito, porém não se fraciona, nem se desmembra, não se subdivide, embora esteja em toda a parte. Este é o Deus verdadeiro: o Deus de Moisés, o Deus de Jesus, o Excelso, o Todo Poderoso, Criador do céu e da terra, dos homens e das coisas. Perante Ele, ante esse Deus único e perfeito, o nosso espírito se curva reverente e o adora, cheio de fé, de amor e de esperança!     

É incontestável que Jesus declarou: "Eu e o Pai somos um." (João, 10:30). "Eu saí de Deus. Eu saí do Pai e vim ao mundo." (Idem, 16:28 e 29).

Mas, tais afirmativas têm de ser confrontadas com outras, para que seja tirado da letra o espírito dos Evangelhos, pois, conforme Paulo advertiu, "a letra mata e o espírito vivifica". (II aos Coríntios, 3:6). A letra mata, isto é, conduz ao erro; e o espírito vivifica, ou, seja, conduz à verdade!

Tomando a letra, isoladamente, algumas passagens bíblicas, onde Jesus falou em linguagem figurada; jungindo-se o interprete, rigorosamente, a tais expressões, certo cairá no erro do dogmatismo e da intolerância.

É preciso que se busque dar à palavra do Senhor, não uma exegese rigorosa e formalística, mas um paralelo com outras, que completam o sentido dos textos, onde a verdade está velada, porque assim era mister, às inteligências dos homens da época, cujo orgulho e atraso intelectual exigiam que Deus se fizesse homem - igual a eles - concepção que reinou durante séculos, porque tal era necessário, para impressionar mais fortemente a humanidade. Todavia, no tempo prescrito, as palavras de Jesus são explicadas pelo Espírito Santo, que vem dar a interpretação exata e justa de todos os versículos, tirando o véu da letra, iluminando, esclarecendo-lhe as palavras, em espírito e verdade!

Assim, vejamos o que Jesus pretendeu afirmar com aquelas expressões e vamos faze-lo de acordo com a "Terceira Revelação" divina, o Espiritismo.

Citemos, antes de mais nada, outros textos, que aqueles se relacionam, intimamente.

"Como meu Pai me amou, assim vos amei eu. Permanecei no meu amor." (João, 15:9).

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai, senão por mim." (Idem, 14:6).

"Não credes que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que vos digo, não as digo de mim mesmo; mas, o Pai, que está em mim, esse é que faz as suas obras." (Idem, 14:10).

''Naquele dia conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós em mim e eu em vós." (Idem, 14:20).

"Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele, e faremos nele morada." (Idem, 14:23).

"E a palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do Pai que me enviou." (Idem, 1.4:24).

"O meu preceito é este, que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei.” (Idem, 15:12).

"Se me amais, guardai os meus mandamentos." (Idem, 14 :15) .

E, finalmente, para completar essas citações bíblicas, chamo a preciosa atenção do leitor para mais estas, muito importantes e que completam a elucidação daqueles textos. Com efeito, o Nazareno, dirigindo-se ao seu Criador e nosso Criador, ao seu Deus e nosso Deus, implorou, em proveito dos discípulos:

"Eu não peço que os tireis do mundo, mas que os guardeis do mal.” (João, 17 :15). Deve-se entender que o mal é o pecado.

E logo depois:

"Santifica-os na verdade. A tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E eu me santifico a mim mesmo por eles, para que também eles sejam santificados na verdade. Eu não rogo somente por eles, rogo também por aqueles que hão de crer em mim por meio da sua palavra. Para que eles sejam todos um, como tu, Pai, o és em mim, e eu em ti, para que eles também sejam um em nós e creia o mundo que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que tu me havias dado, para que eles sejam um, como também nós somos um. Estou neles e tu estás em mim, para que eles sejam consumados na unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste e que tu os amaste, como amaste também a mim, Pai, a minha vontade é que, onde eu estou, estejam também comigo aqueles que tu me deste; porque me amaste antes da criação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu; mas, eu te conheci e estes conheceram que tu me enviaste. Eu lhes fiz conhecer o teu Nome, e lh'o farei ainda conhecer, a fim de que o mesmo amor com que me amaste, esteja neles, e eu neles." (João, 17:17 a 26),

A, unidade divina é o amor. A palavra de Jesus, que interpreta a vontade de Deus, é a verdade. E a verdade consiste, como disse o Divino Mestre, em "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Nisto se resumem as leis e os profetas." (Mateus, 22:40). Quem ama a Jesus segue os seus mandamentos e caminha por seu intermédio para Deus, que é a verdade e o amor. Sentindo a lei sublime da fraternidade, unifica-se ao Pai pelas obras, que são o lídimo testemunho da fé. E instala o reino de Deus no coração: o Cristo passa a morar nesse Espírito pois ele reside onde o amor impera. Jesus acha-se absolutamente integrado na lei divina portanto, no amor, ou seja, na expressão dessa lei, Ele e o Pai "são um"; nós algum dia seremos um neles, como quer Nosso Senhor.

O Salvador, referindo-se aos seus discípulos àqueles que creem na sua palavra. disse:

" ...que eles sejam todos um, como tu, Pai és em mim e eu em ti, para que eles também sejam um em nós." (João, 17:21).

Em face dessa afirmativa de Jesus e do dogma da "Santíssima Trindade", é o caso de perguntar-se: como é possível uma trindade de tantos Espíritos, na unidade de um só Deus?

Já é tempo da humanidade compreender e sentir as palavras do Divino Mestre em espírito e verdade. É preciso que rompa desassombradamente com o tabu dos dogmas e dos preconceitos: é necessário não creia de olhos fechados, sem investigar, sufocando a inteligência, quando o raciocínio é o dom mais precioso do espírito.

Que os homens se arreceiem menos do inferno e mais do erro! Que possam compreender a verdade sem o pavor de pretensas heresias, porque, quando interpretam os Evangelhos com sinceridade (que também é amor), Jesus nos vê, nos assiste e nos ilumina!


terça-feira, 25 de março de 2014

XXXI - Apreciando a Paulo


XXXI
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

Tipografia Kardec – 1958


“Mas, se alguém não tem cuidado dos seus,
e principalmente dos da sua família,
negou a fé e é pior do que o infiel.”
(Paulo - Primeira Epístola a Timóteo, 5:8)
             
            “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”, conforme ensina Allan Kardec, no cap. XVII, nº 4, de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, uma das obras fundamentais de nossa doutrina. Com efeito, encontram-se naquele livro, hoje tão divulgado, os princípios elementais do puro Cristianismo - e o Espiritismo outra coisa não é senão o verdadeiro Cristianismo - tal como era praticado entre os apóstolos do Senhor e seus primeiros discípulos, pois que eles adoravam a Deus “em espírito e verdade” consoante a lição que o próprio Nazareno dera à samaritana (João, 4:23 e 24).

            Realmente, os primitivos seguidores de Jesus, tal e qual agora fazemos, exercitavam os dons espirituais, como São Paulo mesmo dá testemunho, no capítulo doze de sua Primeira Epístola aos Coríntios. Eles criam no Paracleto (João, 14:26), que então se comunicava, como hoje sucede conosco. Repetimos, assim, o que faziam os primeiros discípulos de Jesus, isto é, os verdadeiros fundadores do Cristianismo, religião que tem como pedra angular o próprio Cristo (1 Coríntios, 10:4 e I Pedro, 2:4).

            Mas para que sejamos dignos do intercâmbio com o plano celestial é preciso que nos esforcemos para nos corrigir das imperfeições, analisando-as e combatendo-as com ardor e perseverança, conhecendo a nós mesmos, vencendo os maus pendores, isto é, os instintos inferiores ou perversos.

            Portanto, é indispensável estudar e cumprir os ensinamentos do Senhor Jesus e de seus apóstolos, que indicam o roteiro para nossa salvação, ou seja, para nossa evolução espiritual, que é eterna... e poderá ser constante.

            Uma das belas lições, profunda em sua moral, mas simples e lógica em seu enunciado, é a que está encerrada no versículo que serve de tema a estes comentários. É com prazer que nos abeberamos em Paulo, o apóstolo das gentes, vaso escolhido para levar o Evangelho a muitas terras e para deixa-lo, palpitante de vida, em suas epístolas imortais.

            Se alguém não dá o devido valor à sua família, certo não o dará também aos outros irmãos e muito menos aos estranhos. Nele impera ainda o egoísmo, característico de quem não é capaz de qualquer abnegação ou do menor sentimento de renúncia, em prol da felicidade de seus tutelados ou descendentes.

            “Porque, se alguém não sabe governar sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?” (I Tim., 3:5)

            Reconhecemos que há situações domésticas intoleráveis. É o carma, a lei de causa e efeito, ou melhor, o reajuste (que se prende a existências pregressas), às vezes doloroso, quando não há cooperação, nem entendimento.

            Frequentemente, é o próprio drama da obsessão que se desenrola no lar. São Espíritos ligados por velhas imperfeições ou compromissos e onde não se sabe bem qual é o obsessor, pois ambos se obsidiam com antigas rixas, com caprichos fúteis, que criam o inferno na vida conjugal. Ou, então, é o aguilhão da própria carne - nunca satisfeita, mas sempre exigente -, gerando o ciúme, a intolerância doméstica, a falta de caridade ou de amor.

            Mas os espíritas temos o dever de refletir, de orar e de vigiar. Quem sabe se nosso orgulho ou nossa vaidade não motiva às vezes situações que poderiam ser evitadas? Quem sabe se com o carinho, em lugar da irritação, não conseguiríamos um resultado melhor? A verdade é que nós, dizendo-nos cristãos, temos o dever de ser compreensivos e bondosos, mesmo sob o guante de um tratamento injusto, ainda que manifestado reiteradamente. Lembremo-nos do ensino do Cristo de Deus:

            “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.” (Marcos, 8:34)

            Qual a vantagem de renunciar à cruz? Ser livre para sofrer depois outras desilusões, talvez piores?

            O certo é que, mesmo um pequeno nada, uma resposta brusca ou irritada, quando deveríamos calar, caridosamente, pode gerar uma tempestade, sobretudo quando há a predisposição, o desejo de ser o maior, o mais inteligente, o mais forte, esquecendo os ensinamentos do Senhor Jesus, que recomenda sempre a humildade.

            Sejamos fortes. Parodiando Euclides da Cunha, poderemos dizer que o espírita ou o cristão, antes de tudo, é um forte. Deve dar o testemunho de sua fortaleza moral, pregando pelo exemplo, resistindo às tentações e às dificuldades da vida, vencendo-as, superando-as, evoluindo sempre, porque assim é a lei, que devemos respeitar e cumprir.

            Nada de desânimos, nem de dúvidas; nada de inquietações, nem de desesperos.

            O amor, quando sincero, a tudo vence.

            A certas situações delicadas ou difíceis, quase sempre falta o amor. Mas se buscarmos, dentro de nós mesmos, as forças necessárias, encontrá-las-emos em Jesus, que é o Amor supremo e a Tolerância eterna.

            A prece é consolo, reforço de garantia, escudo contra as tentações, onde encontraremos ânimo para transpor as montanhas, que são as dificuldades da vida.

            Quem não pecou, quem não errou ou jamais caiu, na subida de seu Calvário? O Cristo Jesus deu o exemplo, jamais falindo, é verdade, porém retomando sua cruz, logo depois que tombava, e prosseguindo no cumprimento da lei ou da vontade de nosso Pai Celestial.

            O certo é que Deus a ninguém abandona. E como se não bastasse, temos ainda os Mensageiros dos Céus, sobretudo nós, espíritas, que acreditamos em sua proteção e em sua bondade e sabemos que eles estão sempre prontos a ajudar-nos, quais novos cireneus, a fim de que possamos prosseguir na jornada de nossa redenção e para nossa felicidade.

            Portanto, rarissimamente é justificável que alguém abandone sua família, seus deveres, sua verdadeira missão na Terra.

            E livre-se o homem de negar suas obrigações ou sua fé, para que não seja tido, como diz o apóstolo, “pior que o infiel”. Este, pelo menos, pensa que nada existe ou duvida sempre. Mas nós, que acreditamos em Deus e em seus Mensageiros, devemos ter a convicção e a confiança de que Sua misericórdia é infinita e jamais nos abandonará.

            Entretanto, se padecemos injustiças, é porque, evidentemente já as praticamos, nesta ou em vidas anteriores. Porém, no momento de saldarmos o débito, em vez de nos conformarmos com a situação angustiosa, revoltamo-nos, discutimos, exacerbamo-nos e perdemos a oportunidade que a prova nos oferece.

            Cumpre-nos recordar também o problema do perdão, que deve ser dado não somente sete, mas setenta vezes sete (Mateus, 18:21 e 22). E quanto mais difícil for, ao nosso orgulho, vaidade ou amor próprio, maior mérito terá aos olhos de Deus.

            Os incidentes domésticos - e jamais haverá quem não os tenha - são sempre lições para treinar nossa paciência, bondade, compreensão ou tolerância. Daí porque o lar é escola de virtudes, onde não podemos fracassar. E se nós somos fortes, como disse ainda São Paulo, em Romanos, 15 :1, “devemos suportar as fraquezas dos fracos”, tendo piedade e amor para com aqueles que o Senhor nos confiou.

            E por que somos fortes? - Porque conhecemos as lições do Cordeiro de Deus, “que tira o pecado do mundo”, e nos propusemos cumpri-las e respeita-las. Pouco nos deve importar que outros as conheçam e não as cumpram. Nós é que somos responsáveis por nossos próprios atos, que devem ser sempre ungidos de amor e de perdão!

            É verdade que a doutrina do Rabi da Galileia é muito simples, mas difícil de ser praticada por nós outros, espíritos ainda atrasados e imperfeitos. Contudo, feliz do que transpõe o obstáculo e vence o óbice ou as tentações do caminho. Este terá méritos e poderá ser considerado, realmente, como espírita, ou seja, como um verdadeiro cristão.

            Deus não dá a cruz superior às nossas forças. Melhor será resistirmos ao mal e procurar vencê-lo, do que nos deixarmos arrastar pelo descontrole das paixões ou por ímpetos de que nos poderemos depois arrepender.

            Além disto, tudo tem sua razão de ser, cada um cumpre seu destino e dele não pode fugir. São Paulo mesmo teve um espinho na carne (II Coríntios, 12:7), ao qual resistiu com denodo e cujas dificuldades superou. É claro que “o mensageiro de Satanás que o esbofeteava” deve ser tomado ali, não ao pé da letra, mas em sentido figurado. Ninguém sabe ao certo o que era, mas foi, sem dúvida, uma forte tentação ou um sofrimento que constantemente o martirizava, sendo-lhe mesmo atribuídas as mais variadas moléstias, a começar pela vista. Mas o apóstolo enfrentou essa situação angustiosa, fosse qual fosse, com ânimo viril, vencendo-a, transpondo o obstáculo e deixando-nos o exemplo de seu sofrimento e de seu triunfo.

            Assim, lembremo-nos de que David, séculos antes de São Paulo, já afirmava com a mesma simplicidade e certeza, no Salmo 23, tão encantador e singelo, mas sempre oportuno e edificante:

            “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.
            Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.
            Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
            Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
            Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
            Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias.”


domingo, 23 de março de 2014

XXX - Apreciando a Paulo




XXX
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

Tipografia Kardec – 1958

“Nao veio sobre vós tentação, senão humana;
mas fiel é Deus que vos não deixará tentar acima do que podeis,
 antes com a tentação dará também o escape,
 para que a possais suportar.”
Paulo - I Epístola aos Coríntios, 10:13.


            Deus é bom; e Jesus mesmo chegou a afirmar que só Ele é bom, o que foi registrado por todos os Evangelhos sinóticos (Mateus, 19:17; Marcos, 10:18 e Lucas, 18:19).

            Uma das manifestações da bondade divina é que o Senhor não dá qualquer cruz superior às forças de quem necessita carrega-la. Foi por isto que Paulo disse, no versículo supra, “que Deus não vos deixará tentar acima do que podeis”.

            Que ninguém desespere, portanto! O sofrimento ou a tentação é sempre proporcional a cada um, e só os que têm capacidade de resistência são capazes das grandes provações. Aliás, quanto mais forte for a prova, mais valor em suportá-la, assim como, quanto mais difícil o perdão, mais mérito haverá aos olhos de Deus em manifestá-lo, sinceramente. As tentações existem. Nosso Senhor, em várias passagens de seus Evangelhos, confirma-o. E já no Pai Nosso ensinara que pedíssemos:

            “E não nos induzas à tentação” ou “não nos deixes cair em tentação”, conforme a tradução mais conhecida, de Mateus, 6:13.

            Ele também acentuou, de outra feita:

            “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação: na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.” (Mateus, 26:41)

            O Divino Mestre repetiu, em Lucas 22:40:

            “Orai, para que não entreis em tentação.”

            Mas, apesar de tantas recomendações do Divino Mestre, ainda há pretensos espíritas que, fazendo confusão doutrinária, dizem que não há necessidade de prece!

            A Esses que condenam as orações - desobedecendo às palavras do Messias - ou aos que negam valor à Bíblia, onde tais ensinamentos foram registrados, poderemos perguntar: se não convém dar crédito às lições de Jesus, então, a quem devemos ouvir? Qual nosso ponto de referência ou a base das comunicações? Só nosso livre arbítrio, variável de pessoa a pessoa, bastará para distingui-las?

            Não é crível que os Espíritos tenham querido legar uma filosofia à Humanidade, contrária às instruções do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.

            Que categoria de Espíritos ou de homens são esses, que se chocam com os ensinamentos do Salvador? Deverão merecer crédito em suas inovações doutrinárias?

            Vê-se, portanto, e desde logo, que aqueles nossos irmãos, distanciando-se da palavra bíblica (a que Allan Kardec deu também muito valor), estão transviados da verdade, que liberta. E se Jesus mesmo disse que ele é a verdade (João, 14:6) e que passarão o Céu e a Terra, porém jamais as suas palavras hão de passar (Mateus, 24:35), desviarmo-nos delas ou da sublimidade de seus ensinamentos, é deixar a luz pelas trevas ou pela confusão, oriunda de um negativismo impenitente ou da falta de uma orientação segura, de um ponto de referência superior e exato, para cairmos voluntariamente no erro, sem justificativa lógica.

            Mas voltemos à análise ou à razão de ser das tentações.

            Elas são consequências de nossas próprias fraquezas ou de nossas imperfeições. E às vezes são necessárias para provarem nossa fé ou grau de nossa sinceridade para com o Senhor.

            Assim, não nos podemos livrar das tentações, mas sim de cairmos nelas; e é isto o mais importante; não cedermos às injunções do mal ou às ciladas do erro, pois que as tentações são como que exames a que somos submetidos, sob o ponto de vista moral.

            O Cristo de Deus explica o fenômeno, na parábola do semeador (Mateus, 13; Marcos, 4; Lucas, 8:4 a 15).

            Há sementes que, caindo em pedregais, onde não há terra bastante, logo nascem, mas o Sol as queima, secando-as. Outras, caem entre espinheiros e estes as sufocam. Mas algumas, em boa terra, e dão frutos cuja quantidade é variável. Assim é a palavra divina; alguns a recebem, mas, chegando a angústia ou a perseguição, dela se afastam; outros, preocupados com as coisas deste mundo, deixam para mais tarde o cumpri-la, perdendo a oportunidade e a encarnação. .. Alguns, porém, dão frutos do bem e da verdade, servindo à causa do Senhor, o que redundará em sua felicidade ou em sua elevação espiritual.

            Mas o Galileu ainda nos adverte que a senda da salvação é cheia de escolhos:

            “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela;
            E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, poucos há que a encontrem.” (Mateus, 7:13 e 14)

            Qual é, pois, o remédio para as tentações?' O ensino ainda é de Jesus: - a prece e o respeito aos seus mandamentos:

            “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” (João, 14:21.)

            E como ninguém neste mundo é perfeito; e uma vez que todos estamos sujeitos a falir, “porque a carne é fraca”, devemos orar e vigiar, para não cairmos em tentação, conforme o Cristo de Deus nos recomenda.

            Vigiar, ensinam-nos os Mensageiros do Senhor, é ter cuidado com nossas palavras e com nossa conduta, com as companhias e os lugares que frequentamos, onde, por vezes, as tentações são maiores. E termos o Espírito prevenido contra as ciladas das trevas.

            Também, como está escrito em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, há muita superioridade em saber calar, deixando que fale o insensato, pois “não brigam dois quando um não quer”, conforme diz a sabedoria popular.

            O certo é que, sendo prudentes na conversação e criteriosos no procedimento, estaremos mais livres das tentações ou de seus efeitos nefastos.

            Os que têm temperamento explosivo - e há muitos assim - devem ter cuidado antes de dar certas respostas ou antes de tomarem alguma atitude, não se deixando guiar pelos primeiros impulsos. As aparências iludem e, por outro lado, às vezes não houve a intenção ou o sentido que a pessoa nervosa atribui a algum fato, resultando dai uma consequência grave, que poderia ser evitada.

            Outrossim, lembremo-nos de que as palavras, às vezes, cortam mais do que as navalhas e convém termos cautela para não sermos contundentes ou perversos na conversação. Um boato levianamente espalhado -, com ou sem fundamento, pode dar lugar a muitas desgraças. Sejamos sempre instrumentos do bem e não da desagregação ou das trevas.

            Em síntese, se tivermos o que os ingleses chamam self control, se vigiarmos os impulsos e os atos cotidianos, sobretudo se combatermos nossos erros, estaremos livres de muitos aborrecimentos e superaremos inúmeras tentações.

            O jogo é um vício pernicioso e dele devemos fugir. Quantas infelicidades têm advindo das cartas e das roletas! Jogo a dinheiro, nem por passatempo familiar, pois serve de mau exemplo aos filhos; é escola do erro e de outros males, que lhe são adjetos. É tão nocivo que até o de dama e o de xadrez, que têm toda a aparência de inocentes, quando transformados em vício, devem ser abolidos. Há pessoas que só vivem, por assim dizer, para jogar xadrez ou para resolver seus problemas. Ocupam o melhor de sua vida em tal atividade, perdendo mil ensejos de fazer o bem, abstraídas, empolgadas, iludidas por tal mania, que em outros está no futebol, erigido em verdadeiro fanatismo. Perdem estes ainda ao rádio, horas preciosas, que podiam ser dedicadas às boas leituras, que instruem e edificam. E quantas novelas atrasam o serviço doméstico e geram desarmonia no lar? Não temos o direito de ser rigorosos, é verdade, mas apenas estamos analisando fatos... pedindo perdão se com isto importunamos
alguém.

            O cristão deve evitar tudo o que possa gerar desarmonia, tudo o que entrave a evolução ou a ascensão de seu Espírito. Ser verdadeiramente espírita ou esforçar-se por sê-lo, é aprender a renunciar a muita coisa mundana, alegre ou divertida, toda vez que ela possa desviar-nos do cumprimento de nossos deveres ou que nos conduza ao erro ou ao pecado.

            Assim comentando, não queremos dizer que sejamos ermitões ou reclusos do mundo e que nos privemos de tudo aquilo que apreciamos. Mas, geralmente, o defeito não está no uso, porém no abuso, isto é, no vício ou no descontrole.

            O que queremos afirmar é que devemos ter continência em nossos atos, de tal maneira que possamos participar de todas as diversões honestas, mas sem exagerarmos, e, sobretudo, sem nos viciarmos na prática de qualquer delas, o que importará na subjugação de nossa vontade ou na escravidão do Espírito. Este foi criado, sem dúvida, para finalidades nobres ou altruísticas, e não somente para gozar as coisas do mundo, como pensam os levianos, esquecidos de que, mais cedo ou mais tarde, suportaremos as consequências de nossos próprios erros, os quais sempre acumulam desgraças sobre nossas cabeças, através de experiências dolorosas.

            Por consequência, perder o melhor de nosso tempo com coisas fúteis, é desperdiçar grandes oportunidades, que podiam ser empregadas no estudo, na prática do bem, ou, ainda, no melhor cumprimento de nossos trabalhos cotidianos. Amar as obrigações e cumpri-las com alegria é dever de todo aquele que se diz cristão.

            Quanto às tentações, elas são próprias do plano em que vivemos e até necessárias ao nosso progresso espiritual. Assim, estejamos certos de que temos dentro de nós a força justa e adequada para vencer qualquer delas, por pior que nos pareça, porque, como afirma o apóstolo Paulo, se as tentações existem, “o Senhor dá também o escape, para que as possais suportar”.