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quinta-feira, 11 de junho de 2020

Treino para a morte



Treino para a morte
Irmão X por Chico Xavier
Reformador (FEB) Outubro 1975

            Preocupado com a sobrevivência além do túmulo, você pergunta, espantado, como deveria ser levado a efeito o treinamento de um homem para as surpresas da morte.
            A indagação é curiosa e realmente dá que pensar.
            Creia, contudo, que, por enquanto, não é muito fácil preparar tecnicamente um companheiro à frente da peregrinação infalível.
            Os turistas que procedem da Ásia ou da Europa habilitam futuros viajantes com eficiência, por lhes não faltarem os termos analógicos necessários. Mas nós, os desencarnados, esbarramos com obstáculos quase intransponíveis.
            A rigor, a Religião deve orientar as realizações do espírito, assim como a Ciência dirige todos os assuntos pertinentes à vida material. Entretanto, a Religião, até certo ponto, permanece jungida ao superficialismo do sacerdócio, sem tocar a profundez da alma.
            Importa considerar também que a sua consulta, ao invés de ser encaminhada a grandes teólogos da Terra, hoje domiciliados na Espiritualidade, foi endereçada justamente a mim, pobre noticeirista sem méritos para tratar de semelhante inquisição.
            Pode acreditar que, não obstante achar-me aqui de novo, há quase vinte anos de contado, sinto-me ainda no assombro de um xavante, repentinamente trazido da selva mato-grossense para alguma de nossas Universidades, com a obrigação de filiar-se, de inopino, aos mais elevados estudos e as mais complicadas disciplinas.
            Em razão disso, não posso reportar-me senão ao meu próprio ponto de vista, com as deficiências do selvagem surpreendido junto à coroa da Civilização.
            Preliminarmente, admito deva referir-me aos nossos antigos maus hábitos.
            A cristalização deles, aqui, é uma praga tiranizante.
            Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição. O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.
            Os excitantes largamente ingeridos constituem outra perigosa obsessão. Tenho visto muitas almas de origem aparentemente primorosa, dispostas a trocar o próprio Céu pelo uísque aristocrático ou pela nossa cachaça brasileira.
            Tanto quanto lhe seja possível, evite os abusos do fumo. Infunde pena a angústia dos desencarnados amantes da nicotina.
            Não se renda à tentação dos narcóticos. Por mais aflitivas lhe pareçam as crises do estágio no corpo, aguente firme os golpes da luta. As vítimas da cocaína, da morfina e dos barbitúricos demoram-se largo tempo na cela escura da sede e da inércia.
            E o sexo? Guarde muito cuidado na preservação do seu equilíbrio emotivo.
            Temos aqui muita gente boa carregando consigo o inferno rotulado de “amor”.
            Se você possui algum dinheiro ou detém alguma posse terrestre, não adie doações, caso esteja realmente inclinado a fazê-las. Grandes homens, que admirávamos no mundo pela habilidade e poder com que concretizavam importantes negócios, aparecem, junto de nós, em muitas ocasiões, à maneira de crianças desesperadas por não mais conseguirem manobrar os talões de cheque.
            Em família, observe cautela com testamentos. As doenças fulminatórias chegam de assalto, e, se a sua papelada não estiver em ordem, você padecerá muitas humilhações, através de tribunais e cartórios.
            Sobretudo, não se apegue demasiado aos laços consanguíneos. Ame sua esposa, seus filhos e seus parentes com moderação, na certeza de que, um dia, você estará ausente deles e de que, por isso mesmo, agirão quase sempre em desacordo com a sua vontade, embora lhe respeitem a memória. Não se esqueça de que, no estado presente da educação terrestre, se alguns afeiçoados lhe registrarem a presença extraterrena, depois dos funerais, na certa intimá-lo-ão a descer aos infernos, receando- lhe a volta inoportuna.
            Se você já possui o tesouro de urna fé religiosa, viva de acordo com os preceitos que abraça. É horrível a responsabilidade moral de quem já conhece o caminho, em equilibrar-se dentro dele.
            Faça o bem que puder sem a preocupação de satisfazer a todos. Convença-se de que se você não experimenta simpatia por determinadas criaturas, há muita gente que suporta você com muito esforço.
            Por essa razão, em qualquer circunstância, conserve o seu nobre sorriso.
            Trabalhe sempre, trabalhe sem cessar.
            O serviço é o melhor dissolvente de nossas mágoas.
            Ajude-se, através do leal cumprimento de seus deveres.
            Quanto ao mais, não se canse nem indague em excesso, porque, com mais tempo ou menos tempo, a morte lhe oferecerá o seu cartão de visita, impondo-lhe ao conhecimento tudo aquilo que, por agora, não lhe posso dizer.

                (Fonte: "Cartas & Críticas”(Ed. FEB) por Irmão X, psicografia de Francisco Cândido Xavier)


sábado, 28 de março de 2020

As rosas do Infinito



As rosas do Infinito
Irmão X
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Junho 1952

            Em deslumbrante paisagem da Esfera Superior, diversos mensageiros se congregavam em curioso certame. Procediam de lugares diversos e traziam flores para importante aferição de mérito.

            Na praça enorme, pavimentada de substância semelhante ao jade, colunas multicores exibiam guirlandas de soberana beleza.

            Rosas de todos os feitios e cravos soberbos, gerânios e glicínias, lírios e açucenas, miosótis e crisântemos exaltavam a Sabedoria do Criador, em festa espetacular de cores e perfumes.

            Envergando túnicas resplendentes, servidores espirituais iam e vinham, à espera dos juízes angélicos.

            A exposição singular destinava-se à verificação da existência de luz divina. 0s múltiplos exemplares que aí se alinhavam, salientando-se que os espécimes com maior teor de claridade celeste seriam conduzidos ao Trono do Eterno, como preito de amor e reconhecimento dos trabalhadores do bem.

            Os julgadores não se fizeram esperados.

            Quando a expectação geral se mostrava adiantada, três emissários da Majestade Sublime atravessaram as partas de dourada filigrana e depois das saudações afetuosas, iniciaram o trabalho que lhes competia. Aquele que detinha mais elevada posição hierárquica trazia nas mãos uma toalha de linho translúcido, o único apetrecho que certamente utilizaria na tarefa de análise das preciosidades expostas.

            Cada ramo era seguido de pequena comissão representativa do serviço espiritual em que fora selecionado.

            Aproximou-se o primeiro grupo, trazendo uma braçada de rosas, tecidas com as emoções do carinho materno que, lançadas à toalha surpreendente, expediram suaves irradiações em azul indefinível, e os anjos abençoaram o devotamento das mães, que preservam os tesouros de Deus, na posição de heroínas desconhecidas.

            Logo após, brilhante conjunto de Espíritos jubilosos deitou ao pano singular uma coroa de lírios, formados pelas vibrações de fervor das almas piedosas que se devotam nos templos ao culto da fé. Safirinas emanações cruzaram o espaço e os celestes embaixadores louvaram os santos misteres de todos os religiosos do mundo.

            Em seguida, alegre comissão juvenil trouxe a exame delicado ramalhete de açucenas, estruturadas nos sonhos e nas esperanças dos noivos que sabem aguardar a Bênção Divina, e raios verdes de brilho intraduzível se projetaram em todas as direções, enquanto os emissários do Todo Misericordioso entoaram encômios aos afetos santificantes das almas.

            Lindas crianças foram portadoras de formosa auréola de jasmins, nascidos da ternura infantil, e que, depostos sobre a toalha miraculosa, emitiram alvíssima luz, semelhante a fios de aurora, incidindo sobre a neve.

            Depois, pequeno agrupamento de criaturas iluminadas colocou, sob os olhos dos anjos, bela grinalda de cravos rubros, colhidos na renunciação dos sábios e dos heróis, a serviço da Humanidade, que exteriorizaram vermelhas emanações, quais se fossem constituídas de eterizados rubis.

            E, assim, cada comissão submeteu ao trabalho seletivo as joias que trazia.

            O devotamento dos pais, os laços esponsalícios, a dedicação dos filhos, o carinho dos verdadeiros amigos, a devoção de vários matizes ali se achavam magnificamente representados pelas flores cuja essência lhes correspondia.

            Em derradeiro lugar, compareceu a mais humilde comissão da festa.

            Quatro almas, revelando características de extrema simplicidade, surgiram com um ramo feio e triste. Eram rosas mirradas, de cor arroxeada, mostrando pontos esbranquiçados à guisa de manchas, a desabrocharem ao longo de hastes espinhosas e repelentes. Depostas, no entanto, sobre a mágica toalha, inflamaram-se de luz solar, a irradiar-se do recinto à imensidão dos Céus.

            Os três anjos puseram-se de joelhos. Inesperada comoção encheu de lágrimas os olhos espantados da enorme assembleia. E porque alguns dos presentes chorassem, com interrogação imanifestas, o grande juiz do certame esclareceu, emocionado:

            - Estas flores são as rosas de amor que raros trabalhadores do bem cultivam nas sombras do inferno. São glórias do sentimento puro, na fraternidade real, da suprema consagração à virtude, porque somente as almas libertas de todo o egoísmo conseguem servir a Deus, na escória das trevas. Os acúleos que se destacam das hastes agressivas simbolizam as dificuldades superadas, as pétalas roxas significam o arrependimento e a consolação dos que já se transferiram da desolação para a esperança, e os pontos alvos expressam o pranto mudo e aflitivo dos heróis anônimos que sabem servir sem reclamar.

            E, entre cânticos de transbordante alegria, as rosas estranhas subiram rutilantes ao Paraíso.
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            Ó vós, que lutam no caminho empedrado de cada dia, enxugai as lágrimas e esperai! As flores mais sublimes para o Céu nascem na Terra, onde os companheiros da boa vontade sabem viver para a vitória do bem, com o suor do trabalho incessante e com as lágrimas silenciosas do próprio sacrifício.

sábado, 21 de março de 2020

Ensinar deleitando



Ensinar deleitando
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Abril 1958

            Uma plêiade de Espíritos de luz, em nossos dias, vêm criando a mais bela literatura de todos os tempos, ensinando as Verdades eternas em forma doce e encantadora.

            A beleza da forma perpetua o ensino e pacientemente aguarda o progresso geral para produzir frutos. Poderíamos faz longa lista de belos poemas e romances, recebidos e publicados nestes decênios mais recentes, que possuem suficiente valor artístico para romper as limitações de tempo e se eternizarem no mundo, mas neste pobre artiguete vamos mencionar somente um livrinho a aparecer com o título “Contos e Apólogos” do Irmão X, recebidos pelo médium Francisco Cândido Xavier.

            São quarenta pérolas que formam um lindo colar. Nenhum conto é longo, mas todos merecem longa meditação pela sabedoria que encerram. Postos em outra forma, dariam um catecismo de Doutrina espiritualista cristã, mas perderiam o encanto de contos.

            Como prefácio vem uma “Oferenda”, na qual o autor diz que ouviu de outros viajores todas as histórias instrutivas sobre a eternidade da vida e a glória do porvir. A Doutrina genuinamente cristã mas apresentada em forma diferente dos catecismos, com mais arte, com a reencarnação aparecendo em páginas diversas.

            Alguns desses contos já foram impressos em Reformador e será agradável ao leitor estudá-las de novo, com mais vagar, no belo livrinho. Será recordar o caso da fazendeira desalmada que lançou uma pobre escrava nas águas do Paraíba e cem anos mais tarde morre vítima de uma inundação; da lição de Jesus sobre a necessidade da do; da vida desastrada de um servidor que adiava sempre as suas realizações e é colhido inesperadamente pela Morte; do sofrimento como caçador providencial para nos encaminhar a Deus; do raio de luz e do raio de treva lançados nos corações, cada um produzindo os efeitos que lhe são próprios; da inutilidade da caridade apenas teórica; das ilusões do mundo que prestam homenagens aos maus, etc., etc.

            Ponhamos esse livrinho nas mãos de todos; jovens e velhos, homens e mulheres, e nele cada um de nós terá muito a aprender.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Dr Bezerra e o Cético


‘Dr Bezerra e o Cético’
Livro: ‘Estante da Vida’ – “Irmão X” por Chico Xavier

 Conta-se que o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes orientava, no Rio, uma reunião de estudos espíritas, com a palavra livre para todos os circunstantes, quando, após comentários diversos, perguntou se mais alguém desejava expressar-se nos temas da noite.

Foi então que renomado materialista, seu amigo pessoal, lhe dirigiu veemente provocação:

- Bezerra, continuo ateu e, não somente por meus colegas mas também por mim, venho convidá-lo a debate público, a fim de provarmos a inexpugnabilidade do Materialismo contra as pretensões do Espiritismo. E previno a você que o Materialismo já levantou extensa lista de médiuns fraudulentos; de chamados sensitivos que reconheceram os seus próprios enganos e desertaram das fileiras espíritas; dos que largaram em tempo o suposto desenvolvimento das forças psíquicas e fizeram declarações, quanto às mentiras piedosas de que se viram envoltos; dos ilusionistas que operam em nome de poderes imaginários da mente; e, com essa relação, apresentaremos outro rol de nomes que o Materialismo já reuniu, os nomes dos experimentadores que demostraram a inexistência da comunicação com os mortos; dos sábios que não puderam verificar as factícias ocorrências da mediunidade; dos observadores desencantados de qualquer testemunho da sobrevivência; e dos estudiosos ludibriados por vasta súcia de espertalhões… Esperamos que você e os espíritas aceitem o repto.

Bezerra concentrou-se em preces, alguns instantes, e, em seguida, respondeu, aliando energia e brandura:

- Aceitamos o desafio, mas tragam também ao debate aqueles que o Materialismo tenha soerguido moralmente no mundo; os malfeitores que ele tenha regenerado para a dignidade humana; os infelizes aos quais haja devolvido o ânimo de viver; os doentes da alma que tenha arrebatado às fronteiras da loucura; as vítimas de tentações escabrosas que haja restituído à paz do coração; as mulheres infortunadas que terá arrancado ao desequilíbrio; os irmãos desditosos de quem a morte roubou os entes mais caros, a cujo sentimento enregelado na dor terá estendido o calor da esperança; as viúvas e os órfãos, cujas energias terá escorado para os caluniados aos quais terá ensinado o perdão das afrontas; os que foram prejudicados por atos de selvageria social mascarados de legalidade, a quem haverá proporcionado sustentação para que olvidem os ultrajes recebidos; os acusados injustamente, de cujo espírito rebelado terá subtraído o fel da revolta, substituindo-o pelo bálsamo da tolerância; os companheiros da Humanidade que vieram do berço cegos ou mutilados, enfermos ou paralíticos, aos quais terá tranqüilizado com princípios de justiça, para que aceitem pacificamente o quinhão de lágrimas que o mundo lhes reservou; os pais incompreendidos a quem deu força e compreensão para abençoarem os filhos ingratos e os filhos abandonados por aqueles mesmos que lhes deram a existência, aos quais auxiliou para continuarem honrando e amando os pais insensíveis que os atiraram em desprezo e desvalimento; os tristes que haja imunizado contra o suicídio; os que foram perseguidos sem causa aparente, cujo pranto terá enxugado nas longas noites de solidão e vigília, afastando-os da vingança e da criminalidade; os caídos de toda as procedências, a cujo martírio tenha ofertado apoio para que se levantem…

Nesse ponto da resposta, o velho lidador fêz uma pausa, limpou as lágrimas que lhe deslizavam no rosto e terminou:


- Ah! meu amigo, meu amigo! … Se vocês puderem trazer um só dos desventurados do mundo, a quem o Materialismo terá dado socorro moral para que se liberte do cipoal do sofrimento, nós, os espíritas, aceitaremos o repto.


Profundo silêncio caiu na pequena assembléia, e, porque o autor da proposição baixasse a cabeça, Bezerra, em prece comovente, agradeceu a Deus as bênçãos da fé e encerrou a sessão.