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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Melhor que não seja...




A Tragédia
de Santa Maria

            Verão de 1943 – Um trem se aproxima do campo de concentração de Auschwitz. Lotado. A carga? Seres humanos socialmente apartados por sua origem e formação religiosa. Amontoados, sofriam de sede, fome e doenças. Destino? Ignorado por todos. Alguém dissera que seria um local de trabalho e que, finalmente, seriam tratados com alguma dignidade. Outros, com uma sensação desagradável, esperavam o pior: a morte. Ao chegar, soldados do nacional socialismo os receberam. O tratamento foi ríspido. Cães obrigavam a todos a permanecer próximos aos vagões de carga.

            Começa o processo de seleção. Velhos, doentes e crianças foram separados e colocados em fila. Diziam os soldados do nacional socialismo que seria necessário que passassem por um banho onde seriam tratados contra infestação de piolhos e outras moléstias.

          Ficaram nus. Um constrangimento a mais num ambiente cercado de ódio, rudeza e maus tratos.

            Entraram na sala. Amontoados. Sentiram um cheiro de gás. Era o Zyklon B que começava a espalhar-se pelo ambiente. Gritos. Muitos gritos. Gritos de socorro. Um a um, foram rapidamente se calando deixando-se levar pelo efeito do gás.

            Todos morrem.

            Semelhanças com a tragédia de Santa Maria? - Muitas.

            Verdadeiro?  

            - Não sei...  Melhor que não seja. 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A Tragédia da Chapecoense



       Se você está buscando os motivos para uma tragédia tão dolorosa, talvez você encontre explicação e consolo na leitura dos textos sob marcação 'A Chapecoense'. Busque na coluna ao lado. Deus é, sempre foi e sempre será soberanamente bom e justo.  Rezemos por todos, os que partiram e os que ficaram. O Blog

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Calamidades Salvadoras


Calamidades
Salvadoras


            Malgrado toda a cultura que já amontoaram, os homens ainda não conseguem nem entender nem enfrentar as coisas comezinhas que fazem parte integrante de sua estada na crosta terrena. Bem o demonstra o estupor que lhes causam as ocorrências que aparentam decorrer da atuação de forças cegas e caprichosas, rotuladas de fatalidade. A dificuldade, para os encarnados, reside no fato de não possuírem uma concepção firme e racional de suas próprias condições de vida neste «vale de lágrimas», a despeito de todos os protestos que fazem de suas convicções espiritualistas e de sua crença na imortalidade. De fato, para aqueles que reduzem a uma vida única, no plano terráqueo, o mecanismo de ação duma justiça, perfeita e Iniludível - toma-se totalmente incompreensível um acontecimento como o pavoroso incêndio ocorrido no Edifício Joelma, na cidade de São Paulo, onde perto de 200 pessoas foram arrebatadas da vida pelos processos mais dolorosos, sendo a grande maioria constituída de jovens que despontavam para o porvir.

            Diante de quadros como esse é que se pode averiguar a solidez e a justeza da Doutrina Espírita, cujas virtudes consoladoras se realçam exatamente nessas contingências, pois só mesmo a ideia das vidas sucessivas pode asserenar o pensamento atordoado dos homens, fazendo-os entrever a justiça imanente na trama dos fatos cuja brutalidade inesperada os faz descambar, muita vez, para o desespero, a dúvida, e até a descrença. A reencarnação põe à mostra a dinâmica da justiça perfeita e infalível, a desenrolar-se através da lei de ação e reação, que, em suas determinantes, sujeita, sempre e inapelavelmente, a colher segundo o que se planta. E a exatidão desse mecanismo alcança tanto os atos cometidos individualmente quanto aqueles praticados coletivamente. Por isso mesmo, aquilo que aos olhos dos homens são terríveis coincidências, a reunirem num dado local e no mesmo momento criaturas as mais diversas, provenientes das mais distanciadas procedências, conhecidas ou desconhecidas, e impelidas pelas mais fortuitas razões, são, na verdade, dispositivos providenciais que agrupam Espíritos com débitos contraídos em comum e chamados, portanto, no momento oportuno, a resgatarem conjuntamente as responsabilidades assumidas em parceria.

            Se meditarmos bem, é de se agradecer a Deus a irrupção dessas calamidades imprevisíveis, cujas causas imediatas não possam ser imputadas à ação deliberada dos homens, Porque mil vezes mais sinistras são aquelas ocasionadas pela cegueira e pela inópia moral dos homens, como as guerras desencadeadas pelo egoísmo e pelas paixões coletivas, pelo patriotismo inumano que conduz nações inteiras a se digladiarem e exterminarem, e que ainda faz que os patriotas estufem o peito de orgulho, por dizimarem o inimigo, arrasando suas cidades, ou por morrerem heroicamente ...

            Deplorável, nesse particular, o espetáculo que ainda oferece o mundo nos dias presentes. Ignorante ou alienada das coisas do espírito, da realidade de si mesma, a humanidade continua a movimentar o carrossel do círculo vicioso e carreando, para si mesma, os ônus das dores repetitivas, inteiramente desatenta, para sua própria infelicidade, à profunda advertência do Mestre Divino, quando disse: «O escândalo é necessário, mas ai daquele por quem vier o escândalo! ... » Há, contudo, que se refazer dos golpes dolorosos.

             Os desígnios do Pai Celestial são sempre magnânimos e impregnados de misericórdia, que começa por balsamizar as angústias daqueles que são atingidos pela severidade da lei. Misericórdia que impele a todos, igualmente, nas linhas da evolução infinita, à conquista das galas da intelectualidade iluminada e do sentimento sublimado, quando então, sabendo senhorear todas as forças da Natureza e sendo os manobreiros dos próprios destinos, estarão livres das inferioridades e liberados, em definitivo, de suas funestas consequências.



Editorial deReformador’ (FEB) (Março 1974)





quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mãezinha, estou bem...



Mãezinha, estou bem!

com base no livro: ‘Somos Seis’ (Ed. GEEM-1976)
psicografia de Chico Xavier

           
Querida mãezinha, meu querido......... 
Primeiro a bênção que rogo a Deus em nosso auxílio 
e a bênção que rogo à querida mamãe para que as forças não me faltem,
agora que tomo o lápis com o auxílio de meu avô para escrever.

Não sei explicar a emoção que me controla todos os pensamentos.
 É como se voltasse o quadro de meses antes à memória.

Tudo me sensibiliza em excesso, tudo me faz recuar para rever 
o que devo contemplar em mim própria com serenidade. 
E parece sonho, mamãe, estarmos juntas, 
através das letras, no entendimento desejado.
............................................
Aqui, é alma para alma nas palavras que anseio impregnar 
de amor sem conseguir. 
Peço-lhe não chorem mais o que ficou para trás no tempo, 
por expressão das leis Divinas em forma de sofrimento.

Embora isto, sei que a senhora e os meus pedem notícias. 
Como foi o inesperado? Muito difícil a revisão. 
Tudo aconteceu de repente, 
como se devêssemos todos naquela manhã obedecer, 
de um modo só, a ordem que vinha do mais Alto, 
a fim de que a gente trocasse de vida e corpo.

Quando recebi o impacto da notícia do fogo, 
o tumulto fora da sala não era pequeno. 
O propósito de fazer com que o trabalho rendesse, 
habitualmente, nos isolávamos dos ruídos exteriores. 
E o tempo de preservação possível havia passado. 
Atendi automaticamente ao impulso que nascia nos outros companheiros
 – descer à pressa. E fizemos isso. 
Elevadores não mais podiam aguardar-nos.
 A força elétrica sofrera queda compreensível.

Esforcei-me por atingir algum meio para a descida, 
mas isso se fazia impraticável. 
Com alguns poucos que me podiam ouvir, 
subimos apressadamente para os cimos do prédio. 
A esperança nos helicópteros estava na nossa cabeça, 
mas era muito difícil abraçar tantos para o regresso 
à rua com os recursos tão poucos.  Entendi tudo e orei. 
Orei como nunca, lembrando toda a vida num momento só,
 porque os minutos de expectativa eram para nós 
um prolongado instante de expectativa sempre menor. 
Tudo atravessei com a prece no coração. 
E posso dizer a você, mãezinha querida,
 que um brando torpor me invadiu, pouco a pouco...

O calor era demasiado para que fosse sentido por nós, 
especialmente por mim com minudências de registro. 
Compreendi que não estávamos à beira de uma libertação 
para o mundo e sim na margem da Vida Espiritual 
que devíamos aceitar com fé em Deus. 
E aceitei. 
Os Amigos Espirituais, destacando-se meu avô ..., 
comigo durante todo o tempo, 
não me deixaram assinalar quaisquer violências, 
naturais numa ocasião como aquela, 
da parte daqueles que nos removiam do caminho 
em que se acreditavam no rumo da volta que não mais se verificaria.

Lembrando nossas preces e nossas conversações em casa, 
procurei esquecer as frases de desespero 
que se pronunciavam em torno de mim. 
Essa atitude de prece e de aceitação 
me auxiliou e me colocou em posição de ser socorrida.

Mais tarde com algumas horas de liberação do corpo, 
é que despertei ao seu lado.
Aquele amigo certo que hoje sei nele o meu avô
e benfeitor de todos os dias, 
estava a postos, reconfortando-me...

Estava em meu próprio leito, refazendo energias, 
e por ele fui informada de que a ilusão de estar no corpo, 
precisava ser esquecida; que o nosso querido ...., 
auxiliado por ele, me encontrara a forma física
 na instituição a que fôramos recolhidos, 
depois da luta enorme e que não me cabia agora, 
senão estar calma e forte para fortalecê-la.

Mas quem pode se gabar de ser mais forte que os outros 
numa ocasião qual naquela em que nos vimos 
todos agoniados e alterados
sem qualquer possibilidade de opção?
Chorei muito, mas Deus não nos abandona.

Por alguns poucos dias 
estive quase que constantemente ao seu lado, 
até dar-lhe a certeza de que devíamos estar em paz.
Meu avô e outros amigos me ajudaram 
e prossigo na recuperação necessária.

Os irmãos hospitalizados, os que se refazem dos choques, 
os que se reconhecem desfigurados 
por falta de preparação íntima na reconstituição da própria forma 
e os que se acusam doentes, são ainda muitos.

De minha parte, estou melhorando. 
Agradeço as suas preces e as orações de .............,
 ........ e dos nossos todos, 
sem esquecer a nossa querida ....e outras amigas.
Todos os pensamentos de paz que me enviam
 são preciosos agentes de auxílio em meu favor.

Quanto posso, mamãe, 
e auxiliada por enquanto e sempre por amigos queridos daqui, 
volto ao nosso ambiente familiar.

...............................................

O amor é um milagre permanente.  
Por ele as aflições se multiplicam 
e os nossos corações sempre se escoram 
em novas esperanças para a vitória da vida.

Querido ....., lembre-me como em nossos retratos felizes.
 Não me recorde desfigurada ou em situação difícil 
qual você é induzido a lembrar-me.
 Querido irmão, atravessamos aquela sombra.
 Agora, tudo é luz e bênção; 
seja para a nossa querida mamãe, o que você sempre foi, 
um companheiro e uma bênção.
............................................

Mamãe, continue forte e calma na fé. 
A morte não existe; o que existe é a mudança que, 
por vezes, quando imprevista, 
como foi o nosso caso, não é fácil de suportar.
.........................................................
Volquimar
13 Julho 1974

Nota de Esclarecimento: 
A jovem Volquimar trabalhava no 23º andar do Edifício Joelma, em São Paulo, Capital,  como gravadora de processamento de dados. Desencarnou em 1º de fevereiro de 1974, quando do incêndio iniciado na manhã desse dia e que consumiu quase todo o prédio, resultando em centenas de vítimas.


Favor atentar: 
Depois da FEB, O Grupo Espírita Emmanuel GEEM foi o que mais livros recebeu em doação pelo Chico. Atentem aos livros editados pelo GEEM. São como que um selo de qualidade da sã literatura espírita. 

segunda-feira, 30 de maio de 2011

2d Tragédias Coletivas


D

Todos recordamos, ainda hoje, a tragédia ocorrida no dia 17 de dezembro de 1961, com o Gran Circo Norte-Americano, na cidade fluminense de Niterói o qual, destruído por um incêndio, causou a morte de centenas de pessoas.
Consoante noticiário da época, o acontecimento teve tão grande repercussão que o Governador Paulo Peçanha decretou luto oficial por três dias em todo o Estado do Rio de Janeiro, enquanto o próprio Presidente João Goulart foi a Niterói a fim de se inteirar pessoalmente da catástrofe.
Realmente, foi uma tragédia que chocou todo o país.
Um delegado da Polícia Fluminense, que estivera assistindo ao espetáculo naquela tarde de domingo no Gran Circo Norte-Americano, calculava que 4.000 pessoas estavam presentes. Informava ainda que o incêndio começara por baixo do lado da fronteira de serviço e que vira numerosas pessoas serem pisoteadas pela massa humana em pânico.
Todos os hospitais de Niterói ficaram abarrotados de centenas de feridos. Quanto aos mortos, informavam alguns jornais que o número era de 305;afiançavam outros já na data de 19 de  dezembro que chegaria a 442!
Escoados cinco anos, ou seja, no ano de 1966, o Espírito Irmão X, através da mediunidade de nosso querido Francisco Cândido Xavier, escreveu a obra “Cartas e Crônicas”, publicada pela Federação Espírita Brasileira, na qual constava uma página realmente comovente, relembrando um episódio do Império Romano e passado na recuada época do ano 177.
O acontecimento tem início – segundo a mencionada página – numa reunião do ‘concilium’ de Lião, exatamente quando é anunciada para o dia seguinte a chegada de Lúcio Galo, famoso militar que desfrutava das atenções do Imperador.
Nessa reunião, de triste lembrança, planos são traçados com o fim de preparar a recepção para esse célebre cabo-de-guerra. E entre as muitas sugestões apresentadas uma se destaca pela sua originalidade cruel. É o plano de Álcio, que assim se expressa, na palavra de Irmão X:

“(...) Ouvi, porém, alguns companheiros, ainda hoje, e apresentaremos um plano que espero resulte certo. Poderíamos reunir, nesta noite, aproximadamente mil crianças e mulheres cristão, guardando-as nos cárceres... E, amanhã, coroando as homenagens, ajuntá-las-emos na arena, molhada de resinas e devidamente cercada de farpas embebidas em óleo, deixando apenas passagem estreita para a liberação das mais fortes. Depois de mostradas festivamente em público, incendiaremos toda a área, deitando sobre elas os velhos cavalos que já não sirvam aos nossos jogos... Realmente, as chamas e as patas dos animais formarão muitos lances inéditos...” (...)

E eis como descreve o autor espiritual o sacrifício do dia seguinte:

“(...) Durante a noite inteira, mais de mil pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam residências humildes e, no dia subsequente, ao Sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e criancinhas, em gritos e lágrimas, no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte, queimadas nas chamas alteadas ao sopro do vento, ou despedaçadas pelos cavalos em correria.” (...) (Destaquei)

Após essa recordação de uma das mais impressionantes ocorrências no velho Império Romano, termina e explica Irmão X:

Quase dezoito séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento... Entretanto, a justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis, que, em diversas posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa expiação, a 17 de dezembro de 1964, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia num circo”. (Destaquei)

Percebemos, desta forma, que não há injustiças nas catástrofes, a sacrificarem dezena, centenas, milhares de criaturas. Nessas ocorrências estão reunidos Espíritos faltosos para dolorosa resgate, para umadolorosa expiação!...

Nota: - Este artigo estava pronto para ser remetido à Redação de REFORMADOR, quando tomei conhecimento de triste fato na cidade mineira de Contagen. O jornal HOJE em dia (edição de 19-3-1992) de Belo Horizonte, assim informou:

Um estrondo seguido do desmoronamento de milhares de meros cúbicos de terra projetaram-se sobre os 400 barracos da Vila Baraginha, em Contagem, às 13 h 30 min de ontem, inicando a maior tragédia de Minas gerais nos últimos 21 anos” (...)

É, como se percebe, um acontecimento enquadrado na faixa já citada de deslizamento de solo



2c Tragédias Coletivas


C

Em ‘O Livro dos Espíritos’, vamos encontrar oportunos esclarecimentos sobre os flagelos, as catástrofes.
Na Parte Terceira da obra, Capítulo VI – Das Leis Morais -, ao organizar Kardec o segmento Da Lei de destruição, fez ele a seguinte pergunta (nº 737):

Com que fim fere Deus a Humanidade por meio de flagelos destruidores?

(É bom recordar que para o Codificador, em seu tempo, colocava-se na primeira linha dos flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, as seguintes ocorrências: a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais às produções da Terra.)

Eis a resposta dada pelo Plano Espiritual:

Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos  ser a destruição uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um degrau na escalado do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja oonjetivo, para que os resultados possam ser apreciados. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualificais de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam. Essas subversões, porém, são frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.”

Conforme sabemos, era Kardec um pesquisador que buscava tirar todas as dúvidas que podem ser levantadas. Dessa forma voltou a inquirir (nº 738).

Para conseguir a melhora da Humanidade, não podia Deus empregar outros meios que não os flagelos destruidores?”
 
Os Espíritos foram bem claros:

Pode e os emprega todos os dia, pois que deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. O homem, porém, não se aproveita desses meios. Necessário, portanto, se torna que seja castigado no seu orgulho e que se lhe faça sentir a sua fraqueza.”

Conforme já afirmei, diante das catástrofes, dos flagelos, discutem alguns o próprio amor de Deus aos seus filhos, alegando o sacrifício, no caso, dos homens de bem junto aos perversos. Após a resposta anterior, Kardec deixou duas outras complementares, dentro da mesma pergunta 738, sendo devidamente orientado pelos espíritos. Anoto aqui a pergunta a – e correspondente resposta:

 “Mas, nesses flagelos, tanto sucumbe o homem de bem como o perverso. Será justo isso?”
Resposta: - “Durante a vida, o homem tudo refere ao seu corpo; entretanto, de maneira diversa pensa depois da morte. Ora, conforme temos dito, a vida do corpo bem pouca coisa é. Um século no vosso mundo não passa de um relâmpago na eternidade. Logo, nada são os sofrimentos de alguns meses, de que tanto vos queixais. Representam um ensino que se vos dá e que vos servirá no futuro. Os Espíritos, que preexistem e sobrevivem a tudo, formam o mundo real. Esses os filhos de Deus e o objeto de toda a sua solicitude.  Os corpos são meros disfarces com que eles aparecem no mundo. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o espetáculo é semelhante ao de ul exército cujos soldados, durante a guerra, ficassem com seus uniformes estragados, rotos, ou perdidos. O general se preocupa mais com os seus soldados do que com os uniformes deles.”

A essa resposta poderíamos acrescentar mais algumas palavras.
Não há efeito sem causa. Se a causa não está nesta vida, localiza-se em um existência passada.
Na desencarnação coletiva, há que considerar a culpabilidade pessoal, ou seja, não há o perecimento injusto daquele que visualizamos como um justo, exatamente por desconhecermos seu passado...[1]
Sabemos que o Espírito, criado simples e ignorante, tem sua marcha evolutiva retardada ou acelerada, consoante o uso que se faça de seu livre-arbítrio.
De acordo com o Espírito Emmanuel,

todas as entidades espirituais encarnadas no orbe terrestre são Espíritos que se resgatam ou aprendem nas experiências humanas, após as quedas do passado, com exceção de Jesus Cristo, fundamento de toda a verdade neste mundo, cuja evolução se verificou em linha reta para Deus, e em cujas mãos angélicas repousa o governo espiritual do planeta, desde os seus primórdios”. [2] .

Desta forma, resguardada a figura do Mestre Amado, somos todos Espíritos em resgate, seres devedores, a realizar penosa evolução através de sucessivas reencarnações.
Objetivando ativar mais rapidamente a ascensão dos seres compromissados com o erro, repito, não raro usa a Divindade reuni-los em grupos, sendo os flagelos, as catástrofes, os grandes corretivos. No dizer do Espírito Demeure,

são instrumentos de que se serve o grande cirurgião do Universo para extirpar do mundo, destinado a marchar para a frente, os elementos gangrenados que nele provocam desordens incompatíveis com o seu novo estado.”

Na verdade, provocam esses instrumentos panoramas que nos incitam a piedade, a dor, a tristeza. Entretanto, á semelhança do bisturi nas mãos do profissional competente, vão realizar no íntimo de cada ser que for atingido a devida retificação de insidiosas moléstias...



[1] Outros pontos são considerados pelo Codificador, 
dos quais os leitores poderão tomar conhecimento 
em lendo o capítulo VI da Parte Terceira de “O Livro dos Espíritos”.
[2] Questão nº 7, de “O Consolador”. Ed. FEB.



2b O Massacre das crianças em Realengo (RJ)


B


·          

A observação das ocorrências catastróficas, dos chamados flagelos em seus mais diferentes aspectos, deixam transparecer que eles se repetem sistematicamente, nos dia atuais, atingindo criaturas que – diziam muitos –não mereciam passar por semelhante situação. Entretanto, como veremos mais à frente tudo tem sua razão de ser, nada acontece sem uma causa. Em outras palavras, a cada ação corresponde uma reação nem sempre idêntica, pois, às vezes, essa reação é até de teor mais intenso, objetivando-se a devida correção de Espíritos falidos.
Difícil seria a especificação das catástrofes ocorridas nesses últimos anos. Todavia, é possível enumerar algumas, tendo em vista mostrar ao leitor o quanto tem sido o homem açoitado em cumprimento à lei que estabelece o chamado ‘retorno’...
Dessas catástrofes tomamos hoje ciência através dos mais diferentes meios de comunicação. Notícias que, não raro, causam-nos verdadeiro impacto, impondo-nos sentida dor.
Em nosso País, dezenas, centenas de fatos anuais, a ocasionar a desencarnação em massa, ferem-nos a sensibilidade.
Quem poderá esquecer o desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro, em 20-11-1971? Ou do Edifício Andorinha, que, na mesma cidade, em 17-2-1985, destruiu cinco andares?
Quem não recorda do incêndio, em São Paulo, em 24-2-1972, do Edifício Andraus, ou do Joelma, em 1-1-1974?
Quem ainda não tem na lembrança o choque de dois trens  de passageiros da Companhia Brasileira de Trens Urbanos, a 100 metros da Estação de Itaquera, também na capital paulistana, em 17-2-1987?
E os acontecimentos que envolveram o barco Correio de Arari, em 15-7-1988, ou com o Bateau Mouche IV, em 31 de Dezembro do mesmo ano?
Tudo isso aconteceu no nosso País.
Se passarmos à área das catástrofes internacionais também ficaremos perdidos dentro de sua relação, todavia, podemos recordar de algumas, as quais, durante largo espaço de tempo, ficaram no noticiário.
É o caso, por exemplo, da explosão em 27-11-1989, do Boeing 727, da empresa colombiana Avianca, que matou 107 pessoas que se encontravam a bordo.
É o caso da quebra do sistema de ventilação de um túnel, em 2-7-1990, na Arábia Saudita, que provocou a morte de 1426 muçulmanos, asfixiados e pisoteados ao se dirigirem à sua festa anual em Meca.
É a passagem, em 23-8-1990, do tufão Yanci pelo litoral sul da China, provocando a morte de 144 pessoas e deixando mais de cinco milhões de desabrigadas.
Distanciados dos esclarecimentos prestados pela Doutrina Espírita, na certa poderão muitos questionar em vendo tão pungentes acontecimentos:
- Onde a Misericórdia Divina?
- Que Deus é esse a permitir tão dolorosos quadros?
- Pagarão os justos pelos pecadores em ocorrências a envolver, ao mesmo tempo, dezenas, centenas, milhares de criaturas?

2a O Massacre das Crianças em Realengo (RJ)


Do saudoso Kleber Halfeld, mais uma abordagem sobre o tema
‘Grandes perdas’ sempre sob a ótica consoladora da Doutrina Espírita...


A

 ‘Os Instrumentos
do Grande Cirurgião’

por  Kleber Halfeld
Reformador (FEB)  Agosto 1992

           
Elas fazem parte da história da Humanidade, pois sua ocorrência data dos primórdios do Planeta.
Países subdesenvolvidos tanto quanto aqueles que alcançaram alto índice tecnológico tem experimentado seus efeitos: ora, pequenos grupos atingidos por suas garras destruidoras; ora, enormes coletividades a sofrerem o impacto de suas investidas.
Refiro-me às catástrofes, aos flagelos em seus mais diversificados aspectos, que regularmente abatem sobre os seres dessa grande escola: a Terra.
                                  
*
Em francês o termo catastrophe está documentado em Rabelais[1]  -1546 -, assim como, em inglês, com a mesma grafia, é encontrado em Spenser[2] - 1579.
Atentos à Geologia, a expressão catástrofe inicialmente designava apenas a ação dos terremotos; com o passar dos anos teve seu sentido ampliado, compreendendo inúmeras outras transformações súbitas que ocorrem na Terra, sem mencionar aquelas que surgiram com o advento da tecnologia.
A teoria das catástrofes, ou catastrofismo, atribuída a Cuvier[3] e que predominou durante o século XVIII, ‘seria uma tentativa para explicar as formas do relevo terrestre pela sucessão de violentos cataclismos provocados por forças da Natureza, na época pouco conhecidas’.
No caso particular do presente estudo, não ficarei preso a semelhante teoria: debaixo da rubrica catástrofe, identificarei, igualmente, o conjunto de ocorrências designadas como calamidades naturais, bem como episódios revestidos de forte impacto e decorrentes de circunstâncias criadas pela visa moderna.
Adentrando, pois, nesse campo, fazendo citações sem considerações extensas e ainda deixando de lado as convulsões pelas quais passou nosso Planeta nos anos iniciais de sua formação, podemos imaginar que dentro da era cristã uma das mais conhecidas – e violentas = catástrofes naturais de que temos conhecimento foi a erupção em 79 d.C. do Vesúvio, quando foram destruídas as cidades romanas de Herculanum e Pompéia. Aliás, em algumas obra espíritas, particularmente em romances, há referências a esse acontecimento. De momento, recordo duas grandes obras de grande aceitação por parte do público: ‘Há 2000 anos...’ de Emmanuel, através das psicografia de Francisco Cândido Xavier, e ‘Herculanum’, de J. W. Rochester, por intermédio de Wera Krijanowsky.
Ainda na época do vulcanismo me vem à mente a erupção de 1883, ocorrida na ilha de Krakatoa, entre Sumatra e Java, que causou a morte de 36.000 pessoas, sem se mencionar o desaparecimento de dois terços da ilha!
E, em 1902, a erupção do Monte Pelée, na Martinica, que destruiu totalmente a cidade de Saint-Pierre, matando seus 28.000 habitantes.
Fazendo-se alusão a terremotos, quem nunca ouviu referências ao abalo sísmico que, acompanhado de um maremoto, vitimou, em 1923, cerca de 140.000 pessoas em Tóquio e Yokohama.
Inundações também são responsáveis por desencarnações coletivas, sempre dentro – sabemos os espíritas – de uma planificação divina, a escapar, não raro, da compreensão de quantos apenas encaram a vida presente... De momento, recordo as enchentes do rio Mabadani, na Índia, as quais mataram em 1955 mataram 300.000 pessoas!
Mas, outros fenômenos concorrem para tal modalidade de desencarnação, ou seja, a coletiva.
Entre outros, citemos os deslizamentos de solo, comuns em áreas montanhosas, como os Alpes, Andes, Himalaia; os furacões (recordem-se aqueles de grande frequência no mar das Caraíbas, litoral oriental dos Estados Unidos e no Sudeste da Ásia) Em 1970, o Paquistão Oriental – hoje Bangladesh – foi tragicamente atingido, quando morreram centenas de milhares de pessoas! Citemos, ainda, as secas, porquanto anos a fio de aridez excepcional podem apresentar para as populações graves consequências. Caso o homem não se encontre munido dos indispensáveis elementos de defesa. Como impressionante exemplo ocorrido em nosso País, pode ser citada a seca que destruiu partes do sertão do Nordeste nos anos de 1877-1878.

*
Kardec não se descuidou do estudo das catástrofes. Exatamente por perceber que oportunos comentários poderiam advir para os leitores da Revista Espírita. À sua atenção  juntou-se aquela do plano espiritual, conforme podemos observar em algumas páginas desse órgão de imprensa. 9Também em 'O Livro dos Espíritos’ o assunto é tratado de forma ampla.)
Vejamos, aqui, o caso de uma catástrofe – traduzida por uma epidemia numa ilha.
Datada de 8 de maio de 1867, uma correspondência era portadora de triste notícia: uma epidemia na ilha Maurícia.[4]  O mais curioso é que Kardec dela já tinha conhecimento através de um médium sonâmbulo que normalmente frequentava a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Aliás, o remetente da carta era sócio correspondente da mencionada ‘Sociedade’.
Da  mesma forma alguns moradores da ilha haviam sido avisados dessa epidemia, que ‘surgira como flagelo destruidor’. O que, realmente ocorreu, porquanto Kardec em novembro de 1868 voltava a comentar esse fato, já 60.000 pessoas haviam desencarnado vítimas da doença, que consoante expressões do missivista começava com...

uma febre sem nome, que reveste todas as formas, começa suavemente, hipocritamente, depois aumenta e derruba todos os que ela atinge (...) São terríveis acessos que quebram, torturam durante, pelo menos, doze horas, atacando cada um por sua vez, cada órgão importante. Depois o mal cessa durante um ou dois dias, deixando o doente abatido até o próximo acesso, e se vai assim, mais ou menos rapidamente, para o termo fatal.”

É sugestivo observar que o autor da carta, componente de um grupo de estudiosos do Espiritismo na ilha Maurícia, tinha perfeita compreensão quanto à finalidade da epidemia que à época devastava a região, uma vez que em determinado ponto de sua carta confessava que via no acontecimento...

um desses flagelos anunciados, que devem retirar do mundo uma parte da geração presente, e destinados a operar uma renovação tornado necessária.”

O término do seu relato contém, da mesma forma, depoimento assaz curioso. Esclarece que o grupo de espíritas a que pertencia estava disperso havia três meses e eu embora todos os membros houvessem sido atingidos pela doença, nenhum deles havia morrido. Ele próprio fora atingido e estava na quarta recaída.
Sentindo Kardec a imperiosa necessidade de uma resposta confortadora para o grupo espírita da ilha Maurícia, em carta dirigida aos seus componentes, juntou ele a mensagem que o Espírito Demeure havia deixado na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Dessa mensagem – de profundo conteúdo moral – permito-me transcrever pequeno trecho que nos explica a função da catástrofes, sobre os habitantes da Terra, em todos os tempos de sua história.
Mensagem que, afinal, continua perfeitamente atualizada, malgrado os anos decorridos.

“(...) Cada dia mais entramos no período transitório, que deve trazer a transformação orgânica da Terra e a regeneração de seus habitantes. Os flagelos são instrumentos de que se serve o grande cirurgião do Universo para extirpar do mundo, destinado a marchar para a frente, os elementos gangrenados que nele provocam desordens incompatíveis com o seu novo estado. Cada órgão ou, para melhor dizer, cada região será, passo a passo, batida por flagelos de naturezas diversas. Aqui, a epidemia sob todas as suas formas; ali, a guerra, a fome. Cada um deve, pois, preparar-se para suportar a prova nas melhores condições possíveis, melhorando-se e se instruindo, a fim de não ser surpreendido de improviso. Já algumas regiões foram provadas, mas seus habitantes estariam em completo erro se se fiassem na era da calma, que vai ceder á tempestade, para recair nos seus antigos erros. Há um período, que lhes é concedido, para entrarem num caminho melhor. Se não o aproveitarem, o instrumento de morte os experimentará até os trazer ao arrependimento”. [5]

Apenas por uma questão de curiosidade, informo que, além desses ensinamentos de tão profundo conteúdo moral, o Espírito comunicante teceu comentários sobre um medicamento – o Croton tiglium -, ou seja, o óleo de cróton. Segundo nos explica a Homeopatia, esse medicamento tem larga ação sobre  a diarreia, dores lancinantes e ardentes que ocorrem no lado esquerdo do peito, atingindo as espáduas. Tem ainda influência sobre os pruridos intensos que se estendem sobre todo o corpo.
(Possivelmente, sintomas que também poderiam ser encontrados nos habitantes da ilha Maurícia quando foi assolada pela epidemia que dizimou mais de 60.000 pessoas!).



[1] François Rabelais, humorista francês nascido em Chinon, na Touraine.
[2] Edmund Spenser, poeta inglês (1552-1599)
[3] Georges Cuvier é tido como o mais eminente naturalista do século XIX.
[4] Antiga ilha de França, tem cerca de 1920 km2.
[5]  Essa mensagem foi recebida em 23-10-1868.

sábado, 9 de abril de 2011

O Massacre das crianças em Realengo (RJ)


Não. 
Não dispomos de nenhuma revelação de caráter mediúnico sobre o tema. 
Dispomos sim de outros relatos que pedem nossa reflexão. 
Fiquem com Deus, 



Ano 177 - A História não acabou


           
            Você  que  passou  pela  página  32  da  edição  de nº 13 do livro “Ave Cristo!”(Ed. FEB), de Emmanuel, em  psicografia de Francisco Cândido Xavier, talvez não tenha feito a necessária pausa para refletir sobre a extensão da tragédia ali relatada. Achamos que valeria relembrar este doloroso trecho que conta mais um passo na milenária evolução por que passa o homem em sua busca pela angelitude. Foram dias de muita dor e sofrimento.  Resumidamente, foi mais ou menos assim:
            177 - Ano de perseguições e tormentos para os cristãos de Lião (Lugdunum em Latim) e em Viena, cidades localizadas na França de hoje. Entre os mártires lembrados por Emmanuel, temos: Vétio Epágato, que renunciou à nobre posição para converter-se em advogado dos cristãos; Santo, diácono de Viena, homem de extremada coragem;  Blandina, escrava cuja fé confundira o ânimo de seus carrascos; Potino, chefe da Igreja em Lião, ultrajado e espancado nas ruas, sem  palavra de revolta, aos 90 anos de idade; Átalo de Párgamo, admirável herói entre os mártires gauleses, morto, atado à cadeira incandescente e degolado, em companhia de Alexandre, devotado médico cristão e ainda: Maturo, Alcibíades, Pôntico, Pontimiana, entre tantos outros.
            Talvez o assunto não merecesse mais que a atenção de uns tantos estudiosos do Cristianismo Primitivo, prendendo-se a atenção, assim, na trama maior ali relatada, não fora o acontecido 1785 anos após, conhecido e sentido pelos brasileiros em geral e pelos niteroienses em particular e que ficou gravado na memória como a ‘Tragédia no Circo’.
                O texto é do amado Irmão X  e foi publicado no Reformador de Março de 1962.

            “Naquela noite, da época recuada de 177, o ‘concilium’ de Lião regorgitava de povo.
            Não se tratava de nenhuma das assembléias tradicionais da Gália, junto ao altar do Imperador, e sim de compacto ajuntamento.

                                   ***

            Marco Aurélio reinava, piedoso, e, embora não houvesse lavrado qualquer escrito em prejuízo maior dos cristãos, permitira se aplicassem na cidade, com o máximo rigor, todas as leis existentes contra eles.
            A matança, por isso, perdurava, terrível.
            Ninguém examinava necessidade ou condições. Mulheres e crianças, velhos e doentes, tanto quanto homens válidos e personalidades prestigiosas, que se declarassem fiéis ao Nazareno, eram detidos, torturados e eliminados sumariamente.
            Através do espesso casario, a montante da confluência do Ródano e do Saône, multiplicavam-se prisões, e no sopé da encosta, mais tarde conhecida por colina de Fourvière, improvisara-se grande circo, levantando-se altas paliçadas em torno de enorme arena.
            As pessoas representativas do mundo lionês eram sacrificadas no lar ou barbaramente espancadas no campo, enviando-se os desfavorecidos da fortuna, inclusive grande massa de escravos, ao regozijo público. 
            As feras pareciam entorpecidas, após massacrarem milhares de vítimas, nas mandíbulas sanguissedentas. Em razão disso, inventavam-se tormentos novos.
            Verdugos inconscientes ideavam estranhos suplícios.
            Senhoras cultas e meninas ingênuas eram desrespeitadas antes que lhes decepassem a cabeça, anciães indefesos viam-se chicoteados até a morte. Meninos apartados do reduto familiar eram vendidos a mercadores em trânsito, para servirem de alimárias domésticas em províncias distantes, e nobres senhores tombavam assassinados nas próprias vinhas.
            Mais de vinte mil pessoas já haviam sido mortas.

                                   ***

            Naquela noite, a que acima nos referimos, anunciou-se para o dia seguinte a chegada de Lúcio Galo, famoso cabo de guerra, que desfrutava atenções especiais do Imperador por se haver distinguido contra a usurpação do general Avídio Cássio, e que se inclinava agora  a merecido repouso.
            Imaginaram-se, para logo, comemorações a caráter.
            Por esse motivo, enquanto lá fora se acotovelavam gladiadores e jograis, o patrício Álcio Plancus, que se dizia descendente do fundador da cidade, presidia a reunião, a pedido do Propretor, programando os festejos.
            - Além das saudações, diante dos carros que chegarão de Viena - dizia, algo tocado pelo vinho abundante -, é preciso que o circo nos dê alguma cena de exceção... O lutador Setímio poderia arregimentar os melhores homens; contudo, não bastaria renovar o quadro de atletas...
            - A equipe de dançarinas nunca esteve melhor - aventou Caio Marcelino, antigo legionário da Bretanha que se enriquecera no saque.
            - Sim, sim... - concordou Ácio - instruiremos Musônia para que os bailados permaneçam à altura...
            - Providenciaremos um encontro de auroques - lembrou Pérsio Níger.
            - Auroques! Auroques!... - clamou a turba em aprovação.
            - Excelente lembrança! - falou Plancus em voz mais alta - mas, em consideração ao visitante, é imperioso acrescentar alguma novidade que Roma não conheça...
            Um grito horrível nasceu da assembléia:
            - Cristãos às feras! cristãos às feras!
            Asserenado o vozerio, tornou o chefe do conselho:
            - Isso não constitui novidade! E há circunstâncias desfavoráveis. Os leões recém-chegados da África estão preguiçosos...
            Sorriu com malícia e chasqueou:
            - Claro que surpreenderam, nos últimos dias, tentações e viandas que o próprio Lúculo jamais encontrou no conforto de sua casa...
            Depois das gargalhadas gerais, Álcio continuou, irônico:
            - Ouvi, porém, alguns companheiros, ainda hoje, e apresentaremos um plano que espero resulte certo. Poderíamos reunir, nesta noite, aproximadamente mil crianças e mulheres cristãs, guardando-as nos cárceres... E, amanhã, coroando as homenagens, ajunta-las-emos na arena, molhada de resinas e devidamente cercada  de farpas embebidas em óleo, deixando apenas passagem estreita para a liberação das mais fortes. Depois de mostradas festivamente em público, incendiaremos toda a área, deitando sobre elas os velhos cavalos que já não sirvam aos nossos jogos... Realmente, as chamas e as patas dos animais formarão muitos lances inéditos...
            - Muito bem! Muito bem! - rugiu a multidão, de ponta a ponta do átrio.
            - Urge o tempo - gritou Plancus - e precisamos do concurso de todos... Não possuímos guardas suficientes...
            E erguendo ainda mais o tom de voz:
            - Levante a mão direita quem esteja disposto a cooperar.
            Centenas de circunstantes, incluindo mulheres robustas, mostraram destra ao alto, aplaudindo em delírio.
            Encorajado pelo entusiasmo geral, e desejando distribuir a tarefa com todos os voluntários, o dirigente da noite enunciou, sarcástico e inflexível:
            - Cada um de nós traga um... Essas pragas jazem escondidas por toda a parte... Caça-las e exterminá-las é o serviço da hora...
            Durante a noite inteira, mais de mil pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam residências humildes e, no dia subsequente, ao Sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e criancinhas, em gritos e lágrimas, no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte, queimadas nas chamas alteadas ao sopro do vento, ou despedaçadas pelos cavalos em correria.

                                   ***
           
            Quase  dezoito séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento... Entretanto, a justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis, que, em diversas posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa expiação, a 17 de Dezembro de 1961, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia num circo.”

(Mensagem recebida  pelo médium Francisco Cândido Xavier)

Do ‘Aurélio’: Auroque = Espécie de bisão europeu, quase extinto.


Incêndio do Gran-Circo    (De como a lei se cumpre) 
   


Honório Armond
Médium Gilberto Campista Guarino
26-02-1976 no Rio de Janeiro, RJ.

Ruge raivosa a turba, em rito horrendo e rude,
Rebolca-se a caterva, em retorsão satânica,
Assemelha-se a arena a réplica vulcânica
Entre a corrente rubra e o louro da virtude.
           
Tocha humana alumia a bacanal titânica...
E enquanto César vibra e alteia a voz que ilude,
Brota a paz do Senhor e, em tons de mansuetude,
Soergue os corações à leva messiânica.

A lei registra o mal, e nada resta impune.
Aguarda-se o momento em que o circo reúne,
Nos aplausos do dia, o povo em mil esferas...

E, entre palmas de agrado e a placidez da tarde,
Crepita uma centelha, e a lona inteira arde...
Afinal se cumpriu:  “-Cristãos, cristãos às feras!”



Expiações Coletivas

Rodolfo Calligaris
Reformador (FEB) Outubro 1962

            A lei do Carma ou de Causa e Efeito exerce sua influência inelutável não só sobre os homens, individualmente, como também sobre os grupos sociais.
            Assim, por exemplo, quando uma família, nação ou raça busca algo que lhe traga maiores satisfações, esforça-se por melhorar suas condições de vida ou adota medidas que visem a acelerar seu desenvolvimento, sem prejudicar nem fazer mal a outrem, está contribuindo, de alguma forma, para a evolução da Humanidade, e isso é bom. Receberá, então, novas e mais amplas oportunidades de trabalho e progresso, conduzindo os elementos que a constituem a níveis cada vez mais elevados.
            Se, porém, há constituído seu poder ou grandeza, valendo-se da opressão ou de recursos desonestos e indignos, evidentemente agiu mal, porque isso é contra o interesse do Todo. Por isso, mais cedo ou mais tarde sofrerá a perda de tudo aquilo que adquiriu injustamente, em circunstâncias mais ou menos trágicas e aflitivas, segundo o grau de malícia e crueldade que lhe tenha caracterizado as ações.
            Muitas vezes, os que contraíram, solidariamente, pesados débitos com a Lei do Carma, embora reencarnados em vários e distantes rincões, são reunidos por uma atração misteriosa, a dado ponto, para serem feridos em comum. Haja vista esses naufrágios, sinistros e catastróficos que tanto emocionam as almas piedosas do mundo inteiro.
            O estudo dos séculos, todo o sangue vertido, toda a escravização, afronta e rapinagem perpetradas, repercutem, fatalmente, sobre seus autores, produzindo as mesmas conseqüências funestas: luto, lágrimas, humilhações e miséria!
            Lá bem no passado, egípcios, babilônios e persas elevam-se a uma situação de fastígio à custa do esmagamento de outros povos; tempos depois, entretanto, vêm a conhecer, a seu turno, o peso e o infortúnio da opressão estrangeira.
            Roma e Bizâncio, através de uma série de campanhas militares, estendem seus domínios por toda a parte; todavia, roídos pelos germens da corrupção, gerados no próprio seio, baqueiam ao embate da invasão dos bárbaros e seus fabulosos impérios deixam de existir.
            Espanha e Inglaterra, durante séculos, dominam pelas armas suas numerosíssimas colônias; contudo, não escapam, por sua vez, ao flagelo da guerra, que lhes dizima as populações.
            A Rússia dos czares, sob o comando da Imperatriz Catarina II, apossa-se, a ferro e fogo, de vastos territórios circunvizinhos, mas é forçada. logo após, a pagar o seu tributo de dor em vários conflitos em que se vê envolvida, para cair, em 1917, sob o regime comunista.
            Napoleão, Mussolini e Hitler revivem os feitos de conquistadores do pretérito, ocupando à força nações inermes; não tardam, porém, a conhecer o travo das transgressões às leis superiores, e seus países com eles.
            Segundo os relatos do Velho Testamento, os judeus, intitulando-se o ‘povo eleito’, também destruíram cidades e mais cidades de prósperos reinados ‘passando pelo fio da espada todos os que nelas encontravam, homens, mulheres, crianças, velhos, e até animais, como pacíficas ovelhas, bois e jumentos’. Davi, um de seus reis, cuja insensibilidade foi de estarrecer, em cada cidade que tomava dos amonitas, mandava arrebanhar todos os seus moradores, ordenando friamente ‘que passassem por cima deles carroças ferradas, que fossem serrados, esquartejados a cutelo, ou torrados em forno de cozer tijolos’. O resultado dessa selvajaria, os judeus o colheram em longo período de provações, cujo remate foram os fuzilamentos, os flagícios em campos de concentração e o horror dos fornos crematórios, sob o guante de Eichmann, a besta-fera nazista!
            Poderosa organização religiosa, apoiada pelo braço secular, torturou e assassinou barbaramente, enquanto pode, todos quantos ousavam descrer de seus dogmas, revelavam possuir idéias mais avançadas, ou lhe verberavam a simonia; já começou, porém, a ser destruída aqui, ali e acolá, sofrendo, na própria carne, as violências de que fez  uso e abuso.

                                   ***

            Impossível prever até quando a Humanidade permanecerá assim, oprimindo-se e dilacerando-se reciprocamente, no regime do ‘olho por olho e dente por dente.’
            Acreditamos, entretanto, que, trabalhada pela Dor, cansada de sofrer, há de aprender um dia, ainda que remoto, a lei sublime da ‘não resistência’, pregada e exemplificada pelo Cristo, conquistando então uma paz duradoura, e com ela a felicidade, que é o destino final da Criação!
                                  
                                   ***      
           
            Lida e sentida a palavra de Calligaris, passemos ao Editorial do Reformador (FEB) em Março 1974 que nos fala da ‘Tragédia do Joelma’:

Calamidades Salvadoras


            Malgrado toda a cultura que já amontoaram, os homens ainda não conseguem nem entender nem enfrentar as coisas comezinhas que fazem parte integrante de sua estada na crosta terrestre. Bem o demonstra o estupor que lhes causam as ocorrências que aparentam decorrer da atuação de forças cegas e caprichosas, rotuladas de fatalidade. A dificuldade, para os encarnados, reside no fato de não possuírem uma concepção firme e racional de suas próprias condições de vida neste ‘vale de lágrimas’, a despeito de todos os protestos que fazem de suas convicções espiritualistas e de sua crença na imortalidade. De fato, para aqueles que reduzem a uma vida única, no plano terráqueo, o mecanismo de ação duma justiça perfeita e iniludível - torna-se incompreensível um acontecimento como o pavoroso incêndio ocorrido no Edifício Joelma, na cidade de São Paulo, onde perto de 200 pessoas foram arrebatadas da vida pelos processos mais dolorosos, sendo a grande maioria constituída de jovens que despontavam para o porvir.
            Diante de quadros como esse é que se pode averiguar a solidez e a justeza da Doutrina Espírita, cujas virtudes consoladoras se realçam exatamente nessas contingências, pois só mesmo a idéia das vidas sucessivas pode asserenar o pensamento atordoado dos homens, fazendo-os entrever a justiça imanente na trama dos fatos cuja brutalidade inesperada os faz descambar, muita vez, para o desespero, a dúvida, e até a descrença. A reencarnação põe à mostra a dinâmica da justiça perfeita e infalível, a desenrolar-se através da lei de ação e reação, que, em suas determinantes, sujeita, sempre e inapelavelmente, a colher segundo o que se planta. E a exatidão desse mecanismo alcança tanto os atos cometidos individualmente quanto aqueles praticados coletivamente. Por isso mesmo, aquilo que aos olhos dos homens são terríveis coincidências, a reunirem num dado local e no mesmo momento criaturas as mais diversas, provenientes das mais distanciadas procedências, conhecidas ou desconhecidas, e impelidas pelas mais fortuitas razões, são, na verdade, dispositivos providenciais que agrupam Espíritos com débitos contraídos em comum e chamados portanto no momento oportuno, a resgatarem conjuntamente as responsabilidades assumidas em parceria.
            Se meditarmos bem, é de se agradecer a Deus a irrupção dessas calamidades imprevisíveis, cujas causas imediatas não possam ser imputadas à ação deliberada dos homens. Porque mil vezes mais sinistras são aquelas ocasionadas pela cegueira e pela inópia moral dos homens, como as guerras desencadeadas pelo egoísmo e pelas paixões coletivas, pelo patriotismo inumano que conduz nações inteiras a se digladiarem e exterminarem, e que ainda faz que os patriotas estufem o peito de orgulho, por dizimarem o inimigo, arrasando suas cidades, ou por morrerem heroicamente...
            Deplorável, neste particular, o espetáculo que ainda oferece o mundo nos dias presentes. Ignorante ou alienada das coisas do espírito, da realidade de si mesma, a humanidade continua a movimentar o carrossel do círculo vicioso e carreando, para si mesma, os ônus das dores repetitivas, inteiramente desatenta, para sua própria infelicidade, à profunda advertência do Mestre Divino, quando disse: “O escândalo é necessário, mas ai daquele por quem vier o escândalo!..” Há, contudo, que se refazer dos golpes dolorosos. Os desígnios do Pai Celestial são sempre magnânimos e impregnados de misericórdia, que começa por balsamizar as angústias daqueles que são atingidos pela severidade da lei. Misericórdia  que impele a todos, igualmente, nas linhas da evolução infinita, à conquista das galas da intelectualidade iluminada e do sentimento sublimado, quando então, sabendo senhorear todas as forças da Natureza e sendo os manobreiros dos próprios destinos, estarão livres das inferioridades e liberados, em definitivo, de suas funestas conseqüências.
                                   
***

            Sob mesmo tema, Divaldo captou e nos transmitiu mensagem da doce Joanna de Ângelis.  Leiamos...
           
Calamidades

Joanna de Ângelis
Reformador (FEB)  Abril 1974
            (Página psicografada  pelo médium
Divaldo Pereira Franco, na sessão  pública da noite de 2-2-1974,
no Centro Espírita Caminho  da Redenção, em Salvador, Bahia.)

            Com freqüência regular a Terra se faz visitada por catástrofes diversas que deixam rastros de sangue, luto e dor, em veemente convite à meditação dos homens.
            Conseqüência natural da lei de destruição que enseja a renovação das formas e faculta a evolução dos seres, sempre conseguem produzir impactos, graças à força devastadora de que se revestem.
            Cataclismos sísmicos e revoluções geológicas que irrompem voluptuosos em forma de terremotos, maremotos, erupções vulcânicas obedecem ao impositivo das adaptações, acomodações e estruturação das diversas camadas da Terra, no seu trânsito de ‘mundo expiatório’ para ‘regenerador’.
            Tais desesperadores eventos impõem ao homem invigilante a necessidade da meditação e da submissão à vontade divina, do que resultam transformações morais que o incitam à elevação.
            Olhados sob o ponto de vista espiritual esses flagelos destruidores têm objetivos saneadores que removem as pesadas cargas psíquicas existentes na atmosfera, que o homem elimina e aspira, em contínua intoxicação.
            Indubitavelmente trazem muitas aflições pelos danos que se demoram após a extinção de vidas, arrebatadas coletivamente, deixando marcas de difícil remoção, que se insculpem no caráter, na mente e nos corpos das criaturas.
            Algumas outras calamidades como as pestes, os incêndios, os desastres de alto porte são resultantes do atraso moral e intelectual dos habitantes do planeta, que, no entanto. lhes constituem desafios, que de futuro podem remover ou deles precatar-se. (*)
            As endemias e epidemias que varriam o planeta, no passado, continuamente, com danos incalculáveis, em grande parte são, hoje, capítulo superado, graças às admiráveis conquistas decorrentes da ‘revolução tecnológica’ e da abnegação de inúmeros cientistas que se sacrificaram para a salvação das coletividades. Muitas outras que ainda constituem verdadeiras catástrofes, caminham para oportunas vitórias do engenho e da perseverança humana.
            Há, também, aqueles resultantes da imprevidência, da invigilância, por meio das quais o homem irresponsável se autopune, mediante os rigores dos sofrimentos decorrentes das desencarnações precipitadas, através de violentos sinistros e funestas ocorrências...
            Pareceriam desnecessárias as aflições coletivas que arrebatam justos e injustos, bons e maus, se olhados os saldos precipitadamente. Conveniente, todavia, refletir quanto à justeza das leis divinas que recorrem a métodos purificadores e liberativos, de que os infratores e defraudadores das Leis e da Ordem não se podem furtar ou evitar.
            Comparsas de hediondas chacinas; grupos de vândalos que se aliciam na desordem e usurpação; maltas de inveterados agressores que se identificam em matanças e destruições; corsários e marinhagens desvairados em acumpliciamentos para pilhagens criminosas; soldadesca mercenária, impiedosa e avassaladora, que se refestela, brutal, na inocência imolada selvagemente; incendiários contumazes de lares e celeiros, em hordas nefastas e contínuas; bandos bárbaros de exterminadores, que tudo assolam por onde passam; cúmplices e seviciadores de vítimas inermes que lhe padecem as constrições danosas; pesquisadores e cientistas impenitentes, empedernidos pelas incessantes experiências macabras de que se nutrem em agrupamentos frios; legisladores sádicos e injustos que se desforçam nas gerações débeis que esmagam; conquistadores arbitrários, carniceiros, que subjugam cidades nobres, tornando suas vítimas cadáveres insepultos, enquanto se banqueteiam em sangue e estupor; mentes vinculadas entre si por estranhas amarras de ódio, ciúme e inveja que incendeiam paixões, são reunidos novamente em vidas futuras, atravessando os portais da Imortalidade, através de resgates coletivos, como coletivamente espoliaram, destruíram, escarneceram, aniquilaram, venceram os que  encontravam à frente e consideravam impedimentos à sua ferocidade e barbaria, vandalismo e estrinice, a fim de que se reajustem, no concerto cósmico da Vida, servindo, também, de escarnamento para os demais, que, não obstante se comovam ante as desgraças que os surpreendem, cobrando-lhes as graves dívidas, prosseguem, atônitos e desregrados, em atitudes infelizes sem que lhes hajam constituído lições valiosas, capazes de converter-se em motivo de transformação interior.
            Construtores gananciosos que se fazem para cobranças negativas, maquinistas e condutores de veículos displicentes, que favorecem tragédias volumosas, homens que vendem a honradez e sabem que determinadas calamidades têm origem nas suas mentes e mãos, embora ignorados pela Justiça humana, não se furtarão à Consciência Divina neles mesmos insculpida, que lhes exigirá retorno ao proscênio em que se fizeram criminosos ignorados para tornar-se heróis, salvando outros e perecendo, como necessidade purificadora de que se alçarão, depois, à paz. (*)
            Não constituem castigos as catástrofes que chocam uns e arrebatam outros, antes significam justiça integral que se realiza.
            Enquanto o egoísmo governe os grupos humanos e espalhe suas torpes sementes, em forma de presunção, de ódio, de orgulho, de indiferença à aflição do próximo, a Humanidade provará a ardência dos desesperos coletivos e das coletivas lágrimas, em chamamentos severos à identificação com o bem e o amor, à caridade e ao sacrifício.
            Como há podido pela técnica superar e remover vários fatores de calamidades, pelas conquistas morais conseguirá, a pouco e pouco, suplantar as exigências transitórias de tais injunções redentoras.
            Não bastassem as legítimas concessões do ajustamento espiritual, as calamidades fazem que os homens recordem o poder indômito de forças superiores que os levam a ajustar-se à sua pequenez e emular-se para o crescimento que lhes acena.
            Tocados pelas dores gerais, partícipes das angústias que se abatem sobre os lares vitimados pela fúria da catástrofe, ajudemo-nos e oremos, formando a corrente da fraternidade santificante, e, desde logo, estaremos construindo a coletividade harmônica que atravessará o túmulo em paz e esperança, com os júbilos do viajor retornando ditoso à Pátria da ventura.
            (*) À véspera havia irrompido, em São Paulo, o incêndio do Edifício Joelma, que arrebatou mais de 170 e revelou alguns heróis. (Nota da Autora Espiritual.)

   O Reformador (FEB), em editorial de Julho de 1973, externa seus sentimentos sobre a tragédia do Boeing 707, acidentado em Paris:



 Boeing 707

                Reformador (FEB) página 194 - Julho 1973

                Não é a popularidade ou o prestígio das pessoas desencarnadas em meio a tragédias coletivas que deve dar a medida emocional da opinião pública. Entretanto, não se pode negar que esses dois fatores mundanos emprestam, realmente, maior impacto aos acontecimentos, tanto festivos quanto funestos. O desastre, em Paris, com o Boeing 707, embora não represente caso isolado na história da aviação comercial, atraiu maiores atenções, dada a presença de nomes conhecidos na política, na música popular e nos círculos  destacados da sociedade. É natural que assim seja, ainda que a desencarnação devesse provocar sempre as mesmas reações. Afinal, tanto significa, para a modesta e desconhecida família, a partida abrupta do seu chefe, eventual vendedor anônimo, quanto a de prestigioso político ou a de fascinante cancioneiro. Há de se compreender, porém, essa diferenciação do comportamento humano, a qual não será nem negativa nem condenável. Funções, presenças, popularidade, projetam mais determinadas figuras e sua partida provoca maior impacto. A preocupação do espírita, todavia, deve se situar sempre na faixa ideal do entendimento, amplo e sensato dos fatos, sem deixar necessariamente de senti-los, é claro, mas encarando-os com serenidade e confiança. Não há de anestesiar-se dentro de um conformismo frio e insano, posto quer os elementos imponderáveis e muito pessoas de amizade, admiração e saudade são a fantasia do super-homem, visando a exibi-la na medida em que se jacta tolamente do seu ‘espírito forte’, tudo arrostando com ensaiada fleuma e a ‘coragem’ que faltaria aos que ainda sabem chorar... A Doutrina Espírita não sobreviveria a essa colocação conformista e egoísta. Por isso, ela alia aos sentimentos nobres da dor e da amargura sensações balsamizantes do consolo e da fé. Explicando o porquê de todos os fatos e indicando com precisão o papel dos que ficam e o destino dos que partem, a tudo atribui um sentido lógico e racional, descortinando diante de quem sofre os caminhos da consolação e da esperança. É natural a intimidade do pranto. É até bom chorar, às vezes. Jesus também chorou. Sentimos a ausência provisória dos que amamos, como a sentimos quando deles nos afastamos ao ensejo de qualquer separação menos rotineira. Inobstante, é preciso compreeender que Deus tudo comanda, que nada acontece por acaso, que cada um recebe de acordo com as suas obras, que a ‘morte’ trágica e violenta é sempre um meio de resgatar equívocos pretéritos e libertar o Espírito à amplidão dos espaços. A partida coletiva abala e comove; mas naquele avião estavam apenas -e exclusivamente- criaturas comprometidas num mesmo processo, atraídas de diversos pontos e aproximadas na precisão e justiça de leis que se sobrepõe às da aerodinâmica.
            Todos os passageiros do Boeing 707 deixaram este mundo de lágrimas. O prestígio e a popularidade de alguns acrescentou ao desastre carga maior de emotividade pública. Talvez tenha ela contribuído para que o processo de desligamento daqueles Espíritos haja sido facilitado, tal o feixe de vibrações amorosas lançadas pela perplexidade dos parentes, amigos e desconhecidos. Importa, contudo, salientar a confiança que em horas tais a ninguém deve faltar, configurada na certeza de que a ‘morte’ não é o fim e que todos os passageiros e alguns tripulantes do Boeing 707 estarão à espera dos que ficaram. Um dia -ainda sujeito ao critério da Lei-, estarão todos juntos novamente. Os que se abeberaram da Doutrina Espírita, tanto entre os que partiram quanto entre os que ficaram, sabem perfeitamente disso e disso vivem. Oremos pelos que não o sabem. Precisam de nossas preces. Bem mais do que nossa amargura ou nosso desespero.