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terça-feira, 5 de maio de 2020

A crucificação - Prodígios



A Crucificação/ Prodígios

27,32 E, quando  O iam levando, tomaram um certo Simão, de Cirene, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse após Jesus. 
27,33 Chegaram ao lugar chamado “Gólgota”, isto é, lugar do crânio. 
27,34 Deram-Lhe de beber vinho misturado com fel. Ele provou mas, se recusou a beber. 27,35 Depois de o haverem crucificado, dividiram Suas vestes entre si, tirando a sorte. Cumpriu-se, assim, a profecia do profeta: “Repartiram entre si minhas vestes e sobre meu manto lançaram a sorte (Salmo 21,19) 
27,36 Sentaram e montaram guarda 
27,37 Por cima se Sua cabeça penduraram um escrito trazendo o motivo de sua crucificação: - Este é Jesus, o Rei dos Judeus. 
27,38 Ao mesmo tempo foram crucificados com Ele dois ladrões, um à Sua direita e outro à Sua esquerda. 
27,39 Os que passavam O injuriavam, sacudiam a cabeça e diziam... 
27,40 Tu, que destruís o Templo e o reconstruís em três dias, salva-Te a Ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz! 
27,41 Os sacerdotes, os escribas e os anciãos também zombavam Dele. 
27,42 Ele salvou a muitos e a Si mesmo não pode salvar-se! Se é Rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos Nele! 
27,43 Confiou em Deus, Deus O livre agora, se O ama, porque Ele disse: “ -Eu sou Filho de Deus!”

Para Mt (27,42), - Salvou a muitos e a Si mesmo não pode salvar-se...- encontramos em “Fonte Viva” (Ed. FEB), por Emmanuel:

            “Sim, ele redimira a muitos...

            Estendera o amor e a verdade, a paz e a luz, levantara enfermos e ressuscitara mortos.

            Entretanto, para Ele mesmo erguia-se a cruz, entre ladrões. Em verdade, para quem se exaltara tanto, para quem atingira o pináculo, sugerindo indiretamente a própria condição de Redentor e Rei, a queda era enorme...

            Era o Príncipe da Paz e achava-se vencido pela guerra dos interesses inferiores. Era o Salvador e não se salvara. Era o justo e padecia a suprema injustiça.

             Jazia o Senhor flagelado e vencido. Para o consenso humano era a extrema perda.

            Caíra, todavia, na cruz. Sangrando, mas de pé. Supliciado, mas de braços abertos. Relegado ao sofrimento, mas suspenso da Terra. Rodeado de ódio e sarcasmo, mas de coração içado ao Amor.

            Tombara, vilipendiado e esquecido, mas, no outro dia, transformava a própria dor em glória divina. Pendera-lhe a fronte, empastada de sangue, no madeiro, e ressurgia, à luz do sol, ao hálito de um jardim.

            Convertia-se a derrota escura em vitória resplandescente. Cobria-se o lenho afrontoso de claridades celestiais para a Terra inteira.

            Assim também ocorre no círculo de nossas vidas. Não tropeces no fácil triunfo ou na auréola barata dos crucificadores. Toda vez que as circunstâncias te compelirem a modificar o roteiro da própria vida, prefere o sacrifício de ti mesmo, transformando a tua dor em auxílio para muitos, porque todos aqueles que recebem a cruz, em favos dos semelhantes, descobrem o trilho da eterna ressurreição.”

A Crucificação / Prodígios

27,44  E os ladrões crucificados com Ele, também O maltrataram. 
27,45  Desde a hora sexta até a nona, cobriu-se a terra de trevas. 
27,46  Próximo da hora nona, Jesus exclamou em voz forte:“ Eli, Eli, Lamma Sabactâni!” o que quer dizer “ -Meu Deus,  Meu Deus, por que me abandonaste?”
27,47 A estas palavras, alguns dos que lá estavam,   diziam:  -Ele chama por Elias...
27,48 Imediatamente, um deles tirou uma esponja, embebedou-a em vinagre e apresentou-Lha na ponta de uma vara para que   bebesse.   
27,49 Os outros diziam:
-Deixa, Deixa, vejamos se Elias virá socorrê-Lo. 
27,50  Jesus de novo soltou um grande brado e entregou Sua alma. 
27,51 E, eis que o véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo, a terra tremeu, fenderam-se as rochas. 
27,52  Os sepulcros se abriram e os corpos dos mortos justos ressuscitaram, 
27,53  Saindo de suas sepulturas, entraram na cidade santa, depois da ressurreição de Jesus, e apareceram à muitas pessoas. 
27,54  O centurião e seus homens, que montavam guarda a Jesus, diante do estremecimento da terra e de tudo o que se passava, disseram entre si,, possuídos de grande temor:
-Verdadeiramente, este Homem era Filho de Deus!
27,55  Havia ali algumas mulheres que, de longe olhavam, e que tinham seguido     Jesus desde a Galileia, para o servir.    
27,56  Entre Elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José e Salomé, esposa de Zebedeu;                                          
        
         Para  Mt (27,45 et 51-53),  lemos  em “A Gênese”, de A. Kardec, no seu Cap. XV,  a orientação sobre essa passagem do evangelho:

            “É singular que tais prodígios, operando-se no momento mesmo em que a atenção da cidade se fixava no suplício de Jesus, que era o acontecimento do dia, não tenham sido notados, pois que nenhum historiador os menciona. Parece impossível que um tremor de terra e o ficar toda a Terra envolta em trevas durante três horas, num país onde o céu é sempre de perfeita limpidez, hajam podido passar despercebidos.

            A duração de tal obscuridade teria sido quase a de um eclipse do Sol, mas os eclipses dessa espécie só se produzem na lua nova, e a morte de Jesus ocorreu em fase de lua cheia, a 14 de Nissan, dia da Páscoa dos judeus.

            O obscurecimento do Sol também pode ser produzido pelas manchas que se lhe notam na superfície. Em tal caso, o brilho da luz se enfraquece sensivelmente, porém, nunca ao ponto de determinar obscuridade e trevas. Admitido que um fenômeno desse gênero se houvesse dado, ele decorreria de uma causa perfeitamente natural.

            Quanto aos mortos que ressuscitaram, possivelmente algumas pessoas tiveram visões ou viram aparições, o que não é excepcional. Entretanto, como então não se conhecia a causa desse fenômeno, supuseram que as figuras vistas saíam dos sepulcros.

            Compungidos com a morte de seu Mestre, os  discípulos de Jesus sem dúvida ligaram a essa morte alguns fatos particulares, as quais noutra ocasião nenhuma atenção houveram prestado. Bastou, talvez, que um fragmento de rochedo se haja destacado naquele momento, para que pessoas inclinadas ao maravilhoso tenham visto nesse fato um prodígio e, ampliando-o, tenham dito que as pedras se fenderam.

            Jesus é grande pelas suas obras e não pelos quadros fantásticos de que um entusiasmo pouco ponderado entendeu de cercá-lo.”

         Humberto de Campos, em “Boa Nova” (Ed. FEB), obra mediúnica de Chico Xavier, nos concede esse inesquecível...

Maria
            Junto da cruz, o vulto agoniado de Maria produzia dolorosa e indelével impressão. Com o pensamento ansioso e torturado, olhos fixos no madeiro das perfídias humanas, a ternura materna regredia ao passado em amarguradas recordações. Ali estava, na hora extrema, o filho bem-amado.
            Maria deixava-se ir na corrente infinda das lembranças. Eram as circunstâncias maravilhosas em que o nascimento de Jesus lhe fora anunciado, a amizade de Isabel, as profecias do velho Simeão, reconhecendo que a assistência de Deus se tornara incontestável nos menores detalhes de sua vida. Naquele instante supremo, revia a manjedoura, na sua beleza agreste, sentindo que a Natureza parecia desejar redizer aos seus ouvidos o cântico de glória daquela noite inolvidável. Através do véu espesso das lágrimas, repassou, uma por uma, as cenas da infância do filho estremecido, observando o alarma interior das mais doces reminiscências. 

            Nas menores coisas, reconhecia a intervenção da Providência celestial; entretanto, naquela hora, seu pensamento vagava também pelo vasto mar das mais aflitivas interrogações.

            Que fizera Jesus por merecer tão amargas penas? Não o vira crescer de sentimentos imaculados, sob o calor de seu coração? Desde os mais tenros anos, quando o conduzia à fonte tradicional de Nazaré, observava o carinho fraterno que dispensava a todas as criaturas. Frequentemente, ia buscá-lo nas ruas empedradas, onde sua palavra carinhosa consolava os transeuntes desamparados e tristes. Viandantes misérrimos vinham a sua casa modesta louvar o filhinho idolatrado, que sabia distribuir as bênçãos do Céu. Com que enlevo recebia os hóspedes inesperados que suas mãos minúsculas conduziam à carpintaria de José!... Lembrava-se bem de que, um dia, a divina criança guiara a casa dois malfeitores publicamente reconhecidos como ladrões do vale de Mizhep. E era de ver-se a amorosa solicitude com que seu vulto pequenino cuidava dos desconhecidos, como se fossem seus irmãos. Muitas vezes, comentara a excelência daquela virtude santificada, receando pelo futuro de seu adorável filhinho.

            Depois do caricioso ambiente doméstico, era a missão celestial, dilatando-se em colheita de frutos maravilhosos. Eram paralíticos que retomavam os movimentos da vida, cegos que se reintegravam nos sagrados dons da vista, criaturas famintas de luz e de amor que se saciavam na sua lição de infinita bondade.

            Que profundos desígnios haviam conduzido seu filho adorado à cruz do suplício?

            Uma voz amiga lhe falava ao espírito, dizendo das determinações insondáveis e justas de Deus, que precisam ser aceitas para a redenção divina das criaturas. Seu coração rebentava em tempestades de lágrimas irreprimíveis; contudo, no santuário da consciência, repetia a sua afirmativa de sincera humildade; -Faça-se na escrava a vontade do Senhor!

            De alma angustiada, notou que Jesus atingira o último limite dos padecimentos inenarráveis. Alguns dos populares mais exaltados multiplicavam as pancadas, enquanto as lanças riscavam o ar, em ameaças audaciosas e sinistras. Ironias mordazes eram proferidas a  esmo, dilacerando-lhe a alma sensível e afetuosa.

            Em meio de algumas mulheres compadecidas, que lhe acompanhavam o angustioso transe, Maria reparou que alguém lhe pousara as mãos, de leve, sobre os ombros.

            Deparou-se-lhe a figura de João que, vencendo a pusilanimidade criminosa em que haviam mergulhado os demais companheiros, lhe estendia os braços amorosos e reconhecidos. 

Silenciosamente, o filho de Zebedeu abraçou-se àquele triturado coração maternal. Maria deixou-se enlaçar pelo discípulo querido e ambos, ao pé do madeiro, em gesto súplice, buscaram ansiosamente a luz daqueles olhos misericordiosos, no cúmulo dos tormentos. Foi aí que a fronte do divino supliciado se moveu vagarosamente, revelando perceber a ansiedade daquelas duas almas em extremo desalento.

            “Meu Filho! Meu amado Filho!...” -exclamou a mártir, em aflição diante da serenidade daquele olhar de melancolia intraduzível.

            O Cristo pareceu meditar no auge de suas dores, mas, como se quisesse demonstrar, no instante derradeiro, a grandeza de sua coragem e a sua perfeita comunhão com Deus, replicou com significativo movimento dos olhos vigilantes:

             “ -Mãe, eis aí teu filho!...” -E dirigindo-se, de modo especial, com um leve aceno, ao apóstolo, disse: - “ -Filho, eis aí tua mãe!

            Maria envolveu-se no véu de seu pranto doloroso, mas o grande evangelista compreendeu que o Mestre, na sua derradeira lição, ensinava que o amor universal era o sublime coroamento de sua obra. Entendeu que, no futuro, a claridade do Reino de Deus revelaria aos homens a necessidade da cessação de todo egoísmo e que, no santuário de cada coração, deveria existir a mais abundante cota de amor, não só para a círculo familiar, senão também para todos os necessitados do mundo, e que no templo de cada habitação permaneceria a fraternidade real, para que a assistência recíproca se praticasse na Terra, sem serem precisos os edifícios exteriores, consagrados a uma solidariedade claudicante.

            Por muito tempo, conservaram-se ainda ali, em preces silenciosas, até que o Mestre, exânime, fosse arrancado à cruz, antes que a tempestade mergulhasse a paisagem castigada de Jerusalém num dilúvio de sombras.

            Após a separação dos discípulos, que se dispersaram por lugares diferentes, para a difusão da Boa Nova, Maria retirou-se para a Bataneia, onde seus parentes mais próximos a esperavam com especial carinho.

            Os anos começaram a rolar, silenciosos e tristes, apara a angustiada saudade de seu coração.
            Tocada por grande dissabores, observou que, em tempo rápido, as lembranças do filho amado se convertiam em elementos de ásperas discussões, entre os seus seguidores. Na Bataneia, pretendia-se manter uma certa aristocracia espiritual, por efeito dos laços consanguíneos que ali a prendiam, em virtude dos elos que a ligavam a José. Em Jerusalém, digladiavam-se os cristãos e os judeus, com veemência e acrimônia. Na Galileia, os antigos cenáculos simples e amoráveis da Natureza estavam tristes e desertos.

            Para aquela mãe amorosa, cuja alma digna observava que o vinho generoso de Caná se transformara em vinagre do martírio, o tempo assinalava sempre uma saudade maior no mundo e uma esperança cada vez mais elevada no céu.

            Sua vida era uma devoção incessante ao rosário imenso da saudade, às lembranças mais queridas. Tudo que o passado feliz edificara em seu mundo interior revivia na tela de sua lembranças, com minúcias somente conhecidas do amor, e lhe alimentavam a seiva da vida.   

            Relembrava-se o seu Jesus pequenino, como naquela noite de beleza prodigiosa, em que o recebera nos braços maternais, iluminado pelo doce mistério. Figurava-se-lhe escutar o balido das ovelhas que vinham, apressadas, acercar-se do berço que se formara de improviso. E aquele primeiro beijo, feito de carinho e de luz ? As reminiscências envolviam a realidade longínqua de singulares belezas para o seu coração sensível e generoso. Em seguida, era o rio das recordações desaguando, sem cessar, na sua lama rica de sentimentalidade e ternura. Nazaré lhe voltava à imaginação, com as suas paisagens de felicidade e de luz. A casa singela, a fonte amiga, a sinceridade das afeições, o lago majestoso e, no meio de todos os detalhes, o filho adorado, trabalhando e amando, no erguimento da mais elevada concepção de Deus, entre os homens da Terra. De vez em quando, parecia vê-lo em seus sonhos repletos de sua presença e participava da carícia de suas recordações.

            A esse tempo, o filho de Zebedeu, tendo presentes as observações que o Mestre lhe fizera da cruz, surgiu na Bataneia, oferecendo àquele espírito saudoso de mãe o refúgio amoroso de sua proteção. Maria aceitou o oferecimento, com satisfação imensa.

            E João lhe contou a sua nova vida. Instalara-se definitivamente em Éfeso, onde as idéias cristãs ganhavam terreno entre almas devotadas e sinceras. Nunca olvidara as recomendações do Senhor e, no íntimo, guardava aquele título de filiação como das mais altas expressões de amor universal para com aquela que recebera o Mestre nos braços veneráveis e carinhosos.

            Maria escutava-lhe as confidências, num misto de conhecimento e de ventura.

            João continuava a expor-lhe os seus planos mais insignificantes. Levá-la-ia consigo, andariam ambos na mesma associação de interesses espirituais. Seria seu filho desvelado, enquanto receberia de sua alma generosa a ternura maternal, nos trabalhos do Evangelho. Demorara-se a vir, explicava o filho de Zebedeu, porque lhe faltava uma choupana, onde se pudessem abrigar; entretanto, um dos membros da família real de Adiabene, convertido ao amor do Cristo, lhe doara uma casinha pobre, ao sul de Éfeso, distando três léguas aproximadamente da cidade. A habitação simples e pobre demorava num promontório, de onde se avistava o mar. No alto de pequena colina, distante dos homens e no altar imponente da Natureza, se reuniriam ambos para cultivar a lembrança permanente de Jesus. Estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os espíritos de boa-vontade e, como mãe e filho, iniciariam uma nova era de amor, na comunidade universal.

            Maria aceitou alegremente.

            Dentro de breve tempo, instalaram-se no seio amigo da Natureza, em frente ao oceano. Éfeso ficava pouco distante; porém, todas as adjacências se povoavam de novos núcleos de habitações alegres e modestas. A casa de João, ao cabo de algumas semanas, se transformou num ponto de assembleias adoráveis, onde as recordações do Messias eram cultivadas por espíritos humildes e sinceros.

            Maria externava suas lembranças. Falava dele com maternal enternecimento, enquanto o apóstolo comentava as verdades evangélicas, apreciando os ensinos recebidos. Vezes inúmeras, a reunião somente terminava noite alta, quando as estrelas tinham maior brilho. E não foi só. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sítio singelo e generoso. A notícia de que Maria descansava, agora, entre eles, espalhara um clarão de esperança por todos os sofredores. Ao passo que João pregava na cidade as verdades de Deus, ela atendia, no pobre santuário doméstico, aos que a procuravam exibindo-lhe suas úlceras e necessidades.  Sua choupana era, então, conhecida pelo nome de “Casa da Santíssima”.

            O fato tivera origem em certa ocasião, quando um miserável leproso, depois de aliviado em suas chagas, lhe osculou as mãos, reconhecidamente murmurando:

            - “Senhora, sois a Mãe de nosso Mestre e nossa Mãe Santíssima!”

         A tradição criou raízes em todos os espíritos. Quem não lhe devia o favor de uma palavra maternal no momentos mais duros? E João consolidava o conceito, acentuando que o mundo lhe seria eternamente grato, pois fora pela sua grandeza espiritual que o Emissário de Deus pudera penetrar a atmosfera escura e pestilenta do mundo para balsamizar os sofrimentos da criatura. Na sua humildade sincera, Maria se esquivava às homenagens afetuosas dos discípulos de Jesus, mas aquela confiança filial com que lhe reclamavam a presença era para sua alma um brando e delicioso tesouro do coração. O título de maternidade fazia vibrar em seu espírito os cânticos mais doces. Diariamente, acorriam os desamparados, suplicando a sua assistência espiritual. Eram velhos trôpegos e desenganados do mundo, que lhe vinham ouvir as palavras confortadoras e afetuosas, enfermos que invocavam a sua proteção, mães infortunadas que pediam a bênção de seu carinho.

            “ -Minha mãe -dizia um dos mais aflitos- como vencer as minhas dificuldades? Sinto-me abandonado na estrada escura da vida...”

            Maria lhe enviava o olhar amoroso da sua bondade, deixando nele transparecer toda a dedicação enternecida de seu espírito maternal.

            “ -Isto também passa!  -dizia ela, carinhosamente  - só o Reino de Deus é bastante forte para nunca passar de nossas almas, como eterna realização do amor celestial.”

            Seus conceitos abrandaram a dor dos mais desesperados, desanuviavam o pensamento dos mais acabrunhados.

            A igreja de Éfeso exigia de João a mais alta expressão de sacrifício pessoal, pelo que, com o decorrer do tempo, quase sempre Maria estava só, quando a legião humilde de necessitados descia o promontório desataviado, rumo aos lares mais confortados e felizes.  Os dias e as semanas, os meses e os anos passaram incessantes, trazendo-lhe as lembranças mais tenras. Quando sereno e azulado, o mar lhe fazia voltar à memória o Tiberíades distante. Surpreendia no ar aqueles perfumes vagos que enchiam a alma da tarde, quando seu filho, de quem nem um instante se esquecia, reunindo os discípulos amados, transmitia ao coração do povo as louçanias da Boa Nova. A velhice não lhe acarretava nem cansaços nem amarguras. A certeza da proteção divina lhe proporcionava ininterrupto consolo. Como quem transpõe o dia em labores honestos e proveitosos, seu coração experimentava grato repouso, iluminado pelo luar da esperança e pelas estrelas fulgurantes da crença imorredoura. Sua meditações eram suaves colóquios com as reminiscências do filho muito amado.

            Súbito recebeu notícias de que um período de dolorosas perseguições se havia aberto para todos os que fossem fieis à doutrina do seu Jesus divino. Alguns cristãos banidos de Roma traziam a Éfeso as tristes informações. Em obediência aos éditos mais injustos, escravizavam-se os seguidores de Cristo, destruíam-se-lhes os lares, metiam-nos nas prisões. Falava-se de festas públicas, em que seus corpos eram dados como alimento a fera insaciáveis, em horrendo espetáculos.

            Então, num crepúsculo estrelado, Maria entregou-se às orações, como de costume, pedindo a Deus por todos aqueles que se encontrassem em angústias do coração, por amor de seu filho.

            Embora a soledade do ambiente, não se sentia só: uma como força singular lhe banhava a alma toda. Aragens suaves sopravam do oceano, espalhando os aromas da noite que se povoava de astros amigos e afetuosos e, em poucos minutos, a luz plena participava, igualmente, desse concerto de harmonia e de luz.

            Enlevada nas suas meditações, Maria viu aproximar-se o vulto de um pedinte.

            -Minha Mãe - exclamou o recém-chegado, como tantos outros que recorriam ao seu carinho -, venho fazer-te companhia e receber a tua bênção.

            Maternalmente, ela o convidou a entrar, impressionada com aquela voz que lhe inspirava profunda simpatia. O peregrino lhe falou do céu, confortando-a delicadamente. Comentou as bem-aventuranças divinas que aguardam a todos os devotados e sinceros filhos de Deus, dando a entender que lhe compreendia as mais tenras saudades do coração. Maria sentiu-se empolgada por tocante surpresa. Que mendigo seria aquele que lhe acalmava as dores secretas da alma saudosa, com bálsamos tão dulçorosos? Nenhum lhe surgira até então para dar; era sempre para pedir alguma coisa. No entanto, aquele viandante desconhecido lhe derramava no íntimo as mais santas consolações!? Que emoções eram aquelas que lhe faziam pulsar o coração de tanta carícia ? Seus olhos se umedeceram de ventura, sem que conseguisse explicar a razão de sua terna emotividade.

            Foi quando o hóspede anônimo lhe estendeu as mãos generosas e lhe falou com profundo acento de amor:

            “ -Minha Mãe, vem aos meus braços!”

            Nesse instante, fitou as mãos nobres que se lhe ofereciam, num gesto da mais bela ternura. Tomada de comoção profunda, viu nelas duas chagas, como as que seu filho revelava na cruz e, instintivamente, dirigindo o olhar ansioso para os pés do peregrino amigo, divisou também aí as úlceras causadas pelos cravos do suplício. Não pode mais. Compreendendo a visita amorosa que Deus lhe enviava ao coração, bradou com infinita alegria:

            - “Meu Filho! Meu Filho! as úlceras que te fizeram!...”

            E precipitando-se para ele, como mãe carinhosa e desvelada, quis certificar-se, tocando a ferida que lhe fora produzida pelo último lançaço, perto do coração. Sua mãos ternas e solícitas o abraçaram na sombra visitada pelo luar, procurando sofregamente a úlcera que tantas lágrimas lhe provocara ao carinho maternal. A chaga lateral também lá estava, sob a carícia de suas mãos. Não conseguiu dominar o seu intenso júbilo. Num ímpeto de amor, fez um movimento para se ajoelhar. Queria abraçar-se aos pés do seu Jesus e osculá-los com ternura. Ele, porém, levantando-a, cercado de um halo de luz celestial, se lhe ajoelhou aos pés e, beijando-lhe as mãos, disse em carinhoso transporte:

            “Sim, minha mãe, sou Eu!... Venho buscar-te, pois meu Pai quer que sejas no meu reino a Rainha dos Anjos...”

            Maria cambaleou, tomada de inexprimível ventura. Queria dizer da sua felicidade, manifestar seu agradecimento a Deus; mas o corpo como que se lhe paralisara, enquanto aos seus ouvidos chegavam os ecos suaves da saudação do Anjo, qual se entoassem mil vozes cariciosas, por entre as harmonias do céu.

            No outro dia, dois portadores humildes desciam a Éfeso, de onde regressaram com João, para assistir aos últimos instantes daquela que lhes era a devotada Mãe Santíssima.

            Maria já não falava. Numa inolvidável expressão de serenidade, por longas horas ainda esperou a ruptura dos derradeiros laços que a prendiam à vida material.

            A alvorada desdobrava o seu formoso leque de luz quando aquela alma eleita se elevou da Terra, onde tantas vezes chorara de júbilo, de saudade e de esperança, Não mais via seu filho bem-amado, que certamente a esperaria, com as boas vindas, no seu reino de amor; mas, extensas multidões de entidades angélicas a cercavam cantando hinos de glorificação.

            Experimentando a sensação de se estar afastando do mundo, desejou rever a Galileia com os seus sítios preferidos. Bastou a manifestação de sua vontade para que a conduzissem à região do lago de Genesaré, de maravilhosa beleza. Reviu todos os quadros do apostolado de seu filho e, só agora, observando do alto a paisagem, notava que o Tiberíades, em seus contornos suaves, apresentava a forma quase perfeita de um alaúde. Lembrou-se, então, de que naquele instrumento da Natureza Jesus cantara o mais belo poema da vida e amor, em homenagem a Deus e à humanidade. Aquelas águas mansas, filhas do Jordão marulhoso e calmo, haviam sido as cordas sonoras do cântico evangélico.

            Dulcíssimas alegrias lhe invadiam o coração e já a caravana espiritual se dispunha a partir, quando Maria se lembrou dos discípulos perseguidos pela crueldade do mundo e desejou abraçar os que ficariam no vale das sombras, à espera das claridades definitivas do Reino de Deus. Emitindo esse pensamento, imprimiu novo impulso às multidões espirituais que a seguiam de perto. Em poucos instantes, seu olhar divisava uma cidade soberba e maravilhosa, espalhada  sobre colinas enfeitadas de carros e monumentos que lhe provocavam assombro. Os mármores mais ricos esplendiam nas magnificentes vias públicas, onde as liteiras patrícias passavam sem cessar, exibindo pedrarias e peles, sustentadas por misérrimos escravos. Mais alguns momentos e seu olhar descobria outra multidão guardada a ferros em escuros calabouços. Penetrou os sombrios cárceres do Esquilino, onde centenas de rostos amargurados retratavam padecimentos atrozes. Os condenados experimentaram no coração um consolo desconhecido.

            Maria se aproximou de um a um, participou de suas angústias e orou com as suas preces, cheias de sofrimento e confiança. Sentiu-se mãe daquela assembléia de torturados pela injustiça do mundo. Espalhou a claridade misericordiosa de seu espírito entre aquelas fisionomias pálidas e tristes. Eram anciães que confiavam no Cristo, mulheres que por ele haviam desprezado o conforto do lar, jovens que depunham no Evangelho do Reino toda a sua esperança. Maria aliviou-lhes o coração e, antes de partir, sinceramente desejou deixar-lhes nos espíritos abatidos uma lembrança perene. Que possuía para lhes dar? Deveria suplicar a Deus para eles a liberdade?!  Mas, Jesus ensinara que com Ele todo jugo é suave e todo fardo seria leve, parecendo-lhe melhor a escravidão com Deus do que a falsa liberdade nos desvãos do mundo. Recordou que seu filho deixara a força da oração como um poder incontrastável entre os discípulos amados. Então, rogou ao Céu que lhe desse a possibilidade de deixar entre os cristãos oprimidos a força da alegria. Foi quando, aproximando-se de uma jovem encarcerada, de rosto descarnado e macilento, lhe disse ao ouvido:

            “-Canta, minha filha! Tenhamos bom ânimo! ... Convertamos as nossas dores da Terra em alegrias para o Céu!...

            A triste prisioneira nunca saberia compreender o porquê da emotividade que lhe fez vibrar subitamente o coração. De olhos extáticos, contemplando o firmamento luminoso, através das grades poderosas, ignorando a razão de sua alegria, cantou um hino de profundo e enternecido amor a Jesus, em que traduzia sua gratidão pelas dores que lhe eram enviadas, transformando todas as suas amarguras em consoladoras rimas de júbilo e esperança. Daí a instantes, seu canto melodioso era acompanhado pelas centenas de vozes dos que choravam no cárcere, aguardando o glorioso testemunho.

            Logo, a caravana majestosa conduziu ao Reino do Mestre a bendita entre as mulheres e, desde esse dia, nos tormentos mais duros, os discípulos de Jesus têm cantado na Terra, exprimindo o seu bom ânimo e a sua alegria, guardando a suave herança de nossa Mãe Santíssima.

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            Por essa razão, irmãos meus, quando ouvirdes o cântico nos templos das diversas famílias religiosas do Cristianismo, não vos esqueçais de fazer no coração um brando silêncio, para que a Rosa Mística de Nazaré espalhe aí o seu perfume!

            Para (Mt 27,46) -Senhor, por que me desamparaste? - leiamos a Bittencourt Sampaio por Frederico Jr em “Jesus perante a Cristandade”:

            “Antes., porém, tendo o Divino Mestre prometido ao bom ladrão, assim chamado na frase do Evangelho, que consigo ele seria no paraíso, este, vendo baixar a fronte do Senhor, proferiu estas palavras que foram atribuídas a Jesus; Ely, Ely, lamma sabachtani! -Senhor, Senhor, por que me abandonaste!?

            Tal era a confusão, tão medonha a tragédia, tão negro o quadro, que, conturbados os espíritos, julgaram partirem dos divinos lábios do Amantíssimo Cordeiro essas palavras de aflição e desalento!

            Mas, assim não foi, nem poderia ser: Jesus, o Justo pré-eleito, cujo Espírito se eleva constantemente aos pés do seu glorioso Pai; Jesus, que afrontara todas as iras, todas as maldades dos homens, não podia, nesse momento supremo, participar desses desfalecimentos que só provam as almas pecadoras.

             Não, cristãos em Cristo, eu vos afirmo, como Espírito que sou, e pela verdade que recebo dos meus maiores, os Espíritos elevados que me assistem neste trabalho: a palavras de Jesus, nos seus últimos momentos, foram estas e unicamente estas:

             Tudo está consumado! A Vós, Senhor, entrego o Meu Espírito!

            Respeitado e tomado como verdadeiro o texto de Bittencourt Sampaio não podemos deixar de fazer constar nesta compilação uma nota, fruto da pesquisa do virtuoso Antônio Lima que, em “Vida de Jesus”, em nota de rodapé, informa que o Rev. J. Davis em sua obra ‘In League with Life‘ diz ser possível que Jesus houvesse exclamado; “Eli, Eli, Lama Azahhthani”, que significa: Senhor, Senhor, como me glorificas! cuja frase era pronunciada pelos iniciados quando passavam por uma grande prova. Essa frase também parece uma reminiscência de Davi, nos Salmos Cap. XXI, v.1: Deus meu, Deus meu, olha para mim; por que me desamparaste? Os clamores dos meus pecados são causa de estar longe de mim a salvação.’

sábado, 15 de junho de 2019

O Corpo de Jesus


O Corpo de Jesus
Ramiro Gama
Reformador (FEB) Fevereiro 1971

            Há certos assuntos a que chamamos chaves, subestimados entretanto por alguns confrades, que neles veem assuntos-problemas 
e que não devem ser dilucidados.

            E que, geralmente, leem e absorvem esses assuntos, no dizer do venerando Doutor Bezerra de Menezes, com espírito de sistema, isto é, 
de olhos fechados às verdades neles expostas e opulentadas.

            Referimo-nos ao corpo de Jesus, 
que aceitamos como sendo fluídico, 
logo assim penetramos o Espiritismo; 
e isto espontaneamente, 
sem haver lido, até aí, nada a respeito.

            Acontece que fomos eleito Presidente do Grupo Espírita Fé e 
Esperança, de Três Rios, no Estado do Rio, no ano de 1932, 
quando residíamos naquela cidade fluminense.

            E começamos a conviver, intimamente, 
com os companheiros de Diretoria do Grupo, 
muitos dos quais nos procuraram experimentar os conhecimentos
 com relação ao Espiritismo e saber se estávamos mesmo à altura do cargo.

            Um deles, o 1.° Secretário, José Magno da Silva, 
professor de Matemática, 
era o mais versado nos assuntos da Terceira Revelação. 
De uma feita, assistimos à palestra sua sobre a 
Virgindade de Maria Santíssima e 
achamos que dissertou com acerto e mestria sobre o delicado tema.

            E foi ele, justamente, o escalado para nos arguir.

            Logo de início, perguntou-nos:

            - Que acha o confrade do Corpo Fluídico do Cristo?

            Ficamos alguns instantes surpreso, 
pois não esperávamos tal pergunta. 
E, talvez, por intuição ou inspiração caridosa do Alto, 
respondemos assim.:

            Somos a favor. 
Sem que tenhamos lido ainda algo a respeito, 
acreditamos no corpo fluido de Jesus. 
Achamos que Ele não tivera um corpo igual ao nosso. 
Foi, em verdade, pura e claramente, um agênere.

            E concluímos:

            - Entretanto, lendo os Evangelhos, 
recordamos uma afirmativa de Jesus, 
que tudo nos fala de seu corpo: 
"dos nascidos de mulher, João Batista é o maior". 
Para nós isso é o bastante. 
Não precisamos de nenhuma outra documentação 
para vitoriar o asserto do Divino Mestre.

            O querido confrade, hoje na Espiritualidade, 
deu-se por satisfeito: Também para ele isso bastava.

            Recebemos, depois, de Manoel Quintão
seu precioso "O Cristo de Deus", 
em que ele esgota o assunto, 
com citações autorizadas, 
calcadas todas na lógica e na razão,
 transcrevendo e apreciando várias passagens evangélicas 
e vitoriando, assim, o magno problema. 
Depois fomos obsequiados com
 "Jesus nem Deus, nem Homem", 
de Guillon Ribeiro, que também focou e 
ressaltou a verdade toda inteira do corpo de Jesus, 
sempre com aquela superioridade de espírito e
 inspiração costumeira de seus valiosos Guias, 
dando-nos exemplos vários com relação à incorporeidade 
do Amigo Celeste e à luz da terceira explosão 
da bondade de Deus, 
que é o Espiritismo.

            Lemos ainda "Elos Doutrinários", 
de Ismael Gomes Braga
"A Vida de Jesus", de Antônio Lima
os livros eruditos de Leopoldo Cirne, Sayão 
e outros queridos seareiros, 
habituados todos a ler e compreender o 
Espiritismo Consolador sem o espírito de sistema e
 com olhos de ver, 
coração de pensar e inteligência de amar. 
Portadores que eram e são 
do AMOR que SABE e do SABER que AMA.

            E começamos, desde daí, a ver em Jesus um Ser à parte, 
um Espírito imaculado, tão grande e tão lindo, 
que jamais seremos capaz, nesta vida, 
de Lhe traduzir o valor, 
a culminância espiritual, tão longe nos consideramos 
d’Ele e tão endividados, ainda, diante dEle...

            E, por não considerarmos de pouca valia o seu corpo, 
mas chave para traduzir,
embora palidamente, a Sua gênese, 
é que O vemos com respeito e coração ajoelhado.
Quando, durante o Culto no Lar feito por nós há 42 anos, 
abrimos Seu Livro, o Livro
da nossa redenção, 
"O Evangelho segundo o Espiritismo", 
buscamos n’Ele e com Ele o clima da Luz Acima, 
da defesa espiritual, 
da legítima vitória,
 no exemplo da humildade, 
a prol da nossa tarefa de trabalhadores da última hora!

.....................................


Do Blog: 5 livros e um só tema.

Cabe lê-los para formar sua opinião a respeito.
Por qual vamos começar?


'Jesus - Nem Deus nem Homem' (FEB) - Guillon Ribeiro
'Elos Doutrinários' (FEB) - Ismael Gomes Braga
'O Cristo de Deus' (FEB) - por Manoel Quintão
'Elucidações Evangélicas' - (FEB) - Antônio Luiz Sayão
'Vida de Jesus' (FEB) - Antônio Lima



                           




terça-feira, 22 de janeiro de 2019

A queda de Jerusalém e outras



Predição sobre Jerusalém e Outras
                  
24,1   Ao sair do templo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e fizeram-nO apreciar as construções. 
24,2  Jesus, porém, respondeu-lhes: “ -Vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro: Não ficará aqui pedra sobre pedra - tudo será destruído.” 
24,3  Indo Ele ausentar-se no Monte das Oliveiras, achegaram-se os discípulos e, estando a sós com Ele, perguntaram-lhe: -Quando acontecerá isso? Qual será o sinal de Tua volta e do fim do mundo?     
24,4  Respondeu-lhes Jesus:
“ -Acautelai-vos,  que  ninguém   vos   engane. 
24,5 Muitos virão em Meu nome, dizendo: Sou eu  o  Cristo, e seduzirão a muitos. 
24,6  Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras. Atenção que isso não vos perturbe, porque é preciso que isso aconteça. Mas, ainda não será o fim.
24,7  Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares. 
24,8  Tudo isso será apenas o início dos sofrimentos. 
24,9  Então, sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis, por Minha causa objeto de ódio para todas as nações. 
24,10  Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão. 
24,11 Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. 
24,12  E, ante o progresso da iniquidade, a caridade de muitos se esfriará. 
24,13  Entretanto, aquele que perseverar até o fim, será salvo. 
24,14 Esta boa nova será divulgada pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações e, então, chegará o fim.”
       
         Para Mt (24,1-2) -Predições sobre a Cidade de Jerusalém e Outras -, leiamos “A Gênese”, de Kardec, no seu Cap. XVII:
           
            “A faculdade de pressentir as coisas porvindouras é um dos atributos da alma e se explica pela teoria da presciência.  Jesus a possuía, como todos os outros, em grau eminente. Pode, portanto, prever os acontecimentos que se seguiriam à sua morte, sem que nesse fato algo haja de sobrenatural, pois que o vemos reproduzir-se aos nossos olhos, nas mais vulgares condições.”

            Para Mt (24,2) -Não ficará pedra sobre pedra..., leiamos a Vinícius, conforme gravado no Reformador pg.145 Ano 1933:

            “Ao sair Jesus do templo, disse-lhe um de seus discípulos: Olha, Mestre, que pedras e que edifícios! Disse-lhe Jesus: Vês estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra, que não seja derrubada.
            Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quiz eu ajuntar teus filhos, como a galinha ajunta os do seu ninho debaixo das suas asas e tu não quiseste! Eis aí vos é deixada a vossa casa. Declaro-vos que não me vereis mais até que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.”
            As palavras de Jesus não passam: atravessam os séculos e os milênios por sobre as gerações que se sucedem no cenário terreno. O que ele disse acerca de Jerusalém constitui uma profecia aplicável a todas as grandes capitais do mundo materialista de todos os tempos.
            Os homens se impressionam com o vulto do progresso material em suas múltiplas expressões. Orgulham-se dos seus feitos, descobertas e invenções; das suas metrópoles, cujas ruas e praças ostentam arranha-céus, teatros, catedrais, monumentos e outros muitos expoentes da arte, da riqueza e da civilização sem moral e sem justiça.  Esquecem-se, porém, do que têm sucedido com tudo isso, apesar do testemunho insuspeito da história. Nào percebem que essas construções, de que tanto se jactam, por vezes ficaram reduzidas a montões de escombros!
            As gerações que se seguem entregam-se novamente ao delírio dos sentidos, vendo, a seu turno, ruir as pedras de seus edifícios! É Saturno, o deus antropófago, devorando os próprios filhos!
            De fato, onde está a potentíssima Roma dos Césares? Que é feito da Grécia, berço das artes e da filosofia de outrora? Onde o Egito dos Faraós, com suas ciências tão afamadas? E a Babilônia, em cujo reino o sol nunca se punha? Reportando-nos aos nossos dias, cabe indagar: onde a decantada civilização européia, cujas nações vivem em constantes sobressaltos, e cujos povos se mantêm em atitudes de feras que mutuamente se temem e se vigiam?
            Jerusalém caiu fragorosamente no ano 70, conforme o vaticínio do Senhor.
      Tal como a capital da Palestina, vem desmoronando, numa derrocada sinistra, o mundo materialista, o reino de Mamon, de Baco e de Vênus!
            E assim sucederá, até que os homens deixem de construir sobre a areia, e, abrindo o coração às revelações do céu, digam: Bendito aquele que fala em nome do Senhor!

            Para  Mt (24,4) - Acautelai-vos, que ninguém vos engane!   - leiamos   “Livro  da Esperança”, de Emmanuel por Chico Xavier:
           
            “Forçoso distinguir sempre o exterior da conteúdo. Exterior atende à informação e ao revestimento. Conteúdo, porém, é substância e vida. Exterior, em muitas ocasiões, afeta unicamente os olhos. Conteúdo alcança a reflexão. Simples lições de coisas aclaram-nos o asserto. A casa impressiona pelo feitio. O interior, contudo, é que lhe decide o aproveitamento. A máquina impressiona pelo feitio. O interior, contudo, é que lhe revela a função. Exterior consegue enganar. Um frasco indicando medicamento é capaz de trazer corrosivo. Uma bolsa aparentemente inofensiva pode encerrar uma bomba.    Conteúdo, entretanto, fala por si.A essência disso ou daquilo é ou não é. Imperioso considerar ainda que todas as aquisições, conhecidas por fora, somente denotam valor real se filtradas por dentro.
            Cultura é patrimônio incorruptível, no entanto apenas vale para a vida, no exemplo de trabalho daquele que a possui.Título profissional tem o crédito apreciado pelo bem que realiza. Teoria de elevação não vai sem a prática. Música é avaliada na execução.
            Atendamos, pois, às definições espíritas, que nos traçam deveres imprescritíveis, confessando-nos espíritas e abraçando atitudes espíritas, mas sem esquecer que Espiritismo, na esfera de nossas vidas, em tudo e por tudo, é renovação moral.”

            Antônio Lima em “Vida de Jesus” nos conta do templo de Jerusalém, através de Antiguidades  Judaicas de Flavius Josephus:

            “O templo de Jerusalém tinha cem côvados de largo e cento e vinte de altura, que com o tempo ficou reduzida a cem côvados, devido ao desaprumo dos alicerces. Era uma maravilha a qualidade e a cor das pedras do edifício, assim como as suas dimensões, pois tinham vinte côvados de comprimento, oito de altura e doze de largura. As artes tinham rivalizado para que causasse assombro a arquitetura daquele monumento, que parecia o palácio de um rei, o mais esplêndido que o sol tem iluminado. Os seus pórticos eram adornados com ricos tapetes recamados de flores de púrpura. Das cornijas das colunas caíam cepas de ouro com os seus pâmpanos e cachos. O templo tinha dez portas, quatro ao norte, quatro ao meio-dia e duas ao Oriente. Estas portas tinham duas folhas e mediam trinta côvados de altura e quinze de largura. Os ângulos eram chapeados de ouro e prata e só um era de cobre de Corinto - metal mais precioso que qualquer outro. O frontispício do monumento, com os seus muitos enfeites de ouro, tinha um brilho prodigioso aos raios do sol nascente. O interior do edifício, dividido em duas partes, era de uma riqueza que deslumbrava. Sobre a porta do primeiro recinto sagrado via-se uma cepa de ouro do tamanho de um homem, com cachos do mesmo metal. As portas que conduziam ao segundo recinto eram cobertas de um tapete babilônico de cinquenta côvados de altura e dezesseis de largura. O azul, a púrpura, o carmim e o linho, misturados nos tapetes, representavam os quatro elementos: o azul, o ar; a púrpura, o mar; o carmim,o fogo, e o linho, a terra que o produz. A arte, ajudada pela ciência, também tinha ali representada a esfera celeste. Passado o segundo recinto e no interior do templo, estava o Santo dos Santos. O templo era rodeado por largas e altas galerias, sustentadas por fortes paredes. A leste do monumento religioso havia um outro, que se achava convertido num terraço com quatro fachadas cujas pedras enormes estavam juntas umas às outras com chumbo. Uma tríplice galeria, que atravessava profundo vale, servia de comunicação entre o templo e o bairro ocidental da cidade. Aquela galeria era sustentada por cento e sessenta e duas colunas de ordem coríntia, de vinte e sete pés de circunferência cada uma. Ao norte do templo, a torre de Asmoneus, reedificada por Herodes e semelhante ao seu palácio, e que tomou o nome de Antônia em memória ao benfeitor do rei (Marco Antônio). Uma abóbada subterrânea comunicava a torre Antônia com a porta oriental do templo. Era nesta fortaleza que se guardavam as vestimentas solenes do sumo-pontífice e do tesoureiro.”

            Emmanuel, em seu romance   “Há dois mil anos...” nos   traz   mais   alguns   aspectos   de Jerusalém e seu Templo, à época de Jesus, que valem a pena apreciar...

            “À época da permanência da família de Públio Lêntulus (Anos 32/50 de nossa era), Jerusalém  acusava  novidades e esplendores da vida nova. As construções herodianas pululavam nos seus arredores, revelando novo senso estético por parte de Israel. A predileção pelos monólitos talhados na rocha viva, característica do antigo povo israelita, fora substituída pelas adaptações do gosto judeu às normas gregas, renovando as paisagens interiores da famosa cidade.
            A joia maravilhosa era, porém, o Templo, todo novo na época de Jesus. Sua reconstrução fora determinada por Herodes, no ano de 21, notando-se que os pórticos levaram oito anos a edificar-se, e considerando-se, ainda, que os planos da obra grandiosa, continuados vagarosamente no curso do tempo, somente ficaram concluídos pouco antes de sua completa destruição.
            Nos pátios imensos, reunia-se diariamente a aristocracia do pensamento israelita, localizando-se ali o forum, a universidade, o tribunal e o templo supremo de toda uma raça.
            Os próprios processos civis, além das discussões engenhosas de ordem tológica, ali recebiam as decisões derradeiras, resumindo-se no templo imponente e grandioso todas as ambições e atividades de uma pátria.
            Os romanos, respeitando a filosofia religiosa dos povos estranhos, não participavam das teses sutis e dos sofismas debatidos e examinados todos os dias, mas a Torre Antônia, onde se aquartelavam as forças armadas do Império, dominava o recinto, facilitando a fiscalização constante de todos os movimentos dos sacerdotes e das massas populares.”
            “Ao tempo de Cristo, a Galileia era um vasto celeiro que abastecia quase toda a Palestina. Nesta época, o formoso lago de Genesaré não apresentava nível tão baixo, como na atualidade. Todo o terreno circunvizinho era de regadio, em vista das fontes numerosas, dos canais e do serviço das noras que elevavam as águas, dando origem a uma vegetação luxuriante que enfeitava de frutos e enchia de perfumes aquelas paisagens paradisíacas.
            O trigo, a cevada, as abóboras, as lentilhas, os figos e as uvas eram elementos de semeadura e colheita em todo o ano, dando à vida satisfação e abundância. Nas eminências da terra, misturando-se aos extensos vinhedos e olivais, elevavam-se palmeiras e tamareiras preciosas, cujos frutos eram os mais ricos da Palestina.
            Em Cafarnaum, além dessa riquezas, prosperava a indústria da pesca, dada a abundância do peixe no então chamado “Mar da Galileia,” o que  resumia uma vida simples  e tranquila. Dentre todos os outros povos dos centros galileus, o de Cafarnaum se distinguia por sua beleza espiritual, despretenciosa e singela.”

A Queda de Jerusalém (Ano 70)

            Na véspera da queda de Jerusalém, já se lutava quase corpo a corpo, em todos os pontos de penetração, havendo incursões de parte a parte nos campos inimigos, com recíprocas crueldades contra todos os que tivessem a infelicidade de cair prisioneiros...
            Um dos núcleos de resistência situava-se num casarão, próximo da Torre Antônia... 
            Dali, observava-se cenas de selvageria e sangue da plebe anônima e amotinada, que exterminava numerosos cidadãos romanos, lembrando a tarde dolorosa do Calvário, em que o piedoso profeta de Nazaré sucumbira na cruz, sob a voz terrificante das multidões enfurecidas...
            Jerusalém, tomada de assombro, mobilizava as derradeiras energias para evitar a ruína completa...
            Já se ouviam na cidade os primeiros rumores das forças romanas vitoriosas, entregando-se ao terror e ao saque da população humilhada e inerme. Por toda parte, o êxodo precipitado de mulheres e crianças em gritaria infernal e angustiosa...
            Superada a última resistência, Jerusalém esteve, por vários dias, entregue ao saque e à desordem, levados a efeito pela soldadesca do Império, faminta de prazeres e envenenada no vinho sinistro do triunfo. Todos os chefes da resistência israelita foram presos, a fim de comparecerem a Roma para o último sacrifício, em homenagem às festas comemorativas da vitória...
            Depois da matança de onze mil prisioneiros feridos ou inválidos, massacrados pelas legiões vencedoras; depois dos pavorosos espetáculos da destruição e saque do templo magnífico, no qual Israel julgava contemplar a sua obra eterna e divina para todas as gerações de sua posteridade prolífera, voltou a caravana compacta dos vencidos, inclusive Simão -seu chefe supremo- e troféus maravilhosos, de modo a exibir em Roma todos os ornamentos ilustrativos da vitória, entre vibrações tumultuárias e cânticos de triunfo...”

Predição sobre Jerusalém e Outras

 24,15  Quando, portanto, vocês virem que a devastação abominável de que fala o Profeta Daniel atingiu o lugar santo*, 
24,16  então, os habitantes da Judeia fujam para as montanhas. 
24,17  aquele que está no terraço de sua casa não desça para buscar o que está em sua casa. 
24,18  e, aquele que está no campo não volte para buscar suas vestimentas. 
24,19  Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentando naqueles dias. 
24,20  rogai para que a vossa fuga não seja no inverno, nem em dia de sábado. 
24,21  porque, então, a tribulação será tão grande como nunca foi vista, desde o começo do mundo  até o presente, nem jamais será. 
24,22 Se aqueles dias não fossem abreviados, criatura alguma escaparia. Mas, por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados. 
24,23  Então, se alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo! Ou Ei-lo acolá! Não creiais! 24,24  Porque se levantarão falsos profetas e falsos Cristos, que farão milagres a ponto de seduzir, se isso fosse possível, até mesmo os escolhidos. 
24,25  Eis que estás prevenidos 
24,26  Se, pois, vos disserem: Ele está no deserto... Não saiais! ou Lá está Ele em casa... não o creiais! 
24,27  Porque, como o relâmpago parte do Oriente e ilumina até o Ocidente, assim será a volta do Filho do Homem! 
24,28  Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias! *Daniel (9,27) refere-se a instalação de ídolos pagãos em templo judaico.

        Para Mt (24,28) -Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias, encontramos em “Pão Nosso”, de Emmanuel por Chico Xavier o que se segue:

            “Apresentando a imagem do cadáver e das águias, referia-se o Mestre à necessidade dos homens penitentes, que precisam recursos de combate à extinção das sombras em que se mergulham.
            Não se elimina o pântano, atirando-lhe flores. Os corpos apodrecidos no campo atraem corvos que os devoram.
            Essa figura, de alta significação simbológica, é dos mais fortes apelos do Senhor, conclamando os servidores do Evangelho aos movimentos do trabalho santificante.
            Em vários círculos do Cristianismo renascente surgem os que se queixam, desalentados, da ação de perseguidores, obsessores e verdugos visíveis e invisíveis. Alguns aprendizes se declaram atados a influência deles e confessam-se incapazes de atender aos desígnios de Jesus.
            Conviria, porém, muita ponderação, antes de afirmativas desse jaez, que apenas acusam os próprios autores. É imprescindível lembrar sempre que as aves impiedosas se ajuntarão em torno de cadáveres ao abandono.
               Os corvos se aninham noutras regiões, quando se alimpa o campo em que permaneciam.
            Um homem que se afirma invariavelmente infeliz fornece a impressão de que respira num sepulcro; todavia, quando procura renovar o próprio caminho, as aves escuras da tristeza negativa se afastam para mais longe.
            Luta contra os cadáveres de qualquer natureza que se abriguem em teu mundo interior. Deixa que o divino sol da espiritualidade te penetre, pois, enquanto fores ataúde de coisas mortas, serás seguido, de perto, pelas águias da destruição.”