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sexta-feira, 3 de setembro de 2021

O fenômeno da morte aparente



O fenômeno da morte aparente

por Heitor Modesto

Reformador (FEB) Agosto 1925

            A propósito dos casos da morte aparente, fenômeno que acontece com certos médiuns, de que trata a medicina legal e foi objeto de um de nossos artigos nu, dos passados números de Reformador, escreve-nos o Sr. Heitor Modesto, redator dos debates da Câmara dos Deputados, publicista, e que se vem entregando ultimamente ao estado dos assuntos espiritualistas:

            “Tenho para mim que o primeiro requisito que um homem deve apresentar, para pesquisar o mistério da vida e descobrir a verdade sobre a nossa origem e o nosso destino, é a boa-fé, muito embora se diga que a boa-fé é o apanágio da ignorância. Boa-fé, porém, não se entenda credulidade fácil, abandono cômodo do raciocínio, senão honestidade em confessar aquilo que impressione o nosso juízo e convença a nossa razão. A boa-fé, assim, diz mais respeito a nós mesmos que ao próximo.

            Não sou um espírita sectário- sou apenas um homem de boa-fé, que procura descobrir a verdade.

            Ao citar enfaticamente a opinião de Richet, colhida no tratado de Metapsíquica, o Sr. Medeiros e Albuquerque refere-se, com ar de penalizada ironia, a constantes alusões dos espíritas à obra desse notável mestre, como sustentáculo da doutrina espírita.

            É um engano de observação do ilustre polígrafo. Os espíritas não se referem às conclusões pessoais escritas de Richet, mas à conclusão de sua obra, naquilo que o eminente cientista, numa lamentável manifestação de – respeito humano – (segundo a definição católica romana) diante da intolerância da ciência oficial, expos aos olhos da crítica de modo tão perturbador, como aconteceu nos trabalhos sobre o ectoplasma, sem aventurar-se a prosseguir, preferindo cobrir todo o supranormal de suas conclusões científicas com o manto de uma nova esfera de conhecimentos humanos, que ele não define, mas de que pretende ser o classificador – a Metapsíquica.      

            O verdadeiro Espiritismo jamais se valeu do embuste para propaganda de suas ideias.

            Ainda neste momento tenho em mão o número de maio deste ano da “Revue de Metapsychique” – sob o título “Um falso médium desmascarado”, um artigo do notável Dr. Osty, dando o compte renda (relatório) de sua admiração dos fenômenos apresentados por Madame Albertine, esposa de Bourniquel, um nome assaz conhecido como escritor espírita (Les tèmoins posthumes, etc.)

            A boa fé e a honestidade da “Revue Spirite”, de Paris, fazendo-se veículo de um fato escandaloso, por atingir uma das bases das investigações de Bourniquel, vem mostrar à evidência a sinceridade que os verdadeiros espíritas desejam que reine sobre as suas investigações, muito embora se pudesse alegar que cem fraudes não destroem a verdade controlada uma só vez e que os mais notáveis médiuns, como Eusápia Paladino, foram apanhados em fraude.

            Veja, porém, que me estendo demasiado em entrar no verdadeiro objetivo desta carta, escrita especialmente para apresentar-lhe um exemplo a mais, às suas interessantes afirmativas sobre o fenômeno da morte aparente.

            A narrativa, que me foi feita pelo Sr. J. G., capitalista, homem culto e lúcido, eu a ouvi na presença do meu ilustre amigo Dr. Domingos Barbosa, este ano, em S. Lourenço.

            O Sr. J. G. internara sua esposa numa das mais afamadas casas desta capital, para sujeita-la a uma delicada operação cirúrgica. Realizada essa, foi declarado pelos médicos presentes, depois de rigorosa verificação, que a operada sucumbira. Estava morta.

            O marido, não se conformando com o veredicto dos médicos, fez com que ministrassem à morta – várias injeções, sem o menor resultado.

            Isso aconteceu à tarde. Amigos e parentes se encarregaram das providências exigidas em tais casos e o corpo foi vestido devidamente, rodeado de círios e coberto de flores, enquanto aguardava a hora do enterramento, que seria no dia seguinte.

            Ao velar, longas horas durante à noite o – cadáver – de esposa, o Sr. J. G. não se conformava com o desenlace brusco daquela vida tão cara aos sentimentos de amor conjugal.    Era como a gota d’água a bater naquele monoideísmo tenaz. Ela não morreu!

            Quase à meia noite conseguiu ele, ainda uma vez, que o médico de plantão num gesto mais de delicada concessão social, que de alcance científico, desse no – cadáver – mais uma injeção, aliás sem resultado algum.

            Pela madrugada, ao passar pela porta do quarto onde estava a – morta – um enfermeiro, pediu-lhe para sair. J. G. ainda uma vez, que obtivesse do médico de serviço o favor de fazer mais uma injeção no corpo da esposa, porque –estava certo de que ele não morrera. O enfermeiro propôs lhe de preferência um calmante para os nervos, visivelmente abalados pelas emoções violentíssimas que havia sofrido o já então viúvo. Não era mais possível recurso algum, além de que o médico de plantão estava dormindo. Não se conformou o Sr. J. G. com a a desculpa do enfermeiro e foi em pessoa acordar o médico e pedir lhe que mais uma vez desse uma injeção no corpo, considerado há muito como cadáver. Após relutância feroz e quase agressiva, o médico, vendo que não havia outro meio de repousar, consentiu em levantar-se e ir à câmara mortuária, fazer - pela última vez - uma tentativa de trazer de novo à vida a operada de véspera. Feita a injeção, momentos depois o corpo começou a suar, não tardando a manifestação de movimentos de pálpebras, denunciando a vida.

            Tão sensacional foi esse caso, que ainda agora, segundo diz o Sr. J. G. , o ilustre diretor da casa de saúde onde ele se deu  quando se encontra o ex viúva, tem por costume perguntar lhe – “Como vai a nossa ressuscitada?”

            Como explicar este fato? Simples coincidência de morte suposta com o abalo nervoso do esposo inconsolável? Monoideísmo resultante de ligação ódica entre os esposos? Sugestão de qualquer entidade invisível?

            São passados quatro anos, desde que Mme. J. G. voltou à vida. Dizem os médicos que foi a injeção que fez voltar à vida o corpo da morta aparente. Oficialmente está certo. Se os médicos tem o privilégio      de decretar a morte, devem tê-lo também para sancionar a volta à vida...

            Madame J. G. até hoje está viva. Ela mesma ouviu a narrativa de sua morte e sorria ao esposo amantíssimo, ao vê-lo narrar o seu desespero, quando a julgou perdida para sempre.

            Sem mais, desculpando-me da importunação, peço-lhe que me considere sempre um dos seus mais atentos leitores e admiradores.


quinta-feira, 27 de julho de 2017

Richet - Fundador e Apóstolo da Metapsíquica


Carlos Richet - Fundador e Apóstolo da Metapsíquica
Reformador (FEB)  Agosto 1954

            Corria o ano de 1897, quando Carlos Richet, em seu discurso inicial proferido como presidente da Sociedade de Estudos Psíquicos de Londres, teve ensejo de introduzir, pela primeira vez, o termo Metapsíquica como designação da nova ciência que, segundo suas próprias palavras, seria um dia considerada a “rainha das ciências”.

            É difícil, em simples nota, interpretar sua personalidade de sábio em numerosos ramos do saber humano: médico, filólogo, bacteriólogo, sociólogo, literato e metafísico, tendo mesmo cogitado, se bem que rapidamente, do campo da engenharia, quando de seus primeiros ensaios pelo domínio do ar.

            Nascido em Paris a 26 de Agosto de 1850, seguiu as pegadas de seu pai, ao tempo cirurgião e professor da Faculdade de Medicina; notou, no entanto, já no exercício de sua profissão, que sua vocação real era a da investigação. E, como interno dos hospitais, pode dedicar-se, durante um ano inteiro, ao estudo do sonambulismo, que foi sua iniciação no campo da Fisiologia, chegando de tal maneira a destacar-se, que foi designado, em 1878, com a idade de 28 anos adjunto de Fisiologia na Faculdade de Medicina (1). Foi um trabalhador incansável.  

            (1) Não foi, em vão, destacado discípulo do grande mestre Claude Bernard.

            Através de uma série de investigações plenas de êxito, descobriu a seroterapia que tão incalculáveis benefícios tem proporcionado à Humanidade. Contava Richet 37 anos quando, em 1887, foi designado professor de Fisiologia, fazendo, logo a seguir, várias descobertas de capital importância, sustentando inúmeras teorias que, com o correr do tempo, contribuíram extraordinariamente para o progresso da Ciência, e, em 1913, publicou um livro à base de seu estudo experimental sobre a “anafilaxia”, descoberta essa que, além de novamente assombrar o mundo cientifico de sua época, lhe proporcionou o Prêmio Nobel de Medicina, em 1913. Nele já se havia revelado o mestre com todos os atributos do saber científico. Sua agitação inata e seu intenso fervor pacifista levaram-no, em 1884, a participar do movimento de pacificação, a ponto de ocupar a presidência da Sociedade de Pacifistas. Discursos, conferências, artigos e livros foram assinalando sua trajetória, que culminou, em 1930, depois de um passeio pela Itália, Romênia e Rússia,  onde contava com muitos admiradores do seu livro “Pela paz” dedicado a seu avô, por lhe ter este inoculado a aversão à guerra, desde a sua meninice.

            Este gênio, extraordinariamente privilegiado, cujo natural dinamismo o impedia de   entregar-se ao descanso, empregava o tempo livre de sua tarefa científica, em vasta produção literária que, só por só; o colocava entre os grandes escritores da época. Seus livros denotam profunda inquietude pelas condições de vida do povo e tendem a melhorar a conduta dos homens, por uma maior moralização de seus costumes. O sociólogo profundo que havia nele surgia amplamente de seus escritos, combatendo igualmente o baixo índice de natalidade na raça branca e, como estudioso dos problemas sociais, isso o preocupava sobremodo, pela possível extinção da raça mais evolvida do planeta.

            Sua considerável obra literária colocou-o na posição de autor ilustre e a Academia de Ciências o chamou, por isso, ao seu seio, justo reconhecimento a quem, como poucos, era, acadêmico no fundo e na forma.

            Seus estudos iniciais sobre o sonambulismo conduziram-no posteriormente ao estudo do hipnotismo, e em 1884 recebeu a visita do sábio russo Aksakof, que lhe disse: “o senhor se ocupa de sonambulismo e de hipnotismo, mas existe ainda uma coisa mais interessante: os fenômenos denominados espiritistas, isto é, as aparições e os movimentos de objetos sem contato.”

            Pouco tempo depois Richet visitava Milão, a convite de Aksakof, onde, em companhia de César Lombroso, Schiaparelli, Chiaia e Finzi, assistiu às experiências que então se faziam com Eusápia Paladino. Dali saiu plenamente convencido da existência de fenômenos cujo estudo, menosprezado pela ciência oficial, era do domínio exclusivo da fisiologia experimental.

            De retorno ao seu país, prosseguiu na investigação dos fenômenos psíquicos, que o apaixonaram tanto quanto a Fisiologia; e, depois de novas experiências com Paladino, que a seu pedido fora à França e se hospedara em uma ilha de propriedade de Richet, realizadas em companhia de Oliver Lodge, Myers e Ochorowicz, resolveu criar, em 1891, um periódico especializado desta nova ciência, denominado “Anais de Ciências Psíquicas”.

            Carlos Richet, afirmando a existência do sexto sentido, não obstante o ceticismo dos que só admitiam os cinco sentidos conhecidos, conseguiu a sua aceitação definitiva.

            Sua obra – “Nosso Sexto Sentido” - fez que convergisse para ele a atenção geral, e já em 1897 ocupava a Presidência da “Sociedade de Estudos Psíquicos” de Londres e definia a Metapsíquica como “o estudo de propriedades do espírito que saem do campo de observação da psico-fisiologia, aliás universalmente admitida e ensinada”. Sempre em busca de novas provas da imortalidade da alma, viajou pela Itália, Alemanha, Inglaterra, Suécia e Polônia, fazendo experiências com distintos médiuns. A Metapsíquica o absorvia já quase totalmente, quando, em 1914 idealizou em França, sua pátria (onde não existia nenhuma organização que reunisse os investigadores), sessões de almoços que contavam habitualmente com comensais ilustres tais como Flammarion, Roux, Maxwell, Bergson, Grammout, Vesme, etc. Nessas reuniões, logo após a saída dos serviçais, Richet costumava bater em um vaso, indicando assim o começo das conversações, durante as quais se entremeavam informações e novidades, estabelecendo-se sistemas de trabalho, etc. às quais só faltara poucas vezes. “Eu virei até à minha morte” costumava dizer.


            Conjuntamente com o Dr. Geley, o professor Santoliquido e Meyer de Beziers fundaram tempos depois, em Paris, o “Instituto Mepsíquico Internacional” e criaram a “Revista Metapsíquica”, sendo ele designado para presidente, cargo que desempenhou com profunda dedicação, já que o Instituto era a concretização de um velho anelo que não supusera ver realizado.

            Em 1922 apresentou à Academia de Ciências seu famoso “Tratado de Metapsíquica”, obra-prima de seu pensamento luminar e que o imortalizou, mostrando-o como autêntico iniciado em cumprimento de alta missão com projeções de eternidade. Em 1926 o Governo de Painlevé lhe concedeu a distinção da Legião de Honra, no grau de Grão Oficial. Ao receber a distinção pelas mãos do Marechal Foch, a cujo ato assistiu o mencionado Presidente do Conselho de Ministros da França, Richet se aproveitou da oportunidade para insistir longamente sobre o porvir da Metapsíquica como a grande esperança do futuro, afirmando que “um novo ideal moral seria sua consequência”.

            Posteriormente e sempre em defesa da Metapsíquica sua pena lançou à circulação “O Futuro da Premonição”, em 1931; “A Grande Esperança”, em 1933, e “Em Socorro”, em 1935, desencarnando pouco depois, aos 85 anos de idade.

            A vida de Carlos Richet, sábio entre os sábios, apóstolo em toda a acepção do vocábulo, foi um relâmpago nas trevas de uma época de obscurantismo, em que as correntes materialistas detinham o cetro. Seu “Tratado de Metapsíquica”, verdadeira Constituição Científica do Espiritismo, situa-o entre a plêiade de seres superiores que de tempos a tempos encarnam, a fim de auxiliarem a orientação do homem em seus novos destinos. Um de seus biógrafos, o Dr. Eugênio Osty, confirma esta assertiva com as seguintes palavras: "Uma soberana serenidade; uma esquisita amabilidade, uma alma elevada que esquecia toda injúria, e uma grande bondade, completam a excepcional personalidade de Carlos Richet.


            (Traduzido de um artigo da direção de “Prédica”, de Buenos Aires, Fevereiro de 1954.)

terça-feira, 27 de junho de 2017

Carlos Richet - Fundador e Apóstolo da Metapsíquica


Carlos Richet - Fundador e Apóstolo da Metapsíquica

Reformador (FEB)  Agosto 1954

            Corria o ano de 1897, quando Carlos Richet, em seu discurso inicial proferido como presidente da Sociedade de Estudos Psíquicos de Londres, teve ensejo de introduzir, pela primeira vez, o termo Metapsíquica como designação da nova ciência que, segundo suas próprias palavras, seria um dia considerada a “rainha das ciências”.

            É difícil, em simples nota, interpretar sua personalidade de sábio em numerosos ramos do saber humano: médico, filólogo, bacteriólogo, sociólogo, literato e metafísico, tendo mesmo cogitado, se bem que rapidamente, do campo da engenharia, quando de seus primeiros ensaios pelo domínio do ar.

            Nascido em Paris a 26 de Agosto de 1850, seguiu as pegadas de seu pai, ao tempo cirurgião e professor da Faculdade de Medicina; notou, no entanto, já no exercício de sua profissão, que sua vocação real era a da investigação. E, como interno dos hospitais, pode dedicar-se, durante um ano inteiro, ao estudo do sonambulismo, que foi sua iniciação no campo da Fisiologia, chegando de tal maneira a destacar-se, que foi designado, em 1878, com a idade de 28 anos adjunto de Fisiologia na Faculdade de Medicina (1). Foi um trabalhador incansável.  

            (1) Não foi, em vão, destacado discípulo do grande mestre Claude Bernard.

            Através de uma série de investigações plenas de êxito, descobriu a seroterapia que tão incalculáveis benefícios tem proporcionado à Humanidade. Contava Richet 37 anos quando, em 1887, foi designado professor de Fisiologia, fazendo, logo a seguir, várias descobertas de capital importância, sustentando inúmeras teorias que, com o correr do tempo, contribuíram extraordinariamente para o progresso da Ciência, e, em 1913, publicou um livro à base de seu estudo experimental sobre a “anafilaxia”, descoberta essa que, além de novamente assombrar o mundo cientifico de sua época, lhe proporcionou o Prêmio Nobel de Medicina, em 1913. Nele já se havia revelado o mestre com todos os atributos do saber científico. Sua agitação inata e seu intenso fervor pacifista levaram-no, em 1884, a participar do movimento de pacificação, a ponto de ocupar a presidência da Sociedade de Pacifistas. Discursos, conferências, artigos e livros foram assinalando sua trajetória, que culminou, em 1930, depois de um passeio pela Itália, Romênia e Rússia,  onde contava com muitos admiradores do seu livro “Pela paz” dedicado a seu avô, por lhe ter este inoculado a aversão à guerra, desde a sua meninice.

            Este gênio, extraordinariamente privilegiado, cujo natural dinamismo o impedia de   entregar-se ao descanso, empregava o tempo livre de sua tarefa científica, em vasta produção literária que, só por só; o colocava entre os grandes escritores da época. Seus livros denotam profunda inquietude pelas condições de vida do povo e tendem a melhorar a conduta dos homens, por uma maior moralização de seus costumes. O sociólogo profundo que havia nele surgia amplamente de seus escritos, combatendo igualmente o baixo índice de natalidade na raça branca e, como estudioso dos problemas sociais, isso o preocupava sobremodo, pela possível extinção da raça mais evolvida do planeta.

            Sua considerável obra literária colocou-o na posição de autor ilustre e a Academia de Ciências o chamou, por isso, ao seu seio, justo reconhecimento a quem, como poucos, era, acadêmico no fundo e na forma.

            Seus estudos iniciais sobre o sonambulismo conduziram-no posteriormente ao estudo do hipnotismo, e em 1884 recebeu a visita do sábio russo Aksakof, que lhe disse: “o senhor se ocupa de sonambulismo e de hipnotismo, mas existe ainda uma coisa mais interessante: os fenômenos denominados espiritistas, isto é, as aparições e os movimentos de objetos sem contato.”

            Pouco tempo depois Richet visitava Milão, a convite de Aksakof, onde, em companhia de César Lombroso, Schiaparelli, Chiaia e Finzi, assistiu às experiências que então se faziam com Eusápia Paladino. Dali saiu plenamente convencido da existência de fenômenos cujo estudo, menosprezado pela ciência oficial, era do domínio exclusivo da fisiologia experimental.

            De retorno ao seu país, prosseguiu na investigação dos fenômenos psíquicos, que o apaixonaram tanto quanto a Fisiologia; e, depois de novas experiências com Paladino, que a seu pedido fora à França e se hospedara em uma ilha de propriedade de Richet, realizadas em companhia de Oliver Lodge, Myers e Ochorowicz, resolveu criar, em 1891, um periódico especializado desta nova ciência, denominado “Anais de Ciências Psíquicas”.

            Carlos Richet, afirmando a existência do sexto sentido, não obstante o ceticismo dos que só admitiam os cinco sentidos conhecidos, conseguiu a sua aceitação definitiva.

            Sua obra – “Nosso Sexto Sentido” - fez que convergisse para ele a atenção geral, e já em 1897 ocupava a Presidência da “Sociedade de Estudos Psíquicos” de Londres e definia a Metapsíquica como “o estudo de propriedades do espírito que saem do campo de observação da psico-fisiologia, aliás universalmente admitida e ensinada”. Sempre em busca de novas provas da imortalidade da alma, viajou pela Itália, Alemanha, Inglaterra, Suécia e Polônia, fazendo experiências com distintos médiuns. A Metapsíquica o absorvia já quase totalmente, quando, em 1914 idealizou em França, sua pátria (onde não existia nenhuma organização que reunisse os investigadores), sessões de almoços que contavam habitualmente com comensais ilustres tais como Flammarion, Roux, Maxwell, Bergson, Grammout, Vesme, etc. Nessas reuniões, logo após a saída dos serviçais, Richet costumava bater em um vaso, indicando assim o começo das conversações, durante as quais se entremeavam informações e novidades, estabelecendo-se sistemas de trabalho, etc. às quais só faltara poucas vezes. “Eu virei até à minha morte” costumava dizer.


            Conjuntamente com o Dr. Geley, o professor Santoliquido e Meyer de Beziers fundaram tempos depois, em Paris, o “Instituto Mepsíquico Internacional” e criaram a “Revista Metpsíquica”, sendo ele designado para presidente, cargo que desempenhou com profunda dedicação, já que o Instituto era a concretização de um velho anelo que não supusera ver realizado.

            Em 1922 apresentou à Academia de Ciências seu famoso “Tratado de Metapsíquica”, obra-prima de seu pensamento luminar e que o imortalizou, mostrando-o como autêntico iniciado em cumprimento de alta missão com projeções de eternidade. Em 1926 o Governo de Painlevé lhe concedeu a distinção da Legião de Honra, no grau de Grão Oficial. Ao receber a distinção pelas mãos do Marechal Foch, a cujo ato assistiu o mencionado Presidente do Conselho de Ministros da França, Richet se aproveitou da oportunidade para insistir longamente sobre o porvir da Metapsíquica como a grande esperança do futuro, afirmando que “um novo ideal moral seria sua consequência”.

            Posteriormente e sempre em defesa da Metapsíquica sua pena lançou à circulação “O Futuro da Premonição”, em 1931; “A Grande Esperança”, em 1933, e “Em Socorro”, em 1935, desencarnando pouco depois, aos 85 anos de idade.

            A vida de Carlos Richet, sábio entre os sábios, apóstolo em toda a acepção do vocábulo, foi um relâmpago nas trevas de uma época de obscurantismo, em que as correntes materialistas detinham o cetro. Seu “Tratado de Metapsíquica”, verdadeira Constituição Científica do Espiritismo, situa-o entre a plêiade de seres superiores que de tempos a tempos encarnam, a fim de auxiliarem a orientação do homem em seus novos destinos. Um de seus biógrafos, o Dr. Eugênio Osty, confirma esta assertiva com as seguintes palavras: "Uma soberana serenidade; uma esquisita amabilidade, uma alma elevada que esquecia toda injúria, e uma grande bondade, completam a excepcional personalidade de Carlos Richet."   
                                    (Traduzido de um artigo da direção de “Prédica”, de Buenos Aires, Fevereiro de 1954.)


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domingo, 21 de maio de 2017

Da Esperança à certeza da Imortalidade



Da Esperança  à certeza da Imortalidade 
por Kleber Harfeld

Reformador (FEB) Julho 1994


            - Corresponderia semelhante afirmativa a realidade por parte do eminente fisiologista?

            João Teixeira de Paula, em sua obra "Enciclopédia de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo", escreve ser atualmente Metapsíquica (recorde-se que Richet escreveu um tratado sobre essa matéria) termo que

            "muitos autores condenam, já por não corresponder à verdade etimológica, já
mesmo por não corresponder der à ideia que lhe quis dar o criador. Aliás o próprio Richet, ou por considerar melhor o assunto, ou por acatar a crítica dos entendidos, reconheceu, muito mais tarde (o que poucos leitores hão percebido), não ser absolutamente correta a palavra
".

            Entretanto, ao mar o termo, baseara-se ele em Aristóteles, pois escreveu:

            "Em 1905 propus o termo metapsíquica, que foi unanimemente aceito. Tem ele por si (o que não é para desprezar) a autoridade de Aristóteles. Tendo tratado Aristóteles das forças física, quis escrever em seguida um capítulo acerca das grandes leis da natureza, as quais ultrapassam as as coisas da física e chamou então o livro: Além das coisas física (Meta ta fisick).  

            Atentos às definições levantadas por Richet à Metapsíquica, podemos imaginar hoje que ao criá-la, definindo-a de acordo com seu entendimento e escorado no grande sábio da Antiguidade, terá suscitado à época um questionamento:

            - O que seriam em realidade as "forças que parece serem inteligentes (...) ou poderes desconhecidos latentes na inteligência humana", forças e poderes que influíam em variados fenômenos? (Logicamente deveriam divergir as opiniões, sobretudo se considerarmos nesse tempo a existência do Espiritismo como doutrina codificada.)

            É verdade, não deixou Richet de referir-se ao Espiritismo. Em seu trabalho "O sexto sentido" (já mencionado) no livro IV, dissertando a respeito das hipóteses da telepatia, da vibração da realidade, da criptestesia pragmática, da hiperestesia, entra ele na área espírita, embora sempre aduzindo algumas ressalvas:

            "( ... ) Assim, pois, para nós prolongar esta discussão, poderíamos classificar os fatos da maneira seguinte, sob o ponto de vista da hipótese espírita:

            1º)  Casos nos quais tanto pode admitir a hipótese espírita como a hipótese de uma vibração da realidade. Todas as alucinações e sonhos verídicos fazem parte desse grupo. Demais a hipótese do sexto sentido não está absolutamente em desacordo com a hipótese espírita.

            2º)  Casos - pouco numerosos - nos quais a hipótese espírita é a mais cômoda, mas também podem ser explicados pelo sexto sentido.

            3º)  Casos numerosíssimos, os mais numerosos certamente, nos quais nenhuma hipótese espírita pode ser seriamente invocada, não comportando outra explicação senão a da existência  de um sexto sentido, isto é, a percepção de certas vibrações (desconhecidas) da realidade.

            Eis por que me parece não dar fé a hipótese espírita. Talvez chegue a tê-la algum dia (quem sabe?). Mas ela me parece ainda (pelo menos hoje) pouco provável, pois está em contradição (pelo menos aparente) com os dados mais precisos da fisiologia, enquanto que a hipótese do sexto sentido é uma noção fisiológica nova que não contradiz nada do que a fisiologia nos ensina.

            Portanto, conquanto em certos casos raros, o Espiritismo forneça uma explicação de aparência mais simples, não posso resolver-me a admiti-lo." (...)

            (Ressaltemos aqui a sincera franqueza do grande fisiologista.)

            O último parágrafo da obra "O sexto sentido" é bem curioso, deixando em nosso íntimo um mundo de divagações. Escreve Richet, incriminando um trabalho que levantou acirradas polêmicas:

            "Parece-me que o sexto sentido é uma pequena (extremamente pequena) janela aberta para essas forças misteriosas."

            Toda a inteligência desse sincero trabalhador, desse famoso fisiologista, todas as facilidades que teve no desempenho de suas atividades são ressaltadas por Humberto de Campos em sua obra "Crônicas de Além-Túmulo".

            Consoante observação que os próprios leitores já terão feito, tenho recorrido a esse fecundo autor espiritual quando da elaboração de trabalhos pertinentes a alguns vultos de projeção mundial. Assim aconteceu com estudos alusivos a D. Pedro II, Papa Pio XI, Marilyn Monroe, Tiradentes, Hauptmann, Erich von Ludendorff, e outros.

            Na apreciação, embora rápida, sobre a vida e obra do criador da Metapsíquica, e em particular com referência à sua passagem para o Plano Espiritual, usa o cronista de construções bem elucidativas (1).

(1) “Crônicas de Além Túmulo”, Capítulo ‘A passagem de Richet’, pelo médium Francisco Cândido Xavier, 11ª Ed. FEB

            Um diálogo estabelecido entre o "Senhor que toma lugar no tribunal de sua justiça" e um Anjo solicito às perquirições que lhe são dirigidas, e após menção feita àqueles que nos meados do século XIX partiram do Espaço prometendo trabalhar no plano terrestre no sentido de levantar o moral dos homens e suavizar-lhes as lutas. e depois de se referir a Charles Richet que era no Além "um inquieto investigador, com as suas análises incessantes, e que se comprometeu a servir aos ideais da Imortalidade adquirindo a fé que sempre lhe faltou", disserta o Anjo sobre as incontáveis facilidades concedidas ao detentor do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1913.

            Finda a sua palavra, é inquirido:

            - E em matéria de espiritualidade (...), que lhe deram os meus emissários e de que forma retribuiu o seu espírito a essas dádivas?

            Escreve o Espírito Humberto de Campos:

            "-Nesse particular - exclamou solícito o Anjo, muito lhe foi dado. (...) Em Carqueiranne, em Milão e na ilha Roubaud, muitas claridades o bafejaram junto de Eusápia Paladino, quando seu gênio se entregava a observações positivas com os seus colegas Lodge, Myers e Sidgwick. De outras vezes, com Delanne, analisou as célebres experiências de Argel, que revolucionaram os ambientes intelectuais e materialistas da França, que então representava o cérebro da civilização ocidental.
            "Todos os portadores das vossas graças levaram as sementes da Verdade à sua poderosa organização psíquica, apelando para o seu coração, a fim de que ele afirmasse as realidades da sobrevivência; povoaram-lhe as noites de severas meditações, com as imagens maravilhosas das vossas verdades, porém, apenas conseguiram que ele descrevesse o ''Tratado de Metapsíquica" e um estudo proveitoso, a favor da concórdia humana, que lhe valeu o Prêmio Nobel (...), em 1913, (...)
            "(...) Dentro da espiritualidade, todos os seus trabalhos de Investigador se caracterizam pela dúvida que lhe martiriza a personalidade. Nunca pode, Senhor, encarar as verdades imortalistas senão como hipótese, mas o seu coração é generoso e sincero. Ultimamente, nas reflexões da velhice, o grande lutador se vejo inclinado para a fé, até hoje inacessível ao seu entendimento de estudioso. Os vossos mensageiros  conseguiram lapidar-lhe um trabalho profundo, que apareceu no Planeta como "A Grande Esperança" e, nestes últimos dias, sua formosa inteligência realizou para o mundo uma mensagem entusiástica em prol dos estudos espiritualistas.”

            Retorna a palavra ao Senhor, resolvendo este determinar ao Anjo a volta imediata de de Richet à Espiritual idade, justificando: "Se, após oitenta e cinco anos de existência na face da Terra, ele (Richet) não pode adquirir, com a sua ciência, a certeza da Imortalidade, é desnecessária a continuação da sua estada nesse mundo ." (Grifamos.)

            As palavras realmente são duras, embora plenas de realidade. Mas o Senhor promete a bênção de uma glória ao velho pesquisador:

            "Como recompensa aos seus esforços honestos em benefício dos irmãos em humanidade, quero dar-lhe agora, com o poder do meu amor, a centelha divina da crença, que a ciência planetária jamais lhe concedeu, nos seus labores ingratos e frios. "

            O retorno do eminente homem de ciência ao Plano Espiritual, cercado das presenças de Gabriel Delanne, Léon Denis, Camille Flammarion, e ainda de antigos colaboradores da "Revista dos Dois Mundos" e dos "Anais das Ciências Psíquicas " é deveras emocionante.

            Relata Humberto de Campos que o recém desencarnado, de início, tem impressão de estar regredindo no tempo, alcançando a época das materializações da Vila Cármen. Mas, ao mesmo tempo percebendo os próprios despojos, desperta para a grande realidade, sentindo claramente estar agora no Além, no mundo dos "verdadeiros v i vos".

            Continua o autor escrevendo que nesse momento urna voz suave e profunda, vinda do Infinito, ressoa no íntimo de Richet. Interpela da razão pela qual não afirmou ele a imortalidade para o mundo que acompanhava seu trabalho; fala das oportunidades materiais que lhe haviam sido outorgadas: considera, finalmente, da longa expectativa do mundo espiritual, esperançoso de que a fé pudesse emergir de seu coração. Entretanto, em contrapartida, recordando o esforço dele, Richet, e a sinceridade de seu coração em todos os dias de sua existência terrestre, na decifração de muitos enigmas dolorosos e ainda as torturas da morte que experimentara, embora o grande acervo de conhecimento haurido nos livros, considera em tom confortador:

            - E agora, premiando os teus labores eu te concedo os tesouros da fé que te faltou, na dolorosa estrada do mundo!

            E falando sobre um coração tocado de luminosidade infinita e misericordiosa, que as ciências nunca lhe haviam dado, termina o escritor espiritual escrevendo:


            "Formas luminosas e aéreas arrebatem-no pela estrada de éter da eternidade e, entre prantos de gratidão e de alegria, o apóstolo da ciência caminhou da grande esperança para a certeza divina da Imortalidade." (Grifamos.) 

sábado, 9 de janeiro de 2016

"Sokrato" de Richet, pelo Rádio

Sócrates bebe a cicuta

             Em 31 de janeiro deste ano (1938), foi irradiada a tragédia em quatro atos, de Charles Richet - "Sokrato" - pela Rádio-Paris, que vem transmitindo regularmente uma peça teatral, em Esperanto, por semana.

            Os estudiosos de Espiritismo conhecem bastante o nome do prof. Charles Richet, sabem da sua bravura na defesa dos médiuns e dos fenômenos espíritas, ao tempo em que esses fenômenos eram sistematicamente negados pela ciência oficial. Alguns lhe conhecem também a fé no futuro do Esperanto e a energia férrea com que defendia a língua internacional contra toda sorte de ataques.       .

            Como médico, metapsiquista, fisiologista, esperantista, o autor de La Grande Espérance é muito conhecido dos leitores do Reformador; talvez não o seja, porém, como poeta e filósofo, qual aparece na tragédia que acaba de ser ouvida por muitos milhares de esperantistas.

            O protagonista da tragédia, Sócrates, nos discursos que faz diante dos juízes e na prisão, expõe nitidamente a doutrina da sobrevivência e da responsabilidade:

            "A morte, para o sábio, é a fonte da vida e os nossos brilhos vaidosos são apenas andrajos, quando do além-túmulo se esperam os raios luminosos. Eis por que não sinto cólera, estou sem ódio algum. Mesmo com suas culpas, amo a Atenas. Se os juízes me puderam levar à morte, não puderam, porém, gerar em mim um sentimento Indigno. Passageiro de um dia pela terra em que estamos, sinto imensa piedade pelos erros dos homens."

            "A morte é somente uma passagem, terrível para o mau; libertadora para o sábio.

            "As almas têm seus destinos secretos; a alma do justo, como a do ímpio. Mas, um ritmo profundo governa o mundo e seria quebrada esta imensa harmonia, se um ficasse sem punição e o outro sem recompensa."

            Belíssimo ensinamento sobre a ilusão do prazer vem no apólogo feito para o carcereiro, no momento da execução. São versos e só um poeta poderá traduzi-los. Vamos limitar-nos a resumir o pensamento:

            "Quando foi aberta a caixa dos bens e dos males destlnados aos homens, todo o seu conteúdo voou para o céu. Só ficou uma coisa - a Esperança. Ricamente vestido, o Prazer subiu para o Olimpo, onde foi festejado, amado, sempre bem recebido, até divinizado! - Mas, bem cedo se descobriu o erro a que induzira o brilho desse desconhecido. Arrogante, falando alto, imperioso, de tudo se apropriando, queria tudo governar. De dia, de noite, à mesa, no leito, ruidoso se fazia ouvir. O tinir dos seus guizos, porém, expulsava do coração a paz serena e implantava a maldição e a tristeza. Por Isso, Zeus o expulsa do Olimpo, projetando-o na terra.

            "Na queda perde ele o luxuoso manto que é encontrado pela Dor, desdentada e feia, sempre repelida e detestada. Vestindo com o belo manto do Prazer a sua repelente carcaça, a Dor orgulhosamente se fez receber até nos luxuosos palácios, porque os homens, seduzidos pelo manto, julgam ver o Prazer e recebem a Dor."

            No momento da execução, quando o Espírito fala pela última vez a Sócrates, manda-o contemplar quadros futuros que se preparam: O martírio de Jesus, os tormentos da Inquisição. 'Sócrates interroga quem são os que tanto sofrem e o Espírito responde: "São os teus irmãos, Sócrates!"

            Durante o julgamento, Sócrates procura esclarecer que a ciência do seu tempo é muito incompleta e não pode encerrar o universo em seus livros. Explica que outros virão revelar domínios desconhecidos e nunca cometerão a loucura de traçar limites humanos ao Universo; mas, seu discurso é tachado de herético e interrompido pelos juízes. Não estão dispostos a ouvir coisas insensatas. Ele próprio confessou que conversa com um Espírito e as leis, os livros e os padres não permitem isso!

            Ordenam aos guardas que retirem o réu e passam logo a votar a sentença.

            A votação é a mais desarmônica: uns votam pela libertação, outros pelo exílio, outros pelo encarceramento e a maioria dos juízes pela morte. Não há convicção alguma. Reina absoluta inconsciência, irresponsabilidade completa no julgamento.
(Transcrito de "Reformador", de maio de 1938, pp. 136 e 137.)

"Sokrato" de Richet, pelo Rádio
Ismael Gomes Braga

Reformador (FEB) Maio 1976


Ismael Gomes Braga

sábado, 7 de fevereiro de 2015

O Duplo dos Vivos

O Duplo dos Vivos
Reformador (FEB) Julho 1955

            (Artigo extraído do Boletim trimestral da "Fédération Spirite Internationale"
de Julho de 1954; foi escrito por M. Horace Leaf,
espirita distinto e editor do Boletim acima citado.)

            Há alguns anos, o Strand Magazine publicou uma fotografia, tomada por um sábio alemão, da aparição de um homem de pé, atrás de um grupo de ióguis mergulhados em silenciosa meditação. Era a fotografia de um homem vivo, iógui também, mas residente a alguns quilômetros dali.

            Os espíritas ou psiquistas iniciados não foram surpreendidos por essa imagem, pois uma de suas crenças mais comuns é a de que o homem, a mulher ou, mesmo, uma criança possuem um corpo etéreo, duplo de seu corpo físico. Nada há de novo nesta crença. Reportando-nos, pois, às práticas religiosas das raças primitivas, deduz-se que esta ideia é ao certo, tão antiga quanto a Humanidade.

            Existem numerosos testemunhos deste fenômeno da separação do duplo, na religião cristã, e a Igreja já aceitou esta crença sob o nome de "bilocação”. Conta-se que numerosos santos experimentaram e praticaram esta faculdade, dentre os quais podem citar S. Severo de Ravena, Santo Ambrósio e Santo Antônio de Pádua. Conta-se que este último deixou realmente o púlpito de S. Pedro de Queyroix, onde estava a pregar, e seu corpo etéreo apareceu e falou perante uma assembleia de monges em um convento do outro extremo da cidade.

            Conta-se, também, que, lembrando-se de que devia assistir a um serviço divino neste mosteiro, justamente no momento em que se encontrava no púlpito da igreja, ajoelhou-se deliberadamente perante os fiéis, puxou o capuz para a fronte, e assim ficou durante alguns minutos, no decurso dos quais os fiéis esperaram com todo o respeito. Comparecendo perante os monges e tendo assim cumprido sua promessa, tomou novamente seu corpo físico e reencetou sua pregação na igreja.

            Não é necessário multiplicar as citações, visto que possuímos numerosos exemplos contemporâneos, autenticados por testemunhos certos. Talvez não seja fora de propósito citar um caso pessoal sobre este assunto tão raramente tratado. Pessoalmente, estou consciente de ter deixado meu corpo físico e, assim fazendo, ele se pôs a falar-me.  Aquele esforço fez que eu tornasse a tomar meu corpo; ouvi-o- claramente pronunciar as palavras por ele formuladas. Em minhas viagens pelo mundo, tenho ficado admirado do grande número de pessoas, algumas das quais sem nenhum conhecimento do Espiritismo e nem das pesquisas psíquicas, que me têm declarado haverem feito tal experiência.

            A prova experimental completa desta forma de Psiquismo é rara; mas, há mais ou menos 70 anos, certo número de homens altamente qualificados chegaram a ponto de dar um testemunho positivo deste fenômeno supranormal.

            O primeiro que o testemunhou foi o Coronel Eugênio de Rochas. Seu método consistiu em magnetizar a pessoa, obtendo, por meio da sugestão e de ordens, a separação do "duplo". Revelam algumas das suas fotografias uma separação completa. A forma etérea era, na maior parte do tempo, porosa, mas completamente idêntica à forma humana. Descobriu De Rochas, além de tudo, certo número de traços interessantes concernentes a esta forma vaporosa, demonstrando que ela corresponde ao controle mental do indivíduo a que ela pertence. Ela pode, por exemplo, diluir-se ao atravessar corpos sólidos e, o que é igualmente característico, torna-se a sede das sensações, fato muito significativo, dado que toda sensação parte do domínio mental.

            O Dr. Durville, que vem, em seguida, como experimentador, utilizou-se também de diversos indivíduos; ele conseguiu, com êxito, obter a separação do duplo por meio de passes magnéticos. "O "duplo", disse ele, tem o aspecto do médium, torna-se mais ou menos luminoso e acha-se ligado ao corpo do médium por um tênue fio que parte do umbigo."

            Nestas experiências, igualmente os órgãos das sensações se situam no "duplo" separado do corpo físico. Assim, uma das características mais notáveis do fantasma é que, por vezes, ele se torna meio sólido e húmido, quando o tocamos.

            As experimentações ulteriores demonstraram que o corpo etéreo tem peso e que ele se pode dilatar e contrair à vontade. Seu peso seria aproximadamente de duas onças e meia (mais ou menos, 70 gramas).

            A confirmação disso foi obtida pelo Dr. Duncan Mac Dougall, de Haverfield (Massachusets, U.S.A.), que pesou agonizantes e observou, em seis casos, que o defunto havia perdido entre 2 onças e 2 onças e meia.

            A fotografia psíquica tem oferecido grande número de provas da separação do "duplo" psíquico. Assim, a primeira fotografia obtida por Mumber, o primeiro fotógrafo deste gênero, era a de uma pessoa viva. Posteriormente, no momento em que Mumber fotografava um de seus clientes, este cai em transe e a placa respectiva revela uma representação perfeita dele próprio, de pé, atrás de seu corpo! É desnecessário acrescentar que estes fatos deram origem à teoria de que todos os Espíritos, vistos pelos videntes, não seriam nada mais do que os "duplos" psíquicos de pessoas vivas! Esta teoria, como é fácil deduzir, de forma alguma seria contrária à hipótese da sobrevivência da alma, pois, se se pode afirmar que o espírito humano pode existir fora de seu organismo físico durante a vida, não haveria razão para que o não pudesse após a morte. Só um prejulgamento estúpido poderia diminuir a força desta argumentação.

            Outros psiquistas realizaram experiências análogas e, dentre eles, Frederico Hudson, o primeiro fotógrafo espírita inglês. Certa vez, ele obteve a fotografia do "duplo" de Frank Herne, então famoso médium de efeitos físicos, em estado de transe.

            Eis uma prova evidente de que o desenvolvimento da mediunidade se acha intimamente ligado ao desdobramento etérico, na maior parte das vezes parcial, mas, em certos casos, total. Em razão da sutileza do "duplo" etéreo, é ele raramente visível, e não se devem tirar conclusões senão depois dos testemunhos daqueles que por experiência podem falar da separação do "duplo". A maior parte dos testemunhos se refere a separações parciais, mesmo porque a separação completa divide de forma tão radical os dois corpos que, em geral, o cérebro se torna incapaz de registar as reações mentais que se produzem quando o espírito funciona no "duplo" psíquico. Todavia, é possível, para um indivíduo experimentado, registrar, por seu cérebro, quando houve uma separação completa. Em tais casos, somos autorizados a concluir que existe uma conexão muito ativa entre os dois corpos. Porque isto se dá em determinados casos e não em ontros, ignoramos.

            O exemplo seguinte demonstra quão real pode ser um desdobramento para o organizador, mas não para o sujet: Uma de minhas amigas, que sofria de insônia crônica, havia perdido uma joia de valor. Veio procurar-me com o desejo de poder reencontrar o objeto, e eu pude informá-la de que a joia se achava em sua própria casa, além de lhe indicar o local a que deveria dirigir as suas buscas. Dando-lhe essas informações, eu me aventurei a lhe afirmar que, depois de se ter deitado essa noite, ela pegaria no sono dentro de um quarto de hora e acordaria na manhã seguinte, completamente refeita.

            No dia seguinte ela me veio ver, tomada de viva emoção, e me comunicou que havia recuperado a joia como eu lhe havia dito, após o que, tinha ido deitar-se. De repente, ela me viu passeando no quarto. Logo exclamou: "Oh, Sr. Leaf, encontrei o anel!" E eu lhe respondi: "Agora, durma!"

            Alguns minutos depois, ela caiu em profundo sono, que durou oito horas. Mas eu não possuía a menor ideia deste acontecimento! Também não posso duvidar dele. Foi o primeiro, e, que eu saiba, o único exemplo de haver eu realizado tal experiência.

            Este fato se parece muito, em princípio, com aquele que foi relatado pelo Rev. Stainton Moses e publicado em Phantasms of the Living ("Fantasmas dos Vivos"). Ele resolveu aparecer, durante o sono, a um amigo que residia a alguns quilômetros de sua casa, sem informá-lo previamente de sua intenção. Em seguida, deitou-se, e acordou no outro dia, sem possuir a menor ideia de que alguma coisa tivesse acontecido. Entretanto, seu amigo o viu sentado em uma cadeira que ele próprio acabava de deixar. Para se certificar de que não estava dormindo, ele abriu um jornal e colocou-o diante de sua face; ao baixá-lo, viu a aparição sempre na cadeira. Nenhuma palavra foi pronunciada pela visão, que logo desapareceu.

            Muldom tem provavelmente toda a razão quando diz que a projeção inconsciente do "duplo" se produz, quase sempre, no estado de sonho. Há entretanto numerosas provas de que ela se faz também no momento em que os indivíduos estão em vigília e em estado consciente. A melhor forma de explicar o aspecto de sonho da questão, é analisar os sonhos imediatamente após o despertar. Concluir-se-á, então, que há grande percentagem de formas simbólicas nas experiências de desprendimento do corpo físico. Por uma razão inexplicável, o cérebro etéreo não regista a experiência da mesma maneira como o faz o cérebro físico. Este último recorre ao simbolismo, no esforço de simplificar o fenômeno.

            A questão do desdobramento é bastante complicada para a nossa condição. Por experiência pessoal eu sei que ele se pode produzir de diferentes maneiras, e que mais de um corpo super físico se poderá formar. O verdadeiro corpo etéreo pertence, de certa forma, ao nosso mundo físico, mas não é certamente constituído da mesma matéria, ou de matéria semelhante à de nosso organismo físico comum. Neste ponto de vista, os teósofos têm mais ou menos razão quando afirmam com insistência que, enquanto o corpo físico comporta quatro graus de matéria densa, o corpo etéreo consiste em três, porém mais sutis.

            Pode-se adotar esta teoria de graduação apenas como ilustração; entretanto, ela representa mais do que simples conjectura. Segundo os teósofos, o corpo etéreo desaparece, desde que morre o corpo físico. É esta a indicação que deve existir na íntima relação entre os dois corpos, e pode-se, por isso, esperar que sejam encontradas ainda outras relações fisiológicas com referência ao assunto.

            O que se chama "cordão umbilical" é caso provado. Dele se encontram testemunhos na Bíblia. Pretende-se que os dois corpos sejam ligados por um cordão vital, da existência do qual depende a continuidade da aliança deles. Se ele se rompe, a volta do corpo etéreo ao corpo físico não é mais possível, e o resultado é a morte deste último. Não possuímos provas evidentes deste cordão e não se conhece muita coisa a seu respeito. Entretanto, deve existir uma relação vital entre os dois corpos, e ela existe provavelmente graças àquela espécie de cordão umbilical.

            Experimentei, por muitas vezes e de diferente maneiras, o desdobramento, mas não tenho o menor conhecimento da existência de tal cordão. Pode ser que a causa disto resida no fato de minha atenção estar sempre dirigida para outros elementos. Sou fervoroso partidário da introspecção e, invariavelmente, nessas experiências, minha atenção se prende às reações mentais e emocionais. Elas foram tão atraentes, que eu poderia, perfeitamente, omitir certos fatos salientes, dentre os quais, o cordão psíquico.

            "Este cordão ou cabo", declara o Dr. Nad Fodor, que estudou atentamente este assunto, "de semelhança impressionante com o corpo físico de um recém-nascido e seu cordão umbilical, está ligado à medula cervical em certas partes do crânio e, segundo alguns pesquisadores, ao plexo solar”. Esta contradição na localização corresponde perfeitamente às diversas maneiras pelas quais se procede às experiências do desdobramento. Parece não haver leis que regulem esta matéria, mas apenas uma regra geral. Por exemplo, certos indivíduos desdobram-se imediatamente e por completo; outros, escapam-se pela cabeça; outros, pelos pés, enquanto que alguns pretendem que se dissolvem e tornam a formar-se acima do organismo físico. E é por diversas formas que se efetua o retorno ao corpo físico.

            De minha parte, sei que volto sempre pela cabeça, quando retomo gradativamente o controle de meu corpo físico, o que se processa lentamente para baixo, como se o corpo etéreo se fixasse, com lentidão, no corpo físico. Certa vez, mesmo, foram-me necessárias duas horas para realizar o retorno completo, e eu me encontrava inteiramente consciente do fenômeno durante toda a sua duração.

            O Dr. Fodor declara que o cordão umbilical não é um simples tecido de teia de aranha, mas que se distende mais longe, sendo, como se supõe, mais denso, desde que não se alongue muito. "É de cor branco-acinzentada (prateada) e elástico até uma extensão incrível", como se pode imaginar, desde que se considere a enorme distância que o corpo etéreo pode percorrer para aparecer fora de sua outra parte, física. É ele o condutor da corrente vital que permite ao Espírito ou à alma fazer a coordenação com o corpo físico, o que parece impossível sem o seu concurso. Sua separação completa significa a morte imediata.

            A primeira experiência de desdobramento pode ser bastante perturbadora. Em mim, aconteceu que me acordei antes de ter obtido pleno controle de meu corpo físico. Imaginai uma pessoa completamente despertada, mas incapaz de mover seu corpo da maneira mais insignificante! Sentimo-nos como um prisioneiro dentro da mais ínfima das células, sem auxílio e fazendo esforços para se tornar senhor de seu próprio corpo! Depois eu me certifiquei, depressa, de que, mantendo-me em estado perfeitamente calmo e deitado, a volta se efetuaria normal e agradavelmente. A utilização da vontade não somente retarda o controle, mas também nos conduz ao temor.

            No momento atual, a questão do duplo etéreo e suas possibilidades representa ainda um mistério em vários pontos, e ninguém possui competência bastante para poder falar com autoridade absoluta. Da mesma forma que outros fatores naturais, concernentes à vida, é assunto totalmente particular e pode-se dizer que, talvez no futuro, se descobrirá que o assunto encerra faces multiformes. Jamais chegaremos, nesta matéria, a estabelecer uma ciência exata, da mesma maneira como não poderemos, jamais, formar uma ciência exata no campo da Psicologia.

            O que poderá ser ainda mais embaraçoso, é o caso de vermos o nosso próprio "duplo"! Entretanto, isto parece ser um fato averiguado. Por outro lado o "duplo" psíquico pode agir a distância, desde que o paciente o ignore por completo e viva, por todo esse tempo, sua vida normal.

            Certo número de pessoas têm feito experiência com este fenômeno e, dentre elas, Maupassant, de Vigny, Musset, Shelley, e o poeta alemão, Goethe.

            Goethe descreveu fielmente o fenômeno. Assim, conta que, viajando a cavalo, ficou surpreso de ver a si próprio vindo a seu encontro e vestido com roupas que jamais havia usado! Oito anos depois, encontrava-se na mesma estrada e com os mesmos trajes da visão anterior. Foram essas as próprias palavras: "Isto não aconteceu por minha vontade, mas por acaso."

            O exame minucioso de todos estes casos conduz-nos à conclusão de que existem exemplos de previsão do futuro. Entretanto, a dificuldade repousa na incrível realidade do "duplo". Um dos exemplos mais significativos deste fenômeno foi-me  dado por um senhor que se encontrava em Exeter, no Devonshire, na Inglaterra, e que o aterrou. Ele teve ordem da casa que representava de procurar certo cliente em determinado lugar, às onze da manhã seguinte. Com grande surpresa o cliente apresentou-se uma hora mais cedo, trazendo pequena valise. Apertaram as mãos, discutiram em pormenores o assunto comercial e se separaram. Uma hora após, o mesmo fato se repetiu: todos os gestos e palavras foram renovados e, contudo, tem-se a prova de que o cliente não se encontrava em Exeter na ocasião do primeiro enconntro!

            Certas pessoas, em diferentes épocas, têm-me  declarado que elas próprias me haviam visto e ouvido falar. Entretanto, na maioria dos casos, eu pude provar que me encontrava muito longe da cena, cuidando normalmente do meu trabalho ou atividade de sempre.             

            Assim, foi-me possível provar a um eminente membro da Sociedade Americana de Pesquisa Psíquicas que o Espírito ou alma é capaz de viver independentemente, mesmo a grandes distâncias, fora do organismo físico. A prova mais convincente  da existência do "duplo" etéreo se revela no fato de poder ser visto simultaneamente por diversas pessoas. O professor Charles Richet cita vários exemplos no seu livro –‘ Trinta Anos de Pesquisas Psíquicas’. Existem além disso outros testemunhos.

            Um dos argumentos preferidos pelos negativistas da hipótese espírita, no que concerne às materializações é este: não é outra coisa senão o ‘duplo etéreo’ do médium, modificado para ser ser semelhante a alguma outra pessoa. Entretanto, os  moldes de parafina apresentam a prova objetiva de são formados por Espíritos materializados. O próprio físico inglês, Sir William Crookes, confirma  que realizou tais experiências.

            Posso testemunhar, sem hesitação, a possibilidade de uma pessoa, residente a mais de 500 quilômetros, manifestar-se sob uma forma sólida e sustentar comigo uma palestra prolongada e inteligente, enquanto eu segurava sua mão, parcialmente materializada. E, para confirmar que realmente se achava presente, antes de se desmaterializar, ela confiou um segredo, cuja veracidade, mais tarde, pude verificar. Isto a convenceu de que foi a manifestação do seu "eu" etéreo, se bem que ela tivesse a menor lembrança do que aconteceu.

            Pouco se conhece sobre a melhor forma de efetuar- se conscientemente um desdobramento etéreo. A maior parte daqueles com os quais tenho discutido o assunto, sentiram espontaneamente o fenômeno, e isto com grande admiração. Entretanto, encontrei diversas pessoas que me declararam serem capazes de se desdobrar à vontade. Uma delas é um engenheiro que prestava serviços técnicos a uma usina elétrica do sul da Inglaterra. Ele, no fim, suspendeu estas experiências por temer que, algum dia, não pudesse mais retomar seu corpo físico. Era chefe de pequena família e acreditava em que o risco seria muito grande. Ele não era espírita.

            O estudo aprofundado das circunstâncias referentes ao desdobramento, mesmo o espontâneo, revela um esforço bem organizado e um objetivo bem definido. Isto poderia produzir-se abaixo dos limites da consciência. Não há razão alguma para se fazer esta sugestão, pelo motivo de que a pessoa normalmente ignorava o fim visado. Sabe-se perfeitamente que a consciência normal não é mais do que uma parte especializada do Espírito e que ela se acha bastante limitada quanto ao conhecimento das demais possibilidades do Espírito. Os recalques e a hipnose o provam.

            Nas regiões inferiores do Espírito há muitos comportamentos dos quais nada conhecemos; certamente é aí que vivemos a maior parte de nossa vida mental.

            Se os recalques podem causar - como nós sabemos - uma forma de histeria, e reagir inesperadamente sobre o corpo físico, há poucas razões para negar que, existindo outros elementos estranhos ao corpo físico, possam produzir-se muitas coisas no domínio do etéreo, a respeito das quais ainda devemos permanecer na ignorância. Isto naturalmente deve ser considerado como especulação, mas não uma especulação sem finalidade justificada.

            Devem existir explicações de aparições fora do corpo físico, e não há, desse assunto, melhor explicação a não ser aquela que se oferece com a saída do corpo etéreo.

            Se um dia a ciência oficial puder explicar este fenômeno, ter-se-á realizado grande progresso concernente à natureza do homem, e poder-se-ão, também, descobrir novas condições de existência. Isto implica em novas concepções do tempo e do espaço, pois o mundo etéreo não será, talvez, inteiramente físico. Então, nós nos convenceremos de que o homem poderá encontrar-se ao mesmo tempo em dois lugares diferentes e duas vezes no mesmo lugar, como no caso de Goethe. ( * )

(Ext. de "Survie" nº 238.)


(Traduzido por Max Kohleisen)