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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

03/ 03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus



03/03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus


por Clóvis Ramos
inReformador”(FEB)    Maio 1981

III – Um Reino Cristão

            Os irmãos Vivaldi - Ugolino e Vadino - foram os primeiros europeus a atravessar o estreito de Gibraltar, em 1291, numa galé. Iniciava- -se, assim, com eles, o ciclo atlântico dos descobrimentos.

            Tudo começou com as necessidades econômicas dos países da Europa, que precisavam de abertura de novas rotas comerciais para o Oriente, no comércio das especiarias, e, ainda, a procura do ouro entesourado no Sudão e no Egito, na Ásia, na Síria, a descoberta de novas terras, a captura do elemento negro para o trabalho nas culturas das ilhas do Atlântico. Acrescente-se um dado a mais: o propósito de cristianização do mundo, que significava guerra aos infiéis, aos adeptos de Maomé, do Islã.

            As notícias das viagens, por terra, de Nicolau, Mateus e Marco Polo, de Veneza, na Itália - os primeiros europeus a chegar ao Japão e a China - serviram para despertar a cobiça de espanhóis e portugueses, que desejavam um caminho para a busca das riquezas dos longínquos países asiáticos, especialmente a Índia, O elemento árabe dominava o mar Mediterrâneo, urgia, pois, uma saída para o impasse em que viviam portugueses e espanhóis. Impasse que atingia, também, outros reinos europeus.

            A partir do século XI Gênova e Veneza - os primeiros mercados dos produtos orientais - tiveram papel importante no intercâmbio comercial da Europa com o Oriente e também com a África, e as galés venezianas e genovesas chegavam a todos os portos conhecidos. Portugal, tal como a Espanha, sonhou ter a riqueza e o poder dos italianos. Num recanto da lbéria, junto do mar, só restava a Portugal navegar.

            Durante a Idade Média se redescobriram algumas ilhas do Atlântico, entre as quais as Canárias, em 1312, cuja prioridade e autoria genoveses e portugueses ainda discutem. Afonso IV, Rei de Portugal, que, homem de visão, não quis ficar a margem da expansão marítima, pela posição mesma do seu país no continente europeu, alegava que cabia aos portugueses explorar a ilha, pois, como escreveu ao Papa Clemente VI, em 22-10-1345, "os nossos naturais foram os primeiros que acharam as mencionadas ilhas".

            São navegadores desta fase inicial: Lancelot Moloisel ou Lanzeroto Marocolle, genovês; Jaime Ferrer, da Espanha, que parece ter chegado ao cabo Bojador, viagem "per mar al riu de lor" (por mar ao rio do ouro); os marinheiros do Diepe, na França.

            Para viagens mais longas, pelas costas d'África, novos tipos de navios tiveram que ser construídos em substituição às galés a remo, utilizadas pelos irmãos Vivaldi, e que eram navios de combate no Mediterrâneo. A caravela se constituiu no navio típico dos descobrimentos portugueses a partir de 1441, uma importante conquista náutica, que permitiu a navegação nos difíceis mares africanos, abertos, sujeitos, constantemente, a tempestades. Com suas viagens, portugueses e espanhóis corrigiram as ideias em voga, a teoria da esfera de Ptolomeu. O mundo era maior e mais diversificado do que descrevia Ptolomeu.

            Resumindo: surgia, na Europa, uma aristocracia comercial possuidora de imensos capitais e, no campo político, o sistema feudal cedia terreno às monarquias absolutistas, passando a haver a centralização do poder. Essas transformações, completadas pelo progresso da navegação, possibilitaram o início de um novo período da história econômica e social da Europa.

            Portugal e Espanha, dispondo do apoio dos comerciantes que já mantinham relações com o Oriente, realizaram, juntos ou separados, planos de navegação oceânica após a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453) que interromperam as relações diretas com o Extremo Oriente, quando as especiarias da Índia (açúcar, cravo, canela, pimenta e noz, etc.) passaram às mãos de comerciantes e empresários dos povos muçulmanos (como, hoje, o petróleo), que Ihes aumentaram sensivelmente os preços.

            O oceano Atlântico era ao mesmo tempo um desafio e uma solução. Como se sabe, Portugal estava bem situado: diante do mar. E havia, ainda, a escolha desse povo, pobre mas trabalhador, e fervoroso na fé, escolha feita por Jesus, o Cristo, como nos foi revelado por Humberto de Campos, Espírito. E a Portugal coube a primazia dos descobrimentos. Depois de alcançar as Canárias, os Açores, os portugueses chegaram a Mina, em 1465, com João de Santarém e Pedro de Escobar; em 1487 - 1488, Bartolomeu Dias chegou ao cabo das Tormentas, chamado, posteriormente, por D. João II, de cabo da Boa Esperança. Vasco da Gama colocou Portugal direto com as especiarias da Índia, e, por fim, Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil, em 1500, no governo do Rei D. Manuel, o Venturoso.

            Depois de um pouco de História, voltemos a D. Henrique de Sagres, à conquista de Ceuta, cidade então dominada pelos árabes merínidas. A partir de 1415, ano do grande feito, teve início a expansão marítima de Portugal. Situada em frente de Gibraltar, estrategicamente, Ceuta era uma das bases da navegação atlântica, importante mercado de ouro, de escravos, seda e marfim; por ela, na Mauritânia, era fácil a comunicação com o Sudão e o Levante. A captura de Ceuta, todavia, não deu - dizem os historiadores - os resultados que os portugueses esperavam, porque as rotas comerciais se desviaram.          

            Os planos de D. João I prosseguiram, contudo, e D. Henrique se tornou, sem demora, num dos promotores da navegação de descobrimentos portugueses. Era essa sua missão principal, como lá foi dito nos artigos anteriores: renovar as energias portuguesas, aproveitar a indômita coragem dos portugueses, e preparar gente para a difícil travessia do oceano perigoso e solitário. A cartografia quinhentista assinalava ilhas misteriosas no Atlântico Ocidental, que era preciso conhecer. O primeiro objetivo do Infante, como já se sabe, foi a África. Azurara, o cronista, falava das "cinco razões por que o senhor Infante foi movido de buscar as terras de Guiné:
1) Saber a verdade sobre o que existia para além do arquipélago das Canárias e do cabo Bojador;-
2) se nestas terras existiam reinos cristãos dotados de bons portos onde se pudessem trocar as mercadorias levadas de Portugal por produtos africanos;
3) conhecer o poderio mouro naquelas regiões;
4) encontrar um reino cristão cujo príncipe fosse capaz de selar aliança com os portugueses;
5) expandir o Cristianismo em todas aquelas terras, salvando todas as almas pagãs para a fé em Cristo".

            Todas as suas razões foram muito significativas, como um filho do Rei e um bom patriota. São dois propósitos relevantes, um científico - para corrigir os ensinamentos da época, no tocante à geografia, acabando, de vez, com tantas lendas do chamado Mar Tenebroso, donde ninguém voltava; o outro - um motivo religioso, que a tudo excedia: ver se existiam, nas terras ignoradas, reinos cristãos, no afã louvabilíssimo de expandir o Cristianismo em todas as terras. Deveria haver, longe, um reino cristão, cujo príncipe fosse capaz de se aliar com os portugueses.

            Terras havia na distância à espera de colonizadores, não só no Nilo dos negros e circunvizinhanças, por toda a costa d' África; terras havia pelo oceano, ilhas como as Canárias ou Fernando de Noronha, e a terra grande, um verdadeiro continente - Brasil. Cristãos não havia. O reino com seu príncipe também não. Mas havia a fé dos portugueses, a coragem dos portugueses, e eles dominaram ondas bravias, todos os perigos, florestas virgens, gentio amigo ou hostil, e construíram, sob o símbolo sublime do Cruzeiro, um reino para Cristo, assegurando, para o Brasil, um destino glorioso.

            Como vimos, nos artigos precedentes, D. Henrique fora escolhido pelo próprio Cristo para a importante missão no mundo Terra. Despreocupado das glórias terrenas, de interesses imediatistas, o Infante atingiu o alvo, possibilitando a grandeza do seu país que, com suas conquistas, no dizer de alguém, metalizou-se, tanto foi o ouro conseguido nas viagens das naus lusas por todos os mares, no comércio. Portugal, respeitado por seus filhos, por seus feitos, influindo, como potência marítima, como grande nação, nos acontecimentos políticos da Europa. Portugal, centro de cultura, de arte. Terra de grandes poetas, grandes prosadores.

            Não fossem os serviços prestados pelo Navegador, que reuniu em torno de si gente capaz da grande tarefa: homens do mar, dispostos às longas travessias do oceano, a pátria de D. Manuel teria podido realizar o seu grande destino? Tudo se deveu, sem dúvida alguma, aos esforços do filho de D. João I, o Hilel de Jesus. 


             Cumpriu, à risca, sua missão, que lhe foi oferecida: Brasil e Portugal juntinhos, mar a mar, "tão alma e sangue, água e vinho, num mesmo cálice do altar" - no dizer de um dos seus poetas – Antônio Correia d’Oliveira. Unidos na mesma fé raciocinada, na busca, que empolga, de novos horizontes para o mundo: o descobrimento bem mais importante dos mundos do Mais Além, onde Cristo reina com seu amor infinito e, desveladamente, preparam, para nosso mundo, outra nova era, de paz, amor e sabedoria.
           
            “Reino Unido” ao de Portugal, Reino Cristão!

            D. Henrique de Sagres, sim, Servo de Deus!  

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

02 / 03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus



02/03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus


por Clóvis Ramos
inReformador”(FEB)   Abril 1981



II – Helil - Emissário de Jesus

            Para se entender a aproximação, cada vez maior, dos espíritas brasileiros e portugueses - num reencontro de corações que comove - o livro de Humberto de Campos, psicografado por Francisco Cândido Xavier, "Brasil, Coração do Mundo, Pátria, do Evangelho", é o roteiro.

            Explicando que o material a empregar-se na abençoada tarefa de espiritualização a que todos somos chamados, sob a inspiração de Ismael, não vem das fontes de produção originariamente terrena e sim do plano invisível, onde se elaboram todos os ascendentes construtores da Pátria do Evangelho, narra o poeta de "Poeira", no capítulo 1, a história de Helil, o sábio judeu enviado em missão a Portugal na figura simpática de D. Henrique de Sagres, para acelerar o advento de uma nova era.

            E permitimo-nos repetir, nestas colunas, o depoimento do escritor maranhense, no seu jeito tão pessoal de dizer, no seu estilo inconfundível. Exprimiu-se, também, como poeta, que o autor do "Memórias", "Os Párias", "Destinos", "À Sombra das Tamareiras", "Lagartas e Libélulas" e tantos outros livros de mérito, principalmente quando escrevia em prosa era um poeta:

            "Anjos e Tronos lhe formavam a corte maravilhosa. Dos céus à Terra, foi colocado outro símbolo da escada infinita de Jacob, formado de flores e de estrelas cariciosas, por onde o Cordeiro de Deus transpôs as imensas distâncias, clarificando os caminhos cheios de treva. Mas, se Jesus vinha do coração luminoso das esferas superiores, trazendo nos olhos misericordiosos a visão dos seus impérios resplandecentes e na alma profunda o ritmo harmonioso dos astros, o planeta terreno lhe apresentava ainda aquelas mesmas veredas escuras, cheias da lama da impenitência e do orgulho das criaturas humanas, e repletas dos espinhos da ingratidão e do egoísmo. Embalde seus olhos compassivos procuraram o ninho doce do seu Evangelho; em vão procurou o Senhor os remanescentes da obra de um de seus últimos enviados à face do orbe terrestre. No coração da Úmbria haviam cessado os cânticos de amor o de fraternidade cristã. De Francisco de Assis só haviam ficado as tradições de carinho e de bondade; os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio, haviam descido outra vez das selvas misteriosas das iniquidades humanas, roubando às criaturas a paz e aniquilando-lhes a vida.

            - "Helil - disse a voz suave e meiga do Mestre a um dos seus mensageiros, encarregado dos problemas sociológicos da Terra - meu coração se enche de profunda amargura, vendo a incompreensão dos homens, no que se refere às lições do meu Evangelho. Por toda parte é a luta fratricida, como polvo de infinitos tentáculos, a destruir todas as esperanças; recomendei-lhes que se amassem como irmãos, e vejo-os em movimentos impetuosos, aniquilando-se uns aos outros como Caims desvairados.

            - "Todavia - replicou o emissário solícito, como se desejasse desfazer a impressão dolorosa e amarga do Mestre - esses movimentos, Senhor, intensificaram as relações dos povos da Terra, aproximando o Oriente e o Ocidente, para aprenderem a lição da solidariedade nesses experiências penosas; novas utilidades da vida foram descobertas; o comércio progrediu além de todas as fronteiras, reunindo as pátrias  do orbe. Sobretudo, devemos considerar que os príncipes cristãos, empreendendo as iniciativas daquela natureza, guardavam a nobre intenção de velar pela paisagem deliciosa dos Lugares Santos.

            "Mas, - retornou tristemente a voz compassiva do Cordeiro - qual o lugar da Terra que não é santo? Em todas as partes do mundo, por mais recônditos que sejam, paira a bênção de Deus, convertida na luz e no pão de todas as criaturas. Era preferível que Saladino guardasse, para sempre, todos os poderes temporais na Palestina, a que caísse um só dos fios de cabelo de  um soldado, numa guerra incompreensível por minha causa, que, em todos, os tempos, deve ser a do amor e da fraternidade universal.      

            "E, como se a sua vista devassasse todos os mistérios do porvir, continuou: " - Infelizmente, não vejo senão o caminho da sofrimento para modificar tão desoladora situação. Aos feudos de agora, seguir-se-ão as coroas poderosas e, depois dessa concentração de autoridade e de poder, serão os embates da ambição e a carnificina da inveja e da felonia, pelo predomínio do mais forte.”

            Cristo viera a este mundo, na Palestina, a ensinar-nos que a glória maior é o amor, e era ele mesmo o Caminho, a  Verdade e a Vida, explicando que o maior entre todos haveria de ser servo de todos, pois ,só pela humildade e pela simplicidade se alcançaria, na Terra, o reino da Luz. Pregou-nos o amai-vos uns aos outros como a lei suprema, e amar a Deus sobre todas as coisas, e amar ao próximo como a si mesmo. Incompreendido, negado, perseguido, se viu martirizado, mas sua doutrina acabou difundida entre todos os povos, embora não de todo entendida, deturpada, geralmente, nos dias sombrios da Idade Média e ainda hoje. 

            Aconteceu que os homens ouviram as pregações de Pedro, o Eremita, e os reis cristãos se armaram para a guerra santa contra os infiéis, numa mortandade estarrecedora, ensanguentando todas as bandeiras do mundo cristão. As Cruzadas, a negação mesma da vida cristã.

            E Humberto de Campos prosseguiu no seu relato maravilhoso, que é como um poema de amor:

            "A amargura divina empolgara toda a formosa assembleia de querubins e arcanjos. Foi quando Helil, para renovar a impressão ambiente, dirigiu-se a Jesus com brandura e humildade:

            - "Senhor, se esses povos infelizes, que procuram na grandeza material uma felicidade impossível, marcham Irremediavelmente para os grandes infortúnios coletivos, visitemos os continentes ignorados, onde espíritos jovens e simples aguardam a semente do uma vida nova. Nessas terras, para além dos grandes oceanos, podereis instalar o pensamento cristão, dentro das doutrinas do amor e da liberdade.

            "E a caravana fulgurante, deixando um rastro de luz na imensidade dos espaços, encaminhou-se ao continente que seria, mais tarde, o mundo americano.

            "O Senhor abençoou aquelas matas virgens e misteriosas. Enquanto as aves lhe homenageavam a inefável presença com seus cantares harmoniosos se inclinavam nas árvores ciclópicas, aromatizando-lhe as eterizadas sendas, O perfume do mar casava-se ao oxigênio agreste da selva bravia, impregnando todos as coisas de um elemento de força desconhecida, No solo, eram os silvícolas, humildes e simples, aguardando uma era nova, com o seu largo potencial de energia e bondade”.

            No mesmo tom de ternura e harmonia, com a revelação que nos felicita:

            "Cheio de esperanças, emociona-se o coração do Mestre, contemplando a beleza do sublimado espetáculo.

            - “Helil – pergunta ele – onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário do qual se enxerga, no Infinito, o  símbolo da redenção humana?

             - "Esse lugar de doces encantos, Mestre, de onde se veem, no mundo, as homenagens dos céus aos vossos martírios na Terra, fica mais para o sul.

            "E, quando no seio da paisagem repleta de aromas e de melodias, contemplavam as almas santificadas dos orbes felizes, na presença do Cordeiro, as maravilhas daquela terra nova que seria mais tarde o Brasil, desenhou-se no firmamento, formado de estrelas rutilantes, no jardim das constelações de Deus, o mais imponente de todos os símbolos.

            "Mãos erguidas para o Alto, como se invocasse a bênção de seu Pai para todos os elementos daquele solo extraordinário e opulento, exclama então Jesus:

            - "Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo, todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes céus serão entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai Celestial. Tu, Helil, te corporificarás na Terra, no seio do mais pobre e mais trabalhador do Ocidente; instituirás um roteiro de coragem, para que transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o velho do novo mundo. Instalaremos aqui uma tenda de a trabalho para a nação mais humilde da Europa, glorificando seus esforços na oficina de Deus. Aproveitaremos o elemento simples de bondade, o coração fraternal dos habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão, entre as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro, a fim de exaltar o meu Evangelho, nos séculos gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo”.

            Como se sabe, Helil, o mensageiro do Cristo veio ao mundo, e todas as ordens divinas foram cumpridas integralmente, e foi ele, reencarnado, o heroico D. Henrique, o Infante de Sagres, que possibilitou, com seus esforços, a renovação das energias portuguesas, no que culminou com o descobrimento, em 1500, do Brasil.

            Helil, ou Hilel, forma hebraica geralmente usada. Sobre esse grande vulto do Judaísmo, só possuímos, para este artigo, algumas notas que se encontram no livro "Brasil, Mais Além! , de Duilio Lena Bérni, editado pela FEB em 1979, com prefácio de Francisco Thiesen - "Esclarecimentos de Limiar". E ficamos sabendo, graças aos conhecimentos do saudoso Ismael Gomes Braga, que a grafia certa é Hilel e não Helil, mas as trocas de vogais são de todo insignificantes em nomes hebraicos, e que Hilel foi notável pensador contemporâneo e conterrâneo de Jesus-Cristo, e mestre em Israel, que chegou a ser presidente do Sinédrio, desencarnado dez anos depois de Jesus.  Sua doutrina - o Hilelismo - tem pontos de contato com a doutrina do Nazareno.

            Mas houve, duzentos anos antes, outro Hilel, doutor judeu nascido na Babilônia, fundador de uma escola célebre, na seita dos fariseus, nome lembrado por Allan Kardec no seu “O Evangelho segundo o Espiritismo".

            Graças ao prefácio de Francisco Thiesen, sabemos algo daquele Helil, que Humberto de Campos aponta como o encarregado dos problemas sociológicos da Terra ,talvez o mesmo que, séculos antes, já era grande entre os fariseus, Hilel que voltava para reformular o farisaísmo de tão triste memória, ao tempo do Messias, que O perseguiu e matou por não respeitar o dia de sábado.

            Sobre o Hilelismo, veja-se o artigo de lsmael Gomes Braga, publicado no "Reformador", em 1937, nas páginas 532 e 533.  Foi por ocasião da divulgação de um dos capítulos do livro mediúnico de F. C. Xavier.

            A seguir, alguns tópicos da apresentação  de Thiesen ao livro de Duílio ; sobre o Hilenismo, ainda hoje um ensaio do povo judeu, tão bem explicado num livro russo - "Homaranismo" -  surgido em 1906, e traduzido para o vernáculo por Carlos Domingues, autoridade no Esperanto:

            "(...) Apresenta-nos, uma síntese doutrinal do "Homaranismo" (que é o Hilelismo rebatizado), ou seja, as suas “doze regras”: “A Humanidade é uma família. Todos os nossos atos são regidos por este ideal. Não julguemos os homens pela sua raça, mas por suas boas ou más ações.  As nações não pertencem a este ou aquele núcleo humano, mas a todos os seus habitantes. Não procuremos impor aos homens nem a nossa língua nem a nossa crença. O "homem" está antes de tudo e acima de tudo. O patriotismo não deve degenerar em patriotice. A língua não é um fim; só um meio. Com os que desconhecem o nosso idioma usemos uma língua neutra. A religião não deve herdar-se dos pais; deve adotar-se livremente com plena consciência. Sejamos tolerantes e compreensivos para com aqueles que não têm os nossos mesmos ideais. Cultivemos sentimentos fraternais para com os nossos semelhantes."

            Fez-nos ver o autor de "Elos Doutrinários" que, os ensinos de Hilel, demasiado elevados para o seu tempo, ainda o são para os nossos dias.

            Outros informes de Francisco Thiesen, baseados em "A Escolha do Navegador", (“Reformador” nov. de  1957, pág. 263), tão lúcidos:

            "A doutrina de Hilel é uma tentativa - hoje ainda utópica - de universal confraternização humana. Ensina o respeito máximo à verdade e o culto constante do amor entre os homens. Para alcançar essa finalidade, estabelecer-se-iam templos neutros, nos quais todas as formas de culto e adoração seriam igualmente respeitadas, sem sectarismo algum. As falsidades históricas, nacionalistas, racistas, gentílicas, tudo, enfim, que separa os homens, seria pacificamente abolido pelo esclarecimento recíproco, feito com sinceridade, sem embustes nem preconceitos, Abolir-se-iam pela solução mais humanitária todas os problemas sociais, religiosos, de classe," Ainda: "A Regra Áurea, que aparece em Mateus (7:12) e Lucas (6:31), foi sancionada por Jesus e vastamente divulgada com o Cristianismo, mas, segundo os judeus, ela era ensinada por Hilel, contemporâneo do Messias, e até hoje aceita doutrinariamente pelos israelitas. Segundo outras opiniões, a Regra Áurea é muito mais antiga.

            Diante de tudo o que foi exposto, outras não poderiam ser as deduções de Duílio Lena Bérni, em “Brasil, Mais Além!, que estão no capítulo 4  do seu livro, na parte que trata de “O Coração do Mundo”:

            “1º) Os planejamentos da Comunidade de Espíritos Puros, que está na direção de todos os fenômenos do nosso sistema, são feitos com absoluta segurança, com grande antecedência, para execução no curso de séculos e de milênios, objetivando sempre o bem-estar das criaturas.  

            2º) O Infante Dom Henrique, encarnação do espírito Helil, que era o encarregado dos problemas sociológicos da Terra, foi um emissário ele Jesus.

            3º)  Como Espírito de elevada hierarquia, permaneceu adstrito ao cumprimento da tarefa que lhe fora atribuída, infenso aos ouropéis das efêmeras gloríolas terrenas.

            4º) Fica, desse modo, esclarecido o porquê de sua obstinação, a despeito de todos e de todos, inclusive da régia vontade paterna, em não afastar-se, a não ser acidentalmente, de seu posto de observação e trabalho, da Escola Náutica de Sagres.

            5º) Dom Henrique instituiu, indubitavelmente, um roteiro de coragem, elemento basilar para que, ao longo do tempo, fossem transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o velho do novo mundo.

            6º) Por predestinação de Jesus, nosso Brasil é o Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho, com o árduo mas nobilitante encargo de difundir, no tempo e no espaço planetário, pela pregação e, sobretudo, pelo exemp!o, a Mensagem do Cristo, consubstanciada em seu Evangelho de amor e redenção."

            Às deduções desse ilustre militar e advogado, estudioso do Espiritismo, que presidiu Federação Espírita do Rio Grande do Sul a, antes, foi elemento de prol da Federação Espírita Brasileira, no seu Conselho Federativo Nacional, às seis conclusões que nos ofereceu pode ser acrescentado mais uma, com relação aos nossos irmãos portugueses.

            7º) Portugal não podia ficar ‘de fora’ do plano divino de recristianização do mundo, eis que dos seus portos partiram as caravelas de D. Henrique, para encontrarem novas terras e novos mares, no que resultou descobrirem a ilha de Vera Cruz, terra de Santa Cruz, hoje Brasil. Portugal e Brasil, desde então, solidários na tarefa grandiosa que não deve ser executada ,  isoladamente, sem o apoio e a carinho um do outro.

            Hilel, discípulo eterno do Cristo , ou Henrique o que sonhou com um reino cristão paro aliado de Portugal. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

01 / 03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus





01/03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus


por Clóvis Ramos
inReformador”(FEB)  Março 1981


I – O Navegador

            Quem lê a biografia de D. Henrique, Infante de Portugal, ou Infante de Sagres, cognominado O Navegador, herói da guerra contra os mouros, logo reconhece o papel extraordinário, de grande significação espiritual, a missão nitidamente religiosa que a ele coube no inicio dos tempos modernos, na fase dos Descobrimentos.  Toda sua vida – vocação genuína de um servo de Deus.

            O Cavaleiro de Ceuta... Um místico, que nos traz à lembrança profecias antigas, videntes que anteviram, com precisão, os acontecimentos que se realizariam séculos depois, Isto desde Moisés, livrando seu povo da escravidão do Egito ("Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim"), de lsaias, Jeremias, até João, o Batista. Preparavam os caminhos do Senhor, que, afinal, veio a este mundo e não foi reconhecido, e tudo padeceu por amar a Deus e ao próximo mais do que a si mesmo: Cristo, o Messias, o Nazareno, só aparentemente vencido na cruz e que atraiu tudo a si, e construiu, nos corações, um Reino de amor!

            D. Henrique tem, para nós, o porte de uma figura bíblica de quem (re) nasceu para grandes feitos, como, outrora, Israel batalhando pela terra de leite e mel, prometida a Abraão por seu Deus, a a Isaque e a Jacó, e a todos os patriarcas do povo hebreu, aos que vierem depois, e aos de agora.  E não seria o Brasil, que o Infante vislumbrou em suas visões, a Canaã verdadeira, onde o Senhor ergueria a sua tenda, seu tabernáculo? Só um povo como o povo português, temente a Deus, sempre querendo a expansão da fé, é que podia, com efeito, achar o caminho, não só das Índias, mas do Futuro, dos tempos novos, e - por que não dizer? - de tempos que ainda virão.

            Tentaremos, em três artigos, mostrar na sua grandeza de enviado de Deus, a D. Henrique, que sonhou com as honras da cavalaria, e conquistou, para sua gente, um reino cristão – consoladora realidade da pátria do Cruzeiro, este Brasil que, como afirmou Emmanuel no prefácio de "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", de Humberto de Campos. "não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta, mas, também facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais". Porque - disse o Guia de Francisco Cândido Xavier – “se outros povos atestaram o progresso, pelas expressões materializadas e transitórias, o Brasil terá a sua expressão imortal na vida do espírito, representando a fonte de um pensamento novo, sem as ideologias da separatividade, e iluminando todos os campos das atividades humanas com uma nova luz.”

            Deus nunca deixou de falar aos  homens através dos seus profetas, e, se D. Henrique foi um deles, quando encarregado, em 1412, de organizar, na sua cidade  natal, a frota que iria à peleja em Ceuta, Francisco Cândido Xavier, é dos últimos a transmitir-nos a palavra do mais além. Profetizou, também, por meio dele, Humberto de Campos,  Espírito, apontando-nos as claridades do futuro: "Não nos compete estacionar, em nenhuma circunstância e sim marchar, sempre, com a educação e com a fé realizadora ao encontro do Brasil, na sua admirável espiritualidade e  na sua grandeza imperecível."           

             Antes de entrarmos no exame da participação do filho do Rei D. João I e de FiIipa de Lancastre, nascido no Porto a 4-3-1394 e desencarnado na Vila do Infante (cabo de Sagres ), a 13-11-1460, registremos, para uma melhor compreensão de sua causa grandiosa, outras palavras de Humberto  - depois Irmão X -, esclarecendo o porquê ,do seu livro, hoje clássico, sobre a Missão do Brasil, essencialmente evangélica, a tarefa que, entre nós, se cumpre de modo luminoso, pela Federação Espírita Brasileira, cada vez mais unida à de Portugal, e por outras instituições espíritas do nosso país.  

            - "I ... ) o Brasil espiritual, o Brasil evangélico, em cujas estradas cheias de esperança, luta, sonha e trabalha o povo fraternal e generoso, cuja alma é a "flor amorosa de três raças tristes,''', na expressão harmoniosa de um dos seus poetas mais eminentes. "

            - "Jesus transplantou da Palestina para a região do Cruzeiro a árvore magnânima do seu Evangelho, a fim de que os seus rebentos delicados florescessem de novo, frutificando em obras de amor para todas as criaturas."

            - "( ... ) não obstante todas as surpresas das ideologias modernas, a lição do Cristo aí está no planeta, aguardando a compreensão geral do seu sentido profundo. Sobre ela, levantaram-se filosofias complicadas e as mais extravagantes teorias salvacionistas. Em seu favor, muitos milhares de livros foram editados e algumas guerras ensanguentaram o roteiro dos povos. Entretanto, a sublime exemplificação do Divino Mestre, na sua expressão pura e simples, só pede a humildade e o amor da criatura, para ser devidamente compreendida. Do seu entendimento decorre aquele "Reino de Deus" em cada coração, de que falava o Senhor nas suas meigas pregações  do Tiberíades - reino de amor fraternal, cuja luz é o único elemento capaz de salvar o mundo que se encaminha para os desfiladeiros da destruição."

            Humberto de Campos colimou provar, e o conseguiu, "( ... ) a excelência de missão evangélica do Brasil no concerto dos povos e que, acima de tudo, todas as suas realizações e todos os seus feitos, forros dos miseráveis troféus das glórias sanguinolentas, tiveram suas origens profundas no plano espiritual, de onde Jesus, pelas mãos carinhosas de Ismael, acompanha desveladamente a evolução de pátria extraordinária, em cujos céus fulguram as estrelas da cruz.”

            Mostrado, por quem tem autoridade, o destino do Brasil no mundo moderno, num autêntico renascimento cristão, voltemos ao convívio dos que escreveram sobre O Infante de Sagres, dentre os quais se destacaram Duarte Pacheco, Damião de Góis, Zurara, D. Leite, Diogo Gomes, João de Barros e, mais próximos de nós, João Grave, que pertenceu à Academia Brasileira de Letras, no Dicionário Lello Universal, organizado e publicado sob a direção de ambos, e, em nossos dias, Francisco Thiesen e Duilio Lena Bérni.

            No Novo Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro, editado do pela Livraria Lello, do Porto, está: "( ... ) um dos nomes mais Ilustres não só da história de Portugal como da história da civilização europeia.  Tomou parte gloriosa na expedição a Ceuta e aí colheu informações que o confirmaram na crença de que havia muitas terras a descobrir para além do cabo Bojador, limite  das navegações desse tempo. De volta de Ceuta, foi estabelecer-se no promontório de Sagres, junto ao cabo São Vicente, e aí (...),  teria fundado uma escola de navegação, um observatório astronômico e estaleiros para construção de navios. Chamou do estrangeiro cosmógrafos e matemáticos Ilustres e, com eles e alguns cavaleiros da sua casa, se entregou ao estudo das cartas marítimas. Todos os anos, uma caravela, armada à sua custa e capitaneada por um cavaleiro ou escudeiro do seu serviço, partia à descoberta, mar em fora. Quando o Infante morreu (1460), deixava reconhecida a costa africana até Serra Leoa e preparando o  grande feito que Vasco da Gama realizou trinta e oito anos depois."

            Seu perfil está muito bem delineado na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, que dele se ocupou às fls. 76 a 90 – material que nos chegou à mãos por nímia gentileza do Presidente da Federação Espírita Brasileira, Francisco Thiesen,  para que preparássemos estas notas. E lemos à página 76: "Quase nada se sabe dos seus primeiros anos. Crescendo em convívio o com os irmãos, no ambiente doméstico mantido pelo ponderado realismo do pai e vivificado pela suave austeridade mística da mãe D. Henrique teria recebido uma séria formação religiosa e moral, de par com o adestramento físico e o desenvolvimento da Inteligência. Menos Intelectual que seus irmãos mais velhos - D. Duarte e D. Pedro -  predominavam nele, como em seu pai (com quem mais se parecia  no aspecto e no caráter, e de quem era, talvez por isso, o filho mais estimado),  e o gosto pela vida ativa, interessando-se sobretudo a caça, o cavalgar, as façanhas guerreira, as  aventuras implicando denodo, pertinácia, sacrifício heroico com finalidade mística embora, mas com fruto útil. Sóbrio e austero, jejuava a miúdo, e parece que usou cilícios durante toda a vida. Uma relíquia sagrada que a mãe lhe dera, trouxe-a sempre ao pescoço. Não casou; e, se, jovem, não desdenhara o galanteio das damas, parece, todavia, que "virgem o comeu a terra" (Zurara). Melhor que qualquer outro documento, o preâmbulo do seu testamento revela o clima espiritual de toda sua vivência e ação: é  um católico consciente que vive a crença, considerando (como diz em outro sítio ) "Os trabalhos dos homens principalmente  deverem ser por serviço de nosso senhor Deus, e assim de seu senhor, por que hajam de receber galardão de glória na outra vida, "e em este mundo honra e estado". Assim, se  "teve sempre o desejo de fazer guerra aos infiéis e de  converter os pagãos, "foi igualmente solicito em fecundos projetos utilitários que não estavam em contradição com os Interesses da fé” (D. Leite).  Por outro lado, na sua devassa do mundo desconhecido, aproveitando embora a sabedoria dos livros e dos homens, não deixa, porém - e isso o caracteriza essencialmente - de tentar substituí-la pela lição positiva da experiência, que ativa e porfiadamente procurou, por meio do seus navegadores e exploradores. "

            Este retrato comprova o que dissemos no começo: D. Henrique, um Servo de Deus, ele também um enviado em missão de preparar os caminhos do Senhor, em mundos novos que se achariam pelo Atlântico. Pelo que se leu, vê-se que tinha o senso das coisas práticas e úteis, a religiosidade das grandes almas; bom e austero, que vivia de sua crença sincera, a serviço de Deus, à espere do galardão na outra vida. O ponderado realismo do pai e a suave autoridade mística da mãe  -os elementos formadores de sua personalidade, de seu caráter de escol.

            Outros pontos quo vale ressaltar, respigado dos textos dos seus biógrafos: Fora batizado pelo Bispo de Viseu; sua bandeira - pendão tricolor - na esquadra que armou  para a conquista de Ceuta: Talent de bien-faire (vontade de bem-fazer); pertenceu à Ordem de Cristo (governador e administrador) que então tinha sede em Tomar, no antigo castelo dos templários; mandou ensinar a Ier  e escrever a um moço do Nilo dos negros, com o fito d. torna-lo "padre para ir missionar os conterrâneos"; fez devolver, entre os 17 cativos de Palma, uma rainha, "mui irosa" contra os captadores impolíticos.

            A preocupação maior, as causas que moveram D. Henrique a descobrir terras e mares, mais do que os Interesses puramente econômicos, ou políticos, de Estado, então reveladas em carta escrita por D. Pedro, regente, seu tio, em 22-1o-1443. Entendia "que fazia serviço a Nosso Senhor Deus e a nós, se meteu a mandar navios a saber parte." -  (isto é, a tomar conhecimento) – “da terra que era além do cabo de Bojador, porque até então não havia ninguém na cristandade que dele soubesse parte", nem se havia lá povoação ou não, nem diretamente nas cartas de marear, nem nos mapas-mundi".

            Sobre essa sua como que obsessão de descobrir terras e mares além do cabo Bojador, trataremos depois. Importa, agora, anotar, para consideração dos estudiosos da vida e da obra de D. Henrique, que o Duque de Viseu e senhor de Covilhã - títulos que recebeu como prêmio por sua ação na tomada de Ceuta, onde combateu valorosamente, era um místico e  um verdadeiro cristão. Na campanha de Alcácer-Ceguer, já com 54 anos de idade, evidenciou energia indomável e lemos, com satisfação: “Era a desforra integral do fracasso de Tanger e do longo martírio do irmão, mais acirrada agora porventura com a terrível afronta e ameaça que para a Cristandade sobreviera desde a conquista de Constantinopla, em 1453, pelos turcos, fanáticos do falso Profeta." E, ainda: "O velho cruzado despertara; mas não foi desumano perante o inimigo abatido. Como em Ceuta, D. Henrique, desembarcado na praia, levou de roldão os defensores para dentro das muralhas. E foi a ele que, vendo inútil a resistência, enviaram à meia-noite a proposta de rendição. A resposta de D. Henrique foi que o Rei lhes consentia que evacuassem a cidade levando consigo as mulheres, crianças e suas fazendas, e apenas deixassem os cristãos cativos: - o que se efetuou em 23, entrando em seguida, a pé, o Rei com D. Henrique e seu filho D. Fernando, e seu primo D. Pedro, o filho do defunto regente, encaminhando-se todos para a mesquita maior já purificada em Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia.”

            Um homem de fé, um homem de Cristo!


Helil e Ismael - Luminosa Aliança



Luminosa Aliança – De Mãos Dadas
 Helil e Ismael


Reformador (FEB)  Fevereiro 1980




            Como é do conhecimento de todos os que têm acompanhado pelo "Reformador" e demais órgãos da Imprensa Espírita, esteve em nosso país no mês de novembro e até 12 de dezembro, D. Maria Raquel Capeta Alvarez Duarte Santos, Vice-Presidente da Federação Espírita Portuguesa, em visita à FEB e também para participar, a convite desta e da ABRAJEE, e como representante daquela Federação coirmã, do VII Congresso de Jornalistas e Escritores Espíritas.

            Foi edificante para todos os seus confrades brasileiros, a presença e as manifestações dessa lídima representante do Movimento Espírita Português.

            Em "Notícias Diversas", vão referidos, já neste número de nossa Revista, alguns dos muitos contatos mantidos pela nossa visitante com diversas entidades espíritas brasileiras e de suas múltiplas atividades em nosso país.

            Neste momento queremos apenas tornar conhecido o teor das mensagens que, motivadas peio estreitamento dos laços fraternais entre o Brasil e Portugal espíritas, e ensejados pela visita da nossa caríssima irmã, foram dadas em sucessivas sessões do "Grupo Ismael", na Federação Espírita Brasileira.
             Eis as mensagens, na ordem em que foram recebidas.

LUMINOSA ALIANÇA

            Do País da Luz,  contemplo, desvanecido, as luzes magníficas que clareiam os nossos terrenos países e que neste glorioso instante se entrelaçam, qual se fora para ainda mais liga-los através da ponte multicolorida de um arco-íris de amor.

            Dir-se-á, talvez, que não é deles que nascem e se projetam esses maravilhosos raios; que toda a luminosidade terrestre deriva da grande lâmpada solar e não passa de simples reflexos; que tudo na face do orbe é ilusão, clareada pelo esplendor do Sol, apesar da condição opaca de nosso pobre planeta.

            Sim, dir-se-á tal, quem sabe? Nada obsta, porém, que a luz da grande estrela tudo vivifique e faça resplander; que nasça, cada dia, uma manhã festiva que as flores desabrochem, ridentes, nos hastis, e que os frutos amadurem nas árvores fecundas.

            Nada obsta, igualmente, que o Amor Solar do Cristo seja refletido pelas almas sinceras e plenas de ideal, o que esses reflexos, de sublimada beleza, espanquem, sobranceiros e vitoriosos, os novelos de treva que tanta vez ameaçam a face de nossos alcantis.

            Se Ismael e Helil se entrelaçam na luz de excelsa fraternidade e erguem, Juntos ao Arcanjo Supremo, o pensamento em prece, o mover de seus braços intangíveis cria jorros de tão Intraduzível claridade, que nenhum Sol físico jamais conseguiria fabricar.

            Portugal e Brasil, fiéis à augusta missão que o Mestre Excelso lhes assinalou, no Tempo e na História, selam agora portentosos compromissos de fundação evangélica, à face de todo um porvir que desde já se parteja, no berço generoso de uma aliança de trabalho comum e amor construtivo.

            Felizes operários, em serviço nestas terras benditas, neste momento de glórias indizíveis, somos naturais beneficiários dessa alvorada que jamais entardecerá, ainda que nuvens gigantescas possam temporariamente dar a impressão de noite irreversível.

            Avante, pois, Amigos e Irmãos, na faina abençoada que o Grande Arquiteto comanda do Infinito!

            Do chão da nossa solidariedade fraterna e alma, se erguerá um mundo novo - a Nova Jerusalém que nunca será destruída.

Fernando de Lacerda

Hernani T. de Sant'Anna,

em  22-11-1979, no "Grupo lsmael",
na FEB, no Rio de Janeiro-RJ.)



DE MAOS DADAS

            Oiço dizer, frequentemente, desde tempos, que o Velho Mundo se esboroa; e, quando em vez, guardo a dolorosa impressão de haver sentido, no tom em que se vaza tal afirmativa, um laivo de ironia ou menosprezo. Entendo justíssimo se acalente a jubilosa esperança, e mais do que esperança, a gloriosa certeza da venturosa missão do Novo Mundo, à frente do próximo milênio que rapidamente se avizinha; entretanto, não acolho no coração que se desmereça o berço onde nasceu a nossa civilização ocidental, regada com as lágrimas dos santos e com o sangue dos mártires.

         Se a lógica mais rudimental repudiaria qualquer desperdício na economia de qualquer processo vital, carece de sentido, no campo de nossas cogitações espirituais, o mais leve pressuposto de inutilidade ou de descrédito, quando se trata de um ninho de povos de rica cultura e honoráveis tradições.

         De muito longe amo as gentes do meu Portugal, da França e da Itália, não por excesso de sentimento em relação à minha velha Pádua, mas porque, ao longo dos horizontes de toda a Europa, meu Espírito sempre se derramou de ternuras pelas gentes irmãs que nela habitaram e habitam.

         Esse amor não foi jamais exclusivista, porquanto nada pode limitar-se no serviço dos ideais do Cristo a quem seguimos.

         Tive a ventura de sentir a beleza e a glória dos céus e das terras deste mundo novo, nas plagas de Santa Cruz. Também aqui fui sacerdote, aqui fui pregador e fui Antônio.
        
          Lembram-me ainda pelos sermões que proferi, pelo que deixei registrado, pelo que contam,  até agora, do meu famoso "estalo". Preferiria que me recordassem peio amor com que amei e pelo fervor com que busquei servir aos nossos ideais maiores.  

         Perdoem-me se meu falar de agora dá impressão de que prezo as justificativas pessoais ou me interesso por colocações palavrescas.

         Na verdade, em nada se me dá o juízo humano, na atribuição de santidades a que me não candidatei, ou na critica, nem sempre isenta, aos meus dizeres.

         O que me faz aqui vir, e de novo grafar letras no papel terrestre, é o imenso desejo de cooperar nesta sublime Cruzada do Evangelismo Espírita, que brasileiros e portugueses organizam, para a conquista final do mundo para o Cristo.

         Nesse tecer da um novo esquema, a Europa é o primeiro objetivo, ao lado das Américas, sem que isso signifique qualquer preterição aos outros Continentes.

         Aqueles povos sofridos e idealistas, que experimentarão, muito em breve, o fogo terrível das supremas provações, merecem e precisam receber, com urgência, o socorro da Nova Mensagem do Mestre Imortal.

         Peço-lhes que não pensem em Civilizações ou povos que se substituem, mas em povos e civilizações que se Irmanam e se somam, para a grande batalha da Luz.

         Não há Mundo Velho o Mundo Novo. O mundo é um só. E nossos povos não se haverão de sobrepor-se ou suceder-se, mas de trabalhar, de mãos dadas, sob as bênçãos excelsas de Jesus.

Antonio

Hernani T. de Sant’Anna
FEB-Rio, em 29 da novembro de 1979



HELIL E ISMAEL

            Irmãos e filhos em Nosso Senhor Jesus-Cristo, a paz seja convosco.

         O amor é a lei, que pressupõe ordem e harmonia para a vida. Por Isso, em todas as dimensões do universo, as forças que dirigem a Natureza, sob o influxo divino, asseguram, através de insuspeitados mecanismos, o equilíbrio indispensável, dosando as tensões e prevenindo excessos de predação dos instintos em conflito.

         Nas esferas superiores, os Gênios dos Povos organizam a ação Inteligente que protege a existência em todos os quadrantes do orbe, de tal modo que, sem jamais inibir a ação de nenhum ser, garantam a continuidade do progresso.

         Eis por que a maldade, filha da ignorância, não conseguiu levar a subversão da ordem das coisas até além de limites suportáveis para as coletividades humanas. O Céu sempre velou, solicito, por todos.

         Atingimos, porém, aquele patamar da evolução comum, em que a necessidade de crescimento impõe decisivas ascensões, para que a marcha sublime para os píncaros não cesse. Nessa hora, a Infinita Misericórdia do Eterno Pai supera os  condicionamentos normais da ordem costumeira, a fim de que ninguém deixe do receber o estímulo santo de todas as oportunidades de redenção.

         Para um equilíbrio em nível mais alto, as tensões devem mediar-se na plenitude das forças dinâmicas, de modo que a luz triunfante seja a alvorada a nascer do bojo oculto da noite.

         De repente, abrem-se as comportas das contensões habituais e os vales infernais, rasgados pelo poder da permissão de Mais Alto, dão acesso à luz do dia, na superfície da Crosta Planetária, a todos os que se esconderam nos abismos.


         Então, um caos aparente parece, aos mais tímidos ameaçar a estabilidade da Civilização e pejar o mundo de sombras.

         A resistência dos operários do Bem não pode, porém, ser temerosa e defensiva, como se o jejum e a penitência devessem ser a antevéspera da rendição.  Muito ao contrário, os infantes de Jesus precisam erguer bem alto o estandarte do amor que age e constrói, sereno e confiante.

         Se as comunidades humanas multiplicam agora as suas necessidades de socorro e de luz, os seareiros do Senhor estarão a postos, na vanguarda de todas as posições para levar a todos os Espíritos o remédio e a consolação dos Evangelhos.

         O Divino Condutor convoca, nesta hora, as primícias das Nações, para a conquista do mundo para Deus.

         Coragem, pois, meus filhos. Que a vossa fé, tantas vezes provada na luta e na adversidade, vos leve, nos novos mares da Graça, à Suprema Glória de erigir, na Terra, o Tabernáculo Divino.

         Agora, Glorioso lsmael,  peço-te permissão para ajoelhar-me no chão da tua Casa e rogar ao Cristo Celeste que proteja e abençoe o meu povo e o teu povo. Que juntos e irmanados possamos ser fiéis  à nossa velha vocação de serviço, e que, na nova Cruzada que todos empreendemos, vença, em toda parte, o Amor de nosso Pai.

Helil

            (Mensagem recebida no "Grupo Ismael", da Federação Espírita Brasileira, no Rio de Janeiro-RJ , aos 6 de dezembro de 1979 pelo médium Hernaní T. Sant'Anna. Estava presente como convidada do Presidente da FEB,  D. Maria Raquel Capeto AIvarez Duarte Santos, Vice-Presidente da FEDERAÇÁO ESPIRITA PORTUGUESA, a representante do Movimento Espírita Português, visitando a FEB e o Movimento Espírita Brasileiro, inclusive  "VII Congresso de jornalistas e Escritores Espíritas”, realizado, de 15 a 18-11-1979, no Rio de Janeiro-RJ, sob o  patrocínio da Federação Espírita Brasileira e promoção  da Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores Espíritas - ABRAJEE.)


segunda-feira, 2 de maio de 2011

02 Helil, o encarregado dos problemas sociológicos na Terra



Notas Históricas sobre Hilel


Celso Martins
Reformador (FEB)  Fevereiro 1981

  1. A palavra de Allan Kardec

            Quando estudamos com afinco a Doutrina dos Espíritos, encontramos em O Evangelho segundo o Espiritismo, nas Notícias Históricas, inseridas na Introdução da mencionada obra básica, a informação de Allan Kardec de que, entre as seitas judaicas mais influentes, ao tempo de Jesus, sobressaía-se a dos fariseus, cuja origem remonta aos anos 180 ou 200 a.C.. Apesar de duramente perseguidos, conseguiram manter-se no cenário religioso até o ano 70 da Era Cristã, quando desapareceram com a dispersão do povo judeu no mundo.

            Informa ainda o insígne Codificador terem os fariseus exercido papel ativo nas controvérsias religiosas por observarem rigorosamente as práticas exteriores das cerimônias do culto. Na verdade, muitos deles, debaixo das aparências de meticulosa devoção, escondiam costumes dissolutos, excessivo desejo de dominação (tanto que eram poderosos em Jerusalém); e o povo, que não lhes conhecia o lado negativo das intenções, os tinha na conta de criaturas virtuosas. Jesus, no entanto, que lhes devassava os mais íntimos pensamentos, sabendo de sua hipocrisia, freqüentemente os desmascarava em público, nascendo daí então a ligação dos referidos fariseus com os demais companheiros do Sinédrio, para levantar o povo contra o Mestre, e fazê-lo sacrificar.

            Tudo isso aprendemos lendo a obra de Kardec. Pois bem, é ainda aí que aparece o nome de Hilel. Aparece como um chefe dos fariseus, na qualidade de um doutor judeu, nascido na Babilônia, fundador de uma célebre escola, onde - ainda consoante a informação de Kardec - se ensinava que a fé era dada pelas Escrituras.

2. A referência de Humberto de Campos

            Posteriormente, o estudante das obras espíritas vai encontrar nova referência a Hilel (o mesmo Helil) na obra mediúnica Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, do Espírito de Humberto de Campos, através de psicografia de Francisco Cândido Xavier, livro que apareceu, em 1ª edição, em 1938. Esta nova citação aparece no capítulo inicial. O Cordeiro de Deus realizava ‘uma de suas visitas periódicas à Terra, a fim de observar os progressos de sua doutrina e de seus exemplos no coração dos homens.’ Uma corte maravilhosa de Espíritos Superiores o acompanhava nessa peregrinação, clarificando os caminhos cheios de trevas; Jesus contemplou então o planeta terreno que ‘lhe apresentava ainda aquelas mesmas veredas escuras, cheias da lama da impenitência e do orgulho das criaturas humanas, e repletas dos espinhos da ingratidão e do egoísmo. Embalde seus olhos compassivos procuraram o ninho doce do seu Evangelho; em vão procurou o Senhor os remanescentes da obra de um dos seus últimos enviados à face do orbe terrestre. No coração da Úmbria havia cessado os cânticos de amor e de fraternidade cristã. De Francisco de Assis só haviam ficado as tradições de carinho e de bondade; os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio, haviam descido outra vez das selvas misteriosas das iniqüidades humanas, roubando às criaturas a paz e aniquilando-lhes a vida.’

            Nesta ocasião surge um emissário solícito que tentou alinhavar alguma desculpa, à guisa de explicação, como que desejando desfazer a penosa impressão do Mestre acerca das guerras religiosas que semeavam luto e dor sobre o mundo de então. Este emissário solícito que acompanhava Jesus - era Helil!

            Em seguida, a caravana celestial procurou concentrar sua atenção em continentes ainda desconhecidos onde Espíritos jovens e simples aguardavam a semente de uma nova vida. Vieram, pois, visitar, além dos mares, as terras que, um pouco mais tarde, seriam consideradas o continente americano. E se detiveram no Brasil. Mãos erguidas para o alto, como que invocando as bênçãos de Deus para todos os elementos daquele solo extraordinário e opulento. Jesus, suave e mansamente assim se expressa:

            - “Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo, todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes céus serão entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai Celestial. (...) Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo!”

            Nesta mesma ocasião, o Mestre designava para  Helil uma nova vida corpórea ‘no seio do povo mais nobre e mais trabalhador do Ocidente’, onde seria instalada ‘uma tenda de trabalho para a nação mais humilde da Europa, glorificando os seus esforços na oficina de Deus”.

            Com efeito, Hilel (o mesmo Helil) reencarnava em Portugal em 1394, na personalidade do infante Dom Henrique (ver Brasil, Mais Além!, de Duílio Lena Bérni, edição da FEB). Graças a seu denodado esforço, instituiu-se a famosa Escola de Sagres, concentrando-se aí todos os conhecimentos aperfeiçoadores da arte de navegar, atraindo sábios a geógrafos da época, bem como navegantes de nomeada, dando aos portugueses condições de se lançarem aos mares nunca dantes navegados (como cantou Camões) e de descobrirem novas paisagens na costa ocidental da África, o caminho marítimo para as índias e sobretudo o nosso Brasil, a 1500, por Pedro Álvares Cabral. Lançam-se assim os pródromos de uma nação, em cujo seio promissor os elementos indígenas, africano e português - as três raças tristes, na opinião de Ronald de Carvalho - haveriam de construir os fundamentos de uma nacionalidade para a germinação sublime da semente sacrossanta dos ensinamentos eternos de Jesus!

  1. O Homaranismo de Zamenhof
            Escrevendo em Reformador, lá pelos idos de 1937 (pág. 532 e seguinte), Ismael Gomes Braga tecia comentários sobre o Hilelismo. Presumia o saudoso professor decerto somente os esperantistas conhecessem o assunto por ter sido tema que também empolgara a vida de Zamenhof. E, de fato, como já ressaltou Francisco Thiesen, no prefácio do livro Brasil, Mais Além!, já citado, Zamenhof, em seu ardoroso desejo de irmanar a Humanidade, dedicou-se também a um movimento, à parte do Esperanto, a que deu o nome de Homaranismo. Thiesen recorda inclusive o livro Zamenhof - Iniciador do Esperanto, de A. López Luna, tradução de Carlos Domingues, publicado pelos Irmãos Pongetti - Editores em 1959 (ano do centenário de nascimento do autor da Língua Internacional). Neste livro aparece trecho de uma carta do ilustre médico polonês a Alfredo Michaux, onde se lê o seguinte: “Desde a mais remota infância entreguei-me a um único e para mim supremo ideal: o de unir a Humanidade. Este ideal é o fim e o objetivo da minha vida toda, e o Esperanto só uma parte dele...”

            O Homaranismo, como movimento tendente a irmanar os homens, a despeito de suas divergências religiosas raciais, só apareceu em 1906. Antes, Zamenhof lançara um opúsculo, redigido em russo, que não recebeu a devida atenção. opúsculo esse sob o título de Hilelismo, e com o pseudônimo literário de Homo Sum. Facilmente se percebe que o Homaranismo é o mesmo Hilelismo apenas com um nome novo. Inclusive consta do Plena Vortaro de Esperanto, 5ª edição de 1956, editado pela Sennacieca Asocio Tutmonda, a seguinte definição à pág. 176: “Doktrino postulanta, ke ciu rigardu kaj amu ciulandajn homojn kiel  siajn fratojn.” Quer dizer, doutrina que pede que cada um olhe e ame os homens de outros países como irmãos? Que é isso senão  a confraternização universal? Senão a confraternização de todos para o bem estar geral da Humanidade?

            Ligeira síntese do Homaranismo poderia aqui ser apresentada. Ei-la: A Humanidade é uma só família. Não devemos julgar os homens por sua raça, mas por suas boas ou más ações. Não devemos procurar impor aos outros nem a nossa língua nem a nossa crença. O patriotismo não deve degenerar em patriotice. A língua não é um fim; é apenas um meio. Com aqueles que não conhecem o nosso idioma usemos uma língua neutra (no caso, o Esperanto). A religião não deve ser herdada dos pais; deve ser adotada livremente com plena consciência. Sejamos tolerantes e compreensivos para com aqueles que não têm os nossos mesmos ideais. Cultivemos sentimentos fraternais para com os nossos semelhantes.

            Que é isto senão o ensinamento máximo do Cristo segundo o qual devemos amar o próximo como a nós mesmos?

            Por este resumo podemos notar como foi grande Zamenhof! Como foi nobre a sua vida! Como foram puros os seus ideais em benefício da Humanidade!

            O movimento espírita nacional, com o apoio da FEB, prestigia o Esperanto, porque os mesmos propósitos fraternistas inspiram os nossos esforços em prol de um mundo melhor, de uma Humanidade mais irmanada, em observância aos ensinos e aos exemplos legados há vinte séculos por Jesus!

4. Uma questão de Ortografia

            Embora os livros da FEB apresentem a forma Helil, as enciclopédias em geral fazem constar Hilel ou Hilel. Sobre este assunto, Ismael Gomes Braga, em Reformador de 1937, já citado antes, dava preferência a Hilel, e não a Helil, conquanto - argumentava ele - as trocas de vogais sejam de todo insignificantes em nomes hebraicos, porque temos visto o nosso próprio nome escrito Esmael e Ismael, sendo esta última forma a única empregada pelos povos árabes.

            Temos, então, Helil, forma árabe, e Hilel, forma hebraica.

5. Dados obtidos por Zêus Wantuil

            Quando da elaboração do prefácio do livro de Duílio L. Bérni, Francisco Thiesen, homem amante de pesquisas históricas sobre o Espiritismo, manifestou desejo de fazer um como que levantamento da vida e obra de Hilel, no que foi prontamente assessorado pelo confrade Zêus Wantuil. Este companheiro, de igual modo afeito às consultas biográficas junto às obras especializadas, atirou-se ao trabalho e, pouco depois, lhe trazia, devidamente xerocado e classificado, farto material recolhido junto à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, como podemos ver na lista que se segue:

1º)       La Grande Encyclopedia - Vol. XX - pp. 81 e 82.
2º)       The New Encyclopaedia Britannica - Vol. 8 - p. 873.
3º)       Encyclopaedia Britannica - Vol 11 - p. 496 e Vol 21 - p.641.
4º)       Verbo-Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura - Vol. 10 - coluna 169.
5º)       Enciclopédia Brasileira Mérito - Vol. 10 - p. 579.
6º)       The Universal Jewish Encyclopedia - Vol. 5 - pp. 362 e 363.
7º)       The Catholic Encyclopaedia - Vol. 7 - pp. 354 e 355.
8º)       Encyclopaedia of Religion and Ethics - Vol. 6 - pp. 681 a 684.

            Por motivo de saúde, Thiesen não pode completar sua tarefa. Através de Alberto Nogueira da Gama, nosso velho amigo de atividades espíritas, recebemos seu convite para cooperar neste labor. Por sinal, demasiado pesado para nossos tão fracos ombros. Os companheiros supuseram-nos mais capaz do que realmente somos. Ora, tendo debaixo dos olhos todo o material recolhido por Zêus Wantuil, de igual maneira atiramo-nos ao trabalho de compilação, mesmo porque o tema diz respeito também ao Esperanto e ao Dr. Zamenhof, o que nos deixou muito mais alegre ainda!

            Dentro de nossas notórias limitações, fizemos quanto pudemos, como os leitores lerão a seguir:

6. Afinal, quem foi Hilel ou Helil?

            Hilel foi um célebre rabino do século I. a.C.. Logo, foi um doutor judeu durante parte do reinado de Herodes. Nasceu na Babilônia, cerca de 70 a.C. e desencarnou no ano 10 da Era Cristã. Tais dados são da The Catholic Encyclopaedia, devendo ser dito desde já que em torno de sua vida muito há de lenda e fantasia, chegando certos hebreus a tentarem uma comparação entre a sua existência e a de Moisés. Assim, Hilel teria vivido 120 anos, dos quais os quarenta primeiros em sua terra natal, os quarenta seguintes na Palestina, como trabalhador braçal, e os últimos quarenta como líder religioso.

            Cognominado de Ancião e de Babilônico, descendia, de um lado, da tribo de Benjamim, e, de outra parte, do próprio Rei David. Não confundí-lo com Hilel  2º, o Moço, também doutor judeu, porém do século IV, patriarca de seu povo durante o Império Romano, e que possivelmente teria sido o autor de uma reforma do calendário judaico. A FEB em 1947 incluiu uma nota em O Evangelho segundo o Espiritismo alertando para que não se confundisse o Hilel, citado por Kardec, com um seu homônimo, que vivera 200 anos mais tarde e que estabelecera os princípios religiosos e sociais de um sistema todo de tolerância e amor, sistema (ainda conforme a nota da FEB) hoje conhecido por Hilelismo.

            Como a Babilônia de sua época não oferecesse condições de se adquirir uma sólida educação religiosa, Hilel procurou ampliar seus horizontes em Jerusalém, onde, trabalhando como operário braçal (cortador de madeira), muito lutou para manter-se a si e aos seus. Mesmo assim, conseguiu amealhar algum dinheiro para custear sua instrução acerca da palavra de Iavé, tendo Shemaiah e Abtalion como instrutores seus. 

            O ambiente de Jerusalém, no entanto, lhe era adverso. Seu temperamento pacífico não poderia sentir-se bem aí, onde dissenções entre fariseus e saduceus e perseguições movidas por Herodes aos líderes religiosos só lhe poderiam magoar a sensibilidade aprimorada. Regressou à terra natal, Voltou à Palestina aos 80 anos de idade, como consta das tradições judaicas. Estavam então em evidência, no Sinédrio, os filhos de Batheira ou batheiritas, que contavam inclusive com o apoio do Rei Herodes.

            Certa ocasião teria surgido uma divergência entre os judeus acerca de um sacrifício a ser oferecido no sábado (dia de repouso). A solução oferecida pelos batheiritas não foi tão brilhante como a de Hilel. Depois deste incidente, fez-se ele chefe ou príncipe (Nasi) dentre seus companheiros no Sinedrim, título este que foi passando a seus descendentes até o ano 70 de nossa era, quando se deu, já dissemos, a dispersão do povo israelita pelo mundo.

            A Encyclopaedia Britannica (Vol. 21, pp. 641 e seguintes), no verbete sobre o Talmud, cita Gamaliel como neto de Hilel. Gamaliel é nosso conhecido dos Atos, capítulo 5, vv. 38 e 39, onde, considerado mestre da lei, fariseu muito acatado pelo povo, defende os apóstolos, declarando: - “Dai de mão a estes homens, deixai-os; porque se este conselho ou esta obra vem dos homens, perecerá. Mas se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus.”

            Destacando-se dentre os batheiritas, Hilel foi guindado à presidência do Sinédrio, no que foi, de certa forma, apoiado pelo próprio Herodes. Assim se expressa a Encyclopaedia of Religion and Ethics: “His main support may have been Herod, who, at this period of his reign was anxious for peace, and, therefore, not disinclined to the election of a man of peace such Hillel was, to the presidency.” Quer dizer, seu principal apoio pode ter sido Herodes que, a esta altura de seu reinado, estava ansioso de paz, e, por esta razão, não se indispôs com a eleição de um homem de paz como Hilel para a presidência (do Sinédrio, naturalmente).

            As fontes históricas, aliás, são unânimes em dar destaque às qualidades morais de Hilel. Embora ele não concordasse com o rigorismo do Vice-Presidente Shammai, inclinado a uma rígida interpretação da Lei, Hilel conseguiu cativar a simpatia de seus correligionários apresentando-se  como uma criatura de uma disposição voltada para o entendimento fraterno, uma criatura de genuína humildade, de verdadeira piedade religiosa, está visto uma exceção ao comportamento dissoluto dos fariseus de então. Chegou a ser considerado um exemplo brilhante das virtudes que sua religião consagrava. Um autêntico educador de ética, de uma moralidade superior, não apenas pelas prédicas mas sobretudo pela força maior de seus exemplos nobres!

            Ismael Gomes Braga, em Reformador de novembro de 1957, p. 263, cita um fato, que é repetido por Thiesen no prefácio ao livro Brasil, Mais Além!, digno de citação aqui: Um estranho procurou Shammai e lhe disse: - Quero que me exponhas toda a doutrina judaica, mas num resumo tão rápido que eu a aprenda enquanto me possa manter de pé sobre um só pé. Ora, Shammai, que levara anos e anos a  estudar a lei e a achava muito vasta, percebendo que o interlocutor não queria senão escarnecer dele e de sua crença, encolerizou-se e correu o homem de sua presença. Não se dando por achado, o homemzinho procurou Hilel para fazer a mesma indagação. Calmamente o doutor da Lei explicou: - Faze aos outros o que queiras que os outros te façam. O estranho espantou-se com a resposta paciente de Hilel e replicou: - É só isso a doutrina toda? Ao que completa o sábio: - Sim, é só isto. Tudo o mais são comentários.

            Efetivamente, sua regra de ouro era exatamente esta: Não faças aos outros aquilo que seja odioso para ti mesmo. Hilel empenhava-se em recomendar o amor e a busca da paz em termos de confraternização. Insistia muito no amor à Humanidade. E fazia-o de modo tão intenso que muitos escritores modernos admitem sua influência sobre os ensinamentos de Jesus e mesmo sobre as bases do Cristianismo nascente.

            A ele se atribuiu o Prozbul (Declaração perante o Conselho), pelo qual era garantido aos credores, no ano sabático, receberem o que lhes era devido diante de um tribunal. Podemos dizer que toda a tradição observada pelos fariseus se codificou em obras como o Talmud e a Mishna ou Mixena. Pois bem, Hilel  (ou Helil) elaborou um método de exegese dos textos religiosos, conhecido como As Sete Regras, tornando-se por isso um dos pioneiros do Talmud. Semelhante trabalho serviu de base para a elaboração de regras mais aperfeiçoadas na segunda centúria da Era Cristã. Tanto como coletou máximas de doutores anteriores, formando o texto básico da Mixena.

            Seus ensinamentos ganharam popularidade por terem sido expressos em aramaico, sua língua nativa, e em hebraico. Dentre eles podemos citar:

1.         Não te apartes da comunidade (convite à fraternidade).
2.         Não tenhas confiança em ti mesmo até o dia de tua morte (advertência contra o orgulho e a prepotência);
3.         Não declares “Quando tiver um tempo livre, aí então estudarei” porque talvez jamais terás este tempo livre (exortação ao estudo como meio de aperfeiçoamento individual).

            Vejam os prezados leitores esta frase de Hilel, o mesmo Helil:

            Não julgues o teu próximo até que te tenhas colocado no lugar dele
        
            Que bela lição que preconiza a indulgência para com as faltas alheias! Todos esses ensinamentos de sabedoria, expressos de maneira tão clara e tão simples, emoldurados por exemplos de bondade e de piedade, fizeram de Hilel o ideal e o símbolo da vida farisaica verdadeira, não aqueloutra corrompida, contra a qual se manifestara o próprio Mestre Jesus!

                                   ***

            Hilel, como acabamos de ver, já naquela época, era um espírito que reencarnara na Terra para fazer acelerar o progresso moral de seus companheiros. Haveria de voltar à Terra como o Infante Dom Henrique com o mesmo propósito. Preocupando-se, mais tarde, Zamenhof com o ideal homaranista, vemos então que Deus nunca nos deixou abandonados às nossas próprias sombras. Legando-nos como exemplo máximo a figura extraordinária de Jesus, o plano maior sempre teve o cuidado de nos oferecer irmãos desejosos de nos arrancar de nossas imperfeições para as suaves claridades da evolução moral em busca da Perfeição no Infinito Amor de Deus!