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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

01 / 03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus





01/03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus


por Clóvis Ramos
inReformador”(FEB)  Março 1981


I – O Navegador

            Quem lê a biografia de D. Henrique, Infante de Portugal, ou Infante de Sagres, cognominado O Navegador, herói da guerra contra os mouros, logo reconhece o papel extraordinário, de grande significação espiritual, a missão nitidamente religiosa que a ele coube no inicio dos tempos modernos, na fase dos Descobrimentos.  Toda sua vida – vocação genuína de um servo de Deus.

            O Cavaleiro de Ceuta... Um místico, que nos traz à lembrança profecias antigas, videntes que anteviram, com precisão, os acontecimentos que se realizariam séculos depois, Isto desde Moisés, livrando seu povo da escravidão do Egito ("Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim"), de lsaias, Jeremias, até João, o Batista. Preparavam os caminhos do Senhor, que, afinal, veio a este mundo e não foi reconhecido, e tudo padeceu por amar a Deus e ao próximo mais do que a si mesmo: Cristo, o Messias, o Nazareno, só aparentemente vencido na cruz e que atraiu tudo a si, e construiu, nos corações, um Reino de amor!

            D. Henrique tem, para nós, o porte de uma figura bíblica de quem (re) nasceu para grandes feitos, como, outrora, Israel batalhando pela terra de leite e mel, prometida a Abraão por seu Deus, a a Isaque e a Jacó, e a todos os patriarcas do povo hebreu, aos que vierem depois, e aos de agora.  E não seria o Brasil, que o Infante vislumbrou em suas visões, a Canaã verdadeira, onde o Senhor ergueria a sua tenda, seu tabernáculo? Só um povo como o povo português, temente a Deus, sempre querendo a expansão da fé, é que podia, com efeito, achar o caminho, não só das Índias, mas do Futuro, dos tempos novos, e - por que não dizer? - de tempos que ainda virão.

            Tentaremos, em três artigos, mostrar na sua grandeza de enviado de Deus, a D. Henrique, que sonhou com as honras da cavalaria, e conquistou, para sua gente, um reino cristão – consoladora realidade da pátria do Cruzeiro, este Brasil que, como afirmou Emmanuel no prefácio de "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", de Humberto de Campos. "não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta, mas, também facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais". Porque - disse o Guia de Francisco Cândido Xavier – “se outros povos atestaram o progresso, pelas expressões materializadas e transitórias, o Brasil terá a sua expressão imortal na vida do espírito, representando a fonte de um pensamento novo, sem as ideologias da separatividade, e iluminando todos os campos das atividades humanas com uma nova luz.”

            Deus nunca deixou de falar aos  homens através dos seus profetas, e, se D. Henrique foi um deles, quando encarregado, em 1412, de organizar, na sua cidade  natal, a frota que iria à peleja em Ceuta, Francisco Cândido Xavier, é dos últimos a transmitir-nos a palavra do mais além. Profetizou, também, por meio dele, Humberto de Campos,  Espírito, apontando-nos as claridades do futuro: "Não nos compete estacionar, em nenhuma circunstância e sim marchar, sempre, com a educação e com a fé realizadora ao encontro do Brasil, na sua admirável espiritualidade e  na sua grandeza imperecível."           

             Antes de entrarmos no exame da participação do filho do Rei D. João I e de FiIipa de Lancastre, nascido no Porto a 4-3-1394 e desencarnado na Vila do Infante (cabo de Sagres ), a 13-11-1460, registremos, para uma melhor compreensão de sua causa grandiosa, outras palavras de Humberto  - depois Irmão X -, esclarecendo o porquê ,do seu livro, hoje clássico, sobre a Missão do Brasil, essencialmente evangélica, a tarefa que, entre nós, se cumpre de modo luminoso, pela Federação Espírita Brasileira, cada vez mais unida à de Portugal, e por outras instituições espíritas do nosso país.  

            - "I ... ) o Brasil espiritual, o Brasil evangélico, em cujas estradas cheias de esperança, luta, sonha e trabalha o povo fraternal e generoso, cuja alma é a "flor amorosa de três raças tristes,''', na expressão harmoniosa de um dos seus poetas mais eminentes. "

            - "Jesus transplantou da Palestina para a região do Cruzeiro a árvore magnânima do seu Evangelho, a fim de que os seus rebentos delicados florescessem de novo, frutificando em obras de amor para todas as criaturas."

            - "( ... ) não obstante todas as surpresas das ideologias modernas, a lição do Cristo aí está no planeta, aguardando a compreensão geral do seu sentido profundo. Sobre ela, levantaram-se filosofias complicadas e as mais extravagantes teorias salvacionistas. Em seu favor, muitos milhares de livros foram editados e algumas guerras ensanguentaram o roteiro dos povos. Entretanto, a sublime exemplificação do Divino Mestre, na sua expressão pura e simples, só pede a humildade e o amor da criatura, para ser devidamente compreendida. Do seu entendimento decorre aquele "Reino de Deus" em cada coração, de que falava o Senhor nas suas meigas pregações  do Tiberíades - reino de amor fraternal, cuja luz é o único elemento capaz de salvar o mundo que se encaminha para os desfiladeiros da destruição."

            Humberto de Campos colimou provar, e o conseguiu, "( ... ) a excelência de missão evangélica do Brasil no concerto dos povos e que, acima de tudo, todas as suas realizações e todos os seus feitos, forros dos miseráveis troféus das glórias sanguinolentas, tiveram suas origens profundas no plano espiritual, de onde Jesus, pelas mãos carinhosas de Ismael, acompanha desveladamente a evolução de pátria extraordinária, em cujos céus fulguram as estrelas da cruz.”

            Mostrado, por quem tem autoridade, o destino do Brasil no mundo moderno, num autêntico renascimento cristão, voltemos ao convívio dos que escreveram sobre O Infante de Sagres, dentre os quais se destacaram Duarte Pacheco, Damião de Góis, Zurara, D. Leite, Diogo Gomes, João de Barros e, mais próximos de nós, João Grave, que pertenceu à Academia Brasileira de Letras, no Dicionário Lello Universal, organizado e publicado sob a direção de ambos, e, em nossos dias, Francisco Thiesen e Duilio Lena Bérni.

            No Novo Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro, editado do pela Livraria Lello, do Porto, está: "( ... ) um dos nomes mais Ilustres não só da história de Portugal como da história da civilização europeia.  Tomou parte gloriosa na expedição a Ceuta e aí colheu informações que o confirmaram na crença de que havia muitas terras a descobrir para além do cabo Bojador, limite  das navegações desse tempo. De volta de Ceuta, foi estabelecer-se no promontório de Sagres, junto ao cabo São Vicente, e aí (...),  teria fundado uma escola de navegação, um observatório astronômico e estaleiros para construção de navios. Chamou do estrangeiro cosmógrafos e matemáticos Ilustres e, com eles e alguns cavaleiros da sua casa, se entregou ao estudo das cartas marítimas. Todos os anos, uma caravela, armada à sua custa e capitaneada por um cavaleiro ou escudeiro do seu serviço, partia à descoberta, mar em fora. Quando o Infante morreu (1460), deixava reconhecida a costa africana até Serra Leoa e preparando o  grande feito que Vasco da Gama realizou trinta e oito anos depois."

            Seu perfil está muito bem delineado na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, que dele se ocupou às fls. 76 a 90 – material que nos chegou à mãos por nímia gentileza do Presidente da Federação Espírita Brasileira, Francisco Thiesen,  para que preparássemos estas notas. E lemos à página 76: "Quase nada se sabe dos seus primeiros anos. Crescendo em convívio o com os irmãos, no ambiente doméstico mantido pelo ponderado realismo do pai e vivificado pela suave austeridade mística da mãe D. Henrique teria recebido uma séria formação religiosa e moral, de par com o adestramento físico e o desenvolvimento da Inteligência. Menos Intelectual que seus irmãos mais velhos - D. Duarte e D. Pedro -  predominavam nele, como em seu pai (com quem mais se parecia  no aspecto e no caráter, e de quem era, talvez por isso, o filho mais estimado),  e o gosto pela vida ativa, interessando-se sobretudo a caça, o cavalgar, as façanhas guerreira, as  aventuras implicando denodo, pertinácia, sacrifício heroico com finalidade mística embora, mas com fruto útil. Sóbrio e austero, jejuava a miúdo, e parece que usou cilícios durante toda a vida. Uma relíquia sagrada que a mãe lhe dera, trouxe-a sempre ao pescoço. Não casou; e, se, jovem, não desdenhara o galanteio das damas, parece, todavia, que "virgem o comeu a terra" (Zurara). Melhor que qualquer outro documento, o preâmbulo do seu testamento revela o clima espiritual de toda sua vivência e ação: é  um católico consciente que vive a crença, considerando (como diz em outro sítio ) "Os trabalhos dos homens principalmente  deverem ser por serviço de nosso senhor Deus, e assim de seu senhor, por que hajam de receber galardão de glória na outra vida, "e em este mundo honra e estado". Assim, se  "teve sempre o desejo de fazer guerra aos infiéis e de  converter os pagãos, "foi igualmente solicito em fecundos projetos utilitários que não estavam em contradição com os Interesses da fé” (D. Leite).  Por outro lado, na sua devassa do mundo desconhecido, aproveitando embora a sabedoria dos livros e dos homens, não deixa, porém - e isso o caracteriza essencialmente - de tentar substituí-la pela lição positiva da experiência, que ativa e porfiadamente procurou, por meio do seus navegadores e exploradores. "

            Este retrato comprova o que dissemos no começo: D. Henrique, um Servo de Deus, ele também um enviado em missão de preparar os caminhos do Senhor, em mundos novos que se achariam pelo Atlântico. Pelo que se leu, vê-se que tinha o senso das coisas práticas e úteis, a religiosidade das grandes almas; bom e austero, que vivia de sua crença sincera, a serviço de Deus, à espere do galardão na outra vida. O ponderado realismo do pai e a suave autoridade mística da mãe  -os elementos formadores de sua personalidade, de seu caráter de escol.

            Outros pontos quo vale ressaltar, respigado dos textos dos seus biógrafos: Fora batizado pelo Bispo de Viseu; sua bandeira - pendão tricolor - na esquadra que armou  para a conquista de Ceuta: Talent de bien-faire (vontade de bem-fazer); pertenceu à Ordem de Cristo (governador e administrador) que então tinha sede em Tomar, no antigo castelo dos templários; mandou ensinar a Ier  e escrever a um moço do Nilo dos negros, com o fito d. torna-lo "padre para ir missionar os conterrâneos"; fez devolver, entre os 17 cativos de Palma, uma rainha, "mui irosa" contra os captadores impolíticos.

            A preocupação maior, as causas que moveram D. Henrique a descobrir terras e mares, mais do que os Interesses puramente econômicos, ou políticos, de Estado, então reveladas em carta escrita por D. Pedro, regente, seu tio, em 22-1o-1443. Entendia "que fazia serviço a Nosso Senhor Deus e a nós, se meteu a mandar navios a saber parte." -  (isto é, a tomar conhecimento) – “da terra que era além do cabo de Bojador, porque até então não havia ninguém na cristandade que dele soubesse parte", nem se havia lá povoação ou não, nem diretamente nas cartas de marear, nem nos mapas-mundi".

            Sobre essa sua como que obsessão de descobrir terras e mares além do cabo Bojador, trataremos depois. Importa, agora, anotar, para consideração dos estudiosos da vida e da obra de D. Henrique, que o Duque de Viseu e senhor de Covilhã - títulos que recebeu como prêmio por sua ação na tomada de Ceuta, onde combateu valorosamente, era um místico e  um verdadeiro cristão. Na campanha de Alcácer-Ceguer, já com 54 anos de idade, evidenciou energia indomável e lemos, com satisfação: “Era a desforra integral do fracasso de Tanger e do longo martírio do irmão, mais acirrada agora porventura com a terrível afronta e ameaça que para a Cristandade sobreviera desde a conquista de Constantinopla, em 1453, pelos turcos, fanáticos do falso Profeta." E, ainda: "O velho cruzado despertara; mas não foi desumano perante o inimigo abatido. Como em Ceuta, D. Henrique, desembarcado na praia, levou de roldão os defensores para dentro das muralhas. E foi a ele que, vendo inútil a resistência, enviaram à meia-noite a proposta de rendição. A resposta de D. Henrique foi que o Rei lhes consentia que evacuassem a cidade levando consigo as mulheres, crianças e suas fazendas, e apenas deixassem os cristãos cativos: - o que se efetuou em 23, entrando em seguida, a pé, o Rei com D. Henrique e seu filho D. Fernando, e seu primo D. Pedro, o filho do defunto regente, encaminhando-se todos para a mesquita maior já purificada em Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia.”

            Um homem de fé, um homem de Cristo!


4 comentários:

  1. HENRIQUE DE SAGRES... SUA CASA COMPLETA NESTE MES DE OUTUBRO 52 ANOS E TUA HISTÓRIA CONTINUA VIVA. OBRIGADA PELA SUA EXISTENCIA

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  2. Registros históricos informam que senhor de Sagres foi quem iniciou o Comércio de escravos! Os relatos da época dão nos a ver a crueldade com que nossos irmãos eram tratados! Bom, hojedia sabe-se que a Escola de Sagres nunca existiu. E a iniciativa de expandir a navegaçao era na verdade de D. João II.

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    1. O livro Brasil, coracao do mundo, Pátria do Evangelho, Humberto de Campos escreve que Jesus teve essa "conversa" no plano espiritual com o espírito de Henrique de sagres, então HELIL, onde ele pede para trazer "raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas" (Cap. 1) para a nova terra

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  3. O problema da maioria dos espíritas é ver só um lado da cebola chamada espiritismo.

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