Pesquisar este blog

Mostrando postagens com marcador G Mirim. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador G Mirim. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Bilhetes

 

Bilhetes

por G. Mirim (Antônio Wantuil)

Reformador (FEB) Dezembro 1946

 

    “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que causam as dissensões e os escândalos contra a Doutrina que aprendestes, e apartai-vos deles; porque esses tais não servem ao Cristo nosso Senhor, mas ao seu ventre; e com palavras doces e lisonjas enganam os inocentes.  Paulo – Rom. XVI-17-18.

             As palavras acima transcritas, extraídas da Epístola do grande e incomparável Apóstolo dos Gentios, representam uma advertência a quantos tenham ingressado nas fileiras espíritas. Elas merecem meditadas na atualidade, diante do trabalho dos espíritos adversários que sopram, através dos seus médiuns, as dissensões e consequentes escândalos tão do gosto dos adeptos das velhas religiões, por lhes favorecerem os planos de enfraquecer-nos, aproveitando-se da desunião da família que, se unida, representaria sério embaraço aos seus planos de domínio das consciências.

            Com palavras doces, cheias de aparente amor pela Doutrina, lisonjeando um grupo ou uma criatura, à cata de auxiliares favoráveis aos seus planos, fingindo-se cheios de boas intenções, esses tais, diz o Apóstolo, procuram satisfazer ao próprio ventre, às suas ambições autoristaristas, lançando ataques, distribuindo conselhos separatistas, gerando confusões, deturpando propósitos nobilíssimos, espalhando mentiras, demolindo sempre, sem respeito à verdade dos fatos. 


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Bilhetes

 

Bilhetes

por G. MIRIM (Antonio Wantuil)    Reformador (FEB) Janeiro 1944

             O Catolicismo, na época em que realmente era orientado evangélica e cristãmente, de acordo com as interpretações e usos dos que privaram com o Senhor, quando não se havia constantinizado através da mediunidade doentia do imperador romano, aliando-se aos césares e alimentando as fogueiras humanas, o Catolicismo, dizíamos, era o puro Cristianismo, ou, seja, o Espiritismo dos nossos dias, na sua mais alta expressão de amor, de caridade, de sublimação.

            As reuniões daquela época eram perfeitamente iguais às do Espiritismo moderno, quer pela simplicidade, quer pela humildade dos seus membros e quer, principalmente, pela completa abnegação dos que dirigiam o movimento, cheios de entusiasmo, de fé e de absoluto desapego pelos bens materiais que lhes pudessem oferecer o exercício dos seus cargos nos templos.

            A Igreja era então iluminada pelos Espíritos santos, através de médiuns (profetas) inspirados, qual acontece hoje com o Espiritismo; e os seus adeptos, cheios de sinceridade, eram consolados e protegidos pelas mensagens e conselhos que lhes transmitiam os Espíritos familiares.

            Há mil e novecentos anos, já existia a obra - Livro do Pastor - escrita por Hermas, discípulo dos Apóstolos, a quem S. Paulo mandou saudar em sua Epístola aos Romanos (XVI, 14). Essa tão notável obra, publicada no ano 220, por ordem de Caio, era lida nas igrejas até o século V e respeitosamente foi citada por S. Clemente de Alexandria e por Orígenes, tendo mesmo figurado no antigo catálogo dos livros canônicos; era o livro de orientação para os primeiros cristãos, recomendado aos crentes que se reuniam para receber as comunicações dos chamados mortos. Assim escreveu Hermas:

             “O Espírito que vem da parte de Deus é pacífico e humilde; afasta-se de toda malicia e de todo desejo deste mundo e paira acima de todos os homens. Não responde a todos os que o interrogam, nem às pessoas em particular, porque o Espírito que vem de Deus não fala ao homem quando o homem quer, mas quando Deus o permite. Quando, pois, um homem que tem um Espirito de Deus vem à assembleia dos fiéis, desde que se fez a prece, o Espirito toma lugar nesse homem, que fala na assembleia como Deus o quer."

            “Reconhece-se, ao contrário, o Espírito terrestre, frívolo, sem sabedoria e sem força, no que se agita, se levanta e toma o primeiro lugar. É importuno, tagarela e não profetiza sem remuneração. Um profeta de Deus não procede assim.”

             Mais tarde, no começo do século V, Santo Agostinho, bispo de Hipona, o mais célebre dos padres da Igreja latina, autor de Cidade de Deus, Confissões e de outras obras religiosas, prevendo, por intuição, que os seus sucessores proibiriam mais tarde as comunicações com os mortos e que propalariam serem os demônios os comunicantes, deixou registadas, em seu tratado De cura pro mortuis, edição beneditina, tomo VI, col . 527, as seguintes palavras:

             “Os Espíritos dos mortos podem ser enviados aos vivos; podem desvendar-lhes o futuro, cujo conhecimento adquiriram, quer por outros Espíritos, quer pelos anjos, quer por uma revelação divina.”

             Mais recentemente, no século XVII, o cardeal Bona, sábio prelado cognominado - o Fenelon da Itália, autor de inúmeras obras, entre as quais - De principiis vitae christianae e Da distinção dos Espíritos, assim se declarou francamente, nesta última, quando o clero já iniciava o seu plano de combate às comunicações com os mortos:

             “Motivo de estranheza é que se pudessem encontrar homens de bom senso que tenham ousado negar em absoluto as aparições e comunicações das almas com os vivos, ou atribuí-las a extravio da imaginação, ou, ainda, a artifícios dos demônios.”

             Inúmeros seriam os autores e vultos que poderiam ser citados como documentação não só da possibilidade, senão também do uso entre os primeiros cristãos de se comunicarem com os chamados mortos, classificados de anjos, quando superiores, e simplesmente de Espíritos, quando de criaturas ainda apegadas à Terra.

            O plano concebido pelos padres, para acabarem com esse intercâmbio, nasceu do receio do que lhes poderia advir, diante da preferência dos bons Espíritos pelas reuniões frequentadas por pessoas de coração simples e completo afastamento daquelas que se realizavam nas suntuosas sacristias das catedrais, onde certamente se apresentavam os Espíritos das vítimas da santíssima Inquisição.

            Como não lhes seria possível, porém, negar a possibilidade das comunicações, porque elas sempre se deram e até originaram canonizações; como não as podem negar atualmente, porquanto elas se repetem hoje e cada vez em maior número e em todos os países e meios sociais, lembraram-se do estratagema infantil, ridículo, contraproducente e ilógico, de só aceitar as que se dão nos conventos, condenando todas as demais como demoníacas e excomungando a quantos a elas se dediquem.

            Felizmente, porém, os tempos são chegados. No Brasil, país que eles apresentam ao mundo como sendo inteiramente católico, setenta por cento da população já admite e recorre a essas comunicações, utilizando-se dos milhares de centros espíritas existentes na Terra de Santa-Cruz. Católicos e até padres recebem os nossos passes. Em nossos hospitais para tratamento de obsessões, temos internado até clérigos completamente loucos, atacados dessa loucura que os médicos materialistas não conseguem debelar.

            Alguns anos mais e o Brasil será recristianizado (1), voltará a compreender o Cristo como o faziam seus primeiros seguidores.

            Esperemos.

 

(1) Do blog: A afirmação do Dr. Wantuil teria sido otimista? Ou referia-se ele a diferentes contagens do tempo?


Bilhetes


                                         Bilhetes

por G. MIRIM (Antonio Wantuil)   Reformador (FEB) Maio 1944

             Os velhos gostam de lembrar de fatos da sua infância, razão por que, de vez em quando, lá me vem à ideia antigas passagens daqueles bons tempos.

            O meu leitor, certamente, não conhece o caso do “carneiro preto”, e, assim, ignora que constitui ofensa, em minha terra, dizer que alguém é tal e qual carneiro preto.

            Vamos ao caso:

            Um cidadão da minha aldeia possuía um belíssimo carneiro. Animal muito dócil, extremamente manso, era estimado por todos os meus conterrâneos e conhecido pelo nome que lhe deu o seu pelo escuro.

            Manso e dócil para todos nós, tornava-se furioso ao ouvir o apito da locomotiva que, então, atingiu o meu pacato arraial. Era necessário prendê-lo até que passasse o “bicho corredor” da Leopoldina Railway.

            Um dia, em que se esqueceram de amarrá-lo, o nosso carneiro preto postou-se entre os trilhos da estrada, e lá ficou à espera da locomotiva que apitava ao longe. Corajoso e valente, o carneiro tomou posição, e... ao sair a máquina da curva, não pode o maquinista travar o comboio. Era tarde demais, o valente carneiro, resolutamente, atirara-se contra o “bicho corredor”, numa decidida cabeçada, lá ficando em frangalhos espalhado pelo leito da estrada.       

            Foi-se o carneiro preto, mas ainda vive até hoje, em minha povoação, como símbolo de teimosia e de falta de raciocínio.

            - Aqui, em Antropópolis, nesta cidade maravilhosa, eu me recordo, também, do carneiro preto que eu tantas vezes acariciava na minha meninice. Esses, que aqui se me deparam, não são dóceis e mansos, todavia, em tudo mais, são perfeitamente iguais àquele que ficou esmigalhado pela sua teimosia e pela falta de compreensão do que iria combater.

            Eu me refiro a esses pseudocientistas, que, nada entendendo da própria medicina que estudaram, querem, de qualquer maneira, combater o fenômeno espírita e acabar com a existência dos habitantes do Além.

            Se o luzidio lanígero se espatifou por se atirar contra o que desconhecia, os carneiros pretos daqui se esborracham cada vez que tentam combater aquilo que não conhecem, de cuja existência duvidam e cujo poder está para eles como a locomotiva para aquele. O ruminante era menos teimoso, porque combateu o que via, esses, porém, os nossos belos exemplares da cidade, leônicos, arroxeados e murídeos (semelhantes a rato), atiram-se contra os Espíritos produtores dos fenômenos, agentes que lhes são invisíveis e que se riem das suas cabeçadas inofensivas, ou melhor, produtivas, porque despertam nos leigos a vontade de conhecer o assunto.

            Pobres carneiros pretos!


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Bilhetes

 

Bilhetes

por G. Mirim (Antonio Wantuil)        Reformador (FEB) Novembro 1944

                 O advogado italiano, Dr. Pietro Ubaldi, médium que recebeu a obra 'A Grande Síntese', também nos apresentou o livro - As Noúras, que já está sendo traduzido para o português. (*)

                A palavra noúras foi formada de raízes gregas: “nous” - inteligência, espiritualidade, e "reô" ou "roos" - corrente de pensamentos, correntes espirituais emitidas por Forças invisíveis.

            Essas correntes inspirativas, quando emitidas pelos Enteles (do grego - seres perfeitos) e recebidas pelos ultrafânicos (médiuns super-sensitivos), transformam-se nas elevadas mensagens que do Alto nos são enviadas, para facilitar-nos o estudo dessa nova ciência, a que chamamos Biosofia (ciência da vida).

            O pensamento dos Enteles desce sob a forma ondulatória, qual ondas hertzianas, e se localiza no cérebro, atingindo o órgão específico da inspiração ultrafânica - a epífise, já apresentada por TRESPIOLI “como o órgão que, mecanicamente, capta as noúras”.

            A glândula pineal é, desse modo, o órgão central, o condensador variável da sintonização e amplificação das recepções noúricas, colaborando, com ela, todo o organismo humano. O olho vibra a luz; o ouvido, o som; e o cérebro, o pensamento. E isto é hoje facilmente compreensível, depois do aparecimento da telegrafia sem fios e das comunicações radiofônicas.

            Aí têm os meus prezados leitores o resumo das concepções transmitidas ao erudito confrade Pietro Ubaldi; agora, desejo chamar a atenção dos poucos amigos que me leem, para a comunicação do Espírito de André Luiz, a primeira remetida para a nossa Revista, mensagem esta recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, de Pedro Leopoldo; Minas, publicada neste mesmo número do Reformador, sob o título - O Psicógrafo, e isto porque, não conhecendo o nosso Chico a obra em questão, foi por seu intermédio que acabamos de receber, não só a confirmação das teorias expendidas por Pietro Ubaldi, senão, também, conhecimentos outros que ampliam, desenvolvem e explicam racionalmente, e em linguagem acessível, aquelas concepções transmitidas ao confrade de Perúgia.

            Que os meus amigos, pois, abandonem o meu Bilhete e passem a ler a primeira comunicação que o Espírito de André Luiz enviou para os leitores do Reformador, mensagem reveladora de que outras muitas teremos a felicidade de receber.

 (*)  Do blog: Talvez ainda disponível nos sites de venda de livros usados.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Bilhetes

 

Bilhetes

por G. Mirim (Antonio Wantuil)        Reformador (FEB) Abril 1944

             Faz sessenta anos, mais ou menos, meu caro, leitor, que os fatos se passaram (*). Minha memória, no entanto, conserva nitidamente as ocorrências havidas em minha aldeia, ao tempo em que eu frequentava a escola do “Seu Mestre”, um pobre coitado que mal, muito mal sabia ler alguma coisa que fosse além da cartilha em que aprendíamos.

            Era feliz a minha aldeia natal. Todos nos conhecíamos e não nos preocupávamos com o progresso que diziam haver em localidades limítrofes. Ninguém assinava jornal. E quando, anualmente, o arraial era visitado pelo viajante angariador de assinaturas para os jornais da Corte, todos lhe respondiam que não tinham tempo “pra estudá jorná”. Tudo se resolvia dentro das nossas acanhadas fronteiras e a contento geral, porque a mentalidade dos meus conterrâneos nada exigia, compreendia e admitia, além do que lhes era conhecido ou ensinado pelos seus super-homens.

            Como no povoado aparecera, vinte anos antes, um pirata que se fez passar por médico, para explorar, ao máximo, aquele povo ingênuo, jamais consentiram que qualquer médico se instalasse no arraial, instigados que eram, constantemente, pelo “Zé da Botica” e pelo Sô Vigário, que tiraram partido do antigo fato, deturpando-o jeitosamente, a fim de continuarem a venda das xaropadas do primeiro e o recebimento dos pagamentos das promessas feitas aos santos milagrosos do segundo.

            - Estou a ver, daqui, da mesa em que escrevo este bilhete, na intuitiva visão do preconcebido, o leitor a gargalhar maliciosamente, num tom de mofa e de escárnio, rindo-se a bom rir dos meus pobres e ignorantes conterrâneos, descritos assim, na singeleza dos seus atos simples de rudes de pobres tabaréus.

            Mas, não se ria assim, meu amigo. Veja o que se passa na sua rica Antropópolis, cidade maravilhosa, cheia de bondes, de aviões e de rádios...

            Richet, o sábio que deslumbrou o mundo com o seu talento, Crookes, o gênio que tanto concorreu para o progresso de que você está gozando; Ford, o famoso fabricante dessa máquina que diminui distâncias - o automóvel, tantos gênios, meu amigo, de cérebro mais bem desenvolvido, se rirão de você, que não quer ouvir falar em Espiritismo, de você que se deixa guiar pelos mesmos interessados de sempre, que vivem a falar de piratas que se diziam médiuns, de loucuras e de caldeiras infernais.

            O povo da minha aldeia já se não deixa, hoje, conduzir pelo Zé da Botica e pelo seu associado. E você, meu amigo, quando se livrará da ignorância em que o acorrentaram?

          (*) Do Blog: 2021 - 1944 = Cabe somar 77 anos à data da publicação deste artigo em Reformador (FEB)..