por Indalício Mendes
Reformador (FEB)
Janeiro 1965
É costume dizer-se, entre nós,
quando se inicia novo ano: “Ano novo, vida nova!” Aparentemente, trata-se de
frase banal, que nos sai da boca com indiferença, sem que nos aprofundemos na
sua alta e lata significação.
Hoje, vimos repeti-la, em vista da
necessidade que temos de reter na memória certos conceitos que podem ter grande
influência em nosso comportamento cotidiano, os quais, entretanto, costumam,
como se diz vulgarmente, “entrar por um ouvido e sair pelo outro”.
Ano novo? Sim, de conformidade com o
tradicional costume terreno, sempre que se encerra um calendário, dizemos
tratar-se de “ano velho”, por já haver sido vivido, e, quando outro começa,
dizemos “ano novo” porque é um ciclo que se abre, como que nos oferecendo uma
oportunidade de fazer bem o que fizemos mal de outras vezes ou de reparar erros
e tomar iniciativas dignificantes.
O ideal seria que todos
adquiríssemos, a cada começo de ciclo, uma personalidade nova, melhor, mais
fraterna, mais amiga, e que deixássemos para trás, definitivamente, com o “ano
velho”, os preconceitos que nos retardam a evolução, os erros que se enraizaram
de tal forma em nós mesmos, que semelham a vícios inderrotáveis.
O Espiritismo não veio anunciar milagres nem
fazer milagres, prometendo à Humanidade recompensas fantasiosas, paraísos sedutores,
nem ameaçá-la com infernos eternos e castigos terríveis, apavorantes. O
Espiritismo, corporificando, nos tempos modernos a legítima ideia que o verbo
do Cristo lançou à Terra, veio reensinar o Evangelho de Jesus, dizendo a cada
criatura humana que a sua redenção não se fará senão pelo esforço que despender
para melhorar sua condição moral e espiritual.
Procuremos evitar que “o homem velho”
se reintegre em nossa personalidade, fazendo que continuemos presa dos mesmos
prejuízos perniciosos, dos mesmos impulsos desfraternos, da mesma invigilância
que nos pune com o retardamento na marcha para a frente.
Em nossas preces, relembremos os obreiros
espíritas que plantaram nesta terra a Doutrina codificada por Allan Kardec,
assim como todos quantos com eles colaboraram, dos mais obscuros aos mais
destacados. Nem nos esqueçamos de Augusto Elias da Silva, o corajoso fotógrafo
português que, sem temer represálias fanáticas do obscurantismo religioso,
fundou “Reformador” a 21 de janeiro de 1883. E logo se lançou no combate à
escravidão, analisando-a do ponto de vista espírita e desfraldando a bandeira
da abolição.
Ele soube iniciar um “ano novo” com “vida
nova”, lutando a boa luta, tendo o Evangelho por escudo e a Verdade espírita
por programa, certo de que somente deixará de ser escravo de si mesmo, de seus
vícios e deficiências, aquele que, conhecendo a nossa Doutrina, busque exemplifica-la
à custa de quaisquer sacrifícios. Somente a exemplificação leal e permanente
nos libertará.
Sempre que, por negligência,
imprudência ou irreflexão, esquecemos as lições doutrinárias que temos
aprendido, sobrecarregamos a nossa ficha cármica e adiamos a nossa libertação.
Continuamos a ser escravos de nós mesmos. Retardamos mais e mais a data
almejada da abolição espiritual que pretendemos.
Façamos nossas, ao transpormos o limiar
de 1965 (do blog: e por
que não quando transpomos o limiar de 2021?) estas palavras de
Paulo de Tarso (II Cor., 3:17):
“Ora, o Senhor é o Espírito; e onde
está o Espírito do Senhor aí há liberdade.”
Elevemos nossos corações, porque esta revista
completa 82 anos
(do blog: hoje são 139
anos...) de
existência fecunda, e também porque, em 1º de janeiro corrente a Federação
Espírita Brasileira se firmou no seu 81º aniversário.
"O Senhor é o Espírito e onde está o Espírito do Senhor aí há Liberdade."
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