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quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Vigiar e examinar

 

Vigiar e examinar

Percival Antunes (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Outubro 1964

                 Há necessidade de serem examinadas mui atentamente as comunicações recebidas do Além. Não basta que sejam transmitidas de Espíritos a médiuns de categoria, porque eles não são direta nem indiretamente responsáveis pelas mensagens recebidas. São meros instrumentos de recepção. Apenas oferecem ao Espírito comunicante a possibilidade de ter um “aparelho” que lhe permita pôr-se em comunicação com o mundo físico. Com mais razões, os chamados médiuns inconscientes.

            Muitas comunicações espíritas estão eivadas de conceitos católicos e alguns confrades menos cautelosos as aceitam integralmente, sem ao menos analisar o conteúdo das mensagens, eliminando tudo quanto colida com os princípios doutrinários do Espiritismo.

            Nada disso é novidade, mas estamos numa época em que pouco se examinam essas coisas e daí a intromissão em determinados centros espíritas de ideias e conceitos puramente católicos e práticas que não são sancionadas por nossa Doutrina.

            Muitas coisas podem ocorrer contra a vontade do médium. Stainton Moses, médium muito religioso, teólogo, deparou muitas vezes, em seus escritos automáticos, com proposições ateias e satânicas. “Quase todos os meus escritos automáticos, confessa ele, eram contrários às minhas convicções” (“A Verdade Espiritualista”, de C. Picone Chiodo).

            A tendência perigosa de se aceitar tudo quanto venha do Além, subscrita por nomes tidos por ilustres, em vez de favorecer o desenvolvimento do Espiritismo, prejudica-o, por retardar a compreensão clara dos seus princípios doutrinários. Um Espírito que inculque a realização de um casamento “espírita”, sob o argumento de que nada obsta a que os nubentes sejam abençoados e beneficiados por uma prece, está sofismando. Afirmar que discordar dessa ideia constitui fanatismo, é capciosa.

            Há muitos “espiritismos” espalhados por aí a fora.  Cada qual tem o seu programa de trabalho, de acordo com a vontade do “dono” da casa. Este faz o “espiritismo” que mais convenha aos seus conhecimentos ou às conveniências que lhe mereçam maior consideração. Como resultado dessa liberdade de ação, surgem práticas absurdas, contraditórias, que iludem as pessoas simplórias e redundam em explorações por parte daqueles que se interessam em atacar o Espiritismo, atribuindo-lhe vícios e defeitos que não tem, porque não interessam por conhecer-lhe a Doutrina e, se a conhecem, fazem como se a ignorassem.

            Há um meio de lutarmos todos contra isso: promovendo uma campanha em favor da difusão da Doutrina Espírita, pela palavra falada, nas tribunas, assim como no rádio e na televisão, como também pela palavra escrita, em jornais (profanos, de preferência) e qualquer outro órgão de divulgação.

            Já ouvimos pessoas ditas espíritas que aceitam a Santíssima Trindade tal como os católicos. Para maior segurança do erro que cometem, louvamo-nos na palavra do nosso querido Emmanuel, Espírito sublimado, que diz: “Os textos primitivos da organização cristã não falam da concepção da Igreja de Roma, quanto à chamada ‘Santíssima Trindade”. Devemos esclarecer, ainda, que o ponto de vista católico provém de sutilezas teológicas sem base séria nos ensinamentos de Jesus”. (1)

            É indispensável que os espíritas estudem as obras que esclarecem esses pontos importantes, para que não incidam em erro lesivos à integridade da nossa Doutrina, principalmente aqueles que têm a responsabilidade de orientar grupos. Permitir ambiguidades será concorrer para o enfraquecimento dos postulados kardequianos.

             (1) Grifos do autor do texto.


segunda-feira, 2 de agosto de 2021

A Doutrina é tudo

 


A Doutrina é tudo

por Percival Antunes (Indalício Mendes)

                                                             Reformador (FEB) Maio 1962

            O Espiritismo, tal como o definem os Espíritos na codificação kardequiana, não será jamais uma religião sacerdotal, e muito menos profissional, dotadas de templos suntuosos e subordinada a encenações litúrgicas, incompatíveis com a humildade evangélica encontrável nos princípios do primitivo Cristianismo. 

            Desse modo, o Espiritismo é o refúgio de todos os que se sentem desamparados de justiça, de todos os que sofrem, de todos os que percebem a necessidade de orientar a vida terrena com as luzes da Espiritualidade Os sofredores, os humildes, os injustiçados, os preteridos, os esquecidos, encontram no Espiritismo o lenitivo de que precisam para vencer as suas dificuldades morais e os seus problemas espirituais.

            Todavia, aqueles que concorrem para o desequilíbrio social, os maus ricos e os poderosos que subestimam os fracos, também costumam buscar no Espiritismo, quando atingidos pela lei correcional do Carma, a paz que deles se afasta. Então podem aprender que não são melhores que os seus semelhantes. Se aproveitam as lições e procuram reparar os males causados por seu comportamento terreno, conseguem salvar parte da experiência encarnacionista.

            Em suma, o Espiritismo mostra a nova forma do verdadeiro Cristianismo, do Cristianismo do Cristo, e pode continuar cumprindo sua missão educativa e corretiva no seio da Humanidade, levando luz onde houver treva, água onde houver sede, pão onde a fome predominar, e paz onde a dissidência estiver em ação.

            Para que o Espiritismo possa cumprir, como até hoje, sua alta missão, seus adeptos terão que repelir tudo quanto seja capaz de deturpar ou comprometer a Doutrina dos Espíritos, a fim de que ele não venha a sofrer no futuro o que sofreu o Cristianismo do Cristo, cujos princípios foram falseados e não chegaram a influir positivamente na formação moral dos homens.

            Há na criatura humana a tendência natural para inovar ou para acomodar-se a conveniências, ainda que à custa da desnaturação de ideias, doutrinas e programas. Alguns querem correr demais, outros não querem correr mais. Uma doutrina, como a espírita, não há necessidade de inovações nem de estagnação. Tudo está perfeitamente determinado e previsto. Basta que a doutrina seja exemplificada como é preciso, para que tudo corra bem.

            A Doutrina Espírita não é obra humana. Diz o Codificador na “Introdução” de “O Livro dos Espíritos”: “A Doutrina dos Espíritos não é de concepção humana. Foi ditada pelas próprias Inteligências que se manifestaram, quando ninguém disso cogitava, quando até a opinião geral a repelia.”

            O Espiritismo expande-se pelo mundo e, para alegria nossa, o Brasil constitui o bastião do movimento espírita mundial. É que a Doutrina dos Espíritos não necessita de adaptações, pois a Humanidade é uma só, em qualquer parte da Terra. Além disso, é da própria natureza da Doutrina o possuir enorme elasticidade e capacidade de adaptação, sem perigo de serem constrangidos ou feridos os princípios essenciais em que ela está erigida.

            Importa, porém, que todos os espíritas compreendam, aceitem e prestigiem essa maravilhosa maleabilidade que assegura a eternidade dinâmica da nossa Doutrina.

            Nosso dever é pensar e agir de modo a evitar se instalem no Espiritismo os preconceitos sectários, o fanatismo, o farisaísmo, o misticismo mórbido, a passividade suicida, a aquisição de hábitos e práticas trazidas de outros credos, o intelectualismo fofo e estéril, além do personalismo e da presunção de onisciência. Precisamos ser cada vez mais humildes, cada vez mais convencidos de que nada somos, nada sabemos e nada podemos alcançar sem que estejamos sendo fiéis, assim a teoria que na prática, às determinações da Doutrina.

            O espírita só o é mesmo quando conhece e exemplifica a Doutrina, mantendo-se humilde, fraterno, prestativo, sereno, tolerante, ativo e trabalhador, mais apto a perdoar do que a punir.

 


quinta-feira, 15 de julho de 2021

Curioso caso de reencarnação

 

Curioso caso de reencarnação

por Percival Antunes (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Julho 1965

           A  reencarnação é assunto que deve merecer o máximo de atenção, mesmo daqueles que se mostram indiferentes a certos transcendentes problemas da existência. 

           Os casos recentes de comprovação da teoria citada se acumulam. Esta revista de quando em quando menciona uma ocorrência dos nossos dias, porque a reencarnação está sempre presente na vida humana. Todavia, desejamos reproduzir um seu portentoso livro "O problema de Ser, do Destino e da Dor", editado pela Federação Espírita Brasileira.

           Ei-lo:

           "Os testemunhos oriundos do mundo invisível são tão numerosos como variados. Não só Espíritos em grande número afirmam, nas suas mensagens, terem vivido mutas vezes na Terra, mas há os que anunciam antecipadamente a sua reencarnação; designam seu futuro sexo e a época do seu nascimento; ministram indicações sobre as suas aparências físicas ou disposições morais, que permitem reconhece-los em seu regresso a este mundo; predizem ou expõem particularidades de sua próxima existência, o que se tem podido verificar.

           A revista Filosofia della Scienza, de Palermo, no número de Janeiro de 1911, publica, sobre um caso de reencarnação, uma narrativa do mais alto interesse, que resumimos aqui. É o chefe de família, na qual os acontecimentos se passaram, o Dr. Carmelo Samona, de Palermo, quem fala:

           "Perdemos, a 15 de Março de 1919, uma filhinha que minha mulher e eu adorávamos; em minha companheira o desespero foi tal que receei, um momento, perdesse a razão. Três dias depois da morte de Alexandrina, minha mulher teve um sonho onde acreditou ver a criança a dizer-lhe: "Mãe, não chores mais, não te abandonei; não estou afastada de ti; ao contrário, tornarei a ti como filha."

           Três dias mais tarde houve a repetição do mesmo sonho.

           A pobre mãe, a quem nada podia atenuar a dor e que não tinha, nessa época, noção alguma das teorias do Espiritismo moderno, só encontrava nesse sonho motivos para o reavivamento de suas penas. Certa manhã, em que se lamentava, como de costume, três pancadas secas se fizeram ouvir à porta do quarto em que nos achávamos. Crente da chegada de minha irmã, meus filhos, que estavam conosco, foram abrir a porta, dizendo: "Tia Catarina, entre."

           A surpresa, porém, de todos, foi grande, verificando que não havia ninguém atrás dessa porta nem na sala que a precedia. Foi então que resolvemos começar sessões de tiptologia, na esperança de que, por esse meio, talvez tivéssemos esclarecimentos sobre o fato misterioso dos sonhos e das pancadas que tanto nos preocupam.

           Continuávamos  nossas experiências durante três meses, com grande regularidade. Desde a primeira sessão, duas entidades se manifestaram: uma dizia ser minha irmã; a outra, a nossa cara desaparecida. Esta última confirmou, pela mesa, sua aparição nos dois sonhos de minha mulher e revelou que as pancadas tinham sido dadas por ela. Repetiu ainda à sua mãe: "Não te consternes, porque nascerei de novo de ti e antes do Natal." A predição foi acolhida por nós com maior incredulidade, porquanto um acidente, a que se seguiu uma operação (21 de Novembro de 1909), tornava inverossímil nova concepção de minha mulher.

           Entretanto, a 10 de Abril, uma primeira suspeita de gravdiez revelou-se nela. A 4 de Maio  seguinte nossa filha manifestou-se ainda pela mesa e nos deu novo aviso: "Mãe, há uma outra em ti." Como não compreendêssemos esta frase, a outra entidade que, parece, acompanhava sempre nossa filha, confirmou-a, comentando-a assim: "A pequena não se engana: outro ser se desenvolve em ti, minha boa Adélia."

           As comunicações que se seguiram ratificaram todas essas declarações e mesmo as precisaram, anunciando que as crianças que deviam nascer seriam meninas; que uma se assemelharia a Alexandrina, sendo mais bela do que o tinha sido ela, anteriormente.

           Apesar da incredulidade persistente de minha mulher, as coisas pareciam tomar o rumo anunciado, porque, no mês de Agosto, o Dr. Cordaro, parteiro reputado, prognosticou a gravidez de gêmeos.

           E a 22 de Novembro de 1910 minha mulher deu à luz duas filhinhas, sem semelhança entre si, reproduzindo uma, entretanto, todo os traços, todas as particularidades físicas bem especiais que caracterizavam a fisionomia de Alexandrina, isto é, uma hiperemia do olho esquerdo, uma ligeira seborreia do ouvido direito, enfim, uma dissimetria pouco acentuada da face.

           Em apoio de suas declarações, o Dr. Carmelo Samona trás os atestados de sua irmã Samona Gardini, do professor Wigley, de Mme. Mercantini, do Marquês Natoli, da Princeza Niscomi, do Conde de Ranchileile, que todos iam ficando a par, à medida que elas se produziam, das comunicações obtidas na família do Dr. Carmelo Samona.

           Depois do nascimento dessas crianças, dois anos e meio são decorridos e o Dr. Samona escreve à Filosofia della Scienza, dizendo que a semelhança de Alexandrina II com Alexandrina I tudo confirma, não só na parte física como na moral; as mesmas maneiras de acariciar a mãe; os mesmos terrores infantis expressos nos mesmos termos, a mesma tendência irresistível para servir-se da mão esquerda, o mesmo modo de pronunciar os nomes das pessoas que a rodavam. Como Alexandrina I, ela abre o armário dos sapatos, no quarto em que esse móvel se encontra, calça um pé e passeia triunfalmente no quarto. Em uma palavra, refaz, de modo absolutamente idêntico, a existência, na idade correspondente a Alexandrina I.

           Não se nota nada de semelhante com Maria Pace, sua irmã gêmea.

           Compreende-se todo o interesse que apresenta uma observação desta ordem, seguida durante tantos anos por um investigador do valor do Dr. Samona." - (Annales des Sciences Psychiques", Julho de 1913, n. 7, págs, 196 e seguintes.)

***

           Esse curiosíssimo caso, que exumamos da obra citada, porque reúne uma série de circunstâncias dignas da maior atenção, é prova impressionante da reencarnação. Não foi escolhida. Abrimos a esmo o livro de Denis e foi ela que se nos apresentou à vista.

           É bem verdade que há fatos muito mais positivos, em quantidade vultosa. Vale, porém, este como mais um depoimento idôneo em prol da reencarnação, hoje menos contestada do que no passado, por aqueles que têm relutado, por ignorância , preconceitos religiosos ou defeitos de educação, em aceitá-la.

           No mesmo livro há outros fatos também conformados por pessoas conhecidas e de responsabilidade moral, como aqueles ocorridos com duas senhoras, em Roma e Paris, relatados, respectivamente, por Cap. Florindo Batista e Th. Jaffeux, advogado da Corte de Apelação de Paris.

           Piano, piano si va lontano... - dizem os italianos. É verdade, porque, "qui va piano, va sano"...


quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Mas os tempos não mudaram

 


Mas os tempos não mudaram

Percival Antunes (Indalício Mendes)   

Reformador (FEB) Outubro 1963

             O mal de muita gente que lê o Evangelho é não separar o coberto do encoberto, isto é, não desvendar o que está oculto para compreender o verdadeiro sentido de certas passagens do Livro santo. Daí, então, muitas incongruências e não poucos absurdos na interpretação das palavras do Cristo.

            O Espiritismo, entretanto, que foi o primeiro a interpretar o Evangelho em espírito e verdade, lançou e solidificou as bases da interpretação correta, a qual vem, felizmente, espalhando bons frutos e encontrando seguidores, ainda que, muitas vezes, silenciem quanto ao aprendizado feito através das obras editadas pela Federação Espirita Brasileira.

            Nem sempre Jesus achou conveniente falar claro, numa época em que os preconceitos religiosos eram ferozes e a intolerância não cedia diante de qualquer argumente sensato. E a prova disto foi que, apesar de tudo, Jesus se viu insultado, perseguido, maltratado e, por fim, imolado por homens que colocavam, acima da Verdade integral que ele pregava, as suas “verdadezinhas” restritas, originadas de dogma estreitos que religiões paganizadas erravam para poderem dispor despoticamente da vontade do povo e, assim, na maioria dos casos, permitir que os apetites políticos dos dominadores aliados a chefes religiosos fossem fartamente satisfeitos.

            Como poderia Jesus, naqueles tempos, falar claro e ser claramente compreendido se os seus ensinamentos muitas vezes ultrapassavam o grau de compreensão e de Inteligência da época? Foi por isso que Ele recorreu a parábolas, a fim de que as suas lições pudessem ser aproveitadas por aqueles que eram exceção naquele ambiente e ficassem para a edificação dos homens do futuro.

            Em “Os Quatro Evangelhos”, de Roustaing, essa obra prodigiosa editada pela Federação Espírita Brasileira, e indispensável à cultura espírita dos estudiosos e também ao perfeito entendimento da Mensagem do Cristo, encontraremos este trecho elucidativo:

             Para ser compreendido e sobretudo atendido, para que sua missão fosse aceita e produzisse frutos, ele teve que velar a sua linguagem, apropriando-a, assim como seus atos, ao estado das inteligências da época, aos preconceitos e tradições que, mediante as profecias da lei antiga, lhe haviam preparado o advento. Teve que apropriá-los também às aspirações dos homens e ainda, como condição e meio transitórios de progresso, ao objetivo e às exigências das crenças que se desenvolveram durante e após o desempenho da sua missão terrena. Foram essas crenças que fizeram dele, sucessivamente, um homem como os demais, durante todo o tempo daquela missão; um profeta, quando entrou a desempenhá-Ia publicamente; depois, terminado o desempenho dela, um homem-Deus, atribuindo-lhe a divindade: homem, como os outros, porque revestido do corpo material do homem da Terra, porque nascido de mulher, e Deus, porque filho de Deus, fração, ainda que inseparável do Deus uno, do Deus criador incriado, imutável, eterno, infinito – igual,  portanto, a Deus. Assim é que fizeram o corpo de um homem, corpo finito, circunscrito, conter o infinito. Assim é que fizeram do Deus uno um homem sujeito à morte como os que habitam a Terra, que submeteram à vida e à morte, em um corpo material e perecível como os deles próprios, o Eterno, único eterno - Deus, que é, foi e será imortal, desde toda a eternidade, que só ele possui, desde toda a eternidade, a imortalidade.” (ob, cit. págs. 92/3 - IV vol. - Ed. 1954).

            Nessas poucas linhas transcritas, que mundo de ensinamentos! Ninguém poderá julgar-se bem enfronhado no estudo da Doutrina Espírita sem estudar esse complemento magnífico do pentateuco kardequiano. Em “Os Quatro Evangelhos”, afora a soberba explicação - soberba e racional - acerca do corpo fluídico de Jesus, há passagens exegéticas que extasiam o espírito, pois reafirmam as verdades do Evangelho.

            O Espiritismo fala claro, é explícito, simples, franco, positivo, mas ainda não é entendido e aceito por homens que se dizem sábios, que se intitulam cientistas, que inventam teorias e nomes extravagantes para explicar o que já se acha explicado nas obras espíritas e acabam não chegando a qualquer resultado satisfatório, porquanto, partindo de premissas falsas, terão que alcançar conclusões igualmente falsas...

            Para esses sábios, o Espiritismo está errado.

            Não existem Espíritos, não há mediunidade, nem sobrevivência da alma. E palmilham o terreno escorregadio de outros sábios e acabarão, também como eles, sem atinar com a realidade dos fatos psíquicos, porque, não aceitando a insofismável realidade espírita, emaranham-se em teorias absurdas e complicadas. Geralmente, acabam por silenciar, porquanto, a muitos, falta coragem para adotar a única atitude digna compatível com a personalidade dos verdadeiros sábios: confessar sua ignorância e seus preconceitos, declarando com humildade que o Espiritismo é que está certo.

            A verdade é que eles passam, deixam seguidores teimosos e estéreis, enquanto o Espiritismo prossegue em sua marcha vitoriosa esclarecendo a Humanidade e a ela apontando o verdadeiro caminho da compreensão. A Doutrina Espírita faz o homem compreender a razão da sua presença na Terra, a origem de suas dores, os meios de superá-Ias na luta incessante pela perfeição. Ao mesmo tempo, apurando-lhe a personalidade moral, prepara-o para a vida terrena e para a vida espiritual. Dessa forma, quer queiram, quer não, a Doutrina Espírita é legitimo e valioso curso de relações humanas.

            Jesus encontrou ignorância, orgulho, vaidade, arrogância, maldade e intolerância. O Espiritismo, que é o Paracleto referido pelo Mestre, tem tido os mesmos desafetos, os mesmos perseguidores, os mesmos detratores, mas levará avante a sua missão eminentemente cristã, verdadeiramente cristã. Os tempos não mudaram muito quanto às ideias. Apenas hoje já se tem liberdade de pensamento e não se leva ninguém à morte na fogueira por professar diferente crença religiosa.


terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Leviana afirmativa

 


Leviana afirmativa

Percival Antunes (Indalício Mendes)   Reformador (FEB) Julho 1963

             Parece inacreditável, pelo absurdo contido na afirmativa sem dúvida alguma inverídica, que alguém ousasse dizer que os líderes espíritas pregam o ódio. Entretanto, isso tem sido dito pelo rádio com o evidente propósito de fazer crer, àqueles que desconhecem o verdadeiro ambiente kardequista, que a moral evangélica é para nós um mito. Ora, quem prega o ódio não é de modo algum espírita.

            A nossa religião é visceralmente democrática.

            Aceita qualquer pessoa, sem cogitar do seu passado, do seu presente, da sua nacionalidade, do seu idioma, da sua raça e da cor da sua pele ou se é física ou mentalmente perfeita ou imperfeita. A todos acolhe com o mesmo espirito fraterno, procurando atender a quantos a procuram, em busca de uma esperança ou atrás de um lenitivo. É uma religião universalista, se assim podemos dizer, que se preocupa exclusivamente com os problemas humanos em face do Espírito, mostrando ao homem os seus deveres morais e espirituais, as suas obrigações terrenas, os meios de alcançar o aprimoramento indispensável à sua ascensão na escala evolutiva.

            O Espiritismo não faz seleções, não envereda pelo tortuoso caminho das discriminações. Sua ação acolhedora se exerce principalmente sobre aqueles que se mostrem mais retardados na pauta da evolução moral. 0s sãos não precisam de assistência, mas os enfermos. É natural, portanto, que pessoas que vieram para a nossa religião, egressas de outros credos ou sem credo algum, ainda não tenham podido assimilar bem os ensinamentos do Espiritismo e, assim sendo, às vezes se manifestem descaridosamente a respeito de outras criaturas com as quais não tenham afinidade de nenhuma ordem superior.

            Todavia, a afirmativa de que são líderes espirituais que pregam o ódio é mais específica. Se há alguém que se rotule de líder e proceda assim, está “ab initio” provando que não é líder de coisa alguma. Ninguém que possua qualquer parcela de responsabilidade real, dentro do movimento espírita kardequista, será capaz de abrigar sentimentos tão rasteiros, que anulam a mais mínima presunção de respeito à Doutrina codificada por Allan Kardec. E quem o faça, não é espirita.

            É sempre perigosa, pelas injustiças que produz, a generalização de conceitos dessa natureza. Não desejamos remontar à origem de uma asserção tão leviana, mas apenas lamentar que se busque combater o Espiritismo e os espíritas com processos incompatíveis com os mais corriqueiros princípios da verdade. Já o iluminado Léon Denis, em “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, obra maravilhosa que ninguém deve deixar de reler, pontifica Somos o que pensamos, com a condição de pensarmos com força, vontade e persistência. Mas, quase sempre, nossos pensamentos passam constantemente de um a outro assunto. Pensamos raras vezes por nós mesmos, refletimos os mil pensamentos incoerentes do meio em que vivemos. Poucos homens sabem viver do próprio pensamento, beber nas fontes profundas, nesse grande reservatório da inspiração que cada um traz consigo, mas que a maior parte ignora. Primeiro que tudo, é preciso aprender a fiscalizar os pensamentos, a discipliná-los, a imprimir-lhes uma  direção determinada um fim nobre e digno.          

            “A fiscalização dos pensamentos implica a fiscalização dos atos, porque, se uns são bons, os outros sê-lo-ão igualmente, e todo o nosso procedimento achar-se-á regulado por uma concatenação harmônica. Ao passo que, se nossos atos são bons e nossos pensamentos maus, apenas haverá uma falsa aparência do bem e continuaremos a trazer em nós um foco malfazejo, cujas influências mais cedo ou mais tarde se derramarão fatalmente sobre nossa vida.”

            Pior ainda é o processo de alguém procurar valorizar suas próprias opiniões à custa de afirmações malevolentes e sem fundamento.

            Léon Denis pondera com segurança: “o homem só é grande, só tem valor, pelo seu pensamento.”


terça-feira, 3 de novembro de 2020

Conversa com os médiuns

              

Conversa com os Médiuns

por Percival Antunes  Reformador (FEB) Fevereiro 1962

 

            Entre as obras de alto valor doutrinário que a Editora da Federação Espírita Brasileira tem divulgado, encontra-se “Ensinos Espiritualistas” de William Stainton Moses, médium de diversas mediunidades, que desfrutava de enorme prestígio em sua época, não só por sua erudição como por sua esmerada educação moral

            Médium do nobre Espírito “Imperator”, pode ele legar ao mundo um dos livros mais interessantes e elevados da literatura espírita.

            Dele vamos reproduzir, para esclarecimento dos leitores que ainda não o conhecem, algo relativo aos médiuns. São conselhos de “Imperator”, que devem ser seguidos à risca.

 

                                                 A atitude dos médiuns

 

            Todos os médiuns muito desenvolvidos devem ser circunspectos: é sempre perigoso, para eles, fazer parte de grupos submissos a influências que lhes são desconhecidas. Forcejai por vir ao Centro com o vosso espírito paciente e passivo, e assim obtereis mais facilmente o que desejais.”

             Nota - Esse perigo, de que fala “Imperator”, também pode atingir os médiuns incipientes, mal orientados ou rebeldes, que não sigam as instruções do Guia ou do seu Diretor de trabalhos mediúnicos. O médium somente deve trabalhar sozinho depois

que para isso estiver autorizado pelo Guia. E somente os médiuns desenvolvidos se encontram capazes disso. Os outros, inexperientes ainda não devem fazê-lo, pois ficariam sujeitos a perturbações nocivas e a contratempos perigosos.

Cuidados necessários

             “lmperator” fez com Stainton Moses o que o igualmente nobre Espírito Emmanuel sói fazer com Francisco Cândido Xavíer: ampara-o, orientando-o. Em sua ausência, outros Espíritos igualmente dedicados, como “Rector” e “Prudens”, faziam-lhe as vezes, com idêntica elevação de propósitos.

             “Devereis sempre preparar-vos no moral e no físico para ficar em estado de vos comunicar. Já vos dissemos que não podemos operar quando o estômago está repleto de alimento e hoje acrescentaremos que o organismo não deve estar enfraquecido.

            “É tão inconveniente debilitar as forças vitais, deixando de se nutrir, como embrutecer-se pela gulodice e pela bebida. O ascetismo e o completo abandono aos desejos são extremos que nada produzem de bom. O estado intermediário deixa as forças corpóreas em perfeito equilíbrio, enquanto as faculdades mentais são nítidas e calmas. Requeremos uma inteligência ativa, nem débil nem sobre excitada, e um corpo vigoroso, sem excesso nem desfalecimento.

            “Cada homem pode, pelo exercício de uma fiscalização judiciosa sobre si mesmo, chegar a esse estado, que o torna ao mesmo tempo mais apto a desempenhar a sua tarefa na Terra e a receber as instruções que lhe são enviadas. Os hábitos cotidianos são muitas vezes mal dirigidos, o que torna doentes os corpos e os espíritos. Não indicamos regimes fora da recomendação de ter em tudo, cuidado e moderação. Quando estamos em contato pessoal, podemos então dizer o que convém às necessidades particulares. Cada um deve procurar o que melhor lhe convém.

            “Ensinar a higiene do corpo como a da alma, faz parte da nossa missão. Declaramos a todos que o cuidado judicioso do corpo é essencial ao progresso da alma.

            “O estado de existência artificial que prevalece; a ignorância quase total do que concerne à nutrição e ao vestuário; os viciosos hábitos de excesso, que estão muito espalhados, são obstáculo sérios para atingir a verdadeira vida espiritual.”

             Nota - Soberba lição, essa. E muito oportuna também em nossos dias. É ideal que os médiuns, ao se dirigirem ao trabalho mediúnicos, levem o corpo e a alma limpos. Tudo que contraria a higiene constitui forma de vibração negativa.

 Receptividade do médium

             “A tarefa mais difícil para nós é escolher um médium pelo qual as comunicações de Espíritos elevados possam tornar-se públicas.

            “0 médium deve ter faculdades receptivas, pois não podemos inocular em seu cérebro maior número de informações do que a que pode receber; além disso, ele deve afastar-se de estultos preconceitos mundanos, convindo que tenha retificado os erros da sua mocidade e provado que pode aceitar uma verdade, ainda que seja impopular.

            “Ainda mais: deve estar livre do dogmatismo teológico e de ideias sectárias preconcebidas. Não deve estar sob a influência de noções terrestres, nem permanecer ligado à enganadora ilusão de que ele sabe, pois isso é ser ignorante de sua própria ignorância.”

 Conselhos aos médiuns

             “Mantende vos tão passivo e tranquilo quanto o puderdes, e não experimenteis comunicar-vos conosco quando estiverdes excitados pelo trabalho, agitado por aflições ou com o corpo fatigado. Auxiliai para que aperfeiçoemos a nossa experimentação, em em vez de intervirdes para corrompê-la.

            "Um corpo excitado ou inerte e um espírito vago e inativo impedem-nos de operar livremente.

            “Para nós, tudo está subordinado à educação do espírito, que deve desenvolver-se sem cessar.”

             Nota – Depreende-se daí quão importante se torna também o ambiente de trabalho. Há necessidade de que os assistentes colaborem com boa-vontade, mantendo pensamentos puros e voltados para a tarefa que se realiza. Só pode trazer resultados satisfatórios a comunhão de ideias elevadas.

            Nestas poucas linhas retiradas de uma das obras mais notáveis do Espiritismo, terá o médium uma ideia pálida da enorme importância do trabalho que foi chamado a realizar.


sábado, 23 de março de 2019

A Doutrina é tudo




A Doutrina é tudo
Percival Antunes (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Junho 1962

            O  Espiritismo, tal como o definem os Espíritos na codificação kardequiana, não será jamais uma religião sacerdotal e muito menos profissional, dotada de templos suntuosos e subordinada a encenações litúrgicas, incompatíveis com a humildade evangélica encontrável nos princípios do primitivo Cristianismo.

            Desse modo, o Espiritismo é o refúgio de todos os que se sentem desamparados de justiça, de todos os que sofrem, de todos os que percebem a necessidade de orientar a vida terrena com as luzes da Espiritualidade. Os sofredores, os humildes, os injustiçados, os preteridos, os esquecidos, encontram no Espiritismo o lenitivo de que precisam para vencer as suas dificuldades morais e os seus problemas espirituais.

            Todavia, aqueles que concorrem para o desequilíbrio social, os maus ricos e os poderosos que subestimam os fracos, também costumam buscar no Espiritismo, quando atingidos pela lei correcional do Carma, a paz que deles se afasta.

            Então podem aprender que não são melhores que os seus semelhantes. Se aproveitam as lições e procuram reparar os males causados por seu comportamento terreno, conseguem salvar parte da experiência encarnacionista.

            Em suma, o Espiritismo mostra a nova forma do verdadeiro Cristianismo, do Cristianismo do Cristo, e pode continuar cumprindo sua missão educativa e corretiva no seio da Humanidade, levando luz onde houver treva, água onde houver sede, pão onde a fome predominar, e paz onde a dissidência estiver em ação.

            Para que o Espiritismo possa cumprir, como até hoje, sua alta missão, seus adeptos terão que repelir tudo quanto seja capaz de deturpar ou comprometer a Doutrina dos Espíritos, a fim de que ele não venha a sofrer no futuro o que sofreu o Cristianismo do Cristo, cujos princípios foram falseados e não chegaram a influir positivamente na formação moral dos homens.

            Há na criatura humana a tendência natural para inovar ou para acomodar-se a conveniências, ainda que à custa da desnaturação de ideais, doutrinas e programas. Alguns querem correr demais, outros não querem correr mais.

            Numa doutrina, como a espírita, não há necessidade de inovações nem de estagnação. Tudo está perfeitamente determinado e previsto. Basta que a doutrina seja exemplificada como é preciso, para que tudo corra bem.

            A Doutrina Espírita não é obra humana.

            Diz o Codificador na "Introdução" de “O Livro dos Espíritos”: “A Doutrina dos Espíritos não é de concepção humana. Foi ditada pelas próprias Inteligências que se manifestaram, quando ninguém disso cogitava, quando até a opinião geral a repelia.”

            O Espiritismo expande-se pelo mundo e, para alegria nossa, o Brasil constitui o bastião do movimento espírita mundial. É que a Doutrina dos Espíritos não necessita de adaptações, pois a Humanidade é uma só, em qualquer parte da Terra. Além disso, é da própria natureza da Doutrina o possuir enorme elasticidade e capacidade de adaptação, sem perigo de serem constringidos ou feridos os princípios essenciais em que ela está erigida.

            Importa, porém, que todos os espíritas compreendam, aceitem e prestigiem essa maravilhosa maleabilidade que assegura a eternidade dinâmica da nossa Doutrina.

            Nosso dever é pensar e agir de modo a evitar se instalem no Espiritismo os preconceitos sectários, o fanatismo, o farisaísmo, o misticismo mórbido, a passividade suicida, a aquisição de hábitos e práticas trazidos de outros credos, o intelectualismo fofo e estéril, além do personalismo e da presunção de onisciência. Precisamos ser cada vez mais humildes, cada vez mais convencidos de que nada somos, nada sabemos e nada poderemos alcançar sem que estejamos sendo fiéis, assim na teoria que na prática, às determinações da Doutrina.

            O espírita só o é mesmo quando conhece e exemplifica a Doutrina, mantendo-se humilde, fraterno, prestativo, sereno, tolerante, ativo e trabalhador, mais apto a perdoar do que a punir.