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domingo, 28 de novembro de 2021

Por quê?

 L. Zamenhof

Por quê ?

por Cristiano Agarido(Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB) Outubro 1946

                 Há oitenta anos o vibrante movimento espírita mundial, chefiado por Allan Kardec e veiculado numa grande língua de cultura universal, como era então o francês, parecia destinado a uma vitória imediata, dentro de poucos anos. Essa vitória próxima contra toda a oposição se evidenciava aos mais prudentes e Kardec, a encarnação mesma da prudência, como escreveu um sábio seu contemporâneo, escreveu em O Evangelho segundo o Espiritismo estas palavras de sublime otimismo:

             “O Espiritismo vem realizar, na época prevista, as promessas do Cristo. Entretanto, não o pode fazer sem destruir os abusos. Como Jesus, ele topa com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais, levados às últimas trincheiras, tentam barrar-lhe o caminho e lhe suscitam entraves e perseguições. Também ele, portanto, tem que combater; mas, o tempo das lutas e e das persiguiçõe sanguinolentas passou; são todas as de ordem moral as que terá de sofrer e próximo lhe está o termo.  As primeiras duraram séculos; estas durarão apenas alguns anos, porque a luz, em vez de partir de único foco, irrompe de todos os pontos do globo e abrirá mais de pronto os olhos aos cegos.” (Cap. XXIII, parágrafo 17.)

             Ninguém poderia sensatamente pensar de outro modo em 1864, mas vemos hoje que a vitória está longe  e as lutas não cessaram em alguns anos nem em vários decênios, mas terão de continuar por muito tempo. Quanto o mundo se modificou nesses oitenta anos, e na aparência para pior, porque as perseguições sanguinolentas e más ideias ressurgiram com o Comunismo e o facismo e banharam de sangue o Velho Mundo! Repugnante perseguição de raças trucidou milhões de seres humanos indefesos. De dois terços do território europeu o Espiritismo foi banido pela violência, sem admitir discussão alguma, e isso pelos dois grandes partidos em luta: Nazismo e Comunismo, ambos furiosamente materialistas. Sabemos que o mundo piorou só na aparência externa, porque a uma grande onda de mal sucede outra maior de bem e esta conquista sempre o futuro. Por quê falhou assim a lógica mais severa?

            Bem simples e por isso mesmo muito difícil de aceitar-se a explicação.     

            A universalidade da língua francesa deu à França uma supremacia cultural indiscutível no século XIX e desencadeou os ciúmes nacionais dos imperialismos diversos e cada povo tentou elevar seu próprio idioma às culminâncias que havia atingido o francês. A língua única dadiplomacia foi violentamente afastada e todos os povos tentaram introduzir o seu idioma, chegando-se rapidamente a plena Babel nas relações internacionais que por mais de um século haviam gosado os benefícios da unidade linguística com o francês como língua diplomática mundial. Chegou-se ao absurdo de redigir tratados internacionais em tantas línguas quantos fossem os contratantes e todas elas como originais.

            Inglês, alemão, italiano, russo, espanhol, todas as línguas da Europa, foram impostas pelos diferentes  povos como possuindo direitos iguais ao francês e este caiu rapidamente das funções de língua de cultura mundial para o lugar de simples língua nacional de minorias.

            O Espiritismo sofreu toda a desarticulação da falta de uma língua comum. As mensagens descidas do Alto ficaram limitadas a regiões linguísticas, a verdadeiras ilhas inabordáveis para os outros povos. A Revelação continua sendo mundial, porque os Espíritos falam em todas as línguas do planeta, mas os homens estão privados da universalidade das comunicações e limitados exclusivamente às suas fronteiras linguísticas. Em vez de um Espiritimo mundial único, como ao tempo de Kardec, elaboram-se centenas de pequenos movimentos espíritas desligados uns dos outros  e ignorantes até da existência de outros núcleos. Surgem grandes médiuns, maiores do que existiam ao tempo de Kardec, mas sua obra provisoriamente  permanece fechada em cada região lingística. Quem conhece na França a obra de Rosemary ou de Francisco Cândido Xavier? Nem os brasileiros conhecem  as obras da grande médium inglesa, nem os ingleses conhecem a dos nossos médiuns, e assim sucede a todos os povos. Falta a língua comum que reúna todo esse imenso tesouro, que, realmente, quando ligado em um todo, venceria o mundo em poucos anos, como previa Kardec sem poder imaginar a falência da língua francesa, queda inteiramente imprevisível em 1864, mas totalmente consumada em 1919, quando, pela primeira vez, numa conferência de diversas Potências, o francês foi excluído, porque os estadistas declararam que não sabiam francês.

            A falta de um língua mundial de cultura que reuna tudo quanto recebem os médiuns espalhados pelo mundo, para restituir tudo a todos como patrimônio comum de todos e de cada um, retardou de modo impressionante o movimento espírita mundial; mas o que perdemos em um século reconquistaremos em outro para toda a eternidade futura.

            Já os espíritas iniciaram em escala mundial a obra do futuro. O Congresso Espírita Panamericano adotou o Esperanto como uma de suas línguas oficiais; na Inglaterra, fundou-se a Londona Esperanto-Spiritista Societo; no Egito, está-se trabalhando com ardor pelo Esperanto entre os Espíritas; no Brasil, a Federação Espírita Brasileira iniciou o duplo trabalho de divulgar o Esperanto entre os espíritas e o Espiritismo entre os Esperantistas, e neste sentido já publicou vinte e poucos livros.

            Não sabemos quando, mas sabemos que um dia a  situação será muito melhor do que no tempo de Kardec; porque o Espiritismo terá uma língua mundial de todos e nela reunirá essa imponente biblioteca descida do Alto; são obras que se completam pela diversidade dos aspectos tratados pelos Espíritos e, quando reunidas, terão a força necessária para se imporem irresistivelmente a todos os pensadores do mundo.

            Trabalhemos, pois, com a certeza de que o grande ideal está em marcha e seu eclipse será muto passageiro.

                 Do blog: 75 anos são passados da publicação deste artigo. O que foi feito do Esperanto?


segunda-feira, 26 de julho de 2021

Conversando com seu próprio fantasma

Elliza Orzeszko

  Conversando com 
seu próprio fantasma

Por Lino Teles (Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB) Outubro 1962

 

            Eliza Orzeszko é uma das maiores glórias da literatura mundial. Viveu na Polônia, de 1843 a 1910.

            Em seu excelente romance “Marta”, que teve a honra de ser traduzido para o Esperanto pelo Dr. L. L. Zamenhof e que assim se tornou um dos clássicos da língua internacional, narra ela a dolorosa situação de uma pobre mulher nascida na melhor sociedade varsoviana, onde viveu feliz até aos 24 anos, ficou viúva, pobre e sofreu horrores até a morte violenta, debaixo de um bonde.

            Marta era de moral irrepreensível e de fina educação social; ficou viúva com uma filhinha de quatro anos e não se pode adaptar a nenhuma profissão: todas as tentativas neste sentido lhe falharam, porque não tinha qualquer educação profissional. Todo o seu cabedal de conhecimentos era apenas para ornamentação de salões, e isso não basta como meio de vida.

           Em plena miséria, numa água-furtada, está ela meditando junto à filha condenada à fome e discute consigo mesma. Leiamos na página 104:

            “Diante dela, flutuando no espaço vazio, achava-se uma figura de mulher com mortal angústia no rosto, com o rubor da vergonha na fronte, com as mãos entrelaçadas. Era a sua própria figura, refletida no espelho de sua imaginação.

           “Então és tu – dizia Marta mentalmente ao seu fantasma que nascera de seu próprio espírito – então és tu aquela mesma mulher que tão heroicamente prometeu a si mesma e à sua filhinha trabalhar, por sua perseverança e energia varar caminho ente os homens e conquistar um lugar ao sol?  Que fizeste, pois, desde o tempo em que tomaste essas resoluções? Como cumpriste a promessa que fizeste das profundezas de teu espírito à sombra querida do pai de tua filhinha?

          “A figura de mulher começou a oscilar no ar como um ramo flexível sacudido pelos vendavais; em vez de qualquer resposta, ela bateu mais fortemente as mãos uma contra a outra e murmurou com lábios trêmulos: - Eu não tinha aptidões” Eu sou uma ignorante!

            “Ó criatura inepta! – exclamou Marta de si para si – es assim digna do nome de ser humano, se sua cabeça é tão néscia que não sabe bem o que pensar de si mesma, se tuas mãos            são tão fracas que não se podem resguardar com seus desvelos nem a cabecinha minúscula de uma pobre criança! Porque então te estimavam outrora? Poderias agora estimar-te a ti mesma?

            “A figura de mulher descruzou as mãos e com elas cobriu o rosto que se curvou profundamente”.

             Há desses momentos em que o Espírito olha objetivamente e julga com severidade seu corpo, sua personalidade humana, tão diferente do seu ideal eterno.

            Mais adiante, na página 220, a Autora descreve a cena tétrica da meninazinha exânime, sem tratamento, que, num delírio, estendendo os bracinhos para o espaço vazio, para o pai que morrera um ano antes, exclama: “Papai! Papai!, gemendo, sorrindo e rogando socorro. Esta cena é realmente espírita e de fatos semelhantes tratou Bozzano em “Aparições no Leito de Moribundos”.

            Repitamos: “Marta”, de Eliza Orzeszko, é uma das obras imortais da literatura universal, tendo-se, por felicidade, tornado obra clássica do Esperanto, estudada em todos os países.

            Do ponto de vista social, a educação da mulher progrediu muito depois do tempo em que Eliza Orzeszko escreveu esse livro de combate aos defeitos de nossa civilização contra o sexo feminino. A mulher hoje frequenta escolas profissionais, aprende a trabalhar, a ser economicamente livre, e não uma eterna criança indefesa ou escrava, como era há um século.

            A autora de ‘Marta” foi uma das preparadoras da sociedade futura.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Os três peregrinos

 

Os 3 peregrinos

por Indalício Mendes

Reformador (FEB) Julho 1965 

           Jesus parou, sereno como sempre, e disse:

           - Tu és o meu Evangelho. Eu daqui me vou, mas tu ficarás para continuar o meu trabalho em favor da Humanidade. Onde estiveres, no todo ou em parte, aí estarei eu, porque os que te seguirem fielmente a mim seguirão. Serás o Peregrino de Deus a percorrer as estradas do mundo.
*
           E o Evangelho ficou na Terra para continuar o serviço de Jesus.

           Dessa forma surgiu na Terra, ungido pela graça do Mestre, o Primeiro Peregrino, levando consolo para todas as angústias e alívio para todas as dores da alma.

           Muitas vezes, porém, a dureza do coração humano impediu se expandissem as bênçãos do Evangelho. Mesmo assim, onde quer que o Primeiro Peregrino passasse, deixava um rastro de luz, daquela mesma luz que encheu de ânimo e esperança as terras da Palestina.

           Sendo o Evangelho o coração vivo do Cristo, dele irradiam a Tolerância, o Perdão, a Caridade, partículas do Amor, do grande Amor divino. Por isso, onde quer que recusem ou se mostrem indiferentes à visita do Primeiro Peregrino, fica o ambiente embalsamado pela palavra de Jesus: "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus"...

***

           Os tempos se desdobraram, até que um dia Jesus considerou oportuno mandar à Terra o Consolador prometido, para companheiro do Evangelho, o Grande Peregrino. Escolheu entre os homens o obreiro adequado para iniciar a nobre e áspera tarefa: Allan Kardec. E por intermédio de Kardec o mundo recebeu o Espiritismo, isto é, o Consolador prometido pelo Cristo. Seria o Segundo Peregrino a secundar o primeiro nas andanças terrenas: "Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco; O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê e absolutamente não o conhece. Mas, quanto a vós, conhece-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. - Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito". (João, cap. XIV, v. 15 a 17 e 26).

           Desde então, os dois Peregrinos caminham  juntos, unidos, pondo luz onde houver treva, amor onde encontrar ódio, sinceridade onde descobrir hipocrisia, fraternidade onde a dissensão se houver estabelecido. O Espiritismo veio ocupar na Terra o lugar em que outrora estivera o Cristianismo do Cristo e a Humanidade está compreendendo melhor a grandeza do Evangelho, a sua extraordinária significação na existência humana e o prodigioso alcance dos ensinamentos de Jesus, porque a vida é uma só, a desenvolver-se no plano espiritual e no plano físico, através da ação distribuidora, reguladora e retificadora da Reencarnação, que, segundo a lei de Causa e Efeito, realiza a síntese cármica, individual e coletiva, estabelecendo, sem favoritismo nem deficiência, a legítima Justiça Divina.

***

           Todavia, era mister desfazer dificuldades inerentes a este mundo babélico, no qual a diversidade de falas muitas vezes impede, em ritmo mais conveniente, a propagação da Verdade pregada pelos dois Peregrinos mencionados. Seria útil a presença de outro companheiro.

           Eis que do Alto é apontado um trabalhador modesto e valoroso, na pessoa de Lásaro Zamenhof como capaz de encaminhar, ao encontro do Evangelho e do Espiritismo, o Terceiro Peregrino. Quando o Esperanto chegou, de novo cintilaram as luzes celestes. A grande barreira babélica vem sendo ultrapassada, porque essa língua neutra, sonora e bela, de fácil e rápida assimilação, continua crescendo em todo o mundo, unindo o Ocidente ao Oriente, desfazendo fronteiras e cooperando no trabalho cristão-espírita a prol da melhor compreensão entre os povos e da fraternidade maior entre os homens.

           Os Três Peregrinos completam o triângulo da Esperança: no vértice, o (E)vangelho; no ângulo direito, o (E)spiritismo, e no ângulo esquerdo, o (E)speranto.

***

           A silhueta de Jesus se esboça em meio a uma nuvem luminosa e sua voz terna, mas firme, se faz ouvir: "Cingidas esteja, as vossas cintas, e acesas as vossas lâmpadas; assemelhai-vos a homens que esperam pelo seu senhor ao voltar ele das bodas; para que, quando chegar e bater à porta, logo lhe abrirem. - Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, ao chegar, encontre vigilantes; em verdade vos digo que ele se cingirá, os fará sentar à mesa e, aproximando-se, os servirá. - Quer ele venha na segunda vigília, quer na terceira, bem aventurados serão eles, se assim os achar" (Lucas, 12 - 35 a 38).
           Assim também, na primeira vigília chegou o Evangelho; na segunda, o Espiritismo; na terceira, o Esperanto...

*** 

           - Vês, amigo, aqueles três focos de Luz que avultam no horizonte? São eles, os Três Peregrinos. Andam juntos, mas pode um chegar à frente do outro, porque tudo depende de circunstâncias imprevisíveis. Às vezes, um deles bate à porta; outras, dois; outros ainda, todos os três. Seja como for, prepara o teu coração para recebê-los. Enche de paz o teu espírito para que possas cumprir generosamente os deveres da hospitalidade.

           Franqueia-lhes tua casa. Eles vem em missão de paz, de amor, de caridade.     

           Representam Jesus. Não te esqueças ........................................................... 

           E tu, também, mantém-te vigilante. Se um dos Três Peregrinos ainda não te visitou, a qualquer momento poderá chegar. Recebe-o de coração puro, porque, disse o Cristo, "bem-aventurados os de coração puro, porque verão a Deus!

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           Do blog; Que fizemos nós do Esperanto?

quinta-feira, 19 de março de 2015

A Estranha Missão de Eliazar

Zamenhof, seu filho Dr Adão e o poeta A Grabowski

A Estranha Missão de Eliazar
Indalício H. Mendes
Reformador (FEB) Julho 1978

            Tendo diante de nós excelente livro devido à mediunidade de D. Dolores Bacellar, pusemo-nos a examiná-lo com profundo e desvelado interesse. O título, sugestivo e belo -- A Canção do Destino, espicaçou-nos a curiosidade. Fomos ao índice e vimos nomes conhecidos de intelectuais brasileiros, como Medeiros e Albuquerque, Monteiro Lobato, Coelho Neto, Bernardo Guimarães e Artur Azevedo, além de Benedita Fernandes (que militou no movimento espírita brasileiro) e outros, que, sem dúvida alguma, na simplicidade de suas referências, possuíam a autoridade que o serviço cristão confere aos obreiros verdadeiramente fiéis às suas responsabilidades espirituais, como Alfredo, Estevina Magalhães, Irmão Bernardes, Irmão Camilo, Irmão Herculano e Um Jardineiro.

            A apresentação da obra já era, por si mesma, uma afirmativa do seu enorme valor, pois trazia a assinatura do nosso querido e sempre lembrado Ismael Gomes Braga, hoje também integrando as turmas coesas de obreiros da Espiritualidade. Diz ele, com a autoridade que sempre revelou em seus testemunhos: "O valor educativo desta obra está ao alcance de todos. Sua finalidade é Instruir, educar, orientar, pelo mais encantador dos processos: contando histórias cativantes, das quais decorrem os ensinos. Serve para um sábio do mesmo modo que para uma criança." Absolutamente exato.

            Escolhemos para este artigo "A Estranha Missão de Eliazar", porque se refere muito particularmente ao genial criador do Esperanto, Dr. Lazarus Ludwig Zamenhof, que desempenha relevante atividade, no Plano Invisível, sob o nome de Eliazar. Uma nota da Editora esclarece: "Na edição hebraica do "Fundamento de Esperanto", o nome do Dr. Zamenhof aparece como Eliazar, embora ele fosse mais conhecido como Lazarus, que é uma variante de Eliazar e significa igualmente o "Ajudado por Deus". A médium não conhece sequer o alfabeto hebraico e não poderia saber que Zamenhof se chamava Eliazar. Devemos interpretar neste conto o nome da personagem como sendo, real ou alegoricamente, o iniciador do Esperanto. Outra informação preciosa que colhemos logo no início do conto é que a missão de Eliazar - de estabelecer a Fraternidade Universal - já é milenária. Existe já um trabalho preparatório muito longo antes de chegar à fase da Língua Internacional, pela qual trabalhamos hoje."

            Desejamos fazer um reparo assaz importante. Enquanto a nota acima diz e repete que se trata de "um conto", o Espírito Alfredo, logo nas primeiras linhas de sua mensagem, elucida significativamente: "O que escrevo não é propriamente "conto"; é, sim, o relato de um momento crítico vivido pelas nações terrestres e testemunhado por nós, discípulos de Eliazar, que o acompanhávamos sempre em suas excursões à Terra, onde o esclarecido Espírito exerce, há milênios, a missão de despertar as almas para os albores da Fraternidade Universal." (P. 249)

            Por conseguinte, o trabalho intitulado "A Estranha Missão de Eliazar" não é ficção, mas produto real da observação feita por um grupo de Espíritos em tarefas cristãs.

            Tentamos resumir, nas linhas que se seguem, o que se encontra no capítulo referido, com a preocupação de não eliminar o que nos pareceu verdadeiramente essencial.

*

            Multiplicavam-se, num Congresso Internacional pela Paz, as negociações e artimanhas políticas dos homens, presos a confusos e lastimáveis interesses pessoais e de grupos, para os quais as guerras são sempre lucrativas, não lhes preocupando a miséria humana, as lágrimas da viuvez e da orfandade. Enquanto isso, alguns poucos realizavam inauditos esforços para evitar o pior, tentando fixar um denominador comum para as controvérsias que dividiam os homens, em nome do nacionalismo ferrenho ou de uma democracia que se lhes enquistava nos lábios, jamais descendo ao coração.

            A minoria benévola, sem o saber, recebia do Alto intuições maravilhosas, para que não desanimasse na defesa da paz, buscando impedir que a Humanidade mergulhasse em uma grande e generalizada chacina. A situação era angustiante; as perspectivas se apresentavam sombrias. O medo torturava os mais sensíveis e espalhava no ambiente as vibrações negativas que podem levar ao terror.

            Entrementes, Angelo, um dos mentores dos planos evangelizados, que lutava, juntamente com Eliazar, pela implantação da paz, e seus discípulos foram convocados e instruídos para presenciar, em tal Congresso, as discussões dos políticos de diversos países em torno de problemas que envolviam a autonomia de povos fracos, acossados por nações poderosas.

            Os oradores se utilizavam dos idiomas que lhes eram próprios, mas, na realidade, nem sempre as imediatas traduções espelhavam o sentido real dos discursos, pois, insuficientes ou deturpadas pela impossibilidade de uma reprodução fiel do pensamento de cada um, criavam situações embaraçosas, ora cômicas, ora trágicas... Todos diziam pretender a paz, mas a confusão dos idiomas gerava dúvidas, mal entendidos, protestos, num clima evidentemente desfavorável à confraternidade, perdurando a incerteza e a desconfiança recíprocas, justamente porque muitos simulavam nas palavras os verdadeiros sentimentos que os animavam, comprometidos por interesses subalternos.

            Eliazar, em absoluta concentração, projetava sobre a assembleia fluidos magnéticos, vibrações de amor, para que os delegados a tal Congresso pela Paz Mundial se entendessem. Foi quando o Espírito Alfredo, diante da confusão estabelecida, perguntou-lhe:

            - Por que as discussões destes homens são tumultuosas, se todos eles visam ao mesmo fim - a Paz?

            Por dois motivos fundamentalmente contrários à boa harmonia entre os homens. Primeiro: muitos destes irmãos estão dominados por um auto interesse. As suas palavras não condizem com os pensamentos íntimos. Por isso estão imantados a influências espirituais as mais negativas. Quando os homens - continuou Eliazar, no caso Zamenhof -, se reúnem para discutir em prol da Paz terrestre, comparecem em suas assembleias duas forças contrárias, uma, negativa, adversa aos bons propósitos, e outra, positiva, favorável ao Bem.

            E Eliazar mostrou a Alfredo falanges das trevas, que eram como que chefiadas pelo "gênio do Mal, visto por Zoroastro - Ahriman". Seus fluidos atuam sobre os irmãos vencidos pelo egoísmo, movimentando-os como se fossem marionetes. Adotam atitudes falsas, enganosas, porque, na verdade, seus sentimentos abrem oportunidades ao trabalho nefasto de entidades empolgadas pela sombra.

            Eliazar foi apontando a Alfredo cada um dos elementos dominados por Espíritos trevosos. Um, senhor das mais ricas minas de ferro do mundo; outro, detentor de patentes de inventos mortíferos; outro mais, com sólidos interesses em indústrias de carvão e aço, fábricas de armamentos, etc.

            E Eliazar, penalizado, ponderou:

            - Nas mentes desses senhores, o interesse fala mais alto que o Direito e a Justiça... Enquanto suas vozes forem ouvidas nos Congressos Pró-Paz, o fantasma da guerra assombrará a Humanidade terrestre...

            - Mas, por que, então - atalhou Alfredo -, as forças do Bem não lhes interceptam as ações?

            A resposta foi pronta e esclarecedora. Para ela chamamos a atenção dos que estão lendo este relato verídico de Eliazar:

            - Porque o Bem não vai de encontro a nenhuma Lei Divina. Isto seria ferir o livre-arbítrio das criaturas, violentá-las em seus sentimentos.

            Alfredo insistiu, interessado:

            - Entretanto, os gênios de Ahriman impelem os seres ao Mal.. Não é isto uma violação das Leis divinas de Fraternidade e Amor? E essa violação não é feita aos olhos de Deus.

            Impunha-se maior esclarecimento. E Eliazar, com brandura, respondeu:

            - Aos olhos de Deus, o Bem e o Mal não existem a não ser em função da Sua Justiça. Deus não castiga nem recompensa, porque Ele sabe que os seres erram não por maldade nata, mas por ignorância das Leis de Causa e Efeito. Quando os homens sentirem que são réus perante estas Leis que regem os destinos e se propuserem à corrigenda, então contra eles nenhuma influência exercerá Ahriman, porque Ahriman existe em função dos erros humanos. Todo aquele que encontra o caminho da Regeneração traçado pelo Mestre está contribuindo para exterminar o Mal da face da Terra...

            Se bem compreendemos a palavra de Eliazar, Ahriman é apenas uma figura simbólica do Mal, e este não deixa de ser, de certa maneira, um instrumento criado pela ignorância do Bem, destinado a despertar os Espíritos surdos ou indiferentes à Lei Divina para o Bem, pois atingem preferentemente os que ainda possuem antigos débitos a resgatar. Um dia, à própria custa, os Espíritos empenhados na prática do mal sentirão a consciência atormentada e serão os primeiros a desejar livrar-se das pesadas cargas que voluntariamente puseram sobre si, compreendendo que o mal leva sempre à dor, à desgraça, ao desespero. Cansados das perversidades perpetradas, experimentarão o desejo de fuga e, então, "amadurecidos", se renderão à influência do Bem. Considerado sob tal ponto de vista, o Mal é, através dos remorsos das consciências inquietas, do arrependimento que é o primeiro sinal de salvação à vista, um instrumento de corrigenda de quantos ainda possuem saldos negativos de existências pregressas.

            Ansioso por maior elucidação, Alfredo perguntou:

            - Dissestes, no princípio, Venerável Eliazar, que eram dois os motivos básicos que obstavam à boa compreensão entre os homens, quando discutiam meios de evitar a guerra, cancro que os extermina desde o aurorescer do gênero humano. Falastes de um: do egoístico interesse que os domina. Mas qual o outro motivo essencial que lhes dificulta a fraterna compreensão?

            - A falta de uma língua comum a todos os povos. Uma língua internacional - completou Eliazar.

            - Não compreendo...

            - Logo compreendereis... Se os homens discutissem, em linguagem conhecida de todos, os assuntos de interesse geral, chegariam, sempre, a um acordo, economizando tempo e trabalho.

            - Sim, tendes razão. Eles, porém, não possuem já uma língua internacional - o Esperanto?

            - Já a possuem - respondeu Eliazar -, mas não oficialmente aceita pelos povos... Há países até em que o estudo do Esperanto é proibido por seus governos.

            - Por que, se essa língua conduz à Paz?

            - Por isso mesmo. É que ainda há almas que somente sabem respirar numa atmosfera de terror e destruição. São elas remanescentes daquela época em que certos espíritos vibravam de satânica alegria diante dos corpos martirizados dos primeiros cristãos, queimados nas praças públicas e nas arenas dos circos de Roma e Alexandria...

            As repetidas encarnações para essas pobres almas passam como as mudanças de peles nas serpentes: modificam lhes o aspecto, não a ferocidade. As encarnações, nessas almas, não lhes aprimoram os instintos, que em nada as diferenciam dos primitivos trogloditas.

            Como chegasse o instrutor espiritual Ângelo, apreensivo, o diálogo se interrompeu. No Congresso, os líderes não chegavam a um acordo, embora lá houvessem ficado, por determinação de Ângelo, devotados Espíritos com a função de serenar os ânimos, através de passes magnéticos adequados. As vibrações negativas, no entanto, recrudesciam. Ângelo externou a opinião de que a guerra parecia inevitável. Eliazar, porém, confortou-o:

            - Não percamos a fé, amado Ângelo. Não nos esforçaremos inutilmente ... Trabalhamos, não pela paz de um dia, mas por aquela Paz que há de reinar por todo o sempre. Hoje lançamos as suas sementes; só amanhã colheremos os seus frutos.

            Em seguida, Eliazar entrou em prece e seu belo rosto resplandecia de Paz interior.

            O orador, que naquele momento discursava, deixou de exaltar-se e adotou mais harmônico e comedido diapasão, Profligava a guerra, lembrando as consequências gravíssimas de um novo conflito. Apelou para que os mais intransigentes contribuíssem para favorecer a paz que se buscava proteger. Chegara a ser patético. Embora seu país houvesse sofrido inesperada invasão de um vizinho poderoso, sua palavra era serena e conciliadora.

            Mas o representante do país invasor, cercado de entidades tenebrosas, perorava com arrogância. Persistia em dizer que seu governo era "realista" e chegara à conclusão que se tornava preciso orientar e guiar os povos "bárbaros":

            - Povos, Senhor Presidente - dizia ele -, distanciados séculos da Civilização. Não rompemos tratados, fomos, isto sim, em socorro dos irmãos de ideais que nos estendiam os braços, escravos do estrangeiro que os traz acorrentados ao seu poderio, explorando lhes as energias gastas no trabalho, cujos maiores lucros vão favorecer os cofres de certas organizações. Houve naquele protetorado, Senhor Presidente, uma revolução e os seus bravos chefes, que lutaram pela independência da pátria asfixiada, pediram ao meu país, além de armas e munições, o auxílio de nossas brigadas, sempre prontas à luta em prol de ideias que defendam as classes sacrificadas. Não invadimos fronteiras; socorremos, auxiliamos a irmãos.

            Aparteado, o orador, enfurecido, teve de ouvir estas palavras:

            - Atendestes ao apelo dos agentes de vosso governo, infiltrados nos organismos das pátrias, como cancros malignos!

            As entidades trevosas exultavam com a contenda.

            Fizemos questão de reproduzir o diálogo, ainda que sintetizado, para que se tenha uma ideia de como agem os elementos perturbadores da Espiritualidade inferior, sempre que encontram ressonância para as suas baixas vibrações.

            Ninguém se iluda. Legiões de maus Espíritos desceram à Terra, reforçando suas falanges, para que seus desígnios maléficos possam triunfar mais depressa. Eis por que todos devemos usar o recurso da prece, a fim de dar aos bons Espíritos a cooperação de que, também sob esse aspecto, eles necessitam para a defesa da Humanidade.

            Eliazar e seus companheiros seguiram todos os trabalhos posteriores e cada vez mais se assegurava ele de que a falta de confiança entre os homens, principalmente nas reuniões de indivíduos de falas diferentes, se acentuava devido à inexistência de um entendimento verbal direto. E comentou:

            - A falta de uma língua comum se faz sentir em momentos como este, de incontestável gravidade. Neste caso, onde os interesses falam mais alto que o senso de justiça, seria necessário que uma voz plena de altruísmo e saber - voz que se fizesse ouvir por suas virtudes e compreender por todos - chamasse estas almas à razão, convocando-as ao dever de amor ao semelhante. Estes homens não se compreendem: falam e pensam como estranhos. Estão separados não somente pelas fronteiras terrenas, mas pelos sentimentos e costumes, pelas crenças e ideais e, principalmente, pela muralha das línguas... Pensam através de ouvidos alheios, na dependência de intérpretes por vezes inábeis para traduzirem o sentido oculto das palavras, que se esconde na inflexão.

            Esperemos que o Homem compreenda, premido por suas próprias necessidades, que a par do vocabulário pátrio deve aprender o Esperanto, a língua trazida à Terra por inspiração divina. O conhecimento desta língua daria asas à inteligência humana, que se alçaria a alturas jamais sonhadas. O pensamento religioso e científico, todas as aquisições intelectuais e morais - Política, Arte, Filosofia - tornar-se-iam conhecidos dos homens, livres de deturpações, pois que em Esperanto seriam eles expressos diretamente. A Humanidade sentir-se-ia uma só família, irmanada pelo verbo comum a todos, pois quando falamos a mesma linguagem não nos sentimos estrangeiros. Mas, enquanto aguardamos que a Torre de Babel seja demolida de todo da face da Terra, oremos e trabalhemos pela
compreensão universal.

            Respondendo a outra pergunta de Alfredo, Eliazar disse que os homens ainda seguem o Mal porque lhes falta aptidão para seguir o Bem. E frisou, com admirável precisão:

            - Cada Humanidade tem o mundo que merece; cada homem a vida correspondente aos seus sentimentos. O meio onde estamos situados reflete a nossa alma. Quando vemos um campo cultivado, sentimos que é habitado por homens operosos; se presa de ervas daninhas, que ali imperam a negligência e a inatividade... O homem laborioso é o Bem; o preguiçoso é o Mal. O Bem usufrui os benefícios do próprio esforço; o Mal vive sofrendo a privação de bons frutos, em virtude de sua própria indolência. O Sol nasce para todos, mas somente o veem, em todo esplendor, aqueles que cedo despertam... O Mal não existiria se o homem não o criasse com as suas próprias mãos... Como também o Bem só existe em função do homem. Para Deus, estes sentimentos são estados d’alma de Suas criaturas. São os reflexos das mentes sãs ou doentias que desaparecerão quando elas compreenderem que o Amor é o natural estado dos seres e não acidente. O Mal desaparecerá quando cessarem as causas e os efeitos por ele provocados... "

            Dava Eliazar, dessa forma, outra estupenda lição sobre a sabedoria divina, sublinhando a infalibilidade da ação cármica:

            - Os homens, através das ações, determinam seus próprios destinos. Somos, pois, senhores de nossas vidas, dependendo o bem-estar futuro do labor do presente. Quando o Homem tiver capacidade de amar; quando souber vibrar em uníssono com as Leis divinas, justo será e lógico que o seu mundo se eleve à condição de Céu, porque o mundo em que vivemos reflete as nossas ações e os nossos sentimentos. Todo sofrimento tem suas raízes no passado. Ninguém sofre inocente. Certamente, as ações de agora destes irmãos serão medidas e pesadas e servirão de contrapeso na Balança da Justiça Divina quando forem avaliados os seus méritos.

            Entrementes, os delegados à Assembleia das Nações, convocados para dirimir a questão já mencionada linhas atrás, mantiveram seus pontos de vista, a maioria impelida por suas próprias conveniências; a minoria sem perceber bem o que fazia... Somente um pequeno número votou, conscientemente, em prol da Paz. A maioria, cavilosamente, manifestou-se pela neutralidade...

            Meditando sobre esses episódios, dos quais ressalta o importante papel que os Espíritos do Bem desempenham para beneficiar a Humanidade, voltamos o pensamento para as célebres reuniões políticas que precederam o desencadear da II Guerra Mundial, em 1939, e, depois, para a conferência de Yalta, cujos segredos mais íntimos ainda não foram revelados, mas onde o temor e a tibieza transferiram, das mãos de um déspota para as de outro, a influência de ideologias conflitantes em essência, ambas, porém, igualmente prejudiciais ao equilíbrio social, político e moral do mundo. A História já deixou claro que o medo de que um mal tangível se expandisse, para desgraça da Humanidade, não deixou se visse que outro mal, de igual potência nefasta, se fortaleceria logo que lhe atribuíssem função predominante na política mundial. Os Espíritos trevosos estavam, nesse poker sinistro, com dois jogadores portando trunfos idênticos, podendo blefar os outros participantes quando a partida atingisse o clímax. E foi o que aconteceu, para confirmar as profecias...

            0s espíritas, porém, creem no poder do Evangelho, sabem como se desenvolve na Terra a lei cármica (de ação e reação) e confiam no futuro reservado à Humanidade. Pensam, portanto, como Eliazar, quando Alfredo, preocupado com a continuação da guerra, dele obteve estes esclarecimentos:

            - O conflito vai ferir apenas uma pequena parte do globo. Mas, creiam: o mundo se aproxima da sonhada Paz. Os caminhos que levarão o homem até ela vêm sendo delineados pelos séculos a fora.. Citaremos três desses caminhos que, se trilhados, conduzirão à Paz, à Felicidade, ao Céu: Evangelho, Espiritismo, Esperanto. Um, prolongamento do outro, porque o Evangelho conduz ao Espiritismo e este ao Esperanto. Indicar estes três caminhos é a nossa missão, o objetivo santo de todos os obreiros de
Jesus.

            E Eliazar calou-se. Alfredo, em silêncio, entregara-se a um solilóquio: " ... que importa uma fração do Tempo aos Missionários de Deus? Mil anos na Terra são um minuto na Eternidade ... O Sol da Paz fulgirá! Hoje?.. Amanhã?.. Que importa o tempo? Aos olhos de Deus não existe tempo nem espaço: tudo é Infinito.."
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domingo, 24 de novembro de 2013

Humanismo

Zamenhof, ao centro

Humanismo
Porto Carreiro Neto
Reformador Dezembro 1946

            "A mais alta Força, incompreensível para mim, que é a causa das causas no mundo material e no moral, posso designar pelo nome "Deus" ou por outro qualquer, mas sinto que a essência dessa Força cada qual tem o direito de imaginá-la do modo pelo qual lhe ditem a razão e o coração ou os ensinamentos de sua igreja. Não devo jamais odiar ou perseguir quem quer que seja por ser diferente da minha a sua crença em Deus.

            ''Sinto que a essência dos verdadeiros mandamentos religiosos reside no coração de todo homem sob forma de consciência, e que o primeiro princípio desses mandamentos, obrigatórios para todos, é: procedei para com outrem da mesma sorte que desejaríeis que outrem procedesse convosco."

            A "regra de ouro", formulada por estas últimas palavras, é bem conhecida de todos nós; o preceito acima, porém, não foi colhido da narrativa da passagem do Maior Mestre, Jesus, nem de outro Espírito superior de que nos dá notícia a História: representa a tradução para o nosso vernáculo, de um dos "princípios" da doutrina "Homaranismo", imaginada pelo grande Zamenhof, o genial criador do idioma auxiliar internacional Esperanto; e se atentarmos nos dois princípios supra traduzidos, veremos que grau, na infinita hierarquia dos filhos de Deus, ocupa esse admirável Espírito.

            Intraduzível é o nome com o qual Zamenhof assinalou o corpo de princípios que concebera, para que nesse "terreno neutro" todos os homens se aproximassem, se entendessem e se estimassem. O vocábulo se compõe, de uma raiz e de três sufixos, além da terminação "o" dos substantivos, a saber: "hom", homem (em geral, pessoa); "ar", conjunto; "an", membro; "ism" , sufixo para se designar doutrina, sistema; significará, pois, aproximadamente, "doutrina (ou sistema) que liga os membros da família humana". Ao dizermos "doutrina", o leitor não pense que se trate de formulário destinado a derruir os princípios em que se firme cada um de nós para se conduzir dentro da sua ética própria ou das regras de sua religião; Zamenhof declara mesmo: "Devemos lembrar-nos de que o "humanismo" não quer, de nenhum modo, substituir as religiões e templos existentes por quaisquer outros ... " Voltando ao equivalente de "homaranismo": traduzimo-lo aqui por "humanismo", sem com isto querer dizer que o sistema alvitrado por Zamenhof haja algo de comum com o termo "humanismo" consagrado na língua. Parodiando a célebre frase, poderíamos dizer: "o Esperanto, em tal maneira é flexível, que, em se querendo, dir-se-á nele tudo": tudo, veja bem o leitor, e mais alguma coisa, para a qual as orgulhosas e ciumentas línguas nacionais não contam com termo próprio...

            O imortal mestre (que ele não nos leia, pois solicitava que não lhe dessem este título), ao que parece, não seguia nenhuma doutrina religiosa: tal verificação a um tempo nos causa espanto e não nos é motivo de surpresa a respeito de pessoa que tão alto conceito fazia da "mais alta Força", in compreensível para ele. Com efeito, não deixava o sábio e quantas vezes sábio! - passar o ensejo de se referir a essa Incógnita, sem que, por isto, se visse forçado a confessar algum credo religioso. A cada passo mencionava "essa grande Força moral", a "Força Misteriosa"; e, certa vez, chegou a se dirigir ao "potente mistério incorpóreo, força imensa que governa o mundo,.. grande fonte do amor e da verdade e fonte perene da vida ... a qual cada um imagina de modo diferente, mas que todos sentem de igual modo no coração", dizendo-Lhe: "a Ti, que crias, a Ti, que reinas, hoje oramos"! Nesta mesma súplica, em belíssima poesia, que é a "Prece sob o Estandarte Verde" e recitada em sessão solene do 1º Congresso Internacional do Esperanto, reunido em Boulogne-sur-Mer, Zamenhof roga: "Oh! quem sejas Tu, misteriosa força, ouve a voz da prece sincera, restitui a paz à infância da grande humanidade!", e adiante: "cristãos, hebreus ou maometanos, todos somos filhos de Deus"!

            Este o grande assombro a que acima aludimos; quer parecer-nos, entretanto, que nada é de admirar que Espírito dessa magnitude nutrisse tais pensamentos e emitisse tais conceitos, pois uns e outros eram a ele inerentes, a esse magnífico missionário que tão precisa e lealmente cumpriu a tarefa que trouxera. E dizemos, em acréscimo: se estivesse ele jungido a algum dogma, pelo menos difícil lhe seria pôr em prática o seu cabedal neste espinhoso terreno, onde se enredaria nos ditames rígidos e intolerantes de leis mais humanas que divinas.

            A finalidade que teve Zamenhof com a criação do Esperanto não foi senão a de aproximar os homens pelo intelecto para que se congregassem pelo espírito. Impossível num artigo estender-nos sobre a profundeza dessa concepção: esta, percebeu-a perfeitamente a nossa Federação, divulgando agora, no idioma neutro, a sábia doutrina dos Espíritos, uma e outros sem qualquer compromisso com este ou aquele povo. Não nos podemos, contudo, furtar às seguintes considerações.

            Por ocasião do Congresso de Raças, realizado em Julho de 1911, em Londres, Zamenhof analisa as várias causas que poderiam determinar "o ódio mútuo e a luta entre as gentes" (melhor e mais extenso termo do que simplesmente "raças"); examina detidamente cada uma dessas prováveis causas, inquirindo e respondendo com argumentos irretorquíveis, e termina:

            "Que é, então, a verdadeira causa do estado de separação e de ódio entre as gentes? De tudo quanto acima apresentei já se pode ver que, mal grado todas as teorias pseudocientíficas sobre peculiaridades raciais, climas, sangue, etc., as verdadeiras muralhas entre as gentes, a verdadeira causa de todo ódio entre as gentes, residem na diferença das línguas e das religiões. Principalmente a língua representa tão grande e quase exclusivo papel na diversidade das gentes, que em alguns idiomas os vocábulos "língua" e "gente" são sinônimos perfeitos. Se dois homens falam a mesma língua, sem humilhação para qualquer deles, com iguais direitos sobre ela, e graças a ela, não somente se compreendem um ao outro, mas possuem a mesma literatura (oral ou escrita), a mesma educação, os mesmos ideais, a mesma dignidade humana e os mesmos direitos; se, além disto, eles têm o mesmo "Deus", as mesmas festas, os mesmos costumes, tradições e modo de viver, sentem-se absolutamente irmãos, sentem que pertencem à mesma gente, Se dois homens não compreendem um ao outro, se, outrossim, possuem costumes e modos de viver de todo diversos, olham-se como estranhos, quais mudos e bárbaros, instintivamente se evitam e desconfiam um do outro, da mesma sorte que instintivamente desconfiamos de tudo quanto aos nossos olhos se oculta nas trevas."

            Zamenhof assim conclui essa mensagem ao referido congresso:

            "Nenhum paliativo de compromissos, nenhum sagaz tratado político trará a paz à Humanidade: Quanto mais, entretanto, o Esperantismo se fortalecer no mundo, quanto mais frequentemente os homens de diversas gentes se reunirem e se relacionarem sobre um fundamento neutro, tanto mais eles se habituarão à compreensão e amor recíprocos: tanto mais sentirão que todos têm iguais corações, iguais entendimentos, iguais ideais, iguais sofrimentos e dores, e que todo ódio entre as gentes nada mais é do que resquício dos tempos - da barbárie. Desse fundamento neutro... pouco a pouco surgirá essa futura humanidade, unida e puramente humana, com a qual sonharam os profetas de todas as gentes e de todos os tempos."

            Pese cada um estas palavras e conceitos sempre atuais; e, apreciando o alto grau de progresso que atingiu Espírito de tal quilate, sinta e colabore na obra que, deste modo, auxilia a confraternização dos homens, objetivo precípuo da Lei Divina.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Eliazar / Zamenhof



           “Os homens, através das ações, determinam seus próprios destinos. Somos, pois, senhores de nossas vidas, dependendo o bem-estar futuro do labor do presente. Quando o Homem tiver capacidade de amar; quando souber vibrar em uníssono com as Leis Divinas, justo será e lógico que o seu mundo se eleve à condição de Céu, porque o mundo em que vivemos reflete as nossas ações e os nossos sentimentos. Todo sofrimento tem suas raízes no passado. Ninguém sofre inocente. Certamente, as ações de agora ...servirão de contrapeso na Balança da Justiça Divina quando ... avaliados os seus méritos.”
          Espírito Eliazar, conhecido, quando encarnado,
como Lazarus Ludwig Zamenhof, o criador do Esperanto.

 Citação encontrada em Reformador (FEB), Julho de 1978 em artigo assinado por  Indalício Mendes.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Senso Moral



O Senso Moral
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Agosto 1946


            Pessoas há inteligentes, cultas, mas de uma indiferença absoluta pelo problema máximo da existência: saber se a vida termina no túmulo ou se o ser humano sobrevive ao sono da morte e que sonhos pode haver nesse sono, como interroga Shakespeare. No entanto, a resposta a essa questão é básica, porque determina as regras de conduta para a vida inteira. 

            Outras têm curiosidade, mas se limitam aos fenômenos e desinteressam-se pelas consequências das comunicações dos Espíritos. Ficam no primeiro degrau da escada e não pensam em galgar o segundo.

            Ainda depois, há as que procuram nas comunicações resolver seus pequeninos problemas materiais da Terra, sem cogitar do futuro espiritual.

            Existe a categoria das que se agarram fanaticamente ao Codificador e tentam evitar a evolução da Doutrina, recusam tudo que já não tenha sido ensinado por Allan Kardec, e fazem tentativas apaixonadas de ver nas obras de Kardec - contrariamente aos ensinos dessas mesmas obras - o ponto final da Revelação; quando o Autor mesmo nos ensina que ainda estamos no A B C e temos um infinito a aprender em Espiritismo.

            Uma classe existe dos combativos, para os quais a Revelação é lábaro de guerra: só lhes interessa o Espiritismo pelas oportunidades que lhes possa fornecer de lutar contra as Igrejas, contra os materialistas, e, quando já derrotaram ilusoriamente todos os adversários, tentam fazer o expurgo em nossas fileiras, atacando quantos não entendam a Doutrina em todas as minúcias como eles a concebem, sem perceberem que eles mesmos e todos os outros têm muitas limitações e todas diferentes umas das outras.    

            Quem melhor explica essas anomalias é Kardec:

            "Provém isso de que a parte por assim dizer material da ciência somente requer olhos que observem, enquanto que a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, que se pode chamar a maturidade do senso moral, maturidade que independe da idade e do grau de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encarnado." (O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XVII, 4).       

            Bozzano o explica dizendo que a observação puramente científica pode existir sem o senso filosófico. Podem observar-se muito bem certos fenômenos, registra-los com precisão, mas não saber remontar-se às causas ou indagar das consequências próximas e remotas dos fatos. Cientificamente uma carta é um pouco de papel sobre o qual foram escritas letras que formam palavras e frases comunicando pensamentos. Mas o filósofo não se detém aí, quer saber porque foi feita a carta, qual a sua origem, e para que foi escrita, qual sua finalidade, e por quem foi escrita e em que estado se acha quem a escreveu e que pensamentos e sentimentos revela e que efeitos produzem essas revelações sobre a alma do destinatário. Suas indagações ultrapassam de muito as do cientista, mas ainda não chegam ao fim, porque este está além do domínio da Filosofia, nas esferas silenciosas do Espírito, na síntese da intuição, nas vibrações do sentimento superior que independe da palavra, da análise da verdade objetiva, porque possui a verdade subjetiva.

            A esse grau de evolução em que o Espírito pode captar logo a essência do conhecimento de modo sintético, intuitivo, Kardec deu o nome de senso moral. Seria um sentido a mais que o simples cientista não possui, que o filósofo só parcialmente vislumbra e sabe que existe, quando define o termo de sua técnica, intuição, com estas palavras: "Conhecimento direto, sem necessidade de raciocínio, sem experiência empírica, por faculdade especial do espírito". (Kamaryt - Filozofia Vortaro) .

            Mas não chegaremos a esse estado só pela inteligência, só pela pesquisa da verdade; é necessária a evolução moral, o aprimoramento dos sentimentos, o cultivo do Amor. Faz-se mister que o coração e o cérebro, reunidos, sob a direção do Espírito, colaborem harmonicamente. A tarefa do advogado que examina autos para proclamar limites à verdade, é aquela parte somente material da Ciência, à qual fica ele limitado sem alcançar a essência. É um período perigoso de intolerância e combatividade, durante o qual o homem tenta impor aos outros suas limitações, nomeando-se líder de seus irmãos e traçando lindes ao pensamento; esforça-se por padronizar os conhecimentos dentro de limitados cânones e anatematizar tudo que ultrapasse suas fronteiras. Penoso exemplo desse estado de consciência tivemos no Brasil há, anos, quando um dos nossos irmãos promoveu um plebiscito para decidir certo ponto delicado do Evangelho por meio de votação e estabelecer um dogma negativo, obrigatório para todos, quando a questão só pode ser decidida de cada um para si mesmo. Ganhou o plebiscito e a coisa deveria estar terminada para sempre, mas a verdade é que tudo continuou como dantes, porque não poderia ser de outro modo: voto alheio não altera um estado de consciência, de convicção íntima.

            Recentemente, outro tomou a si o mesmo ponto por outro processo: em vez de recorrer ridiculamente à votação, examinou como acusador os "autos" e apresentou "relatório" ou "libelo" em mais de quatrocentas páginas de papel caríssimo: Não resta dúvida que o resultado será o mesmo do anterior plebiscito: o libelo só conservará mentalidade negativa nos que ainda a tenham, mas deixará livres os outros.

            Se assim é, porque o senso moral ainda não chegou à maturidade na imensa maioria dos homens, e essa falta de senso moral está fora de dúvida, fica cabalmente demonstrada pela indiferença dos terrícolas quanto aos assuntos de seu máximo interesse, pela prática de costumes opostos à sua própria felicidade, como os ódios partidários, a guerra, os assaltos, a vingança; então, como proceder para não cairmos a cada momento em erros de funestas consequências? Qual a regra de conduta mais segura ou menos perigosa neste caos de limitações contra limitações?

            É simplesmente tomar atitude afirmativa, não aceitar às negações; preferir as afirmações, mesmo ingênuas, às mais pomposas e retumbantes negações. O negador provavelmente é o que mais erra e mais induz a erros; porque se inspira no orgulho, na convicção de ver mais; e melhor do que os outros. 

            Não podemos ficar estáticos eternamente esperando que tais sábios decidam por nós o que temos de aceitar como bom; porque vemos pelas Escrituras que eles estão debatendo orgulhosamente há mais de três mil anos os mesmos temas, nunca chegaram a acordo, e provavelmente outros três mil anos passarão até o amadurecimento do senso moral a que se refere Kardec. E note-se que, estão debatendo, não estudando ou tentando aprender; porque, sem o senso moral, eles se presumem possuidores de todo o saber e não se esforçam contra sua própria ignorância, visto que sua primeira negação é justamente contra esta poderosa limitação.

            Tomemos, pois, atitude positiva, tentemos fazer alguma coisa, ainda que imperfeitamente, mas com mentalidade afirmativa, com fé no futuro da Humanidade. Há um infinito de trabalho a fazer-se, de serviços à nossa espera, e não seria possível perdermos a encarnação ouvindo a voz lúgubre dos negadores. O Espiritismo é a Revelação mais grandiosa que os homens já possuíram; forma um corpo de doutrinas encantadoras pela sua beleza e mágicas pelos efeitos de sua aplicação à vida. A nossa literatura afirmativa, recebida pelos bons médiuns do mundo inteiro, cresce dia a dia e está destinada a estabelecer um mundo novo, de mentalidade positiva e superiormente idealística. Os Espíritos superiores já tomaram atitude a favor do Esperanto e alguns deles já nos dão suas mensagens no idioma internacional, assentando as primeiras pedras para a grande construção do mundo futuro: de um mundo em que todos se compreendam, em que as mensagens descidas dos Céus falem igualmente a todos os habitantes do planeta sem as barreiras linguísticas. Há uma obra imensa a realizar-se: a transformação total da nossa civilização numa outra que terá compreensão mais alta da vida eterna; não podemos deter-nos para ouvir a leitura dos libelos dos eternos negadores.

            Em cada grupo espírita há pessoas bondosas e desejosas de aprender, esperando auxílio dos pregadores e dos escrevedores doutrinários. Envenenar- lhes a alma com negações, seria falta imperdoável, seria po-Ias em afinidade com as trevas. Mostremos-lhes, ao contrário, o brilhante futuro que nos espera a todos; ponhamos ao seu alcance a sublimidade da Doutrina para que sintam as vibrações amorosas dos nossos Maiores que caridosamente descem até nós para nos socorrer e levantar de nossas quedas. Pintemos-lhes o quadro do mundo futuro, no qual a guerra será substituída pela colaboração amistosa de todos os povos, de todos os homens, unidos uns aos outros como uma só família pelo conhecimento da Doutrina e compreendendo-se em uma língua comum de todos. Pela compreensão e pela colaboração, a pobreza e a ignorância serão banidas da família humana e reinarão o Amor e a Verdade. Mostremos-lhes o ideal de Zamenhof:

"Ni inter popoloj Ia murojn detruos,
Kaj ili ekkrakos kaj ili ekbruos
Kaj falos por êiam, kaj amo kaj vero
Ekregos sur tero." (1)

                  (1) Destruiremos as muralhas que separam os povos; elas estalarão, estrondarão e cairão para sempre, e o amor e a verdade começarão a reinar sobre a Terra.


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