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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Aconteceu na FEB

 

Aconteceu na FEB - 1

João Repórter (Antonio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Setembro 1955

 

            Sobrecarregado de serviços na FEB, que lhe tomam de catorze a dezesseis horas diárias, o presidente de nossa instituição, a não ser em casos excepcionais ou de urgência, só atende aos sábados.

            E exatamente num desses sábados é que foi procurado por uma senhora simples, modestamente vestida, que, acanhada e humildemente, lhe começou a falar:

            - Trago-lhe, senhor presidente, para o seu exame, alguns livros por mim recebidos. O primeiro me veio há quase trinta anos. Se agradarem à Federação, desde já pertencem a ela. Se não merecerem ser publicados, continuarei, como sempre, a mesma amiga desta Casa.

            Muito agradecido, minha Senhora, pela sua gentileza. Peço-lhe, porém, que tenha um pouco de paciência, pois que presentemente estamos com dezenove originais de obras a serem lidas.

            Não tenho pressa – disse ele – Apenas lhe pedia que marcasse o dia em que deverei voltar à sua presença.

            Poderá telefonar-me dentro de um prazo razoável ou, então, esperar que eu lhe dirija um telegrama, convidando-a a vir até aqui – respondeu-lhe o presidente da FEB.

            E os meses forram correndo, correndo, até que em outro sábado volta a médium:

            - O senhor já tem alguma notícia sobre os meus trabalhos?

            - Ainda não, minha senhora – foi-lhe informado. - - Poderá ficar tranquila em sua casa. Quando menos esperar, chegar-lhe-á às mãos o telegrama em que lhe rogaremos um vir até cá, para lhe darmos a opinião que nos solicitou.

            E lá se foi ela, humilde, simples, e toda bondade, na voz, nos gestos, no olhar, no todo.

            Novos meses se escoaram até que chegou a vez de ser lido o primeiro dos volumes. E palavra por palavra, frase por frase, tudo foi examinado. E tudo isso, após leituras e mais leituras de livros outros, mediúnicos ou não, quase todos rejeitados.

            Terminada a leitura, lá seguiu o telegrama convidando médium a comparecer à residência do presidente.

            - Minha senhora - foi-lhe dito – o seu primeiro livro merece publicado e a FEB terá muito prazer em apresentá-lo ainda este ano.  

            E a médium que durante quase trinta guardou para a FEB aquele trabalho, mas que por todo esse tempo se sentia acanhada, pelo seu gênio retraído, como que se transformou à frente do presidente, estampando-se lhe nos olhos sempre tão tristes, e revelando-se lhe na voz sempre doce e cheia de ternura evangélica, uma alegria toda espiritual.

            - Sinto-me satisfeita. Que esse trabalho possa, de alguma forma ser útil e que agrade a quantos a lerem. Os outros, os que o senhor ainda não leu, espero que também agradem. São mais recentes e a minha afinidade com os Espíritos já era maior. Se a Federação resolver publicar o terceiro, peço que só o faça em 1957, o ano do primeiro centenário da Codificação. Este, muito, muito me agradou.

            A palestra, já se vê, já sentiu o leitor desta crônica, versou agora sobre vida da médium, desde o seu nascimento em terras fluminenses, num lar espírita, sua passagem por várias cidades de Minas, sua vinda para o Rio, onde é humilde costureira, fatos ocorridos na sua infância, sua  ida a Pedro Leopoldo, em 1985, e onde não se pode encontrar com o Chico, sua veneração por Vinícius, sua admiração por André Luiz:, enfim, sobre os mais variados assuntos relacionados com médiuns mineiros e fluminenses, etc.  etc.

            Que me perdoem os leitores desta crônica escrita à última hora, já quase no momento de o “Reformador” entrar em máquina.

            O espaço que me foi dado Já não comporta mais, e mais também não quero dizer. Se tantos meses ficou o livro dela na fila deixarei o meu querido leitor, com essa curiosidade por saber lhe o nome.  

            Dir-lhe-ei apenas: - Seu nome, por enquanto, é simples e abreviadamente - Senhorita Y.

            Paciência, meu amigo, paciência. Fique tranquilo e você, qual aconteceu a ela, terá também o se dia de júbilo, quando aparecer o livro, cujo título é:  “'Nas Teias do lnfinito”.


 Aconteceu na FEB - 2

João Repórter (Antonio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Outubro 1955

 

            Com a minha croniqueta anteriores, publicada em “Reformador” de Setembro deixei na fila os leitores desta muito lida e relida revista, mas, em compensação, igualmente fiquei na fila, à espera de que também chegue o dia, em que os velhos amigos deixem de estar aborrecidos comigo, por me manter inabalável não lhes dizendo o nome real por inteiro da Senhorita Y.

            Para amenizar essa justa queixa que passaram a ter de mim, vou contar alguma coisa um pouco apenas, do que desejam, saber:

            A Senhorita Y apresenta uma mediunidade bem original. Seus livros não são propriamente psicográficos e, muito menos psicofônicos. São recebidos por uma forma diferente. Audiente e vidente, ela recebe ordem para se deitar e dormir. E dorme. Desprende-se lhe o Espírito. Vê o seu próprio corpo somático estendido na cama, com a aparência de morto. Chega-se a ela, em Espírito, o Guia. Trocam cumprimentos e seguem, seguem pelo Espaço à fora.

            Tudo que vê, tudo que se lhe desenrola à frente, é visto e observado como se encarnada estivesse. E o Guia lhe vai dando explicações e lhe descreve o que se passa até que recebe ordens de voltar à Terra, com a recomendação de lembrar-se do que via, ou de tudo esquecer.

            Acorda. Sensação desagradável. Ansiedade, saudade, um não sei que lhe faz lamentar o haver voltado ao corpo.

            Dias depois, ou mesmo alguns anos, recebe ordem para concentrar-se. Obedece. O Guia se aproxima e lhe fala: “Vais escrever sobre o que te foi mostrado em, tal época”.

            Lápis, papel, e inicia-se o trabalho sem que ela mesma saiba como começar. O lápis corre, vai correndo. Para. O Guia lhe recorda que não foi bem assim. Risca o que escreveu.  Escreve de novo. E assim, sem que uma vírgula deva ser mudada, as frases e os períodos vão se sucedendo, tudo perfeito, tudo concatenado, numa sequência admirável, prendendo o leitor, instruindo-o, espiritualizando-o, elevando-o e... doutrinando-o.

            De colégio, a Senhorita Y só conheceu o curso primário, todavia, sua instrução, conseguida por esforço próprio e pelo convívio com Espíritos de grande cultura, como o grande Camilo e o inolvidável Léon Denis, é bem acima da classe primária.

            Ao professor Paulo de 0liveira Ludka, que já me telefonou algumas vezes, curioso por saber o nome da Senhorita Y, aqui fica uma informação que ela me deu:

            - Há muitos e muitos anos, os Espíritos me aconselharam a estudar o Esperanto para

que eles me pudessem utilizar no setor. Nunca pude satisfazer-lhes o pedido. No meu segundo livro, porém, o senhor encontrará referências ao Esperanto.

            Que o meu companheiro Ludka fique também na fila, agora mais zangado comigo, porque não lhe contarei sequer o titulo desse segundo livro, que igualmente já tive a satisfação de ler.

            É possível que eu volte para o mês e, então, quem sabe ?, lhes direi todo o nome da Senhorita Y. A. P..


 Aconteceu na FEB - 3

João Repórter (Antonio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Novembro 1955

 

            Porque me meti eu nesta reportagem referente à mediunidade da Senhorita Y? Porquê? - Não sei. O certo, porém, é que venho pagando caro por haver abusado da paciência dos leitores da nossa querida revista. Já fui censurado inúmeras vezes, já vi muito nariz torcido por me negar a oferecer logo de vez, todas as informações exigidas pela   ansiedade desses milhares e milhares de leitores de “Reformador”. Visitas de amigos, telefonemas, cartas, telegramas e até cabogramas me deixam um pouco atrapalhado.

Todos querem porque querem saber o nome todo do médium, os títulos dos livros e muita coisa mais.  

            Devagar, meus amigos... Se ela, a médium, a autora dessa alegria que todo o meio espírita irá sentir, esperou tantos meses, não há razão de nos “revoltarmos” contra a “maldade” do repórter.

            O primeiro livro – “Nas Telas do Infinito” – consta de “Uma História Triste”, contada pelo nosso querido Bezerra, e de uma novela. – “O Tesouro do Castelo” do grande escritor português, Camilo Castelo Branco. Dentro em pouco estará nas livrarias.

            O segundo, mais volumoso, foi organizado por Léon Denis, baseando-se em notas  fornecidas por um suicida cujo nome nos é muito querido.  

            O terceiro, esse, só em 1957 virá a público. Dele falaremos mais tarde.

            A médium nasceu em Santa Teresa de Valença, no Estado do Rio, residiu, em várias cidades mineiras (Brasópolis, S. João D’EL Rei, Belo Horizonte, Itajubá, Lavras e Juiz de Fora) e há onze anos mora aqui, no Rio de Janeiro. Chama-se Yvonne A. Pereira.

            Sob muitos pontos de vista, assemelha-se ao nosso queridíssimo Chico: - simples, humilde, sem nenhuma vaidade, solteira e desprendida dos bens materiais.

            Creio haver satisfeito grande parte da curiosidade dos meus amigos. Que não me peçam mais. Esperem pelos livros. Tenham paciência.

 






     

 

 

 

 

 

sábado, 25 de novembro de 2017

Mediunidade em Marcha


Mediunidade em Marcha
S. B. Soares
Reformador (FEB) Fevereiro 1956


Com o surgimento, em nossa pátria, de um espécime extraordinário de mediunismo, que vem, ano a ano, oferecendo produções variadas, através das quais são abordados, com notável segurança, assuntos técnicos, científicos, sociológicos, históricos, políticos, apresentando-nos, ao mesmo tempo, magníficas e impecáveis páginas de poesias, e romances que empolgam, instruem e edificam nossas almas: quando, pois, já nos habituamos a receber esses trabalhos medianímicos de Francisco Cândido Xavier, acreditamos que dificilmente um novo aparelho possa surgir com aquelas características de docilidade na interpretação do pensamento, das ideias e dos conhecimentos das entidades que já deixaram o plano terráqueo, apresentadas pelo homem luz de Pedro Leopoldo.

A verdade, porém, é que o homem continua ainda muito ignorante acerca dos altos desígnios de Deus, E quem poderá, em sã consciência, perscrutá-los de maneira perfeita e acabada? Nós?... criaturas finitas? Absolutamente!

E a prova do que afirmamos tivemos nós, entre surpresos e empolgados, com a leitura do livro intitulado NAS TELAS DO INFINITO, verdadeira dádiva do Céu, porque nesse livro são explanadas, com brilho, elegância fraseológica e pureza doutrinária, dois episódios, ou melhor, duas novelas. A primeira intitula-se UMA HISTÓRIA TRISTE, de autoria do iluminado Espírito de Bezerra de Menezes; a segunda, O TESOURO DO CASTELO, cujo poder descritivo sacode nossos nervos, provocando-nos emoções Profundas. Devemo-la ao Espírito do notável romancista Camilo Castelo Branco! E quem as psicografou? Uma criatura humilde, resignada, que ganha, com o suor do próprio rosto, o necessário para viver pobremente, escrupulosa em extremo, a fim de não macular o sacrário de sua mediunidade, com possíveis proventos que dela, direta ou indiretamente, lhe possam advir.

Trata-se, enfim, da estimado consóror Yvonne A. Pereira.

Muito se tem falado e escrito a respeito das faculdades mediúnicas em geral, mas o certo é que a todo o momento se nos deparam novas expressões medianímicas. Sim, porque essa nossa irmã Yvonne psicografa, como nos relata ela mesma de um modo que nunca pudéramos supor. Sua psicografia se processa dentro de uma técnica que até então jamais tivéramos notícia.

Os estudiosos das faculdades mediúnicas encontrarão na obra por nós aludida, isto é, NAS TELAS DO INFINITO, elementos de pesquisa de grande valia.

Temos de convir que a época anunciada pelo Cristo, em que homens, mulheres e crianças haveriam de profetizar, a ponto de estarrecer, é naturalmente a que estamos vivendo, pois que, dia após dia, mais se sintonizam as duas ondas de intercâmbio entre encarnados e desencarnados.

Através das páginas de UMA HISTÓRIA TRISTE, surgem diante de nossos olhos cenas-lições que bem precisamos reter para que saibamos situar-nos no palco do testemunho, quando inesperadamente formos atingidos pelos dardos dos sofrimentos físicos e morais, porque esses sofrimentos foram plasmados por nossas próprias mãos, embora disso não nos recordemos agora, nos desastrosos instantes em que teimosamente nos olvidamos da lei substancial do Amor!

Bastas vezes, por coisas insignificantes, por contrariedades pequeninas, por uma dessas desilusões muito comuns na vida de relação, consideramo-nos infelizes, julgamo-nos a mais desgraçada das criaturas.

Pois bem, as seguintes palavras de Bezerra de Menezes, enfeixadas em UMA HISTÓRIA TRISTE, por serem muito oportunas para todos nós, na hora que passa, vamos transladá-las para estas colunas:

Como és frágil, e como lamento tal fraqueza, imprópria que é do adepto do Testamento de Jesus!
Infeliz eu! E porquê?..
Porventura é deserdado o crente cujas mãos sustêm o Evangelho do Senhor, o qual foi escrito para ele, e que para ele não mais apresentará mistérios nem dificuldades de penetração porque gloriosa intuição condu-lo por entre suas páginas redentoras? Será desgraçado aquele que confia numa Eternidade promissora, no seio da qual espera conquistar os mais legítimos triunfos, cercado das bênçãos paternais de um Ser Todo Amoroso e Todo Poderoso?.. aquele que crê porque sabe, que sabe porque lhe foram concedidas provas convincentes e que a seu lado sente vibrar as sombras desveladas do Além como tu neste momento?.. “

UMA HISTÓRIA TRISTE é de fato um repositório de ensinamentos empolgantes a respeito da dor, do infortúnio, das desventuras, das lágrimas e das amarguras!

Do encontro do Espírito da médium, quando em seu transe sui generis, com o de Camilo Castelo Branco, que muito se popularizou na Terra como romancista lusitano, destacamos este pequeno trecho, o qual, de certo modo, nos dá uma pálida impressão do que é essa novela, O TESOURO DO CASTELO.

Assim fala o Espírito de Camilo:

- “Sei eu que te deleitam os assuntos nobres doutros tempos. Apraz-me, por isso, narrar-te uma velha história de castelos assombrados e fidalgos orgulhosos, saturada com uma parcela delicada daquela essência preciosa a que jamais se desdenha aspirar, e que conceito eterno mantém entre mortais e imortais: Amor! Concentra em mim as tuas forças e a tua confiança...
Convenhamos que o que vais presenciar se passou há uns três bons três séculos nas lendárias terras do velho Portugal, que Deus preserve. Verás, a par da distração que a ti desejo proporcionar, que o Amor, a Bondade e a Beneficência são nobres qualidades indispensáveis à paz do homem, em qualquer estado em que se encontre; e que longas horas de amargores há de sorver o desgraçado que as repudiou por cínica preguiça ou por deduções insanas feitas em torno da vida, que em geral teimamos em amoldar às paixões pessoais, em vez de nos amoldarmos a ela, como o indica o critério bom da lógica, a fim de furtar a consciência a conflitos desastrosos ..”

*


As letras espíritas estão, pois, de parabéns com o aparecimento de NAS TELAS DO INFINITO, de Yvonne A. Pereira que, para alegria nossa, promete para breve novas produções mediúnicas de real valor para edificação de nossas almas!

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Um estranho caso de obsessão


Um estranho caso de obsessão
Frederico Francisco / Yvonne A. Pereira
Reformador (FEB) Abril 1976


            De um jovem que se assinou J. S. P., em carta que nos escreveu, recebemos a seguinte interrogação:

            - "Será condenável um homem se tornar noivo de uma jovem, marcar a data do casamento e depois verificar que é a outra que ama, e, por isso, desejar romper
o compromisso com a primeira? Este é o meu problema. Que devo fazer? Sinto que ambas gostam de mim, embora de minha parte já exista uma definição."

*

            Isso faz-me lembrar o episódio ocorrido com Jesus, citado pelo evangelista Lucas, no capítulo 12, vv. 13 e 14:

            - "Então, no meio da turba, um homem lhe disse: "Mestre, dize a meu irmão que divida comigo a herança que nos tocou." Ao que Jesus respondeu: "Ó homem! quem me designou para vos julgar, ou para fazer as vossas partilhas?"

            Não acreditamos que esse gentil correspondente esteja dizendo a verdade. Deve tratar-se apenas de uma curiosidade, uma investigação que ele faz, a fim de obter resposta, à luz do critério doutrinário, para casos a que, infelizmente, tantas vezes assistimos em nossa vida de relação. Não nos sentimos, aliás, no direito de opinar sobre ocorrência tão melindrosa, na hipótese de se tratar de uma realidade que o amigo J. S. P. viva no momento. Não obstante, o bom senso indica que o fato de jogar com os sentimentos do nosso próximo é grave, e pode resultar em consequências muito desagradáveis, mesmo dramáticas. Muitas vezes, a leviandade praticada por alguém, em casos de amor, pode refletir-se em Além-Túmulo e arrastar a uma obsessão aquele que feriu um coração com a traição ou o desprezo. A lei de caridade manda-nos respeitar o coração amigo que se nos devota, e procurar não iludi-lo com falsas promessas ou atitudes levianas. Uma solicitação de casamento deve ser refletida, amadurecida, antes de realizada, observando o pretendente se, com efeito, o seu sentimento de amor é sincero, é fiel para enfrentar um compromisso de tal responsabilidade. Porque tal compromisso não é apenas social, mas também moral, e o homem de bem deve honrá-lo, consultando a si próprio antes de tomar a resolução. Este, vale dizer, é um problema, exclusivamente de consciência, o qual, por isso mesmo, não foge às necessárias buscas de inspiração na prece sincera e vibrada. Uma ingratidão, uma traição de qualquer natureza, assim como a hipocrisia diante de um coração que ama, é erro que poderá reverter sobre quem o pratica, senão de momento, mais tarde, e, mesmo, em futuro remoto. Responderemos, no entanto, narrando um fato típico de traição de amor, por nós assistido há cerca de quarenta anos, fato real e não fantasia de romance, que se passou em certa pequena cidade do Estado do Rio de Janeiro, a qual era por nós visitada periodicamente. E o nosso correspondente, se, realmente, estiver envolvido pela própria leviandade, compreenderá que necessita muita cautela no modo de agir, recorrendo a Evangelho, a fim de orientar-se.

*

            O jovem Sr. A. G. tornara-se noivo de uma jovem de excelentes qualidades morais, muito delicada de sentimentos e leal aos afetos íntimos, mas de condições sociais muito modestas. Era uma boa filha para sua mãe a qual, por sua vez, era viúva e adorava a filha única entre ternura infinita. Chamava-se Elisa a jovem noiva e, sua mãe, Madalena. O noivado corria normalmente e o casamento fora marcado para seis meses depois. Elisa entregava-se ao seu amor com todas as forças da alma, o coração repleto de esperanças e confiança no futuro. O noivo, por sua vez, mostrava-se dedicado e atencioso. Não passava um único dia sem visitar a noiva e o idílio fazia crer à nossa Madalena que a filha seria felicíssima no casamento.

            Um dia, no entanto, o Sr. A. G., que era comerciante e lutava a fim de prosperar, necessitou viajar a uma cidade próxima - a cidade de A. R. -, lá passando três dias. Em um baile, a que fora convidado por um colega de comércio, conheceu uma jovem por nome Terezinha. Dançou prazerosamente com ela, reconheceu-a educada, alegre, amável, elegante, muito sociável, e enamorou-se. Voltando à sua cidade natal, meditou em que Elisa era bem inferior a Terezinha, pois não frequentava a sociedade, vestia-se modestamente, e nem possuía aquela irradiante personalidade da outra. Elisa notou-o silencioso triste, falando o mínimo, demorando-se menos em suas visitas, mas de nada desconfiou, porque seu coração era puro e não podia acalentar suspeitas contra aquele que lhe merecia toda a confiança. Na semana seguinte, A. G. voltou à cidade de A. R., e Terezinha pareceu-lhe mais sedutora do que no primeiro dia. Prosseguiu o namoro com a moça a corresponder-lhe ternamente, com imensa alegria. Finalmente, passou a viajar para a velha cidade de A. R. todos os sábados, pretextando negócios e lá ficava também aos domingos, deixando a casa comercial ao cuidado do sócio. Mas, não confessava a Terezinha que era comprometido em sua cidade natal nem rompia o noivado com Elisa. Faltava-lhe coragem para esclarecer a ambas a própria situação.

            Chegara, no entanto, a época indicada para o consórcio com Elisa. Mas A. G. desculpou-se, e pedira mais dois meses de espera. Os negócios não iam bem... enquanto continuavam as visitas à cidade vizinha, e Elisa, fiel e confiante, e sua mãe continuavam preparando modesto enxoval. Até que, de uma das visitas a A. R., o jovem Sr. A. G. voltou casado com a graciosa Terezinha, sem jamais haver desfeito o noivado com Elisa.

            Numa cidade pequena como aquela, tais acontecimentos, há quarenta ou cinquenta anos passados, repercutiam como raios que explodissem entre a população. Elisa soubera do fato logo após o desembarque do casal, que vinha ali mesmo residir. Mas não pode, nem quis acreditar no que amigos lhe vieram informar. Mas, investigando, logo se inteirou da realidade, e adoeceu. Adoeceu de paixão, de surpresa, de choque nervoso, de humilhação, de desespero, de decepção, de desilusão, de vergonha, de traumatismo moral. Adveio embolia cerebral e, um mês depois, Elisa morria nos braços de sua inconsolável mãe. Nesse dia, houve revolta entre as pessoas afeiçoadas a Elisa e sua mãe, e Terezinha foi por elas informada do procedimento desleal do homem que a desposara. Confessou ela, então, ignorar o compromisso de A. G. com alguém daquela cidade, e não se sentir culpada pelo passamento da jovem. Discutiu calorosamente com o marido nesse dia. Mas tudo passou logo depois, e não mais tocaram no assunto. A hora em que, porém, saia o féretro de Elisa, sua mãe, desolada, em desespero, exclamou - e suas palavras repercutiram tão tragicamente pelo ambiente mortuário da sua pobre sala de visitas que as pessoas presentes estremeceram de impressão e pavor:

            - "Minha filha, vai em paz para junto de Deus, porque eras um anjo que mereceu o Céu! E fica descansada, porque o miserável que causou a tua morte há de me pagar! Ele não será feliz, porque eu não o deixarei ser feliz!"

            E, três meses depois, Madalena, sempre inconsolável, inconformada, morria também. A pobre mulher era cardíaca e não resistiu à dor de perder a filha naquelas
circunstâncias.

*

            Cerca de três ou quatro meses após o passamento de Madalena, Terezinha começou a beber e embriagar-se. Das primeiras vezes em que o fato se verificou, o marido repreendeu-a energicamente. Houve discussões graves, cenas lamentáveis. A. G. acusava-a de ter o vício desde o tempo de solteira, e encobri-lo hipocritamente; que aquela alegria permanente dos seus modos, aquela vivacidade que todos lhe conheciam, outra coisa não era senão reflexos do álcool ingerido às ocultas. Chorando, Terezinha afirmava que jamais bebera, que somente agora uma necessidade irresistível de beber levava-a a procurar, em qualquer parte, algo com que aplacar aquele terrível desejo que a prostrava. Os melhores médicos da cidade, e até facultativos de São Paulo e do Rio de Janeiro, trataram dela. O marido gastava o que certamente não possuía, a fim de libertá-la do nefando vicio. Mas, era tudo em vão. Terezinha continuava a beber, e cada vez embrenhava-se no vício com mais ardor. Mas não era vinho, não era cerveja que a atraíam. Era a cachaça, a cachaça! O terrível veneno que os obsessores preferem para sugerir aos seus desafetos. Terezinha, dantes tão graciosa, agora se embebedava até sair à rua, na ausência do marido, e fazer tolices, e dizer inconveniências, até cair na calçada e entrar em coma alcoólico, como os ébrios comuns. A. G. passava pela vergonha de ser avisado, por qualquer transeunte, de que sua mulher se encontrava caída, completamente bêbeda, numa calçada ou numa esquina de rua.

            Vieram quatro filhos desse malogrado matrimônio. E Terezinha não deixou de beber, e não atendia aos deveres para com os mesmos. Era preciso, então, que o marido se repartisse entre os próprios negócios e as atenções aos filhos, auxiliado por criadas. Os filhos cresciam verificando a desgraça em que caíra a própria mãe. A. G. arruinou-se como comerciante, sendo necessário submeter-se a um modesto emprego de administrador do cemitério local. E, finalmente, Terezinha já não usava a cachaça pura, mas temperada a cravo e a canela. No ano de 1940, as circunstâncias da vida levaram-me à dita cidade. Visitei o casal, pois o conhecia desde há muitos anos. Ela, então, convidou-me a uma conversa particular, já embriagada, e falou-me, debulhada em lágrimas:

            - "Sr. Frederico, sei que o senhor é espírita e conhece muitas coisas que os outros desconhecem ... Pelo amor de Deus, liberte-me desse desejo de beber... é uma força indomável que me arrasta para a bebida! Eu não quero beber! Mas sou forçada a beber!"
Nessa visita, contemplei, então, um casal desajustado, filhos infelizes, um homem vencido pela adversidade, uma mulher arruinada por uma desgraça inconcebível!

            Regressando à minha terra, orei durante algum tempo, e, nas reuniões que fazíamos no nosso templo espírita, suplicávamos ao Alto socorro para ela. Mas Terezinha continuou a beber durante mais cinco anos, da mesma forma. Bebeu durante quatorze anos, sem um só dia de trégua!

            Certo dia em que o Sr. A. G. se lamentava numa roda de amigos, um deles aconselhou:

            - "Por que você não leva sua esposa ao Centro Espírita Bittencourt Sampaio? O Sr. Z, seu diretor, é um grande médium, apóstolo do Bem, tem curado muita gente, de variadas doenças ... "

            A. G. não era espírita, mas, impelido pelo desespero, levou a esposa ao Sr. Z, e explicou-lhe o que acontecia.

            Reunidos os três em gabinete apropriado, o médium Z, que, de imediato, compreendeu o que se passava, orou e suplicou a Jesus a presença de um dos seus mensageiros a fim de socorrer a paciente. Apresentou-se, então, à sua vidência, o grande, o iluminado Espírito de Bittencourt Sampaio, que lhe disse, através da intuição:

            - "Chama o teu médium... Trata-se de uma obsessão... e faremos o que o Senhor permitir."

            Veio o médium -- a própria esposa de Z -. Este, incorporado pelo generoso Protetor presente, espalmou uma das mãos sobre a cabeça de Terezinha e a outra sobre a médium.

            Qual uma faísca elétrica, o obsessor apresentou-se, incorporando-se na médium. Era Madalena, a mãe da pobre Elisa, noiva atraiçoada de A. G. Conversaram os dois, como de praxe em tais reuniões, sob a assistência de Bittencourt, sempre incorporado em Z.

             Madalena terminou por submeter-se, não ainda convertida, a perdoar, mas à irresistível autoridade de Bittencourt. Abandonou a presa, que subjugara durante quatorze!  Terezinha ficou radicalmente curada da embriaguez em uma semana, pois fora necessário ainda fortifica-la através de passes, que Z lhe aplicava, ainda sob a influência curativa de Bittencourt Sampaio.

            Mas ... perguntará o leitor: Por que o Espírito Madalena não obsidiou antes A. G., que foi o traidor de Elisa, e não Terezinha, que ignorava o compromisso por ele mantido com aquela?

            E nós ousamos confessar que não sabemos. É possível, porém, que a pobre Madalena, despeitada, odiando aquela que roubara o coração do prometido de sua filha, preferisse ferir Terezinha, para que a dor de A. G. fosse mais cruel. É possível que Terezinha, de algum modo, tivesse tendência para a bebida, sem mesmo o saber; e, certamente, se esta foi, realmente, inocente da ação reprovável de A. G., devia, por alguma remota falta, à lei de Deus e, por isso, teria mais possibilidade de "dar passividade" a um obsessor, por ser, com certeza, frágil, além de ser médium, assim expiando um erro do passado, enquanto o marido expiava o crime cometido no presente. Porque foi um crime o que ele praticara contra EIisa Madureira certamente, errou. Mas... "quem estiver sem pecado atire a primeira pedra" nessa pobre entidade que, sob o cuidado do grande e iluminado Bittencourt Sampaio, encontrou, sem sombra de dúvida, o verdadeiro caminho a seguir, a fim de redimir-se.

*

            Caro Sr. J. S. P.: No capítulo 18 do evangelista Mateus, v. 10, há esta advertência de Jesus, o Mestre da Humanidade:


            - "Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos declaro que os seus anjos, nos céus, incessantemente veem a face de meu Pai, que está nos céus", e essa advertência é muito significativa para todos nós, porque, muitas vezes, poderemos desprezar ou ferir verdadeiros anjos do Céu exilados na Terra... 

sábado, 17 de dezembro de 2016

Panorama


Panorama 
Frederico Francisco (Yvonne Pereira)
Reformador (FEB) Janeiro 1970

            Parece que o espírito de confusão, arrastando sua coorte de discórdia, incompreensão e desamor, tem penetrado ultimamente todos os setores humanos a fim de que a “abominação da desolação” contamine até mesmo “as coisas santas”, isto é, o movimento interno das religiões, a essência em que elas se inspiram. Nem mesmo o Consolador, tão amado pelos que por ele foram beneficiados, se isentou dos reflexos dessas investidas, pois numerosos problemas preocupam aqueles que assumiram verdadeiras responsabilidades no seio da Doutrina dos Espíritos. Frequentemente surgem ataques às obras de Allan Kardec, refutações, destruição mesmo, pois, para alguns, a codificação está “ultrapassada”, embora não aparecessem ainda obras melhores do que elas. Os Evangelhos, por sua vez, são dolorosamente rebatidos, quando o bom-senso sugere é o exame construtivo em todos os setores que interessam a Humanidade e não o ataque e o negativismo, como alguns espíritas livres pensadores tentam fazer. De outro modo, jovens inexperientes, imbuídos de ideias materialistas, ou negativistas, se confundem, incapazes de uma análise racional entre a Doutrina Espírita, a que se filiaram, e o materialismo, que as escolas do mundo lhes apontam com foros de razão, análise que o Espiritismo vem resistindo vitoriosamente há um século.

            Em torno desse desagradável panorama negativo, um jovem aprendiz de Espiritismo, residente no interior do País, escreveu-nos, há dias, muito aflito e confuso, pedindo consolo e esclarecimentos sobre melindroso fato ocorrido em seu núcleo espírita. Disse ele que certo expositor doutrinário do núcleo em questão asseverou, publicamente, ser desnecessário o estudo completo dos Evangelhos, bastando que apenas conheçamos os pontos esclarecidos por Allan Kardec em “O Evangelho segundo o Espiritismo”. Que o estudo geral desse código cristão é perigoso, e que as Parábolas do Cristo são absolutamente inúteis, porquanto as Parábolas são interpretadas segundo o parecer de cada um. Que as Epístolas não têm valor para nós, espíritas, visto que nem mesmo se sabe se Pedro e Paulo existiram. Enfim, o “expositor” apresentou um programa de destruição daquilo que, quando ele próprio nasceu, já encontrou no coração do próximo há cerca de vinte séculos, sem nada possuir para repor no lugar daquilo que destruiu.

            É lamentável que tais coisas aconteçam, mas a verdade é que acontecem, e o Evangelho aí está desafiando os séculos com uma literatura brilhante desde os seus primórdios, um serviço magnífico prestado à sociedade, sem que nada melhor fosse criado pelos “iluminados” da Terra a fim de substituí-lo. Nosso missivista, pois, que se tranquilize: essas críticas sempre existiram, mas a obra do Cristo é imortal e, apesar da incompreensão humana e da “competência” dos “mestres de obras feitas” há de permanecer. A proporção que o sentimento se depurar em nossos corações e o conhecimento amadurecer nossa razão, o que nos parece inútil ou defeituoso, naqueles códigos, se há de aclarar, pois nos Evangelhos também há ciência e transcendência, que nem a todos é fácil assimilar de improviso.

            Destruir, com as nossas opiniões pessoais, o que se encontra feito é fácil, não há mérito nesse trabalho. Mas realizar algo melhor do que aquilo que criticamos ou destruímos é muito mais difícil, porque frequentemente nos escasseiam méritos para tanto. Porque destruir o Evangelho, lavrando confusão no coração daqueles que se sentem bem ao acatá-lo, quando uma literatura perniciosa, erótica, deprimente, infesta o mundo, corrompendo a mocidade? Rejeitar o Evangelho, arrancando-o do coração daqueles jovens de boa vontade, os quais, na hora difícil que atormenta a Humanidade, se voltam para as coisas de Deus, engrandecendo o próprio caráter com um ideal superior, não será um crime? Sugerir-lhes, com tais críticas, que se tornem pessimistas, cépticos, ateus, será próprio de quem um dia se comprometeu consigo mesmo a difundir o bem, do alto de uma tribuna? Repudiar o exemplo dos apóstolos de Jesus, afetando descrença na existência deles, sim, é preferível, é cômodo, porque aceitá-los, imitando seus exemplos de abnegação e sacrifícios dará trabalho! Será necessário renunciar às atrações do mundo, que tanto agradam aos que vivem para si mesmos, será o sacrifício do repúdio às vaidades, e ao orgulho, que nos iludem o senso, pela adoção da humildade, do amor, do trabalho, da espiritualização de nós mesmos, da construção de valores pessoais, a fim de nos tornarmos dignos da mensagem do Cristo, como os apóstolos o foram. Aceitar os “Atos dos Apóstolos” será seguir o exemplo daqueles que a tudo renunciaram, até mesmo à família, ao bem-estar do lar, à tranquilidade da existência, para que o ideal divino, por eles difundido, penetrasse o coração do próximo e o reeducasse, enquanto eles próprios sofriam toda sorte de humilhações e martírio; e, por isso mesmo, porque ainda não possuímos capacidade para tanto, destruímos esse patrimônio humano nos corações jovens que se habilitam para, quem sabe? conseguir a capacidade que nos falta.

            As Parábolas do Mestre Nazareno são lições imortais que nos ajudam a compreender a vida e cuja oportunidade e realidade poderemos constatar diariamente, nas peripécias da vida prática de cada um. Nenhum mortal até hoje conseguiu criar conceitos mais vivos e oportunos, e Allan Kardec tratou de algumas delas com visível respeito, sem destruir as demais, visto que era “o bom-senso encarnado”. Porventura, “O Bom Samaritano” terá dois modos, ou modos múltiplos, de interpretação, como quer o nosso “expositor”? Porventura a “Parábola do Filho Pródigo” poderá ser interpretada de outra forma, senão aquela mesma que diariamente contemplamos em nossa sociedade? E “A casa construída sobre a rocha” não oferece a mesma interpretação desde o dia em que o a palavra do Senhor se fez ouvir? E a voz de Jesus, bendizendo aqueles que o socorriam, quando socorriam o próximo, lição parabólica, também não brilha pela objetividade do pensamento? Porventura o senso, a razão e a lógica não nos ensinarão a compreender nessas Parábolas o verdadeiro sentido que nelas imprimiu Aquele que as criou?

            Uma mistificação não demora vinte séculos sustentando o ideal nos corações sinceros. Deus, o Criador de todas as coisas, não permitiria que, por uma mentira, que alguns sugerem ser os “Atos dos Apóstolos”, as Epístolas, etc., criaturas devotadas e sinceras derramassem o seu sangue nos suplícios dos primeiros séculos, sofridos pelos cristãos, testemunhando a sublimidade do ideal pelo qual morriam, e nem o cérebro humano seria capaz de inventar personalidades da superior envergadura de Pedro e de Paulo. Que, pois, o caro missivista não se preocupe com o que possam dizer os “expositores” livres pensadores, discípulos de Renan e ão de Jesus e de Kardec. São ideias pessoais que não se conseguirão impor. Procure antes dedicar-se ao estudo fiel da Revelação Espírita, do Evangelho, de todos os compêndios, mesmo profanos, dignos de serem acatados, pois o mundo, e não somente o Espiritismo, necessita de personalidades cultas, mas bem orientadas, capazes de criarem o reino de Deus em si mesmas a fim de estabelecê-lo no mundo, e não de imitadores de opiniões alheias negativistas e destrutivas. Que os estude também na vida prática e sentirá a alma edificada, invulnerável à agressão de “expositores” que assim pensam porque ainda não conheceram o sofrimento, têm satisfeitos até hoje os próprios desejos e paixões, mas, no dia em que a dor realmente os visitar, saberão compreender não só as Parábolas do Senhor, mas também procurar a companhia de Pedro e de Paulo, a fim de se consolarem meditando no heroísmo deles a frente das penúrias suportadas, ao mesmo tempo que aproveitando dos ensinamentos por eles deixados há dois mil anos aos corações humildes e de boa vontade, capazes de compreenderem a mensagem do Cristo a eles e aos demais discípulos confiada para nosso aproveitamento.



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Emmanuel Swedenborg


Emmanuel Swedenborg
por Frederico Francisco (Yvonne Pereira)
Reformador (FEB) Novembro 1977

            “- Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares.” (Allan Kardec - Introdução de "O Evangelho segundo o Espiritismo", 66ª ed. FEB (especial), 1976, pág. 31)

            Quem tem o hábito, ou o interesse, de consultar "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, para as próprias instruções doutrinárias, certamente já encontrou a relação dos nomes daqueles eminentes Espíritos que, em nome de Jesus, ditaram os ensinos constantes nos importantes livros da Codificação do Espiritismo, os quais transformaram as nossas vidas, encaminhando-nos para Deus. Dentre aqueles ilustres habitantes do Mundo Espiritual superior encontraremos um, justamente o último da relação inscrita nos Prolegômenos daquele livro, que poderia causar espanto porque absolutamente inesperado, e este é Swedenborg, nome por muitos desconhecido no Brasil. Os demais missionários que nos revelaram o tesouro celeste, que é a Doutrina Espírita, são de todos conhecidos e bem-amados: São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís (Luís IX de Poissy) , Rei da França (de 1226 a 1270) (1), o Espírito da Verdade, Sócrates, Platão, Fenelon, Franklin, Swedenborg, etc.

            (1) São Luís assumiu o poder aos 11 anos de Idade.

            Ora, Swedenborg era sueco e viveu no século XVIII, tendo sido, segundo os seus biógrafos, o homem mais culto do seu tempo. Dele diz o ilustre pesquisador espírita Arthur Conan Doyle, em seu importante livro "História do Espiritismo" (Editora "O Pensamento", tradução de Júlio Abreu Filho, São Paulo - SP):

            "Nunca se viu tamanho amontoado de conhecimentos. Ele era, antes de mais nada, um grande engenheiro de minas e uma autoridade em metalurgia. Foi o engenheiro militar que mudou a sorte de uma das muitas campanhas de Carlos XII, da Suécia. Era uma grande autoridade em Física e Astronomia, autor de importantes trabalhos sobre as marés e sobre a determinação das latitudes. Era zoologista e anatomista. Financista e político, antecipou-se às conclusões de Adam Smith. Finalmente era um profundo estudioso da Bíblia, que se alimentara de teologia com o leite materno e viveu na austera atmosfera evangélica alguns anos de vida. Seu desenvolvimento psíquico, ocorrido aos vinte e cinco anos, não influiu sobre a sua atividade mental e muitos de seus trabalhos científicos foram publicados após essa data." (Capítulo I, pág. 34) (2).

            (2) A "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira" (Editorial Enciclopédia, Ltda., Lisboa- Rio de Janeiro), volume XXX, págs. 454 a 456, dedica longo verbete a Swedenborg (n. em Estocolmo a 29-1-1688 e m. em Londres a 29-3-1772) e ao Swedenborgismo. Relacionou-se com inúmeras notabilidades do seu tempo, como Halley, Flamsleed e Woodward, e com vários membros da Royal Society e diversos sábios da época. Diz a obra aqui citada: "Analisado à luz de uma rigorosa investigação psíquica, Swedenborg seria apenas um médium (destaque da ob. cit.) muito fora do vulgar, porque as comunicações que asseverava estabelecer com os anjos e os espíritos eram precedidas de violentas tremuras, suores, transe, prostração e desmaios que duravam dez e treze horas, os sinais característicos de todos os médiuns do seu gênero (Cf. ‘Swedenborg - Life and Teaching’, Londres, 1935)". "( ... ) mas só em 1745 admitiu francamente as relações com os anjos e os espíritos, não por um processo análogo ao que se chama vulgarmente Espiritismo, mas falando com os seres superiores sem perder a consciência de tudo o que o rodeava no mundo. Estava Swedenborg ciente de que todos receberiam com o maior ceticismo a explicação do seu estado anímico, o que revelou ao publicar a sua Arcana Coelestia' (1749). Era também lido como um grande vidente". "Recusando todas as homenagens e grandezas, era todavia um simples, cuja bondade e fiIantropia ficou tradicional entre os habitantes do seu bairro, durante os últimos anos de sua vida, na sua modesta residência em Londres." Contam-se em muitas dezenas as obras que publicou sobre assuntos filosóficos, científicos, filosóficos, religiosos, etc.
                No livro "Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos", um dos próximos lançamentos febianos, Hermínio C. Miranda dedica um capítulo ao grande médium do século XVIII, intitulado "Uma revisão dos ensinos de Swedenborg".
                Quanto à referência ao Espiritismo, no verbete parcialmente transcrito, é curioso que o seu responsável não tenha procurado Informar-se a respeito da existência de médiuns conscientes, recorrendo a "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec. Oe qualquer maneira, a "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira”, em assuntos ligados ao Espiritismo, é das que menos reparos exige.

            Esse homem dotado de tanta cultura era também médium, vidente, clarividente; presenciava acontecimentos a enormes distâncias, como o incêndio que, da mesa de um jantar de que participava com dezesseis convidados, em Gotemburg, assistiu em Estocolmo.

            Parece que foi em 1744, em Londres, que suas forças mediúnicas entraram em atividade. Desde o advento da sua primeira visão esteve ele permanentemente em contato com o outro mundo. "Na mesma noite - diz ele - o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos." (Ob. cit., págs. 36 e 37).

            Ele fala ainda de "uma espécie de vapor que se exalava dos poros de seu corpo. Era um vapor aquoso muito visível e caía no chão, sobre o tapete". E nós hoje conhecemos esse "vapor aquoso" como o ectoplasma, mais tarde identificado pelos pesquisadores psiquistas e espíritas do século passado como aquilo mesmo que o simpático Swedenborg via e assistia em si mesmo no século XVIII. E não é de admirar que ele o visse, pois se trata de um fato, uma propriedade natural do ser humano desde todas as épocas o que esse vidente foi o primeiro a identificar, nos tempos modernos. Mas, nem só ao ectoplasma ele se referia. Havia mais...

            Ainda hoje, mesmo entre adeptos da Doutrina dos Espíritos, existe quem descreia das narrativas do Espírito André Luiz e de outras obras congêneres às desta Entidade espiritual. Creem tratar-se de "fantasias de médiuns ignorantes e mistificados", como dizem alguns; ou que André Luiz foi o primeiro habitante do mundo espiritual que nos trouxe as novidades descritas em suas magníficas obras, e que portanto estas não têm base nos códigos doutrinários. No entanto, sabemos que as narrativas de André Luiz se alicerçam em "O Livro dos Médiuns" e que vários outros livros mediúnicos dizem a mesma coisa, o que podemos verificar em "A Crise da Morte", de Ernesto Bozzano; "A Vida além do Véu", do Rev. G. Vale Owen; "Raymond", de Sir Ollver Lodge, os quais igualmente se expressaram sobre o assunto em época anterior, ao passo que Swedenborg dizia o seguinte, no século XVIII, e Conan Doyle, citando seus livros, o repete:

            "Verificou que o outro mundo, para onde vamos depois da morte, consiste de várias esferas, representando outros tantos graus de luminosidade e de felicidade; cada um de nós irá para aquela a que se adapta a nossa condição espiritual. Somos julgados automaticamente, por uma lei espiritual das similitudes; o resultado é determinado pelo resultado global da nossa vida, de modo que a absolvição ou arrependimento no leito de morte têm pouco proveito. Nessas esferas verificou que o cenário e as condições deste mundo eram reproduzidas fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade. Viu casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais, palácios onde deviam morar os chefes. (Pág. 3-8.) E na página seguinte, 39, prossegue Conan Doyle, sempre citando o mestre sueco:

            "A morte era suave, dada a presença de seres celestiais que ajudavam os recém-chegados na sua nova existência (a espiritual). Esses recém-vindos passavam imediatamente por um absoluto repouso. Reconquistavam a consciência em poucos dias, segundo a nossa contagem.

            "Havia anjos e demônios, mas não eram de ordem diversa da nossa: eram seres humanos, que tinham vivido na Terra e que ou eram almas retardatárias, como demônios, ou altamente desenvolvidas, como anjos.

            "De modo algum mudamos com a morte. O homem nada perde com a morte: sob todos os pontos de vista é ainda um homem, conquanto mais perfeito do que quando na matéria. Levou consigo não só as suas forças, mas os seus hábitos mentais adquiridos, os seus preconceitos."

            Seria impossível transcrever os demais pontos onde vemos anunciadas particularidades da Doutrina Espírita, mais tarde revelada a Kardec por aquela falange brilhante cuja relação assenta em Prolegômenos de "O Livro dos Espíritos", da qual  Swedenborg comparticipa. Note-se, porém, que ele tudo isso afirmava quando ainda homem, como médium, o mesmo que muitos médiuns atuais têm presenciado durante transes de desdobramento em corpo astral. Foi acusado de dizer fantasias e tomar como realidade o que era pura imaginação. Também os médiuns de hoje, descrevendo as mesmas coisas, que veem e verificam durante seus "passeios" pelo Invisível, são acusados de "ignorância" e de "mistificação".

            Emmanuel Swedenborg, portanto, foi um dos mestres que nos deram a Codificação do Espiritismo, formando ao lado de São Luís, de São João Evangelista, de Santo Agostinho, Sócrates, Platão, etc., para entregar o Consolador ao mundo, assim consolando nossas dores e auxiliando nossa redenção. Não devemos, portanto, repelir o que nos vem do Alto por intermédio daqueles médiuns abnegados que realmente se integram na tarefa de intermediários entre os dois mundos - espiritual e material -, mas, sim, observar a recomendação inserta em "O Evangelho segundo o Espiritismo", isto é, "a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente (os Espíritos instrutores), servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares”. Nosso dever é estudar, pesquisar, examinar, e não negar gratuitamente. Os livros estão aí, ao nosso dispor, excelentes, brilhantes, trazidos até nós pelos “anjos do Senhor”. Há carência de conhecimentos, insuficiência de estudos entre a grande massa dos adeptos do Espiritismo, até mesmo entre os médiuns. Mas só não aprendem as lições que o Senhor nos manda aqueles que não querem aprender...



sábado, 2 de janeiro de 2016

Fidelidade à Doutrina



            Amigos em Jesus, meu abraço a todos como saudação fraternal e saudosa!

            Após período ainda não finalizado de recuperação física aqui no mundo espiritual (considero a minha vida aí todo um longo período de recuperação moral), venho trazer a palavra alegre daquele coração que, jubiloso, agradece a Jesus, na Casa de Ismael, a bênção do retomo ao trabalho redentor.

            É ele ainda um recomeço, mas aí como aqui o tempo é curto e escassos os trabalhadores: aqueles sinceros, que se aproximam desta casa e do trabalho que ela significa, com vontade de anular-se em suas personalidades para que o serviço da Caridade verdadeiramente renda e progrida. Há tanto a ser feito, a obra de evangelização ainda pode ser considerada como apenas iniciada, que todos os que amam esta Doutrina Cristã com aquele sentimento semelhante ao do náufrago a quem é lançada a salvação, não podem declarar-se cansados ou desanimados.

            Animados sejamos da certeza de que o Senhor dará ao servidor as energias de que precisa, suprindo-lhe as carências de toda sorte. Pede-lhe apenas firmeza de propósitos, fidelidade à Doutrina, seu estudo e prática cotidiana da moral evangélica, cuja vivência será em realidade o único marco de distinção entre os espíritas-cristãos e os demais companheiros de lutas.

            Precisamos todos uns dos outros, e todos, inegavelmente todos, precisamos do Evangelho como guia de nossas provas e atividades dentro da Seara. Nele encontraremos todas as forças, esperanças, todas as respostas. É amigo fiel e seguro, no qual aprendemos, chorando e sofrendo, mas persistindo sempre na decisão realizada, a superar o mundo de erros, paixões e crimes que vivências criminosas geraram para todos nós.

            Feliz em poder estar com todos nesta Casa que sempre nos abrigou e auxiliou, humildemente peço as bênçãos do Senhor para os corações queridos que, sob os apupos do mundo - até mesmo o espírita - se dedicam a manter inabalável o lema ismaelino que lhe encima o pórtico.

            A irmã e amiga,

                                                           Yvonne

Fidelidade à Doutrina
Yvonne por Tânia de Souza Lopes

Reformador (FEB) Julho 1984