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domingo, 13 de janeiro de 2013

20 (e final) - 'As Vidas Sucessivas'


20

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943


PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS II

           
            "Astronomicamente falando, a Terra não recebeu nenhum privilégio sobre os outros planetas e não tem nenhuma proeminência notada no sistema solar de maneira a ser o único mundo habitado, pois os outros planetas estão tão bem como ela dispostos para a habitação da vida". (Flammarion)
           
            "Globos habitados cujos hóspedes pensantes vivem como eu vivo e sentem como eu sinto; uns mais abatidos e outros talvez do que nós mais elevados sobre os de degraus da vida"! (M. Ponsard)


            Flammarion, depois de nos descrever o aspecto da vida terrestre, as suas manifestações, transformações e relação íntima, segundo o meio em que se manifestam; depois de nos mostrar que os seres se diferenciam segundo a constituição dos mundos que habitam e que ninguém poderá, jamais, traçar limites às possibilidades de vida nos ditos mundos; depois, enfim, de analisar a composição química dos corpos, os meios, elementos e forças da natureza, termina um dos capítulos de seu livro perguntando: "Não  gozam esses mundos dos mesmos beneficies que a Natureza a nós proporciona e não recebem, também eles, os raios fecundantes do mesmo Sol? Por que estas neves de Marte se derretem em cada primavera e descem a saciar as suas campinas? Por que estas nuvens de Júpiter, que espalham a sombra e frescura em suas planícies imensas? Por que esta atmosfera de Vênus, que banha seus vales e suas montanhas? Oh! mundos esplêndidos que vogais longe de nós. nos céus", só nos falais de vida eterna e infinita, como infinito e eterno é Deus, que preside a harmonia universal.

            O calor e o frio, a profundeza dos mares e a altitude atmosférica não constituem obstáculos à manifestação da vida. Haja vista o material recolhido por James Ross em suas viagens ao polo austral, as espécies retiradas das profundezas do golfo de Erebus, e os vibriões secos sobre os telhados expostos ao sol de verão e cobertos pelo gelo do inverno e que tornam à vida depois de anos de morte aparente.

            E o que pensarmos dos minúsculos infusórios? Numa gota d'água, segundo Herschel, há uma população imensa de animálculos de todos os tamanhos que seria impossível colocar-se a ponta de uma agulha sobre um só lugar desocupado.

            Para a vida e para a fecundidade da Natureza, não há limites, pois um só díatomêu pode, no espaço de quatro dias, produzir mais de 150 mil indivíduos da sua espécie. Sir David Brewster diz que um planeta sem habitantes seria como um navio atravessando os mares sem passageiros e sem carregamentos - inútil.

            E com referenda aos outros mundos, escreve o mesmo autor: - "Archotes que nada esclarecem; tocos que nada aquecem; águas que nada refrescam; nuvens espalhando a sombra sobre o nada; brisas soprando sobre o nada; e tudo na natureza: montanhas e vales, terras e mares. tudo existindo e de nada servindo!"

            Transcrevemos, a seguir, o que disse Garbedian em "O Romance da Ciência", págs. 42, 43 e 44, sobre a possibilidade de existência da vida animal em outros planetas:

            "Tanto quanto sabemos, Vênus está em condições de manter existência semelhante à nossa. e alguns astrônomos já admitiram a audaciosa hipótese de que se fôssemos transportados para Vênus poderíamos, talvez, continuar a viver alí sem graves perturbações em nossos hábitos! Contudo, Vênus é, sob muitos aspectos, um planeta de mistério.

            Sabemos com certeza que é mais ou menos do mesmo tamanho da Terra e que provavelmente a temperatura não é ali muito mais alta, porém, a densa camada de nuvens que envolve completamente o planeta, nos esconde a sua superfície. Se água e oxigênio, dois elementos essenciais à vida, tal como a conhecemos na Terra, existem por baixo dessas nuvens, é uma questão que continua a desafiar a ciência.

            "Embora certos astrônomos achem que as possibilidades de vida sejam maiores em Vênus que em Marte, do estudo direto deste último resultam provas mais substanciais. Estas provas conduzem com certeza irrefutável à conclusão de que, pelo menos em Marte, existe vida vegetal e de tipos inferiores do reino animal. Nos anos mais recentes, estudos científicos do clima, das cintilantes coroas polares e dos misteriosos "canais" de Marte foram intensificados pela descoberta de que, ao contrário do que antes se imaginava, a temperatura nesse planeta não é muito diferente da que reina em um agradável dia de outubro em Nova York ou Londres. Além disso, novas observações estâo assentando mais sólidos fundamentos à ciência de que o planeta rubro tem calor, água e oxigênio, três requisitos de vida. Tanto pela fotografia quanto pela observação direta, têm-se obtido provas de que as áreas sombrias da superfície de Marte, enigma por tanto tempo indecifrável para os astrônomos, sofrem aparentemente transformações que são características da vida, vegetal; resulta disso que a ciência considera agora a existência de vegetação em Marte como bem estabelecida. Na Terra, a vida animal de ordem inferior acompanha sempre, de alguma forma, a vegetação extensiva.

            Analogamente, podemos raciocinar de que isso é também verdadeiro em Marte. E a ciência o admite.
 
            "Estes desconhecimentos levaram alguns astrônomos a conceber no planeta vizinho uma sociedade altamente organizada, que compreendia em seu seio hábeis marcianos construtores de canais.

            O falecido Dr. Percival Lowell e o Dr. Pickering estão entre os sábios que subscreveram esta hipótese avançada. Outros, Eddington, Russel e Aitken, sustentam que as observações da ciência não excluem a existência em Marte de uma vida animal altamente organizada, mesmo de uma civilização de seres inteligentes."

            A possibilidade de vida em outros mundos, é ainda comprovada pelas quedas de aerólitos, atravessando, como enviados misteriosos, aterradoras distancias, para chegar até nós. O mais notável de todos os bólides caídos, foi por certo aquele que, em 14 de Maio de 1864, despencou-se no sul da França. Examinado, ficou constatado que trazia em si água e turfa, sendo que esta última só se forma pela decomposição de vegetais na água.

            Esse aerólito, chamado de Orgulho, veio de um globo onde existem água e substâncias análogas à nossa vegetação. A matéria orgânica vegetal, encontrada no jardim botânico de Sienne, também de origem meteórica, segundo Ancelot, continha oxigênio, carbono e hidrogênio.

            Isso em 1830. Sendo, pois, o clima favorável à vida vegetal, por que não seria à vida normal?

            Devemos ainda ponderar que houve tempo em que a Terra estava vazia e que mesmo não existia antes de sua desagregação de nebulosa originária.

            A vida surgiu e evoluiu. 'Por que não se daria o mesmo em relação aos outros planetas?

            "O corpo humano não passa por todos os degraus de animalidade em seu primeiro período embriogênico, e estas fases rápidas, que se volvem silenciosamente no seio materno, não são indícios da gênese do homem sobre a Terra?"

            Não se confundam as substâncias terrestres com as de origem cósmica, como a "chuva vermelha caída no dia 16 de Novembro de 1864, no sudoeste francês, bem como o maná em Zaiviel, no mesmo ano. Paertus faz referências à chuva de "sapos", como espécies da zoologia extraterrestre.

            A imensidade dos céus é comprovada pela Via Látea, que é uma nebulosa da qual fazemos parte e que tem "apenas" dezoito milhões de sóis!!! Tinha razão o salmista ao exclamar:

            "-  Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, que é o homem mortal para que te lembres dele?" (Salmos, VIII-3).

            Wolffe, Founer, Bernardin Saint - Pierre, Huygens, Edgar Poe, descreveram, em romances científicos, os habitantes dos outros planetas, pois se a Terra fosse o único mundo habitado, estaria em contradição com o esplendor do seu Criador, e incompatível com a perfeição de sua obra, por ter formado um mundo inferior, imperfeito e mesmo miserável, onde impera a indefectível lei da morte, onde os vivos se alimentam de outros vivos. Nossa Terra é que não recebeu, no quinhão que lhe tocou, nenhum privilégio sobre os outros planetas. Estes, pelo contrário, gozam de uma hegemonia em tamanho e em clima.

            Jesus dizendo à Samaritana: "Não adorarão mais sobre esta montanha nem em Jerusalém porém os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espirito e em Verdade", (João, IV- 21 ), ampliou, sem especificar região alguma, o culto eterno a Deus, extensivo aos habitantes de todos os mundos, constituindo uma só humanidade.

            Tudo é eterno e tudo se transforma, tudo evolui, porque à pluralidade dos mundos habitados, corresponde a pluralidade das existências.

            Iremos progredindo até sermos perfeitos como perfeito é Deus, Senhor dos mundos sintetizados numa única palavra: Universo.

            Jesus mesmo disse: "Há muitas moradas na casa de meu Pai:" João, XIV-2; dando-nos uma ideia da pluralidade dos mundos, e Paulo em II aos Coríntios, XII-   H, nos fala de um homem que foi arrebatado até ao terceiro céu e depois ao paraíso. Só nessa passagem temos o testemunho do Apóstolo dos gentios, da existência de quatro (4) mundos superiores.

            Em Éfesos, IV       ; lemos: "Aquele que desceu é também o mesmo que subiu ACIMA DE TODOS OS CÉUS". O que quer dizer: Atravessou todos os mundos superiores, até atingir outra região paradisíaca, ou seja, a mansão dos justos.

            Concluamos, pois, com Flammarion:  

Iº  "As forças diversas que estiveram em ação na origem das coisas, deram nascimento sobre os mundos a uma grande diversidade de seres, ou nos reinos inorgânicos, ou nos reinos orgânicos."

2º  "Os seres animados foram, desde o começo, constituídos segundo formas e segundo um organismo em correlação com o estado fisiológico de cada uma das esferas habitadas".

3º  "Os homens dos outros mundos diferem de nós, tanto em sua organização íntima como em seu tipo físico exterior".

            Plutarco com a Lua; Cirano e a linguagem interplanetária; Fontenele e suas asserções; Huygens e os "Cosmoteóros"; Voltaire e as "Micromégas; Swedenborg e suas descrições dos habitantes de outros mundos; Bonnet, contemplando a natureza; Young, embevecido, olhando os astros; Humphry Davy viajando ao redor de Saturno, todos nos falam da pluralidade dos mundos habitados.

            E o saturniano, assestando seu telescópio na imensidade do infinito, descobre um planeta, pequenino, longínquo, apagado, e pergunta a si mesmo! '- Será "aquilo" habitado também?..

            Esse planeta é a Terra...

FIM



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

19. 'As Vidas Sucessivas'



19

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943


PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS

            A doutrina católica geocêntrica, fazendo da Terra o centro do sistema planetário, há muito foi rejeitada, apesar de Josué ter feito "parar" o sol e do silêncio forçado de Galileu. Desse primeiro erro decorreu o segundo: o organocentrismo tendo a Terra como único planeta habitado, onde vivemos uma única existência, para depois a alma subir ao céu ou paraíso, ou descer ao inferno ou purgatório.

            Os outros planetas, os milhões de sóis, os satélites, são adornos do céu que circundam o nosso mundo para deleite de nossa vista. Essas afirmativas são por demais pueris e não resistem ao sopro de uma análise, por mais rudimentar que seja.

            Por esses motivos. a doutrina da pluralidade dos mundos habitados interessa sobremaneira à ciência, à filosofia e principalmente à religião, não como simples conjetura, mas como certeza filosófica, constituindo hoje uma das mais importantes e fecundas questões da moderna metafisica,  pois como bem o diz Flammarion, a astronomia deve ser doravante a bússola da filosofia.

            O planeta Plutão foi visto pela primeira vez em 1932. Antes dessa data, porque ainda não o conhecíamos, deveríamos crer que esse planeta não existisse? Se pudéssemos, disse um grande astrônomo, colocar no último astro que enxergamos além os nossos poderosos telescópios, novos astros descobriríamos na imensidade do infinito.

            Já na antiguidade, dizia Lucrécio: "Todo este universo visível não é o único na natureza e devemos crer que há, noutras regiões do espaço, outras terras, outros seres e outros homens".

            "Os Vedas", o livro mais antigo que se conhece, descreve a pluralidade dos mundos habitados e a transmigração das almas para outros mundos, segundo as suas obras.

            Os povos druidas e egípcios também professavam essa crença. Os versos órficos dão cada estrela como um mundo e o próprio Anaximandro ensinava a pluralidade dos mundos, o mesmo fazendo Epicuro, Orígenes e Descartes.

            Baílly afirmava que a opinião sobre a pluralidade dos mundos foi adotada por todos aqueles filósofos que tiveram bastante gênio para compreender quanto ela é grande e digna do Autor da Natureza.

            Anaxágoras cria na existência de seres na Lua, no movimento da Terra, em contradição com Pitágoras. sendo que Copérnico era da mesma opinião do primeiro.

            Heraclide e Xenófanes também abraçavam a doutrina da pluralidade dos mundos. Petron de Himére, na Sicília, sustentou a existência de cento e oitenta e três mundos habitados e Plutarco diz que essa opinião já era generalizada na Índia.

            Epicuro, ensinando a pluralidade dos mundos, fundamentava-se neste argumento: "que as causas que produziram o mundo sendo infinitas, os efeitos destas causas devem ser infinitos".

            Orígenes era de opinião que Deus criava e aniquilava, alternativamente, uma quantidade infinita de mundos. Todas essas opiniões foram empanadas pelas errôneas concepções aristotélicas pela teoria bíblica, também falsa, da imobilidade terrestre.

            Na Idade Média outros se levantaram a favor da pluralidade dos mundos: Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, que foi queimado vivo. Miguel de Montaigne, Galileu, Tycho-Brahê, Descartes e Campanela, que escreveu a "Cidade do Sol"

            Na França. Pedro Borell escreveu uma obra inédita, que tinha por titulo: '''Discurso novo provando a pluralidade dos mundos: que os astros são terras habitadas e a Terra uma estrela; que a Terra está fora do centro do mundo, no terceiro céu e gira diante do SoI, que é fixo; e outras coisas muito curiosas."

            Na Inglaterra. Francisco Godwin faz a descrição da Lua e de seus habitantes em seu livro "Viagem estática".

            Fontenele escreveu "Conversações sobre a Pluralidade dos Mundos", publicadas há mais de duzentos anos e ainda hoje admiradas. Negarmos a pluralidade dos mundos é "prescrevermos limites ao poder de Deus", como dizia Montaigne.

            As "loucas" afirmações de Julio Verne não foram considerados utópicas e muitas delas não se vêm realizando?

            Um planeta é muito menor em relação ao universo, do que uma ilha em relação ao globo terrestre, dizia Montaigne. E Luiz Cousin declara: - Estes milhões de sóis tem, cada um, como o nosso sol, seus planetas particulares e entrevemos ao redor de nós uma multidão incalculável de mundos que servem de morada a diferentes ordens de criaturas, povoados, como a nossa Terra, de habitantes que podem admirar e celebrar a magnificência das obras de Deus.

            São opiniões de pensadores de todas as escolas e de filósofos de todas as crenças, favoráveis sempre à pluralidade dos mundos habitados, porque "o estudo da natureza faz nascer e consolidar no espírito do homem a ideia da pluralidade dos mundos. Para que fim, pois, devemos supor criadas as estrelas, se não vermos nesses vastos e admiráveis aparelhos que nos cercam, habitações destinadas a outras raças de seres vivos? exclamava Herschel.

            Compare-se ainda a insignificância da Terra em relação a qualquer estrela. Julgamos falsamente quando supomos que a Lua é maior que uma estrela, porque a vemos maior, por se achar mais próxima de nós.

            O Sol, que é um milhão e quatrocentas mil vezes maior do que a Terra, também não se nos apresenta muito menor do que esta? E o sol é um globo obscuro como os planetas, envolto em duas atmosferas, das quais a exterior teria por função refletir para fora essa luz e esse calor, e preservar dele o globo solar. É a opinião autorizada de William Herschel e de outros astrônomos que estudaram a constituição física do sol.

            E é sob a gravitação universal que planetas, satélites, asteroides, cometas, meteoros cósmicos, gravitam em torno do astro central.

            Pois todos esses planetas mais ou menos afastados do sol, do qual recebem menor ou maior intensidade de luz e calor, oferecem campos propícios ao desenvolvimento da vida animal e vegetal, em condições, naturalmente, diferentes das nossas. Leia-se a respeito o estudo comparativo dos planetas, feito por Flammarion, e toda dúvida desaparecerá ante os argumentos convincentes do ilustre astrônomo, quanto a possibilidade de vida animal em outros mundos.

            A ideia de habitantes noutros planetas foi como a descoberta da América: Havia uma vaga hipótese da existência de terras desconhecidas no oriente: pairava no ar uma dúvida que abatia os mais arrojados em suas convicções. E Colombo é tido como louco e depois de suas viagens, morre pobre, escarnecido e esquecido de todos, por ter dado à Terra um Novo Mundo.

            Flammarion está no mesmo caso, para os céticos e dogmáticos, como utópico e visionário. Entretanto, ele comprova com a ciência as suas afirmativas, também abraçadas por eminentes pensadores de todos os tempos, não só comparando a constituição física dos planetas, como os estados dos corpos e as suas transformações diversas, e até da natureza atmosférica de cada planeta e sua densidade.

            E se o diâmetro de Marte é duas vezes inferior ao nosso, o de Júpiter é 1.400 vezes maior!

            Fontenelle nos diz, ainda, que é o orgulho insuportável do homem que faz pensar que a natureza foi feita só para ele, e ver o Sol como se fosse verossímil, acendido exclusivamente para amadurecer suas nêsperas e enrepolhar suas couves!

            Da "Gazeta", de 5 de Agosto de 1939 - notícia recente, portanto - extraímos o seguinte com referência a Marte: "As observações reforçam a crença de que existe profusa vegetação naquele planeta. O astrônomo da Academia Real de Londres, Sr. H. Spencer Jones, mostra-se favorável a tal hipótese, acrescentando que a questão da vida animal em Marte "E' DE SOMENOS IMPORTANCIA". "As ligações entre a vida animal e a vida vegetal seriam muito mais estreitas do que entre a "não-vida e vida vegetal". Diz ainda o conhecido astrônomo: "As observações do planeta Marte tornam agora DIFÍCIL A DEFESA DA TESE de que a vida terrena é a resultante de algum ato especial e exclusivo da criação."

            E que diríamos de Vênus, planeta das mesmas dimensões da Terra, tendo suas montanhas e planícies, estações e anos, dias e noites tão semelhantes às nossas?

            Da mesma "A Gazeta", diário vespertino de S. Paulo, de 22- 1-1940, extraímos o seguinte, publicado sob o titulo - "Há vida em Marte": "Os canais de Marte foram fotografados eficientemente pela primeira vez, na história da astronomia. Como resultado a existência de vida em Marte parece mais provável hoje do que em qualquer tempo, desde que tão debatida questão passou a preocupar os cientistas" ... "Os astrônomos, continuou o Dr. Nassau, serão unânimes em classificar essas fotos como o maior triunfo astronômico de 1939"... "Os chamados canais de Marte, foram apontados pela primeira vez em 1877, pelo astrónomo italiano Schiaparelli"... "O falecido prof. Percival Lowell, fundador do observatório que tem o seu nome, em Flagstaff, (USA) , devotou parte de sua vida ao estudo desses canais, traçando mapas em que assinalou mais de 400 deles" ... "Todavia, muitos astrônomos persistiram em afirmar que tais canais não passavam de fruto da imaginação de seus defensores". E termina: "E isto é um argumento de peso para aqueles que estão convictos que são obras de irrigação, construídas para conduzir as águas dos seus degelos polares ao resto da superfície de tão falado planeta."

            Há quase 4 séculos Giordano Bruno era queimado vivo, em Roma; pelo crime de asseverar a possibilidade de vida nos outros planetas.



quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

18. 'As Vidas Sucessivas'


18

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943


DEUS - COMO DEVE SER COMPRENDIDO

            Já é conhecida a afirmação de que "pouca ciência leva ao ateísmo, muita ciência conduz a Deus”. Descartes, repetindo o que Anaxágoras já havia dito há 2.000 anos, dizia: "Tudo é mecânico, máquina em movimento, Fora do mundo - Deus, e dentro do corpo - a alma.”

            Platão, discípulo de Sócrates, acreditava num único Deus que castigava os maus com infernos eternos. Aristóteles, comparando Deus com o rei inglês, que reina mas não governa, afirmava: Deus não criou mas move o mundo como o objeto amado, move aquele que o ama. Deus é pura energia.

            Bacon, disse que o Criador deu almas iguais a todos no mundo, mas insaciáveis mesmo com um mundo; morto, Bacon legou sua alma a Deus e seu corpo à Terra.

            Spinoza, que não acreditava na Bíblia porque ela pretendia impelir os homens deseducados à devoção, e que por isso o seu objetivo era empolgar a imaginação sem convencer à razão, cria, entretanto, num Deus justo e criticava os homens propensos a acreditar que, em benefício deles, Deus quebrava a ordem natural das coisas, revogando suas próprias leis.

            Kant é da mesma opinião quando diz que a oração é inútil, se o seu intuito for a alteração das leis naturais, que governam o mundo.

            Spinoza continua a nos dar uma ideia de Deus; Tudo vive em Deus; tudo move dizendo: em Deus. A vontade de Deus é a soma de todas as causas e leis. O intelecto de Deus é a soma de todo o espírito.

            Voltaire teve a ideia de um Deus que premiava a virtude e castigava os maus sem crueldades. Bradava-lhe o maometano: Ai de vós se não fordes em peregrinação até Meca. Dizia-lhe o padre: sereis maldito se não fordes em romaria à Notre Dame de Lorete. O teísta zomba de Meca e de Lorete, mas socorre o indigente e patrocina o oprimido. E não está ele de acordo com a parábola do bom samaritano, (Lucas, X - 25) onde Jesus elogia o procedimento do samaritano, embora proscrito, e reprova o do sacerdote e o do levita?    

            Kant, por sua vez, não pode crer num Deus regedor do céu, que por meio de lisonjas distribui as mercês aos homens. Do mesmo modo, não podemos dar crédito a certas práticas misteriosas, empregadas por falsos religiosos, que se intitulam intermediários entre Deus e os homens, a fim de acalmar a justiça desse mesmo Deus.

            Jesus mesmo, sofreu a influência das correntes filosóficas dominantes da época, aceitando tudo o que estava de acordo com a sua moral: assim é que Ele próprio repetiu como ensinamento, afirmativas de Hiller, de Confúcio, de Lao-Tsé, e outros.

            Bergson pensava que ação, liberdade e vida, eram sinônimos de Deus: e Santayana dizia que Deus era a própria natureza só o ideal era imortal.

            Will Durant fez a crítica dos filósofos materialistas, dizendo: Um filósofo materialista é como um museu, um mostruário de coisas mortas.

            William James acha que o homem aceita ou rejeita filosofias de acordo com as suas necessidades e temperamentos, e não de acordo com a verdade objetiva. Não indaga se é lógico, e sim o que a prática dessa filosofia significa para a sua vida e para o seu interesse, Argumentos pró e contra, servirão para iluminar mas não para convencer. Eis porque lógica e sermão não convencem ninguém. Então o que é que prova a existência de Deus?

            Tudo o que existe no mundo atesta a existência de um Ser superior e orientador de todas as coisas. A origem e formação dos mundos que gravitam em torno dos sóis: a razão das existências: o destino da alma humana: a origem da matéria: a célula primitiva e originária: a fonte da vida; o impulso inicial da nebulosa: a harmonia do conjunto universal do sistema planetário e astrológico. Tudo isso constitui a grande incógnita que debalde os sábios procuram resolver. São problemas por demais complexos, cuja profundidade esmagaria a presunção do homem. Na relatividade em que nos encontramos é natural que continuemos a ignorar muita coisa.

            Poincaré, com toda a sua autoridade, já afirmou que a harmonia universal não pode ser obra do acaso. Em tudo sentimos a presença de uma inteligência vigilante e diretora. Que o digam os sábios observadores da astronomia.

            "Sentimos, por trás dos nossos destinos, uma inteligência que não é a nossa, a dirigi-los com mão segura, a qual chamamos Natureza. Supremo Artífice, o Absoluto, Deus!"

            Deus existe na voz do nosso íntimo, no âmago da nossa consciência, que nos acusam quando desprezamos as leis que regem o mundo. O próprio ateu tem primeiro de acreditar na sua existência para depois rejeitá-la. Só os ignorantes da grandeza universal não podem crer em Deus. - O ateu, diante da natureza, é como o analfabeto diante da escrita: não sabe tirar das letras a vida que elas encerram. 

            "Deus é, pois, uma Inteligência suprema, reguladora do Universo, de uma inflexível lógica de leis imutáveis que guiam, no infinito, inúmeros planetas e sóis, obedecendo a regras invariáveis, cuja harmonia é simplesmente grandiosa.  Os milhões de mundos que rolam no éter, que emaranham suas órbitas, com regularidades tão precisas", não requerem uma força diretriz? [Delanne).

            "Todas as forças, continua Delanne, designadas sob o nome de Deus, alma, vontade diretriz, tem uma existência real fora da matéria, e esta é o instrumento passivo sobre o qual elas se exercem. A força é material. Uma força, o pensamento; uma matéria, o cérebro".

            Deus, portanto, paira muito além do nosso alcance e como não podemos amá-Lo e nem ofendê-Lo diretamente, nosso amor será sempre indireto: amando o nosso próximo e a própria natureza, deslumbrando-nos com as maravilhas que nos cercam. Assim os poetas e os artistas amam a Deus na sua obra, enquanto nós procuramos adorá-Lo em Espírito e Verdade. Níetzche só compreendia Deus quando caminhava ao lado de Wagner; S. Tomás dizia que tudo no mundo nos fala de Deus, que é a vitalidade criadora de tudo quanto existe, ao passo que Hegel comparava Deus ao desenvolvimento e progresso; para Aristóteles, Deus era o impulso para a perfeição.

            Ninguém ainda viu a Deus, João, I-18, todavia podemos senti-Lo, na fragrância que exala do perfume de uma flor; notá-Lo na inocência que se desprende do frescor de um sorriso de criança; escutá-Lo através das vibrações inteligíveis que escapam dos sons de nossas vozes: vê-Lo nas irradiações que partem das luzes solares que nos aquecem, deslumbram os nossos olhos e fecundam a vegetação; admirá-Lo nos matizes policrômicos das paisagens, que o artista leva em cores para a tela; reconhecê-Lo no parnaso de um poeta, na inspiração de um músico, na inteligência de todos os sábios.

            Deus é grande como o infinito; profundo como a imensidade dos oceanos; poderoso como a força do raio. Deus está na alma do artista, no remorso do pecador, na regeneração de um arrependido, no coração de uma mãe, na fraternidade dos povos pacíficos e laboriosos, na consciência de todos os homens honestos, no perdão de uma alma nobre, no socorro aos desgraçados, porque "Deus charitas est", dizem os Evangelhos.

            Só agora podemos definir Deus, junto com Buda:

            "O próprio Deus não é senão o princípio motor, a força oculta espalhada nos seres, a soma de suas leis e, propriedades, o princípio- animador, em uma palavra, a Alma do Universo que se apresenta ao Espírito humano como um "ENIGMA INSOLÚVEL". Deus é, enfim, a grande Alma do mundo, o "Coração imenso do Universo".






segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

17. 'As Vidas Sucessivas'



17

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943


DEUS – como deve ser compreendido


Tudo que há Deus a confessar me
[obriga;
E para crer num braço, autor de tudo.
Não só da fé ,mas da razão me ajudo.
Bocage


A impossibilidade em que me vejo de provar que Deus não existe,
revela-me a sua existência. Pascal

Os homens imaginam que os deuses nascem,
vestem-se e tem corpos e vozes iguais a eles.
Xenófanes( 600 anos antes de Cristo)

Hoje, quase 2000 anos depois de Cristo,
ainda os homens continuam a pensar da mesma forma...


Deus é a síntese das aspirações da alma humana.
Cristovam Camargo


            É impossível fazermos uma ideia, ainda que imperfeita e distanciada, do que seja Deus. Deus em si é indefinível e inexplicável, pois Ele não pode andar assim tão ao alcance da relatividade em que nos encontramos.

            Toda ideia que até agora católicos e protestantes tem de Deus, é simplesmente absurda, falsa e cheia de fantasias pueris.

            O Deus bíblico não resiste ao sopro da mínima análise: Fabricante da Terra como único planeta habitado; - nesse caso nós somos mais "inteligentes" do que Ele, pois, em pensamento, já criamos outros mundos, também povoados e superiores ao que habitamos; - criador de astros para ornamento do céu e deleite dos terrestres; - que precisou do barro para fazer o homem e da costela deste para criar a mulher; - que se sente cansado desse trabalho realizado em seis épocas, descansando no sétimo dia; - que deixou um deus antagônico do bem - Satanás - para perder a humanidade que Ele mesmo quer salvar; - que desdenha da oferta de Caim, irritando-o; - que se arrepende de haver criado o mundo; - que mora acima
das nuvens, olimpicamente sentado; - que amaldiçoa a serpente para que ela, andasse de rastro, como se fosse possível um animal sem pernas andar de outra maneira; e, sobretudo, que se encoleriza, que castiga eternamente, guardando ressentimentos, rancores e ódios.

            Um Deus nessas condições, assemelha-se a nós, com as nossas imperfeições e fraquezas.

            Por esses motivos. dizemos com A. Karr: "Cremos no Deus que faz os homens, e não no Deus que os homens fizeram".

            Deus é onipotente, é bom, é justo, é perfeito, é Infalível, é infinito e suas leis são eternas, imutáveis e também infinitas. A natureza aí está vigilante e Insubordinável, zelando pelo cumprimento fiel das leis divinas.

             O Deus bíblico é produto da obra humana, que empolga a imaginação sem convencer a razão. E sendo Deus perfeito e infinito. não pode ser analisado com tanta facilidade, porque se a perfeição e o infinito fossem explicados tão naturalmente, deixariam de ser a perfeição e o infinito. E se Deus não fosse infinito e perfeito não seria Deus.

            Spinoza, que teve a mais profunda visão de Deus, segundo uma frase de Renan, disse que é próprio do homem transferir a Deus seus próprios atributos e imperfeições. Assim fazendo, nós estamos criando um Deus à nossa imagem e semelhança, ao contrário do que afirma a Bíblia. Se fôssemos um triângulo, teríamos de Deus uma ideia triangular e se fôssemos um círculo, d'Ele teríamos uma noção circular. Os negros africanos não podem acreditar que exista um Deus branco...

            É ainda Spinoza - que foi excomungado por apontar as contradições bíblicas - quem nos auxilia, dizendo que tudo no universo se move mecânica e matematicamente, com exceção de Deus e da alma.

            Qual é a ideia, então, que devemos fazer de Deus? Deus, (em latim), segundo o grego, Zeus e no sânscrito, Di, significa Céu. Daí a ideia errônea de um Deus habitando sobre as nuvens, criando-se frases como esta: "o céu te proteja!". E os trovões seriam prenúncios da cólera divina, como os raios a manifestação do seu poder e as doenças o castigo para os filhos relapsos...

            Hoje, que todos esses fenômenos estão explicados cientificamente, podemos afirmar que a ideia de Deus não surge do medo conforme afirmação de Lucrécio na antiguidade e sim da esperança que alimenta o ideal da vida.

            Foi a ignorância quem criou um Deus imperfeito como nós. A história antiga está cheia de práticas e superstições. algumas ainda em voga, oriundas da falsa ideia de Deus. Uns criam no céu como Deus - Urano; outros, na Lua - Selena: outros, na Terra - Gea; outros, no mar - Poseidon,vou mitologicamente, Netuno. Ideias pagãs aguardando as cristãs.

            Os obstáculos que impedem a compreensão de Um Deus único, eterno, causa primária de tudo quanto existe, são os preconceitos, o orgulho, a sensualidade e a propensão politeísta do povo: favorecida com criações multiformes de "santos" e a diversidade cada vez maior do nome de Maria como "mãe" da humanidade .

            Ernest Renan, em sua "Vida de Jesus", pág.  62. nos dá uma ideia mais ou menos compreensível de Deus: "Jesus não tem visões; Deus não lhe fala como a quem está fora dele; Deus está nele; ele sente-se como Deus, tira do seu coração o que diz de seu Pai. Vive no seio de Deus por uma comunicação de todos os instantes; não O vê, mas ouve-O, sem carecer de trovões nem de sarça ardente, como Moisés; de tempestades reveladoras, como Jó; de oráculos, como os antigos sábios gregos; de Espirito familiar, como Sócrates; de Anjo Gabriel, como Maomé. A imaginação e alucinação de uma Santa Tereza, por exemplo, nada valem aqui. O alheamento do soufi que se proclama idêntico a Deus, também é coisa muito diversa. Não há um momento em que Jesus anuncie a sacrílega ideia de que ele seja Deus".

            A exemplo de Renan, definamos Deus com as nossas ações, sintamo-Lo amando o nosso próximo e adoremo-Lo no íntimo de nossas mais puras idealizações porque Deus sendo absoluto "constitui a negação de tudo o que é limitado e não pode ser nem descrito nem compreendido pelos processos ordinários do intelecto". - disse Buda.









sábado, 5 de janeiro de 2013

16. 'As Vidas Sucessivas'



16

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943


A JUSTIÇA DE DEUS


            O dia do juízo final transforma o Deus bom e justo dos Evangelhos no terrível e vingativo Jeová bíblico.

            A criação da alma, na ocasião do nascimento de um novo ser, só poderia comprometer a justiça divina. Que mérito teria um Espírito que apenas animou um corpo por poucos dias, ou meses apenas? Não teve ele nenhum conhecimento do mundo onde esteve; sua virtude não foi experimentada; sua vontade não teve razão de existir; sua liberdade não foi posta em prova. E após o desencarne precoce, irá ele gozar eternamente num paraíso problemático, ou eternamente sofrer no inferno, cuja existência é mais problemática ainda?

            Quais os motivos dessas irremediáveis consequências? Respondem-nos o bom senso e a razão que não há efeito sem causa. Logo, esse Espírito não poderia deliciar-se no Éden, nem padecer dentro das "Caldeiras de Pedro Botelho", uma vez que nenhum bem praticou e nenhum dano causou a seu próximo. Não! Deus não pode ser injusto. O destino da alma humana depende de seus atos e das leis de Deus, que regem o Universo.

            A alma humana não poderá ficar sujeita a ritos humanos que obriguem a Deus recebe-la ou rejeita-la. O homem não poderá, jamais, ter interferência alguma no que só a Deus pertence. Do contrário, estaria decretada a falência da autoridade divina.

            O batismo ritualístico, de nenhuma forma modificará o destino do Espirito. Jesus nunca batizou ninguém. Só seremos batizados racionalmente, isto é, iniciados nas questões espirituais, quando as compreendermos suficientemente e quando as professarmos conscientemente, depois de sabermos apartar o joio do trigo.

            O Espírito, uma vez desencarnado, não tem sexo, nem idade, nem parentesco algum; todos são irmãos, filhos de um mesmo e único Pai comum, que é Deus - esse mesmo Deus que muitos teólogos querem transformar no mais desapiedado dos padrastos.

            A ressurreição do corpo é simplesmente absurda, é ridícula: tudo se transforma. O corpo separado do Espírito, dará origem a outras vidas vegetais e animais e fornecerá elementos, que existem no ar, que respiramos. Tudo se transforma dentro da vida. Um corpo, para se recompor, deveria buscar seus elementos dispersos nos três reinos da natureza. Só uma alquimia de "Pedro Botelho" conseguiria realizar tão disparatada e impossível combinação.

            Cristovam Camargo em seu livro "O Subconciente", que nós consideramos uma verdadeira bíblia moral, falando sobre a reencarnação, diz: "O mundo é uma imensa escola e a vida uma interminável lição. A infinita aprendizagem das leis eternas, toda a nossa evolução, não é natural que se processe, inteira, dentro do prazo curtíssimo de quarenta, sessenta ou oitenta anos. Sem falarmos nos que morrem cedo, nos que morrem com alguns minutos de vida e não têm tempo de aprender, que nada saberiam se a escola das verdades eternas se encerrasse dentro do âmbito estreitíssimo da vida no planeta."

            "Não, quando chegamos à vida, quando nascemos, vimos de dezenas, de centenas de vidas anteriores neste mesmo ou em outros planetas, e continuaremos, depois, em dezenas, em centenas, em milhares de vidas, neste ou em outros planetas, desdobrando-se cada uma dessas - que todas se fundem em uma só - na eternidade, de acordo com os preparativos feitos e as direções tomadas na vida imediatamente anterior."

            "Novas perspectivas abre a reencarnação ante nossos olhos fatigados, dando-nos as razões das aparentes injustiças desta vida. A desigualdade verificada na sorte dos homens, nela encontra a única explicação aceitável."

            "Esse desnivelamento de situações entre os habitantes da Terra, que entibia os corações,. faz desconfiar de uma justiça superior, levando muitas vezes ao desespero, à blasfêmia e ao ódio à divindade. aparece então como consequência natural - se nem sempre, de nossas ações no presente transcurso de tempo, como corolários de atos mais ou menos meritórios ou censuráveis das diversas criaturas, em existências anteriores".

            Aproveitando ainda as inspiradas palavras de Cristovam Camargo, continuamos a transcreve- Ias: "Não há várias vidas, passadas na Terra, no céu, neste ou naquele planeta. A vida é uma só - a vida eterna - e esses marcos divisórios que estabelecemos, dos quais o mais importante, talvez o único para nós, seja o túmulo, só por um velho preconceito arraigado secciona o panorama ininterrupto da eternidade em dois ou mais períodos, que consideramos diferentes e autônomos. Aqueles que, de uma esfera à parte, pudessem contemplar a seus pés o desenvolver nos espaços siderais, aprenderia a vida, desde as vibrações apagadas e recônditas dos minerais, à refulgência dos santos, como o desdobrar harmônico do plano divino, sem soluções de continuidade, hiatos ou mudanças."

            "Viveremos sempre, atravessaremos outras numerosíssimas vidas. progrediremos sem cessar e a intuição e o simples bom senso nos afiançam que todos, sem exceção, seremos um dia inteiramente felizes."

             Eis em que se resume a mais sábia, a mais justa e a mais generosa de todas as leis qe revelam a justiça de Deus no princípio reencarnacionista.

            Parodiando Augusto Comte que disse: “Toda a sucessão dos homens, durante a longa sequência dos séculos, deve ser considerada como um só homem, que subsiste sempre, e que continuamente aprende”, dizemos nós: Toda a sucessão de vidas, durante a longa sequência das reencarnações, deve ser considerada como uma só vida, que subsiste sempre e pela qual o Espírito continuadamente aprende e evolui.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

15. 'As Vidas Sucessivas'



15

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943


O PORQUE DA REENCARNAÇÃO


            O planeta Terra - um dos menores entre os descobertos pelo telescópio:- é um mundo regenerador, onde o espírito se educa para aprender a subir as escadarias gradativas do aperfeiçoamento. A evolução se realizará sempre neste ou em outros mundos, até se completar com o Evangelho: "Sede perfeitos como o vosso Pai que está nos céus": Mateus, 5:48.

            A própria vida terrestre é uma prova de que a luta continuará "intra et extra" mundo. sem estacionamentos eternos. O progresso é infinito, como infinita é a própria vida. A Terra é "um mundo cuja lei é uma cruel e perpétua luta pela existência, na qual só os brutais, os velhacos, os inescrupulosos triunfam: luta por toda a parte; de homens contra homens, de tribos contra tribos, de impérios contra impérios, de espécie contra espécie"- o que levou Henry Adams a dizer: “um quadro de dores, aflição e morte; peste e fome, inundações, secas, nevadas, catástrofes por toda a parte e por toda a parte acidentes. A virtude gera o vício e o vício se perpetua. Felicidade sem sentido, egoísmo sem lucro, miséria sem causa, horrores indefiníveis e a morte como recompensa igualitária de todos."

            O egoísmo, a maledicência, o orgulho, a hipocrisia, predominam na sociedade cética e indiferente. Talvez pensando em tudo isso, disse Rousseau: "Neste mundo há uma tendência natural para oprimir o bem e exaltar o mal."

            A Terra é, pois, a escola do nosso aperfeiçoamento espiritual, o cadinho onde se depuram as inclinações perversas, o canteiro onde brotam os lírios da virtude depurada no sofrimento, mas a lição é geral: todos aprendem.

            No Evangelho segundo João, III 1 a 24, vemos Jesus instruindo, clara e insofismavelmente, o mestre de Israel - Nicodemos - a cerca da reencarnação: ''É necessário um novo nascimento para que se possa ver o reino dos céus".

            A evolução sendo infinita, é claro que não bastam 60, 80 ou 100 anos para que a perfeição seja atingida. O progresso do Espirito não se completa com uma única existência e é impossível de realizar numa única vida. Principalmente para aqueles que morrem prematuramente.

            O espírito sendo eterno, não existe para ele o fator tempo: o Espírito não tem idade. As vidas sucessivas são, apenas, etapas vencidas e a vencer, constituindo todas elas, no seu conjunto, a vida eterna do próprio Espírito.

            A reencarnação é, pois, um meio oferecido pelo Criador ao homem para que este tenha as oportunidades de reparar o mal cometido, regenerar-se, aprender e realizar o progresso de suas faculdades intelectuais e morais.

            O homem é livre, mas essa liberdade é regulada pela imutável e eterna lei do progresso. Tudo tende a evoluir. Tudo caminha para o Alto. Tudo se aperfeiçoa. Por isso, já disse alguém que é impossível molhar-se as mãos duas vezes nas mesmas águas de um rio.

            A morte, como é julgada por muitos, não existe. O próprio corpo não desaparece e sim se transforma em outros corpos, na sua decomposição. Nele vamos encontrar milhões de vidas: os germes que pululam na matéria pútrida, cuja morte lhes dá vida.

            A única morte reconhecida por Jesus é a morte espiritual daqueles que têm os olhos da alma fechados às coisas espirituais. Estes, espiritualmente, são os mortos de que nos fala o Evangelho. São os mortos que procuram outros mortos para os enterrar ou para os devorar, enquanto se julgam vivos ...

            A reencarnação, pois, é a volta do Espírito à matéria, em busca da sua felicidade esquecida ou perdida em existências anteriores.