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domingo, 16 de janeiro de 2022

A evolução dos seres

 

A evolução dos seres

por I. Pequeno (Antonio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Novembro 1944

             Posto que o próprio Allan Kardec, e com ele os Espíritos reveladores, tivesse julgado prudente condescender até certo ponto com os preconceitos do seu tempo, abstendo-se de pregar aberta e resolutamente a indefinita evolução de todos os seres, não transparece menos, quer no ensino dos Espíritos, quer nos comentários do Mestre a tal respeito, a insinuação, ora clara, ora velada, dessa grande lei. Ver “O Livro dos Espíritos”, parte 2ª, cap. XI, sobretudo os números 604 e 607.

            Já na “Revelação da Revelação”, dada a Roustaing, a explanação desse tema é feita com amplitude e sem tergiversações. Ver o volume 1º, nº 56, pág. 273 e segs.

             Leopoldo Cirne - Nota à página 315 do volume 1º de “Doutrina e Prática do Espiritismo”, (Edição FEB).


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Fé esclarecida

 

Fé esclarecida

por Allan Kardec

Reformador (FEB) Outubro 1945

             “Espiritismo não quer ser aceito cegamente, antes pede a discussão e a luz. Em vez da fé cega, que sufoca a liberdade de pensar, ele diz: a fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade. A fé precisa de uma base, e esta é o conhecimento perfeito do que se deve crer. Para crer, não basta ver, é preciso compreender.” (“O Evangelho segundo o Espiritismo”). Temos, pois, razão para considerar o Espiritismo o precursor da aristocracia do futuro, da aristocracia intelecto-moral.


quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Reverência ao Codificador

 

“Reverência ao Codificador”  

por Indalício Mendes

Reformador (FEB) Outubro 1964

             Há cento e sessenta anos (*), na cidade francesa de Lião, encarnava um dos mais nobres Espíritos do século XIX: Hyppolyte Léon Denizard Rivail, o nosso queridíssimo Allan Kardec, figura apostolar escolhida pelos maiores do Alto para restaurar no mundo, através do Espiritismo, o Cristianismo do Cristo, tão desnaturado através dos anos por aqueles que se arrogam herdeiros exclusivos do Mestre de Nazaré.

 (*) Do blog:  Hoje... 2021 – 1804 = 217 anos.

 Foi realmente, a 3 de outubro de 1804 que nasceu Allan Kardec. Sua biografia, tantas e tantas vezes repetida, já se fixou na memória de todos os confrades. Portanto não iremos rememora-la aqui, por desnecessário. Queremos, isto sim, apontar a extraordinária significação dessa data, não somente para os espíritas como para a Humanidade em geral.

            O 3 de Outubro de 1804 constitui um marco na luta pela evolução moral do homem na Terra. Kardec teve uma preparação intelectual e moral relativamente longa, pois era preciso que se ilustrasse, que tomasse sólido conhecimento dos problemas humanos, que adquirisse larga experiência, antes de ser chamado ao cumprimento de sua missão. Assim, cinquenta anos depois, isto é, em 1854, teve, pela primeira vez, sua atenção atraída para o Espiritismo, mais precisamente para as “mesas girantes”.

Kardec, entretanto, não era homem fácil de convencer.   Só aceitava uma ideia depois de examiná-la séria e profundamente, esgotando todos os argumentos a ela contrários.

Ao lhe dizerem certos Espíritos que teria de cumprir uma espinhosa missão, respondeu que tinha “o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade”, mas não se achava talhado para tão grande responsabilidade, pois confessara que dificilmente acreditava nessa missão.

O fato é que, ao convencer-se de que não lhe faltaria a assistência espiritual imprescindível ao seu trabalho, aceitou a incumbência.  

As lutas de Kardec, pela codificação, pela vulgarização dos livros doutrinários, pela defesa do Espiritismo, atacado pelo clero e pelo cientificismo pedante, foram tremendas. Não estivesse ele preparado para resistir a tantos ataques, não fora um homem de moral férrea e temperamento vigoroso, a iniciativa teria malogrado. Mas, se os Espíritos o escolheram foi porque sabiam que seria capaz de levar avante a ideia que aguardava há muito tempo o aparecimento na Terra de um homem com o conjunto de virtudes morais e intelectuais que ele representava.

O “Espírito de Verdade” prevenira-o de que se acautelasse, porque, “para lutar com os homens, são indispensáveis coragem, perseverança e inabalável firmeza. Também são de necessidade prudência e tato, a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e não lhes comprometer o êxito com palavras ou medidas intempestivas.

Exigem-se, por fim, devotamento, abnegação, e disposição a todos os sacrifícios.”

Grande homem! Espírito eleito! Kardec, já forjado o caráter na vida que lhe havia sido reservada antes de aceitar a honrosa e grave responsabilidade, esteve à altura da confiança nele depositada.

E não falhou. Não esmoreceu. Não desmereceu. O Pentateuco Espírita – “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese” – atestam a grandeza da sua tarefa, monumental por seu conteúdo filosófico, científico e religioso, assim como por sua extensão.

Quantos benefícios têm sido feitos à Humanidade pelo Espiritismo? Quantas vidas salvas, retificadas, amparadas e iluminadas pelas obras assinadas pelo ilustre Codificador!

Transferimos para nós todos, neste momento, o exame da grandiosidade do labor de Kardec. Evidentemente, dele não foi todo o grande trabalho, porque superiores Espíritos realizaram a parte mais relevante da mensagem do Consolador. Todavia, coube a Kardec interpretá-la, pô-la em ordem, ajustá-la, codifica-la, enfim. E que serviço! Não houvesse ele podido contar com a assistência espiritual, talvez, nos momentos mais agudos, sentisse dificuldade em tomar a decisão certa.  Mas qual! Se não lhe faltava a assistência do Alto, também não lhe escasseava valor próprio para discernir e saber qual o caminho mais aconselhável a seguir em determinadas circunstâncias.

Os Espíritos, entre eles o “Espírito de Verdade”, sem perderem de vista o missionário, não interferiam em seu livre arbítrio, embora exercessem, quando oportuno, a crítica justa e construtiva, como quando cometeu um erro na elaboração de “O Livro dos Espíritos” e foi advertido por meio de pancadas ouvidas e interpretadas com acerto, tanto que Kardec revisou o que estava pronto, encontrando outros defeitos, sendo, assim, conduzido a refazer o trabalho.

Houve um tempo em que levou em que levou cerca de um ano sem receber qualquer comunicação escrita em sua casa. E confessou: “Somente fora da minha casa lograva eu receber comunicações.”    

Porque isso? Naturalmente porque o “Espírito de Verdade” não desejava que ele, em sua casa, só com o médium, pudesse ser involuntariamente induzido a qualquer equívoco que o fizesse, depois, vacilar quanto à segurança dos comunicados.

Em 1º de janeiro de 1867, com 63 anos, lembrava que a comunicação do “Espírito de Verdade”, entremostrando-lhe os percalços futuros, “se realizou em todos os pontos”. Ele sofreu todas as vicissitudes preditas. Foi traído por aqueles em quem mais confiava, caluniado, invejado, difamado, atacado por quem lhe devia muitos serviços.

Semelhante comprovação, em vez de constituir desânimo para esse homem admirável, ainda mais robusteceu a sua fé no Espiritismo, consolidando a confiança já enorme que tinha em o “Espírito de Verdade” e em outros Espíritos elevados.

Eis porque, espíritas que tendes a responsabilidade de direção de qualquer obra, qualquer serviço no Espiritismo, não vos deixeis quebrantar pelas traições, injúrias, mentiras, intrigas.

São coroas de espinho que os ineptos põem na cabeça dos que se sacrificam tudo de material pela realização de serviços humanitários, de propaganda de obras benéficas e salvadoras. A maldade dos homens espiritualmente atrasados constitui a cruz que todo homem evoluído carrega aos ombros.

Quantos companheiros nossos tem sofrido o mesmo? Sofrem calúnias, críticas soezes daqueles que nada realizam, a não ser o derrotismo. Mais tarde, quando chegar a hora do ajuste de contas, os que perseveram na luta bendita, apesar de todos os sofrimentos morais, ainda se curvarão bondosamente, na Espiritualidade, para levantar do chão os irmãos que tentaram enlameá-los infrutiferamente.  

Que grande significação tem para nós, espíritas, o 3 de Outubro!

 


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Doutrinar sempre

 

Doutrinar Sempre

Percival Antunes (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Julho 1964

             Nenhum trabalho é mais importante no Espiritismo do que o ensino adequado da Doutrina codificada por Allan Kardec. E nada consegue tornar a Doutrina Espírita mais positiva e convincente do que a exemplificação daqueles que se dispõem a ensiná-la, quer pela palavra falada, quer pela palavra escrita. Temos de partir do princípio de que o Espiritismo se destina a reformar o homem, para que o homem, espiritualizando-se progressivamente, possa contribuir para reformar a coletividade a que pertence. Isto, porém, não é obra para pouco tempo. É trabalho longo, que precisa de ser feito com método e tenacidade.

            O Espiritismo não é nem pode ser responsável por atos e ideias daqueles que, dizendo-se espíritas, não se subordinam às determinações da Doutrina Kardequiana. Por isto, não devem dar demasiada importância aos adversários da nossa religião, sempre prontos a explorar com escândalos ocorrências que de modo algum dizem respeito aos kardecistas: Já dizia o Codificador; “O Espiritismo não é solidário com aqueles a quem apraza dizerem-se espíritas, do mesmo modo que a Medicina não o é com os que se a exploram, nem a sã religião com os abusos e até crimes que se cometam em seu nome. Ele não reconhece como seus adeptos senão os que lhe praticam os ensinos, isto é, que trabalham por melhorar-se moralmente, esforçando-se por vencer os maus pendores, por ser menos egoístas e menos orgulhosos, mais brandos, mais humildes, mais caridosos para com o próximo, mais moderados em tudo, porque essa a característica do verdadeiro espírita.”

            Os que desconhecem a Doutrina Espírita estranham que as Organizações Centrais do Espiritismo não dirijam o movimento espírita, subjugando todos os grupos e centros ditos espíritas e obrigando-os a seguir suas diretrizes. Não. O Espiritismo tem uma doutrina que acata, respeita e resguarda o livre arbítrio da criatura humana. “Ele proclama – continua o Codificador – a liberdade de consciência como direito natural; reclama-a para os seus adeptos, do mesmo modo que para os seus adeptos, do mesmo modo que para toda a gente.  Respeita todas as convicções sinceras e faz questão da reciprocidade. Da liberdade de consciência decorre o direito de livre exame em matéria de fé. O Espiritismo combate a fé cega, porque esta impõe ao homem que abdique da sua própria razão; considera sem raiz toda fé imposta, donde o inscrever entre suas máximas: Não é inabalável, senão a fé que pode encarar de frente a razão em todas as épocas da Humanidade.”

            Por essas palavras do Codificador, claro se torna que a Doutrina Espírita faz da tolerância esclarecida e da compreensão elementos imprescindíveis à formação do caráter espírita. A doutrina, portanto, não tem ação dogmática, pois não impõe, mas expõe, ajuntando argumento simples e de irresistível lógica.

Por isso é que temos sempre insistido na necessidade de uma difusão cada vez maior da Doutrina, através de pregadores que a conheçam suficientemente e possuam condições para explica-la, de maneira a torná-la rapidamente assimilável aos ouvintes de mais modesta faculdade de apreensão. Clareza e simplicidade, exemplificação e objetividade, eis o de que se precisa para que os princípios doutrinários do Espiritismo sejam logo aceitos, porque, na realidade, eles nada tem de complexo nem de difuso.

Mai do que nunca, o mundo precisa de Doutrina, Doutrina e Doutrina Espírita!   


sábado, 16 de outubro de 2021

Dever de Consciência

 

Dever de Consciência

Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Fevereiro 1977

             Um dos mais importantes deveres do espírita cioso da sua responsabilidade no seio do movimento é a fidelidade integral Doutrina. O estabelecimento do Pacto Áureo fixou admiravelmente as normas de comportamento destinadas a preservar os princípios doutrinários e, felizmente, todas as instituições estaduais tem primado pelo respeito às determinações do referido Pacto, por elas examinado e aceito espontaneamente, consoante a tradição liberal do Espiritismo.

            O Codificador afirmou, com carradas de razão, que “a doutrina é, sem dúvida, imperecível, porque repousa nas leis da Natureza e porque, melhor do que qualquer outra, corresponde às legítimas aspirações dos homens. Entretanto, a sua difusão e a sua instalação definitivas podem ser adiantadas ou retardadas por circunstâncias várias, algumas das quais subordinadas à marcha geral das coisas, outras inerentes à própria doutrina, à sua constituição e à sua organização. Conquanto a questão de substância seja preponderante em tudo e acabe sempre por prevalecer, a questão de forma tem aqui importância capital; poderia mesmo sobrepujar momentaneamente e suscitar embaraços e atrasos, conforme a maneira por que fosse resolvida”. (“Obras Póstumas”, 15ª edição, páginas 346/7, FEB, 1975)

            A unidade e vistas existente no ambiente espírita do Brasil de hoje é uma bênção do alto, pois todas as entidades estaduais estão absolutamente irmanadas á Federação Espírita Brasileira, representando o pensamento de Ismael. Não obstante toda essa harmonia, ainda encontramos, aqui e ali, irmãos dedicados à causa, que defendem com entusiasmo o Espiritismo, desatentos às infiltrações de princípios estranhos àqueles divulgados por Allan Kardec, convencidos, em sua placidez, de que nada fazem de censurável, ao introduzirem em seus trabalhos ideias e práticas de outras procedências. Alguns querem inovar, por considerarem que sua iniciativa em nada altera o caráter da Doutrina Espírita. Kardec já esperava por isso, porque escreveu sobre “a ambição dos que, a despeito de tudo, se empenham por ligar seus nomes a uma inovação qualquer”. Esquecem-se de que não há necessidade de se ir buscar em outras doutrinas o que se supõe não constar da nossa. Enganam-se. A Doutrina Espírita é uma síntese admirável de verdades relacionadas com a vida psíquica do homem, com a realidade do mundo espiritual e sua conexão direta com o mundo físico. Seu caráter eminentemente progressivo e o fato de apoiar-se tão-só nas leis da Natureza lhe conferem uma permanência irrevogável, em virtude da plasticidade que possui, através da qual é capaz de assimilar “todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas”, faculdade que lhe assegura a garantia de perpetuidade.

            Todos sabemos que “não será invariável o programa da Doutrina, senão com referência aos princípios que hoje tenham passado à condição de verdades comprovadas. Com relação aos outros, não os admitirá, como há feito sempre, senão a título de hipóteses, até que sejam confirmados. Se lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ela se modificará nesse ponto.” (Ob. Cit. pág. 350.) O conceito de Kardec é firme: critério de aceitação pelo bom senso.

            O espírita, se integrado à Doutrina, deve ser disciplinado e coerente. Antes de inovar deve pensar, ponderar, verificar as bases doutrinárias, para não vir a criar embaraços perfeitamente evitáveis. Muitos erros são cometidos pela má assimilação dos princípios que regem o Espiritismo. Há necessidade de estuda-los, de examiná-los a fundo, porque, não raro, o que se busca fora do Espiritismo nele está explícito e implícito, bastando apenas meditar um pouco mais.

            Quando, por determinação do Alto, foram lançados os estupendos livros de André Luiz, certos conhecimentos foram mais ampla e minuciosamente abordados, surgindo no campo espírita com naturalidade e agrado. Até então, vários aspectos do psiquismo e suas implicações mais graves não haviam encontrado oportunidade para ganhar o domínio público. Tudo veio na hora certa, em dose certa, de maneira certa, comprovando a vitalidade do princípio progressivo da Doutrina, princípio que, disse Kardec, “será a salvaguarda de sua perenidade” e a segurança da sua unidade, “exatamente porque ela não assenta no princípio da imobilidade”.

            Todos sabemos que quase nada foi dito sobre Espiritismo. Mas o que já nos foi dado, por misericórdia de acréscimo, é o de que necessitamos. E não é pouco. Pelo contrário, é mais do que podemos, salvo um caso ou outro, realizar no período de uma reencarnação. Quando for necessário, do Alto virá a providência para a ampliação dos conhecimentos que nos são dados presentemente. O Espiritismo é assunto sério, não se prestando, portanto, a devaneios e especulações pueris, a voos da imaginação, por vaidade ou presunção de sabedoria.

            Há muito trabalho a realizar com o que temos. “Indiscutivelmente, uma doutrina assente sobre tais bases tem que ser forte, em realidade, capaz de desafiar qualquer concorrência e de anular as pretensões dos seus competidores. Aliás, a experiência já comprovou o acerto dessa previsão. Tendo marchado sempre por esse caminho, desde a sua origem, a Doutrina avança constantemente, mas sem precipitação, verificando sempre se é sólido o terreno onde pisa e medindo seus passos pelo estado da opinião. Há feito como o navegante que não prossegue sem ter na mão a sonda e sem consultar os ventos” – concluiu Kardec.

            Que ninguém crie embaraços ao desenvolvimento sadio da obra doutrinária. E a melhor maneira de colaborar com essa obra é respeitá-la, é segui-la com fidelidade. Fraternalmente, esperamos que aqueles que se julgam mais avançados do que a própria Doutrina, sigam o conselho de Paulo (I Timóteo, 4:15):

             “Medita estas coisas: ocupa-te nelas para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos.”

 


quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Ver, ouvir e... corrigir-se.

 

Ver, ouvir e... corrigir-se.

por Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Maio 1977

             Disse Allan Kardec que “a misericórdia de Deus é infinita, mas não é cega”. Enorme e profunda significação tem essa pequena frase do Codificador. Deve ela exigir demorada reflexão, para que se possa recolher a gama de valiosíssimos ensinamentos ali contidos. A misericórdia não exclui a responsabilidade, nem o perdão isenta o culpado do cumprimento da Lei Divina. É um perdão condicionado, uma espécie de sursis, que adverte o beneficiado de que o mal que praticou terá de ser ressarcido, para que se desfaçam os efeitos perniciosos que dele derivaram. É um perdão pronto a concretizar-se, desde que haja do faltoso empenho real em se recuperar. Se, beneficiado, persistir no real, reincidir na falta, sua responsabilidade é aumentada.

            Emmanuel considerou que “todas as contas a resgatar pedem relação direta entre credores e devedores”. O perdão também pode significar uma oportunidade para que o decaído se erga, disposto ao esforço regenerativo. O essencial é que aprendamos esta verdade: ninguém progride sem ninguém, que vale pelas palavras do luminoso Espírito acima citado: “Ninguém progride sem alguém”. Na vida, somos todos solidários. Ninguém se basta a si mesmo, pois é necessário que encontremos quem partilhe da nossa caminhada, para que possamos avaliar o grau do procedimento que temos, não nos deixando influenciar pela vaidade, pela inveja, pela presunção de superioridade, pelo orgulho etc... Tendo alguém conosco, melhor poderemos exercer a vigilância sobre nós mesmos, comparando o que fazemos com o que os outros fazem, de maneira a julgarmos se estamos indo certos ou se, pelo contrário, estamos agravando a nossa situação moral. É verdade que isso costuma também ocorrer sem que nos apercebamos. Eis por que Emmanuel disse que “ninguém progride sem alguém”, reconhecendo, porém, que, “em toda parte, o verdadeiro campo de luta somos nós mesmos”.

            A Lei Divina, atenta, acompanha todos os nossos pensamentos, todos os nossos passos, pois “não é cega”. E se, perdoados, supomos que podemos reverter ao abuso, então será bem mais grave a responsabilidade contraída. Sofremos porque insistimos no desrespeito à Lei de Deus. A dor é o chicote que nos encaminha para a purificação moral e espiritual. É qual enérgico pastor, que procura evitar tresmalhemos e abandonemos o aprisco. Pode ser considerada, em determinadas circunstâncias, um sinal de alarme, para que, prevenidos, evitemos recair no erro. Muita gente, entretanto, considera a dor apenas como um fenômeno físico, quando, na realidade, ela tem apenas uma função altamente regeneradora. Assim como a febre, para o médico, é um aviso de que há algo de irregular que altera o estado normal do indivíduo, a dor, para o entendimento do espírita, é, em grande número de casos, um chamado à reflexão, uma advertência para que, meditando, busquemos reexaminar a nossa vida até encontrarmos onde falhamos e como falhamos. Não há efeito se causa, já se costuma dizer.

            Para melhor se romper o nevoeiro que nos circunda a Terra, a melhor providência é a humildade. Não a humildade premeditada, oca, aparente, que pode iludir os homens, mas não engana a Deus. É preciso, contudo, que se limpe essa palavra de definições falsas. Ser humilde, do ponto de vista espírita, é ser simples, bom, prestativo, tolerante, mas precavido. É guardar o ânimo sereno, quando se veja envolvido em tribulações e mal entendidos. O humilde não se arrasta servilmente no chão, não bajula, não se degrada. Veja-se o comportamento de Jesus em todas as passagens de sua curta peregrinação na Terra. Ele deve ser para nós o modelo de humildade. O verdadeiro humilde não se despoja da sua dignidade, mas também não confunde dignidade com orgulho. É paciente diante dos arrogantes, sereno diante dos impacientes, indulgente diante dos faltosos sem, contudo, permitir que os seus sentimentos possam contribuir, malgrado seu, para agravar a situação daqueles que lhe cruzam o caminho.

            Entretanto, o fundamental, o mais importante, por ser essencial, é que não tenhamos a pretensão de ser modelo para ninguém. “No estudo da perfeição, comecemos por vigiar a nós mesmos, corrigindo-nos em tudo aquilo que nos desagrada nos semelhantes”.   

 

 


terça-feira, 24 de agosto de 2021

O Temor da Morte

O Temor da Morte

"Os espíritas não temem a morte por não terem dúvidas sobre o futuro, 

encaram sua aproximação a sangue frio,

 como quem aguarda a libertação pela porta da vida 

e não pela porta do nada."

Allan Kardec (Capítulo II de "O céu e o Inferno") 

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Unificação e Doutrina

 

Unificação e Doutrina

por Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Setembro 1962

 

            O trabalho de unificação dento do Espiritismo tem dado, fora de dúvida, excelentes resultados, embora exija ainda, e o exigirá por muito tempo, as atenções dos responsáveis pela propagação e defesa de seus princípios. Nada se deve fazer fora da Doutrina. Esta é uma norma fixa e invariável. Omiti-la ou despreza-la será como que renunciar àqueles princípios ou subordiná-los a pontos de vista meramente pessoais, nem sempre afins com os reais e altos interesses espíritas.

            Quando vemos alguns confrades entusiasmados em fundar serviços já existentes e em pleno funcionamento na zoa em que residem, lamentamos que tanto entusiasmo e tanto esforço não sejam dirigidos para revitalizar e desenvolver os trabalhos já fundados e em funcionamento. Essa dispersão de esforços não atende às necessidades legítimas da nossa causa, porque a unificação de trabalhos, a união maior para um mesmo fim, tornará possível a realização mais rápida e mais eficiente dos objetivos louváveis que engalanaram a alma desses obreiros.

            Se cada grupo puxar para um lado diferente, o resultado será muito menos satisfatório do que se todos, unidos, puxarem para um lado só. Às vezes pode ser a vaidade a inspiradora da criação de obras paralela. Em outras, porém, acreditamos, é o desejo de fazer alguma coisa mais substancial em benefício do próximo, com a presunção de que o existente não satisfaz. Ora, se todo os espíritas estiverem imbuídos de humildade; se não prevalecer a preocupação de aparecer com destaque; se concordarem em dar a sua valiosa cooperação àqueles que já lutam para sustentar e desenvolver trabalhos de finalidade idêntica, tudo melhorará. A união faz a força. Ou somos espíritas e aceitamos integralmente a Doutrina ou somos falsos espíritas e, neste caso, só aceitamos da Doutrina aquilo que nos convém em determinadas ocasiões.

            Allan Kardec, nas obras que trazem o seu nome, é um manancial de instruções preciosas. Ninguém, dentro do Espiritismo, tem o direito de ignorar a Doutrina, do contrário será, não um espírita, mas um aderente sem raízes profundas. O que dá força ao Espiritismo é justamente a sua doutrina, porque estabelece com segurança os rumos que todos devemos seguir, que nos orienta, nos instrui e nos aponta os caminhos certos da salvação quando nos encontramos em dúvida ou ficamos presos a situações criadas pela nossa própria imprevidência ou ignorância.

            O Espiritismo não pode estacionar. Mesmo que os homens, mal inspirados, tentassem fazê-lo, esbarrariam com a ação dinâmica dos Espíritos. Há trabalho, cada vez maior em nossa seara. Todos trabalham. A Federação Espírita Brasileira dá o exemplo de ação bem orientada e de trabalho fecundo, embora silencioso. Mas não se afastará, como jamais se afastou, dos deveres impostos pela Doutrina. Isto é que se precisa realçar. “A Doutrina é, sem dúvida, imperecível, porque repousa nas leis da Natureza e porque, melhor do que qualquer outra, corresponde às legítimas aspirações dos homens”, disse-o Kardec.

            Como sempre acontece à margem de qualquer movimento religioso, filosófico ou ideológico, é vezo surgirem inovadores, os que acham que não se faz nada, ou que se faz pouco ou mal, e engendram planos mirabolantes, espaventosos, por isso mesmo sem base sólida e fadados ao malogro. Ora, a Doutrina Espírita tem caráter essencialmente progressivo, conforme o Codificador acentuou:Pelo fato de ela não se embalar com sonhos irrealizáveis, não se segue que se imobiliza no presente. Apoiada tão só nas leis da Natureza, não pode variar mais do que estas leis; mas se pôr de acordo com essa lei. Não lhe cabe fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade.” São também palavras de Allan Kardec.

            Todavia, essa aceitação ou assimilação terá de se sujeitar a um critério altamente ponderado. Nada poderá ser feito precipitadamente. Semelhante predisposição, contida em Kardec, prova a maleabilidade superior da nossa Doutrina, maleabilidade inerente à sua natureza profundamente progressiva.

            Quando se cogitava de dar ao Espiritismo uma orientação única, surgiram ideias variadas e curiosas. Conta Kardec: “Houve quem propusesse que os candidatos fossem designados pelos próprios Espíritos em cada grupo ou sociedade espírita. Além de que este meio não obviaria a todos os inconvenientes, apresentaria outros peculiares a semelhante modo de proceder, que a experiência já demonstrou e que fora supérfluo lembrar aqui. Não se deve perder de vista que a missão dos Espíritos consiste em nos instruir, para que melhoremos, porém não em se sobreporem ao nosso livre arbítrio. Eles nos sugerem ideias, ajudam com seus conselhos, principalmente no que concerne às questões morais, mas deixam ao nosso raciocínio o encargo da execução das coisas materiais, encargo que não lhes cabe poupar-nos. Contentem-se os homens com o serem assistidos e protegidos por Espíritos bons; não descarreguem, porém, sobre eles, a responsabilidade que incumbe ao encarnado.

            “Esse meio, aliás, suscitaria maiores embaraços do que se poderia supor, pela dificuldade de fazer-se que todos os grupos participassem de semelhante eleição. Seria uma complicação nas rodagens e estas tanto menos suscetíveis se mostrarão de desarranjar-se, quanto mais simplificadas forem.

            “O problema é, pois, o de constituir-se uma direção central, em condições de frça e estabilidade que a ponham ao abrigo de todas as flutuações, que correspondam a todas as necessidades da Causa e oponham intransponível barreira às tramas da intriga e da ambição.”

            Unificar, em todos os sentidos e de todas as formas, é o objetivo que todos os espíritas devemos perseguir sem esmorecimento. Para que se torne fácil, basta que cada qual siga a Doutrina, exemplifique seus princípios, procure colocar a Doutrina acima de atitudes personalistas e de interesses outros, porque a verdade é que ninguém perderá coisa alguma se se dispuser a obedecer àqueles princípios. Pelo contrário, somente se beneficiará, beneficiando a coletividade espírita e a Humanidade.


quinta-feira, 29 de julho de 2021

A Advertência de Kardec

 

A Advertência de Kardec

por Indalício Mendes

Reformador (FEB) Setembro 1962

             A cada dia que passa mais nos convencemos das dificuldades que nos esperam, nas tentativas cotidianas que fazemos para merecer o nome de “espírita”. Como é difícil ser espírita na verdadeira acepção do vocábulo! Quanta vezes fraquejamos, cedemos, traímos as nossas próprias determinações, porque ainda não conseguimos fechar a nossa alma à penetração insidiosa de pensamentos inferiores! Todavia, com a ajuda dos incansáveis irmãos da Espiritualidade, continuamos lutando contra as nossas deficiências, tristes provas insofismáveis da nossa fraqueza e da nossa incapacidade de vigilância.

             Somente com perseverança lograremos um dia superar essas dificuldades. É mister, contudo, não desanimar e transformar a vergonha das faltas cometidas em estímulo para a regeneração definitiva.

             Aprendemos que “recordar é também reaprender”. Daí a frequência com que voltamos às páginas kardequianas, na ânsia de reter instruções, de reparar omissões e consolidar conhecimentos que nos facilitem resistir e vencer depressivas influências.

             Abrimos ‘Obras Póstumas” e compreendemos que até o mal tem papel importante na obrado bem. As lutas que Kardec teve de travar, porque o movimento era invadido por indivíduos sem outro objetivo que o de solapá-lo, tiveram, porém, grande utilidade para a Causa. Então Kardec ensina: “Alguns indivíduos, mais perspicazes do que outros, entreviram o homem na criança que acabava de nascer e temeram-na, como Herodes temeu o menino Jesus. Não se atrevendo a atacar de frente o Espiritismo, esses indivíduos fizeram de agentes com o encargo de o abraçarem pra asfixiá-lo; agentes que se mascaram, para em toda parte se intrometerem, para suscitarem habilmente a desafeição nos Centros e espalharem, dentro destes, com furtiva mão, o veneno da calúnia, acendendo, ao mesmo tempo, o facho da discórdia, inspirando atos comprometedores, tentando desencaminhar a doutrina, a fim de torna-la ridícula ou odiosa w simular em seguida defecções.” (1)

              A firmeza com que Kardec pintou esse retrato da situação verificada nos primeiros tempos do Espiritismo, deve ser analisada, porque nunca se sabe se esses perigos desapareceram totalmente ou se são suscetíveis de reaparecer periodicamente.

             E Kardec prossegue: “Outros ainda são mais habilidosos: pregando a união, semeiam a separação; destramente levantam questões irritantes e ferinas; despertam o ciúme da preponderância entre os diversos grupos; deleitar-se-iam, vendo-os apedrejar-se e ergue bandeira contra bandeira, a propósito de algumas divergências de opiniões sobre certas questões de forma ou de fundo, as mais das vezes provocadas intencionalmente.” (1)

             Meditamos sobre essas palavras impressionantes do Codificador, que completa seu pensamento desta forma: “Esses são espíritas de contrabando, mas que também foram de alguma utilidade; ensinaram o verdadeiro espírita a ser prudente, circunspecto e a não se fiar nas aparências!” (1)

             Hoje, infelizmente, a situação do Espiritismo é diversa daquela que desafiou o valor moral de Allan Kardec, sem resultado, aliás. Todavia, os espíritas devem estar sempre alertas, porque o poder da Treva é grande e sempre deseja experimentar a sinceridade das nossas convicções e a solidez dos nossos propósitos. A arma que devemos usar é a Doutrina: a defesa que melhor nos resguardará está no Evangelho.

             Trabalhando com devotamento e sinceridade, estaremos mais perto da Verdade, sem, no entanto, nos esquecermos um só instante desta advertência contida numa comunicação de Allan Kardec, já então no mundo dos Espíritos: “Insta não perder de vista que estamos num momento de transição e que nenhuma transição se opera sem conflito. Ninguém, pois, deve espantar-se de que certas paixões se agitem, por efeito de ambições malogradas, de interesses feridos, de pretensões frustradas. Pouco a pouco, porém, tudo isso se extingue, a febre abranda, os homens passam e as novas ideias permanecem. Espíritas, se quereis ser invencíveis, sede benévolos e caridosos; o bem é uma couraça contra a qual sempre se quebrarão as manobras de malevolência...” (2)

         (1)   Kardec – “Obras Póstumas”, edição de 1949, pág. 225

         (2)   Id., id., pág. 229


domingo, 4 de julho de 2021

"O Dom de Deus"

 


Estudo comparado das obras "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec 

e  "Os Quatro Evangelhos" de Jean Baptiste Roustaing.  

Julio Damasceno (Organizador)

Ed.: CRBBM


Na 'orelha' do livro lê-se: 

"Conhecer o 'dom de Deus" é saber que a assistência, a inspiração, o amparo, 

o concurso dos bons Espíritos podem ser dados por Deus aos homens."  

sábado, 22 de maio de 2021

O Espiritismo sem o Evangelho


 O Espiritismo sem o Evangelho

Pedro Richard (Espírito)    Reformador (FEB) Março 1924

(Mensagem recebida mecanicamente no ‘Grupo Ismael’)


             Meus amigos e companheiros, paz em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo,

            A pedra fundamental do grande edifício que há de abrigar toda a humanidade terrena está lançada. Sucessivas levas de obreiros hão de trabalhar para erguer esse imenso Templo, a fim de que nele possa vir a ter morada o Cordeiro Imaculado, que é o Mestre dos mestres e o Senhor de todo gênero humano.

            Em cada posto está colocada uma sentinela a vigiar os obreiros e a encaminhar o trabalho, de acordo com as aptidões dos que se acham sob a sua direção. A Ismael coube dirigir, neste rincão do planeta, os obreiros na execução da parte que lhes cabe no conjunto da obra.

            Nada preciso dizer aos soldados que vem servindo nestas fileiras acerca do modo como esse guia orientou a sua tarefa. A história da doutrina espírita nas terras de Santa Cruz é conhecida de todos vós. O que preciso dizer-vos é que, fora do Evangelho, nada se fará de proveitoso e duradouro nesta parte do planeta.

            Meus caros companheiros, será para vos mostrarem as maravilhas do Infinito que o Senhor vos manda seus mensageiros? Não, não e não. Para isso tendes os órgãos visuais: podeis observar a obra da Criação e ver quão grandiosa é a ação do Sumo Artífice do Universo. Bem outra é a tarefa de seus servos invisíveis. Eles sondam as almas enfermas, para lhes ministrar o único remédio que as tornará sãs: a reforma moral. Cuidam da reforma dos homens, para em seguida atacarem a da sociedade. Tudo mais é deslumbramento, é fogo de artifício, que não toca o sentimento de quem o observa.

            Fiquemos, pois, na retaguarda, tratando de fazer o nosso Espiritismo atrasado, como por aí além se diz, mas procurado edificar-nos a nós mesmos e bendizendo do Senhor pela esmola que nos concede de podermos reconhecer que para alguma coisa nos serviu a consoladora doutrina que professamos, verificando que somos hoje melhores do que ontem.

            Meus queridos amigos, a confusão aí está. Guardemo-nos dela e sigamos a risca a palavra do Cristo, quando nos adverte do surto dos falsos obreiros e falsos profetas.

            Estudai em paz, sob a bênçãos de Maria. Richard




quinta-feira, 20 de maio de 2021

Sobre o perispírito

 

Sobre o perispírito

por Pedro Richard    Reformador (FEB) Agosto 1917

                  Alocução proferida perante a Comissão de Assistência aos Necessitados, pelo seu Diretor, Pedro Richard:


                 Nesta cadeira, onde a vossa bondade me colocou, procedo com o máximo cuidado para que eu seja apenas um fiel expositor da doutrina que, por misericórdia, nos foi revelada pelos espíritos a serviço de Nosso Senhor Jesus Cristo.

                Como sabeis, a primeira fase da revelação, que trata da parte filosófica e doutrinária, os espíritos deram a Kardec por diversos médiuns, sendo que o seu complemento que diz com a parte científica e evangélica, foi confiada a Roustaing, que a recebeu pelo médium Mme. Collignon.

                Tratando-se, pois, do perispírito, que é o agente intermediário entre o espírito e o corpo material, isto é, o veículo pelo qual o espírito pode agir sobre a matéria, dizem-nos os espíritos que esse agente participa das duas naturezas: do espírito e da matéria. Assim, somos levados a procurar -  o quanto estiver ao nosso alcance - compreender a natureza do espírito e da matéria.

                Por isso aconselhei, na sessão passada, o estudo dos pontos da nossa doutrina, que tratam dessa transcendental questão.

                Como vistes, a revelação dada no “Livro dos Espíritos” e no ‘Gênese” está de acordo com a ampla revelação dada a Roustaing, no volume 1, págs. 258 a 315.

                Na monumental revelação da origem da criação, os espíritos, por ordem de Jesus, nos deram o máximo que podemos comportar.

                Vamos procurar fazer a sua síntese, e para desempenhar-me de tão alto encargo, ergo os olhos para Jesus, pedindo-lhe que supra as minhas deficiências, permitindo que a minha exposição seja clara e compreendida por vós outros.

                Diz a Revelação (Roustaing): Tudo na criação tem uma origem comum: tudo procede do infinitamente pequeno para o infinitamente grande, até Deus, que é o ponto de partida e reunião. Tudo vem de Deus e volta para Deus” (1)

                 (1) As citações de Roustaing são, algumas textuais e outras em resumo.

                 O fluido universal, que parte de Deus e que é dirigido pela sua inteligência e vontade suprema, é o elemento produtor de todas as criações, quer espirituais quer e fluídicas, quer materiais, enfim de tudo quanto se move, vive e existe.

                A vontade do Senhor Deus Onipotente, que a tudo preside, anima esse fluido em todas as suas variedades e com ele produz as mais sutis combinações, até as essências espirituais, os princípios primitivos de espíritos em gérmen. 

                Nos mundos primitivos, o Criador coloca os princípios constitutivos, na ordem espiritual, fluídica e material, dos diversos reinos que os séculos hão de elaborar.

                Ao mesmo tempo, o principio inteligente desenvolve-se com a matéria que com ele progride, passando destarte de essência à vida e cujo progresso se faz sob a vigilância de espíritos prepostos. 

                E assim ele passa. “sucessivamente pelos reinos mineral, vegetal e animal e pelas formas e espécies intermediárias desses três reinos.”

                Nas primeiras fases a essência espiritual, absolutamente sem consciência do seu ser, se manifesta pela essência da vida.

                Percorrendo todos os degraus da escala e chegando ao desenvolvimento máximo nesses reinos, das suas formas intermediárias, o espírito em estado de formação e continuamente sob a vigilância dos espíritos propostos, é conduzido para mundos ad hoc, isto é, mundos apropriados ao fim colimado, para dele ser expurgada toda a materialidade que o contato da matéria grosseira lhe imprimiu.

                Aí, ele se prepara para entrar propriamente na vida espiritual, chegando por tal processo ao verdadeiro estado de espírito formado, consciente e responsável. 

                E, então, quando ele se apossa do livre arbítrio, isto é, da faculdade de pensar e de agir por sua vontade.

                De posse dose dom (o livre arbítrio) ele opera, preparando a constituição fluídica que se chama períspiríto, a fim de poder agir sobre a matéria.

                Donde se vê que o espírito não pode agir sobre a matéria, a qual não é possível ligar-se sem esse agente intermediário. O perispírito, pois, é bem o veículo pelo qual o espírito se pode ligar e agir na matéria.

                Do que temos dito se conclui que o espírito em formação, durante todo esse tempo em que esteve ligado intimamente à matéria, faz o seu progresso relativo e proporcional. Indo para o mundo ad hoc, sofre todo o expurgo da materialidade que lhe imprimiu o contato íntimo da matéria. É então quando ele tem entrando na vida de livre pensador. Nessa estação de chegada, o espírito fica plenamente constituído com todas as suas faculdades, tornando-se, por isso, incompatível com a ligação direta à matéria; daí a necessidade de um agente intermediário, de um veículo que lhe permita entrar com relações e ter contato, mais ou menos íntimo, com a matéria grosseira.

                Peço, com muito empenho, a vossa atenção para este ponto primordial.

                Tudo está ligado por atos contínuos e indestrutíveis, no universo.

                Não há solução de continuidade.

                Essa mesma cadeia, que de Deus parte e que a Ele volta contém em si tudo quanto é necessário para a execução do Seu plano divino: a Criação.

                Os seus elos estão ligados pelos reinos intermediários (permitam a expressão) e participam das espécies relativas.

                Assim sendo, o elo final não podia dispensar essa ligação, e, daí, a formação natural e lógica do perispírito, que, necessariamente, tem de participar das duas naturezas, a espiritual e a material. 

                Vede como é profunda e grandiosa essa cadeia infinita, que liga todas as coisas e tudo na ordem universal e que conduz o amor do homem ao amor infinito e puríssimo do seu Criador, do seu Deus!

                O espírito depois de plenamente constituído, de posse do livre arbítrio, consciente, dotado do inteligência e vontade com todos os seus predicados, forma, como vimos, o seu perispírito, para poder movimentar esses dotes e ser com eles o próprio artífice do seu progresso.

                Agora vejamos como o próprio espírito colabora na confecção do seu perispírito.

                Constituído o espírito do modo como vimos ele expor, ele, com o concurso e direção de espíritos propostos e por intermédio do magnetismo, atrai da atmosfera do mundo ad hoc, onde ele então se acha, o fluido necessário que, combinado com os elementos do seu próprio ser espiritual, forma em torno de si o envoltório que se denomina perispírito.  Dizemos e empregamos o termo elementos, porque nos falta um termo apropriado que defina coisas que não estão sujeitas à análise dos nossos sentidos de homens.

                Pois que o espírito é alguma coisa de real, é óbvio que tem uma origem preparada.

                Tudo na natureza é sabiamente preparado e previsto. 

                Tomai de uma semente e analisai-a. Os nossos instrumentos, imperfeitos que são, pouco nos dizem da sua essência. 

                E, no entanto, lá está a vida, o espírito em formação; o tipo da espécie, o gérmen da procriação, enfim, tudo quanto se faz necessário ao fim para que foi criado.

                Da pequenina semente iremos até aos mundos em formação. Sempre a mesma ordem presidindo a tudo. Tudo está, maravilhosamente, atendido e organizado.

                Prossigamos: 

                O Espírito combina esses dois elementos, um tirado do seu próprio ser, o outro extraído da atmosfera em que ele se acha envolvido, e forma o seu envoltório, no princípio tão sutil que dificilmente é percebido pelos próprios espíritos prepostos, segundo eles mesmos nos dizem.

                À proporção que o espírito vai agindo, mais visível se vai tornando o seu envoltório.

                A- parte espiritual do perispírito é o receptáculo das impressões do espírito.

                Ela participa das suas condições morais. A material participa das condições do elemento atmosférico.

                Assim sendo, é claro que é o espírito quem modifica as condições do períspirito, tornando-o mais ou menos grosseiro, pesado e materializado, de acordo com os seus sentimentos.

                Quando o espírito muda de planeta, reforma o seu perispírito quanto à parte material, deixando-a na atmosfera do planeta de onde saiu, porque agora essa parte tem de ser tirada da atmosfera do novo planeta em que vai o espírito habitar.

                A parte espiritual conserva-se até que se modifiquem as condições morais do espírito.

                Como vedes, o assunto é complexo e profundo e o expositor é baldo de recursos.

                Perdoai-me se não satisfiz às vossas exigências.

                Uma coisa vos pede o vosso companheiro, é que estudeis a Revelação da Revelação dada a Roustaing e muito melhor do que eu compreendereis o ponto em questão.


terça-feira, 18 de maio de 2021

Victrix causa

 

Victrix causa (tradução: a causa vitoriosa)

A Redação         Reformador (FEB) 16 de Maio de 1916


             Os tempos são chegados.

            A frase posta em circulação e vulgarizada por ALLAN KARDEC, repetida à saciedade, tornou-se banal.

            Ela exprime, elipticamente, uma grande verdade – a execução atual do plano da Providência, revelado pelo Espiritismo, contra o qual será inútil o esforço humano, quando não for contraproducente.

            É um símbolo bem significativo o auto de fé de Barcelona, em 1861, (1) e onde se reuniram os espíritas, em Congresso internacional, no ano de 1888 (2).

             (1) “Aos 9 de Outubro de 1861, às 10 horas da manhã, sobre a colina da cidade de Barcelona, no lugar onde são executados os condenados à pena última, e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber: “O Livro dos Espíritos”, por Allan Kardec, etc.”

                Extrato do auto, publicado nas “Obras Póstumas”, de ALLAN KARDEC, trad. de MAX.

                Vede Revue Spirite de 1861, pág. 321 e de 1862, pág. 232.

             (2) No congresso de Barcelona estiveram representados 74 grupos espíritas nacionais, mais de 60 estrangeiros e 27 jornais. Vide o Resumo dos trabalhos, publicado sob a direção do presidente da Comissão permanente, edição francesa (Librarie des Sciences Psychologiques – Paris, 1889)

             Quem tiver acompanhado o movimento intelectual dos últimos tempos, verificará que a doutrina espírita invadiu os meios ou os centros que lhe eram refratários, convencendo e impondo-se.

            Há alguns anos, um nosso adversário, demonista brasileiro, assim se exprimia:

           “Coisa admirável!

            Ao encontro da negação categórica do sobrenatural por parte do racionalismo vem o Espiritismo opondo-lhe o mais enérgico e solene protesto e afirmando de modo claro a existência deste mesmo sobrenatural, e, o que é mais, envolvendo nesta afirmação a capitulação dos mais orgulhosos e contumazes corifeus (pessoa de maior destaque ou influência em um grupo (esp. em movimentos políticos, religiosos etc.), da incredulidade e do materialismo, que publicamente se tem confessado vencidos e convencidos por uma evidência que eles dizem irrecusável.” (1) 

                 (1) Monsenhor VICENTE LUSTOSA – ‘O Espiritismo em julgamento’, pág. 8.

                 Exige retificação o trecho transcrito, na parte em que o ilustre demonólogo alude ao sobrenatural. Todos os fenômenos espíritas são naturais e regidos por leis da natureza. Patenteando-os, provando que eles se tornam até visíveis e palpáveis, podendo ser verificados por instrumentos e aparelhos, como em experiências de química e de física, o Espiritismo levou à convicção dos sectários da incredibilidade e da escola materialista, não a existência do sobre naturalismo, que negamos, mas a existência do plano espiritual, do mundo dos espíritos que, antes da nova era, só lhes tinham sido apresentados através de dogmas, ritos e superstições inadmissíveis.

            Capitularam.

            Não obstante, a igreja persiste em afirmar que a vitória não foi de verdade, que os espíritos revelam, mas de Satã, cuja existência suposta está ligada ao predomínio e aos interesses mundanos do alto e baixo clero.

            Fazendo a mesma retificação concernente ao sobre naturalismo, que invocam os defensores de dogmas moribundos ou mortos, podemos reproduzir ainda, com vênia do leitor, algumas palavras de outro demonologista:

            “Santo Agostinho escreveu algures esta frase simples e profunda; - Secretum Dei intentos debet facere, non adversos. O segredo divino deve despertar-nos a atenção e não a desconfiança.

            “Até aos últimos tempos, os nossos intelectuais tinham grande prevenção contra tudo que apresentasse um caráter sobrenatural, ou o repeliam em absoluto. Excluíam a priori o exame de qualquer fato que não entrasse nos quadros da ciência oficial. Esta, graças a Deus, vai, atualmente, abandonando a rotina...

            “Em presença de fenômenos estranhos, devidamente verificados, todo homem de boa-fé; a despeito dos preconceitos, será levado a refletir sobre a potência misteriosa que neles se revela, e que lhe fará entrever, como se fosse através de uma sombra o segredo divino – secretum Dei. (1)

                 (1) R. P. Lescoeur, de l’Oratoire – ‘La Science et les faits surnaturels contemporains’. Avant-propos, pag. IX, X.

             Não dispomos de espaço para outras transcrições do notável oratoriano. (oratoriano: clérigo da Congregação do Oratório, instituição católica fundada, em 1564, por são Filipe Néri 1515-1595).

             Foram os espíritas, ridicularizados, perseguidos, excomungados, foram os espíritos reveladores que obrigaram a ciência, em face dos fenômenos, a dar para a frente o passo decisivo, a que se refere o autor.

            Foram eles que, incorrendo embora nos anátemas da igreja, conquistaram prosélitos para a verdade e rasgaram novos horizontes luminosos para tantas almas transviadas. Qui facit veritatem venit ad lucem. (aquele que pratica a verdade vem para a luz.)

 *

            Segundo S. João (XVIII, 22 e 23) Jesus, ao receber a bofetada de um quadrilheiro, disse: “Se eu falei mal, dá tu testemunho do mal; mas se falei bem, porque me feres? Quid me coedis? (Por que me feres?)

            Poderia também o Espiritismo, encarando os perseguidores, repetir e generalizar a pergunta do Senhor: Porque me feris?

            Dá o Espiritismo testemunho da verdade. Leva a convicção à céticos e incrédulos, a materialistas e ateus, que se penitenciam e podem exclamar, como um dos mais eminentes representantes da ciência moderna: Domine, peccavi! (Senhor, eu pequei!)

                Remova os estudos de psicologia, dando ao grande problema da alma humana solução que a antiga escola espiritualista e as religiões não haviam encontrado.

            Quem não conhece o conflito, que já tem os seus historiadores, entre o dogma e a razão, entre a fé e a ciência, entre esta e a teologia?

            Não há antagonismo entre a ciência e o Espiritismo, como não há entre este e a religião, porque a nossa doutrina é científica e religiosa.

            Resolvendo o problema do destino humano, dando a verdadeira interpretação da vida e explicando a nossa posição no planeta, o Espiritismo é a doutrina moralizadora por excelência, do indivíduo, da família e da sociedade.

            São indestrutíveis os fundamentos de sua moral.

            Encontramos, entretanto, a cada passo, quadrilheiros, vindos de várias procedências, que procuram ferir-nos.

            As perseguições contra espíritas, ao contrário do que supõem os promotores – infelizes, dignos de piedade – são como o óleo, que aviva a chama.

            Vitoriosa é a nossa causa.

            A verdade, que o Espiritismo proclama, há de seguir a marcha triunfal.

            A seara está madura. É chegado o momento da colheita.