A Advertência de Kardec
por Indalício Mendes
Reformador (FEB)
Setembro 1962
A cada dia que passa mais nos convencemos
das dificuldades que nos esperam, nas tentativas cotidianas que fazemos para
merecer o nome de “espírita”. Como é difícil ser espírita na verdadeira acepção
do vocábulo! Quanta vezes fraquejamos, cedemos, traímos as nossas próprias
determinações, porque ainda não conseguimos fechar a nossa alma à penetração
insidiosa de pensamentos inferiores! Todavia, com a ajuda dos incansáveis
irmãos da Espiritualidade, continuamos lutando contra as nossas deficiências,
tristes provas insofismáveis da nossa fraqueza e da nossa incapacidade de vigilância.
Somente com perseverança lograremos
um dia superar essas dificuldades. É mister, contudo, não desanimar e
transformar a vergonha das faltas cometidas em estímulo para a regeneração
definitiva.
Aprendemos que “recordar é também
reaprender”. Daí a frequência com que voltamos às páginas kardequianas, na
ânsia de reter instruções, de reparar omissões e consolidar conhecimentos que
nos facilitem resistir e vencer depressivas influências.
Abrimos ‘Obras Póstumas” e compreendemos
que até o mal tem papel importante na obrado bem. As lutas que Kardec teve de
travar, porque o movimento era invadido por indivíduos sem outro objetivo que o
de solapá-lo, tiveram, porém, grande utilidade para a Causa. Então Kardec
ensina: “Alguns indivíduos, mais perspicazes do que outros, entreviram o homem
na criança que acabava de nascer e temeram-na, como Herodes temeu o menino
Jesus. Não se atrevendo a atacar de frente o Espiritismo, esses indivíduos
fizeram de agentes com o encargo de o abraçarem pra asfixiá-lo; agentes que se
mascaram, para em toda parte se intrometerem, para suscitarem habilmente a
desafeição nos Centros e espalharem, dentro destes, com furtiva mão, o veneno
da calúnia, acendendo, ao mesmo tempo, o facho da discórdia, inspirando atos
comprometedores, tentando desencaminhar a doutrina, a fim de torna-la ridícula
ou odiosa w simular em seguida defecções.” (1)
A firmeza com que Kardec pintou esse
retrato da situação verificada nos primeiros tempos do Espiritismo, deve ser
analisada, porque nunca se sabe se esses perigos desapareceram totalmente ou se
são suscetíveis de reaparecer periodicamente.
E Kardec prossegue: “Outros ainda são
mais habilidosos: pregando a união, semeiam a separação; destramente levantam
questões irritantes e ferinas; despertam o ciúme da preponderância entre os
diversos grupos; deleitar-se-iam, vendo-os apedrejar-se e ergue bandeira contra
bandeira, a propósito de algumas divergências de opiniões sobre certas questões
de forma ou de fundo, as mais das vezes provocadas intencionalmente.” (1)
Meditamos sobre essas palavras
impressionantes do Codificador, que completa seu pensamento desta forma: “Esses
são espíritas de contrabando, mas que também foram de alguma utilidade;
ensinaram o verdadeiro espírita a ser prudente, circunspecto e a não se fiar
nas aparências!” (1)
Hoje, infelizmente, a situação do
Espiritismo é diversa daquela que desafiou o valor moral de Allan Kardec, sem
resultado, aliás. Todavia, os espíritas devem estar sempre alertas, porque o
poder da Treva é grande e sempre deseja experimentar a sinceridade das nossas
convicções e a solidez dos nossos propósitos. A arma que devemos usar é a
Doutrina: a defesa que melhor nos resguardará está no Evangelho.
Trabalhando com devotamento e
sinceridade, estaremos mais perto da Verdade, sem, no entanto, nos esquecermos
um só instante desta advertência contida numa comunicação de Allan Kardec, já
então no mundo dos Espíritos: “Insta não perder de vista que estamos num
momento de transição e que nenhuma transição se opera sem conflito. Ninguém,
pois, deve espantar-se de que certas paixões se agitem, por efeito de ambições
malogradas, de interesses feridos, de pretensões frustradas. Pouco a pouco,
porém, tudo isso se extingue, a febre abranda, os homens passam e as novas
ideias permanecem. Espíritas, se quereis
ser invencíveis, sede benévolos e caridosos; o bem é uma couraça contra a qual
sempre se quebrarão as manobras de malevolência...” (2)
(1) Kardec – “Obras
Póstumas”, edição de 1949, pág. 225
(2) Id., id., pág. 229
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