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domingo, 8 de março de 2020

O dinheiro de César



O dinheiro de César
Carlos Buchele Junior
Reformador (Abril 1942)


            No Evangelho de Jesus, não há palavra vazia de sentido, sem significação profundamente espiritual. Dois mil anos quase já são passados e os homens de má vontade ainda se apegam aferradamente à letra que mata, esquecendo-se da realidade sublime do espírito que vivifica, das lições contidas nas páginas luminosas do Livro da Vida.

            É preciso estudar o Evangelho, não com o cérebro, mas, antes de tudo, com o coração, porque sem sentimento nunca se conseguirá compreender o sentido espiritual da Palavra Divina.

            Em uma de suas passagens, fala o Mestre Sublime do dinheiro de César. E, porque mandou Jesus que se desse a Cesar o que é de Cesar, os que não o têm compreendido entendem de lançar todas as maldições sobre o dinheiro, como se o metal fosse o causador de todos os males que se albergam no coração do homem. Soará estranhamente esta ponderação a superficiais ledores do Evangelho, ou aos decepcionados com os revezes financeiros da vida.

            O dinheiro! Não tem sido ele motivo de escândalos? Não tem servido muitas vezes para corromper-se a justiça dos homens? Não tem fomentado as guerras que ensanguentam o roteiro dos povos? Não foi ele que levou o Iscariote a praticar o nefando crime da traição a Jesus? Não é a moeda, como afirmou alguém, a hostia infame de Satanás e que quem toca no dinheiro toca no excremento do Demônio? Estes raciocínios perdem-se no emaranhado do egoísmo, porque a realidade, no seu sentido profundo e espiritual, não obstante todas as aparências, é muito outra.

            Ensinam os economistas que o dinheiro teve sua origem numa necessidade comercial, pelos graves inconvenientes surgidos da troca direta de mercadorias ou serviços; as mais pesadas eram permutadas pelas de mais fácil transporte, ainda mesmo que não satisfizessem à imediata necessidade de quem as adquiria. Mas, com o tempo, uma ou outra mercadoria, que preenchia em mais alto grau umas tantas condições requeridas, começou a ser usada com mais frequência, como intermediaria e medida de valores. “A essa mercadoria se deu o nome de moeda", a qual passou por duas grandes fases: a da "moeda não metálica", como o açucar; o sal, o gado, etc., e a da "moeda metálica", que atravessou dois períodos - o do metal pesado e o da cunhagem.

            Houve, portanto, através dos seculos e ditada pela experiencia, uma evolução monetária que representa o esforço da humanidade em busca do melhor. Ora, o dinheiro, como diz o provérbio, é bom servidor e mau patrão, porque, se serve para coisas úteis, também avilta os que se deixam dominar pela cupidez.

            Portanto, não o amaldiçoemos, do mesmo modo que não amaldiçoamos a pedra que nos quebrou a vidraça, ou a enxada que o mau trabalhador transformou em instrumento de morte. O mal está no mal uso que se faz das coisas que Deus colocou às mãos dos homens para o seu progresso espiritual. A nossa atitude para com o dinheiro deve ser, em verdade, aquela que Jesus recomendou no seu ensino imorredouro: dar a César o que é de César. Porque todas as oscilações que experimentamos em nossa existência – pobreza ou riqueza -, medidas pelo estalão do dinheiro – são condições tansitórias que o espírito merece no cadinho das transformações íntimas. Escavando todas as coisas, pelo prisma espiritual, no seu justo valor, como  instrumentos para edificarmos o reino de Deus no âmago dos nossos espíritos, procurando vencer as provas do mundo, estaremos completando o ensinamento sublime do Divino Mestre sobre o dinheiro de César, quando mandou também que se desse a Deus o que é de Deus.


sábado, 7 de março de 2020

A advertência de João Batista



A advertência de João Batista
Carlos Buchele Junior
Reformador (Julho 1942)

            Na época atual, de grande movimento expiatório dos indivíduos e das coletividades, em que a humanidade se debate no último estertor causado pelos ideais anti-fraternos desenvolvidos por deletério materialismo, nunca é demais recordar, aos que buscam o refúgio da religião, a advertência de João Batista dirigida aos fariseus e saduceus, que vinham ao seu batismo: "Raça de víboras, quem vos recomendou que fugísseis da ira vindoira?" Duríssimas parecem estas palavras nos lábios do Precursor do Cristo, mas é que ele antevia naqueles falsos conversos os enfatuados e orgulhosos que se jactavam no íntimo: "Temos como pai Abraão", e que talvez, por isso mesmo, se riam, depois, os primeiros a condenarem o próprio Cristo de Deus.

            Na sua grandiosa missão, que era a de preparar o caminho do Senhor e endireitar as suas veredas, a "Voz do que clama no deserto" concitava os homens, dizendo: "Arrependei-vos; pois está próximo o reino dos céus". É que muitos eram por ele batizados no rio Jordão confessando os seus pecados. Confessar pecados não é condição para se "fugir da ira vindoira", isto é, libertar-se do juízo inflexível da consciência criminosa que transgrediu a lei de amor, mas, primordialmente, "dar frutos dignos desse arrependimento" .

            O ato meramente exterior do batismo era uma prática simbólica dos judeus, significando a purificação espiritual de que os batizandos necessitavam, prática que deveria terminar com João Batista, porquanto ele mesmo afirmou: "Eu vos batizo com água ; um,  virá, mais poderoso do que eu, de cujas alpercatas não sou digno de desatar as correias, que vos batizará em Espírito Santo e em fogo".

            Os corpos levados ao fogo desenvolvem calor e luz e de sua combustão resultam as transformações, químicas ou físicas, desejadas.

            O fogo é o simbolo da dor moral ou física que, na "função fundamental de equilíbrio na economia da vida", ou como "irredutível fator substancial que a evolução reclama", no quadro das provações e expiações, processa no cadinho da experiencia a transformação do Espírito, desenvolvendo nele o calor dos sentimentos nobres e a luz da compreensão da Verdade, para que um Espírito Santo, em nome do Senhor, implante definitivamente no seu coração o Reino dos Céus.

            Jesus, ao iniciar sua imorredoura pregação, repetia textualmente as palavras de João Batista: "Arrependei-vos, pois está próximo o reino dos céus", chamando a atenção dos conversos à Verdade de que é pela porta do arrependimento sincero que se penetra no templo augusto do Evangelho do Reino.

            Ora, nos tempos que correm, de dolorosas provações terrenas, em que, com o advento do Consolador, se cumpre de modo formal a promessa do Divino Mestre, do restabelecimento de todas as coisas pelo Espírito de Verdade, ninguém busque o refúgio da religião no sentido apenas de fugir aos azorragues impiedosos do sofrimento, de doenças, enfermidades e espíritos malignos, porque, então, soará tonitroante, como látego de fogo, percutindo na consciência, as palavras do Precursor do Cristo: "Raça de víboras, quem vos recomendou que fugísseis da ira vindoira?" Advertência permanente, de que não basta ter Abraão por pai, isto é, firmar-se numa crença qualquer, para fugir do julgamento implacável da consciência; é preciso dar frutos dignos de um arrependimento sincero, porque "o machado já está posto à raiz das árvores e toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo".


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Eu sou o que sou


Eu sou o que sou
Carlos Buchele Jr
Reformador (FEB) Janeiro 1940

Um dos males que mais retardam a ascensão espiritual é a vaidade do homem em querer parecer o que não é. E, nesse desejo de parecer, quantas não são as almas que vão beber, no belíssimo e grandioso princípio da reencarnação, o veneno que as leva a se julgarem a encarnação de vultos que a história guarda com verdadeiro carinho e amor.

O homem é o que é: não adianta sofismar.

Infelizmente, dentro da seara espírita, há os que alimentam tais pensamentos: uns, porque, um dia, sonharam que haviam sido um gênio ou um missionário; outros, porque receberam do Alto essa revelação.

O maior perigo vem das revelações. É lamentável, quando são recebidas como oriundas de fontes dignas de crédito.

Obtém alguém a revelação do passado: fora um gênio ou um grande missionário, Absorvido este corrosivo, que é o que lhe não abrolhará, depois, na alma? Por certo, surgirão sentimentos de superioridade e um cortejo de vaidades humanas.

Jamais se deve aceitar revelação de tal natureza, venha de onde vier. Os Espíritos elevados conhecem muito bem as fraquezas humanas e, portanto, não seriam eles que viriam colocar em nossa estrada mais uma pedra de tropeço.

Pode, no entanto, tal revelação, não despertar aqueles sentimentos e ser aceita como verdadeira.

Haverá, ainda aí, algum mal? Sim e muito grande.

Se verídica fosse, os traços característicos que definiam a elevada individualidade surgiriam, na nova encarnação, gravados indelevelmente no Espírito. E muitas vezes, em contraposição aos argumentos irrefutáveis dos fatos e à opinião dos que o rodeiam, coloca-se o que recebeu a revelação em situação verdadeiramente infeliz: a do ridículo.

Essas fictícias revelações só trazem embaraço ao progresso espiritual.

Quando os Espíritos elevados levantam uma ponta do véu que encobre os mistérios da vida, é porque o homem já está amadurecido para compreende-los e benefícios espirituais daí lhe advirão, com o poder alongar as vistas através das gerações que se sucederam.

O que é extemporâneo, desnecessário e prejudicial jamais promana de fontes divinas: é do homem ou das trevas.

Nós somos o que somos; um missionário voltará com maiores possibilidades para a continuação de sua obra.

Se alguém foi, de fato, em uma de suas vidas pretéritas, um benfeitor da humanidade, não nos iludamos, um sinal divino o tornará conhecido: as obras, que atestarão, pelo seu vulto, o prosseguimento da missão que, porventura o Espírito venha desempenhando.


Que as obras são um sinal divino, Jesus o demonstrou, antes de o fazer por palavras, quando os dois emissários de João lhe perguntaram: "És tu mesmo o Cristo esperado?" Depois de curar a muitos de moléstias, de flagelos e de Espíritos malignos; de dar vista a muitos cegos, disse-lhe o Mestre: "Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e aos pobres se lhes anuncia o Evangelho."