O dinheiro de César
Carlos Buchele Junior
Reformador (Abril 1942)
No Evangelho
de Jesus, não há palavra vazia de sentido, sem significação profundamente
espiritual. Dois mil anos quase já são passados e os homens de má vontade ainda
se apegam aferradamente à letra que mata, esquecendo-se da realidade sublime do
espírito que vivifica, das lições contidas nas páginas luminosas do Livro da
Vida.
É preciso
estudar o Evangelho, não com o cérebro, mas, antes de tudo, com o coração,
porque sem sentimento nunca se conseguirá compreender o sentido espiritual da
Palavra Divina.
Em uma de suas
passagens, fala o Mestre Sublime do dinheiro de César. E, porque mandou Jesus
que se desse a Cesar o que é de Cesar, os que não o têm compreendido entendem
de lançar todas as maldições sobre o dinheiro, como se o metal fosse o causador
de todos os males que se albergam no coração do homem. Soará estranhamente esta
ponderação a superficiais ledores do Evangelho, ou aos decepcionados com os
revezes financeiros da vida.
O dinheiro!
Não tem sido ele motivo de escândalos? Não tem servido muitas vezes para corromper-se
a justiça dos homens? Não tem fomentado as guerras que ensanguentam o roteiro
dos povos? Não foi ele que levou o Iscariote a praticar o nefando crime da
traição a Jesus? Não é a moeda, como afirmou alguém, a hostia infame de Satanás
e que quem toca no dinheiro toca no excremento do Demônio? Estes raciocínios
perdem-se no emaranhado do egoísmo, porque a realidade, no seu
sentido profundo e espiritual, não obstante todas as aparências, é muito outra.
Ensinam os
economistas que o dinheiro teve sua origem numa necessidade comercial, pelos
graves inconvenientes surgidos da troca direta de mercadorias ou serviços; as
mais pesadas eram permutadas pelas de mais fácil transporte, ainda mesmo que
não satisfizessem à imediata necessidade de quem as adquiria. Mas, com o tempo,
uma ou outra mercadoria, que preenchia em mais alto grau umas tantas condições
requeridas, começou a ser usada com mais frequência, como intermediaria e
medida de valores. “A essa mercadoria se deu o nome de moeda", a qual
passou por duas grandes fases: a da "moeda não metálica", como o açucar;
o sal, o gado, etc., e a da "moeda metálica", que atravessou dois
períodos - o do metal pesado e o da cunhagem.
Houve,
portanto, através dos seculos e ditada pela experiencia, uma evolução monetária
que representa o esforço da humanidade em busca do melhor. Ora, o dinheiro,
como diz o provérbio, é bom servidor e mau patrão, porque, se serve para coisas
úteis, também avilta os que se deixam dominar pela cupidez.
Portanto,
não o amaldiçoemos, do mesmo modo que não amaldiçoamos a pedra que nos quebrou
a vidraça, ou a enxada que o mau trabalhador transformou em instrumento de
morte. O mal está no mal uso que se faz das coisas que Deus colocou às mãos dos
homens para o seu progresso espiritual. A nossa atitude para com o dinheiro
deve ser, em verdade, aquela que Jesus recomendou no seu ensino imorredouro:
dar a César o que é de César. Porque todas as oscilações que experimentamos em
nossa existência – pobreza ou riqueza -, medidas pelo estalão do dinheiro – são
condições tansitórias que o espírito merece no cadinho das transformações
íntimas. Escavando todas as coisas, pelo prisma espiritual, no seu justo valor,
como instrumentos para edificarmos o
reino de Deus no âmago dos nossos espíritos, procurando vencer as provas do
mundo, estaremos completando o ensinamento sublime do Divino Mestre sobre o
dinheiro de César, quando mandou também que se desse a Deus o que é de Deus.
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