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domingo, 15 de março de 2020

"Não creiais em qualquer Espírito"



“Não creiais em qualquer Espírito”
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Agosto 1957

            Quem quiser observar a estrutura doutrinária (?) de certos movimentos de tendência pseudo religiosa que surgem nas épocas de crise moral, basta ouvir a palavra de seus  mentores principais e examinar-lhe com cuidado o conteúdo. Se tudo lhes corre bem, mostram-se santificados, dispostos a todas as benesses, prometendo o céu numa língua doce e cativante. Pregam com a voz trêmula e fazem nascer lágrimas nos olhos atentos dos ouvintes. Eis, então, que se torna necessário obter destes a exemplificação dos que ouvem. Os “bônus” aparecem de um lado e desaparecem de outros, deixando o equivalente para a glória dos predicadores (diz-se de ou qualquer palavra que pode ser empregada com função predicativa, atribuindo propriedades ou qualidades ao argumento a que se refere).... Todavia “se” alguém critica esse procedimento pouco edificante, que se distancia dos princípios cristãos, aquela voz doce e sedutora, revestida de carinho, cede o posto a uma voz agressiva, dura, cortante, porejante de segundas intenções, onde as ameaças alternam com as expressões contundentes. Os santos se metamorfoseiam, consequentemente...

            Esse é o espetáculo que se está vendo, mais uma vez para melancolia dos que compreendem onde a simulação de virtudes pode levar. Não é possível ao Espiritismo permitir que se estabeleça confusão entre o seu programa fundamentalmente cristão, e uns sincretismos que objetivam apenas a realização de vantajosas simbioses. Os espíritas que se deixam levar por essas coisas precisam refletir, pesando bem as responsabilidades que assumem perante o Espiritismo e perante Jesus. Nosso trabalho continuará sendo feito com o mesmo critério elevado e a mesma dedicação de sempre. Não perseguimos fama, não queremos publicidade em torno de nós, não nos interessa permutar elogios. O que perseguimos é o ideal de construir uma mentalidade liberta de preconceitos, mas visceralmente altruísta. O que queremos é contribuir com a nossa parte de realizações para a consecução dos mais nobres anelos (aspiração) espíritas. O que nos interessa é reformar pelo exemplo a nossa personalidade psíquica, de maneira que possamos merecer, um dia, as luzes da misericórdia divina. Somos criaturas em trabalho. Desejamos servir ao próximo, mas não desejamos servir-nos do próximo. Eis a diferença.

            Certas atitudes de clara mistificação não podem ser sancionadas por aqueles que têm responsabilidade definida dentro do Espiritismo, pois há quem disso se aproveite em benefício de interesses que não precisamos qualificar. A mistificação cresce e se espalha. Se outras pessoas de boa-fé aceitam fatos sem exame, nós, espíritas, estudantes da Doutrina de Kardec, temos de ser mais rigorosos porque fica em jogo, em casos tais, a honorabilidade do Espiritismo, muitas vezes comprometido por quem não está à altura de representá-lo.

            Obedientes à orientação defendida pela Federação Espírita Brasileira, não concordamos com a perpetuidade nos cargos diretivos. O Espiritismo não pertence a ninguém, mas pertence a todos, é patrimônio religioso, moral, filosófico e científico da Humanidade. Para se falar em seu nome é Imprescindível possuir autoridade moral e doutrinária. Desde que os atos desmintam as palavras e estas sejam sempre mais alvissareiras do que o procedimento, não há Espiritismo, mas charlatanismo.

            Guardemos sempre na memória estas palavras de advertência do apóstolo João: “Meus bem-amados, não creiais em qualquer Espírito: experimentai se os Espíritos são de Deus, porquanto muitos falsos profetas se têm levantado do Mundo.”

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