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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

03/ 03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus



03/03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus


por Clóvis Ramos
inReformador”(FEB)    Maio 1981

III – Um Reino Cristão

            Os irmãos Vivaldi - Ugolino e Vadino - foram os primeiros europeus a atravessar o estreito de Gibraltar, em 1291, numa galé. Iniciava- -se, assim, com eles, o ciclo atlântico dos descobrimentos.

            Tudo começou com as necessidades econômicas dos países da Europa, que precisavam de abertura de novas rotas comerciais para o Oriente, no comércio das especiarias, e, ainda, a procura do ouro entesourado no Sudão e no Egito, na Ásia, na Síria, a descoberta de novas terras, a captura do elemento negro para o trabalho nas culturas das ilhas do Atlântico. Acrescente-se um dado a mais: o propósito de cristianização do mundo, que significava guerra aos infiéis, aos adeptos de Maomé, do Islã.

            As notícias das viagens, por terra, de Nicolau, Mateus e Marco Polo, de Veneza, na Itália - os primeiros europeus a chegar ao Japão e a China - serviram para despertar a cobiça de espanhóis e portugueses, que desejavam um caminho para a busca das riquezas dos longínquos países asiáticos, especialmente a Índia, O elemento árabe dominava o mar Mediterrâneo, urgia, pois, uma saída para o impasse em que viviam portugueses e espanhóis. Impasse que atingia, também, outros reinos europeus.

            A partir do século XI Gênova e Veneza - os primeiros mercados dos produtos orientais - tiveram papel importante no intercâmbio comercial da Europa com o Oriente e também com a África, e as galés venezianas e genovesas chegavam a todos os portos conhecidos. Portugal, tal como a Espanha, sonhou ter a riqueza e o poder dos italianos. Num recanto da lbéria, junto do mar, só restava a Portugal navegar.

            Durante a Idade Média se redescobriram algumas ilhas do Atlântico, entre as quais as Canárias, em 1312, cuja prioridade e autoria genoveses e portugueses ainda discutem. Afonso IV, Rei de Portugal, que, homem de visão, não quis ficar a margem da expansão marítima, pela posição mesma do seu país no continente europeu, alegava que cabia aos portugueses explorar a ilha, pois, como escreveu ao Papa Clemente VI, em 22-10-1345, "os nossos naturais foram os primeiros que acharam as mencionadas ilhas".

            São navegadores desta fase inicial: Lancelot Moloisel ou Lanzeroto Marocolle, genovês; Jaime Ferrer, da Espanha, que parece ter chegado ao cabo Bojador, viagem "per mar al riu de lor" (por mar ao rio do ouro); os marinheiros do Diepe, na França.

            Para viagens mais longas, pelas costas d'África, novos tipos de navios tiveram que ser construídos em substituição às galés a remo, utilizadas pelos irmãos Vivaldi, e que eram navios de combate no Mediterrâneo. A caravela se constituiu no navio típico dos descobrimentos portugueses a partir de 1441, uma importante conquista náutica, que permitiu a navegação nos difíceis mares africanos, abertos, sujeitos, constantemente, a tempestades. Com suas viagens, portugueses e espanhóis corrigiram as ideias em voga, a teoria da esfera de Ptolomeu. O mundo era maior e mais diversificado do que descrevia Ptolomeu.

            Resumindo: surgia, na Europa, uma aristocracia comercial possuidora de imensos capitais e, no campo político, o sistema feudal cedia terreno às monarquias absolutistas, passando a haver a centralização do poder. Essas transformações, completadas pelo progresso da navegação, possibilitaram o início de um novo período da história econômica e social da Europa.

            Portugal e Espanha, dispondo do apoio dos comerciantes que já mantinham relações com o Oriente, realizaram, juntos ou separados, planos de navegação oceânica após a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453) que interromperam as relações diretas com o Extremo Oriente, quando as especiarias da Índia (açúcar, cravo, canela, pimenta e noz, etc.) passaram às mãos de comerciantes e empresários dos povos muçulmanos (como, hoje, o petróleo), que Ihes aumentaram sensivelmente os preços.

            O oceano Atlântico era ao mesmo tempo um desafio e uma solução. Como se sabe, Portugal estava bem situado: diante do mar. E havia, ainda, a escolha desse povo, pobre mas trabalhador, e fervoroso na fé, escolha feita por Jesus, o Cristo, como nos foi revelado por Humberto de Campos, Espírito. E a Portugal coube a primazia dos descobrimentos. Depois de alcançar as Canárias, os Açores, os portugueses chegaram a Mina, em 1465, com João de Santarém e Pedro de Escobar; em 1487 - 1488, Bartolomeu Dias chegou ao cabo das Tormentas, chamado, posteriormente, por D. João II, de cabo da Boa Esperança. Vasco da Gama colocou Portugal direto com as especiarias da Índia, e, por fim, Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil, em 1500, no governo do Rei D. Manuel, o Venturoso.

            Depois de um pouco de História, voltemos a D. Henrique de Sagres, à conquista de Ceuta, cidade então dominada pelos árabes merínidas. A partir de 1415, ano do grande feito, teve início a expansão marítima de Portugal. Situada em frente de Gibraltar, estrategicamente, Ceuta era uma das bases da navegação atlântica, importante mercado de ouro, de escravos, seda e marfim; por ela, na Mauritânia, era fácil a comunicação com o Sudão e o Levante. A captura de Ceuta, todavia, não deu - dizem os historiadores - os resultados que os portugueses esperavam, porque as rotas comerciais se desviaram.          

            Os planos de D. João I prosseguiram, contudo, e D. Henrique se tornou, sem demora, num dos promotores da navegação de descobrimentos portugueses. Era essa sua missão principal, como lá foi dito nos artigos anteriores: renovar as energias portuguesas, aproveitar a indômita coragem dos portugueses, e preparar gente para a difícil travessia do oceano perigoso e solitário. A cartografia quinhentista assinalava ilhas misteriosas no Atlântico Ocidental, que era preciso conhecer. O primeiro objetivo do Infante, como já se sabe, foi a África. Azurara, o cronista, falava das "cinco razões por que o senhor Infante foi movido de buscar as terras de Guiné:
1) Saber a verdade sobre o que existia para além do arquipélago das Canárias e do cabo Bojador;-
2) se nestas terras existiam reinos cristãos dotados de bons portos onde se pudessem trocar as mercadorias levadas de Portugal por produtos africanos;
3) conhecer o poderio mouro naquelas regiões;
4) encontrar um reino cristão cujo príncipe fosse capaz de selar aliança com os portugueses;
5) expandir o Cristianismo em todas aquelas terras, salvando todas as almas pagãs para a fé em Cristo".

            Todas as suas razões foram muito significativas, como um filho do Rei e um bom patriota. São dois propósitos relevantes, um científico - para corrigir os ensinamentos da época, no tocante à geografia, acabando, de vez, com tantas lendas do chamado Mar Tenebroso, donde ninguém voltava; o outro - um motivo religioso, que a tudo excedia: ver se existiam, nas terras ignoradas, reinos cristãos, no afã louvabilíssimo de expandir o Cristianismo em todas as terras. Deveria haver, longe, um reino cristão, cujo príncipe fosse capaz de se aliar com os portugueses.

            Terras havia na distância à espera de colonizadores, não só no Nilo dos negros e circunvizinhanças, por toda a costa d' África; terras havia pelo oceano, ilhas como as Canárias ou Fernando de Noronha, e a terra grande, um verdadeiro continente - Brasil. Cristãos não havia. O reino com seu príncipe também não. Mas havia a fé dos portugueses, a coragem dos portugueses, e eles dominaram ondas bravias, todos os perigos, florestas virgens, gentio amigo ou hostil, e construíram, sob o símbolo sublime do Cruzeiro, um reino para Cristo, assegurando, para o Brasil, um destino glorioso.

            Como vimos, nos artigos precedentes, D. Henrique fora escolhido pelo próprio Cristo para a importante missão no mundo Terra. Despreocupado das glórias terrenas, de interesses imediatistas, o Infante atingiu o alvo, possibilitando a grandeza do seu país que, com suas conquistas, no dizer de alguém, metalizou-se, tanto foi o ouro conseguido nas viagens das naus lusas por todos os mares, no comércio. Portugal, respeitado por seus filhos, por seus feitos, influindo, como potência marítima, como grande nação, nos acontecimentos políticos da Europa. Portugal, centro de cultura, de arte. Terra de grandes poetas, grandes prosadores.

            Não fossem os serviços prestados pelo Navegador, que reuniu em torno de si gente capaz da grande tarefa: homens do mar, dispostos às longas travessias do oceano, a pátria de D. Manuel teria podido realizar o seu grande destino? Tudo se deveu, sem dúvida alguma, aos esforços do filho de D. João I, o Hilel de Jesus. 


             Cumpriu, à risca, sua missão, que lhe foi oferecida: Brasil e Portugal juntinhos, mar a mar, "tão alma e sangue, água e vinho, num mesmo cálice do altar" - no dizer de um dos seus poetas – Antônio Correia d’Oliveira. Unidos na mesma fé raciocinada, na busca, que empolga, de novos horizontes para o mundo: o descobrimento bem mais importante dos mundos do Mais Além, onde Cristo reina com seu amor infinito e, desveladamente, preparam, para nosso mundo, outra nova era, de paz, amor e sabedoria.
           
            “Reino Unido” ao de Portugal, Reino Cristão!

            D. Henrique de Sagres, sim, Servo de Deus!  

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

02 / 03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus



02/03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus


por Clóvis Ramos
inReformador”(FEB)   Abril 1981



II – Helil - Emissário de Jesus

            Para se entender a aproximação, cada vez maior, dos espíritas brasileiros e portugueses - num reencontro de corações que comove - o livro de Humberto de Campos, psicografado por Francisco Cândido Xavier, "Brasil, Coração do Mundo, Pátria, do Evangelho", é o roteiro.

            Explicando que o material a empregar-se na abençoada tarefa de espiritualização a que todos somos chamados, sob a inspiração de Ismael, não vem das fontes de produção originariamente terrena e sim do plano invisível, onde se elaboram todos os ascendentes construtores da Pátria do Evangelho, narra o poeta de "Poeira", no capítulo 1, a história de Helil, o sábio judeu enviado em missão a Portugal na figura simpática de D. Henrique de Sagres, para acelerar o advento de uma nova era.

            E permitimo-nos repetir, nestas colunas, o depoimento do escritor maranhense, no seu jeito tão pessoal de dizer, no seu estilo inconfundível. Exprimiu-se, também, como poeta, que o autor do "Memórias", "Os Párias", "Destinos", "À Sombra das Tamareiras", "Lagartas e Libélulas" e tantos outros livros de mérito, principalmente quando escrevia em prosa era um poeta:

            "Anjos e Tronos lhe formavam a corte maravilhosa. Dos céus à Terra, foi colocado outro símbolo da escada infinita de Jacob, formado de flores e de estrelas cariciosas, por onde o Cordeiro de Deus transpôs as imensas distâncias, clarificando os caminhos cheios de treva. Mas, se Jesus vinha do coração luminoso das esferas superiores, trazendo nos olhos misericordiosos a visão dos seus impérios resplandecentes e na alma profunda o ritmo harmonioso dos astros, o planeta terreno lhe apresentava ainda aquelas mesmas veredas escuras, cheias da lama da impenitência e do orgulho das criaturas humanas, e repletas dos espinhos da ingratidão e do egoísmo. Embalde seus olhos compassivos procuraram o ninho doce do seu Evangelho; em vão procurou o Senhor os remanescentes da obra de um de seus últimos enviados à face do orbe terrestre. No coração da Úmbria haviam cessado os cânticos de amor o de fraternidade cristã. De Francisco de Assis só haviam ficado as tradições de carinho e de bondade; os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio, haviam descido outra vez das selvas misteriosas das iniquidades humanas, roubando às criaturas a paz e aniquilando-lhes a vida.

            - "Helil - disse a voz suave e meiga do Mestre a um dos seus mensageiros, encarregado dos problemas sociológicos da Terra - meu coração se enche de profunda amargura, vendo a incompreensão dos homens, no que se refere às lições do meu Evangelho. Por toda parte é a luta fratricida, como polvo de infinitos tentáculos, a destruir todas as esperanças; recomendei-lhes que se amassem como irmãos, e vejo-os em movimentos impetuosos, aniquilando-se uns aos outros como Caims desvairados.

            - "Todavia - replicou o emissário solícito, como se desejasse desfazer a impressão dolorosa e amarga do Mestre - esses movimentos, Senhor, intensificaram as relações dos povos da Terra, aproximando o Oriente e o Ocidente, para aprenderem a lição da solidariedade nesses experiências penosas; novas utilidades da vida foram descobertas; o comércio progrediu além de todas as fronteiras, reunindo as pátrias  do orbe. Sobretudo, devemos considerar que os príncipes cristãos, empreendendo as iniciativas daquela natureza, guardavam a nobre intenção de velar pela paisagem deliciosa dos Lugares Santos.

            "Mas, - retornou tristemente a voz compassiva do Cordeiro - qual o lugar da Terra que não é santo? Em todas as partes do mundo, por mais recônditos que sejam, paira a bênção de Deus, convertida na luz e no pão de todas as criaturas. Era preferível que Saladino guardasse, para sempre, todos os poderes temporais na Palestina, a que caísse um só dos fios de cabelo de  um soldado, numa guerra incompreensível por minha causa, que, em todos, os tempos, deve ser a do amor e da fraternidade universal.      

            "E, como se a sua vista devassasse todos os mistérios do porvir, continuou: " - Infelizmente, não vejo senão o caminho da sofrimento para modificar tão desoladora situação. Aos feudos de agora, seguir-se-ão as coroas poderosas e, depois dessa concentração de autoridade e de poder, serão os embates da ambição e a carnificina da inveja e da felonia, pelo predomínio do mais forte.”

            Cristo viera a este mundo, na Palestina, a ensinar-nos que a glória maior é o amor, e era ele mesmo o Caminho, a  Verdade e a Vida, explicando que o maior entre todos haveria de ser servo de todos, pois ,só pela humildade e pela simplicidade se alcançaria, na Terra, o reino da Luz. Pregou-nos o amai-vos uns aos outros como a lei suprema, e amar a Deus sobre todas as coisas, e amar ao próximo como a si mesmo. Incompreendido, negado, perseguido, se viu martirizado, mas sua doutrina acabou difundida entre todos os povos, embora não de todo entendida, deturpada, geralmente, nos dias sombrios da Idade Média e ainda hoje. 

            Aconteceu que os homens ouviram as pregações de Pedro, o Eremita, e os reis cristãos se armaram para a guerra santa contra os infiéis, numa mortandade estarrecedora, ensanguentando todas as bandeiras do mundo cristão. As Cruzadas, a negação mesma da vida cristã.

            E Humberto de Campos prosseguiu no seu relato maravilhoso, que é como um poema de amor:

            "A amargura divina empolgara toda a formosa assembleia de querubins e arcanjos. Foi quando Helil, para renovar a impressão ambiente, dirigiu-se a Jesus com brandura e humildade:

            - "Senhor, se esses povos infelizes, que procuram na grandeza material uma felicidade impossível, marcham Irremediavelmente para os grandes infortúnios coletivos, visitemos os continentes ignorados, onde espíritos jovens e simples aguardam a semente do uma vida nova. Nessas terras, para além dos grandes oceanos, podereis instalar o pensamento cristão, dentro das doutrinas do amor e da liberdade.

            "E a caravana fulgurante, deixando um rastro de luz na imensidade dos espaços, encaminhou-se ao continente que seria, mais tarde, o mundo americano.

            "O Senhor abençoou aquelas matas virgens e misteriosas. Enquanto as aves lhe homenageavam a inefável presença com seus cantares harmoniosos se inclinavam nas árvores ciclópicas, aromatizando-lhe as eterizadas sendas, O perfume do mar casava-se ao oxigênio agreste da selva bravia, impregnando todos as coisas de um elemento de força desconhecida, No solo, eram os silvícolas, humildes e simples, aguardando uma era nova, com o seu largo potencial de energia e bondade”.

            No mesmo tom de ternura e harmonia, com a revelação que nos felicita:

            "Cheio de esperanças, emociona-se o coração do Mestre, contemplando a beleza do sublimado espetáculo.

            - “Helil – pergunta ele – onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário do qual se enxerga, no Infinito, o  símbolo da redenção humana?

             - "Esse lugar de doces encantos, Mestre, de onde se veem, no mundo, as homenagens dos céus aos vossos martírios na Terra, fica mais para o sul.

            "E, quando no seio da paisagem repleta de aromas e de melodias, contemplavam as almas santificadas dos orbes felizes, na presença do Cordeiro, as maravilhas daquela terra nova que seria mais tarde o Brasil, desenhou-se no firmamento, formado de estrelas rutilantes, no jardim das constelações de Deus, o mais imponente de todos os símbolos.

            "Mãos erguidas para o Alto, como se invocasse a bênção de seu Pai para todos os elementos daquele solo extraordinário e opulento, exclama então Jesus:

            - "Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo, todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes céus serão entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai Celestial. Tu, Helil, te corporificarás na Terra, no seio do mais pobre e mais trabalhador do Ocidente; instituirás um roteiro de coragem, para que transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o velho do novo mundo. Instalaremos aqui uma tenda de a trabalho para a nação mais humilde da Europa, glorificando seus esforços na oficina de Deus. Aproveitaremos o elemento simples de bondade, o coração fraternal dos habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão, entre as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro, a fim de exaltar o meu Evangelho, nos séculos gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo”.

            Como se sabe, Helil, o mensageiro do Cristo veio ao mundo, e todas as ordens divinas foram cumpridas integralmente, e foi ele, reencarnado, o heroico D. Henrique, o Infante de Sagres, que possibilitou, com seus esforços, a renovação das energias portuguesas, no que culminou com o descobrimento, em 1500, do Brasil.

            Helil, ou Hilel, forma hebraica geralmente usada. Sobre esse grande vulto do Judaísmo, só possuímos, para este artigo, algumas notas que se encontram no livro "Brasil, Mais Além! , de Duilio Lena Bérni, editado pela FEB em 1979, com prefácio de Francisco Thiesen - "Esclarecimentos de Limiar". E ficamos sabendo, graças aos conhecimentos do saudoso Ismael Gomes Braga, que a grafia certa é Hilel e não Helil, mas as trocas de vogais são de todo insignificantes em nomes hebraicos, e que Hilel foi notável pensador contemporâneo e conterrâneo de Jesus-Cristo, e mestre em Israel, que chegou a ser presidente do Sinédrio, desencarnado dez anos depois de Jesus.  Sua doutrina - o Hilelismo - tem pontos de contato com a doutrina do Nazareno.

            Mas houve, duzentos anos antes, outro Hilel, doutor judeu nascido na Babilônia, fundador de uma escola célebre, na seita dos fariseus, nome lembrado por Allan Kardec no seu “O Evangelho segundo o Espiritismo".

            Graças ao prefácio de Francisco Thiesen, sabemos algo daquele Helil, que Humberto de Campos aponta como o encarregado dos problemas sociológicos da Terra ,talvez o mesmo que, séculos antes, já era grande entre os fariseus, Hilel que voltava para reformular o farisaísmo de tão triste memória, ao tempo do Messias, que O perseguiu e matou por não respeitar o dia de sábado.

            Sobre o Hilelismo, veja-se o artigo de lsmael Gomes Braga, publicado no "Reformador", em 1937, nas páginas 532 e 533.  Foi por ocasião da divulgação de um dos capítulos do livro mediúnico de F. C. Xavier.

            A seguir, alguns tópicos da apresentação  de Thiesen ao livro de Duílio ; sobre o Hilenismo, ainda hoje um ensaio do povo judeu, tão bem explicado num livro russo - "Homaranismo" -  surgido em 1906, e traduzido para o vernáculo por Carlos Domingues, autoridade no Esperanto:

            "(...) Apresenta-nos, uma síntese doutrinal do "Homaranismo" (que é o Hilelismo rebatizado), ou seja, as suas “doze regras”: “A Humanidade é uma família. Todos os nossos atos são regidos por este ideal. Não julguemos os homens pela sua raça, mas por suas boas ou más ações.  As nações não pertencem a este ou aquele núcleo humano, mas a todos os seus habitantes. Não procuremos impor aos homens nem a nossa língua nem a nossa crença. O "homem" está antes de tudo e acima de tudo. O patriotismo não deve degenerar em patriotice. A língua não é um fim; só um meio. Com os que desconhecem o nosso idioma usemos uma língua neutra. A religião não deve herdar-se dos pais; deve adotar-se livremente com plena consciência. Sejamos tolerantes e compreensivos para com aqueles que não têm os nossos mesmos ideais. Cultivemos sentimentos fraternais para com os nossos semelhantes."

            Fez-nos ver o autor de "Elos Doutrinários" que, os ensinos de Hilel, demasiado elevados para o seu tempo, ainda o são para os nossos dias.

            Outros informes de Francisco Thiesen, baseados em "A Escolha do Navegador", (“Reformador” nov. de  1957, pág. 263), tão lúcidos:

            "A doutrina de Hilel é uma tentativa - hoje ainda utópica - de universal confraternização humana. Ensina o respeito máximo à verdade e o culto constante do amor entre os homens. Para alcançar essa finalidade, estabelecer-se-iam templos neutros, nos quais todas as formas de culto e adoração seriam igualmente respeitadas, sem sectarismo algum. As falsidades históricas, nacionalistas, racistas, gentílicas, tudo, enfim, que separa os homens, seria pacificamente abolido pelo esclarecimento recíproco, feito com sinceridade, sem embustes nem preconceitos, Abolir-se-iam pela solução mais humanitária todas os problemas sociais, religiosos, de classe," Ainda: "A Regra Áurea, que aparece em Mateus (7:12) e Lucas (6:31), foi sancionada por Jesus e vastamente divulgada com o Cristianismo, mas, segundo os judeus, ela era ensinada por Hilel, contemporâneo do Messias, e até hoje aceita doutrinariamente pelos israelitas. Segundo outras opiniões, a Regra Áurea é muito mais antiga.

            Diante de tudo o que foi exposto, outras não poderiam ser as deduções de Duílio Lena Bérni, em “Brasil, Mais Além!, que estão no capítulo 4  do seu livro, na parte que trata de “O Coração do Mundo”:

            “1º) Os planejamentos da Comunidade de Espíritos Puros, que está na direção de todos os fenômenos do nosso sistema, são feitos com absoluta segurança, com grande antecedência, para execução no curso de séculos e de milênios, objetivando sempre o bem-estar das criaturas.  

            2º) O Infante Dom Henrique, encarnação do espírito Helil, que era o encarregado dos problemas sociológicos da Terra, foi um emissário ele Jesus.

            3º)  Como Espírito de elevada hierarquia, permaneceu adstrito ao cumprimento da tarefa que lhe fora atribuída, infenso aos ouropéis das efêmeras gloríolas terrenas.

            4º) Fica, desse modo, esclarecido o porquê de sua obstinação, a despeito de todos e de todos, inclusive da régia vontade paterna, em não afastar-se, a não ser acidentalmente, de seu posto de observação e trabalho, da Escola Náutica de Sagres.

            5º) Dom Henrique instituiu, indubitavelmente, um roteiro de coragem, elemento basilar para que, ao longo do tempo, fossem transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o velho do novo mundo.

            6º) Por predestinação de Jesus, nosso Brasil é o Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho, com o árduo mas nobilitante encargo de difundir, no tempo e no espaço planetário, pela pregação e, sobretudo, pelo exemp!o, a Mensagem do Cristo, consubstanciada em seu Evangelho de amor e redenção."

            Às deduções desse ilustre militar e advogado, estudioso do Espiritismo, que presidiu Federação Espírita do Rio Grande do Sul a, antes, foi elemento de prol da Federação Espírita Brasileira, no seu Conselho Federativo Nacional, às seis conclusões que nos ofereceu pode ser acrescentado mais uma, com relação aos nossos irmãos portugueses.

            7º) Portugal não podia ficar ‘de fora’ do plano divino de recristianização do mundo, eis que dos seus portos partiram as caravelas de D. Henrique, para encontrarem novas terras e novos mares, no que resultou descobrirem a ilha de Vera Cruz, terra de Santa Cruz, hoje Brasil. Portugal e Brasil, desde então, solidários na tarefa grandiosa que não deve ser executada ,  isoladamente, sem o apoio e a carinho um do outro.

            Hilel, discípulo eterno do Cristo , ou Henrique o que sonhou com um reino cristão paro aliado de Portugal. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

01 / 03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus





01/03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus


por Clóvis Ramos
inReformador”(FEB)  Março 1981


I – O Navegador

            Quem lê a biografia de D. Henrique, Infante de Portugal, ou Infante de Sagres, cognominado O Navegador, herói da guerra contra os mouros, logo reconhece o papel extraordinário, de grande significação espiritual, a missão nitidamente religiosa que a ele coube no inicio dos tempos modernos, na fase dos Descobrimentos.  Toda sua vida – vocação genuína de um servo de Deus.

            O Cavaleiro de Ceuta... Um místico, que nos traz à lembrança profecias antigas, videntes que anteviram, com precisão, os acontecimentos que se realizariam séculos depois, Isto desde Moisés, livrando seu povo da escravidão do Egito ("Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim"), de lsaias, Jeremias, até João, o Batista. Preparavam os caminhos do Senhor, que, afinal, veio a este mundo e não foi reconhecido, e tudo padeceu por amar a Deus e ao próximo mais do que a si mesmo: Cristo, o Messias, o Nazareno, só aparentemente vencido na cruz e que atraiu tudo a si, e construiu, nos corações, um Reino de amor!

            D. Henrique tem, para nós, o porte de uma figura bíblica de quem (re) nasceu para grandes feitos, como, outrora, Israel batalhando pela terra de leite e mel, prometida a Abraão por seu Deus, a a Isaque e a Jacó, e a todos os patriarcas do povo hebreu, aos que vierem depois, e aos de agora.  E não seria o Brasil, que o Infante vislumbrou em suas visões, a Canaã verdadeira, onde o Senhor ergueria a sua tenda, seu tabernáculo? Só um povo como o povo português, temente a Deus, sempre querendo a expansão da fé, é que podia, com efeito, achar o caminho, não só das Índias, mas do Futuro, dos tempos novos, e - por que não dizer? - de tempos que ainda virão.

            Tentaremos, em três artigos, mostrar na sua grandeza de enviado de Deus, a D. Henrique, que sonhou com as honras da cavalaria, e conquistou, para sua gente, um reino cristão – consoladora realidade da pátria do Cruzeiro, este Brasil que, como afirmou Emmanuel no prefácio de "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", de Humberto de Campos. "não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta, mas, também facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais". Porque - disse o Guia de Francisco Cândido Xavier – “se outros povos atestaram o progresso, pelas expressões materializadas e transitórias, o Brasil terá a sua expressão imortal na vida do espírito, representando a fonte de um pensamento novo, sem as ideologias da separatividade, e iluminando todos os campos das atividades humanas com uma nova luz.”

            Deus nunca deixou de falar aos  homens através dos seus profetas, e, se D. Henrique foi um deles, quando encarregado, em 1412, de organizar, na sua cidade  natal, a frota que iria à peleja em Ceuta, Francisco Cândido Xavier, é dos últimos a transmitir-nos a palavra do mais além. Profetizou, também, por meio dele, Humberto de Campos,  Espírito, apontando-nos as claridades do futuro: "Não nos compete estacionar, em nenhuma circunstância e sim marchar, sempre, com a educação e com a fé realizadora ao encontro do Brasil, na sua admirável espiritualidade e  na sua grandeza imperecível."           

             Antes de entrarmos no exame da participação do filho do Rei D. João I e de FiIipa de Lancastre, nascido no Porto a 4-3-1394 e desencarnado na Vila do Infante (cabo de Sagres ), a 13-11-1460, registremos, para uma melhor compreensão de sua causa grandiosa, outras palavras de Humberto  - depois Irmão X -, esclarecendo o porquê ,do seu livro, hoje clássico, sobre a Missão do Brasil, essencialmente evangélica, a tarefa que, entre nós, se cumpre de modo luminoso, pela Federação Espírita Brasileira, cada vez mais unida à de Portugal, e por outras instituições espíritas do nosso país.  

            - "I ... ) o Brasil espiritual, o Brasil evangélico, em cujas estradas cheias de esperança, luta, sonha e trabalha o povo fraternal e generoso, cuja alma é a "flor amorosa de três raças tristes,''', na expressão harmoniosa de um dos seus poetas mais eminentes. "

            - "Jesus transplantou da Palestina para a região do Cruzeiro a árvore magnânima do seu Evangelho, a fim de que os seus rebentos delicados florescessem de novo, frutificando em obras de amor para todas as criaturas."

            - "( ... ) não obstante todas as surpresas das ideologias modernas, a lição do Cristo aí está no planeta, aguardando a compreensão geral do seu sentido profundo. Sobre ela, levantaram-se filosofias complicadas e as mais extravagantes teorias salvacionistas. Em seu favor, muitos milhares de livros foram editados e algumas guerras ensanguentaram o roteiro dos povos. Entretanto, a sublime exemplificação do Divino Mestre, na sua expressão pura e simples, só pede a humildade e o amor da criatura, para ser devidamente compreendida. Do seu entendimento decorre aquele "Reino de Deus" em cada coração, de que falava o Senhor nas suas meigas pregações  do Tiberíades - reino de amor fraternal, cuja luz é o único elemento capaz de salvar o mundo que se encaminha para os desfiladeiros da destruição."

            Humberto de Campos colimou provar, e o conseguiu, "( ... ) a excelência de missão evangélica do Brasil no concerto dos povos e que, acima de tudo, todas as suas realizações e todos os seus feitos, forros dos miseráveis troféus das glórias sanguinolentas, tiveram suas origens profundas no plano espiritual, de onde Jesus, pelas mãos carinhosas de Ismael, acompanha desveladamente a evolução de pátria extraordinária, em cujos céus fulguram as estrelas da cruz.”

            Mostrado, por quem tem autoridade, o destino do Brasil no mundo moderno, num autêntico renascimento cristão, voltemos ao convívio dos que escreveram sobre O Infante de Sagres, dentre os quais se destacaram Duarte Pacheco, Damião de Góis, Zurara, D. Leite, Diogo Gomes, João de Barros e, mais próximos de nós, João Grave, que pertenceu à Academia Brasileira de Letras, no Dicionário Lello Universal, organizado e publicado sob a direção de ambos, e, em nossos dias, Francisco Thiesen e Duilio Lena Bérni.

            No Novo Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro, editado do pela Livraria Lello, do Porto, está: "( ... ) um dos nomes mais Ilustres não só da história de Portugal como da história da civilização europeia.  Tomou parte gloriosa na expedição a Ceuta e aí colheu informações que o confirmaram na crença de que havia muitas terras a descobrir para além do cabo Bojador, limite  das navegações desse tempo. De volta de Ceuta, foi estabelecer-se no promontório de Sagres, junto ao cabo São Vicente, e aí (...),  teria fundado uma escola de navegação, um observatório astronômico e estaleiros para construção de navios. Chamou do estrangeiro cosmógrafos e matemáticos Ilustres e, com eles e alguns cavaleiros da sua casa, se entregou ao estudo das cartas marítimas. Todos os anos, uma caravela, armada à sua custa e capitaneada por um cavaleiro ou escudeiro do seu serviço, partia à descoberta, mar em fora. Quando o Infante morreu (1460), deixava reconhecida a costa africana até Serra Leoa e preparando o  grande feito que Vasco da Gama realizou trinta e oito anos depois."

            Seu perfil está muito bem delineado na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, que dele se ocupou às fls. 76 a 90 – material que nos chegou à mãos por nímia gentileza do Presidente da Federação Espírita Brasileira, Francisco Thiesen,  para que preparássemos estas notas. E lemos à página 76: "Quase nada se sabe dos seus primeiros anos. Crescendo em convívio o com os irmãos, no ambiente doméstico mantido pelo ponderado realismo do pai e vivificado pela suave austeridade mística da mãe D. Henrique teria recebido uma séria formação religiosa e moral, de par com o adestramento físico e o desenvolvimento da Inteligência. Menos Intelectual que seus irmãos mais velhos - D. Duarte e D. Pedro -  predominavam nele, como em seu pai (com quem mais se parecia  no aspecto e no caráter, e de quem era, talvez por isso, o filho mais estimado),  e o gosto pela vida ativa, interessando-se sobretudo a caça, o cavalgar, as façanhas guerreira, as  aventuras implicando denodo, pertinácia, sacrifício heroico com finalidade mística embora, mas com fruto útil. Sóbrio e austero, jejuava a miúdo, e parece que usou cilícios durante toda a vida. Uma relíquia sagrada que a mãe lhe dera, trouxe-a sempre ao pescoço. Não casou; e, se, jovem, não desdenhara o galanteio das damas, parece, todavia, que "virgem o comeu a terra" (Zurara). Melhor que qualquer outro documento, o preâmbulo do seu testamento revela o clima espiritual de toda sua vivência e ação: é  um católico consciente que vive a crença, considerando (como diz em outro sítio ) "Os trabalhos dos homens principalmente  deverem ser por serviço de nosso senhor Deus, e assim de seu senhor, por que hajam de receber galardão de glória na outra vida, "e em este mundo honra e estado". Assim, se  "teve sempre o desejo de fazer guerra aos infiéis e de  converter os pagãos, "foi igualmente solicito em fecundos projetos utilitários que não estavam em contradição com os Interesses da fé” (D. Leite).  Por outro lado, na sua devassa do mundo desconhecido, aproveitando embora a sabedoria dos livros e dos homens, não deixa, porém - e isso o caracteriza essencialmente - de tentar substituí-la pela lição positiva da experiência, que ativa e porfiadamente procurou, por meio do seus navegadores e exploradores. "

            Este retrato comprova o que dissemos no começo: D. Henrique, um Servo de Deus, ele também um enviado em missão de preparar os caminhos do Senhor, em mundos novos que se achariam pelo Atlântico. Pelo que se leu, vê-se que tinha o senso das coisas práticas e úteis, a religiosidade das grandes almas; bom e austero, que vivia de sua crença sincera, a serviço de Deus, à espere do galardão na outra vida. O ponderado realismo do pai e a suave autoridade mística da mãe  -os elementos formadores de sua personalidade, de seu caráter de escol.

            Outros pontos quo vale ressaltar, respigado dos textos dos seus biógrafos: Fora batizado pelo Bispo de Viseu; sua bandeira - pendão tricolor - na esquadra que armou  para a conquista de Ceuta: Talent de bien-faire (vontade de bem-fazer); pertenceu à Ordem de Cristo (governador e administrador) que então tinha sede em Tomar, no antigo castelo dos templários; mandou ensinar a Ier  e escrever a um moço do Nilo dos negros, com o fito d. torna-lo "padre para ir missionar os conterrâneos"; fez devolver, entre os 17 cativos de Palma, uma rainha, "mui irosa" contra os captadores impolíticos.

            A preocupação maior, as causas que moveram D. Henrique a descobrir terras e mares, mais do que os Interesses puramente econômicos, ou políticos, de Estado, então reveladas em carta escrita por D. Pedro, regente, seu tio, em 22-1o-1443. Entendia "que fazia serviço a Nosso Senhor Deus e a nós, se meteu a mandar navios a saber parte." -  (isto é, a tomar conhecimento) – “da terra que era além do cabo de Bojador, porque até então não havia ninguém na cristandade que dele soubesse parte", nem se havia lá povoação ou não, nem diretamente nas cartas de marear, nem nos mapas-mundi".

            Sobre essa sua como que obsessão de descobrir terras e mares além do cabo Bojador, trataremos depois. Importa, agora, anotar, para consideração dos estudiosos da vida e da obra de D. Henrique, que o Duque de Viseu e senhor de Covilhã - títulos que recebeu como prêmio por sua ação na tomada de Ceuta, onde combateu valorosamente, era um místico e  um verdadeiro cristão. Na campanha de Alcácer-Ceguer, já com 54 anos de idade, evidenciou energia indomável e lemos, com satisfação: “Era a desforra integral do fracasso de Tanger e do longo martírio do irmão, mais acirrada agora porventura com a terrível afronta e ameaça que para a Cristandade sobreviera desde a conquista de Constantinopla, em 1453, pelos turcos, fanáticos do falso Profeta." E, ainda: "O velho cruzado despertara; mas não foi desumano perante o inimigo abatido. Como em Ceuta, D. Henrique, desembarcado na praia, levou de roldão os defensores para dentro das muralhas. E foi a ele que, vendo inútil a resistência, enviaram à meia-noite a proposta de rendição. A resposta de D. Henrique foi que o Rei lhes consentia que evacuassem a cidade levando consigo as mulheres, crianças e suas fazendas, e apenas deixassem os cristãos cativos: - o que se efetuou em 23, entrando em seguida, a pé, o Rei com D. Henrique e seu filho D. Fernando, e seu primo D. Pedro, o filho do defunto regente, encaminhando-se todos para a mesquita maior já purificada em Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia.”

            Um homem de fé, um homem de Cristo!