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domingo, 5 de junho de 2011

03 / 03 Pacto Áureo


Unificação - Quadragésimo Ano
do ‘Pacto Áureo’
Juvanir Borges de Souza
Reformador (FEB) Outubro 1989

            Foi com a reforma estatutária de 1901, determinada pelos poderes diretivos da Federação Espírita Brasileira, que se procurou dar sentido prático e efetivo à unificação das Instituições Espíritas espalhadas por todo o território brasileiro.
            Definiu-se, desde então, o significado de Unificação como união solidária e fraterna, com sustentação da autonomia individual, patrimonial e administrativa das entidades filiadas.
            O sistema federativo adotado, tendo como órgão central a FEB, ultrapassava as limitações geográficas da antiga capital da República para abranger as vastas linhas do País Continental, surgindo as adesões das Casas Espíritas dos Estados à Federação.
            Antes de findar-se o século XIX não faltaram algumas tentativas no sentido de aproximar e unir as Instituições Espíritas.
            Nos anos de 1888 e 1889, diversas comunicações de Allan Kardec, recebidas pelo médium Frederico Júnior, exortavam os espíritas brasileiros a se unirem e harmonizarem-se na prática do estudo, da caridade e da unificação.
            Bezerra de Menezes, então na Presidência da Federação, impressionado pelas idéias expressas pelo Codificador e convencido da necessidade de pô-las em prática, difundiu largamente as comunicações nos meios espiritistas da então Capital Federal, sob a forma de impressos, buscando tornar conhecidas aquelas idéias vindas do Plano Espiritual, entre as quais se destacavam a união e a unificação dos espíritas.[1]  
            Indicava Bezerra de Menezes a Federação Espírita Brasileira como o órgão em torno do qual poderia concretizar-se a unificação. Para isso, em 21 de abril de 1889, instalou na Federação o ‘Centro da União Espírita do Brasil”, com a finalidade de unir e orientar as Instituições Espíritas que o desejassem.
            Antes, em 1881, um Centro de igual nome fora criado com os meus objetivos, na Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade.
            Nenhuma das tentativas obteve êxito. Ao que parece, os espíritas não estavam preparados para aceitar e pôr em execução as idéias unificacionistas.
            O “Centro” criado por Bezerra de Menezes foi reorganizado em 1894 pelo Professor Angeli Torteroli, com a denominação de “Centro Espírita de Propaganda do Brasil”. A ele se filiaram cerca de setenta e cinco Grupos Espíritas de diversos Estados. Bezerra deu-lhe seu apoio tornando-se um dos seus diretores. A revista ‘Reformador”. da FEB, abriu-lhe as colunas, para noticiário.
            Todavia, em 1897, insistindo alguns de seus Diretores em considerar o Espiritismo apenas como ciência, com menosprezo ao caráter filosófico e religioso da Doutrina, acabou o Centro por fracassar no objetivo de unir a família espírita brasileira, entrando em decadência. Dele se desligaram vários Diretores entre os quais Bezerra de Menezes e Augusto Elias da Silva, além de diversas instituições que lhe eram filiadas.
            Todas essas tentativas mostram a preocupação dos espíritas brasileiros com a Unificação, desde os primórdios do Movimento em nossa Pátria.

                                   *

            Tendo a Doutrina Espírita um sentido unitário, constituindo um corpo doutrinário indivisível e harmônico, embora, na sua abrangência, compreenda aspectos científicos que vão muito além do domínio da Ciência oficialmente reconhecida, aspectos filosóficos que transcendem os conhecimentos das diversas escolas filosóficas do Mundo e aspectos morais e religiosos deduzidos dos novos conhecimentos advindos com as revelações dos espíritos, nada mais natural que o Movimento decorrente da Doutrina procure manter coerência com a unidade doutrinária. 
            Do contrário, diversificando-se, sem a visão unitária em torno dos princípios fundamentais, fragmenta-se o Movimento, enfraquece-se, surgindo os cismas, as seitas, as querelas, os antagonismos injustificáveis, como ocorreu com o Cristianismo hoje subdividido em numerosas subdivisões.
            A Unificação é resultante do esforço permanente dos espíritos sinceros, baseado no conhecimento e aceitação da Doutrina Espírita e na União fraterna entre seus adeptos.
            Não se sustenta a Unificação sem união, tolerância e compreensão entre os seguidores da Doutrina.
            Não significa a Unificação, obrigatoriamente, uniformização de pensamentos e idéias, de métodos de trabalho e de detalhes de organização.
            O ideal comum, catalizador da união que conduz à unificação, exsurge da compreensão, aceitação e vivência dos princípios fundamentais expressos no corpo doutrinário, especialmente em ‘O Livro dos Espíritos”, dentre os quais: a existência de Deus, o Criador incriado; a existência da alma ou Espírito, como ser individual; o Universo, compreendendo mundos materiais e mundos espirituais; a pluralidade dos mundos habitados; os dois elementos essenciais - matéria e espírito; a comunicabilidade entre os habitantes dos dois planos de vida; a reencarnação ou princípio das vidas sucessivas nos mundos materiais; as leis morais, resumidas no amor, na justiça e na  caridade, com fulcro no Evangelho do Cristo, o Filho e Emissário de Deus; a evolução espiritual para a perfeição, seu destino final; progressividade da Revelação Espírita.
            Estabelecidas como se acham as bases da Doutrina Espírita, cabe aos adeptos guiarem-se por ela, competindo-lhes a responsabilidade interpretativa de tudo o que se assenta nessas bases, inclusive as revelações posteriores à Codificação, alicerce de toda a construção doutrinária.
            Como decorrência lógica do princípio da responsabilidade e da liberdade individual, seria utópico e antinatural exigir, na Unificação, o pensamento igual, uniforme, de todos os adeptos, a respeito de todos os pontos não essenciais da Doutrina, de todas as dissertações elucidativas, de todas as obras subsidiárias, dependentes da interpretação e do livre convencimento individual, eis que cada um se encontra em determinado estágio evolutivo intelectual e moral.
            À época da elaboração da Doutrina a unificação estava naturalmente personificada na figura ímpar do Codificador.
            Allan Kardec não foi somente o teórico, o intermediário entre as instruções dos Espíritos Superiores e a formulação humana da Doutrina. Ele  mesmo afirma que, “trabalhando na parte teórica da obra, não nos descuidávamos do lado prático”. (Constituição do Espiritismo - trabalho reformulado em 1869.)
            Adverte também que as dissidências que podem surgir se fundirão por si mesmas na unidade da Doutrina, estabelecida de forma clara e definida, e acrescenta:
            “Não será, pois, invariável o programa da Doutrina, senão com referência aos princípios que hoje tenham passado à condição de verdades comprovadas. Com relação aos outros, não os admitirá, como há feito sempre, senão a título de hipóteses, senão a título de hipóteses, até que sejam confirmados. Se lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ela se modificará nesse ponto.” “Obras Póstumas” - Dos cismas.
            Finda a missão do Codificado, entrando os movimentos espíritas em nova fase, não somente na França mas em todos os países onde o Espiritismo lançara raízes, urgia que ele permanecesse íntegro.

                                   *

            No memorável encontro de âmbito nacional, com duração de três dias, realizado no Rio de Janeiro pela Federação Espírita Brasileira, em comemoração ao Centenário de nascimento de Allan Kardec, em 3 de outubro de 1904, fizeram-se representar os espíritas do Amazonas, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
            Ponto culminante dos estudos e resoluções desse encontro foi, sem dúvida, a aprovação de um importante documento que ficou conhecido como “Bases de Organização Espírita” e passou a orientar, desde então, a marcha do movimento Espírita no País.
            Preconizaram as “Bases” a criação de uma Instituição Espírita na Capital de cada Estado da Federação, incumbida de filiar os Centros e Associações estaduais, formando assim, com a FEB, uma rede de entidades espíritas fortalecidas na solidariedade e na fraternidade e ainda num programa básico semelhante, no qual se respeitavam a liberdade e a tendência de cada Instituição no que se referia a pontos doutrinários não essenciais.
            Esse documento orientador do Movimento subsiste até hoje, uma vez que foi consagrado nos Estatutos da FEB, no Capítulo que trata da Organização Federativa (Art. 102), e em 1949 confirmado no item 2º do  “Pacto Áureo”: - “A FEB criará um Conselho Federativo Nacional, permanente, com a finalidade de executar, desenvolver e ampliar os planos da atual Organização Federativa.”
            Durante quase meio século, a partir de 1904, cresceu muito o Movimento Espírita brasileiro, fundando-se neste período a maior parte das Federações Estaduais e centenas de Casas Espíritas. Destacamos nesse período, a par de inúmeros acontecimentos importantes, os Congressos de 1926 e 1933, convocados pela FEB, e o Congresso Brasileiro de Unificação Espírita, realizado em São Paulo, de 31-10 a 5-11-1948, todos com boas contribuições em prol da Unificação.
            Essa foi uma época em que o Movimento se apresentou muito dividido, inclusive pela criação da Liga Espírita do Brasil, entidade de âmbito nacional com sede no Rio de Janeiro e que se propunha também a federar as Instituições Espíritas, a qual, por força do “Pacto Áureo”, transformar-se-ia numa Federação de âmbito estadual.

                                   *

            O velho sonho da Unificação da família espírita brasileira, acalentado desde a penúltima década do século passado, concretizou-se formalmente a 5 de outubro de 1949.
            As circunstâncias em que tal fato ocorreu, sem as longas preparações e discussões que normalmente precedem os acontecimentos relevantes do Movimento Espírita nacional, demonstram que os espíritas, em sua grande maioria, estavam preparados para o evento e que a Espiritualidade Superior, respeitando o livre-arbítrio dos homens e encontrando neles sinceridade de propósitos e boa vontade de sufocar personalismos e vaidades, influiu poderosamente para que surgissem finalmente o entendimento e a concórdia entre os seguidores do Espiritismo.
            Nos primeiros dias de outubro de 1949, realizava-se no Rio de Janeiro o II Congresso Espírita Pan-americano, com a presença de dirigentes espíritas de diversos Estados, os quais resolveram aproveitar o ensejo para procurar a FEB, em tentativa de entendimento e aproximação, visando à Unificação do Movimento.
            Foi então marcado um encontro na Sede da Federação no dia 5 de outubro, ao qual compareceram a Diretoria da FEB e os Representantes de diversas Instituições estaduais.
            O encontro ficou conhecido como a Grande Conferência Espírita do Rio de Janeiro, da qual se lavrou a célebre Ata com os pontos essenciais em que se assentava o acordo da Unificação, dentre os quais se destacam:
            I.-        reafirmação do sistema federativo na organização do Movimento, em âmbito nacional, estadual e regional (municipal).
            II.-       a criação do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, em novas bases, congregando todas as Federações e Uniões Espíritas estaduais;
            III.-      reafirmação da independência e autonomia das sociedades componentes do sistema, comprometendo-se eles com o programa básico contido nas obras “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”.
            O acordo, que punha fim a uma longa dissidência no meio espírita brasileiro, foi assinado pelo Presidente da FEB e pelos Representantes da Liga Espírita do Brasil, Comissão Executiva do Congresso Brasileiro de Unificação Espírita, Federação Espírita do RS, Federação Espírita Catarinense, Federação Espírita do Paraná, União Social Espírita (USE), de São Paulo, e União Espírita Mineira, todos nomes dos mais representativos do Movimento Espírita da época.
            “Pacto Áureo” foi a expressão feliz criada por Lins de Vasconcelos, um de seus subscritores, para caracterizar o entendimento e a concórdia entre os espíritas, que podem divergir em pontos secundários, mas que, aceitando e compreendendo a Doutrina Espírita, não tem razão para fazer de simples divergência de entendimento pessoal pomo de discórdia, de intransigência e de intolerância.
            O grande acordo não ficou adstrito às instituições que o subscreveram inicialmente. Logo após sua  formalização constituiu-se um grupo de  confrades, com grande responsabilidade no seio do Movimento, tendo por objetivo levar aos espiritistas do Nordeste e do Norte do País a notícia do grande acontecimento, concitando-os a se unirem aos irmãos do Centro e Sul. Esse grupo de companheiros ficou conhecido como “Caravana de Fraternidade” e realizou notável obra de congraçamento e de esclarecimento junto às entidades visitadas, desde a Bahia até o Amazonas, incentivando ainda a criação de Sociedades Espíritas nos Estados que não as possuíam.
            O Conselho Federativo Nacional, regulamentado e instalado   em    de  janeiro  de  1950,    vem funcionando ininterruptamente desde então, congregando, pelo sistema representativo, os espíritas de todo o Brasil. Presta inestimáveis serviços à Grande Causa, dirimindo dúvidas,  fortalecendo os laços fraternos, orientando o Movimento, recomendando normas e diretrizes, aproximando Instituições e pessoas e contornando as incompreensões inevitáveis no áspero mundo dos homens.

                                   *

            Mais que um documento histórico, o ‘Pacto Áureo” traduz e simboliza as aspirações de várias gerações de espíritas brasileiros. Por isso, mesmo antes de sua assinatura, ele já se havia firmado nas mentes e corações dos espíritas cristãos. Ele representa o selo da vitória individual e coletiva, no Movimento, contra o personalismo, a vaidade, o divisionismo.
            O Pacto coroou o esforço, o bom senso, a lucidez, o espírito fraterno de quantos, desde Allan Kardec, passando por Bezerra de Menezes e inúmeros trabalhadores espíritas de várias gerações, têm pugnado pela união fraternal entre irmãos muito próximos, ligados pelo mesmo ideal. São os que entenderam a Doutrina Libertadora e Consoladora e procuraram verdadeiramente vivenciá-la.
            Assim, unidos pelo ideal comum, será sempre possível assimilar e viver a Doutrina, mesmo dentro da imperfeição humana, desde que haja tolerância e compreensão em cada profitente, no esforço constante de aperfeiçoar-se.
            Seria enorme contra-senso exigir-se que todos os espíritas constituíssem uma massa uniforme de adeptos, entre os quais não existisse a menor discrepância de idéias. É evidente que a assimilação. É evidente que a assimilação da Doutrina depende do estágio evolutivo individual. Cada um a pratica na medida de seu entendimento e de suas forças. Por isso não basta o aperfeiçoamento intelectual, o cultivo da inteligência. Não basta conhecer a Doutrina. Para praticá-la é necessário aprender, a amar, tolerar, compreender, servir, rejeitando a presunção e as formas de coação espiritual, incompatíveis com a índole da Doutrina.
            A historia do Espiritismo está eivada de lutas, para que ele possa ser implantado entre os homens. Tal como o Cristianismo primitivo, traz o Espiritismo uma mensagem contra o egoísmo e o orgulho humanos. Isso contraria interesses infelizes que se estabilizaram no Mundo e que precisam ser removidos. Daí ser natural a pertinaz oposição à Idéia Nova, desde seu surgimerto.
            O divisionismo cultivado pelos homens e insuflado pelas inteligências trevosas, apareceu no seio do Movimento desde a época da Codificação e é uma constante em toda a trajetória do Espiritismo. Não seria diferente no Brasil. A Unificação conseguida pelos espiritistas brasileiros foi a vitória do bom senso, com o acatamento de diretrizes superiores.
            Se ainda não foi possível o entendimento geral, se aqui e ali ainda subsistem os inconformados, se em alguns Estados ainda permanece a divisão de forças que se devem somar na cooperação, nem por isso devemos desanimar. A tarefa é lenta, demorada, desde que depende da compreensão dos homens. Demanda trabalho, solidariedade, tolerância, paciência.
            A unidade do Movimento há que corresponder à unidade da Doutrina, sem embargo de suas abrangências.
            A necessidade de uma coordenação central não significa imposição pela força, mas que se faça respeitar pela compreensão dos deveres. Que os mais preparados intelectual e moralmente sejam os mais responsáveis na condução do Movimento, em âmbitos regional, estadual e nacional.
            “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído, e toda cidade ou casa que se dividir contra si mesma não subsistirá.” (Mat., 12:25.)

            Diz-nos o Codificador (“Obras Póstumas”, 22ª Ed. FEB, pág. 351):

            Os que nenhuma autoridade admitem não compreendem os verdadeiros interesses da Doutrina. Se alguns pensam poder dispensar toda direção, a maioria, os que não se crêem infalíveis e não depositam confiança absoluta em suas próprias luzes, se sentem necessitados de um ponto de apoio, de um guia, ainda que apenas para ajudá-los a caminhar com segurança.”
           





[1]  Essas mensagens, publicadas inicialmente em 1893, foram reunidas pela FEB em um opúsculo intitulado: “Ditados de Allan Kardec”, cuja 3ª edição circulou em 1934. Incluídas no livrete “A Prece”, foram recentemente publicadas em ‘Reformador’, fascículos de dezembro/88 e janeiro/89. (N.R.) 


02/03 Pacto Áureo


Unificação
Reformador (FEB)  Novembro 1949

            Os espíritas do ‘Coração do Mundo’, no dia 5 de Outubro de 1949, data a que o nosso colega ‘Mundo Espírita’ muito acertadamente chamou - Dia Áureo da Confraternização -, vibraram de entusiasmo pelo grande acontecimento da Unificação, pois que a notícia foi levada celeremente a todos os recantos da Pátria, através de telegramas, de rádios, de cabogramas e de telefonemas interurbanos.
            Com um entusiasmo nunca dantes verificado em nossos meios, os abraços se sucediam, enquanto de muitos olhos a alegria se manifestava cristalina e bela, através de pérolas liqüefeitas a rolarem, silenciosas, mas vivificadas pelo Espírito, pelas faces dos velhos trabalhadores da Seara.
            ‘Reformador’ não pode registrar os acontecimentos. Seus redatores não se sentem capazes de descrever com palavras precisas, talvez por inexistentes no vocabulário humano, os quadros de verdadeira espiritualidade então presenciados por todos quantos tiveram a grande felicidade de se encontrarem reunidos, na Capital da República.
            Dessa forma, que nos perdoem os nossos leitores e passemos à transcrição do primeiro documento:

Grande Conferência Espírita
realizada no Rio de Janeiro:

            Ata da reunião entre os diretores da Federação Espírita Brasileira e os representantes de várias Federações e Uniões de âmbito estadual: Aos cinco dias do mês de Outubro do ano de mil e novecentos e quarenta e nove (1949), na sede da Federação Espírita Brasileira, à Avenida Passos, nº 30, na cidade do Rio de Janeiro, Capital da República, Brasil, presentes o Sr. Antônio Wantuil de Freitas, presidente da F.E.B., e demais signatários desta, após se dirigirem ao Alto, em prece, suplicando bênçãos para todos os obreiros da Seara Espírita do Brasil, bem como para toda a Humanidade e depois de longo e coordenado estudo do movimento Espírita Nacional, a que pertencem, acordaram em aprovar os seguintes itens, ‘ad referendum’ das Sociedades que representam:
1º)       Cabe aos Espíritas do Brasil porem em prática a exposição contida no livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, de maneira a acelerar a marcha evolutiva do Espiritismo.
2º)       A FEB criará um Conselho Federativo Nacional, permanente, com a finalidade de executar, desenvolver e ampliar os planos da sua atual Organização Federativa.
3º)       Cada Sociedade de âmbito estadual indicará um membro de sua diretoria para fazer parte desse Conselho.
4º)       Se isso não for possível, a Sociedade enviará ao Presidente do Conselho uma lista tríplice de nomes, a fim de que este escolha um desses nomes para membro do Conselho.
5º)       O Conselho será presidido pelo presidente da Federação Espírita Brasileira, o qual nomeará três secretários, tirados do próprio Conselho, que o auxiliarão e substituirão, em seus impedimentos.
6º)       Considerando que desde a sua fundação a F.E.B. se vem batendo pela autonomia do Distrito Federal, conforme se vê em seu órgão - ‘Reformador’ -, fica o Distrito Federal considerado como Estado, em igualdade de condições com os demais Estados do Território Nacional. 
7º)       O presidente da Federação Espírita Brasileira nomeará uma comissão de três juristas espíritas e dois confrades de reconhecida idoneidade para elaborar o Regulamento do Conselho Federativo Nacional e propor as modificações que se tornarem necessárias nos atuais Estatutos da Federação Espírita Brasileira.
8º)       No caso de haver mais de uma sociedade de âmbito estadual em algum Estado, tudo se fará para que se reunam entorno de uma terceira, cuja presidência será exercida em rodízio e automaticamente pelo presidente de cada uma delas, substituídos que serão, anualmente, no dia 1º de Janeiro de cada ano.
9º)       Anualmente, em sua primeira reunião do mês de agosto, o Conselho organizará o seu orçamento, o qual, uma vez aprovado pela Diretoria da F.E.B., será entregue ao tesoureiro dessa.
10º)     Caberá à Federação Espírita Brasileira entrar com cinqüenta per cento do que for determinado para o referido orçamento, devendo os restantes cinqüenta per cento  ser distribuídos em cotas iguais entre todas as Sociedades pertencentes ao Conselho.
11º)     Na escrita da F.E.B. o seu tesoureiro deverá criar um título no qual lançará todo o movimento de valores, inclusive de donativos que forem feitos com a facilidade de facilitar os trabalhos do Conselho, quantias essas que, de forma alguma, poderão ser aplicadas senão por deliberação do dito Conselho.
12º)     As sociedade componentes do Conselho Federativo Nacional são completamente independentes. A ação do Conselho só se verificará, aliás, fraternalmente, no caso de alguma Sociedade passar a adotar programa que colida com a doutrina exposta nas obras: : “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, e isso por ser ele, o Conselho, o orientador do Espiritismo no Brasil.
13º)     Deverá ser organizado um quadro de pregadores espíritas, composto de sócios das Sociedades adesas, os quais, dentro de suas possibilidades, serão escalados para visitar as Associações que ao Conselho dirijam convites para festividades de caráter puramente Espíritas.
14º)     Se possível, será criado, também, um grupo de pregadores experimentados e cultos, com a difícil missão de levar a palavra do Evangelho aos grupos que, ainda mal orientados, ofereçam campo à semeadura cristã.
15º)     Nenhum membro do Conselho poderá dar publicidade a trabalho seu, individual, subscrevendo-o como membro do Conselho Federativo Nacional, salvo se o trabalho for antecipadamente lido e aprovado pelo Conselho.
16º)     Os membros do Conselho são considerados como exercendo cargo de confiança das Sociedades que os indicarem.
17º)     Sempre que possível o Conselho designará um os seus membros para assistir aos trabalhos doutrinários realizados pelas Sociedade.
18º)     Se alguma colidência encontrar,  pedirá ele se convoque a diretoria da Sociedade e, então, confidencialmente, exporá o que deverá ser modificado, de acordo com o plano geral estudado pelo Conselho. E nada mais havendo, eu, Oswaldo Mello, servindo de secretário, escrevi e datilografei, assinando-a juntamente com os componentes da reunião, que decorreu sob a mais viva emoção dos circunstantes. e, para constar, fiz esta, que subscrevo, aos cinco dias do mês e ano referidos.
a) Oswaldo Mello, secretário. Antônio Wantuil de Freitas, presidente da Federação Espírita Brasileira; Arthur Lins de Vasconcellos Lopes, por si e pelo Sr. Aurino Barbosa Souto, presidente da Liga Espírita do Brasil; Francisco Spinelli, pela Comissão Executiva do Congresso Brasileiro de Unificação Espírita e pela Federação Espírita do Rio Grande do Sul; Roberto Pedro Michelena; Felisberto do Amaral Peixoto; Marcírio Cardoso de Oliveira; Jardelino Ramos; Oswaldo Melo, pela Federação Espírita Catarinense; João Ghignone, presidente e Francisco Caitani, membro do Conselho da Federação Espírita do Paraná; Pedro de Camargo - Vinícius e Carlos Jordão da Silva, pela União Social Espírita de S. Paulo; Bady Elias Curi, pela União Espírita Mineira; Noralino de Mello Castro, presidente do Conselho Deliberativo da União Espírita Mineira. Em tempo: Depois de assinado o presente documento, o presidente Wantuil de Freitas, após manifestar o seu regozijo pelo histórico acontecimento com palavras cheias de fé e de esperança nos destinos gloriosos do Brasil Espírita, convidou o confrade Pedro Camargo Vinícius a proferir a prece final, de encerramento dos trabalhos, o que foi feito, fervorosamente, em súplica ardente aos Espíritos Superiores, aos quais rogou  assistência e iluminação para o desenvolvimento rápido dos nossos trabalhos, na semeadura do bem e do amor, em torno do Mestre e Senhor, Eu, Oswaldo Mello, subscrevo e assino, como testemunho da verdade. Oswaldo Mello.

            Nota Confortadora

            Após a prece final proferida pelo confrade Vinícius e quando todos ainda se encontravam em concentração, manifestou-se psicofonicamente o saudoso presidente da F.E.B. Guillon Ribeiro, cujas palavras de aprovação, de fé e de grande amor foram recebidas como um prêmio de Mais Alto, por intermédio daquele companheiro que tão abnegadamente serviu e serve à Causa do Espiritismo Cristão.
            A palavra de Guillon Ribeiro foi recebida mediunicamente pelo Sr. Oswaldo Mello, secretário da Conferência e presidente da Federação Espírita Catarinense.
            Em sua reunião, realizada alguns minutos após o encerramento dos trabalhos acima referidos, o ‘Grupo Ismael’, célula máter da F.E.B., recebeu duas belíssimas comunicações: uma, de início, psicografada, do Espírito de Bittencourt Sampaio, e outra, psicofônica, do Espírito de Ismael.
           
Proclamação
aos Espíritas
Reformador (FEB)  pág. 73  Abril 1950

            O Conselho Federativo Nacional, órgão da Federação Espírita Brasileira, surgido do Pacto Áureo de 5 de Outubro do ano próximo findo, ratificado pelas Entidades Espíritas, representadas pelos seus signatários e aprovado sincera e entusiasticamente por todas as demais Federações, Uniões e Ligas de âmbito estadual, que tiveram a oportunidade de examiná-lo, jubilosamente se dirige aos Espíritas espalhados por todos os quadrantes da nossa amada Pátria, levando-lhes cordial e afetuosa saudação.
        Instalado oficialmente a 1º de Janeiro deste ano, funciona o Conselho normalmente, achando-se empossados e em pleno exercício das respectivas funções os seguintes Conselheiros:

Prof. Ismael Gomes Braga (Rio Grande do Norte)
Dr. José Augusto de Miranda Ludolf  (E. da Paraíba)
Dr. Alcides Neves Ribeiro de Castro (Pernambuco)
Dr. Ubaldo Ramalhete Maia (E. do Espírito Santo)
Dr. Miguel Timponi (Minas Gerais)
Dr. Carlos Imbassahy (E. do Rio de Janeiro)
Farm.º Carlos Jordão da Silva (S. Paulo)
Prof. Arnaldo Claro S. Tiago (Santa Catarina)
Dr. Arthur Lins de Vasconcellos Lopes (Paraná)
Ten. Cel. Severino Antônio da Cunha (Rio Grande do Sul)
Sr. Aurino Souto (Distrito Federal)

            Consciente da grave responsabilidade que assumiu como depositário da confiança com que o honraram as nobres Entidades Espíritas que o compõem, empenha-se abnegadamente na obra de fortalecimento dos laços de solidariedade que as unem, a fim de que possam estabelecer sobre base sólida de compreensão e trabalho o clima da verdadeira e legítima Fraternidade, que é a síntese sublime de amor, ensinada e exemplificada pelo Divino Mestre.
            Tarefa tão nobilitante, é fora de dúvida que não pode ser levada a bom termo somente por um ou alguns grupos espíritas, por mais numerosos e bem orientados que sejam. Carece de apoio de todos os Confrades, sem distinção de raça, nacionalidade e condição social ou econômica, porque as realizações duradouras no campo da Fraternidade têm que ser obra comum, executada à sombra do Evangelho.
            O aperfeiçoamento da coletividade só poderá ser conseguido pela educação íntima do homem no sentido do bem - postulado fundamental do Cristianismo.
            O ambiente da Terra é de inquietação e incerteza. Graves apreensões atormentam e sobressaltam a Humanidade, convencida, hoje, mais que nunca, de que o remédio salvador, para a desordem e o caos em que se abisma, é a renovação espiritual e moral do homem.
            Tal renovação, entretanto, sem embargo de ser a constante preocupação dos povos, vem sendo tentada por processos nem sempre adequados, por facilmente sujeitos a desvirtuasses e desvios.
            Só o Espiritismo, como expressão sublimada do Cristianismo, poderá esclarecer a Humanidade e orientá-la com segurança, no caminho do aperfeiçoamento e da concórdia.
            Meditando sobre a relevância destas verdades, reúnem-se os Espíritas do Brasil, num salutar exemplo de renúncia e sinceridade e transformam em brilhante realidade o Acordo de 5 de Outubro de 1949, criando, sob a égide da Federação Espírita Brasileira, o Conselho Federativo Nacional, cujo objetivo imediato é a Confraternização da Família Espírita Brasileira, como marco inicial da grande jornada da Confraternização Universal.
            Urge, portanto, que todos os Espíritas se unam, sem rivalidades nem competições, em torno da Federação Espírita Brasileira, fazendo-se representar no Conselho Federativo Nacional todas as instituições de âmbito estadual, a fim de que este grande movimento de fraternidade e compreensão, incontestavelmente já vitorioso, possa produzir os magníficos resultados por todos justificadamente esperados e ansiosamente desejados.
            No caso de haver mais de uma sociedade de âmbito estadual em algum Estado, deverão reunir-se sob uma legenda comum, cuja presidência será exercida em rodízio e automaticamente pelo presidente de cada uma delas, de modo que fique inteiramente respeitada a autonomia das sociedades componentes.
            Sem nenhuma cogitação político-partidária, que aberraria dos fins visados, o Conselho Federativo Nacional quer somente congregar os trabalhadores do Bem, para a prática, o estudo, a difusão e a exemplificação do Cristianismo, marchando com humildade e pureza de intenção - característicos dos verdadeiros Espíritas - tendo sempre  em mente que muito será exigido daquele que muito recebeu, e que a cada um será dado segundo as  suas obras, tal como ensinou o Divino Mestre.

01/03 Pacto Áureo


Pacto Áureo


com base em artigo de Sylvio Brito Soares
Reformador (FEB)  Dezembro 1957

            Há quem insinue nos meios espiritistas que a Casa de Ismael, orientadora do movimento espírita em terras brasileiras desde 1884, foi forçada a aderir, em 1949, ao Pacto Áureo e  ...........................       ...............................
            A fim de que os historiadores futuros tomem conhecimento da verdade dos fatos, aqui deixamos registradas os principais fases dos sucessos de 1949, tais como se desenrolaram.
            - Em princípios de 1948, conforme se vê à página 30 de ‘Reformador’ de Fevereiro desse ano, o Dr. Lins de Vasconcelos e o Sr. Leopoldo Machado fizeram uma sugestão à Federação Espírita Brasileira para que convocasse um congresso nacional de mocidades e juventudes espíritas do País, o que não acolheu no intuito de evitar o separatismo entre as juventudes e, talvez mesmo, o separatismo entre ‘velhos’ e moços.
            Tempos depois, a Federação Espírita do Estado de São Paulo, que não era adesa à FEB, anunciou que iria convocar um congresso, em São Paulo. A União Federativa Espírita de São Paulo, que era adesa à FEB, não concordou com a realização do referido congresso, e esta última igualmente se recusou a nele tomar parte.
            A esse Congresso aderiu a Federação Espírita do Estado do Rio Grande do Sul, que, por isso mesmo, teve sustada a sua adesão à FEB.
            Assim, a Federação Paulista, apoiada pela Federação Gaúcha e por mais algumas poucas sociedades que não se achavam ligadas à FEB, realizou o Congresso projetado.
            Ao fim de seus trabalhos, esse Congresso delegou poderes aos representantes da Federação Gaúcha para um entendimento com a diretoria da Federação Espírita Brasileira, delegados esses (Cel. Michelena, Dr. Pompilio e Spinelli) que compareceram à sede da FEB com a gravação dos principais discursos que em São Paulo foram proferidos.
            Wantuil de Freitas, presidente da FEB, após ouvir os discursos gravados e a palavra dos delegados, argumenta, relembra os princípios da FEB e nega-se a apoiar a proposta por eles apresentada, ou seja, a da criação de uma Confederação ou de um Conselho Superior, ao qual a FEB ficaria subordinada.
            A Delegação, tentando ainda alcançar seu objetivo, pediu a intervenção do Dr. Lins de Vasconcelos, amigo pessoal e íntimo do presidente da FEB. Este, porém, se recusou a tratar do assunto.
            Em Outubro de 1949, realiza-se o segundo Congresso da Confederação Espírita Pan-Americana, no Rio de Janeiro, sem a participação da FEB, que nele não desejou tomar parte.
            Nessa ocasião, Lins de Vasconcelos volta a falar com o Presidente da FEB, pedindo-lhe novamente que recebesse a Delegação do Congresso paulista. O Presidente da FEB recusa-se; todavia, informou que teria muito prazer de ouvi-la, se com ela viessem todos os representantes de sociedades de âmbito estadual que então se encontrassem no Rio, para assistirem ao Congresso da CEPA.
            E no dia 5 de Outubro de 1949, com a presença de inúmeros confrades de S. Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, além de outros do Distrito Federal, realiza-se na sede da FEB uma reunião, presidida por seu Presidente.
            O Cel. Roberto Michelena, chefe da Delegação do Congresso paulista, propôs então que se criasse um Conselho Superior do Espiritismo, formado por três membros.
            O Presidente da FEB, após argumentar contra a proposta, põe-na em discussão e votação. Foi a proposta unanimemente rejeitada.
            E como ninguém mais quisesse usar da palavra, o Presidente da FEB, após ligeira exposição sobre todos os acontecimentos, tirou do bolso uma folha de papel datilografada e apresentou uma proposta, em nome da diretoria da FEB.  Lida a proposta, todos os seus dezoito itens foram unanimemente aprovados e com eles foi lavrada a Ata de Unificação, posteriormente cognominada de Ata do Pacto Áureo, cujo inteiro teor pode ser lido à página 243 de ‘Reformador’ de 1949.
            Em 1º de Janeiro de 1950, o Presidente da FEB empossa os onze membros do Conselho Federativo Nacional, criado em virtude do Pacto Áureo, o qual lança a sua ‘Proclamação aos Espíritas’, em 8 de Março de 1950. (‘Reformador’ de 1950, página 73).
            Aí têm os nossos amigos a síntese histórica das ocorrências. A FEB não aderiu, ninguém a forçou a coisa nenhuma, e tais afirmativas só podem partir daqueles que não tem conhecimento dos fatos verídicos.
            E desde então a harmonia se estabeleceu em todo o meio espiritista brasileiro, malgrado as raras e inevitáveis vozes discordantes.
           
Congresso
da Juventude
Reformador (FEB)  pág. 30 Fevereiro 1948
           
            Em resposta à carta que nos dirigiu ilustre e culto confrade, pedindo-nos explicássemos pelo Reformador o motivo por que não aceitou a Federação a incumbência que lhe quiseram dar, de promover um Congresso de Juventudes Espíritas, vimos informar os nossos leitores de que a Federação deixou de aceitar o patrocínio do Congresso, porque a ‘União das Juventudes Espíritas do Distrito Federal’, sociedade em cujo seio se encontram reunidos elementos jovens e de valor doutrinário e intelectual, não julgou oportuna a realização do referido Congresso.
            E como seria de lamentar que se realizasse um Congresso de Juventudes, no qual deixasse de estar presente a maior e mais perfeita organização juvenil do País, sediada exatamente na cidade e no prédio onde se reuniriam, não somente alguns jovens vindos do interior, mas igualmente os velhos que os pretendem orientar, acertadamente deliberou a Diretoria da Federação, por unanimidade, declinar do convite que lhe fora feito, aliás, não por elementos jovens, pertencentes em realidade à diretoria de alguma Juventude, mas por dois velhos amigos e companheiros.
            Assim, reconhecendo a Federação que seria contraproducente a realização de um Congresso de Juventudes sem a presença de ‘União das Juventudes Espíritas do Distrito Federal’, exatamente a que deveria presidir às reuniões dos jovens espíritas do Brasil, se à Federação coubesse organizar o Congresso, nenhuma atitude poderia tomar a Casa Máter, mais consentânea com a razão, qual a de declinar do convite e julgar inoportuna a convocação do referido Congresso.