3 x
Ruy Barbosa
pgs 239-240 de
‘Grandes
Vultos da Humanidade e o Espiritismo’
3ª Edição FEB - 1992
por Sylvio
Brito Soares
1.3. A
súmula de sua religião
Extraído de uma
conferência no Asilo N.S. de Lourdes em Feira de Santana (Bahia)
“... religião, não sepultada no mistério de uma
língua morta; não a desses pseudo apóstolos do paganismo infantilista,
caluniadores do Evangelho, pregadores hipócritas e mentirosos da opressão sacerdotal, com a boca
cheia de Deus e a consciência cauterizada de interesses mundanos; não a das
diatribes no púlpito, na imprensa, nas pastorais, nas letras apostólicas; não a do ódio, da cisão entre
os homens, da desconfiança no lar doméstico, da separação entre os mortos, do
privilégio, do amordaçamento das almas, da tortura, da ignorância, da
indigência no espírito e no corpo, do cativeiro moral e social; mas a do
"homem novo", nascido sob a cruz; do espírito que vivifica, e não da
letra que mata; da comunicação interior entre o coração e Deus; da caridade
brandura para com todos os homens; religião de luz, que se alimenta de luz, e
que na luz se desenvolve; religião cujo pontífice é o Cristo, religião de
igualdade, fraternidade, justiça e paz; religião em cujas entranhas se formou a
Civilização moderna, em cujos seios sugou o leite de suas liberdades e de suas
instituições, e a cuja sombra amadurecerá e frutificará a sua virilidade;
religião de tudo quanto o ultramontanismo nega, amaldiçoa e inferna. Por ela o
altar algum dia, e não longe, não será mais uma especulação; por ela as
consciências não terão mais contas que dar de si senão ao Onipotente; por ela
todas as crenças serão iguais perante a lei, todas as convicções igualmente
respeitáveis perante os homens. Em que pese ao Vaticano, aos partidos reatores,
às transações políticas e às realezas impopulares!"
2.3. Ruy Barbosa
e a ‘Sessão’
pgs 239-240 de
‘Grandes
Vultos da Humanidade e o Espiritismo’
3ª Edição FEB - 1992
por Sylvio
Brito Soares
"Reformador", em seu número de abril de 1951, transcreve um
artigo intitulado "Ruy, um Universo", publicado na "Revista
Brasileira de Panificação", e que, data vênia, reproduziremos aqui:
2.3. "Na imensa
comemoração de Ruy Barbosa, toda a sua vida pública e particular foi examinada,
e aclamada a sua figura apostolar do Direito. Nenhum detalhe do seu talento
deixou de ser examinado. Ruy estudante, sabendo aos cinco anos de idade
conjugar todos os verbos regulares; Ruy sem idade para matricular-se na
Faculdade, dedicando-se, durante um ano, ao estudo do alemão; Ruy, orador desde
moço; escritor primoroso, enriquecendo a língua portuguesa; advogado de todos
os perseguidos, jornalista insigne, parlamentar, diplomata, internacionalista;
Ruy, poeta, religioso e crente no Espiritismo, e Ruy com conhecimentos de
Medicina. Espanta realmente caber numa cabeça tanta inteligência e num coração
tanta bondade!
Falaram do seu amor
às rezas, mas nada disseram do seu interesse pela pintura e pela música. Na
"Oração aos Moços", Ruy falou nas relações humanas com os nossos
amigos de "além-vida".
O Deputado Ataliba
Nogueira, na conferência feita sobre "Ruy Barbosa em Campinas",
publicada no "Jornal do Comércio" de 8 de novembro p. p., contou o
seguinte:
Ainda
na aprazível estância hidromineral, ocorreu fato curioso, recordado pelos íntimos
com certo acento de graça. Estava em voga, àquele tempo, uma espécie de
distração à noite, de modo algum consoante com as leis religiosas, porém que as
senhoras praticavam como se fosse inocente jogo de damas. Consistia em colocar
sobre uma mesinha de três pés um grande circulo de papelão com as letras do
alfabeto escritas, uma a uma, em recorte dentado. Lalá, Úrsula, Carlota, Baby
Ruy Barbosa e a filha dum redator do "Jornal do Comércio", do Rio,
sentavam-se em redor da mesa e colocavam a ponta dos dedos sobre um cálice que,
por ação misteriosa - segundo diziam - parava ante esta e aquela letra. Alguém
ia anotando as letras num papel. Formavam-se, assim, palavras e frases, avidamente lidas pelos circunstantes.
Resta lembrar que tudo correspondia às perguntas formuladas por alguma das
moças presentes, quase todas versando sobre qual delas se casaria primeiro, as
iniciais do noivo, seus traços fisionômicos, se era louro ou moreno, se era
solteiro ou viúvo, fazendeiro ou não. No geral as respostas não provocavam mais
que risos, gargalhadas e comentários alegres.
Certa
noite, porém, Batista Pereira, que assistia à "sessão", de pé, disse
que o cálice estava denotando alguma inquietação, manifestando com isto ter que
revelar algum segredo. Sentou-se à mesa e também colocou a ponta do dedo sobre
o cálice de cristal, o qual, de maneira rápida, começou a percorrer o
alfabeto, com algo de nervosismo por parte das moças e senhoras que
participavam da operação. Ao lado, outra moça apontava letra por letra, dizendo
nada entender, porém várias vezes havia o nome de Ruy, no apanhado gráfico.
O
Conselheiro já se havia recolhido muito cedo, feito a leitura dos jornais de
São Paulo, que chegavam após o jantar.
Terminado
o escrito, verificou-se que era uma mensagem em inglês, dirigida por algum
"Espirito" ao ilustre hóspede. Ficaram todos estarrecidos e, diante
da indecisão geral, Batista Pereira opinou que deviam levá-la incontinenti a
Ruy. Batem à porta, o Conselheiro de pijama recebe o papel e fica emocionado:
- É
o estilo dele, o estilo perfeito. E o assunto! O mesmo que conversamos em nossa
despedida em Haia. Mas, é possível... Trata-se de William Stead - explica Ruy
-, o meu amigo e grande jornalista inglês, cuja morte os periódicos noticiam,
hoje, no afundamento do "Titanic". E ele acreditava nestas histórias
de Espiritismo!”
3.3. Ruy Barbosa
ora a Deus
pgs 242-243 de
‘Grandes
Vultos da Humanidade e o Espiritismo’
3ª Edição FEB - 1992
por Sylvio
Brito Soares
E, para finalizarmos, oferecemos aos nossos leitores a peroração de um
discurso proferido, em 1903, por esse gigante da inteligência, pelo trabalho e
pelo ideal que acalentou em Espírito:
"Deus,
que me infundistes o amor da beleza, da verdade e da justiça; que povoais da
vossa presença as minhas horas de arrependimento, de perdão e de segurança na
vossa misericórdia; que há dezenas de anos me descobris os meus erros, me
reergueis dos meus desalentos, me conduzis pelo vosso caminho: dai-me, agora
mais do que nunca, o ânimo de não mentir aos meus semelhantes, de me não corromper
nos meus interesses, de não temer ameaças, não me irritar de injúrias, não
fugir a responsabilidades. Se a mercê da salvação da nossa honra, posta nas
vossas mãos onipotentes, exigir o sacrifício de um em satisfação das culpas de
todos, não vos detenha, Senhor, a miséria do resto dos meus dias, cansados e
inúteis. Mas não permitais que as maquinações do egoísmo de alguns prevaleçam
ao bem de um povo inteiro, que a barbária senhoreie de novo a nossa Pátria, que
os semeadores de violências e desunião vejam prosperar outra vez a sua funesta
sementeira nas regiões benditas, sobre cujos céus acendestes a constelação da
Vossa Cruz."