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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Sigamos adiante

 

Sigamos adiante

por Djalma Farias   Reformador (FEB) Agosto 1947

             Há, de pouco mais de meio século a esta data (estávamos em 1947...) , um movimento auspicioso para fazer o homem voltar àquela primitiva concepção da igreja Cristã, da época do Cristo e de seus apóstolos, em que o Cristianismo puro, sem dogmas, sem inovações, sem instituições puramente humanas, era pregado a toda a criatura para iluminar lhe o destino e encaminha-la à perfeição espiritual, que era, naquele tempo, o supremo objetivo da doutrina incipiente, segundo a sábia recomendação do Cristo, quando nos ensinava:

             “Sede perfeitos como o vosso Pai Celestial”.

             É evidente esse feliz desejo de todos recordarem aqueles velhos ensinamentos de Jesus, tão simples e puros, tão belos e humanos, aqueles ensinamentos que na alvorada do século III começaram a sofrer a influência comprometedora das inovações perigosas dos homens.

            Têm, por isso mesmo, muita razão os Espíritos que ditaram a “Revelação da Revelação”, compilada por J. B. Roustaing, quando nos disseram, no Volume II, pág. 367, tradução de Guillon Ribeiro, referindo-se à Igreja do Cristo, o seguinte, que reproduzimos como ilustração utilíssima de nossa crônica de hoje:

             - “A Igreja que os homens instituíram era humana e, portanto, agiu humanamente quando, atendendo às suas necessidades, fez se curvassem as frontes dos que lhe podiam criar embaraços, dominou a matéria por meio de leis materiais e obstou ao desenvolvimento das inteligências, Que, do contrário, um dia compreenderiam que ela se transviara. A falta da Igreja não consistiu em haver usado de seu poder material numa época em que os homens precisavam de freios e em que só ela se achava nas condições de lhos impor. Qual então a sua falta? A falta da Igreja consistiu na sua inércia, no seu espírito estacionário e mesmo retrógrado.

            “Os séculos passaram trazendo cada um o seu contingente de civilização, de progresso, de luz.

            “Só a Igreja se obstina em manter sobre os homens o véu com que lhes cobre as inteligências; só ela persiste em perpetuar a infância da humanidade quando esta, em plena virilidade, se debate por lhe fugir aos entraves. Esforço vão o dela; a seu malgrado o homem usará da sua inteligência. E quantos, impelidos pela inteligência a que ela não quis amoldar-se, a repudiaram, considerando-a demasiado velha para lhes satisfazer às aspirações da alma! Uns chamaram em seu auxílio o nada; outros esperaram, por não saberem nem negar nem crer. Aproxima-se, porém, a hora da libertação. As faixas vão cair e o espírito humano, regenerado, esclarecido, esquecerá todos os maracás que a Igreja oferece à infância: armar-se-á francamente com as armas do Cristo e entrará na Iiça.”


A linguagem da ciência

 


A Linguagem da Ciência

por Djalma Farias     Reformador (FEB) Abril 1947

             La Vie d'Autre Tombe”, apreciada revista belga, transcreve de "Cronique Medicale” o fato seguinte em que intervém o autor do “Chálit du Départ”.

            Em 1797, Meehul tinha um amigo muito querido, Bouveret, que desapareceu misteriosamente nos arredores do bosque de Bondy.  

            Dez anos depois, o Espírito de Bouveret apareceu a Meehul, pedindo-lhe vingança. As aparições sucederam-se de ano em ano. Certa vez, em sonho, o Espírito indicou a Meehul, com o dedo, a silhueta de um vulto que se ocultava nas cortinas do leito. Na manhã seguinte, Meehul constatou que um malfeitor havia entrado em sua casa, roubando-lhe objetos de valor.

            Passado algum tempo, Meehul passeava nos Campos Elísios e sentiu a mão de um ladrão que deslizava no seu bolso. A estupefação de Meehul foi grande, reconhecendo no criminoso o vulto que vira em sonho. Preso e interrogado, o homem confessou que dez anos antes no bosque de Bondy havia morto para roubar um jovem e que, com a ajuda de um cúmplice, o enterrara no recanto do bosque, que designou.

            Refere-nos, também, a História que o poeta Petrarca um dia escreveu de Parma uma carta, que foi arquivada, a seu amigo, o bispo de Giovam Andreia, dizendo-lhe que tivera um mau sonho - tinha visto um outro amigo seu, o bispo Colona, sair de sua companhia, só, pálido, e limitando-se apenas a lhe dizer que ia a pé até Roma. Petrarca, na sua carta, deduziu que o bispo seu amigo tinha morrido. De fato, vinte e cinco dias depois, recebeu as comunicações da morte do bispo Colona, ocorrida na mesma hora em que despertava do seu sonho e na mesma noite.

            Tácito conta que Basilides apareceu a Vespasiano num templo de Alexandria, apesar de se achar doente a muitas léguas de distância.

            Afonso de Liguori, estando adormecido em Arienzo, pode assistir à morte do papa Clemente XIV, cm Roma, e anunciou ao acordar que vira esse fato.

            Antônio de Pádua, estando a pregar na Espanha, em meio do serviço adormeceu, aparecendo em Pádua, onde seu pai, acusado falsamente de homicídio, marchava para a morte. Antônio de Pádua salvou o pai, provando a sua inocência e mostrando o verdadeiro criminoso. Camille Flammarion relata-nos que u'a moça, ao fim de 7 anos de ternas relações, havia-se separado do homem que amava. Este casou-se e ela nunca mais teve notícias suas. Passaram-se alguns anos, quando em uma noite de Abril de 1893 viu ela entrar em seu quarto uma forma humana, que se lhe dirigiu e debruçou-se sobre ela. Sentiu, então, nos lábios, com terror, o demorado beijo de uma boca gelada. No dia seguinte, cerca de meio-dia, correndo a vista pelos jornais, leu a notícia do falecimento e dos funerais do homem que amara.

            Stuart Mill diz que a linguagem da Ciência tem de ser esta; isto é ou não é, isto se dá ou não se dá. Os fatos existem e deve ser de todo interesse da Ciência estudá-las rigorosamente. Todos os cientistas que os têm estudado, rendem-se à verdade e tornam suas aquela afirmativa sincera de William Crookes: -

             “Tendo-me assegurado da realidade dos fenômenos espíritas, seria uma covardia moral recusar-lhe o meu testemunho. Após seis anos de experiências rigorosamente científicas, não digo que os fenômenos são possíveis, digo que são reais.”

 


domingo, 21 de outubro de 2018

Espiritismo e fanatismo



Espiritismo e fanatismo
por Djalma Farias
Reformador (FEB) Maio 1947

            A planta daninha do fanatismo não deve medrar na seara espírita, sob pena de comprometer a essência, a base e a finalidade da filosofia estruturada pela sabedoria do Espírito de Verdade. Devemos estudar e refletir muito e falar bem pouco. Se o fanatismo é condenável nas outras religiões, muito mais o é dentro dos arraiais espíritas.          

            Fanático não é o que se preocupa com a propaganda da Doutrina, que trabalha na seara com amor, entusiasmo e dedicação, jamais repousando, quando sabe o muito que é preciso fazer para auxiliar a obra gloriosa da cristianização do mundo; não é aquele que consagra as suas energias, a sua vida à obra de solidariedade humana, com a prática da caridade material e moral, assistindo os necessitados; que esquece a sua própria pessoa para dedicar-se aos seus semelhantes, cumprindo com amor e de todo o coração as recomendações divinas de Jesus-Cristo. Fanático não é, também, aquele que se aprofunda no estudo da filosofia espírita para bem conhecê-la; que frequenta assiduamente as reuniões de estudo e de propaganda da Doutrina, colocando o Espiritismo acima de todas as suas ocupações e preocupações.

            O que, ao meu ver, caracteriza o fanatismo é a preocupação de alguns que querem estar em contato permanente com os Espíritos, ouvindo-os e consultando-os a respeito de todas as coisas, até de assuntos absolutamente materiais, que se prendem muitas vezes a negócios, visando interesses e lucros econômicos e financeiros.  

            Fanático é o que perde a vontade e a liberdade de movimentos, a razão, o raciocínio, para entregar-se, como um autômato, nas mãos do primeiro Espírito que lhe aparecer com ares de guia e diretor.

            É preciso ter muito cuidado com os médiuns, porque nem todos são sempre bem assistidos.

            É preciso verificar, antes de tudo, as qualidades morais dos médiuns, os interesses e preocupações a que se prendem, o seu amor à causa, a sua dedicação e identificação com os santos preceitos dos Evangelhos de Jesus.

            Infelizmente, é um pesar confessá-lo, há muitos médiuns interesseiros, que exploram, que mercadejam com essa divina faculdade, comprometendo-a com a causa do Espiritismo, perturbando criminosamente a obra cristã do Espírito da Verdade, agravando as suas dívidas com o maior pecado de todos os tempos: o pecado contra o Espírito-Santo.

            Fanático é aquele que desejaria ter um Espírito sempre ao seu lado, para conduzi-lo de modo a sair-se bem de todos os seus negócios materiais e em alguns casos morais, embora essa vitória importasse na derrota e no infortúnio dos seus semelhantes.

            Fanático é aquele, espírita ou não, que nada faz, nem mesmo mudar de casa, sem consultar previamente os Espíritos, que devem estar às suas ordens como servos dedicados ou escravos humilhados. Se há um crente que não pode ser fanático nem supersticioso, esse é o espírita. O fanatismo e a superstição revelam a ignorância e a cegueira do espírito.

            E se, porventura, houver espíritas nessas condições, é que ainda não se libertaram inteiramente dos vícios e dos erros das religiões em que nasceram. O fanatismo e a superstição são ervas daninhas que não devem nascer nem viver na alma dos verdadeiros espíritas.

quinta-feira, 29 de março de 2018

A Religião do Futuro



A Religião do Futuro
por Djalma Farias
Reformador (FEB) Junho 1947

Os problemas graves do espírito devem certamente interessar-nos muito mais do que os problemas da vida material, porque para os últimos encontramos soluções efêmeras e condicionadas à época, ao passo que as soluções apresentadas para os primeiros são definitivas, inalteráveis, e radicam-se nas mais elevadas concepções da
imortalidade e da vida espiritual.

Pascal pensava muito bem quando afirmava: "A imortalidade é um assunto que nos importa tanto, que nos toca tão profundamente, que é preciso ter perdido todo o sentimento, para ficar na indiferença de o conhecer".

A filosofia espírita vai aos poucos encontrando sempre solução racional para os mais complexos problemas do espirito, oferecendo-nos esplêndido campo de estudos e observações, onde poderemos colher os frutos mais necessários ao nosso espírito, sempre desejoso de atingir um plano mais elevado na evolução que se processa naturalmente no íntimo de todos aqueles que querem tornar-se discípulos de Jesus e filhos de Deus. 

Feliz da criatura que possui uma fé inteligente, alicerçada na razão, na lógica, na ciência, sobretudo na rocha viva dos santos Evangelhos de Jesus. É esta fé pura e divina, que está iluminando o espírito dos que a possuem, amenizando a vida de infortúnios e de amarguras dos que sofrem, consolando os aflitos; é esta fé indestrutível, que vem dominando almas e corações, que irá constituir a religião do futuro, quando o Espiritismo for bem compreendido e mais bem praticado. E esta fé racional, inabalável, que, operando a transformação do homem, transformará, ipso fato, a própria Humanidade, que se desvencilhará das velhas crenças para aceitar e defender novos ideais, como sucedeu no Cristianismo que destruiu completamente as superstições e os erros do paganismo. Isso ocorrerá pela força mesma do progresso e
a ciência comprovará e firmará os conceitos espirituais da vitoriosa filosofia. Lembro-me bem de uma luminosa reflexão de Gabriel Delanne sobre esse assunto. Eis o que ele escreve: "No dia em que a ciência se persuadir da veracidade do Espiritismo, uma verdadeira revolução transformará o mundo; as pesquisas que têm por único objetivo a matéria se elevarão até à alma e uma nova era abrir-se-á à Humanidade, regenerada por uma fé racional, fazendo-a avançar para a conquista de todos os progressos, que ora mal entrevê. Trabalhemos para penetrar nas profundezas do ser humano, conforme a fisiologia e sob o fulgor do Espiritismo. Tornemos palpável a influência que a alma exerce, tanto no estado consciente, como no estado inconsciente, sobre todos os fenômenos vitais. Esquadrinhemos minuciosamente as relações morais; estudemos a sede das faculdades da alma e havemos de chegar a conclusões promissoras para o destino humano".

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A Linguagem da Ciência



A Linguagem da Ciência
por Djalma Farias
Reformador (FEB) Abril 1947

            "La Vie d'Autre Tombe", apreciada revista belga, transcreve de "Crónique Medicale" o fato seguinte em que intervém o autor do "Chálit du Départ".

            Em 1797, Meehul tinha um amigo muito querido, Bouveret, que desapareceu misteriosamente nos arredores do bosque de Bondy.

            Dez anos depois, o Espírito de Bouveret apareceu a Meehul, pedindo-lhe vingança. As aparições sucederam-se de ano em ano. Certa vez, em sonho, o Espírito indicou a Meehul, com o dedo, a silhueta de um vulto que se ocultava nas cortinas do leito. Na manhã seguinte, Meehul constatou que um malfeitor havia entrado em sua casa, roubando-lhe objetos de valor.

            Passado algum tempo, Meehul passeava nos Campos Elísios e sentiu a mão de um ladrão que deslizava no seu bolso. A estupefação de Meehul foi grande, reconhecendo no criminoso o vulto que vira em sonho. Preso e interrogado, o homem confessou que dez anos antes no bosque de Bondy havia morto para roubar um jovem e que, com a ajuda de um cúmplice, o enterrara no recanto do bosque, que designou.

            Refere-nos, também, a História que o poeta Petrarca um dia escreveu de Parma uma carta, que foi arquivada, a seu amigo, o bispo de Giovam Andreia, dizendo-lhe que tivera um mau sonho - tinha visto um outro amigo seu, o bispo Colona, sair de sua companhia, só, pálido, e limitando-se apenas a lhe dizer que ia a pé até Roma. Petrarca, na sua carta, deduziu que, o bispo seu amigo tinha morrido. De fato, vinte e cinco dias depois, recebeu as comunicações da morte do bispo Colona, ocorrida na mesma hora em que despertava de seu sonho e na mesma noite.           
           Tácito conta que Basilides apareceu a Vespasiano num templo de Alexandria, apesar de se achar doente a muitas léguas de distância.  

            Afonso de Liguori, estando adormecido em Arienzo, pode assistir à morte do papa Clemente XIV, em Roma, e anunciou ao acordar que vira esse fato.

            Antônio de Pádua, estando a pregar na Espanha, em meio do serviço adormeceu, aparecendo em Pádua, onde seu pai, acusado falsamente de homicídio, marchava para a morte. Antônio de Pádua salvou o pai, provando a sua inocência e mostrando o verdadeiro criminoso.

            Camille Flammarion relata-nos que uma moça, ao fim de 7 anos de ternas relações, havia-se separado do homem que amava. Este casou-se e ela nunca mais teve notícias suas. Passaram-se alguns anos, quando em uma noite de Abril de 1893 viu ela entrar em seu quarto uma forma humana, que se lhe dirigiu e debruçou-se sobre ela. Sentiu, então, nos lábios, com terror, o demorado beijo de uma boca gelada. No dia seguinte, cerca de meio-dia, correndo a vista pelos jornais, leu a notícia do falecimento e dos funerais do homem que amara.

            Stuart Mill diz que a linguagem da Ciência tem de ser esta: isto é ou não é, isto se dá ou não se dá. Os fatos existem e deve ser de todo interesse da Ciência estudá-los rigorosamente. Todos os cientistas que os têm estudado, rendem-se à verdade e tornam suas aquela afirmativa sincera de William Crookes: 

            "Tendo-me assegurado da realidade dos fenômenos espíritas, seria uma covardia moral recusar-lhe o meu testemunho. Após seis anos de experiências rigorosamente científicas, não digo que os fenômenos são possíveis, digo que são reais. "


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Semeai, semeai...


Semeai, semeai...
Djalma Farias
Reformador (FEB) Dezembro 1949


            Lançar por toda a parte os ensinos evangélicos, procurando esclarecer as inteligências e dulcificar o coração, nesta hora de confusão e de graves perturbações para o mundo, é a ordem suprema que do Alto temos recebido, porque os tempos são chegados, e a Humanidade, que está perdendo a fé e sentindo o vazio em seu coração, necessita de um estímulo, de um revigoramento espiritual, que lhe possibilite compreender melhor e solucionar satisfatoriamente os problemas materiais e morais, que está, no momento, defrontando.

            Por isso, o trabalho que nos é atribuído nestes últimos tempos é o de semear, semear sempre, com muita prudência e superioridade de vistas, as divinas sementes dos Evangelhos, lutando para que essas sementes, caindo no terreno do coração humano, encontrem condições propícias para germinar, crescer e frutificar.

            É certo que esse trabalho quase sempre se torna árduo e penoso, causando, algumas vezes, decepções amargas àqueles que se iludem quanto ao progresso espiritual do homem, que, infelizmente, não atingiu o grau que muitos vaidosamente supõem.

            Seja como for, devemos cerrar os ouvidos aos tumultos e à grita alucinante do mundo, fechar os olhos ao espetáculo diabólico que se nos apresenta, para cuidarmos de agir, visando o bem do nosso semelhante, a paz entre os homens, a compreensão profundamente cristã dos que têm alguma parcela de responsabilidade.

            E continuo crendo, cada vez com mais firmeza, que somente a pregação evangélica, aliada ao bom exemplo, pode transformar a sociedade, dando ao indivíduo aquele sentido da vida cristã, que desgraçadamente ele ainda não conhece.

            Esse deve ser o empenho de todos os espíritas, que já compreenderam felizmente que não podem guardar com avareza os tesouros de luz e de verdade que a Doutrina consoladora do Espiritismo lhes ofereceu, não só para iluminar lhes os destinos, como para levar essa mesma luz ao espírito de todos os seus semelhantes.

            Considero a pregação e a exemplificação dos ensinos espíritas como o trabalho mais importante, mais árduo e, sobretudo, mais edificante que os espíritas devem realizar, porquanto é imprescindível não perder de vista a finalidade suprema do Espiritismo.

            A semente pequenina da fé evangélica ainda não pode germinar no coração endurecido do homem, ainda não conseguiu abandonar aquele estado de vida latente, em que infelizmente se encontra, para produzir os frutos ansiosamente esperados por Jesus, uma vez que não germinou e, por isso, não pode desenvolver-se, para se transformar na árvore de que nos fala o Evangelho.

            Semear, semear sempre, em toda a parte, deve ser o lema do bom espírita, desejoso de levar ao próximo o conhecimento das verdades  espíritas e cumprir aquela sábia recomendação de Jesus-Cristo: "Ide e pregai".

            Sentimos que nestes tempos os homens bem precisam de alimento espiritual e esse alimento é a palavra do Cristo, que ainda não foi compreendida e muito menos sentida e praticada.

            Temos os espíritas a incumbência de preparar um mundo melhor, um mundo de paz e de fraternidade, de fraterna compreensão entre os homens, de modo que a solidariedade seja a lei fundamental neste planeta.

            Parece um sonho, uma utopia essa pretensão dos espíritas cristãos, um sonho absolutamente irrealizável, mas, o que não padece dúvida nenhuma é que os homens de hoje demonstram possuir melhores sentimentos e compreensão mais clara dos problemas complexos do espírito, o que revela alguma evolução já alcançada.

            Semear a luz, a verdade, o bem, o amor e o princípio de fraternidade na alma cética e
atribulada dos homens de nossos dias, deve ser o mais forte empenho dos espíritas cristãos, desejosos de colaborar com entusiasmo na construção de um mundo melhor.

            Acredito que um dia, no futuro, esse sonho de paz e de fraternidade se tornará realidade, e a fé, o estímulo, o desejo de fazer o bem, a justiça e o amor poderão fazer ninho no coração dos homens, então regenerados e espiritualizados.

            Sei que esse trabalho não pode ser levado a efeito em pouco tempo; sei que é inçado de dificuldades e penas; sei que terá de enfrentar a má vontade e a indisposição de muitos; porém, sei, também, que será vitorioso e tornará felizes todos os que dele participarem, coadjuvando a obra de regeneração, de alevantamento moral e de redenção que os Espíritos superiores estão encarregados de edificar na Terra, sob as vistas amorosas do Cristo de Deus.

            Continuemos, pois, a semear, sempre a semear, com a alma e o coração, na certeza de que em breve colheremos o fruto do nosso trabalho cristão.






domingo, 7 de outubro de 2012

Sigamos Adiante


Sigamos
Adiante
             


            Há, de pouco mais de um século a esta data, um movimento auspicioso para fazer o homem voltar àquela primitiva concepção da Igreja Cristã, da época do Cristo e de seus apóstolos, em que o Cristianismo puro, sem dogmas, sem inovações, sem instituições puramente humanas, era pregado a toda a criatura para iluminar lhe o destino e encaminhá-la à perfeição espiritual, que era, naquele tempo, o supremo objetivo da doutrina incipiente, segundo a sábia recomendação do Cristo, quando nos ensinava: "Sede perfeitos como o vosso Pai Celestial" .

            É evidente esse feliz desejo de todos recordarem aqueles velhos ensinamentos de Jesus, tão simples e puros, tão belos e humanos, aqueles ensinamentos que na alvorada do século III começaram a sofrer a influência comprometedora das inovações perigosas dos homens. Têm, por isso mesmo, muita razão os Espíritos que ditaram a "Revelação da Revelação", compilada por J. B. Roustaing, quando nos disseram, no Volume II, pág. 367, tradução de Guillon Ribeiro, referindo-se à Igreja do Cristo, o seguinte, que reproduzimos como ilustração utilíssima de nossa crônica de hoje: - 

          "A Igreja que os homens instituíram era humana e, portanto, agiu humanamente quando, atendendo às suas necessidades, fez se curvassem as frontes dos que lhe podiam criar embaraços; dominou a matéria por meio de leis materiais e obstou ao desenvolvimento das inteligências, que, do contrário, um dia compreenderiam que ela se transviara. A falta da Igreja não consistiu em haver usado de seu poder material numa época em que os homens precisavam de freios e em que só ela se achava nas condições de os impor. Qual então a sua falta? A falta da Igreja consistiu na sua inércia, no seu espírito estacionário e mesmo retrógrado.

            "Os séculos passaram trazendo cada um o seu contingente de civilização, de progresso, de luz.

            "Só a Igreja se obstina em manter sobre os homens o véu com que lhes cobre as inteligências; só ela persiste em perpetuar a infância da humanidade quando esta, em plena virilidade, se debate por lhe fugir aos entraves. Esforço vão o dela; a seu mau grado o homem usará da sua inteligência. E quantos, impelidos pela inteligência a que ela não quis amoldar-se, a repudiaram, considerando-a demasiado velha para lhes satisfazer às aspirações da alma! Uns chamaram em seu auxílio o nada; outros esperaram, por não saberem nem negar nem crer. Aproxima-se, porém, a hora, da libertação. As faixas vão cair e o espírito humano, regenerado, esclarecido, esquecerá todos os maracás (chocalho indígena) que a Igreja oferece à infância: armar-se-á francamente com as armas do Cristo e entrará na liça."

Djalma Farias
Reformador (FEB) Agosto 1947



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Cristianismo dos Homens




Cristianismo
dos Homens

            Todos os que conhecem os Evangelhos de Jesus sabem que a Igreja Católica Apostólica Romana se desviou do rumo certo que o Cristo havia procurado imprimir ao primitivo Cristianismo, aquele divino Cristianismo sem ídolos e sem altares, sem dogmas e sem mistérios, sem monarquismo (forma de governo em que o chefe de Estado mantem-se no cargo até a morte ou a abdicação).

            A Igreja de Roma afastou-se da fé primitiva e da simplicidade apostólica, enveredando pelos caminhos sinuosos da apostasia.

            Ao descambar do segundo para o terceiro século, a Igreja iniciou as inovações e adulterações, começou a instituir dogmas que hoje constituem o seu grande arsenal religioso.

            Essas inovações e esses dogmas desfiguraram completamente a doutrina religiosa do Cristo, tão consoladora e divina, pregada e exemplificada com tanto amor, dedicação e misericórdia.

            No curso dos séculos, as alterações dos ensinos de Jesus foram sendo feitas pela Igreja Católica nos vários concílios que ela realizou.

            Assim, no ano 325 foi criado o dogma da ressurreição da carne, que substituiu o ensino verdadeiro da ressurreição dos mortos. No ano 550 foi estabelecido o culto dos mártires e dos anjos. No ano 553 foram instituídas as procissões antes da festa da páscoa.

            O culto em língua estrangeira foi adotado no ano 600. No ano 606 começaram a surgir as primeiras pretensões do papa sobre soberania. As primeiras festas em honra da Virgem foram celebradas em 650, partindo mais ou menos dessa época o exagerado culto a Maria, considerada pela Igreja a mãe de Deus e, por isso, avó de seu próprio filho. Nessa época surgiu a Mariolatria.

            No ano 788 foi instituído, com solenidade, o culto idólatra das imagens e das relíquias e, em 890, o culto a São José. A canonização dos santos foi decretada em 993.

            No ano 1. 000 foi imposto aos clérigos o celibato e em 998 foi instituída a festa em comemoração dos mortos.

            O dogma da infalibilidade da Igreja Romana foi decretado em 1076.

            O uso dos rosários foi adotado em 1090.

            O dogma absurdo da transubstanciação do pão em Deus foi decretado no ano 1215.

            A Igreja adotou o dogma lucrativo do purgatório no ano 1477.

            Em 1516 principiou-se a pôr as tradições no mesmo nível das Escrituras.

            A 8 de Dezembro de 1804 apareceu o célebre "Sílabus" do papa Pio IX, que condena o progresso e todas as liberdades humanas, e no concílio de 1870, em que se sancionou o "Sílabus", foi decretado o dogma da infalibilidade do papa.

            E assim, como se vê, foi completamente esquecida a primitiva religião de Jesus-Cristo. O verdadeiro Cristianismo, o Cristianismo do Cristo, foi desfigurado, perdeu, no curso dos séculos, aquela fisionomia inconfundível, que o tornava a mais pura e a mais elevada religião dos homens conhecida. Aqueles dogmas e inovações, aquelas doutrinas e preceitos humanos, comprometendo e deturpando a Doutrina divina do Cristo, fizeram nascer o cristianismo dos homens.

            Ao Espiritismo, em nossos dias, cabe a missão de restabelecer a verdadeira doutrina de Jesus Cristo.

por Djalma Farias
Reformador (FEB) Setembro 1948



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Verdadeiro Espírita



O Verdadeiro Espírita

            Ninguém deve procurar no Espiritismo senão o que possa concorrer para o seu progresso moral e intelectual, porque o objetivo supremo do Espiritismo é melhorar os homens, é promover a reforma moral da criatura humana.

            O verdadeiro espírita não é certamente aquele que crê nas manifestações, porém, aquele que se aproveita dos ensinos que os Espíritos nos têm dado, no sentido de praticar os velhos princípios cristãos, que agora, estão sendo restabelecidos nas mesmas bases em que Jesus Cristo os erigiu, naquela pureza primitiva, simples e divina, sem ídolos, dogmas e ritualismo, sem culto externo, nem atos litúrgicos.

            A doutrina espírita não se impõe, não é intolerante, nem exclusivista.

            É, na realidade, a concretização perfeita do Cristianismo na pureza e humildade dos tempos de Jesus.

            Ela está triunfando evidentemente porque nasceu nos braços da ciência, que é a sua base fundamental, evolve com os princípios da mais espiritualizada filosofia e colima (observa por meio de um instrumento apropriado) necessariamente a religião primitiva de Jesus-Cristo, nosso divino Mestre, Senhor e Salvador.

            Ela, apoiada nesse fundamento, jamais estacionará, acompanhará naturalmente, como doutrina progressista que o é, a ciência, incorporando ao seu patrimônio doutrinário as descobertas e revelações científicas, combatendo sempre o milagre, a crendice, o maravilhoso, o sobrenatural, as superstições e defendendo, intransigentemente, o livre exame e a liberdade de pensamento e de consciência. Combate o erro e a má fé, a hipocrisia e o fanatismo.

            O Espiritismo é a religião do foro íntimo, do culto das virtudes, cristãs; não tem ritos, sacramentos e cerimônias. Está fundado num princípio eterno: "Fora da caridade não há salvação". Conhecem-se os verdadeiros espíritas, que são sacerdotes da própria salvação, pelo constante empenho e viva preocupação de se fazerem cada vez melhores e se tornarem úteis e bons servidores dos seus semelhantes.

            Os que se dizem espíritas, mas não se esforçam para promover o seu aperfeiçoamento espiritual, podem ser considerados convencidos da doutrina, porém, nunca convertidos à doutrina. Os verdadeiros espíritas, os espíritas cristãos, não fazem jamais o mal e não perdem oportunidade de fazer o bem. Amam o amigo e muito mais ainda o inimigo. Aliás, devo observar que os espíritas não podem ter inimigos. São sempre amigos sinceros de todos, leais, desprendidos e desinteressados, porque não podem ser espíritas os que exploram ou enganam os seus semelhantes; os que se ocupam de cartomancia, sortilégios ou adivinhação para iludir e mistificar, atribuindo-se falsas faculdades para embair a boa fé dos ignorantes.

            Todo trabalho ou serviço prestado, em nome do Espiritismo, não deve absolutamente visar qualquer remuneração ou recompensa direta ou indireta, uma vez que sabemos que a caridade é a alma da nossa doutrina. Sejamos bons, humildes e virtuosos, façamos sempre o bem e nunca o mal e estaremos naturalmente caminhando para Jesus, nosso divino Senhor.

Djalma Farias
Reformador (FEB) Novembro 1947



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O Conceito de Igualdade


O Conceito
de Igualdade

            Perante Deus todos os homens são absolutamente iguais, todos tiveram o mesmo princípio e caminham para o mesmo fim, pois as suas leis, imutáveis e justas, foram feitas para todos indistintamente.

            Perante Deus, que é o Justo, por excelência, os homens apresentam-se no mesmo plano, ressalvado, apenas, o grau de evolução espiritual que cada um tenha atingido.

            Os homens ricos e os pobres, os de posição social elevada e os humildes e os simples apresentam-se sempre diante das vistas do Criador como suas criaturas, a nenhum tendo sido conferida superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela nobreza, nem pela morte. A própria lei humana, ainda falha e imperfeita, consagra essa igualdade, não reconhecendo, a nenhum título, privilégio de qualquer natureza.

            A velha conquista da Revolução Francesa, que estabeleceu os direitos sagrados da pessoa humana, está ainda de pé: "todos são iguais perante a lei".

            E essa conquista, por mais brutal que seja o despotismo, jamais será destruída. A desigualdade que notamos nas condições sociais é obra do próprio homem e não de Deus.

            Problema deveras complexo e de solução difícil, a igualdade, que é lei natural, assegura a todos o legítimo direito de viver, de trabalhar, de conquistar os mais altos degraus na escada da perfeição. 

            A todos assegura Deus sempre os meios necessários à conquista de melhor posição material na sociedade.

            As opressões, que constituem excesso de autoritarismo, os despotismos, os privilégios de raça, de casta, nobreza, de posição social, são, por assim dizer, contravenções à lei natural, que o progresso das inteligências, uma melhor compreensão da vida e a própria luta pela existência farão desaparecer lentamente da face da Terra.

            E o que é verdade é que esse divino conceito de igualdade fixa-se cada dia melhor na mente dos homens, desaparecendo e apagando-se gradualmente a desigualdade porventura ainda existente entre os homens, porquanto eternas e perfeitamente justas só as leis de Deus o são.

            Essa desigualdade desaparecerá inteiramente quando o orgulho e o egoísmo, que são os maiores males da Humanidade, deixarem de predominar, cedendo lugar à humildade e ao amor ao próximo.

            Os que, na ignorância das coisas espirituais e da lei de causa e efeito, ousam abusar da sua posição ou da sua autoridade, para oprimir os fracos e os humildes, são criminosos que sofrerão, a, seu turno, o jugo da opressão.

            Terão de renascer numa existência em que provarão tudo que tiverem feito de mal aos outros. Com efeito, sofreremos todos nesta e nas futuras existências na mesma medida do mal  e da opressão que causarmos aos aos nossos semelhantes.

            Mas, a compreensão dessa igualdade somente se tornará mais clara quando os homens sentirem em seus corações o verdadeiro amor cristão e praticarem os velhos e sublimes ensinamentos de Jesus-Cristo, divino Mestre e Senhor nosso.

            Até então poderemos ver inúmeras tentativas para desvirtuar o sagrado conceito da igualdade natural.

            Virá um dia; porém, em que os membros da grande família humana se reconhecerão como irmãos e ninguém se considerará nobre e de sangue puro. Só o Espírito é mais ou menos puro e isso não depende da posição social.

por Djalma Farias
Reformador (FEB) Novembro 1948





sexta-feira, 15 de junho de 2012

A Missão de Jesus



A Missão de Jesus

por Djalma Farias

    
        
         Anunciada há alguns séculos, por vários profetas, a vinda de Jesus, constituindo um acontecimento histórico de importância indiscutível, foi o coroamento natural da obra grandiosa de Moisés, a demarcar nova e auspiciosa fase para a humanidade sofredora.

            Com efeito, a História do mundo poderia dividir-se em dois grandes períodos: o primeiro, desde os mais remotos tempos até o aparecimento do Cristo; e o segundo, desse acontecimento até os nossos dias, tal foi, na verdade, a transformação que se operou na terra com o advento do Cristianismo.

            A obra social e moral de, Jesus, analisada com imparcialidade e independência, revela-se--nos admirável; pelo cunho de perfeição com que foi realizada, estatuindo regras e princípios suscetíveis de implantar no mundo a felicidade por todos tão desejada.

            Encontrando o povo judeu humilhado e oprimido, a reclamar um libertador que devia sair da casa de Abraão, e que, à frente de exércitos, pudesse restituí-lo à liberdade, e compreendendo o pensamento dominante no seio da família de Israel, Jesus soube orientar, com habilidade, a propaganda de sua doutrina justamente para a liberdade, mas a liberdade moral, procurando convencer os seus contemporâneos, com argumentos irrespondíveis, que só a verdade os faria livres.

            O homem terreno, imperfeito, escravizado pelos vícios, joguete de mil tentações, precisaria conhecer os meios de se redimir dessa detestável escravidão moral, responsável por toda a sorte de infortúnios e dores que o têm cruciado. O passado sombrio e comprometedor, proporcionando a expiação do presente, teria de ser resgatado, e o tempo perdido recuperado, devendo o homem redimir-se, alijando as imperfeições que tem originado as suas dores, e, longe de se deixar escravizar pelos vícios e paixões inferiores, cumpria-lhe, ao contrário, dominá-los, passando de escravo a senhor. É' nesse sentido que se deve compreender a redenção trazida por Jesus ao mundo. E não pode haver mais feliz concepção de liberdade.

            Os ensinos do Cristo estabeleciam também a igualdade e preparavam a fraternidade, expondo a verdadeira situação da humanidade pela explicação clara dos destinos humanos, ninguém pretendendo ser superior ou senhor, pois que o senhor, que era Ele, viera não para ser servido, mas para servir, não devendo o amo julgar-se acima do servo. Aboliu assim o preconceito de classes e castas, de família e posição, acertando que quem quisesse ser o maior fosse o menor.

            Era evidentemente a condição de igualdade expressa na sua fórmula mais simples, e, talvez por isso, mais impressionante.

            Dessa lição de igualdade decorria naturalmente a pratica da fraternidade pelos laços de solidariedade, laços que viessem unir as criaturas como filhos do mesmo e único Pai, que é Deus.

            O aspecto social da missão de Jesus é sempre novo e interessante, graças ao apelo que faz aos homens para solidarizarem-se na luta pela vida, pela tendência a uma justa fórmula de organização social, em que não tenhamos de ver misérias, opressões e despotismo, em que se possam solucionar a contento as graves questões da autoridade e da ordem, do capital e do trabalho.

            O socialismo pregado por Jesus-Cristo encara o problema da vida sem ilusões e privilégios, considera a fortuna e a pobreza como contingências momentâneas e expiação, ninguém se julgando proprietário, porém, depositário de bens, estimula os homens ao exercício constante da caridade, do amor e da justiça, pelos conselhos salutares que oferece, não se devendo fazer aos outros o que se não quereria que os outros lhe fizessem. Seria a melhora da sociedade pela melhora do indivíduo, cada um compenetrado dos seus deveres morais para com o próximo, certeza de que o futuro seria pior ou melhor conforme o uso que fizesse do seu livre arbítrio.

            A sociedade humana, regulada pelas leis da moral evangélica, seria o reino dos céus implantado na terra.

            Quanto mais dessa norma de conduta afastar, mais o homem sofrerá e acabará por se convencer que só Jesus poderá salvar o mundo e dar-lhe a felicidade tão reclamada.

            Os conselhos e advertências que sempre lhes afluíram aos lábios, as bem-aventuranças celestes definidas com um encanto surpreendente no magnífico Sermão da Montanha, sermão profundamente humano e consolador, pelo lenitivo que oferece aos pobres e aos miseráveis deste mundo, emprestam à sua missão uma face nova, visando levantar o ânimo do fraco, do desiludido, do pária, com a perspectiva da felicidade celeste, conquistada a troco da paz, da humildade, da resignação.

            O ensino que sobreleva quantos Ele ministrou aos homens é o do amor ao próximo, fundamento de toda a sua doutrina, o amor que conduzirá à perfeição, e de que Ele foi a mais eloquente personificação. 

            Não tendo vindo derrogar a lei divina, porém, cumpri-Ia, substituiu o Cristo as prescrições moisaicas de caráter humano por novas e oportunas leis; a violência pela brandura, o material pelo espiritual. A magistral concepção de Deus e do mundo, singular e inédita, os ensinamentos a propósito da existência e imortalidade da alma e sua evolução pelos sucessivos renascimentos, o conforto e a resignação que oferece aos homens, tudo isso tornou a extraordinária doutrina de Jesus o farol a iluminar a Humanidade em demanda da perfeição.      

            Pela excepcional natureza do seu espírito puríssimo, tão profundas foram as suas ideias e tão intensa foi a luz que esparziu, que os homens, deslumbrados, o confundiram com Deus, de Quem Ele sempre se dissera filho e criatura, com Quem havia aprendido e cujas ordens apenas diligenciava por executar.

            A missão de Jesus, à luz do Espiritismo não se circunscreve apenas ao período de anos em que parece ter aqui vivido, mas remonta ao passado e avança, infinito em fora, sobre o futuro da terra e da sua humanidade, pois Ele existia antes da criação do planeta, a cuja forção cósmica assistiu, partindo de então a sua missão espiritual, na qualidade de guia e diretor da terra.

            Sob esse novo ponto de vista, o seu espírito surge-nos ainda agora como o orientador desse formidável movimento espiritualista que sacode o mundo, pela promessa que fizera certa vez de que não nos deixaria abandonados e enviaria em breve  o Consolador - o Espiritismo - para lembrar os seus ensinos e aditar outros que os pósteros pudessem compreender e aceitar.

            De sorte que a sua extraordinária e divina missão não se encerrou, mas continua o seu ciclo infinito, porquanto Ele afirmara que estaria conosco até à consumação dos séculos.


Fonte: Reformador (FEB) Jan 1948


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Giordano Bruno, Galileu Galilei e outros perseguidos pela igreja de Roma


Doutrinas Novas
por Djalma Farias
Reformador (FEB)  Março 1947

            Devem estar lembrados os nossos caros leitores daquela velha observação que o sábio geólogo Agassiz formulou há longo tempo e que tem sido sempre aplicada no curso da História.
            É esta a observação: “Todas as vezes que um fato novo e admirável aparece na Ciência, há logo quem exclame: Não é possível. E depois: É contrário à religião. E por fim: Há muito que se tinha notícia disso.”
            Eis aí uma reflexão cem por cento verdadeira e, a cada passo, dela nos recordamos.
            De fato, todas as idéias e doutrinas novas suscitadas e alimentadas pelo progresso das inteligências têm encontrado obstáculos aparentemente insuperáveis.
            Mas, o progresso da Ciência consegue sempre vence-los. A História, a grande mestra da vida, na expressão de Cícero, registra fatos e acontecimentos que provam à evidencia a realidade daquela expressão de Agassiz.
            Mal começam a cintilar as luzes de uma verdade nova e logo os demagogos de todos os tempos erguem as mãos para apagá-las.
            Vimos em Bolonha, segundo o testemunho da História, que Pietro d’Álbano, autor do “Tratado de Astronomia”, ser queimado, em efígie, em 1327.
            Em Florença, Cecco d’Ascoli é condenado por ser adepto da teoria do movimento da Terra. Por ter professado, também essa doutrina, Giordano Bruno é queimado em Roma, a 17 de Fevereiro de 1600. Ainda em Roma, o cadáver do sábio Antônio de Dominis é desenterrado, em 1625, no Castelo de San Angelo, onde havia morrido como prisioneiro, para ser atirado às chamas vingadoras, Campanela, por ter professado uma filosofia semelhante à de Galileu, foi sete vezes torturado e esteve preso durante vinte e sete anos. Também Copérnico, padre, autor de “Astronomia Nova”, teria sofrido os horrores da Inquisição, se não houvesse morrido antes da publicação do seu livro, de que apenas pode tocar, em seu leito de agonia, com as mãos já frias, o primeiro exemplar que saiu do prelo.
            Contudo, isso não foi razão bastante forte para que, os que não o puderam queimar vivo, deixassem de queimar com solenidade o seu livro. Kepler, o continuador da obra de Copérnico, que era protestante e nunca saíra da protestante Alemanha, durante toda a sua vida foi perseguido e acusado de herege, pelos homens da Igreja. Sua tia Guldeman foi queimada, como feiticeira, em Well. Sua mãe foi também acusada como feiticeira, sendo encarcerada, em Stuttgart, no ano de 1615. Permaneceu encarcerada durante cinco anos e só a muito custo foi libertada.
            O sábio monge de Oxford, Roger Bacon, passou a maior parte da sua vida preso, ora em uma célula do seu próprio convento, ora no cárcere, como a antecipar a época das descobertas e das perseguições que, por causa delas, teriam que sofrer mais tarde os seus autores! E o seu grande crime, o seu monstruoso delito, era ocupar-se com a Física e com a Astronomia!
Pela mesma falta, dois séculos depois, o seu homônimo Francis Bacon, fora Galileu lançado ao Index pelos eclesiásticos ingleses!
            Também na França, Descartes, filósofo dos mais distintos, espiritualista por excelência, cuja ortodoxia era profundamente sincera, e que, sempre que pronunciava o nome de Deus, descobria-se respeitosamente, passou a vida inteira errante, exilado e perseguido por todos e odiado pelos devotos por causa das suas idéias.
            Em 1630 era Galileu encarniçadamente perseguido pelos padres romanos, e a publicação dos seus imortais ‘Discursos’ onde demonstrava o movimento  da  Terra  e  outras verdades
astronômicas, provocou grandes rancores contra a sua pessoa que só cessaram com a morte do sábio florentino, depois da  abjuração  solene e muito humilhante perante Urbano VIII  e seu sacro colégio, da leitura do decreto pontificial, no qual, muito santamente, foi proibido para o futuro, de viva voz e por escrito, o ensino de sua doutrina!.. Conta-se, também, que um sábio astrônomo jesuíta desceu, certa vez, as escadas da masmorra, sobraçando a Bíblia, para provar ao sábio octogenário Galileu que a sua doutrina era contrária às escrituras sagradas: “Não sabe o meu mestre, diz solenemente o jesuíta, que a sua doutrina do movimento da Terra é contrária à Bíblia? Não sabe que a Bíblia nos refere ter Josué feito parar o sol?  E como ousa o mestre ensinar o contrário? Galileu, velho, respeitável, cabelos fios de neve, ergue-se do seu mocho e, com o carinho de um pai, responde: “Sim, meu filho, conheço a Bíblia, sei o que ela ensina e que Josué fez parar o sol, mas como ele não deu contra-ordem, até hoje, o sol continua parado, fixo, tendo, então, a Terra iniciado o seu movimento em torno dele. É por isso que, ensino que a Terra se move.”

            Na verdade, foi muito feliz a resposta de Galileu.

Fantasma de Galileu
Antônio Túlio*
Reformador (FEB)   Janeiro 1958
* Ismael Gomes Braga

            Na coleção de livros contra o Espiritismo, publicada sob o título ‘Contra a Heresia Espírita’, o 7º tomo é sobre Galileu Galilei e Giordano Bruno e traz o nome ‘Galileu Galilei - à luz da História e da Astronomia’. Foi escrito por José Bernard, S. J. e é prefaciado por Frei Boaventura, O.F.M.
            A finalidade do livro é acusar de novo Galileu e defender a Igreja.
            Reconhece que Galileu foi um gênio de primeira grandeza, mas lhe ataca a moral. Diz que ‘em Pádua tinha três filhos sem estar casado’ (pág. 22); que era arrogante, combativo, desrespeitoso e assim desencadeou ódios que culminaram pela sua condenação.
            Quanto a Giordano Bruno igualmente faz tremendas acusações contra sua moral e sua agressividade. Diz que a condenação não foi por causa das suas descobertas astronômicas, mas por imoralidade e heresias. Um lamentável erro tipográfico na pág. 66 diz que ele foi queimado ‘vido em 17-2-1699’. Foi em 1600, aos 52 anos de idade, pois que nasceu em 1548.
            O livro foi escrito especialmente contra os espíritas, como fica dito no prefácio, o que nos dá certo prestígio. Pensamos que essa coleção de livros nos faz demasiada honra.
            A propósito do decreto que condenou o livro de Copérnico, o autor é muito elegante. Diz na pág. 35:
            Este funesto decreto é sem dúvida um dos atos mais infelizes jamais realizados por um órgão oficial da Igreja Católica. Condena uma verdade das ciências naturais e o faz por um  motivo religioso.”
            Sobre a sentença contra Galileu, lemos na pág. 57:
            Assim chegou no dia 22-6-1633 o desfecho da triste drama, a publicação oficial da sentença. O ato se fez na aula magna (não na igreja!) do colégio dominicano Maria sopra Minerva, só em presença dos membros do S. Ofício (Inquisição). Os juízes declaram: Galilei se tornou suspeito de heresia. Existe a suspeita de ter ele defendido a doutrina falsa e contrária à Sagrada Escritura de que o Sol seja imóvel, a Terra móvel, o Sol e não a Terra o centro do mundo e que se passa sustentar e defender como provável uma opinião ainda depois de ela ser declarada contrária à Sagrada Escritura. Desta forma Galilei incorreu nas censuras eclesiásticas das quais será absolvido se fizer abjuração. Seu livro é proibido, ele mesmo condenado à prisão segundo o beneplácito da Inquisição e, durante três anos, rezará semanalmente os sete salmos penitenciais.”
            O livro ataca fortemente Camille Flammarion que cita em ‘Astronomie Populaire’ os episódios das condenações de Giordano Bruno e Galileu. As palavras de Flammarion vêm citadas na pág. 63.
            A fim de demonstrar que queimar vivo não era privilégio da Igreja, o autor nos cita o seguinte fato:
            Em 1307, Filipe IV, o Belo, cobiçou os ricos bens da Ordem dos Templários. Em 12 de Outubro daquele ano, o rei fingido distinguiu o grão-mestre Jacob de Molay com grandes honras e no dia seguinte o lançou repentinamente na prisão com todos os cavaleiros, membros da Ordem na França. 54 cavaleiros que se prontificaram a testemunhar pela inocência da Ordem foram queimados vivos em Paris. Em todos os casos (p. ex. fora da França, onde foi aplicada a tortura), ficou patente a inocência dos cavaleiros. O Papa protestou, mas em geral mostrou-se fraco, e aboliu a Ordem. A 13-3-1314 o rei mandou queimar vivo também o grão mestre.” (Pág. 67.)
            Esse rei católico morreu nesse mesmo ano de 1314, em que mandou queimar vivo o grão mestre dos Templários. Não sabemos se é honroso para a igreja o episódio citado, de fato ocorrido no mundo católico, havendo sido queimados vivos 55 homens inocentes e virtuosos, com a finalidade expressa de se apoderarem dos bens da Ordem.  Temos mais compaixão  de Filipe, o Belo, do que de suas numerosas vítimas.
            Mais de três séculos depois do processo inquisitorial que condenou Galileu, seu fantasma ainda assusta a Igreja e a leva a acusá-lo de novo, como vemos nesse livro.
            Como defesa da Igreja, o livro não tem valor algum; ao contrário, confirma a verdade triste de sua História. E essa História já vem de longe. As perseguições contra os judeus, movidas pela Igreja e continuadas através de séculos, nunca serão esquecidas. As Cruzadas, guerras de pilhagem e extermínio, em nome da Igreja, duraram quatro séculos. Esse longo passado é indefensável. Atacar o Espiritismo, ainda tão jovem, é inútil. Cumpre reconhecer que é preciso fazer tudo de novo, porque o passado está todo errado.



Giordano Bruno
e a Filosofia Natural
Trechos de artigo de Carlos Bernardo Loureiro
Reformador (FEB) pág. 336 Novembro 1993

                Giordano Bruno (cujo verdadeiro nome era Filippo Bruno) nasceu em Nola, reino de Nápoles, no ano de 1548, e faleceu na manhã de 17 de fevereiro de 1600, no Campo Dei Fiori (Praça das Flores), em Roma, consumido, em vida, pelas chamas infamantes da fogueira inquisitorial.
            Ainda adolescente, entra para a Ordem dos Dominicanos, de onde é afastado por heresia. Ao deixar o mosteiro, começa a sua vida errante, visitando Nápoles, Gênova, Milão, Veneza e Nice, sendo considerado “persona non grata” pela audácia de suas opiniões. Em 1580, estava em Gênova, quando abraça o Calvinismo. Desentendendo-se, mais tarde, com Calvino, passou a Lyon, depois a Toulouse e, por último, a Paris. Encontrou, na “Cidade Luz”, poderosos protetores, mediante os quais obteve a permissão de ensinar Filosofia na Universidade de Paris, onde fez refulgir o seu talento e a sua prodigiosa cultura. Posteriormente, passou um ano em Londres (Inglaterra), Entre 1584 E 1585, quando publicou as suas principais obras: “Da Causa, do Princípio e da Unidade” (1584): “Do Infinito, do Universo e dos Mundos” (1584), ambos em italiano.
            Retorna a Paris, de onde segue para Wittenberg, Praga e Helmstad. Por onde passava, Giordano Bruno deixava uma inapagável impressão nos espíritos ávidos de esclarecimentos sobre o problema do ser. Denominava-se a si mesmo “Excubitor” ou “Acordador de Almas”. Em 1592, volta, imprudentemente, a Veneza, refugiando-se com o patrício Giovanni Mocenigo. Este o entrega ao Santo Ofício. É preso e levado para Roma.”...
           
            “...Na manhã  fria de 17 de fevereiro de 1600, Giordano Bruno caminha, resoluto, para o martírio. Iria se cremado, vivo, por ordem do Tribunal do Santo Ofício, monstruosa instituição gerada nas entranhas do Vaticano...”