Sigamos
Adiante
Há, de pouco mais de um século a
esta data, um movimento auspicioso para fazer o homem voltar àquela primitiva
concepção da Igreja Cristã, da época do Cristo e de seus apóstolos, em que o
Cristianismo puro, sem dogmas, sem inovações, sem instituições puramente
humanas, era pregado a toda a criatura para iluminar lhe o destino e
encaminhá-la à perfeição espiritual, que era, naquele tempo, o supremo objetivo
da doutrina incipiente, segundo a sábia recomendação do Cristo, quando nos
ensinava: "Sede perfeitos como o vosso Pai Celestial" .
É evidente esse feliz desejo de
todos recordarem aqueles velhos ensinamentos de Jesus, tão simples e puros, tão
belos e humanos, aqueles ensinamentos que na alvorada do século III começaram a
sofrer a influência comprometedora das inovações perigosas dos homens. Têm, por
isso mesmo, muita razão os Espíritos que ditaram a "Revelação da
Revelação", compilada por J. B. Roustaing, quando nos disseram, no Volume
II, pág. 367, tradução de Guillon Ribeiro, referindo-se à Igreja do Cristo, o
seguinte, que reproduzimos como ilustração utilíssima de nossa crônica de hoje:
-
"A Igreja que os homens
instituíram era humana e, portanto, agiu humanamente quando, atendendo às suas
necessidades, fez se curvassem as frontes dos que lhe podiam criar embaraços;
dominou a matéria por meio de leis materiais e obstou ao desenvolvimento das
inteligências, que, do contrário, um dia compreenderiam que ela se transviara.
A falta da Igreja não consistiu em haver usado de seu poder material numa época
em que os homens precisavam de freios e em que só ela se achava nas condições
de os impor. Qual então a sua falta? A falta da Igreja consistiu na sua
inércia, no seu espírito estacionário e mesmo retrógrado.
"Os
séculos passaram trazendo cada um o seu contingente de civilização, de
progresso, de luz.
"Só a Igreja se obstina em
manter sobre os homens o véu com que lhes cobre as inteligências; só ela
persiste em perpetuar a infância da humanidade quando esta, em plena
virilidade, se debate por lhe fugir aos entraves. Esforço vão o dela; a seu mau
grado o homem usará da sua inteligência. E quantos, impelidos pela inteligência
a que ela não quis amoldar-se, a repudiaram, considerando-a demasiado velha
para lhes satisfazer às aspirações da alma! Uns chamaram em seu auxílio o nada;
outros esperaram, por não saberem nem negar nem crer. Aproxima-se, porém, a
hora, da libertação. As faixas vão cair e o espírito humano, regenerado, esclarecido,
esquecerá todos os maracás (chocalho indígena) que a Igreja oferece à infância: armar-se-á
francamente com as armas do Cristo e entrará na liça."
Djalma Farias
Reformador (FEB) Agosto 1947
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