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"No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus."
Era Deus, sim, no sentido de que, tendo
percorrido os mesmos ciclos de remota evolução que todas as criaturas, já
estava plena e conscientemente reintegrado em sua natureza originária
participando dos atributos do Criador, veículo que se tornara de suas volições,
não, porém, no sentido da teologia dogmática, que pretende fazer do Cristo o
próprio Deus, com esquecimento da dependência e subordinação em que ele próprio
frequentes vezes se confessou em relação ao Pai, a quem de outra sorte não se
compreenderia que deprecasse um acréscimo de dons, como nesta invocação:
"Tu pois agora, Pai,
glorifica-me a mim em ti mesmo, com aquela glória que eu tive em ti antes que
houvesse mundo (1)."
(1) João, XVII, 5.
Resplandecia,
pois, o Verbo na glória do Pai eterno quando, concentrando Este o pensamento,
naquele minuto da eternidade a que nos reportamos, na região do infinito em que
se ia exercer a sua onipotência criadora, ao Verbo conferiu poder para atrair a
si as partículas dinâmicas, segundo uns, no dizer de outros os Egos divinos, em
torno dos quais se formariam "centros de consciência," ou, como por
nossa parte o preferimos, os germens ou princípios espirituais destinados a
constituir o substrato de vida nesse trecho do universo em via de elaboração.
Simples e ignorantes, em sua origem,
esses princípios espirituais contêm em si todas as capacidades latentes,
susceptíveis de infinitos desenvolvimentos, que as leis de sua própria evolução
vão sucessivamente converter em realidades atuais. O seu deslocamento do oceano
de fluido cósmico primitivo, para a gestação da nebulosa em que se vai exercer
a sua atividade, constitui para eles o primeiro ritmo vital. Mas ainda não é a
sua própria vida. É
preciso que de involução em involução, mediante desmembramentos e condensações,
em que se irão sentir cada vez mais aprisionados, da nebulosa se destaque o
mundo e que, neste a natureza se organize em reinos, para que através destes se
opere a sua individualização, do estado rudimentar, simples força de coesão, em
que termina o ciclo involutivo, ao grau de instinto e daí ao de plenitude
consciente.
Desse processo de condensação, em
sua fase inicial, nos dão conta as diversas hipóteses cosmogônicas formuladas
para explicar a gênese do mundo, das quais a mais recente é, como o aludimos em
começo, a do "turbilhão," concebida por Emílio Belot e que, sem contradizer
a teoria de Laplace, cujo ponto de partida é a nebulosa, de que surgiu o nosso
sistema planetário, pretende apenas completa-la, recuando a indagação ao
período anterior a essa mesma nebulosa e buscando surpreender o processo de sua
formação .
Baseando-se na configuração das
nebulosas da Lira, semelhante a um penacho de fumo, de Andrômeda, do Triângulo,
do Cão de Caça e de Orionte, que se apresentam em forma de espiral, como o
atestam as fotografias obtidas no observatório de Yerkes, e inferindo que a
nebulosa geradora do sistema solar deveria ser analogamente constituída,
imagina aquele ilustre cientista que a matéria cósmica primitiva tomara a forma
de um tubo-turbilhão, lançado no espaço, rumo da constelação de Hércules, com
uma velocidade giratória, em sua periferia, de cerca de 75 mil quilômetros por
segundo. Encontrando na passagem uma nuvem cósmica, espécie de nebulosa
flutuante no éter, a extremidade do 'tubo-turbilhão recebeu
um
violento choque, de que resultou o seu fracionamento, à semelhança de um jato de
água que, batendo de encontro a uma pedra, se divide em nós estrangulados e em ventres
dilatados. Assim o turbilhão se fracionou em nós e ventres alternados
e equidistantes, cada um destes em seguida se expandindo num lençol de matéria
cósmica em forma de tulipa, que deu origem simultaneamente aos planetas do sistema
solar - Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter,
Saturno, Urano e Netuno - formados quase ao mesmo tempo que o Sol e desde então
submetidos às leis da gravitação universal.
Essa hipóteses turbilhonar nada tem
de inadmissível, parecendo apenas, a um outro eminente cientista (1), um tanto
audaciosa. Mencionamo-la contudo unicamente a título de subsídio teórico e para
fazer ressaltar que, reportando-se embora ao estado remoto da nebulosa originária
do sistema solar, não resolve ainda assim a questão referente à Causa primária,
que de resto os dados exclusivamente científicos são impotentes pura, descobrir
e não pode residir senão naquela Vontade onipotente, raiz de todos os dinamismos
e de todas as criações universais.
(1) H. Poincaré, LEÇONS SUR LES HYPOTÈSES
COSMOGONIQUES.
Ou tomemos, pois, a matéria cósmica
sob a primitiva forma de tubo-turbilhão, fracionando-se ao contato de uma nuvem
da mesma natureza flutuante no éter - resistência engenhosamente imaginada para
justificar esse fracionamento, - ou nos limitemos a considerar os corpos do
nosso sistema planetário resultando de anéis sucessivamente desprendidos do círculo
equatorial da nebulosa, em virtude da predominância de uma das forças, centrífuga
e centrípeta, sobre a outra, como se encontra na hipótese de Laplace,
confirmada pelo ensino dos espíritos (1), o que de todo modo resulta é uma
direção volitiva tendente
a transformar o fluido primitivo em nebulosa e a nebulosa em astros, de cuja
gradual condensação vai resultar o que em nossa linguagem denominamos vida
organizada.
(1) Allan Kardec, A GÊNESE, cap, VI, "Uranografia
geral", págs. 110-112.
Do aparecimento dessa organização
vital em nosso mundo, através de épocas milenárias cujo transcurso é medido por
milhões de anos (2), se ocupa Allan Kandec na obra
que abaixo, em nota, mencionamos e de cujos ensinamentos nos vamos socorrer,
completando-os com os mais recentes dados fornecidos pela geologia e a paleontologia, resumindo-os embora consideravelmente, como o
exige a natureza sintética deste simples esboço.
(2) Segundo Lvell e outros naturalistas, mais de 300
milhões de anos teriam decorrido da solidificação das camadas superficiais
terrestres até a nossa época. Essas conclusões foram, porém, impugnadas por
alguns físicos, que não admitem mais de 100 milhões. Tomando-se, por mais
moderado, esse cálculo como base, teremos ainda assim estas cifras colossais
para os três grandes períodos geológicos: - Época primária, 75 milhões de anos;
época secundária, 19 milhões: época terciária, 6 milhões. (Ver Gabriel Delanne,
A EVOLUÇÃO ANIMICA. págs. 129).
Outros, admitindo esse limite total,
o dividem contudo do seguinte modo:
52 milhões de anos, para o período
primário:
34 milhões para o secundário;
14 milhões para o terciário.
O período quaternário (aparecimento
do homem) é avaliado de 100 a 300 mil anos. (Dr. Gustave Geley, LES PREUVES DU
TRANSFORMISME, págs. 187 - 8 que adiante citamos).
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