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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Res non verba

                      


Res non verba  (fatos não palavras)

por   M. Quintão  Reformador (FEB) Janeiro 1923

             O fato merece glosado, (ser comentado)  em que pese a transcrição integral feita pelo nosso confrade Fred Fígner, em uma de suas crônicas Espíritas do prestigioso ‘Correio da Manhã’ e a que faz, neste mesmo número, o Reformador.

            Não é que o fato seja dos mais surpreendentes nem inusitados para quantos se ilustram na histeria copiosa e edificante da fenomenologia espírita.

            Precioso, entretanto, e oportuno se torna ele pela documentação de um testemunho próximo, cuja autenticidade pode ser solicitada, por quem quer que duvide da sua origem.

             O Dr. Matta Bacellar é um médico de nome feito e de ilibada reputação social. Político militante, ao seu tempo, ele ocupou no seu Estado, e fora dele, cargos de responsabilidade e foi, se nos não enganamos, deputado Constituinte republicana. Médico, clínico há cinquenta anos, lá em Belém, onde reside, ele soube granjear a estima publica a golpes de talento e bondade. É, em suma, uma figura popular.

            Pois bem: materialista confesso desde os tempos acadêmicos, mas sempre leal, esse homem não desdenhou observar os fenômenos espíritas através da mediunidade da Sra. Prado e bastou que, tocado em sua consciência, viesse de público declarar a bancarrota de suas teorias materialistas, abraçando o Espiritismo, para que os corifeus do Catolicismo -como se as crenças fossem coisa de empreitada e o averbassem de paranoia, papalvo e quejandas gentilezas dos que têm Deus nos lábios e fel no coração.

            Objurgatórias (condenações) tais, por gratuitas e tendenciosas, quanto ocas, não têm, sequer, o mérito da originalidade: são “mutatis mutandi” (uma vez efetuadas as necessárias mudanças) o que dos primitivos e veros cristãos diziam os celsos (sublimes), em coro com os sacerdotes de Júpiter e outros deuses menores.

            Contudo, a História é pouco lida e menos meditada nestes tempos de vida intensa e apressada, pelo que sempre convém assinalar a circunstância: são os sacerdotes católicos, presuntivamente espiritualistas, logicamente deístas, os que profligam (derrotam) a conversão de um materialista, demonstrando assim que é melhor não conhecer Deus, não o amar nunca nem jamais pretender servi-lo, em consciência, do que faze-lo pelo Espiritismo.

                Eis o que em poucas palavras, poucas e claras como a sua alma de penitente, nos diz o Dr. Bacellar, antes de historiar o fato - a dilatação de um tumor operado à sua vista e de outras muitas pessoas, por uma entidade espiritual materializada.

                Não queremos nem devemos indagar aqui do modo pelo qual atuaria o cirurgião do espaço, para alcançar o que na técnica humana demandaria todo um aparelhamento prévio. Sabemos, ou antes presumimos, como os seres desencarnados evoluídos manipulam os fluidos imponderáveis aos nossos sentidos, mas, entretanto, condutores de energias incalculáveis. E haverá nisso algo de extraordinário, de incompatível com o que nos limites da humana ciência se nos vai revelando? Pois não estão aí patentes em seus efeitos, embora intangíveis em sua essência, a eletricidade, o magnetismo, os raios ultravioleta? Disso tudo, que é fluido, não ensaia a medicina aplicações à terapêutica?

             Que resta, então, para legitimar o fenômeno no consenso dos seus contraditores? O fato? Ele aí está. A sua origem espirítica? Talvez, mas neste caso a controvérsia não deveria partir da Igreja, que prega a imortalidade da alma e acredita na “comunicação dos Santos”, e sim dos materialistas impenitentes e contumazes.

             A estes competiria provar como, “cientificamente”, das camadas corticais de um cérebro (oh! cerebrina ectoplasmia) sai um cirurgião perfeito e acabado e ainda se faz acompanhar de um assistente espiritual, ambos visíveis e palpáveis, enquanto o médium em transe lá está amarrado a uma cadeira, quando não enjaulado a cadeado!

            Afinal, não há como deixar de convir: é bem mais cômodo negar o fato a priori, insultar os que têm a coragem moral de o testemunhar e confessar, do que explica-lo satisfatoriamente à luz da razão.

            Nós que há vinte anos estudamos e pesquisamos estas coisas; que não colocamos, jamais, os preconceitos da Terra acima dos ditames da consciência; que temos meditado a fragilidade, a transitoriedade de teorias científicas, sistemas filosóficos e confissões religiosas, sempre reivindicamos o direito de clamar: neguem, insultem, mas... provem o contrário.

            Se o Espiritismo, que apresenta fatos desta ordem e converte sábios e doutores é uma doutrina de loucos, deem-nos, então, coisa melhor, mais racional, mais positiva, mais consoladora .

            “Res non verba”, senhores tutores da Natureza ou procuradores de Deus em causa própria. Vamos, a questão não é de palavras, é de fatos.


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