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domingo, 28 de novembro de 2021

Por quê?

 L. Zamenhof

Por quê ?

por Cristiano Agarido(Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB) Outubro 1946

                 Há oitenta anos o vibrante movimento espírita mundial, chefiado por Allan Kardec e veiculado numa grande língua de cultura universal, como era então o francês, parecia destinado a uma vitória imediata, dentro de poucos anos. Essa vitória próxima contra toda a oposição se evidenciava aos mais prudentes e Kardec, a encarnação mesma da prudência, como escreveu um sábio seu contemporâneo, escreveu em O Evangelho segundo o Espiritismo estas palavras de sublime otimismo:

             “O Espiritismo vem realizar, na época prevista, as promessas do Cristo. Entretanto, não o pode fazer sem destruir os abusos. Como Jesus, ele topa com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais, levados às últimas trincheiras, tentam barrar-lhe o caminho e lhe suscitam entraves e perseguições. Também ele, portanto, tem que combater; mas, o tempo das lutas e e das persiguiçõe sanguinolentas passou; são todas as de ordem moral as que terá de sofrer e próximo lhe está o termo.  As primeiras duraram séculos; estas durarão apenas alguns anos, porque a luz, em vez de partir de único foco, irrompe de todos os pontos do globo e abrirá mais de pronto os olhos aos cegos.” (Cap. XXIII, parágrafo 17.)

             Ninguém poderia sensatamente pensar de outro modo em 1864, mas vemos hoje que a vitória está longe  e as lutas não cessaram em alguns anos nem em vários decênios, mas terão de continuar por muito tempo. Quanto o mundo se modificou nesses oitenta anos, e na aparência para pior, porque as perseguições sanguinolentas e más ideias ressurgiram com o Comunismo e o facismo e banharam de sangue o Velho Mundo! Repugnante perseguição de raças trucidou milhões de seres humanos indefesos. De dois terços do território europeu o Espiritismo foi banido pela violência, sem admitir discussão alguma, e isso pelos dois grandes partidos em luta: Nazismo e Comunismo, ambos furiosamente materialistas. Sabemos que o mundo piorou só na aparência externa, porque a uma grande onda de mal sucede outra maior de bem e esta conquista sempre o futuro. Por quê falhou assim a lógica mais severa?

            Bem simples e por isso mesmo muito difícil de aceitar-se a explicação.     

            A universalidade da língua francesa deu à França uma supremacia cultural indiscutível no século XIX e desencadeou os ciúmes nacionais dos imperialismos diversos e cada povo tentou elevar seu próprio idioma às culminâncias que havia atingido o francês. A língua única dadiplomacia foi violentamente afastada e todos os povos tentaram introduzir o seu idioma, chegando-se rapidamente a plena Babel nas relações internacionais que por mais de um século haviam gosado os benefícios da unidade linguística com o francês como língua diplomática mundial. Chegou-se ao absurdo de redigir tratados internacionais em tantas línguas quantos fossem os contratantes e todas elas como originais.

            Inglês, alemão, italiano, russo, espanhol, todas as línguas da Europa, foram impostas pelos diferentes  povos como possuindo direitos iguais ao francês e este caiu rapidamente das funções de língua de cultura mundial para o lugar de simples língua nacional de minorias.

            O Espiritismo sofreu toda a desarticulação da falta de uma língua comum. As mensagens descidas do Alto ficaram limitadas a regiões linguísticas, a verdadeiras ilhas inabordáveis para os outros povos. A Revelação continua sendo mundial, porque os Espíritos falam em todas as línguas do planeta, mas os homens estão privados da universalidade das comunicações e limitados exclusivamente às suas fronteiras linguísticas. Em vez de um Espiritimo mundial único, como ao tempo de Kardec, elaboram-se centenas de pequenos movimentos espíritas desligados uns dos outros  e ignorantes até da existência de outros núcleos. Surgem grandes médiuns, maiores do que existiam ao tempo de Kardec, mas sua obra provisoriamente  permanece fechada em cada região lingística. Quem conhece na França a obra de Rosemary ou de Francisco Cândido Xavier? Nem os brasileiros conhecem  as obras da grande médium inglesa, nem os ingleses conhecem a dos nossos médiuns, e assim sucede a todos os povos. Falta a língua comum que reúna todo esse imenso tesouro, que, realmente, quando ligado em um todo, venceria o mundo em poucos anos, como previa Kardec sem poder imaginar a falência da língua francesa, queda inteiramente imprevisível em 1864, mas totalmente consumada em 1919, quando, pela primeira vez, numa conferência de diversas Potências, o francês foi excluído, porque os estadistas declararam que não sabiam francês.

            A falta de um língua mundial de cultura que reuna tudo quanto recebem os médiuns espalhados pelo mundo, para restituir tudo a todos como patrimônio comum de todos e de cada um, retardou de modo impressionante o movimento espírita mundial; mas o que perdemos em um século reconquistaremos em outro para toda a eternidade futura.

            Já os espíritas iniciaram em escala mundial a obra do futuro. O Congresso Espírita Panamericano adotou o Esperanto como uma de suas línguas oficiais; na Inglaterra, fundou-se a Londona Esperanto-Spiritista Societo; no Egito, está-se trabalhando com ardor pelo Esperanto entre os Espíritas; no Brasil, a Federação Espírita Brasileira iniciou o duplo trabalho de divulgar o Esperanto entre os espíritas e o Espiritismo entre os Esperantistas, e neste sentido já publicou vinte e poucos livros.

            Não sabemos quando, mas sabemos que um dia a  situação será muito melhor do que no tempo de Kardec; porque o Espiritismo terá uma língua mundial de todos e nela reunirá essa imponente biblioteca descida do Alto; são obras que se completam pela diversidade dos aspectos tratados pelos Espíritos e, quando reunidas, terão a força necessária para se imporem irresistivelmente a todos os pensadores do mundo.

            Trabalhemos, pois, com a certeza de que o grande ideal está em marcha e seu eclipse será muto passageiro.

                 Do blog: 75 anos são passados da publicação deste artigo. O que foi feito do Esperanto?


sábado, 27 de novembro de 2021

Erros religiosos da Humanidade

 

Erros religiosos da Humanidade

por Ismael Gomes Braga

livro: “Libertação” (Editora Ismael-Araras-SP, 1955)

             “A mesma gota caída do céu será pérola se recebida por uma rosa, ou lama se absorvida pelo pó”, disse Léon Denis, com respeito às revelações que o Céu nos remete, e concluiu que o Espiritismo será o que dele façam os homens, porque os bons saberão empregá-lo para o bem, mas os maus o corromperiam como tantas revelações anteriores que se tornaram flagelos para a Humanidade, apesar de sua origem divina.

            A primeira desventura do homem é seu espírito de seita que tudo conspurca e incendeia, porque ele tem n’alma quase somente germens de inferioridade e em tal terreno não podem medrar as sementes do bom e do belo. Só uma ínfima minoria de bons colhe todos os benefícios das revelações divinas.

            Deus nos envia Mestres sublimes que nos ensinam o caminho da luz para a felicidade. Uns poucos aceitam a revelação e voam para o alto, mas a maioria projeta suas próprias sombras sobre o terreno e têm de progredir lentamente pela força invencível da dor que a ninguém deixa para sempre abandonado à margem da evolução.

            Moisés recebeu e transmitiu ao povo ensinos de eterna sabedoria. Não nos esqueçamos que por ele veio ao mundo o Decálogo e vieram outras pérolas preciosas, como comentários aos Dez Mandamentos. São frases que ficarão eternas nas Escrituras e foram mais tarde confirmadas por Jesus, como o são hoje pela Terceira Revelação, mas em poucos corações se tornaram força viva tais ensinamentos. Vamos copiar aqui apenas três frases recebidas por Moisés: “Como o natural entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco, e amá-lo-ás como a ti mesmo.” (Levítico, XIX, 34). “Ama ao teu próximo como a ti mesmo” (Levítico, XIX, 18). “Nem só de pão vive o homem.” (Deteronômio, VIII, 3).

            Estas frases foram repetidas por Jesus e o são incessantemente pelos nossos guias, porque constituem ensinos de aplicação eterna e universal. Os homens creram que tais palavras vinham de Deus e as conservam nos lábios até hoje, mas só nos lábios. No coração elas não viveram ainda.

            Bastariam os ensinos recebidos pela mediunidade de Moisés para guiarem a humanidade à luz e à ventura. Reflitamos sobre o versículo 33 do cap. XIX do Levítico, acima transcrito, para percebermos que ele não poderia ser de origem humana. Naquele tempo em que se faziam as guerras de extermínio contra os estrangeiros e só se poupava o estrangeiro vencido na guerra para vende-lo como escravo, uma ordem de amar o estrangeiro como a si mesmo só poderia ter descido de alta esfera espiritual, porque excedia de muito tudo o que o homem de então poderia pensar e sentir.

            Esses ensinos foram escritos 1300 anos antes de nossa era, ou seja, há mais de 3200 anos  e o que foi feito deles pelos crentes que o receberam?

            Fecharam-se num seita fanática que cometeu os mais absurdos crimes de religião contra os seus profetas ulteriormente aparecidos, inclusive contra o Divino Mensageiro que levaram à cruz do martírio. Cultivaram tristemente o ódio e conquistaram para si mesmos o ódio universal.

            Tais e tantos foram os crimes cometidos em nome da Lei, que a dor se tornou o processo necessário de evolução daquele povo que era destinado a guiar os outros no progresso espiritual, como se depreende do fato de haver-se tornado universal a Revelação por ele recebida.

            Acusando de heresia e condenando o divino Mestre, o Mosaísmo se afastou do Cristianismo e ficou estacionado; mas o Cristianismo aceitou a Revelação mosaica, tornando-o o grande divulgador do Velho Testamento.

            O que se tem dito do martírio do povo judeu, sob o ódio universal, em todos esses milênios, não é só indizível é até inconcebível.

            Implantou-se a Segunda Revelação, acentuando mais a Lei de amor universal e exemplificando-a com os mais sublimes scrifícios.

            A parte má e errada da religião – o espírito de seita – colocou os israelitas fora da Humanidade, quando o fundamento mesmo do Judaísmo é universal e deveria ter feito dos judeus os líderes religiosos mais queridos do mundo.

            Dentre os numerosos erros religiosos dos judeus, um de graves consequências foi o suporem que a Revelação Divina ficara encerrada no Velho Testamento, e nada mais Deus teria que dizer aos homens. Com esse tenebroso engano, ficaram eles encarcerados religiosamente num passado remoto, fora do tempo e do mundo, sem admitir nenhum progrsso na Revelação, nem a possibilidade de haver preciosas revelações por intermédio de outros povos. Repeliram o maior de seus profetas, o que vinha coroar a obra e dar cumprimento à Lei, realizar as profecias.

            Nasceu o Cristianismo em plena capital judaica, mas a religião oficial o repeliu e só os simples de coração o aceitaram. Perseguiram o Espírito mais sublime que já desceu à Terra; crucificaram-no e perseguiram seus discípulos e continuadores.  O Cristianismo que teria dado o máximo prestígio ao povo de Israel, foi exilado e só pode medrar no estrangeiro.

            Foi um erro religioso de tremendas consequências para os judeus essa violenta repulsa ao Cristianismo nascente. Eles perderam a liderança religiosa que lhes havia sido posta nas mãos, e tornaram-se uma pequena seita odiosa e sempre odiada no mundo, quando ela só deveria inspirar amor, amar e ser amada.

            O Cristianismo confirmou a Lei em tudo que ele possuía de divino; mas depois de três séculos se constituiu em Igreja oficial do Império Romano, adquiriu poder temporal, tornou-se religião obrigatória par todos os súditos do governo romano.

             Como religião oficial o Cristianismo recebeu todos os defeitos do Paganismo, já muito enraizados no povo, e perdeu seu próprio espírito que era todo de perdão e amor.

            Passou de perseguido a perseguidor e entrou a cometer todos os erros – para não dizer crimes – de religião imposta pela força do Estado. Toda a crueldade bárbara ressurgiu sacrilegamente em nome do cordeiro de Deus. Nessa involução, descendo sempre, dando pasto às mais vis paixões humanas, com o passar dos séculos o “cristianismo” estava transformado na mais monstruosa instituição que já possuíu a Humanidade. Era a Inquisição, o ódio desenfreado, apoiando a escravidão, cavando prisões subterrâneas, levantando os cavaletes de tortura, a roda, acendendo fogueiras para queimar vivos os seus “hereges”, assim classificados em processos odiosos de interesses políticos e econômicos inconfessáveis.

            Séculos e séculos de crimes monstruosos em nome da religião de amor e perdão incondicional!

           Vieram as Cruzadas, guerras de pilhagem e extermínio que duraram séculos, sob pretexto de “libertar” a Terra Santa... E tudo em nome do Cordeiro de Deus!

            Surgiu entre os árabes o Islamismo, agressivo, exclusivista, cruel, e até hoje mantém guerra “santa” contra o cristianismo das igrejas.

            Em todos esses séculos e milênios de tremendos erros religiosos, o progresso humano continuou sendo feito através da dor que felizmente nunca nos abandonou em nossos desmandos.

            Chegou o século da revolução contra a tirania do imperialismo religioso. Foi feita a Reforma religiosa que custou rios de sangue e levou à fogueira Espíritos sublimes. Basta lembrar a Noitada de S. Bartolomeu e a execução de Jan Huss, para sentirmos o preço da Reforma, o terror da reação de Roma contra a Reforma; mas a Humanidade já havia progredido bastante para a vitória da Reforma sobre grandes massas humanas, se bem que Roma continuasse dominando em muitos países do Ocidente, como se acha ainda.

            A Reforma e o progresso social conquistado palmo a palmo, forçaram finalmente Roma a se modificar e perder a força tirânica que exercia sobre o povo. Ainda em nosso século houve tentativa forte de restauração daquela força. Pelo célebre Tratado de Latrão, o fascismo restaurou o poder temporal da Igreja; mas foi de pouca duração essa restauração, porque o próprio fascismo foi extinto mais cedo do que a Igreja poderia supor.

            Essas conquistas sociais foram de caminhar lento. Três séculos depois de feita a Reforma, ainda a Inquisição conservava seu inteiro poder sobre Portugal, Espanha e outros países, e queimava impunemente os seus “hereges”, em processos tortuosos, nos quais predominava muito o interesse político e econômico.

            Com tantos erros cometidos através dos milênios, a religião se comprometeu duramente na consciência humana. Há numerosas pessoas que sentem um santo horror da palavra “religião”, como os judeus e outros povos sentem pavor no nome “cristianismo”, porque para esses povos “cristianismo” significa: prisões subterrâneas, torturas físicas e morais, fogueiras inquisitoriais, confiscação de propriedade, escravidão, lama da pior espécie.

            Agora ressurge a religião com a Terceira Revelação. Não desmente os seus princípios revelados através dos milênios, confirma-os.

            Diz-nos de novo o mesmo que já foi dito por intermédio de Moisés, dos Profetas, de Jesus, e, além de dizê-lo, traz-nos o depoimento dos “mortos”, todos eles afirmando que aqueles princípios de amor universal indicam o único caminho seguro para a subida ao céu.

            A grande diferença ente a Terceira Revelação e as duas que a precederam consiste em que as duas primeiras afirmavam  a eternidade da vida, enquanto que a Terceira demonstra essa eternidade e com ela a responsabilidade ilimitada: ninguém fica impune pelos crimes que comete; não há meios de burlar a lei de Deus.

            Pelos crimes religiosos cometidos no passado, temos muita razão de supor que os homens não criam na imortalidade e responsabilidade da alma; era um dogma inteiramente morto o da imortalidade. De agora em diante, a repetição por toda a parte dos fenômenos espíritas vai dando nitidez cada dia maior a essa verdade religiosa; a imortalidade da alma torna-se palpável e indubitável.

            Não aceitamos liteiramente a opinião de Léon Denis, citada no início deste artigo, porque a paciência dos nossos Maiores da Espiritualidade está hoje mais demonstrada do que no momento em que foram escritas aquelas palavras. Cremos que os homens não terão força de corromper o Espiritismo e rebaixá-lo como fizeram com as revelações anteriores, porque os Espíritos são incansáveis em seus esforços de nos ajudar, e porque a Humanidade já progrediu um pouco moralmente para não cair mais em erros tão grosseiros.

                                                                                   ***

            O Espiritismo terá que cumprir sua missão num mundo diferente daquele em que se desenvolveram as igrejas que cometeram grandes erros religiosos.

            Embora os princípios revelados do Judaísmo e do Cristianismo fossem universais, a Humanidade antiga vivia apartada em grupos sem comunicações constantes uns com os outros. A falta de transportes, de imprensa, de uma língua internacional popular insulava os grupos humanos que se desconheciam mutuamente. Nada havia de comum a toda a Humanidade. No presente e ainda mais no porvir, ao contrário, tudo será mais comum a toda a população do Planeta.

            Todas as distãncias já estão abolidas pelo rádio. O progresso do Esperanto já nos vai criando a mentalidade planetári, a consciência de solidariedade de todos os terrícolas. Quando se der o pleno desenvolvimento do Espiritismo, já as massas humanas possuirão uma língua internacional popular.

            As religiões antigas tinham, cada uma delas, sua língua internacional: o Judaísmo tinha o hebraico, a Igreja Católica tinha o latim, o Islamismo possuía o árabe, mas tais línguas só eram internacionais para pequeníssimas elites de alto nível cultural; o povo mesmo não possuía meios de compreender as Escrituras, sempre fechadas em línguas sagradas até a Reforma, quando a Bíblia passou a ser traduzida e divulgada entre os crentes.

            No porvir, as massas humanas mesmas possuirão uma língua realmente internacional e gozarão os benefícios da Revelação Progressiva e universal que se dará no planeta todo e chegará imediatamente ao conhecimento de todos.

            Seria pessimismo supormos que o Espiritismo venha a cair nos mesmos erros do passado. Isso não será possível; o progrsso não o permitirá.

            Temos encontrado nos meios espíritas, ultimamente, famílias de israelitas que teriam pavor de entrar em uma igreja católica; mas, através do Espiritismo foram conquistadas para o Evangelho. Uma das missões do Espiritismo, ao que nos parece, será recuperarmos para o Cristo o coração dos judeus, esse coração tão assustado pelo medo milenário das perseguições que supunham “cristãs” e que se diziam “cristãs”. Já com dois mil anos de atraso, mas na eternidade nunca é demasiado tarde.

 ***

             Os crimes religiosos do passado eram cometidos impunemente, porque a legislação humana não havia ainda classificado aqueles atos como crimes passíveis de punição pelos tribunais mesmo humanos. Hoje chama-se genocídio essa espécie de crimes cometidos contra um grupo religioso, uma nação, um partido. No caso da matança de judeus pelos nazistas, a ação foi classificada de genocídio e reuniu-se um tribunal internacional que julgou e condenou os responsáveis.

            A defesa dos acusados alegou que tais atos não eram crime, porque praticados de acordo com a legislação vigente na Alemanha que era uma nação soberana e podia decretar as leis que lhe aprouvesse. Mas os julgadores decidiram que acima das soberanias nacionais existem direitos humanos universais, cuja violação é crime, e assim foram condenados e executados os responsáveis. Houve um progresso na evolução do direito internacional e o sentimento de humanidade foi colocado acima das soberanias nacionais que cobriram tantos crimes no passado.

            Pode argumentar-se que esse reconhecimento dos direitos da criatura humana à liberdade, à vida, à crença, é de difícil execução, e como prova disso pode alegrar-se que o lançamento de bombas atômicas contra cidades japonesas, exterminando populações civis indefesas, seria um crime de genocídio, mas os responsáveis não foram julgados, porque não houve força legal suficiente para julgá-los. Se os Estados Unidos houvessem sido vencidos na guerra, certamente um tribunal japonês teria classificado o fato como genocídio, julgado e condenado os responsáveis, e meia dúzia de ianques teriam sido enforcados. Ninguém foi acusado, porque faltou força necessária ao julgamento em tribunal. Mas a consciência universal não absolveu os responsáveis: o mundo todo sente ódio contra os responsáveis, e os mais veementes protestos suriram dentro dos Estados Unidos. Houve outra espécie de condenção que apavora os responsáveis, e esta nos agrada mais do que a de Nurenberg, porque entrega o criminoso ao tribunal de sua própria consciência que é o mais forte de todos os tribunais.

            O povo dos Estados Unidos julgou os responsáveis pelas bombas atômicas sobre cidades indefesas do Japão e este julgamento é muito forte.

            Os erros religiosos da Humanidade são capítulo triste da História, mas não poderão reproduzir-se no porvir, nesse grande porvir que assistirá ao triunfo mundial da Terceira Revelação, ou seja do triângulo luminoso a que se têm referido os nossos guias:

                                                                             E

                                                                       E          E         

             Evangelho, Espiritismo, Esperanto: amor, luz, compreensão universal.

 


segunda-feira, 12 de julho de 2021

Os três peregrinos

 

Os 3 peregrinos

por Indalício Mendes

Reformador (FEB) Julho 1965 

           Jesus parou, sereno como sempre, e disse:

           - Tu és o meu Evangelho. Eu daqui me vou, mas tu ficarás para continuar o meu trabalho em favor da Humanidade. Onde estiveres, no todo ou em parte, aí estarei eu, porque os que te seguirem fielmente a mim seguirão. Serás o Peregrino de Deus a percorrer as estradas do mundo.
*
           E o Evangelho ficou na Terra para continuar o serviço de Jesus.

           Dessa forma surgiu na Terra, ungido pela graça do Mestre, o Primeiro Peregrino, levando consolo para todas as angústias e alívio para todas as dores da alma.

           Muitas vezes, porém, a dureza do coração humano impediu se expandissem as bênçãos do Evangelho. Mesmo assim, onde quer que o Primeiro Peregrino passasse, deixava um rastro de luz, daquela mesma luz que encheu de ânimo e esperança as terras da Palestina.

           Sendo o Evangelho o coração vivo do Cristo, dele irradiam a Tolerância, o Perdão, a Caridade, partículas do Amor, do grande Amor divino. Por isso, onde quer que recusem ou se mostrem indiferentes à visita do Primeiro Peregrino, fica o ambiente embalsamado pela palavra de Jesus: "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus"...

***

           Os tempos se desdobraram, até que um dia Jesus considerou oportuno mandar à Terra o Consolador prometido, para companheiro do Evangelho, o Grande Peregrino. Escolheu entre os homens o obreiro adequado para iniciar a nobre e áspera tarefa: Allan Kardec. E por intermédio de Kardec o mundo recebeu o Espiritismo, isto é, o Consolador prometido pelo Cristo. Seria o Segundo Peregrino a secundar o primeiro nas andanças terrenas: "Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco; O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê e absolutamente não o conhece. Mas, quanto a vós, conhece-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. - Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito". (João, cap. XIV, v. 15 a 17 e 26).

           Desde então, os dois Peregrinos caminham  juntos, unidos, pondo luz onde houver treva, amor onde encontrar ódio, sinceridade onde descobrir hipocrisia, fraternidade onde a dissensão se houver estabelecido. O Espiritismo veio ocupar na Terra o lugar em que outrora estivera o Cristianismo do Cristo e a Humanidade está compreendendo melhor a grandeza do Evangelho, a sua extraordinária significação na existência humana e o prodigioso alcance dos ensinamentos de Jesus, porque a vida é uma só, a desenvolver-se no plano espiritual e no plano físico, através da ação distribuidora, reguladora e retificadora da Reencarnação, que, segundo a lei de Causa e Efeito, realiza a síntese cármica, individual e coletiva, estabelecendo, sem favoritismo nem deficiência, a legítima Justiça Divina.

***

           Todavia, era mister desfazer dificuldades inerentes a este mundo babélico, no qual a diversidade de falas muitas vezes impede, em ritmo mais conveniente, a propagação da Verdade pregada pelos dois Peregrinos mencionados. Seria útil a presença de outro companheiro.

           Eis que do Alto é apontado um trabalhador modesto e valoroso, na pessoa de Lásaro Zamenhof como capaz de encaminhar, ao encontro do Evangelho e do Espiritismo, o Terceiro Peregrino. Quando o Esperanto chegou, de novo cintilaram as luzes celestes. A grande barreira babélica vem sendo ultrapassada, porque essa língua neutra, sonora e bela, de fácil e rápida assimilação, continua crescendo em todo o mundo, unindo o Ocidente ao Oriente, desfazendo fronteiras e cooperando no trabalho cristão-espírita a prol da melhor compreensão entre os povos e da fraternidade maior entre os homens.

           Os Três Peregrinos completam o triângulo da Esperança: no vértice, o (E)vangelho; no ângulo direito, o (E)spiritismo, e no ângulo esquerdo, o (E)speranto.

***

           A silhueta de Jesus se esboça em meio a uma nuvem luminosa e sua voz terna, mas firme, se faz ouvir: "Cingidas esteja, as vossas cintas, e acesas as vossas lâmpadas; assemelhai-vos a homens que esperam pelo seu senhor ao voltar ele das bodas; para que, quando chegar e bater à porta, logo lhe abrirem. - Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, ao chegar, encontre vigilantes; em verdade vos digo que ele se cingirá, os fará sentar à mesa e, aproximando-se, os servirá. - Quer ele venha na segunda vigília, quer na terceira, bem aventurados serão eles, se assim os achar" (Lucas, 12 - 35 a 38).
           Assim também, na primeira vigília chegou o Evangelho; na segunda, o Espiritismo; na terceira, o Esperanto...

*** 

           - Vês, amigo, aqueles três focos de Luz que avultam no horizonte? São eles, os Três Peregrinos. Andam juntos, mas pode um chegar à frente do outro, porque tudo depende de circunstâncias imprevisíveis. Às vezes, um deles bate à porta; outras, dois; outros ainda, todos os três. Seja como for, prepara o teu coração para recebê-los. Enche de paz o teu espírito para que possas cumprir generosamente os deveres da hospitalidade.

           Franqueia-lhes tua casa. Eles vem em missão de paz, de amor, de caridade.     

           Representam Jesus. Não te esqueças ........................................................... 

           E tu, também, mantém-te vigilante. Se um dos Três Peregrinos ainda não te visitou, a qualquer momento poderá chegar. Recebe-o de coração puro, porque, disse o Cristo, "bem-aventurados os de coração puro, porque verão a Deus!

**************

           Do blog; Que fizemos nós do Esperanto?

sábado, 8 de maio de 2021

Por quê?

 

Ismael Gomes Braga

Por quê?  

por Cristiano Agarido (Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB) Outubro 1946

             Há oitenta anos o vibrante movimento espírita mundial, chefiado por Allan Kardec e veiculado numa grande língua de cultura universal, como era então o francês, parecia destinado a uma vitória imediata, dentro de poucos anos, Essa vitória próxima contra toda oposição se evidenciava aos mais prudentes e Kardec, a encarnação mesma da Prudência, como escreveu um sábio seu contemporâneo, escreveu em “O Evangelho segundo o Espiritismo” estas palavras de sublime otimismo:

                       

            “O Espiritismo vem realizar, na época prevista, as promessas do Cristo. Entretanto, não o pode fazer sem destruir os abusos. Como Jesus, ele topa com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais, levados às suas últimas trincheiras, tentam abafar lhe o caminho e lhe suscitam entraves e perseguições. Também ele, portanto, tem que combater; mas, o tempo das lutas e das perseguições sanguinolentas passou; são todas de ordem moral as que terá de sofrer e próximo lhes está o termo. As primeiras duraram séculos; outras durarão apenas alguns anos, porque a luz, em vez de partir de um único foco, irrompe de todos os pontos do globo e abrirá mais de pronto os olhos aos cegos.” (Cap. XXIII, § 17.)

 

            Ninguém poderia sensatamente pensar de outro modo em 1864, mas vemos hoje que a vitória está longe e as lutas não cessaram em alguns anos, nem em vários decênios, mas terão de continuar por muito tempo. Quanto o mundo se modificou nesses oitenta anos, e na aparência para pior, porque as perseguições sanguinolentas às ideias ressurgiram com o Comunismo e o Fascismo e banharam do sangue o Velho Mundo! Repugnante perseguição de raças trucidou milhões de seres humanos indefesos. De dois terços do território europeu o Espiritismo foi banido pela violência, sem admitir discussão alguma, e isso pelos dois grandes partidos em luta: Nazismo e Comunismo, ambos furiosamente materialistas. Sabemos que o mundo piorou só na aparência externa, porque a uma grande onda de mal sucede outra maior de bem e esta conquista sempre o futuro. Porque falhou assim a lógica mais severa?

            Bem simples e por isso mesmo muito difícil de aceitar-se a explicação.

            A universalidade da língua francesa deu à França uma supremacia cultural indiscutível no século XIX e desencadeou os ciúmes nacionais dos imperialismos diversos e cada povo tentou elevar seu próprio idioma às culminâncias que havia atingido o francês. A língua única da Diplomacia foi violentamente afastada e todos os povos tentaram introduzir seu idioma, chegando-se rapidamente à plena Babel nas relações internacionais que por mais de um século haviam gozado os benefícios da unidade linguística com o francês como língua diplomática mundial. Chegou-se ao absurdo de redigir tratados internacionais em tantas línguas quantos fossem os contratantes e todas elas como originais.

            Inglês, alemão, italiano, russo, espanhol, todas as línguas da Europa, foram Impostas pelos diferentes povos como possuindo direitos iguais ao francês e este caiu rapidamente das funções de língua de cultura mundial para o lugar de simples língua nacional de minorias.

            O Espiritismo sofreu toda a desarticulação da falta de uma língua comum. As mensagens descidas do Alto ficaram limitadas a regiões linguísticas, a verdadeiras ilhas inabordáveis para os outros povos. A Revelação contínua sendo mundial, porque os Espíritos falam em todas as línguas do planeta, mas os homens estão privados da universalidade das comunicações e limitados exclusivamente às suas fronteiras linguísticas. Em vez de um Espiritismo mundial único, como ao tempo de Kardec, elaboram-se centenas de pequenos movimentos espiritas desligados uns dos outros e ignorantes até da existência de outros núcleos. Surgem grandes médiuns, maiores do que existiam ao tempo de Kardec, mas sua obra provisoriamente permanece fechada em cada região linguística. Quem conhece na França a obra de Rosemary ou de Francisco Cândido Xavier? Nem os brasileiros conhecem as obras da grande médium inglesa, nem os ingleses conhecem a dos nossos médiuns, e assim sucede a todos os povos. Falta a língua comum que reúna todo esse imenso tesouro, que, realmente, quando ligado em um todo, venceria o mundo em poucos anos, como previa Kardec sem poder imaginar a falência da língua francesa, queda inteiramente imprevisível em 1864 mas totalmente consumada em 1919, quando, pela primeira vez, numa conferência de diversas Potências, o francês foi excluído, porque os estadistas declararam que não sabiam francês.

            A falta de uma língua mundial de cultura que reúna tudo quanto recebem os médiuns espalhados pelo mundo, para restituir tudo a todos como patrimônio comum de todos e de cada um, retardou de modo impressionante o movimento espírita mundial; mas o que perdemos em um século reconquistaremos em outro para toda a eternidade futura.

            Já os espíritas iniciaram em escala mundial a obra do futuro. O Congresso Espírita Panamericano adotou o Esperanto como uma de suas línguas oficiais; na Inglaterra, fundou-se a Londona Esperanto-Spiritista Societo; no Egito, está-se trabalhando com ardor pelo Esperanto entre os espíritas; no Brasil, a Federação Espírita Brasileira iniciou o duplo trabalho de divulgar o Esperanto entre os espíritas e o Espiritismo entre os esperantistas, e neste sentido já publicou vinte e poucos livros.  

            Não sabemos quando, mas sabemos que um dia a situação será muito melhor do que no tempo de Kardec; porque o Espiritismo terá uma língua mundial de todos e nela reunirá essa imponente biblioteca descida do Alto; são obras que se completam pela diversidade dos aspectos tratados pelos Espíritos e, quando reunidas, terão a força necessária para se imporem irresistivelmente a todos os pensadores do mundo.

            Trabalhemos, pois, com a certeza de que o grande ideal está em marcha e seu eclipse será muito passageiro.

     Do blog: Até onde pudemos observar o Esperanto não ‘prosperou’ no Brasil. Para explicar este fato, rogamos os comentários de nossos leitores.


terça-feira, 3 de março de 2020

Universalismo


Ismael Gomes Braga


Universalismo
Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Janeiro 1943

            A presente guerra (2ª Guerra Mundial 1938-1945) nos está dando preciosa lição de universalismo, ou, em outras palavras, demonstrando que o progresso moderno tornou todas as nações solidárias entre si. Uma ideia má e perniciosa, divulgada, por exemplo, no Japão, nos prejudica e ameaça; interessa-nos, portanto, muitíssimo.

            Nos tempos passados não nos importava muito saber o que outros países diziam e faziam a dentro de suas fronteiras; isso era lá com eles e, se a ideia nos desagradava, simplesmente. não fixaríamos residência naquele país e estaríamos salvos. Limitavam-se os povos a chamar de bárbaros aos que tinham idéias diferentes das suas.

            Agora tudo é diferente. A revolução comunista na Russia fez correr sangue no Brasil, o fascismo da ltália igualmente pôs em perigo a nossa estabilidade e custou o sangue de muita gente.

            O transporte da palavra e do homem tornou-se tão rápido, que praticamente foram abolidas todas as fronteiras. O isolacionismo egoístico já se tornou impossivel. Todos vivemos a vida de todos, todos sofremos dores e sobressaltos idênticos. Findas a guerra e as eventuais revoluções, que talvez a acompanhem, a humanidade terá ficado com essa preciosa lição prática: tudo no mundo é solidário. Não bastará cogitemos de educar o nosso povo, de lhe incutir boas idéias, conduta moral pura: será necessário fazer todas essas coisas planetariamente, porque o que fere um povo no Extremo Oriente repercute e põe em perigo os homens que moram no Extremo Ocidente e vice-versa. Será um grande passo para sentirmos a solidariedade humana, como diriam os materialistas, ou o amor à humanidade, como diriam os cristãos.

            Resumindo estas idéias, diremos que as propagandas locais ficam prejudicadas e podem ser interrompidas por forças externas. O belo movimento espírita da Holanda desapareceu, porque aquele país foi ocupado por um povo materialista, que não tolera tais idéias. Tudo tem que ser feito em escala mundial, porque o mundo já é um todo.

            A propaganda espírita no Brasil é feita com ardor, com verdadeiro entusiasmo e vai produzindo - mercê de Deus - belos frutos. Nenhum brasileiro, porém, cogita de estender essa mesma propaganda a todos os outros países;  parece-lhes que só lhes compete trabalhar para o nosso, pois que para isso aqui nascemos e aqui vivemos. É demasiado limitada e egoística essa concepção para o futuro. Vivemos dentro das limitações linguísticas e supo-mo-nos ilusoriamente apartados de todos os outros povos.  

            Não é e não poderá ser assim, se bem assim já tenha sido.

            O futuro não será uma cópia do passado. O programa de ensino de um pais interessa a todos os outros e a soberania das nações - da qual tanto hão abusado alguns povos - terá que sofrer sérias limitações, para não se tornar coisa ridícula, como os antigos cavaleiros andantes, que corriam mundo à procura de injustiças a corrigir.

            Em que pode esse assunto interessar nestas colunas consagradas sempre à doutrina, já de si mesma universal, dos Espíritos? Não estará fora de lugar tudo isso que vimos dizendo? Supomos que não. Se temos recebido muito, temos que dar muito, temos pesados compromissos. E o que tem recebido o movimento espírita brasileiro não é apenas muito, é muitíssimo. Temos recebido ditados mediúnicos de valor incalculável, os quais já formam uma biblioteca admirável que cresce sempre, até mais do que os editores podem acompanhar. Nessa literatura mediúnica há tesouros demasiado grandes para serem julgados hoje, os quais só o futuro julgará com justiça, pelas consequências diretas e indiretas que hão de produzir nos costumes. Nossa pregação pelo livro, pela imprensa, pela tribuna e pelo rádio é muito maior do que a de qualquer outro país.

            No entanto, todo esse glorioso trabalho dos nossos Maiores, em nosso beneficio, vem sendo feito em vernáculo, isto é, numa língua que não tem universalidade alguma. Simultaneamente com a divulgação do Espiritismo, processa-se no Brasil a divulgação do Esperanto, cujo nascimento já é universal, pois que a propaganda do esperanto se faz igualmente em todos os países. Nestes últimos anos, foi inspirada e poderosamente amparada a divulgação do esperanto entre os espíritas do Brasil pela Federação Espírita Brasileira, seguindo-lhe o exemplo algumas outras das nossas instituições espíritas - jornais, revistas, programas radiofônicos, etc. - precisamente sob o influxo das mesmas Entidades que do Alto superintendem o progresso do Espiritismo, como bem se nota da mensagem de Emmanuel com o título “A Missão do Esperanto”, que já se acha amplamente divulgada. Todo esse conjunto de acontecimentos demonstra o caminho do futuro. Temos que estender o nosso serviço de propaganda além fronteiras, a todas as nações. O instrumento para isso está à nossa disposição, é o esperanto. Teremos que começar pelas obras fundamentais, depois pela fundação de revistas, organização de programas de rádio em ondas curtas, etc.

            O programa geral é infinito no tempo e extensivo a todo o planeta. Difícil será unicamente o começo, porque no começo só teremos que dar e nada que receber; mas, depois de vencidos os primeiros tempos, de todos os pontos da terra surgirão colaboradores. Em todas as línguas há excelentes livros doutrinárias a ser traduzidos para o esperanto e incorporar-se a uma biblioteca espírita universal. Entretanto, as obras de mais universalidade, as que podem interessar realmente a todos os povos, devem partir do Brasil, por ser a nação onde a publicidade espírita está mais adiantada, justamente como há meio sáculo passado deveriam partir da França e assim sucedeu.

            Não dizemos que este trabalho vai ser iniciado, porque na verdade já se acha iniciado. Já fizemos a experiencia de lançar alguns livros em esperanto pela Livraria Editora da Federação Espirita Brasileira e os resultados são animadores. Nossas edições foram recebidas com real simpatia pelos esperantistas de diversos lugares. Esperemos que, logo termine a guerra, possamos realizar em grande escala o serviço que até agora só fizemos como experiencia. O paciente leitor de certo sentirá no coração o desejo de colaborar nessa seara imensa que o Senhor nos está abrindo.

            O primeiro passo é aprender esperanto ou, se já o souber, exercitar-se em traduzir nossos livros de doutrina na língua auxiliar.

O Blog pergunta a seus leitores: Passados uns 70 anos da publicação deste artigo, como ficou a difusão do Esperanto no Brasil e no mundo?

sábado, 16 de junho de 2012

Como será o futuro?



Como será o Futuro?


            A cada momento sentimos em nossa própria alma esta interrogação tremenda que Victor Hugo expressou nestas palavras: De quoi le démain sera-t-il fait?

            E nosso Espírito anseia por penetrar no mistério de Deus que é o porvir.

            Ser-nos-á possível prever o futuro, imaginá-lo com certa precisão? Dentro de nossa limitação podemos, de alguma sorte, conhecer as linhas gerais do futuro, embora nossa lógica não possa calcular não possa calcular imprevistos que alteram nossas previsões. Nos fenômenos astronômicos, que obedecem a leis conhecidas, podemos prever com inteira segurança certos fatos futuros,  por exemplo, que depois da noite virá o dia; quando será Lua ou Lua Cheia; quando ocorrerá um eclipse, No entanto, quando entram em jogo leis desconhecidas da natureza ou o livre-arbítrio do homem, todas as nossas previsões podem falhar. Se assim não fora, não haveria guerra, por que um dos litigantes saberia previamente que iria perder e capitularia pacificamente para evitar maiores dores e ruínas.

            Podemos prever que o homem não voltará a habitar as cavernas, depois que aprendeu a construir casas; que não fará longas jornadas a pé, como nos tempos primitivos, porque já aprendeu a construir veículos; não navegará mais à vela depois que possui o vapor.  Assim podemos facilmente prever que ele não desistirá de nenhuma das suas conquistas: imprensa, rádio, telefone, aviação, Esperanto porque já experimentou essas coisas e compreendeu-lhes a utilidade. Também podemos prever que o Espiritismo progredirá sempre, porque já existe  a Codificação e já se aprendeu a aproveitar essa mediunidade superior.

            Partindo deste momento brasileiro em que temos a mediunidade de Francisco Cândido Xavi possuímos um serviço organizado de divulgação do Esperanto entre os espíritas e de Espiritismo entre os esperantistas, podemos prever o futuro movimento espírita mundial servindo-se de uma língua internacional neutra, na qual se preparará toda a imensa documentação e que a imponência desses testemunhos colhidos em todos os lugares lançará por terra todos os sofismas contra a Terceira Revelação.  

            Podemos imaginar eclipses dos dois movimentos: perseguição violenta como já houve na Alemanha, na Itália, na Espanha mas sabemos igualmente que as ideias mundiais são mais duradouras do que as perseguições de violência e que o Espiritismo e o Esperanto reaparecerão depois das tempestades políticas e sociais.

            Podemos até admitir um triunfo mundial do materialismo absoluto, imposto pelo Estado, como já se tem dado e ainda se dá em nossos dias; mas sabemos que no fundo da alma do homem existe a intuição da espiritualidade, porque ele é um Espírito que há de acordar do sono material.

            Com o progresso mundial da técnica na arte de produzir riquezas, podemos prever a abolição da pobreza, da servidão, da opressão econômica, da tirania de classes. Pelas conquistas na técnica dos transportes, podemos conceber intenso convívio de toda a humanidade do Planeta.            

            De todas essas conquistas que podemos facilmente prever a mais importante, a que valorizará todas as outras será o triunfo universal da Terceira Revelação: a compreensão da Justiça perfeita e inexorável que conhece e pune ou premia cada um dos nossos mais íntimos pensamentos, que faz do homem para si mesmo o mais severo juiz. Sem este conhecimento que nos traz o Espiritismo, empregaríamos egoisticamente todas as forças que viessem ter em nossas mãos; tudo se transformaria, em nosso poder, em fontes de perdição e desditas.

            Os Espíritos nos ensinam que as comunicações do invisível se destinam somente aos corações duros, porque os outros creem no Evangelho sem necessidade de provas. Isso é verdade: os Espíritos superiores, quando se encarnam, trazem o conhecimento da vida espiritual em forma de intuição e não necessitam das manifestações mediúnicas. Mas a imensa maioria dos homens são de coração duro e só se convencem mediante provas muito concretas.

            Mas será absolutamente certo o triunfo mundial do Espiritismo? Não vemos o movimento espírita declinar até desaparecer em países onde já teve grande brilho, como na França e na Espanha?

            Enquanto o mundo viver no domínio da incompreensão, dividido em múltiplas ilhas que são as regiões linguísticas, sem colaboração intelectual entre todas as nações, pode dar-se o fato de o Espiritismo declinar até desaparecer em alguns países enquanto floresce noutros, porque os povos vivem insulados, com civilizações apenas nacionais. Porém, quando houver uma língua internacional em pleno funcionamento, de sorte que os livros publicados em um país sirvam igualmente para todos, haverá intercâmbio tão intenso entre os homens do mundo todo que a propaganda feita em um lugar atingirá igualmente todos os outros lugares.. Admitamos essa língua internacional em pleno funcionamento e a mediunidade de Francisco Cândido Xavier que deu tamanho impulso ao movimento espírita brasileiro nestes quinze anos mais recentes, com as campanhas de imprensa que atingiram todos os seres pensantes deste imenso território nacional, não teria produzido frutos somente em nossa Pátria, mas igualmente em todas as pátrias, porque seus livros, publicados numa língua geral, alcançariam os pensadores de todos os países, seriam discutidos, em escala mundial e não somente nacional.

            O triunfo do Esperanto será igualmente a vitória do Espiritismo, porque ligará os diversos movimentos espíritas nacionais num único movimento mundial.

            Mas será absolutamente certa a vitória final do Esperanto? Não será possível que o Esperanto, depois de mais alguns decênios de progresso, entre em decadência e venha a desaparecer? Seus poderosos inimigos, os imperialismos linguísticos, não poderão exterminá-lo?

            Não, o Esperanto já é um movimento mundialmente organizado, como idealizamos para o Espiritismo. Quando perseguido em um país, ele está prosperando em outros. Desaparecem temporariamente territórios inteiros, como os da Alemanha e do Japão, mas o rádio leva àqueles territórios, aos povos oprimidos, a voz dos outros povos e lhes reanima sempre a fé na vitória de seu ideal. Não foi possível ao nazismo exterminar o Esperanto na Alemanha, porque o movimento passou a viver e crescer subterraneamente e, apenas desapareceu o nazismo, novamente ressurgiu o Esperanto com o seu antigo brilho. A ocupação americana impede as relações postais com os esperantistas japoneses, mas não lhes impossibilita de receber programas de rádio, e, sempre que um portador de confiança sai do Japão, traz brilhantes notícias da obra que estão realizando os esperantistas do Sol-Nascente. Duras guerras têm interrompido durante anos as relações postais de diversos países, mas os esperantistas de tais regiões não desanimam, porque sabem que em outros lugares seus companheiros estão trabalhando pela vitória da ideia. Durante a segunda guerra mundial, metade do mundo ficou sem relações com o exterior, mas nem por isso o Esperanto deixou de progredir por toda a parte. O que não se pode fazer em um lugar, fez-se em outro. O Esperanto cresce sempre e com ele a sua literatura, Ora, uma língua literária não morre nunca, só morrem as línguas populares. Cada livro que se publica em Esperanto é mais um prova de que o Esperanto já conquistou a imortalidade. E todos os povos do mundo publicam obras em Esperanto.

            Em outras palavras: o Esperanto é um movimento pacífico de colaboração mundial e por isso não pode ser destruído. Fosse um movimento material de força e a força o poderia demolir, mas é pacífico, por isso não há quem o destrua. Cada esperantista no mundo, mesmo o jovem que só emprega a língua na correspondência, é um colaborador de todos os outros e ajuda o movimento material e espiritualmente: enriquece materialmente a língua com suas cartas e bilhetes postais e espiritualmente reanima seus colegas de outras terras.

            A vitória do Esperanto é certa, porque o progresso reclama cada dia mais a existência de uma língua mundial de cultura e essa vitória irá beneficiar grandemente o triunfo do Espiritismo. Ambos os movimentos, estão nos desígnios de Deus pela lei eterna da evolução e hão inevitavelmente que vencer.

            Resumindo. O mundo futuro será espírita esperantista. Não há quem o possa evitar! Logo, o futuro será de compreensão e harmonia.


Reformador (FEB) de Jan 1948

Passados 64 anos da publicação do artigo acima fica a pergunta...
Que é do Esperanto como instrumento de comunicação dos Espíritos?
Apreciaríamos a colaboração de vocês! Fraternalmente,