Três comunicações de
Pedro, o Apóstolo
por Albino Teixeira
Reformador (FEB) Junho
1920
Do que foram na sua simplicidade, como
festividades de carácter puramente espiritual, as comemorações da ceia pascoal e
do sacrifício do Calvário, levadas a afeito este ano na Federação, já informamos
aos nossos leitores pelo Reformador
de 16 de Abril, à semelhança do que todos os anos ocorre, acentuamo-lo então,
elas se revestiram do cunho de reuniões verdadeiramente cristãs, em que
milhares de crentes, procurando apreender em espírito e verdade os ensinamentos
contidos naqueles dois atos culminantes da missão terrena do divino Mestre,
para deles colherem o alimento espiritual de que se sentem famintos, receberam,
num banho de luz vivíssima, como bênçãos do céu, alento e força, a fim de prosseguirem
na obra de sua regeneração, testemunhando a grandeza das misericórdias que
baixam sobre todos os que com boa vontade se consagram a essa obra.
*
Restava-nos somente divulgar um fato especial que
assinalou aquelas comemorações: o do recebimento de três comunicações do
apóstolo Pedro, dadas por diferentes médiuns duas pela forma psicográfica, nas
sessões públicas de quinta e sexta-feira santas, e uma por incorporação, em sessão
do grupo Ismael, no segundo daqueles dias.
Do
conjunto dos ensinos, das exortações e promessas que todas elas contêm,
destacaremos apenas, chamando para ele a atenção os que as leiam, um ponto:
aquele em que o grande apóstolo declina a razão determinante de haver negado o
Cristo, no Pretório. Não foi o medo, a fraqueza oriunda do temor de se
comprometer que o levaram a isso, mas o amor, o amor humano, o amor qual o
sentimos na terra, mesclado de egoísmo, que quase sempre lhe toma o lugar quando
vemos em risco a vida de um ser amado.
Quanto
ao mais, os que as lerem dominado por sentimentos cristãos saberão de certo
encontrar, por entre a singeleza de forma que apresentam, as ricas pérolas que
encerram, ofertadas generosamente a todos os que, despidos de preconceitos de
qualquer ordem, se disponham a buscar aquele que é único, porque só ele é “o
caminho a verdade, a vida.”
A primeira das três
comunicações, tomada psicograficamente pelo médium Albino Teixeira, é a seguinte:
“Aos continuadores do apostolado do Cristo as minhas
saudações de paz,
Meus
filhinhos, o Divino Mestre, desde que surgiu no estábulo de Belém, começou a
dar o exemplo de humildade mais frisante, para que os homens compreendessem que
a humildade exalta a criatura e o orgulho a rebaixa. Nasceu entre animais como
que para patentear ao mundo de então que esses talvez o compreendessem melhor
do que o homem. Podendo nascer num palácio, como Senhor, que era, do mundo, surgiu
num alpendre, abrigo de animais, tendo aparentemente por pai terreno um carpinteiro
Que sublime exemplo de humildade!
Na ceia
pascoal culminou essa humildade quando ele ofertou a seus apóstolos o pão e o
vinho, que simbolizavam o seu corpo e o seu sangre, isto é, a sua doutrina e o
seu amor às ovelhinhas que lhe foram confiadas; e ainda quando lavou os pés a
seus discípulos.
Eu fora,
quando pescava peixes no mar da Galileia, por ele chamado para ser pescador de
homens e sem vacilação o acompanhei. Em boa hora o fiz, pois que recebi as emanações
puríssimas de seu espírito, que leniram as agruras de minha alma de pescador.
Suas palavras me redimiram, tornando-me pregador de sua doutrina de amor e de
perdão.
Ao vê-lo
abaixar-se, cingido com uma toalha, para me lavar os pés, recusei.
- Como,
Senhor, pois tu, o Mestre, me as de lavar os pés? Jamais o consentirei.
Ah! Meus
filhos, se vísseis o olhar meigo e ao mesmo tempo imperativo e me lançou,
dizendo: - Se não me deixas lavar-te os pés, não és digno de mim... - Pois bem,
Senhor, lave-me os pés, lava-me também a cabeça, respondi.
A ceia pascoal, meus filhos, vos mostra a grandeza da
humildade de Jesus.
Quem
quiser ser o maior terá que ser o servo de seus irmãos. Depois lavar-vos os pés
uns aos outros, isto é, socorrer-vos reciprocamente, auxiliar-vos em todas as
circunstâncias da vida, como irmãos, filhos do mesmo Pai.
Se aqui
estiverdes reunidos com verdadeiro sentimento de fraternidade, com pensamento
de amor, com o desejo sincero de ser uteis aos vossos semelhantes, estareis
recebendo o pão e o vinho que Jesus nos oferecem, estareis comungando a hóstia
santa de seu amor. E como é esse o desejo que impera em vossos espíritos, eu
vos concito a perseverardes no propósito da propagação da doutrina por ele
ensinada, fazendo-a não somente por palavras mas especialmente pelo exemplo.
Assim,
os nossos pensamentos, confundidos com os vossos, repercutirão pelo infinito,
em vibrações de luz, integrados no concerto universal que formam os dos puros
espíritos, entoando hosanas ao seu amoroso Criador. Comunguemos mais uma vez
nesta ceia, exemplo da mais grandiosa humildade, e que Jesus, o nosso Salvador,
nos assista, permitindo que mais algumas criaturas, ovelhas do seu redil, se
tornem, como nós, pescadoras de almas. Paz e Deus vos abençoe.”
Pedro, o
Apóstolo
A segunda, também psicografada, foi
recebida pelo médium Manoel Quintão,
nos seguintes termos:
“Meus companheiros, como há dois mil anos, em transes
angustiosos, rememorando as cenas do Calvário, o meu espírito brada ao mundo –
Paz.
Hoje, mercê do Mestre e Senhor, eu me propus vir a vós,
como o Pescador da Galileia, para penitenciar-me de o haver negado três vezes.
O seu perdão sublime logo me atingiu, é certo, porque o Justo sacrificado bem
sabia que eu só o negara por amor. Naquela hora, o vidente apostólico emudeceu
para falar o homem no seu egoísmo, o homem que em tudo via o sacrifício menor
do seu Mestre querido. Eu supus que com a minha palavra comprometeria
porventura ainda mais a causa do Justo, porque o pescador ignorava o que o
apóstolo deveria saber um pouco e vos repete, isto é, que o Cordeiro de Deus, o
Filho do Homem, não vinha restabelecer um reino na Terra, nem reinar para a
Terra sobre uma geração, porque vinha restabelecer na Terra o reino do céu
através de sucessivas gerações.
Pois bem, meus queridos, essas gerações aí estão. Vós
mesmos as representais legitimamente, porque sois daqueles que fizestes então,
alvissareiramente odientos, a escalada do Calvário, para perpetua-la
dolorosamente, caindo aqui erguendo-vos além, até chegardes à compreensão das
coisas santas, despidos do orgulho que gera o ódio e ainda hoje sacrifica mil
calvários, simbolicamente, os portadores de todas as verdades. Para que assim
não continue a ser, é que se realizam as promessas do Divino Mestre e aqui vos
encontrais.
Mas, vede bem: a minha negação foi também um símbolo para
vós outros, como um brado de alerta, a fim de que, não somente três, mas três
mil vezes não negueis a Verdade, que é Jesus.
Com essas graças crescem para vós as responsabilidades
que se aferem na balança da Vida Eterna.
Tripulantes da minha barca, importa, porque o tempo vai
desfeito em borrascas temerosas, que vos mantenhais firmes em vossos postos, a
fim de não serdes arremessados ao oceano cavado das próprias paixões. O sinal
que vos dou é o da cruz: - O sinal que vos dou é o da cruz: - ao sopé uma
mulher lacrimosa que não tem um brado, nem um gesto de maldição. É a estátua da
Dor e é também a efígie do amor desse Filho que vos há de salvar.
A Ela rogo de joelhos para vós, como roguei para mim naquele
momento de angústia, a benção que conforta, ilumina e sara todas as feridas do
espírito.
E ela, Mártir Dolorosa, sorrindo, me diz: - Pedro, vai
abençoar os meus filhinhos em nome do Filho Amado, para que a compreensão
daquele perdão seja o sinal definitivo do recolhimento deles no meu seio.
Benção de Maria, bênção da paz e de amor, do céu, portanto,
vos trago. O remido da fé
Pedro
A terceira dada por
incorporação, é esta:
“E dentro em breve vereis o Filho do homem em toda a sua
glória.” Assim, meus amiguinhos, me falou o Amado Mestre, a mim, pobre pescador,
homem que nada possuía. Sim, que nada possuía, pois que nem bastante fé levava
consigo para compreender e penetrar essas palavras.
Acompanhei-o no Horto das Oliveiras, fui para Jerusalém e
daí à casa de Pilatos. Oh! Pedro, Pedro, que não sabes perdoar a ti mesmo a falta
que cometeste, quando Ele te havia dito: - Antes que o galo cante, tu me negarás
três vezes! E Assim foi, Senhor!
Pedro, que tudo te devia, que tudo te deve, te negou.
Negou-te, mas não por fraqueza, oh! Não! Negou-te por amor, pelo amor da terra,
pelo amor do homem. Dalí, desfeito em pranto, o acompanhei no Calvário!
Mas, meus filhos, como me senti só!
Como eu e os meus companheiros choramos a ausência do
Mestre e quão grande foi o nosso espanto, quando aquela alma sublime e excelsa
surgia diante de Madalena e disse: Não chores, porque eu aqui estou. Não
chores, porque eu aqui estou. Vai dizer-lhes que me viste que sou eu mesmo.
Ah! Voltou-nos a calma e sentimos em cheio toda a
grandeza da humildade do Senhor! Senti-me grande e forte da minha riqueza,
prometi mim mesmo que, se preciso fosse, também iria até o Calvário. Não, meus
filhinhos, porque eu entendesse ofertar desse modo alguma coisa ao meu Jesus,
não; mas porque achava que, dando-lhe tudo, nada lhe daria em comparação com o
tesouro que dele recebem.
Ele, pois, voltou e nos encheu do gozo, preparando-nos
para seguirmos as suas pegadas, em resgate do nosso passado, porque tínhamos um
passado a resgatar, e para que pudéssemos, sempre por seu intermédio, sempre
por seu amor, tornar-nos dignos do Pai Celeste.
Corri terras: era preciso que fosse assim. Faltava-me,
meus caros filhinhos: um braço direito. Encontrei-o, encontrando o meu Paulo.
Longe um do outro havíamos nascido e tão diferentemente: ele, rico, forte,
instruído nas letras e eu, humilde pescador, nada possuindo a não ser boa
vontade. Que poderia fazer? O Manso Cordeiro, porém, tudo tinha preparado! Como
previra tudo!
Aquele Paulo, que aceitava a esmola de Jesus, que falava
em nome do Cristo, aquele mesmo Paulo vem no meu encontro e, humilde e
arrependido, diz: “Pedro, ensina-me tu quem é o Cristo; quero ouvir da tua boca
todas as suas ordens, Eu já o sinto em mim, mas é necessário que tu me relates
a sua vida. Serei teu escravo”. E assim, unidos, amando-nos e muito, sem nunca,
nos termos visto antes, seguimos a nossa rota e, palmilhando espinhos por nós
meemos semeados, chegados ao fim da nossa jornada.
Ah! E como tu, Senhor, foste e és sempre grande e misericordioso;
quão grande foi a tua recompensa para os humildes servos; quantas graças e quantas
misericórdias!! E fizeste que as tuas palavras atravessassem os séculos e
viessem, por tradição, por estudos, até os ouvidos daqueles que há dois mil
anos gritavam: Crucifica-o, crucifica-o, colocando Ihes nas mãos o livro da Vida,
assentando-os à mesa do teu banquete e dizendo-lhes: - Aqui estais bebendo o meu
sangue, comendo da minha carne - porque os queres ver redimidos e que, como eu
e os meus companheiros, recuperem pelo seu esforço o tesouro perdido.
Do alto do trono da tua misericórdia, com n teu saber
imenso, vigias este rebanho pequenino e, como pastor cauteloso, consentiste que
o teu servo lhe viesse trazer a palavra de amor, tu que consolas, que
enriqueces a todos aqueles que sabem acolher-se ao teu seio. Obrigado, Jesus,
obrigado, bom e divino Mestre, por mim e por eles.
E vós, pequeninos discípulos da era nova, vós a quem tanto
foi dado numa época em que só há choro e ranger de dentes, apegai-vos à tábua
de salvação que vos é oferecida e, haja o que houver, dai testemunho da
sabedoria de Deus em toda a sua glória.
Paz, amor e caridade fiquem em vossas almas e, nos
momentos mais aflitivas, lembrai-vos sempre do humilde Pedro e Pedro acudirá ao
vosso chamado.
Adeus. Paz.”