“Não há
morte”
por G.R.
Reformador (FEB) 1º de Agosto
de 1918
Tendo por “devaneio romântico” o estudo evangélico do Espiritismo,
ou seja o estudo do Espiritismo como terceira revelação das verdades divinas, como
desenvolvimento da revelação messiânica, o ilustre confrade autor da obra cujo
título serve de epígrafe a estas linhas não vê no Espiritismo senão uma ciência
experimental, que nos revelará todos os seus arcanos pelo processo da experimentação
em larga escala, praticada por toda a gente.
Temos assim que, enquanto com relação às diversas ciências
experimentais estudadas, a generalidade dos homens, para lhes conhecer os princípios
e as leis e para os aplicar, se contenta com as experiências que realizam os cientistas,
aparelhados para as pesquisas das verdades científicas, em se tratando daquela que
objetiva a solução do mais grave e mais transcendente problema de quantos se possam
apresentar ao espírito humano - o problema da alma, como bem o disse
d’Argonnel, todos devemos ser experimentadores. Não nos podem bastar os fatos observados
e analisados por outros, sejam estes embora homens superiores pela sua retidão,
pelo seu saber, pelas suas virtudes, e menos ainda nos podem bastar, conseguintemente,
as leis que os fatos lhes tenham vindo revelar. É indispensável que cada um veja,
observe, apalpe, por assim dizer, para acreditar.
Não logramos perceber o fundamento dessa diversidade de atitudes,
uma vez que tanto de um lado como outro, só há “ciência” a ser estudada, desde
que não a atribuamos a uma só causa - a atração do maravilhoso, a curiosidade que
empolga o homem sempre que diante de si tenha o que quer que lhe dê pasto à imaginação
fantasiosa.
Bem triste se nos afigura a condição de todo aquele que
só acredita no que vê, que escraviza assim a inteligência e a razão, os mais elevados
atributos do ser, atributos verdadeiramente divinos, aos seus precários e acanhadíssimos
sentidos físicos. Se já não for, acabará sendo escravo do orgulho que o levará à
condição miseranda de olhar mas não ver, porque o forçará, para sua satisfação,
a dar explicações falsas de tudo o que lhe caia sob as vistas. Outra nunca foi
e não é a origem do negativismo materialista, que resistiu sempre e ainda por algum
tempo resistirá às provas mais concludentes de seus erros, de sua carência de
base; que arquitetou teorias abstrusas e esdrúxulas para explicar o que, muitas
vezes, se explica por si mesmo.
Vence-lo
á o Espiritismo, é fora de dúvida, não esse “espiritismo meramente científico”,
que não chegamos a compreender bem o que seja, mas o Espiritismo evangélico, porque
só esse conduz à humildade que afugenta o orgulho.
Menos mal, portanto, fazem os que, relegando para segundo
plano a fenomenologia, procuram no Espiritismo, para si e para seus
semelhantes, o aperfeiçoamento moral, a conquista dessa virtude da humildade diante
da omnisciência, da omnipotência e da misericórdia divinas, chave única que descerra
para a inteligência o campo da verdadeira sabedoria, do que os que pretendem só
ser digna de atenção, no Espiritismo, a fenomenologia.
Atente o operoso confrade no espetáculo que oferece o
mundo neste momento, busque as causas profundas, não apenas as aparentes, das
suas atuais angústias e, quando as encontrar no predomínio das paixões grosseiras,
no desenfreiamento das ambições, na obliteração do senso moral pela quase exclusiva
preocupação de satisfazer cada um a aspiração mesquinha do bem estar material,
verificará que muitos, senão a maioria, só irão pedir ao Espiritismo experimental
a aliança de espíritos que os auxiliem na satisfação daquelas paixões, ambições
e aspirações.
Aliás, o próprio autor de “Não há morte” nos dá inteira razão quando diz:
“O egoísmo insensível
aos sofrimentos alheios, que só cuida de si e de sua família e cuja mão dificilmente
se eleva para dar um óbolo a um necessitado, e o homem que, só a custa da
moeda, sai de sua casa para prestar socorro, um alívio, poderão observar alguns
fenômenos, mas que os deixarão sempre na dúvida; porém a prova da sobrevivência
dos mortos, afirmo, não conseguirão.”
Para o egoísta, portanto, de nenhum proveito será a fenomenologia.
Ele permanecerá sempre na dúvida acerca da sobrevivência, diz o confrade. Admitamos,
entretanto, que toda dúvida a esse respeito se lhe dissipe. Deixará ele, só por
isso, de ser egoísta? Afirmamo-lo, por nossa vez, firmados numa comezinha observação
de quase todas as horas, que não.
E qual o sentimento inferior que, de par com o orgulho e a
vaidade, seus irmãos gêmeos, marca o ainda imenso atraso moral da humanidade
terrena, senão o egoísmo? Menos intenso e dissimulado fosse ele entre os homens
e a fraternidade, síntese das sublimes lições evangélicas, já grande surto
teria alcançado na superfície do nosso planeta.
Mas, se a fenomenologia por si só em nada aproveita ao
egoísta, em nada aproveitará à grande maioria dos homens, enquanto, nesta, não baixar
o nível desse sentimento que a infelicita.
Ora, rebaixar, gradualmente, no seio da humanidade, o nível
não só do egoísmo como de todos os demais sentimentos que caracteriza a
inferioridade moral da criatura, até chegar à eliminação de todos eles, tal precisamente
a obra que veio executar na Terra o Espiritismo e que só não executará talvez naqueles
que o divorciam do Evangelho, sua mesma essência.
Página adiante diz o ilustre autor de “Não há morte” que “quando a certeza na sobrevivência invadir os povos, eles terão outras
leis, outros costumes, outra moral.”
Assim será, sem dúvida, mas essa certeza, há de convir o digno
confrade para estar de acordo consigo mesmo, eles só adquirirão quando se houverem
libertado, ao menos algum tanto, do egoísmo que ainda os traz escravizados,
pois é o próprio confrade quem afirma que os egoístas não conseguirão obter,
pelos fenômenos espíritas, a prova da “sobrevivência dos mortos.”
Sendo assim, está claro que a obra mais urgente que nos
cumpre a nós espíritas e executar é a da destruição do egoísmo, a fim de que,
escoimados dele os indivíduos, se torne possível aos povos adquirirem a prova
completa da sobrevivência e conseguintemente melhorarem suas leis, seus costumes,
sua moral.
Mas, a eliminação do egoísmo do coração humano assinalará
precisamente o triunfo das verdades evangélicas.
Desse modo, o nosso distinto confrade, possivelmente a
seu malgrado, vem em apoio dos que, espíritas, proclamam como necessidade máxima
para o gênero humano o estado e assimilação dos ensinos evangélicos, tornados claros
e acessíveis a todas as inteligências, graças à luz que sobre eles projeta a
doutrina dos Espíritos, cujo objetivo máximo é justamente essa.
Eis-nos, pois, a concluir de novo, como já o fizemos em
nosso precedente artigo, que só pode ter a certeza de que não está perdendo
tempo quem se aplicar devotadamente ao estudo do Evangelho, em espírito e verdade,
o que equivale a dizer - como o explica o Espiritismo, a fim de praticá-lo.
Disseminemo-lo, portanto, antes de tudo, sem lhe desvirtuarmos
o caráter verdadeiro, que é o de revelação divina, complementar da revelação
messiânica, sem lhe desfigurarmos o objetivo, sem lhe falsearmos os meios de
ação, e a comunicação entre os vivos e o mortos não mais precisará, para verificar-se,
de centros ou grupos de experimentação, onde se busque apenas a prova da
sobrevivência, porque se terá tornado fenômeno ordinário e comum, decorrente da
elevação moral de toda a humanidade, tanto no plano físico, como no plano
espiritual.
Que
importa haja dito o espírito “Imperator” a Stainton Moses que o Evangelho fornece
armas para todos os combatentes? Ainda que muito respeitável, essa opinião não passa
pelo fato de ser de um Espírito, de uma simples opinião individual e denota o superficial
que tinha, quem a emitiu, do assunto sobre que se pronunciou.
O Espiritismo, trazido à humanidade terrena pelos
enviados do Cristo, no momento por Ele julgado oportuno, exatamente nos mostra
quais as únicas armas que o Evangelho oferece, como nos havemos de servir
delas, quais os inimigos que com elas nos cumpre combater e qual o objetivo que
devemos mirar nesse combate. Todas as outras, diferentes dessas, se estilhaçam
ao primeiro choque, como vemos a todos os instantes. Com o Evangelho tudo, sem
o Evangelho nada de verdadeiramente durável conseguiremos. Sejam quais forem as
resistências individuais ou coletivas, a humanidade, em época que não vem longe,
reconhecerá que nele estão toda a ciência, toda a sabedoria, toda a moral.
Do blog: G.R. = Guillon Ribeiro?
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