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sexta-feira, 5 de junho de 2015

Templos de Pedra

             Variam as escolas arquitetônicas, mas permanece o erro do orgulho humano: transferir para as coisas materiais as grandezas que deveriam ser exclusivamente do espírito.

            Jesus pregou a religião do amor. Os homens, em seu nome, ergueram as suntuosas basílicas em cujos pórticos carpem os infelizes sua triste sorte, sob os olhares indiferentes dos "fiéis".

            Surgem as disputas de ostentação: qual a igreja mais bela? Qual a maior? a mais rica? a mais suntuosa? Qual a que se localiza em lugar mais santo? Já no tempo do Mestre vicejava tão esdrúxula política. E o Divino Rabi não perdeu o ensejo de esclarecer cabalmente a questão, dizendo à samaritana que o interrogava junto à fonte de Jacó:
           
            "Mulher, podes crer-me, que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai... Os verdadeiros adoradores o adorarão em espírito e em verdade: Porque são estes que o Pai procura para seus adoradores" (João, 4 - 21-23) (grifo nosso) .

            Também nisto o Espiritismo demonstra ser o Cristianismo Redivivo: retira dos templos a ostentação afrontosa e o formalismo asfixiante, e restaura no mundo o Templo-Casa-de-Assistência. Mal surge uma Casa Espírita, se não é ela própria o lar dos infelizes, seus membros estão vivamente empenhados no erguimento de sua obra assistencial.

            O exemplo vem de longe. A primeira e legítima igreja cristã que se levantou na Terra foi chamada "Casa do Caminho", erguida nas cercanias de Jerusalém por iniciativa dos discípulos, tão logo se viram privados da presença material do Mestre, num testemunho vivo do que era a doutrina do Cordeiro. Casarão assaz modesto, mas amplo bastante para recolher os pobres desvalidos que a ela recorriam.

            "Tudo o que fizerdes a um destes mais pequeninos de meus irmãos, é a mim mesmo que o fazeis"; "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros". E os atuais servos do Senhor, "aqueles que o Pai procura para seus adoradores", não deixam cair no olvido as exortações do Divino Enviado: revivem no mundo atribulado dos dias apocalípticos os templos-orfanatos, as igrejas-sanatórios, os santuários-albergues, os tabernáculos-soerguimentos .

            Não apenas templos de pedra fria, lugares exclusivos de rezas, mas casas vivas de oração e amor, onde a semente fecunda do Evangelho encontra terra boa no coração daqueles que do mundo muitas vezes nada mais esperam.

Templos de Pedra
Lauro F. Carvalho

Reformador (FEB) Junho 1970

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Doutrina Espírita


Doutrina Espírita

           
            A expressão merece considerada.

            Com efeito, no torvelinho do mundo atual, em que as mais tradicionais concepções sofrem convulsões basilares e imprevisíveis, o Espiritismo é uma das poucas doutrinas que apresentam realmente uma ','Doutrina".

            Definida, clara, racional.

            Da Codificação Kardequiana pode depreender-se que a Doutrina revelada pelos Espíritos se firma nos quatro esteios fundamentais seguintes:

 Existência do mundo espiritual e seu intercâmbio com o corpóreo. Mediunidade. Entrosamento natural e constante das duas humanidades, que é uma só em dois planos, material e espiritual. Pois que é intuitivo conceber o "mundo do lado de lá", que absurdo há em surpreendê-lo em mútua interferência com o "de cá"? Esse intercâmbio, aliás, não se repete diariamente aos nossos olhos com as legiões que de lá chegam e para lá partem através dos nascimentos desenlaces?

2º - Lei 'de Causa e Efeito, ou a Justiça Divina retamente interpretada. A mesma  lei física tão precisa e admirada que preside o mundo material vigorando também para o moral: "a cada ação corresponde uma reação
de intensidade igual e sentido contrário.” Isso porque, sendo o mesmo o Autor de ambas essas lei, não é lícito supô-lo mais previdente numa que em outra.

3.° - Reencarnação, ou Lei das Vidas Sucessivas. Um dos meios de que se vale a anterior para corrigir o mal e fomentar o bem, renovando experiências e determinando a "colheita obrigatória da livre semeadura". Até as escolas humanas têm os recursos de segundas épocas e repetições, porque não os teriam os excelsos educandários planetários do Pai?

4.° - Pluralidade dos mundos habitados. O Espiritismo mostra-nos a fieira dos mundos distendidos na vastidão do Infinito 'não apenas corno "as muitas moradas da casa do Pai", no dizer de seu próprio Filho, mas também a interdependência entre eles, como diferentes degraus da mesma escala evolutiva.

            Enfim, com o Espiritismo o homem deixa de ser um ente sem eira nem beira, produto de uma casualidade cega ou de um capricho despótico; um bibelô que tanto pode ser de um momento para outro precipitado numa perdição irremissível como num paraíso acabado.
           
            Com a Terceira Revelação, passamos a compreender-nos viajores da eternidade, originados simples e ignorantes do Divino Amor, para ele regressando com a própria perfeição amealhada no curso de vidas, mundos e milênios sucessivos.
           
            Desaparece o sobrenatural. Esclarece-se a superstição. Desvanece-se o formalismo religioso no clima de verdadeira e irrenunciável espiritualidade.

            Mas avoluma-se a responsabilidade. "A cada um segundo as suas obras”. O homem é o artífice do próprio destino, sob o olhar justo e misericordioso do Todo-Poderoso.

            Expressões usadas e abusadas perdem ou mudam seu sentido, dando lugar a novas e arejadas concepções: pecado, perdição, salvação, demônio, anjo, Juízo Final, ressurreição, perdão, pena eterna, etc. e uma verdade básica ressalta para todos no binômio iniludível: mal-sofrimento, bem-felicidade.

Lauro F. Carvalho
in Reformador (FEB) Março 1970

terça-feira, 21 de junho de 2011

O sangue de Jesus lava os pecados?




O Sangue de
Jesus Lava Pecados?

Lauro F. Carvalho
Reformador (FEB) Abril 1981

            Diante da insistente afirmação de certos religiosos, convém meditarmos um pouco: o sangue de Jesus lava realmente os nossos pecados?
            Antes de tudo, observemos que essa concepção é um resquício dos hábitos dos tempos antigos. A própria Bíblia é pródiga em relatos desses sacrifícios, havendo como meio de honrar a Deus ou demonstrar-Lhe temor e submissão.
            O passar dos séculos aboliu tão monstruosos costumes, mas seu reflexo chega até os nossos dias, existindo até certos ritos grotescos que ainda adotam sacrifícios de animais em suas práticas ditas religiosas. Assim se explica por que certas seitas cristãs ainda se apegam a essa concepção materializada do sangue do redentor crucificado expungindo as máculas dos pecadores.
            À luz da sã razão, contudo, haverá fundamento em tal modo de pensar? Evidentemente, não! É sempre o resultado do comodismo humano, tentando transferir a outrem o aziago produto de nossas iniquidades ou o esforço que nos compete para empreender nossa evolução.
            Logo quem viria derramar o seu sangue, como uma imolação de altar, para salvar os pecadores?! O justo por excelência, o Filho amado e imáculo do Pai, ao passo que nós outros, os verdadeiros culpados, não tendo a suficiente decisão e força moral para arcar com as consequências de nossos erros, nos refugiaríamos numa covarde omissão, preferindo a eterna dependência para com Aquele que teve a coragem de tomar sobre si o peso de nossas seculares defecções?
            Há cabeça pensante que possa aceitar tal aberração?
            Mas não é apenas o raciocínio que nos força a retificar concepções nesse sentido, também os fatos. Pois se é o sangue derramado do divinal Cordeiro que há de operar a ablução da nódoa de nossos pecados, já devia há muito ter lavado os que tivesse de lavar e deixado de limpar os que não o pudesse. No entanto, passados que são quase vinte séculos do seu derramamento, o que é que vemos? A mesma Humanidade ainda suando e lutando, gemendo e arcando com suas responsabilidades, amealhando cada indivíduo seu progresso à custa do esforço próprio.
            Mas então - indaga-se - por que se vê tão repetida aquela afirmação, do resgate do pecador pelo poder do sangue do excelso crucificado? e não asseverou Ele próprio: ‘Isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados’ (Mateus 26:28)?
            A explicação é fácil, desde que se procure o espírito que vivifica, em vez da letra que mata. O mal de muitos religiosos, mormente dentre as seitas reformistas, é que se apegam a uma passagem isolada das Escrituras e constroem todo o arcabouço de crença e opinião baseado unicamente nela. No caso em tela, deveriam notar que o versículo seguinte, nº 29. diz assim: “E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vida, até àquele dia em que o beba de novo convosco no reino de meu Pai”. Isto mostra que Jesus dirigia suas vistas para o futuro da Humanidade. Não estava preocupado apenas com os pecados passados e presentes (àquela época) das ovelhas que o Pai lhe confiara, mas que trabalhava com a leva de alguns bilhões de almas, que muito tinham ainda que lutar, sofrer e aprender, no curso de encarnações sucessivas, neste orbe.
            O seu sangue não teve, enfim, um valor intrínseco na remissão dos pecados, mas extrínseco, como um testemunho necessário, em reforço dos princípios que pregava, dentre os quais se sobressaem o amor, a tolerância, a humildade e a firmeza na virtude, sustentados até às últimas conseqüências.
            Como ensinava sempre que possível através de símbolos e ilustrações, aproveitou aquela oportunidade, que seria talvez a última em fraterno colóquio com os discípulos, antes do drama do calvário, para encorajá-los, dizendo-lhes que não se atemorizassem com a aparente derrota que viria com o seu extermínio físico, porquanto essa vida Ela a entregava conscientemente, como mais um exemplo ‘para remissão de pecados’, isto é, para que nós mesmos, amparados em suas demonstrações, nos redimamos do jugo do pecado pelo próprio esforço.
            Em suma, o sangue que lava nossos pecados é o nosso mesmo, repetidamente utilizado ou derramado quantas vezes sejam necessárias, nas encarnações expiatórias, provacionais ou missionárias, até que um dia venhamos a alcançar a necessária pureza para usufruir de novo a excelsa companhia do Mestre, no reino da Luz!..