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sábado, 29 de agosto de 2020

Espíritos e Espiritismo moderno





“Espíritos e Espiritismo moderno” - Parte 1
Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)
Reformador FEB) Dezembro 1963

            Lemos com toda a atenção, como recomenda Allan Kardec, mais um livro contra o Espiritismo “Spiriti e Spiritismo moderno”, do Padre Giovanni M. Arrighi O. P., prefaciado pelo Cardeal Giacomo Lercaro, Arcebispo de Bologna. Já teve três edições, em 1954, 1955 e 1957, publicado com as necessárias autorizações da Igreja Católica Romana.

            Logo de início o Autor nos informa que o Espiritismo é universal e eterno. Nas páginas 25 e seguintes diz que o Espiritismo era conhecido no antigo Egito, na China, na Índia, entre os gregos e romanos, Para o povo hebraico houve as proibições de Moisés, proibições que revelam sua divulgação popular, e o autor nos cita a sessão realizada na cidade de Endor, na qual Saul evocou o Espírito de Samuel e com ele conversou.

            Da Bíblia é essa a única sessão que ele nos cita, o que é pena, porque temos coisas multo melhores nas Escrituras Sagradas. No Novo Testamento, por exemplo, a sessão gloriosa em que Jesus evocou os Espíritos de Moisés e Elias que se materializaram diante de três discípulos e conversaram com o Senhor. O livro de “Atos dos Apóstolos” está repleto de manifestações espíritas que o Padre Arrighi não menciona. O estabelecimento do Cristianismo no mundo está repleto de grandiosos fatos espíritas, como a ressurreição de Jesus, suas aparições aos discípulos, depois a Saulo, depois a Ananias, mandando-lhe que fosse curar o jovem legisla que estava cego. Naquele momento histórico, ocorriam muitos fenômenos espíritas na Palestina.

            Os fenômenos espíritas não só são muito antigos e universais, como nos informa o Autor, mas são igualmente a revelação da sobrevivência do homem após a crise da morte e formam a base das mitologias de todas as religiões antigas e modernas. Das antigas, temos um Espírito manifestando-se a Moisés e lhe dando instruções; das mais modernas, temos um Espirito aparecendo à Sra. Nao Deguêi, no Japão, e fundando a religião conhecida pelo nome de Oomoto, que tem apenas setenta anos de idade. Infelizmente o Padre Arrighi não trata dessa parte tão expressiva.

            Informa-nos ele que em 1588 o Papa Sixto V condenou, pela primeira vez, as práticas espíritas.

            O Espiritismo moderno “nasce como reação contra o materialismo” (pg. 34). Os fenômenos de Hydesville vêm relatados na página 36 e o caso do Juiz Edmonds aparece na p. 37. A primeira obra notável sobre o Espiritismo moderno - informa-nos o Autor - foi “Sights and Sounds” (Vistas e Sons), de Henrique Spicer, editada em Londres, em 1853 (p. 10). Infelizmente não conhecemos esse livro, surgido quatro anos antes de “O Livro dos Espíritos”. Dele só sabemos algo através das pp. 188 e 189 da obra “As Mesas Girantes e o Espiritismo”, de Zêus Wantuil.

            No princípio do movimento espírita moderno, alguns ateus materialistas se converteram ao Catolicismo por intermédio do Espiritismo (p. 42). Um desses convertidos recebeu mensagens de um jesuíta que lhe aconselhou estudar a história da Companhia de Jesus.

            Na opinião do Autor, a fraude mediúnica é exceção à regra, é imitação de fato real existente (p. 59).

            Informa-nos o Autor que os anjos podem manifestar-se sem milagre, mas as almas dos homens só o podem excepcionalmente, por milagre, com permissão de Deus (p. 110). Cada ano morrem aproximadamente 10 milhões de crianças sem batismo e sofrem eternamente a privação do Céu (p. 112). Mas o Padre Thurston S. J., citado pelo Autor, acha injusto esse eterno sofrimento de uma parte tão grande da Humanidade. E nós pensamos apenas que esse ensino da Teologia é uma blasfêmia contra a Sabedoria e a Justiça perfeitas de Deus.

            Só excepcionalmente pode resultar algum bem de uma sessão espírita (p. 131). Quanta inverdade nessa restrição, meu Deus!

            Mas o P. Thurston S. J. diz que “a intervenção de inteligências boas e generosas aparece em algumas “mensagens” muito sérias, pias, tonificantes, tanto que diversos são os convertidos pelo Espiritismo. Por Isso concorda em pensar na intervenção de Espíritos bons e inteligentes que se interessam por nós. Eis a resposta clara que o Padre Omez O. P. deu recentemente sobre esse tema em “Métapsychique et Merveilleux Réligieux”: “A graça de Deus pode servir-se de tudo...” (p. 131). Ainda bem!..

            Como se vê destas poucas citações, um livro contra o Espiritismo sempre informa alguma coisa interessante ao leitor que não abriria um dos nossos livros. É sempre um bem para todos, e a nós nos serve para demonstrar que todos os ataques contra o Espiritismo são de uma estultícia chocante.

            Em outro artiguete concluiremos nossas notas sobre o livro do Padre Arrighi.

“Espíritos e Espiritismo moderno” - Parte 2
Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)
Reformador FEB) Janeiro 1964

            Já é muito rica a biblioteca teológica sobre o Espiritismo. No livro do Padre Giovanni M. Arrighi O. P. – “Spiriti e spiritismo moderno” - vemos citadas as obras de dezenas de teólogos que se ocuparam com o Espiritismo.

            Todos esses livros são úteis para o Espiritismo, porque o Autor tem de expor a Doutrina para refutá-la, ainda que o façam em pequenos trechos, soltos e incompletos. Não raro a exposição é prejudicada pelo sectarismo, diz inverdades, até calúnias involuntárias, por exemplo, o Padre Arrighi afirma que todas as mensagens espíritas são banalidades, tiradas sem pé nem cabeça, quando sabemos que muitas dessas mensagens, a maioria talvez, são majestosas lições em prosa ou verso, reunidas em grossos volumes de imenso valor moral e intelectual, como “Parnaso de Além-Túmulo”, “Antologia dos Imortais”, “Paulo e Estêvão”, “Cânticos do Além”, “Memórias de um Suicida” etc. Assim, por deturpada que seja a exposição que os adversários fazem, alguma coisa sempre se aproveita.

            Eis uma tirada do Padre Arrighi, na p. 134:

            “É verdade que se têm podido registar, como mais bem fundadas na realidade, algumas breves aparições de almas de mortos no momento exato da morte ou pouco depois. Mas, precisamente essas aparições são totalmente espontâneas, não provocadas e ainda menos coagidas.
            “Com maior razão é inadmissível que Espíritos bons, também eles dependentes de Deus, imersos na sua luz, firmes na atitude moral, se deem aos homens pelo modo ridículo e mesquinho das manifestações espíritas.”

            Quanto engano junto! Nem os Espíritos são coagidos nunca nem são ridículas e mesquinhas as manifestações realmente nobres e elevadas dos Espíritos superiores que caridosamente descem às nossas trevas para nos ajudar com suas luzes.

            Diz o Padre que a lei de causa e efeito é superior a Deus na opinião dos espíritas (p. 140); depois repete: “A Lei de Carma é absurda, porque ela se impõe a Deus mesmo” (p. 160).

            Sabemos os espíritas que todas as leis naturais são criadas e aplicadas por Deus com toda a sabedoria e infinita misericórdia. O homem sofre os efeitos de seus atos errados, mas Deus lhe faculta os meios de aliviar seus sofrimentos, equilibrando-os com as alegrias e esperanças decorrentes do bem que faça. Deus sempre lhe acolhe o arrependimento e lhe proporciona os meios de salvar-se, segundo a Lei do Carma, contrariamente à doutrina das penas eternas. Demais, Carma não é castigo apenas, é igualmente prêmio, recompensa por todas as virtudes praticadas, por todo o bem que se faça.

            Condenando a Lei do Carma, o Autor admite as penas eternas o que repugna à justiça, porque a pobre criatura humana, em sua curta vida de ignorante, mal sabendo distinguir entre o bem e o mal, não poderia merecer uma punição eterna. Reencarnação e Carma resolvem todos os nossos problemas, e aquelas negações não prevalecem contra a Justiça perfeita.

            O Autor compreende a reencarnação sempre como expiação, nunca como escola de preciosas experiências para nossa formação, nem como missões, por vezes tão gloriosas na História. A Igreja condenou a reencarnação nos Concílios de Constantinopla (543) e de Lyon (1274), mas ... a condenação não teve efeito, a lei continua funcionando e a imensa maioria da Humanidade reencarnacionista - todos os budistas - não toma conhecimento das decisões da Igreja.

            “A ciência do demônio é muito maior do que a dos maiores gênios da Humanidade” (p. 185). Quem se salvará, então contra tal inimigo?

            Os teólogos católicos até hoje se apoiam sempre em S. Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, que viveu de 1227 a 1274. Nos setecentos anos decorridos depois dele, quantas descobertas foram feitas que alteram profundamente os pensamentos da Humanidade...

            Diz o Padre Arrighi que é na Doutrina Espírita, não nos fenômenos espíritas, onde mais se nota a influência diabólica. (p. 193). Mas a Doutrina Espírita é puramente evangélica! Cuidado, meu irmão, com suas palavras, porque elas inconscientemente revelam que a sua Igreja já se tornou inimiga do Cristo de Deus!   .

            Duas “dificuldades” de explicação (só duas!) encontra o Padre Arrighi nos fenômenos espíritas: a caligrafia de um defunto que o médium reproduz sem tê-lo conhecido e a predição de acontecimentos futuros que depois se verificam (pp. 231 e 232).

            Isso é nada diante do estilo de dezenas de poetas desconhecidos do médium, como aparecem os poetas de “Parnaso de Além-Túmulo”, “Antologia dos Imortais”, “Cânticos do Além". E os livros em prosa, como, por exemplo: “Falando à Terra”, como explicá-los, Padre Arrighi?  

            O Padre Arrighi insiste sempre que o dogma da reencarnação é do Espiritismo e da Teosofia, e silencia quanto ao Budismo, que o ensina a um número de crentes três vezes maior do que a soma de todas as igrejas cristãs do mundo e há mais de quinhentos anos do que o Cristianismo.

            Não há pronunciamento oficial da Igreja sobre os fenômenos espíritas (p. 240), todas as opiniões de teólogos são particulares: mas há documentos oficiais da Igreja contra a Doutrina espírita (páginas 240 e 241).

            O Autor declara que “a questão espírita não se pode dizer totalmente e definitivamente resolvida” (p. 236) e formula três questões, a saber:

            1ª - “Pode admitir-se, pelo menos como provável, que no Espiritismo (salvo uma especial permissão ou um particular mandato divino) intervenham os defuntos?”
            Responde negativamente, alegando a natureza da alma, na sua opinião incapaz de agir sobre a matéria.

            2ª - "Deve afirmar-se que no Espiritismo haja uma intervenção diabólica?”
            Afirma que não se pode cientificamente demonstrar a influência direta do demônio, mas pode afirmar-se sua influência indireta.

            3ª – “Pode-se pensar que todos os fenômenos medianímicos possam explicar-se naturalmente?"
            Responde que até hoje não se pôde explicar tudo por hipóteses naturalísticas:

            Na sua última página do livro, o Autor nos diz:

            “Uma das afirmações mais inteligentes de Sócrates é sem dúvida esta: “Só sei de uma coisa: que nada sei.”
            “E, honestamente, deve-se reconhecer que é um pouco assim no nosso caso. Eis porque falei antes de minha “opinião” e insisto sobre este termo. Sinto-me de fato ainda muito longe da certeza absoluta.”  

            Esta modéstia final salva o Padre Arrighi. Como teólogo sectarista ele escreve muita barbaridade no livro. Vê-se que tem muito de fanático e, se não houvesse reencarnação, seria difícil imaginar-se quando poderia ele mudar de rumo; mas, com a reencarnação tudo se torna fácil: Deus lhe permitirá a graça de renascer num lar espírita e conhecer desde a infância a sublime Doutrina do Consolador.

            Não chegará, como nenhum de nós chega, à “certeza absoluta” mas chegará a convicções bastantes para orientar seus pensamentos e sentimentos rumo a conceituações bem mais elevadas da Vida.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A grande transformação do mundo


A grande transformação do mundo
por Antônio Túlio
Reformador (FEB) Novembro 1940

            Dia virá em que todos compreenderão e nesse dia terá começo um novo ciclo glorioso para a evolução social, moral e espiritual do gênero humano.  Bozzano - Animismo ou Espiritismo? (Pág. 161)

            Esse dia não vem longe como parece. A dor está fazendo sua obra providencial. Ídolos caem e se esboroam por toda parte. O homem corre sem rumo nem norte em busca da felicidade e colhe desilusões.

            Levanta altares novos, desencanta-se e arrasa tudo para reconstruir o castelo de seus sonhos sobre a areia movediça do mundo exterior. Julgou-se capaz de ser feliz, se satisfeitas suas necessidades materiais, mas surgiram necessidades e anseias novos. Lutou, penou, sangraram-lhe os pés na subida íngreme da montanha das ilusões materiais. Tudo inútil! A insatisfação toma novas formas, cresce e avoluma-se sempre como a bola de neve.

            Formas políticas, organizações econômicas, transportes rápidos, produção vertiginosa, e tudo redunda em novas dores, em novas decepções. A riqueza, o prestígio, a fama, os gozos, tudo já o enfada, a tudo já aborrece.

            Atribui os males que o afligem aos seus semelhantes e os vence na luta, mas a ilusão se desnuda. Combate o mal por toda parte, no mundo exterior, mas deixa-o progredir sempre, crescer sempre dentro de si mesmo.

            A ansiedade avulta, as dificuldades se avolumam.

            Já é tempo de iluminar por dentro a sociedade!

            Cada homem deverá ser um policial sempre alerta a vigiar todos os seus pensamentos e atos. Cada homem tem de ser um tribunal severo e inflexível em seus julgamentos contra si mesmo.       

            Como chegaremos a isso?         

            "Conhecendo a verdade que nos tornará livres".
           
            A verdade interna do ser, acordando a consciência adormecida na ilusão voluptuosa da matéria.

            Para lá marcharemos impelidos pelo azorrague impiedoso da dor.

            Que somos? De onde vimos? Por que sofremos? Para onde vamos?              

            Somos espíritos em prova, vimos das trevas do erro, sofremos as consequências do mal, vamos para a luz e para Deus.

            Sim, Bozzano, esse dia virá e muito breve. Um mundo novo surgirá dos escombros do velho. A grande transformação já se vem processando um pouco por toda parte. O homem acorda de seu longo pesadelo para a alvorada do porvir...

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O Nascimento das Grandes Coisas



O Nascimento das Grandes Coisas
por Antônio Túlio
Reformador (FEB) Fevereiro 1948

Em sua “Conclusão” do "Livro dos Espíritos", Allan Kardec faz as seguintes considerações:        

“Quem, de magnetismo terrestre, apenas conhecesse o brinquedo dos patinhos imantados que, sob a ação do imã, se movimentam em todas as direções numa bacia com agua, dificilmente poderia compreender que ali está o segredo do mecanismo do universo e da marcha dos mundos. O mesmo se dá com quem, do Espiritismo, apenas conhece o movimento das mesas, no qual só vê um divertimento, um passatempo, sem compreender que esse fenômeno tão simples e vulgar, que a antiguidade e até os povos semi-selvagens, conheceram, possa ter ligação com as mais graves questões de ordem social. Efetivamente, para o observador superficial, que relação pode ter com a moral e o futuro da humanidade uma mesa que se move? Quem quer, porém, que reflita se lembrará de que uma simples panela a ferver e cuja tampa se erguia continuamente, fato que também ocorre de toda a antiguidade, saiu o possante motor com, que o homem transpõe o espaço e suprime as distâncias.

“Pois bem! sabei vós que não credes senão no que pertence ao mundo material, que dessa mesa que gira e vos faz sorrir desdenhosamente saiu uma ciência, assim como a solução dos problemas que nenhuma filosofia pudera ainda resolver.”

Os contemporâneos do Mestre só viam no Espiritismo a mesinha girante e a inteligência deles não lhes permitia refletir sobre coisa tão banal. Os tempos já mudaram. Muita gente hoje vê no Espiritismo um meio de curar suas mazelas. Lembram-se dos médiuns receitistas ou curadores, quando sofrem uma enfermidade, e mandam então procurar uma receita ou pedir passes nalgum grupo espírita. Nenhuma outra finalidade alcançam além dessa, tão terra-a-terra, de obter remédios e conselhos médicos, nem podem conceber as finalidades de associações espíritas que não dão receitas, nem aplicam passes.

Desprezam por incompreensão tudo o que há de grande e belo no Espiritismo, para confundi-lo com uma das múltiplas escolas que disputam entre si o direito de curar enfermos: alopatia, homeopatia, naturismo, etc.

De modo semelhante, os contemporâneos de Jesus preferiam ver nele o homem que multiplicava os pães e curava enfermos, a reconhecê-lo como portador de uma doutrina que os libertaria de todos os seus males morais. Essa mentalidade inferior ficou registrada em João, 6:26, nos seguintes termos;

“Jesus respondeu-lhes e disse: Na. verdade, na verdade, vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes.”

A inteligência do homem é demasiado curta para prever o futuro, mesmo o mais lógico. Pouquíssimos possuem logica bastante para se entusiasmarem pelas grandes coisas em seu nascimento e por elas trabalhar. Todas as grandes descobertas, todas as grandes invenções, todas as grandes reformas tiveram que lutar contra o espírito de rotina, que pretende modelar o futuro pelo passado e toma armas contra quem ouse prever um porvir diverso do presente.

O Espiritismo ainda se acha, para a imensa maioria dos homens, no rol das coisas novas e incompreendidas. Seu caminho vai sendo aberto penosamente pela floresta virgem da indiferença, esbarrando a cada passo com os espinheiros da oposição violenta. No entanto, é inegável que progride e interessa a um número de pensadores sérios, que aumenta dia a dia. Como índice disso, vemos a divulgação das obras doutrinárias, sempre melhores, sempre mais procuradas. O público ledor já se interessa pelo estudo da doutrina, já vê no Espiritismo muito mais do que um passatempo ou um processo de curar doenças.

No entanto, a reforma moral que o Espiritismo exige dos homens é muito grande, talvez demasiado grande para se efetuar sem uma remodelação, completa da atual sociedade. Só podemos conceber a moral espírita em ação, num mundo confraternizado, onde reine a lei de Deus.

Mas, não tenhamos dúvida de que esse mundo novo está em formação. O mundo velho se esboroa com todas as suas pirâmides multi seculares de injustiças e crimes. Depois dele virá o mundo ideal. Paradoxalmente, é o desenvolvimento do egoísmo que produz o altruísmo. A insegurança, a angustia, a febre, o inferno que o egoísmo produz, forçam o homem a apoiar-se em seus irmãos, a solidarizar-se com eles para sua própria felicidade. O homem será levado à fraternidade e ao altruísmo por amor à sua própria segurança, à sua felicidade.

Só a incompreensão de seus mais altos interesses pode fazer dele um egoísta a criar para si um inferno de ódios e sofrimentos. A compreensão o libertará e essa compreensão se vai estabelecendo a pouco e pouco. Em vez de lutar para construir a sua felicidade à custa da ventura alheia, o homem chegará a compreender que só será feliz quando trabalhar pela felicidade de todos, pensando menos em sua minúscula pessoa.

Nesse mundo, em que todos se esforcem pela felicidade de todos, em que o homem veja e sinta que sua felicidade é uma parcela da felicidade de sua pátria e da humanidade, que fica sacrificada toda vez que a pátria ou a humanidade sofram, haverá o clima necessário ao pleno desenvolvimento da moral espírita, ou, antes, da moral cristã eterna, agora renovada pelos ensinos dos Espíritos de luz que estão baixando a Terra.

Segundo repetidas mensagens do Além, já estão a postos os prepostos de Jesus para prepararem esse mundo novo, em que reinará a lei de Deus nas consciências. Num futuro talvez bem próximo, portanto, a moral espírita encontrará na face da terra as condições necessárias ao seu pleno vigor, à sua compreensão e prática. Nesse tempo, o Espiritismo terá entrado em todas as consciências, não como um passatempo, não como processa terapêutico, mas, na verdade, como regra de conduta para todos os homens.  

Trabalhemos e esperemos, ajudando por todos os meios ao nosso alcance a marcha do progresso em todas as suas múItiplas modalidades.


sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Desvio de Milênios


Desvio de Milênios
por Antônio Túlio
Reformador (FEB) Jan 1956

            Num precioso livro com o título “Heilung durch den Geist” (Cura através do espírito), Stefan Zweig estuda a arte de curar através dos tempos e demonstra que a medicina primitiva achava-se estreitamente ligada à religião e à moral. Sentia-se que a doença era consequência do pecado, castigado pelos deuses, e só os sacerdotes tinham poder de curar, repacificar o pecador com os deuses ofendidos.

            O tratamento do doente era sempre ato religioso.

            Depois de tal demonstração histórica, o autor nos mostra o renascimento dessa velha convicção em três escolas modernas, sem ligação entre si, que tratam os doentes por processos espirituais, sem drogas nem remédios materiais.

            A primeira citada por ele é de Mesmer, de cura pelo magnetismo, por meio de passes e de sugestão. A segunda é de Mary Baker Eddy, que surgiu nos Estados Unidos com o nome de “Christian Science; (Ciência Cristã) e cura pelo estudo da Bíblia e do livro moral da autora. A terceira é a do médico austríaco Sigmund Freud, Psicanalista, que atribui as enfermidades a recalques morais e os trata por processos morais.

            Segundo Stefan Zweig, esses três processos diferentes de tratar doentes demonstram que o materialismo da Medicina foi um desvio milenário, consequente do triunfo das ideias materialistas no mundo científico, mas não deu resultados satisfatórios e a Humanidade tende a regressar ao método primitivo de ligar medicina com moral e atribuir as enfermidades a erros morais.

            O novo livro de André Luiz – “Nos Domínios da Mediunidade” - não só confirma essas suposições de Stefan Zweig, como vai muito mais longe, porque, conhecendo a reencarnação, pode explicar as doenças e deformidades de nascença as causas remotas das enfermidades, sempre com base em erros morais ou pecados. É o regresso em cheio à medicina primitiva, porém com inteira luz sobre os casos de enfermidades.

            Não só as doenças como todos os outros males que afligem a Humanidade são produtos do pecado, são maus hábitos velhos ou novos que têm de ser corrigidos para que o homem entre no caminho da saúde e da felicidade reais.

            Quando toda a Humanidade conhecer estes ensinamentos e os aceitar integralmente, como terá de ser um dia, mais cedo ou mais tarde, medicina e moral se fundirão num só grupo de conhecimentos práticos para criar a Humanidade nova do porvir.

            Não importa que o materialismo médico já tenha milênios de existência e que tenha feito belas e úteis descobertas. O Materialismo tem que desaparecer, porque o futuro pertence ao Espírito, como nos diz Emmanuel no prefácio do mesmo livro, e essas belas aquisições da Ciência irão auxiliar a compreensão da parte espiritual das enfermidades.

            Não haverá a dualidade Ciência e Religião de hoje, mas um só grupo de conhecimentos de aplicação prática na vida. Moralidade será sinônimo de saúde e imoralidade terá o mesmo sentido de doença. Sacerdote, médico, moralista, será o mesmo Mestre.

            Quem aceite os ensinos de André Luiz no livro “Nos Domínios da Mediunidade” não tem que esperar essa evolução da Ciência para mudar sua conduta; ao contrário, tem que ser pioneiro da nova ideologia e demonstrar que à transformação moral corresponde o melhoramento na saúde, salvo quanto às fundas raízes no terreno escuro do passado que não poderão ser removidas subitamente, porque terão ainda que produzir seus penosos esforços. Por haver mudado de conduta, o criminoso não fica absolvido dos crimes do passado, pelos quais já esteja condenado, apenas não cometerá novos crimes para o futuro e poderá receber diminuição da pena, levada em conta sua boa conduta na penitenciária. Isto na justiça humana. Na Justiça Divina se dará coisa ainda melhor: o condenado cumprirá com perfeita resignação o resto da pena, recebendo desde já alegrias novas e maiores energias pela perfeita observância ativa da Lei.  

            O Espiritismo não é somente a delícia de encantadores conhecimentos que nos levam à adoração, como a Astronomia, é mais: é um Código de conduta obrigatório para todos.