"Sente-se que o
temor da Ciência é ter que presenciar o destroçamento total, completo, de suas
mais queridas crenças materialistas. A revolução que se processará em todos os
ramos do conhecimento humano será tão radical, profunda e irreversível que
intimida os “donos” da Ciência. Praticamente, tudo terá de ser reconstruído,
não somente em matéria de Filosofia, Religião, Sociologia, Psicologia e
Metafísica, como também nos domínios das ciências físicas.
A matéria, que parece ser a única
realidade, será apenas uma das manifestações de uma realidade muito superior. O
Evangelho do Cristo, que parecia aos menos avisados mero conjunto de regras de
fundo místico, será reconhecido como o verdadeiro fundamento da nova Moral, da
nova Metafísica, da nova Sociologia, do novo Direito, da nova Medicina.
Tudo terá que ser revisto,
corrigido, ampliado. As crenças religiosas e científicas, que ora parecem mais
firmes e mais apoiadas na realidade, se verão subitamente sem base orgânica de
sustentação. Velhas e abandonadas doutrinas, desprezadas pelo chamado
racionalismo moderno, ressurgirão cheias de vigor, como a reencarnação, por
exemplo. A comunidade humana, que primitivamente era constituída por simples
agrupamento familiar de indivíduos, passando depois a tribos, estados, nações,
será encarada, não mais como terrena, mas cósmica, pois que há uma comunidade
universal de seres humanos em incontáveis graus evolutivos, na matéria e no
espírito, em cada astro ou planeta que povoa o espaço. Somos todos irmãos, num
sentido amplo, infinito, eterno; apenas habitamos casas diferentes, mundos
diversos.
O desconhecimento dessas verdades
conduz a vícios de raciocínio dos mais lamentáveis. Não faz muito tempo, um
cientista inglês declarava que o progresso da Medicina acabaria com os gênios,
que, na sua maneira de pensar, são produtos de deformações físicas e
psicológicas. Uma vez curadas as deformações, cessariam as condições que criam
os gênios. Como “prova”, acrescentava que a grande maioria dos gênios media
menos de 1,60 m ou eram aleijados; que praticamente nenhum deles foi pai de
crianças geniais; que muitos foram alcoólatras, toxicômanos, tuberculosos ou
mentalmente instáveis. No entanto, como é fácil, dentro da Doutrina Espírita,
responder a essas observações e invalidar essas “provas”. O ilustre cientista
toma o efeito pela causa. O gênio não é produto de deformações e deficiências
orgânicas ou morais; é, sim, o coroamento de uma longa série de encarnações, em
que o conhecimento se acumulou e a inteligência se aperfeiçoou e evolveu. O
que, porém, muito frequentemente acontece é que o
desenvolvimento das faculdades intelectuais não é acompanhado pela evolução das
qualidades morais. Para corrigir o desnível, as leis cármicas determinam a
reencarnação sob condições adversas, para que, sem sufocar o cérebro, possa a
criatura preencher o vácuo que existe entre suas qualidades morais e as
intelectuais. Cabe ao Espírito reencarnante lutar contra as adversidades da
existência material, para superar suas próprias deficiências morais. Nessa luta
se fortalece e se recupera, preparando-se para a promoção a um estágio superior
no mundo espiritual. Assim, o gênio não é produto de taras e deficiências, e
sim resultado de longo aperfeiçoamento intelectual, através de muitas
existências.
Resgatadas as faltas e restabelecido
o equilíbrio moral, o gênio não deixará de sê-lo; ao contrário, prosseguirá com
novos recursos, aparelhado para novas conquistas, colaborando na obra do
Criador.
Por essa pequena amostra vemos
quanto falta ainda à Ciência para a exata compreensão dos problemas humanos.
Como poderá ela, então, propor soluções para a angústia da nossa época se ainda
nem sequer admitiu a existência do Espírito? Como pode receitar remédios se
orientar o homem e pontificar sobre questões transcendentais se nem mesmo
arranhou a superfície do conhecimento?"
Hermínio Miranda
Trechos do artigo sob título
‘Lendo e Comentando’
in ‘Reformador’ (FEB) Julho 1961