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sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Religião, sim!

 Guillon Ribeiro

Religião, sim!

Guillon Ribeiro por Júlio Cezar Grandi Ribeiro

Reformador (FEB) Fevereiro 1977

                 Impossível desatrelar-se do comboio doutrinário do Espiritismo o vagão das instruções religiosas, na pretensa afirmativa de que a Terceira Revelação se caracteriza, essencialmente, por seu conteúdo filosófico-doutrinário.

            Em nosso século, de acurado cientificismo, os raciocínios intoxicados de excentricidades deixam-se enovelar no fio das conquistas tecnológicas, quase sempre em êxtase diante da cultura que avança, segregando o coração, sequioso de nivelar-se com a razão, no exílio doentio de dogmas e fanatismos que mais o distanciam da verdadeira ideia de Deus.

            Observamos, não se certa estranheza e apreensão, que a onda avassaladora do tecnicismo vem-se derramando sobre muitos adeptos do Espiritismo, reprimindo-os, em suas investidas pertinazes, espicaçando-lhes o orgulho e a vaidade latentes no mundo interior das opiniões pessoais em rebelde cidadela contra os princípios basilares da Codificação Kardequiana.

            O aprumo dos argumentos cientificistas esbate-se contra os rochedos da razão no inaudito esforço de lhes solapar os alicerces indispensáveis da fé, que somente a religião será capaz de proporcionar ao homem.

            Há uma intenção, com sintomatologia claramente obsessiva, de se ridicularizar o aspecto religioso da Doutrina dos Espíritos, categorizando-o de ilusório e passageiro, tão ilusório e tão passageiro como as seitas e castas religiosas que enxameiam os séculos de nossa civilização.

            Temível engano, este, e de graves consequências para os seus defensores.

            O Espiritismo há de apoiar-se num tripé de sólida contextura, onde a Ciência,

amparada pela Filosofia, encontrará os arraiais da Religião – esse sentimento divino que estabelece indestrutíveis liames entre a criatura e o Criador.

            Jamais haverá no mundo qualquer corrente científica ou escola filosófica capaz de neutralizar, no homem, as ideias inatas em torno de Deus e da criação.

            Não podemos olvidar que as primeiras expressões de racionalidade dos humanos foi a de voltar-se para as forças superiores da vida, organizando lhes cultos sinceros entre o temor e o respeito.

            Bendigamos o progresso da ciência e os avanços filosóficos demarcados em cada século da experiência terrestre, reconhecendo lhes cultos sinceros entre o temor e o respeito.

            Bendigamos o progresso da ciência e os avanços filosóficos demarcados em cada século da experiência terrestre, reconhecendo-lhes, entretanto, as raias de adversidades e entrechoques estabelecidos em seus arsenais de conhecimento e cultura, ao ponto de fomentarem ondas de descrédito e contradição aos seus mais lídimos estudiosos representantes. Aí, residem a fraqueza e a falibilidade, a insatisfação e a inconsistência dos nossos conhecimentos.

Exaltemos, contudo, a Religião como sustentáculo portentoso de seu concurso na salvaguarda de nossos destinos, na solução da intrincada problemática da educação do “homo sapiens”, conduzindo o Espírito, em aprendizado, às excelências da virtude.

            A Religião, entre os homens, instrui e consola, esclarece e sustenta como legítima centelha do amor divino.

            Indiscutivelmente, temos permanecido no mundo aspirando a poeira dos séculos, sem a justa valorização dos ideais da fé, escravizando a ideia religiosa, ao bel-prazer de nossas inconstâncias, nos inconfessáveis domínios do egoísmo e da vaidade.

            Hoje, somos cultivadores da Verdade à luz da Terceira Revelação. Assim, unidos a Deus pela fé e pelo raciocínio, não podemos quebrar em nós os elos da Ciência e da Religião, sem gravíssimas consequências para o equilíbrio de nosso raciocínio lógico.

            O Espiritismo é Religião, sim! E, como tal, descerra-nos as luzes da compreensão e da sabedoria para alcançarmos a verdadeira Ciência que emana do Criador. A pretexto de avançar, segundo recomenda Kardec, acompanhando o progresso da Ciência que venha enriquecer seu acervo de afirmação e pesquisa, não lhe vibremos o látego da inconsistência, soterrando lhe os expressivos apelos à nossa transformação moral, nos meandros dos modismos científicos.

            Crescer no conhecimento superior será adestrar o coração nas leis de Deus.

            Os verdadeiros sábios refertam destas demonstrações os cenários da Terra.

            E, se o Espiritismo veio até nós como o Cristianismo Redivivo para relembrar Jesus aos homens, no momento decisivo, quando o coração pleno de virtudes há de nivelar-se à mente aureolada de sabedoria, por que lhe esquecer, em meio às euforias da Ciência e às conclusões da Filosofia, as sublimadas luzes da Religião?

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Luiz Olímpio Guillon Ribeiro

Nascimento: S. L. do Maranhão, 17 de janeiro de 1875

Desencarne: Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1943

Exerceu o cargo de Presidente da FEB de 1920 a 1921

e novamente a partir de 1930 até falecer, em 0utubro de 1943.

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sábado, 15 de junho de 2019

O Corpo de Jesus


O Corpo de Jesus
Ramiro Gama
Reformador (FEB) Fevereiro 1971

            Há certos assuntos a que chamamos chaves, subestimados entretanto por alguns confrades, que neles veem assuntos-problemas 
e que não devem ser dilucidados.

            E que, geralmente, leem e absorvem esses assuntos, no dizer do venerando Doutor Bezerra de Menezes, com espírito de sistema, isto é, 
de olhos fechados às verdades neles expostas e opulentadas.

            Referimo-nos ao corpo de Jesus, 
que aceitamos como sendo fluídico, 
logo assim penetramos o Espiritismo; 
e isto espontaneamente, 
sem haver lido, até aí, nada a respeito.

            Acontece que fomos eleito Presidente do Grupo Espírita Fé e 
Esperança, de Três Rios, no Estado do Rio, no ano de 1932, 
quando residíamos naquela cidade fluminense.

            E começamos a conviver, intimamente, 
com os companheiros de Diretoria do Grupo, 
muitos dos quais nos procuraram experimentar os conhecimentos
 com relação ao Espiritismo e saber se estávamos mesmo à altura do cargo.

            Um deles, o 1.° Secretário, José Magno da Silva, 
professor de Matemática, 
era o mais versado nos assuntos da Terceira Revelação. 
De uma feita, assistimos à palestra sua sobre a 
Virgindade de Maria Santíssima e 
achamos que dissertou com acerto e mestria sobre o delicado tema.

            E foi ele, justamente, o escalado para nos arguir.

            Logo de início, perguntou-nos:

            - Que acha o confrade do Corpo Fluídico do Cristo?

            Ficamos alguns instantes surpreso, 
pois não esperávamos tal pergunta. 
E, talvez, por intuição ou inspiração caridosa do Alto, 
respondemos assim.:

            Somos a favor. 
Sem que tenhamos lido ainda algo a respeito, 
acreditamos no corpo fluido de Jesus. 
Achamos que Ele não tivera um corpo igual ao nosso. 
Foi, em verdade, pura e claramente, um agênere.

            E concluímos:

            - Entretanto, lendo os Evangelhos, 
recordamos uma afirmativa de Jesus, 
que tudo nos fala de seu corpo: 
"dos nascidos de mulher, João Batista é o maior". 
Para nós isso é o bastante. 
Não precisamos de nenhuma outra documentação 
para vitoriar o asserto do Divino Mestre.

            O querido confrade, hoje na Espiritualidade, 
deu-se por satisfeito: Também para ele isso bastava.

            Recebemos, depois, de Manoel Quintão
seu precioso "O Cristo de Deus", 
em que ele esgota o assunto, 
com citações autorizadas, 
calcadas todas na lógica e na razão,
 transcrevendo e apreciando várias passagens evangélicas 
e vitoriando, assim, o magno problema. 
Depois fomos obsequiados com
 "Jesus nem Deus, nem Homem", 
de Guillon Ribeiro, que também focou e 
ressaltou a verdade toda inteira do corpo de Jesus, 
sempre com aquela superioridade de espírito e
 inspiração costumeira de seus valiosos Guias, 
dando-nos exemplos vários com relação à incorporeidade 
do Amigo Celeste e à luz da terceira explosão 
da bondade de Deus, 
que é o Espiritismo.

            Lemos ainda "Elos Doutrinários", 
de Ismael Gomes Braga
"A Vida de Jesus", de Antônio Lima
os livros eruditos de Leopoldo Cirne, Sayão 
e outros queridos seareiros, 
habituados todos a ler e compreender o 
Espiritismo Consolador sem o espírito de sistema e
 com olhos de ver, 
coração de pensar e inteligência de amar. 
Portadores que eram e são 
do AMOR que SABE e do SABER que AMA.

            E começamos, desde daí, a ver em Jesus um Ser à parte, 
um Espírito imaculado, tão grande e tão lindo, 
que jamais seremos capaz, nesta vida, 
de Lhe traduzir o valor, 
a culminância espiritual, tão longe nos consideramos 
d’Ele e tão endividados, ainda, diante dEle...

            E, por não considerarmos de pouca valia o seu corpo, 
mas chave para traduzir,
embora palidamente, a Sua gênese, 
é que O vemos com respeito e coração ajoelhado.
Quando, durante o Culto no Lar feito por nós há 42 anos, 
abrimos Seu Livro, o Livro
da nossa redenção, 
"O Evangelho segundo o Espiritismo", 
buscamos n’Ele e com Ele o clima da Luz Acima, 
da defesa espiritual, 
da legítima vitória,
 no exemplo da humildade, 
a prol da nossa tarefa de trabalhadores da última hora!

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Do Blog: 5 livros e um só tema.

Cabe lê-los para formar sua opinião a respeito.
Por qual vamos começar?


'Jesus - Nem Deus nem Homem' (FEB) - Guillon Ribeiro
'Elos Doutrinários' (FEB) - Ismael Gomes Braga
'O Cristo de Deus' (FEB) - por Manoel Quintão
'Elucidações Evangélicas' - (FEB) - Antônio Luiz Sayão
'Vida de Jesus' (FEB) - Antônio Lima



                           




segunda-feira, 27 de maio de 2019

O Salário do Filósofo



O salário do Filósofo
Canuto Abreu/ Manuel Quintão/ Guillon Ribeiro
Reformador (FEB) Novembro 1923

Por excesso gratíssima, publicamos o artigo abaixo, da lavra de um companheiro íntimo, escrito, sob forma desusada nessas colunas, ao influxo de leal devotamento. Fazemo-lo, sentindo justíssima e devida a homenagem que encerra e a qual, por isso, de pleno coração nos associamos. Que o homenageado, assim ferido no que tem de mais refulgido em seu espírito – a sua modéstia, nos perdoe a exceção simpática que abrimos e consinta que, em sinal de solidariedade com o autor na sua intenção elevada, subscrevamos o artigo que se vai ler. A Redação   

            No alto de íngreme ladeira, num planalto irregular, existe uma casinha isolada e modesta onde mora um filósofo. Este filósofo, como em geral os filósofos, é velho e solteiro, simples e generoso. Tem, no entanto, sobre os outros a vantagem da boa saúde, indicada no corpo cheio e ereto, nas faces rosadas, na fronte desanuviada e Inteligente. Seu coração amorável, apesar dos setenta anos de pulsações incessantes, lhe permite habitar aquele ermo agreste e andar quase diariamente, ladeira abaixo, morro acima, para o trabalho, para o estudo, para a caridade.

            Habita só, naquela vivenda solitária. Só com os patinhos que cria... Como apóstolo, é naturalmente pobre, no sentido de não ter fundos terrenos de reserva. Mas possui a verdadeira riqueza, aquele formidável e invulgar tesouro, que consiste em não achar falta em coisa alguma, em achar supérfluo o pouco que Deus lhe dá.

            Na mudez serena do retiro onde o homem é só, vive aquele filósofo cercado de espectros. Longe do mundo e perto do céu, enquanto Já em baixo a humanidade freme desesperada na vertigem ambiciosa do irrealizável, ele realiza o sonho de escutar em vigília os sussurros carinhosos dos espíritos dos que partiram e deixaram no oceano da existência a esteira da virtude e da saudade.

            Mas os homens não deixam o velhinho integrar-se no recolhimento. Correm à ermida, sempre que necessitam de conselho urgente e decisivo, de assistência perspicaz e libertadora. Porque ele é o advogado dos oprimidos e, especialmente, dos oprimidos espíritas.

            Despreocupado das coisas deste mundo, não se recordará talvez ele quando entrou para a Federação, tão longe vai a data. A Federação, porém, sabe que ele é afiliado antigo e se recorda de que nas dificuldades sempre teve o seu concurso inestimável. Sim, inestimável, pela sinceridade, presteza e valor, mas principalmente pelo modo de concorrer. Nunca perguntou que cargo lhe iam dar, sempre aceitou aquele que lhe indicaram. Tão grande é o seu desprendimento neste assunto que, se uma conveniência administrativa viesse tira-lo da presidência para a portaria, o filósofo, aureolado de humildade real, que não apenas aparente como a de tantos, sem a mais leve objeção, passaria sorridente a ser porteiro.

A este mérito raro, junta-se uma sólida erudição espírita, teológica e jurídica que o tornará um dia, como outros que já deixaram a terra, superior padrão de espírita. Hoje, chamam-no alguns de excêntrico.
           
Quando há bonança e calmaria, quando a doutrina singra sem perigos, o filósofo excêntrico se recolhe à sua ladeira. Só não se esquecem dele os numes (divindades) e penates (deuses do lar para os romanos e etruscos).  Quando os vagalhões encapelados partem o seio úmido na quina da barca, ameaçando a tripulação; quando a propaganda tangencia os códigos humanos e atira ao banquinho dos réus um companheiro, então para logo ele é lembrado. E a casinha da ladeira permanece de vela acesa até a madrugada. Os gênios protetores ali descem em maior número, e o monge espírita começa a produzir a defesa que, a um tempo, salvará o companheiro e a Causa.

Estilo sóbrio, correção linguística, argumentação irretorquível tecem a obra modelar, graças a qual a Doutrina tem vencido os obstáculos das leis restritivas de sua divulgação.

Uma, duas, três... quantas vitórias já logrou a Federação na esfera jurídica? Não vale recordar. Mas todas, humanamente falando, são do velhinho bom, desse, filósofo sadio, do fidelíssimo e venerável servo do Senhor, que habita, só, a casinha do Ascurra. A liberdade de trabalho que logramos devemo-la em magna parte ao instrumento que soube defender os nossos problemáticos direitos, arrancando da consciência dos juízes o amparo que não poderia tirar das leis mal feitas e transitórias.

E os que o procuramos nas situações críticas lhe teremos sido sempre suficientemente gratos? Teremos dado à sua obra o apreço que merece? A humanidade é geralmente ingrata.

Ainda há poucos dias, conseguida, para todos nós espíritas, no Supremo Tribunal, a bela vitória que nos impeliu a escrever comovidos estes períodos, o velhinho subiu, só, como sempre, a ladeira onde reside. Ninguém o acompanhou ao descampado pouso. Galgou-o ele sozinho, esquecido a seu turno da ingratidão dos homens por levar a alma transportada de reconhecimento ao seu Senhor.

Na verdade, que importam ao solitário filósofo as manifestações dos homens,
se sempre por Jesus é que trabalha? Que importa ao bom varão não seja o seu trabalho em voz alta abençoado pelos que dele beneficiam, se o salário que espera não é deste mundo? Uma única recompensa ele aguarda, antegozando-a nas alegrias de uma consciência límpida! Essa te-la-á certamente no dia em que o céu, engalanado para o receber, disser pela boca dos nossos maiores: “Amado companheiro, cumpriste bem o teu dever; foste um exemplo!”


domingo, 30 de setembro de 2018

Unidade de Tarefa



Unidade de Tarefa
Guillon Ribeiro
por Gilberto Campista Guarino
Reformador (FEB) Nov 1976

Impossível servir a Deus e a Mamon, conquanto seja o mundo de César um meio de alcançarmos as realizações supremas do Espírito.

Ninguém deve arvorar-se a posição de acusador, seja em que campo seja, uma vez que o juízo pelo homem retornará sobre ele, inevitavelmente.

Pautemo-nos pela ação nobre expressa no verbo servir. Como integrante do Amor, não estipula credos, raças, usos e costumes, mas se aplica a responder, no exemplo, ao anseio de esclarecimento inerente ao próprio ser.

Entendendo, com as almas amigas, aqui em quotização de forças para o trabalho com Jesus, que a exclusão de Mamon de nossas cogitações é matéria
pacífica; e que, assim também, o entendimento de César como meio natural a nossa condição - e não como um fim em si - de alcançarmos o Bem é produto da observação seguida em experimentações múltiplas, em vidas sucessivas, ressalta o serviço como técnica das técnicas, útil e aplicável a todas as situações em que nos achemos.

Servir - o grande impulso. No entanto, aponte-se, não raro o impulso da paixão tem início nas impressões do Amor, no campo do mundo. Servir, assim, não exclui prudência e estudo, para benefício de todos.

Considerando nosso aspecto de exceção na ordem imperecível, todos os impulsos partem das profundezas do Espírito, mas tendem, ao atravessarem as camadas superficiais de dogmas e preconceitos, no consciente prejudicado, a macular-se nos domínios da forma.

Assim, servir: impulso que deve ser canalizado, para a produção de bons frutos.

Comum se observarem os mais dignos valores envoltos no nevoeiro da tendência menos feliz, tornada efetiva pela desorganização de esquemas de trabalho. O mesmo se passa, às vezes, com as intenções mais nobres.

Deste modo, servir: impulso a ser canalizado nas diretivas da ordem. Esta, todavia, é a inspetora-chefe na escola do Amor, e, como tal, não pode marginalizar a bondade construtiva sem tender a estrangular-se a si mesma, degenerando em tirania avassalante.

Neste passo, servir: impulso a ser canalizado nas diretivas da ordem, em esquema anticorrosivo segundo o Amor.

TRABALHO ESPÍRITA - SERVIÇO PLANEJADO - PLANEJAMENTO ENÉRGICO EM SERVIÇO -  ENERGIA MAGNÂNIMA - PROFILAXIA DO DESGOVERNO ÍNTIMO - LIBERTAÇÃO DO HOMEM PELO SERVIÇO À HUMANIDADE.

É preciso servir com planejamento, ordem e Amor; é necessário planejar o serviço com disciplina e ternura; é mais que urgente disciplinar os impulsos no campo do serviço com Jesus, porque devoção ao Mestre é unidade de tarefa, e onde todos fazem o que querem quase ninguém faz o que deve.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Formação de Equipe



Formação de equipe
Guillon Ribeiro por Júlio Cezar Grandi Ribeiro
Reformador (FEB) Novembro 1976        

O Espiritismo não é, como Paracleto, destinado unicamente a enxugar lágrimas, pensar chagas ou lenir temores. Acima de tudo, traz consigo a gloriosa missão de renovador do "eu", ensejando-nos abençoado afã de nossa redenção.

Prodigaliza-nos campo de esforço próprio, descerrando-nos a liberdade de consciência com que estamos responsabilizados face a nossas construções espirituais, sem nos exonerar do apoio recíproco, com o qual colaboraremos, uns com os outros, na renovação dos homens para a eternidade.

Traz-nos a Ciência e a Filosofia como fontes de indagação e pesquisa, orientação e certeza. Mas, oferta-nos, de igual modo, o Evangelho por desiderato de nossas vidas na marcha para a luz infinita, convocando-nos à semeadura de valores imperecíveis em nossa intimidade espiritual.

Entretanto, já imaginaste o Centro Espírita como uma usina de amplos benefícios, reclamando-nos cooperação eficiente quais peças indispensáveis aos mecanismos da luz em harmoniosa produtividade?

Busca, desta forma, despertar na consciência de teus companheiros de fé o senso do cooperativismo e da participação, evitando as lideranças autocráticas que não refletem, de modo algum, os princípios renovadores da Terceira Revelação.

Já vão distantes os gloriosos misteres de nossos antepassados, imolando-se, sozinhos, pela implantação do ideal, quais moirões de excelente decisão e férrea vontade, embasando os serviços da crença. Nosso lema, na atualidade, é congregar, reunir, para melhor servir a Jesus.

Enseja realização para teus companheiros de fé. A hora do despertamento vem soando para muitos corações nas lutas terrenas a demandarem os núcleos espiritistas como células vivas de trabalho cristão.

Permitir a cristalização da Causa em rotinas de experiências pretéritas é impedir a marcha do progresso que o Espiritismo enfaticamente proclama com seu lastreado bom senso.

A experiência humana avança com as conquistas científicas e, ao seu lado, marcha a Doutrina Espírita pelos trilhos evolucionistas.

Convoca participantes para as tarefas que se esbocem nos cenários da Instituição.     
      
É fato que a seara ainda é de poucos. Entretanto, somos, muitas vezes, aqueles que mais reduzimos o grupo dos lidadores fiéis, impedindo a incursão de novos cooperadores junto à Causa, por abraçar desmedida superproteção aos Negócios do Senhor que a Divina Providência supervisiona.

A hora presente é de intensa convocação às campanhas de esclarecimento dos homens. Grande é o número dos que deixam diariamente o casulo de carne, estupefaciados diante da realidade da vida.

Nossos irmãos desencarnados, em dificuldades emocionais, não dispensam, por agora, as reuniões de esclarecimento e auxílio. Entretanto, reconhecemos ser de maior eficiência a elucidação dos encarnados, os que permanecem com os pés na poeira do mundo, a fim de que o erro campeie em menor escala pelos escaninhos humanos, evitando maiores dificuldades no plano espiritual.

Falar aos desencarnados é remediar problemas. Mas, evangelizar encarnados será impedir o mutirão das trevas nos escombros do além.

Sei que febricitas de entusiasmo pelas tarefas do auxílio fraterno em nome da benemerência. Louvável, pelo esforço no amor ao próximo. Porém, não descuides de reservar nas acomodações da Casa Espírita alguns metros quadrados para uma assistência social diferente. Aquela desenvolvida em favor da Criança e do Jovem que um dia te substituirão nas lides administrativas da Instituição, comandando, também, o movimento espírita que defendes, na atualidade, com entranhada dedicação.

Elabora um estudo sistematizado da Doutrina que tanto admiras. Já arrolaste os livros de esclarecimentos doutrinários que vens relegando a segundo plano, negligenciando com os imperativos da leitura assídua e permanente, que visa a uma eficaz atualização de conhecimentos?

Já te ocorreu a elaboração de um plano de estudo e de ensino para os frequentadores da Instituição Espírita, atendendo, com igual interesse, crianças, jovens e adultos?

Quando os Espíritos do Senhor apontaram Allan Kardec como o Codificador da Doutrina, assentaram suas esperanças nas experiências de um eminente professor e didata, pedagogo e sociólogo, sábio e pesquisador, deixando aí, também, valiosa advertência para a posteridade.

Esforça-te, Amigo, por penetrar nos valores do conhecimento espírita.

Espiritismo pode ser fenomenologia de conforto espiritual. Entretanto, por terapia de Espíritos endividados, há de ser estudo e meditação, informação e ensino que favoreçam, continuamente, as indagações do raciocínio e do trabalho em favor do Espírito, construindo alavancas de Amor e Sabedoria que, de futuro, o reerguerá aos Cimos das bem-aventuranças.


domingo, 8 de julho de 2018

Crisol de Purificação / Gratidão / O Pioneiro

Guillon Ribeiro

Crisol de Purificação
Guillon Ribeiro
Reformador (FEB) Dezembro 1943

O artigo, que ora publicamos em nossas primeiras colunas, é ainda um trabalho do nosso prezado e inesquecível amigo Guillon Ribeiro. Tinha-o ele preparado para o número seguinte desta Revista, quando a morte o colheu. Apresentando-o, além da homenagem ao querido morto, temos, nessas páginas póstumas, um como símbolo, que é a demonstração de que sua grande atividade continua a projetar-se além dos umbrais do outro plano.

Momento outro não há, parece-nos, mais propício ou azado a encarar-se o problema da dor, em face dos sofrimentos humanos, do que o atual, em que quase todas as nações da terra se empenham numa guerra que se entremostra aniquiladora de povos e civilizações. Mais do que nunca, esse problema, na hora atual, avulta aos olhos de todas as criaturas terrenas, mesmo das mais indiferentes e apáticas, sobrepondo-se a quantos outros incessantemente lhes surgem do orgulho e do egoísmo que as alucinam.

Uma vez mais, portanto, lícito nos seja falar da dor, da dor de que desde sempre se há visto presa a humanidade, neste orbe ainda presídio para os que delinquem, contravindo às leis divinas; da dor contra que se erguem os clamores de todos os presidiários e as imprecações do materialismo inconsciente e cego; da dor que, no entanto, é a melhor e mais amiga companheira do homem, na sua trajetória evolutiva pelo planeta, porque, com efeito, unicamente ela conduz a Deus as criaturas falidas, dado que estas, somente graças a ela, cuidam das coisas divinas.

Qual aquele que, constantemente rodeado de gozos, engolfado em prazeres inebriantes, desfrutando de completa felicidade, na acepção terrena deste vocábulo, se lembraria de dirigir as vistas para o Alto, em atitude de súplica? Qual o que cogitaria dos destinos humanos, com o espírito subjugado sempre pela matéria satisfeita?

A fim de que o homem medite e se liberte dos grilhões que o prendem à vida material, a fim de que ame e respeite a essa mesma vida, que lhe é outorgada como meio de progredir intelectual e moralmente, por ser crisol de purificação, necessário se faz que a dor lhe abale a consciência e a desperte, rasgando-lhe horizontes novos, demonstrando-lhe que acima dos efêmeros gozos da existência física, há um dever a ser cumprido para com Aquele que rege os destinos do Universo e tudo ordenou de maneira a ter glória suprema na suprema bem-aventurança de todos os Espíritos que o seu amor lançou à vida.

A dor há encaminhado o homem à arquitetação das mais diversas filosofias. Quer isso dizer que o tem obrigado a pensar. Ora, pelo pensamento, a maior força do Universo, porque força essencialmente divina, é que nos libertamos do escuro cárcere a que nós mesmos nos condenamos, quando cega trazemos a consciência. O mundo físico é patrimônio comum, porquanto as moléculas que hoje nos estruturam os corpos constituirão, amanhã, novos organismos, provando dessa forma a própria matéria, pela incessante circulação de seus átomos, que ela não nos pertence individualmente, visto que é tanto do vegetal como da pedra, do homem como do molusco.

O pensamento, só ele, é exclusivamente nosso, porque cada um de nós é uma mente a atuar no plano de vibrações correspondentes às suas, determinadas estas pelo desenvolvimento que haja conseguido. De certo, foi, portanto, o pensamento que levou o homem primitivo, maravilhado com o espetáculo da natureza, a soltar o seu primeiro grito de assombro, Rodeava-o o mistério e ele, impotente para criar uma que fosse das maravilhas que se lhe ostentavam, assim no azul límpido do firmamento, como no verde tremeluzente das selvas, pensou num ente superior, oculto às suas vistas, e entoou, num arroubo espontâneo de admiração, o seu primeiro hino ao Criador de todas as coisas.

Mais tarde, como o conhecimento da própria natureza lhe fosse desvendando os atributos da Divindade, tornando-a infinitamente maior e, por Isso afastando-lha da retina, acabou confundindo a obra com o artífice e, alheando-se deste, se prostrou diante daquela e entrou a adorá-la, orgulhoso de si mesmo, nisso a que chama a sua ciência, infinitesimal partícula, da ciência universal, ou divina.

A natureza mesma, todavia, lhe mostrou que a dor a todos acompanha, qual sombra, do berço ao túmulo e ele inquiriu: Mas, como! Se Deus é bom, como pode ter-nos condenado à dor? Por outro lado, conceber a onisciência e a onipotência associadas à maldade, à iniquidade, à injustiça fora absurdo. Mais lógico seria negar-lhe a existência. E o homem se fez negativista. A dor, porém, continuou, calma e serenamente, a espiritualizá-lo, como quem cumpre dever estrito e sagrado.

Desviando do mundo físico para o mundo espiritual a atenção dos negadores, forçou-os ela a reconhecer, observando as grandes expiações coletivas que de quando em quando convulsionam o planeta, que forças cegas e desordenadas não se poderiam conjugar em tão perfeito equilíbrio de ação e de ideias, tendentes sempre a encaminhar a humanidade para destinos grandiosos.

Então, falaram e continuam a falar as vozes do céu, testificando que as guerras, as revoluções, as calamidades sociais de toda espécie, com o serem consequência da cegueira moral do homem, são simultaneamente, como processo de cura dessa cegueira, meios de progresso moral, mas de progresso a realizar-se, conforme essa mesma circunstância o mostra, à custa de lágrimas e aflições, de gemidos e sofrimentos acerbos. Assim, a dor é a eterna depuradora das almas pecaminosas, a redentora dos Espíritos que faliram.

Verdade tão profunda e insofismável é esta, que teve a consagrá-la o sacrifício do Justo no cimo do Calvário. Cumpre, pois, que, em penhor da sua felicidade real, deixe o homem de malsiná-la, que a ame, conforme lho ensinou aquele mesmo Justo, dado que somente ela lhe apurará as qualidades afetivas, preparando-o para a fraternidade, sem a qual a paz na terra será sempre uma utopia.

Disponham-se os homens a abrir o entendimento para a compreensão da grandiosa lei das reencarnações, lei de justiça misericordiosa, e, reconhecendo-se, em face dessa lei, Espíritos falidos de pretéritas existências, facilmente apreenderão, em toda a sua magnitude, o verdadeiro significado destas palavras de Jesus a Pedro: "Quem com ferro fere com ferro será ferido. "

Ontem, ferimos o coração dos nossos semelhantes, irmãos nossos, porque filhos, como nós, do mesmo Pai: justo é sejamos agora golpeados no espírito, para que não mais façamos aos outros o que não queremos que nos façam. E nem só justiça aí há, senão também misericórdia, misericórdia sobretudo, por isso que unicamente a dor nos ensinará a amar ao próximo e a bendizer da existência, por mais aflitiva que nos seja, induzindo-nos a buscar, penitentes, o perdão do amor infinito d'Aquele que não quer a morte, o aniquilamento do pecador, mas que este se converta, para viver, não vidas de tribulações e amarguras, porém a vida eterna, que é a integração da criatura no Criador, tornando-se, por assim dizer, partícipe da sua divindade, por lograr conhecê-lo e senti-lo na majestade dos seus atributos de perfeição absoluta.
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Gratidão
Pereira Marques
Reformador (FEB) Dezembro 1943

Guillon Ribeiro, saudoso amigo, nunca deixará de existir para mim que tive a felicidade de poder, na casa de Ismael, através de longos anos, apreciar a envergadura moral do amigo querido, cujos exemplos inconfundíveis são um valioso patrimônio, que nem o tempo nem a traça consumirão jamais.

Ele foi, em verdade, na Federação, um dos mais conscientes e dedicados trabalhadores da Seara bendita de Jesus, digno do respeito de todos que, criteriosamente, sabem separar o joio do trigo. Enérgico, mas sereno; sincero, bom, justo, tolerante, soube desempenhar, fielmente, a tarefa difícil, cheia de espinhos, na direção da Casa de Ismael, onde, como sabem os que ali trabalham, fora colocado, como sempre sucede, pela vontade do Alto, acolhida e respeitada por todos os trabalhadores da gloriosa oficina espiritual.

Guillon, dedicado ao extremo, nunca do seu pensamento e do seu coração afastou a Federação, a quem tinha grande amor e dava, ao seu serviço, energias sem conta, além de dignos e edificantes exemplos; foi, por isso mesmo, colhido de surpresa, no seu posto de trabalho, de presidente da casa abençoada de Jesus, - casa que, a despeito das deficiências dos homens, continuará a sua grande obra, amparada pelo glorioso anjo Ismael; não permitirá ele possa ser interrompido o trabalho do devotado companheiro que partiu, depois de ter dedicado, sem medir sacrifícios, uma parte de sua vida, ao serviço da Doutrina, zelando e defendendo
a sua pureza, pregando, com fervor e fé, o Evangelho, que conhecia a fundo, com sua palavra fácil, segura, fluente, serena e vigorosa. Sua linguagem castiça tinha uma ressonância que sentirei sempre, com saudade, no meu coração de crente.

Guillon, finalmente, compreendeu, sem nunca hesitar, as suas responsabilidades na investidura do cargo de presidente da Federação, tendo-o desempenhado, até o último momento de sua vida, com profundo conhecimento de seus deveres de tolerância, amor e caridade, e sem nunca ter esmorecido o seu ardor pela obra que muito dignamente soube orientar. Essa obra ostenta, na sua fachada, o tema: Deus, Cristo é Caridade, apontando aos homens, ainda tão endurecidos, o caminho da salvação.

Que Guillon, o amigo querido me perdoe, porque eu bem sei o quanto ele sempre dispensou, com humildade, os louvores humanos. Mas, graças a Deus, ele sabe que essas palavras exprimem o testemunho de minha gratidão pelo muito que aprendi com ele; são, também, o meu reconhecimento à amizade o confiança que sempre me dispensou.
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O Pioneiro
Camilo Silva
Reformador (FEB) Novembro 1943

Movimento, atividade e vida é da Lei suprema que rege o Coamos. Não há ponto algum do Universo, para quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, onde essa lei não se manifeste. Desde o microcosmo ao macrocosmo, isto é, desde o infinitamente pequeno ao infinitamente grande, tudo é ação permanente e construtora tendendo a um fim, grandioso e sublime, pela força inviolável do equilíbrio e do ritmo, sem destoar uma nota, por mais leve que pareça, nessa maravilhosa orquestração que penetra em todos os seres e envolve todos os mundos, produzindo a sinfonia terna e suave, dirigida pela batuta maravilhosa do Excelso, Maestro e Autor da grande Lei de harmonia universal - Deus.

Entretanto, é para lamentar que entre o homem e a natureza haja um contraste tão visível, em vista dos males que infelicitam, tanto a ele, como a família, atingindo a coletividade.

Sendo a criatura humana dotada de raciocínio e livre arbítrio, quiçá de responsabilidade, ela no entanto, em regra geral, nivela-se muitas vezes - quando não excede -, ao vivente mais ínfimo da criação, pois que este apenas possui uma inteligência relativa, e age pelo instinto, em prol da necessidade, e por isso mesmo desculpável pelos seus gestos ou agressividade. De forma que, assim, invertem-se os papeis; aquilo que no homem devia ser regra, é exceção, aquilo que poderia ser exceção, é regra;. isto é, entre os que procedem com critério, justiça e amor e os que agem com injustiça, desvirtuamento e maldade, é maior o número destes do que daqueles!

Porém, como até no seio da floresta mais espessa, ou da noite mais escura e tempestuosa uma faísca elétrica produz um clarão assim, também, até no próprio seio das multidões heterogêneas, Deus permite que, de vez em quando, surja um vulto que se destaca e se torna admirável pela inteligência ou pela virtude. E, quando parte para o além alguém que possua um desses predicados, a sua partida provoca grandes saudades. Assim, reunindo não apenas um, porém, os demais predicados da
moral e da inteligência, acaba de deixar o plano da Terra, 0límpio Guillon Ribeiro, que ocupava, desde muitos anos, o cargo de Presidente da Federação Espírita Brasileira. Homem de grande cultura e vastos conhecimentos, ele semeou até o fim da terrenal existência as partículas maravilhosas que se desprendem da doutrina espírita, tanto pelo seu verbo convincente, que não se afastava do assunto em apreço, como pela imprensa, onde, quer como escritor, quer como tradutor, deixou vasta profusão de trabalhos preciosos e de grande benefício para a humanidade!

Alma sensível a todas as dores alheias, coração que se compadecia de todos os sofredores, ele deixou um sulco profundo de saudade em toda família espírita e de quantos dele se acercavam. O autor destas linhas jamais esquecerá aquela prece (24 de janeiro de 1935) tão sentida e fervorosa dirigida a Maria, na ocasião em que o corpo hirto de minha muito querida e saudosa companheira estava prestes a ser conduzido à necrópole. Por estes e outros benefícios do saudoso amigo, a minha grandão será eterna!..

No lar, à saída do féretro, onde sua amada esposa e filhos se esforçavam por conter a emoção que a saudade do ser querido lhes deixava, via-se a mágoa resignada do verdadeiro espírita, estampada em todos os semblantes e a religiosidade com que acompanharam a prece sentida e comovente feita por um dos diretores da Federação. Grande número de confrades de ambos os sexos acompanhou o enterro, e, alguns, com os olhos marejados de lágrimas.

Graças a Deus e a Jesus, o elevado espírito de Guillon Ribeiro está, neste momento, sob o manto protetor de Maria de Nazaré, nossa Mãe Santíssima, a quem ele sempre orava, porque muito amava! Que sirva de exemplo e de estimulo para todos os trabalhadores da Seara o esforço e a dedicação do grande pioneiro. 
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Guillon Ribeiro
Editorial
Reformador (FEB) Dezembro 1943

Já estava no prelo o número anterior desta Revista, quando recebemos, inopinadamente, a notícia do decesso de Guillon Ribeiro, diretor do Reformador, presidente da Federação Espírita Brasileira, companheiro de muitos anos, amigo dos mais sinceros.

A nova deixou-nos atônitos, a todos aqueles que estavam habituados à sua convivência, que tinham prazer de suas relações, que privavam de sua intimidade, que gozavam de sua estima. Nesta folha a sensação foi de alarma. Dada a sua capacidade de trabalho, a lucidez de sua orientação, o conhecimento profundo e
lato de tudo que se relacionava com a edição da revista, o grande amor que a ela dedicava; dado, enfim, o empenho que fazia para que nela nada saísse capaz de comprometê-la, ou comprometer a doutrina, ou comprometer a Federação, ou comprometer a Causa por que todos trabalhávamos, tomara a si o exaustivo encargo de dirigir todos os serviços, desde o da revisão até o da paginação, desde o artigo de
fundo, até as pequenas notas, preenchendo os claros, enriquecendo os estudos e colaborando mesmo nos artigos, sempre para aperfeiçoá-los, apresentando-os destarte mais bem limados, mais garridos do que os apresentara os seus autores. Era o burilador obscuro, o obreiro que se escondia voluntária, obstinadamente, deixando quase sempre a outrem as glórias que lhe cabiam.

Pode-se, assim, calcular a soma dos seus serviços e a falta desse amigo, desse verdadeiro irmão em Cristo que não sabia dizer não, malgrado o que dele se pensava e se dizia, e que, por isso mesmo, teve grandes sangrias nos seus recursos materiais e esgotou-se espiritualmente, porque era um trabalhador incansável do espírito, que a tudo provia, tudo previa, e tombou por assim dizer, nos trabalhos da seara.

Seu desencarne foi tanto mais doloroso quanto inesperado. Sabíamo-lo enfermo, mas crentes estavam os que mourejavam a seu lado, tratar-se de moléstia passageira, destas que comumente nos acometem no crepúsculo da vida.
Talvez só o seu dileto filho, por ser médico, com o seu olhar de facultativo e a sua intuição de amigo, sabia de sua doença, e previa o desenlace. Mas escondeu de todos o diagnóstico e as lágrimas, de sorte que o trespasse a todos colheu de surpresa, tornando assim mais cruciante a nossa tristeza, mais viva a nossa
saudade.

*

Foi às pressas que um dos nossos companheiros, velho e operoso amigo, vencendo a comoção que o assediava, redigiu a página que foi apensa ao último número, onde comunicava aos nossos leitores e confrades o infausto acontecimento, e traduzia em singelas palavras o que, no momento, queríamos dizer, mas não o
podíamos, todos os que estávamos acostumados à presença continua do grande amigo e inolvidável companheiro.

Vimos, pois, só agora, dizer quem foi Guillon Ribeiro, e o que foi a sua vida, cheia de bons serviços à pátria, dedicada à família, devotada ao Evangelho, transcorrida num esforço máximo de tornar melhores os nossos semelhantes, mas tudo ocultamente, como que clandestinamente, visto que a sua modéstia, levada
às vezes até ao extremo, não permitia que algo dissessem dele os seus melhores amigos.

Mas dessa sua existência se poderia declarar o que a respeito de Rui Barbosa dissera Alcindo Guanabara - uma linha reta entre o dever e a justiça.

Guillon Ribeiro nasceu de pais pobres, no Estado do Maranhão, a 17 de janeiro de 1875. Desde os verdes anos começou a conhecer as asperezas da existência, e tanto, que foi internado gratuitamente no Seminário de S. Luís do Maranhão, onde cursou as primeiras letras.

Aos 7 anos ficou órfão de pai. Aumentaram as dificuldades na família, com a perda irreparável do chefe, e a sua querida progenitora transferiu-se para o Rio de Janeiro. Porque minguassem os meios de subsistência, teve ela ainda que procurar colocar o filho, gratuitamente, numa escola, e assim conseguiu que ele ingressasse como aluno gratuito da antiga Escola Militar, na Praia Vermelha.

Ótimo estudante, bom discípulo; acatado pelos mestres, querido dos camaradas, parece que o seu gênio, entretanto, não era de feitio com a vida militar, e, desse modo, não levou mais de três anos na carreira das armas.

Pediu e obteve baixa. Aproveitou, então, os conhecimentos do curso que houvera seguido, e já com uma sólida base, matriculou-se diretamente no 2º ano da Escola Politécnica, nesta Capital.

Para poder custear os seus estudos e prover à manutenção da sua extremosa mãe, desde cedo já se entregava a árduos labores. Entre outros, trabalhava à noite como redator do Jornal do Comércio, e estudava até alta madrugada. Quase que esgotava no estudo e no trabalho as 24 horas do dia.

Formou-se em engenharia civil. Mas a necessidade premente de angariar o sustento levou-o a aceitar o cargo de 2º oficial da Secretaria do Senado Federal, para daí transferir-se a outro mais condizente com a sua profissão. Ali, porém, logo se tornou admirado e querido por quantos lidavam com ele, de sorte que o retiveram, que o prenderam, até que se aposentou no mais alto cargo da carreira.

Sua mãe extremosíssima desencarnara. Tinha sido tudo para ele. Era a sua companheira de infortúnio, a sua animadora nas horas amargas, a sua alentadora nos difíceis momentos da experiência. Ficou inconsolável. Entregou-se ao mais avassalador desânimo, senão ao desespero. Ia quotidianamente ao túmulo da sua velha querida, e todas as suas aspirações ficaram como que mortas com aquela que lhe dera o ser. Foi então que lhe principiaram a bruxolear no entendimento vagas ideias espíritas.

A sua ascensão no Senado foi rápida. Talvez não fosse esse o seu maior desejo, mas o seu acendrado amor ao trabalho, de que dão testemunho todos os que o conheceram, em qualquer dos ramos de sua profícua atividade, o seu trato amável e bom, a retidão do seu proceder, a integridade do seu caráter, a sua grande competência, a habilidade e inteligência com que se desincumbia de qualquer mister, por árduo e difícil que fosse, o escrúpulo com que estudava todas as questões, o alto critério que sempre mostrava, levaram-no a galgar rapidamente todos os postos, até que foi nomeado Diretor Gerai da Secretaria do Senado, cargo em que se aposentou em 1921, deixando a todos a quem prestou os mais relevantes serviços, sentimentos de gratidão e de saudade.

Sirva de amostra o discurso pronunciado pelo Senador Rui Barbosa, no Senado Federal, na sessão de 14 de outubro de 1903, e publicado a folhas 717, coluna esquerda, do volume Anais do Senado Federal, vol. II. (Sessões de 1 de agosto a 31 de outubro de 1903).

Dele extraímos o seguinte tópico:

"O respeito que devemos nós - todos aqueles que escrevem ao público e a nós mesmos, esse respeito nos impõe o maior cuidado até os últimos momentos. Nenhum bom escritor pode confiar absolutamente, exclusivamente, nos protos.
Devo, entretanto, Sr. Presidente, desempenhar-me de um dever de consciência registrar e agradecer da tribuna do Senado a colaboração preciosa de um dos auxiliares desta Casa, o Sr. Dr. Guillon Ribeiro, que me acompanhou nesse trabalho com a maior inteligência, não limitando os seus serviços à parte material do comum dos revisores, mas, muitas vezes, suprindo até a desatenções e negligências minhas."

Para não nos alongarmos muito, damos, apenas, este exemplo, do que era a dedicação, o escrúpulo, a alta capacidade do Dr. Guillon Ribeiro, na sua carreira pública. Como vimos, ela foi ao ponto de merecer especial referência, em discurso, do maior parlamentar brasileiro, do maior vulto das nossas letras. A sua família possui ainda valiosas cartas dos grandes estadista da época, todas cheias de encômios e agradecimentos ao distinto funcionário. 

Desde cedo, dizia ele, sentira inclinação pelo Espiritismo; é que, no seu subconsciente, já estava traçado o plano da missão de que fora incumbido. Só mais tarde, porém, aproximou-se de amigos espíritas, começou a ler e a meditar sobre assuntos espíritas, abraçando definitivamente a doutrina em 1911.

Durante muito tempo, levou palavras de consolo e de fé aos detentos, na Casa de Correção, e muitos dos presidiários que de lá saíram, cumprida a pena, tornaram-se seus verdadeiros amigos.

Fora um trabalhador indefesso. Não tinha horas de lazer. Mesmo quando se ausentava do Rio, nos seus curtos veraneios, levava vários trabalhos, e quando todos o supunham repousando, estava traduzindo, ou corrigindo provas, ou providenciando. Nunca deixara de fazer o Reformador; mesmo quando acamado. À noite, no interior do pais, apesar do repouso que lhe aconselhavam, saía a pregar o Evangelho nos centros espíritas locais.

E assim, tornava aos seus complexos e inúmeros afazeres, na metrópole, trazendo apenas, descansada, a consciência, por não haver perdido um minuto sequer da sua prodigiosa atividade.

O Dr. Guillon Ribeiro casou-se em 11 de abril de 1910 com D. Raimunda Portela e deste consórcio teve 5 filhos, Luiz Antonio, Antonio Luiz, Aloisio, Olímpia Luiza e Mariana.

Se a existência de Guillon transcorreu dificultosa e áspera, se os seus inúmeros trabalhos e preocupações de ordem pública lhe não davam repouso; se na doutrina que abraçou encontrou motivo de grandes contrariedades por ver deturpados os seus melhores sentimentos, mal considerado o seu ingente esforço, desconhecida a sua grande honestidade, sinceridade e boa fé, deu-lhe o Criador a recompensa no santuário do lar, onde todos o estimavam e respeitavam, como o chefe de família exemplar, o esposo amantíssimo, o pai carinhoso, sem já falar nas suas excepcionais qualidades de filho dedicado até o sacrifício.

Luiz Olímpio Guillon Ribeiro fechou os olhos à luz do mundo, quando já ia bem adiantada a sua obra espiritista. Foi o tradutor impecável de vários volumes, conhecedor profundo que era de vários idiomas e cultor, entre os melhores, da língua portuguesa.

Dedicado de corpo e alma ao Evangelho, viu na obra de João Batista Roustaing a chave das dificuldades escriturísticas, a verdadeira exegese, a interpretação simples e fácil de textos até então tornados obscuros sem aquela revelação.

Qualquer que seja a opinião que se forme sobre aquele trabalho, ao qual ele dedicou toda a sua alma, o que não podem olvidar os espíritas de boa fé e sinceros é a lealdade com que pôs mãos à tradução da obra, os propósitos que o animavam de espalhar a boa e verdadeira semente, a convicção que tinha de estar esclarecendo os seus semelhantes e servindo a Jesus, no verter, difundir e propagar os textos que do Espaço os Espíritos trouxeram a Roustaing.

Teve, em paga desse seu empreendimento, acusações de toda a ordem; malferiram-lhe o espírito sensível e bom, desconhecendo-lhe o desiderato. Não lhe deram o direito, sequer, de ter uma opinião, de defender uma ideia.

Mas o seu coração excelso, estamos certo, já esqueceu tudo. Não levou ressentimentos para o outro mundo, e a exemplo do Mestre, cuja doutrina pregava há mais de 30 anos, uma palavra ele terá para os que não o compreendiam - a do perdão.

No alvorecer da nova existência, vemos, sem sombra de dúvida, que desce sobre o nosso amigo a paz que não encontrou na Terra, Começa ele, agora, a colher os louros da sua campanha, o salário do seu imenso esforço na seara do Mestre.

A esse Mestre e a Maria dedicou a sua vida. Foi o mais sincero dos crentes, o mais convicto dos missionários. No seu sublime apostolado, não conhecia o desânimo, a fraqueza, o desalento. As tempestades passavam pela sua fronte trazendo-lhe grandes mágoas, porém não o abatiam nunca, Era o roble (árvore de nome ‘carvalho’) da floresta no que toca às energias do espírito, à firmeza de convicções. A morte o foi buscar em plena atividade. Não sofrerá solução o exercício da sua carreira. O meteoro não se apagou. E as esperanças dos que o acompanharam, como irmãos, na sua santa incumbência terrena, é que continue a projetar sobre a Federação, que tanto amou, o clarão do seu talento, e sobre os corações daqueles que tanto o amaram - o sopro da sua imensa bondade. 

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