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sábado, 6 de março de 2021

Não negues!

 

Não negues

por Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB)

             Os erros mais tristes da história são negações. Grandes homens, no domínio das afirmações, tornam-se ridículos ou monstruosos quando enveredam pelas sendas tenebrosas da negação.

            O glorioso e brilhante Santo Agostinho, que até hoje é farol inconfundível na filosofia cristã como afirmador, teve a desventura de se tornar negativista um dia e a sua negação até hoje é lembrada, fazendo-nos arrepiar os cabelos. Negou que existissem homens nossos antípodas (o que se situa em lugar diametralmente oposto), que pudesse existir um hemisfério habitado em oposição ao nosso e excomungou os partidários dessa teoria. Naquele tempo, não se possuíam provas bastantes da existência dos antípodas e muitos a negavam. Santo Agostinho foi dos que negaram e assim um grande homem fez uma grande estultícia (asneira). Hoje, quando até as crianças escutam a voz dos antípodas pelo rádio, lhes ouvem os relógios dar horas, podem visitá-los e ser por eles visitadas, todas as crianças estão aptas a compreender o que era incompreensível ao grande filósofo.

            Os mais prestigiosos e sábios contemporâneos de Sócrates lhe negaram os ensinos e o condenaram como herege; hoje, todos aceitamos como certos os ensinos do eminente filósofo e ficamos pasmos da ignorância dos seus contemporâneos.

            Os judeus mais versados nas Escrituras, no princípio da nossa era, negaram a doutrina de Jesus, que confirmava aquelas mesmas escrituras. De tal negação resultaram os crimes mais monstruosos da história: a condenação de Jesus e dos seus discípulos, a perseguição aos cristãos durante mais de três séculos.

            Os contemporâneos de Joana d'Arc negaram-lhe a missão e a levaram à fogueira dos hereges; porém, séculos mais tarde, tornou-se a Pucela (donzela) de Orleans - o ídolo do povo francês e foi canonizada como santa da Igreja.

            Os contemporâneos de Colombo negaram a existência da América e a possibilidade de chegar-se ao Oriente contornando o planeta, mas nem por isso o Novo Mundo deixa de ser uma gloriosa realidade.

            Os contemporâneos de Benjamim Franklin negaram a possibilidade de construir-se o para-raios; mas, nem por isso, nossas cabeças estão hoje menos defendidas por esse aparelho, tão simples quão eficiente.

            Os contemporâneos de Edison negaram o fonografo; mas, aí está ele com os mais relevantes préstimos, servindo de base a outras invenções preciosas.

            Os vizinhos da família Fox negaram as mensagens recebidas do outro mundo; mas, mesmo assim, o Espiritismo é uma grande realidade.

            Os filólogos do tempo de Zamenhof negaram a possibilidade de construir-se uma língua artificial; mas, o Esperanto é hoje uma língua em pleno funcionamento.

            Reconhecidos assim os perigos da negação, a insegurança em que fica o negador, seria muito aconselhável a prudência de não nos pronunciarmos negativamente em situação alguma. O silêncio é a atitude prudente, quando não podemos afirmar. Nossa ciência é demasiada pequena e muito mutável no tempo, para que possamos estabelecer limites seguros ao possível.

            Parece-nos impossível tudo quanto está além dos horizontes do nosso saber; mas, esses horizontes se deslocam diariamente, de sorte que amanhã poderemos possuir conhecimentos que revelem a coisa hoje negada. E realmente assim vem sendo.

            É muito fácil acertar-se, afirmando ou silenciando; mas, assumimos tremendas responsabilidades quando negamos. O espiritista não deveria negar nunca. Evitaria campanhas estéreis, ódios e graves erros. 

            Deixar em silencio um mau livro, por exemplo, para que o tempo se encarregue de anula-lo, é muito mais prudente do que lhe negar a doutrina e o meter no Index das obras proibidas.

            Os livros proibidos, realmente, não desaparecem em virtude da proibição, nem da maldição que caia sobre eles: reservam-se o direito de continuar vivos, se forem bons, ou morrem quando realmente são maus e não correspondem às aspirações de futuras gerações mais esclarecidas. Nunca é a negação que os destrói, sim a sua própria ruindade. Se as proibições pudessem matar livros, de certo nenhum dos Evangelhos teria chegado ás nossas mãos; não teríamos igualmente recebido a palavra de Sócrates através da pena de Platão, porque Jesus e Sócrates foram negados e condenados; logo, suas palavras foram proibidas pelas grandes forças de seu tempo.

            Na literatura espirita tem aparecido uma infinidade de livros ruins, sem nenhum valor, escritos por pessoas que só possuem entusiasmo e audácia; mas, esses livros morrem por si mesmos, sem nenhuma proibição, sem nenhum julgamento, porque não possuímos - graças a Deus - um corpo de censores, com autoridade para decidir por nós o que é bom e o que é mau. A seleção se opera pela lei natural: o que é bom sobrevive e o que é mau morre, mais cedo ou mais tarde, quando já não nasceu morto.

            Em via de regra, os nossos críticos não negam, não condenam, apenas guardam silêncio sobre o que acham ruim e muito excepcionalmente esclarecem um ponto que lhes parece erro grave contra a doutrina, mas sem imporem seus pontos de vista aos leitores. Estes conservam toda a liberdade de aceitar ou não o ponto de vista do autor ou do crítico.

            Só muito raramente algum espiritista tem a ilusão de possuir autoridade para condenar um livro, para inclui-lo nas obras proibidas e que se não podem ler. Nega-lhe a doutrina, acusa-o de heresia, abre campanha contra a obra e o autor, contra o editor, contra o tradutor; entretanto, a obra continua sua marcha para a vida ou para a morte, conforme seja boa ou má, e o tal julgador se torna apenas ridículo, visto supor-se com uma autoridade que ninguém lhe concedeu, investido de direitos que ninguém lhe reconhece. Logo, não há campo para os negadores dentro do nosso movimento.

Intuitivamente os espiritistas são contra os negadores e a favor dos afirmadores. O negador, mais cedo ou mais tarde, verifica que está exercendo um mandato que ninguém lhe conferiu, que se vai tornando ridículo, e envergonha-se de sua atitude negativista. Graças a Deus é assim. Os espíritas não são negadores, não são almas fechadas dentro de estreitas limitações. Ao contrário, são positivos, preferem construir mal, a destruir bem; e, por isso mesmo, realizam grandes obras, apesar de serem em tão pequeno número. Errar afirmando ou silenciando é menos mal do que errar negando, atacando, fulminando os que pensam de modo diferente, ou fazem coisa diferente. De negações, ataques, lutas destruidoras, o mundo já tem excesso em sua penosa história.

            Não é necessário negar o mal; cumpre afirmar o bem, o que vale o mesmo, mas evita lutas estéreis. Um filosofo hindu já disse que nas grandes línguas da Índia não existe a palavra “direito”, só existe a palavra “dever” que a substitui, mudando-se o sujeito da oração.

            Por exemplo, em vez de dizer: “O rei tem o direito de ser obedecido pelo povo”, diz-se: “O povo tem o dever de obedecer ao rei”; em vez de dizer-se: “O povo tem o direito de ser protegido pelo rei”, diz se: “O rei tem o dever de proteger o povo”. Pela falta da palavra “direito” naquelas línguas, dá-se uma alteração muito profunda na mentalidade: só se pensa em deveres a cumprir e não em direitos a reclamar. Não é o credor que tem o direito de receber, é o devedor que tem o dever de pagar suas dívidas.

            Se tivéssemos autoridade entre os nossos irmãos de propaganda espirita, ousaríamos propor-lhes uma alteração semelhante na linguagem: substituirmos sempre uma oração negativa por uma afirmativa, ou pelo silêncio. Por exemplo, em vez de dizermos: “Eu não gosto da guerra”, diríamos: “Eu gosto da paz”. Em vez de dizermos: “Eu não sou católico”, diríamos: “Eu sou espiritista”. Em vez de: “Ele não sabe o que diz”, diríamos: “Como todos nós, ele ainda tem muito que aprender”.

            Na aparência é uma puerilidade, puramente material, essa alteração em nossos modos de dizer; mas, na verdade, seríamos levados a adquirir novos hábitos mentais, lutando sempre para evitar as frases negativas e construirmos somente orações afirmativas. Com o tempo desapareceria dos nossos hábitos e, depois, dos nossos dicionários o adverbio “não”. Sabemos que seria difícil, porque há milhões de anos vivemos negando; contudo, justamente nessa dificuldade é que estaria a ginástica proveitosa para o nosso melhoramento.

            Aí fica a lembrança. Se algum dos nossos Irmãos a achar sensata, faça uma experiência em seus escritos, em suas palestras e, depois, comunique-nos os resultados.  Sir Oliver Lodge nos sugere eliminemos do dicionário a palavra “impossível” e tem razão; todavia, se conservarmos o adverbio “não” e dissermos: “Não é possível!” estaremos burlados do mesmo modo. Parece-nos que o que se faz preciso é lutarmos contra todas as formas de negação, a fim de sermos espíritos positivos, construtivos. Nosso grande mal tem sido a negação; contra esse mal temos que lutar sempre; temos que estar sempre em guarda.

            Toda a longa série de mandamentos negativos: Não furtarás, não matarás, não cometerás adultério, não levantarás falso testemunho, não cobiçarás as coisas alheias, fica substituída por um só, afirmativo: Ama a teu próximo como a ti mesmo.

            A fórmula negativa que dizia: “Fora da Igreja não há salvação”, o Sr. Allan Kardec opôs outra negação, porém, de ordem muito mais elevada, universal, antisectária: “Fora da caridade não há salvação”. Chegará, no entanto, o tempo em que esta fórmula do Mestre será substituída por outra ainda mais simples, como, por exemplo: “Quem ama está salvo”, ou “A salvação está no amor a todos os seres”, ou “Quem ama a Deus através de todos os seres já está salvo”.

            Preferimos a palavra “amor”, como realmente está no original do Evangelho, em vez de “caridade”, porque o sentido desta última se acha muito deturpado, implicando a ideia de esmola, assistência, pobreza, riqueza, quando, no sentido cristão, todos necessitamos desse afeto, dessa solidariedade humana, desde os mais ricos até aos mais pobres; quando, erradamente, se liga à palavra “caridade” a ideia de socorro econômico aos necessitados.


segunda-feira, 1 de março de 2021

Em apoio da teoria Espírita

 


Em apoio da teoria Espírita

por M. Lemoine    Reformador (FEB) Agosto 1948

             Antes de Allan Kardec, os fenômenos supranormais, m sua generalidade, já podiam ser tidos como oriundos da intervenção dos espíritos, justificando-se assim, que desde a Odisseia de Homero até a Athalie de Racine, a literatura tenha oferecido numerosos exemplos de fenômenos espíritas.

            O enredo de Hamlet, de Shakespeare repousa inteiramente sobre a aparição que um fantasma: o do rei defunto que relatou ao filho haver sido morto por envenenamento, a ele reclamando vindita.

            Este drama, em que o gênio de Shakespeare se expande magnificamente, faz-nos lembrar o seguinte fato espírita ocorrido alguns anos antes da guerra: - um pastor grego, cuja morte despertou suspeitas, tanto que foram detidos dois inocentes, revelou, ele próprio, o nome de seu assassino!

            Que é sonho de Atalia, esta obra-prima de nosso imortal Racine, senão um sonho premonitório, em que espírito de um morto desempenha papel saliente:

           Minha mãe Jezabel a mim apareceu

Tal como ao morrer, pomposamente enfeitada:

Infortúnios não lhe abateram a altivez;

Ainda conservava o mesmo brilho afetado

Com que, cuidadosa, sempre ornava seu rosto

Para disfarçar o duro ultraje dos anos.

Disse-me, então: “Treme, filha digna de mim,

Sobre ti domina o cruel Deus dos Judeus... “

             Shakespeare, em Hamlet ou Macbeth; Corneille em Polyeucte, com o sonho de Paulina: Racine, em Athalie, os maiores nomes da literatura, não aguardaram que o século XIX surgisse, a fim de introduzirem em suas mais belas obras, como realidade indiscutível, a possibilidade das comunicações entre o nosso mundo... e o outro.

            Sabemos muito bem que há sessenta anos se formou uma escola que, admitindo autenticidade dos fenômenos supranormais, pretende, no entanto, atribui-los, unicamente, às faculdades extraordinárias de certas criaturas vivas: é a escola dos metapsiquistas. Esta escola esquece, ou, pelo menos, finge esquecer-se de que a fonte causadora do conhecimento supranormal indica, muitas vezes, por si mesmo, a sua origem. Semelhante à expressão de Vítor Hugo sobre a maledicência, essa fonte vem dizer-nos aqui: “Eu saio do espírito de tal” e o tal é um defunto que atende à nossa recordação.

            Longe de mim o pensamento de negar à Metapsíquica o seu valor próprio. Escrevi, há trinta anos, na Revista científica e moral de Espiritismo, de Gabriel Delanne: “Se a Metapsíquica não existisse, seria preciso inventá-la. Há, sem dúvida alguma, fenômenos supranormais, como a psicometria, ou a visão através dos corpos opacos, nas quais parece não haver intervenção de espíritos”.

            Agora, que em nome da ciência os metapsiquistas pretendam desmerecer os fatos de origem espírita, é uma tendência anticientífica contra a qual me insurjo.

            Nenhuma de suas teorias consegue justificar o aspecto que então assume o fenômeno e, por conseguinte, ninguém pode pretender explica-lo com argumentos de valor.

            Em sua bela obra "A Sobrevivência Humana", livro que todos os espíritas deviam conhecer, o grande físico inglês, Oliver Lodge, uma das glórias do Espiritismo, sugeriu a hipótese de um registro cinematográfico dos fatos do Universo à medida que eles se vão desenrolando.

            Mostra que assim seria possível obter-se uma explicação satisfatória acerca do conhecimento supranormal do passado, estando nele compreendidos os retratos morais dos desencarnados.

            Mas esta concepção engenhosa não explica nem os fatos premonitórios nem os casos de continuação da personalidade após a morte, e tão pouco explica os exemplos da atividade póstuma dos falecidos.

            As teorias metapsíquicas, qualquer que elas sejam, não poderão, por sua própria natureza, oferecer explicações satisfatórias no tocante à continuidade da personalidade de um morto, ou de sua atividade póstuma.

            Toda a teoria metapsiquista se relaciona com as faculdades dos vivos, ao passo que as atribuímos aos mortos.

            Na descoberta dos casos de atividade póstuma ou de persistência da personalidade é que vamos encontrar a demonstração cabal da sobrevivência.

            É o que desejo dar-vos a conhecer, ou relembrar-vos, através de alguns casos deste gênero.

            1) Após a morte de Dante Alighieri, em 1321, verificou-se o desaparecimento dos treze últimos cantos da Divina Comédia, sua imortal obra prima.

            Em vão foram eles procurados durante oito meses e já se ia perdendo a esperança de encontrá-los, quando Jacopo, filho mais velho do poeta, sonhando certa vez, viu seu pai vestido de branco. Jacopo lhe perguntou se ele inda vivia: “Sim, respondeu o poeta, mas a verdadeira vida e não a de vocês", O filho indagou, então, acerca dos treze cantos que faltavam. Pareceu-lhe, nesta altura, que seu pai o conduzia ao quarto em que costuma dormir, e, tocando em certo ponto da parede, disse-lhe: “Aqui se encontra o que tem sido procurado há já tanto tempo”. Ao despertar, Jacopo se dirigiu à casa de Pietro Giardino, amigo de Dante, a quem contou o sonho que tivera e ambos decidiram ir à antiga residência do poeta. Removeram a esteira de palha pregada à parede; cobria ela um esconderijo, de cuja existência todos ignoravam; aí encontraram vários papéis e, entre eles; estavam os treze cantos da Divina Comédia.

            O escrivão Boccace, que vivia quando da morte de Dante, soube desse caso por Pietro Giardino que fora testemunha ocular, e foi o próprio Boccace que o relatou em seu livro “Vida de Dante Alighieri”.

            2) De uma velha obra editada em Parme, em 1778, Le génie de Pétrarque, encontrada em casa de meus pais, extrai (página 94) as seguintes linhas:

            “O bispo de Lombez, Jacque Colonne, estava à testa de sua diocese, quando Petrarca, por seus poemas, foi coroado em Parme. Petrarca, que era seu amigo, viu o prelado em sonho: “Aonde ides, disse-lhe eu. - Volto a Roma, replicou o Prelado. Eu vos seguirei, retrucou Petrarca., O Bispo o dissuadiu suavemente, dizendo-lhe: "não, ainda não é tempo”. “Eu notei, disse Petrarca, que a sua fronte tinha a palidez da morte”. Solto um grito que me acorda. Assinalo o dia; escrevo sobre este sonho aos meus amigos, vindo a saber, enfim, que Jacques Colonne havia falecido precisamente no dia em que ele me apareceu em sonho”. “Petrarca não era supersticioso: este acaso singular não o tornou mais crente que Cícero por ter tido um sonho que se realizou”.

 


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

A diversidade de vistas...



"A diversidade de vistas é frequente numa ciência nascente e o conservadorismo tem suas vantagens. Mudar radicalmente de opinião fora insensato. É preferível um desenvolvimento lento e seguro. Alguns, divisando claramente a verdade se sentem obrigados a abraça-la de todo coração e a todo risco. Outros preferem pesquisar mais profundamente os mistérios antes de neles penetrarem, com risco de tropeçar nos escolhos. Longe de mim a ideia de julgar qual dos métodos o melhor. Cada um deve traçar a sua linha de conduta e seguir o caminho que lhe pareça mais acertado."

         Oliver Lodge (Reformador (FEB) Fevereiro 1924).


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

As Lutas de Lodge


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As Lutas de Lodge
Reformador (FEB) Dezembro 1945

            A certeza de vistas e a intolerância não são privilégio das seitas religiosas em que o dogma impera. Vamos encontrá-las também entre os que presumem possuir conhecimentos científicos, em homens que toda a gente supunha alforriados de preconceito.

            Vieram-nos estes reparos a propósito do que refere ‘The New York Sun’, de 26 de março de 1926.

            A Sociedade Real de Londres desejava que o grande cientista inglês, Sir Lodge, resignasse ao seu lugar na mencionada Sociedade, em virtude de sua crença na comunicabilidade dos Espíritos.

            Sir Oliver Lodge, em carta publicada no ‘Nature’, declara que condescende em resignar a sua cadeira naquele famoso cenáculo.

            Afirmava, assim, o ilustre cientista que já ia nos seus 76 anos de idade, que se mantinha inabalável em suas crenças, acrescentando: "Se eu tivesse alguma dúvida a cerca da comunicação dos mortos, proclamá-la-ia; mas seria insensatez falsear a verdade; isso não farei, sejam quais forem as consequências."

            São estas as palavras textuais do eminente cientista inglês, que a Sociedade queria repelir do seu seio:

            "Pede-me o Prof. H. E. Armstrong que me retire da Sociedade Real, por haver gradualmente chegado à completa convicção em assunto submetido a intenso debate e cheio de incertezas, e tê-lo dito, apesar de ainda estar em dúvida a maioria dos meus colegas da Sociedade Real.

            "Prometo que, quando tal pedido for feito oficialmente, resignarei, sem nenhuma dúvida, mas sem deixar nunca de afirmar aquilo que julgo uma verdade demonstrada pela evidência, clara e repetida."

            Uma das mais significativas referências feitas por Sir Oliver Lodge às suas crenças, deu-se no City Temple, em Uolboru Viaduct, onde ele declarou:

            "Sei que há no Universo seres de categoria mais elevada que o homem; sei ainda que estamos rodeados de grande multidão de auxiliares; que estes empregam suas forças e perícia em assistir-nos, para que possamos obter o benefício do nosso patrimônio e alcançar os nossos destinos. "

            Na Igreja da Inglaterra, em Victoria Street, declarou o grande sábio que a Ciência não pode esperar resolver o grande enigma do Universo.

            Disse mais que a Ciência não trata das origens nos seus limites extremos.

            "Não somos os únicos seres da Criação, afirma Lodge. Há ainda os que sabem mais do que nós e cujas vistas alcançam muito mais que as nossas."

            A folha nova iorquina, de onde extraímos estas notas, termina o seu relato, dizendo:

            "A carta de Sir Oliver Lodge despertou grande interesse nos meios eruditos."

            "O prof. Armstrong, que foi o instrumento que trouxe à atenção pública o conflito que se trava no mundo cientifico, é um dos mais distintos membros da Royal Society."

            A que absurdos extremos e ridículos chegam o orgulho, o fanatismo e a obcecação do espírito humano!


domingo, 4 de novembro de 2012

Os Guias




Os Guias

            A primeira comunicação de Sir Oliver Lodge traz um verdadeiro curso de Espiritismo que bem o identifica. Como aqui ele já era nosso Mestre, e com a sua reconhecida prudência estudou quatro anos antes de comunicar-se, devemos estudar atentamente suas palavras. Diz-nos ele:


            "Recordo-me de ouvir falar muito a respeito dos Guias nas minhas mais antigas sessões. De fato estou um pouco incomodado com os guias. Mas agora compreendo; tenho-os encontrado e reconhecido como velhos amigos, e aprecio a lealdade e paciência que têm comigo.

         Segundo a minha forma de ver, nos fatos concernentes à encarnação e aos processos ordinários da evolução física como a Ciência tem compreendido, nada há que contradiga o precedente. Os processos físicos da evolução humana não implicam com isso, pois todos nós atingimos um certo lugar antes de começar a reencarnar. Tempo virá em que a Ciência ultrapassará  o que temos chamado metafísica. Tem de ser assim. Deve haver uma verdadeira ciência do espírito, do pensamento e do físico. Não podemos separa-las; nenhuma das três pode atuar sem as outras. Isto tem sido o nosso erro, Thomas. Temos monopolizado  uma delas, isto é, concentramo-nos numa e separamo-nos das outras.

         Em geral, admitimos duas: a física e a mental; e excluímos a terceira, a espiritual, por causa do que chamamos investigação e verdade científica. Não pode ser assim. Não fica completo. Mesmo os que acham que assim devem proceder, veem que há certas condições, certos fatos que os iludem, certas questões, certos problemas que não podem resolver.

         Enquanto se limitarem a estes dois, os processos da vida não podem ser resolvidos integralmente. Podemos desenvolver certos problemas  automáticos transitórios, mas não temos a memória eterna, o imortal processo da vida que vem de Deus.

         Devemos estudar as leis, as leis espirituais, as leis divinas e cooperar com elas. Então haverá maior esperança para nós; haverá maior perfeição em qualquer coisa que fizermos ou tentarmos fazer, no que respeita às outras duas.

         Estou satisfeito - se me permitem falar de mim próprio - tenho toda a razão para estar extremamente grato, porque me foi consentido passar do material ao espiritual, através do mental. Os que me injuriavam, chamavam-me lunático, mas eu tinha a firme convicção de que existia um Ser inteligente e benéfico, sem o qual nada poderíamos fazer e que, se havia coisas em que não o desejávamos, essas coisas não podiam ser boas.

         Eu queria abandona-las. Mas, se havia coisas em que me parecia que Ele podia cooperar ou desejaria cooperar, sentia-me impaciente por fazê-las. Deus estava na minha vida, nos meus planos e nas minhas ideias, e tenho toda a razão em estar contente por assim ter feito.

         Isso deu-me grandes vantagens nas minhas condições pessoais e na minha capacidade de cumprir o que me sentia inclinado a fazer, ou seja, maior interesse pelo mundo donde viera recentemente, maior possibilidade, maior possibilidade de gozar a companhia de outros que estiveram aí mais tempo do que eu, maior deleite da vida. As minhas faculdades pareciam extremamente agudas e claras.

         Comparo a minha condição com as condições de certa gente, gente que viveu muito tempo na Terra, gente que atingiu certa importância na sua profissão ou no seu trabalho, e assim que aqui chega tem de arrastar-se, enquanto outros podem passear, correr e saltar.

         Venci com alegria de viver; e vejo outros - pobres criaturas! - voltar do que chamavam triunfos materiais e sentir grandes prejuízos. É a única gente que deseja voltar à Terra."

             Como se vê, Lodge continua religioso como sempre foi, respeitoso pelos Guias, mas agora não cessa de falar sobre a reencarnação. Parece que a sua nova missão é convencer a todos dessa eterna verdade.

Redação Reformador (FEB)  Novembro 1946
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