Pesquisar este blog

Mostrando postagens com marcador Geminiano Barboza. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Geminiano Barboza. Mostrar todas as postagens

sábado, 18 de dezembro de 2021

Evangelização 1, 2 e 3


Evangelização – parte 1

por Geminiano Barboza

Reformador (FEB) 1º de Junho de 1916

             Bendita seja a Providência! Mil vezes bendita a Justiça de Deus!

            Neste momento rude e doloroso para o nosso mundo; nesta angustiosa fase da vida do nosso planeta, em que a alma humana se contorce e geme sob o peso de inumeráveis tribulações, eis que nos chega aos ouvidos o confortante eco de vozes animadoras. 

            É a “grande evangelização” que se propõe generalizar por toda a Terra; é a nova cruzada que se agita e se expande, a bem da dilatação dos santos Evangelhos. Exultemos.

            Parece que o infernal troar dos canhões mortíferos; o quadro lúgubre das devastações de cidades e dos campos transformados em “matadouros”, rubros ou impermeáveis por sucessivas camadas do sangue das vítimas da “cegueira humana”, e a visão das montanhas de cadáveres mutilados – segundo as notícias que a tantos meses nos transmitem o telégrafo e a imprensa; parece, dizíamos, conseguiram despertar na alma humana os sentimentos cristãos então subjugados pelos interesses, aniquilados pelas paixões e adormecidos pelos embustes.

            Por toda parte onde não domina a guerra, promove-se a propagação do ensino evangélico; isto é: distribui-se o “Pão do Espírito”.

            No momento em que isso escrevemos, comissões peregrinas visitam países, refundem elos de confraternização cristã, estabelecem bases para a propaganda ativa, criam íntimos laços fraternais, consolidam enfim o alicerce da “Grande Obra” do futuro.

            Dirão alguns dos nossos irmãos, mais ou menos radicais, mais ou menos sistemáticos: - “Que temos nós com isso, se somos espíritas e eles evangelistas?... A nós outros o que interessa é a propaganda espírita, não a evangélica.”

            A estes, porém, e tão somente a estes, respondemos:       

            Qual é a doutrina mater, a alma do Espiritismo, senão aquela mesma que deflui dos Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo?

            Perguntai à maioria dos espíritas atuais de onde se transladaram para o Espiritismo e ficareis sabendo que as “fontes” que mais têm contribuído aqui no Brasil para a grandeza numérica do novo Credo são: Catolicismo e Evangelismo.

            E, uma vez que tratamos de doutrina, consenti que em nome dela lancemos aqui esta triste verdade, que deve ser conhecida, para ser tomada na devida consideração: - Reina ainda em nosso meio muita falta de crença e consequentemente muita falta de luz; por isso que, para o espírita, a crença é a lâmpada que gera a luz.

            Como deveis saber, o que dá firmeza à crença é a fé esclarecida, porque a fé cega é inconsistente e fanática.

            Ora, a fé esclarecida só se obtém por meio do estudo e da meditação, pelo exercício do pensamento e perfeita volição (decisão).

            Bem sabeis vós, como há por aí homens que se dizem espíritas e praticam o Espiritismo em flagrante desacordo com a doutrina.

            Por que assim procedem?... Porque não estudam.

            Assim sendo, é naturalmente lógico que vão ter a um dos estremos do triângulo fatal: - a obsessão, o fanatismo ou a degeneração. E disto existem, infelizmente, muitos exemplos.

            Voltemos, porém, ao ponto capital deste ligeiro estudo, que tão palpitante se nos apresenta.

            Já havemos dito e repetimos sempre que nos pareça necessário: o Espiritismo tem suas bases firmadas nos Evangelhos. Que o subordinemos à Nova Revelação, quer o separemos dela, o seu fundo religioso é sempre evangélico.

            Mas, se é verdade que o Espiritismo está destinado à delicada missão de Religião do futuro, certamente a Revelação Evangélica é parte complementar do Espiritismo; é, logicamente, parte integrante desse TODO como a alma é parte integrante do homem.

            Esta ordem de ideias faz-nos crer que: todo homem que firme seu estudo espírita no elemento religioso, não só reconhecerá na Nova Revelação o complemento essencial da doutrina espírita, mas também a porta essencial da mesma, porque constitui a parte científica e porque ali está realmente constatada a promessa do Divino Mestre quanto ao Consolador:

            - “Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco.” (S. João cap. 14 v. 16)

            Prosseguindo, completa Jesus aquele pensamento no versículo 26:

            “- Mas, o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, ele nos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”

            A propósito, lembraremos a advertência daquela insinuante parábola:

            “- Nada há encoberto que se não venha a descobrir e nada há oculto que se não venha a saber.”

            Pois bem: aquelas ponderações e advertências dão hoje testemunho do Consolador na Revelação Evangélica recebida pelo nosso irmão Roustaing.

            O Divino Mestre, porém, em sua santa sabedoria, em sua presciência celestial, pressentindo desde logo a contestação futura, a repelir o fruto da sua profecia, que é o mesmo fruto do seu Amor, cercou-o de sólidas garantias, expressando-se por diferentes modos, para tornar bem claro e completo seu pensamento divino envolto naquelas eloquentes parábolas.

            Por isso, encontramo-lo ainda em outro local do mesmo texto vertido nestes termos:

            “- Quando, porém, vier o Consolador, aquele Espírito de Verdade, que procede do Pai, que Eu vos enviarei da parte do Pai, ele dará testemunho de mim.”

            “- E também vos dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio.”

            Bem sabemos quanto é difícil e arriscado dar interpretação ao pensamento profundo e sublime do humilde profeta de Nazaré, confiamos, porém, na magnanimidade do próprio Jesus, que bem conhece qual a intenção que nos impele a esse tentame de tanta responsabilidade.

            A Revelação da Revelação, que é a mesma que denominamos Revelação Evangélica, é de fato o Consolador prometido, que ficará eternamente conosco. Por isso fala de todas as coisas que o Cristo houve por bem ocultar durante sua passagem pela Terra, porquanto a humanidade não as poderia ainda compreender, nem havia oportunidade para tais revelações.

            Mas nem por isso deixou de declarar o Divino Mestre que:

            “-Tudo é dado a seu tempo.”

            Assim, pois, no tempo previsto e predito, o Espírito de Verdade, que simboliza a legião de Espíritos Bem-aventurados que constituem o Apostolado invisível, veio depositar nas mãos do homem esse erudito “tratado” da ciência espiritual extraído dos textos evangélicos, explicados com clarividente sabedoria.

            E, de fato, essa obra sublime, tantas vezes superior à concepção humana, tão refratária ao apagado registro do nosso pobre entendimento, fala-nos do Cristo como Ele falara do Pai; e, explicando o que eram os mistérios, faculta proveitosa noção de “ciência universal” - emanação direta da Sabedoria Divina. Dando testemunho do Cristo, ensina a conhecer Jesus na sua excelsa grandeza celestial - não como sendo Deus, mas como fiel intérprete do pensamento e da vontade do Criador.

            A Revelação Evangélica, extraída dos textos sagrados  por Espíritos competentíssimos como sejam os próprios Evangelistas, teve de fato o testemunho dos Apóstolos e de Moisés, um dos signatários. E assim é que, após a assinatura dos Arautos da Revelação, lê-se essa significativa anotação: “- Com assistência dos Apóstolos”.

            Por que vinham os Apóstolos assistir aos Evangelistas no desempenho da sua missão reveladora?...  Porque “das palavras de Jesus nem uma só se perde.” Eles davam testemunho do Divino Mestre, para que completa fosse a verificação da profecia do Filho de Deus, para que pudesse o “Senso humano”, em suas investigações, descobrir a Verdade.

            A Revelação é assim a fina emanação dos Evangelhos, de onde tirou a essência; a parte integrante do Espiritismo, de cujo corpo é a alma.   

            Por conseguinte, todo o espírito sincero, que deseja progredir deve beber instrução naquela opulenta fonte de sabedoria, a fim de fazer-se apto ao bom desempenho de sua árdua missão: - EVANGELIZAR.

            E eis que chegamos ao ponto culminante do presente estudo: a evangelização.

            Para o espírita, Jesus é o Divino Modelo, Jesus é o Divino Mestre, Jesus é o Divino Pastor.

            Pois bem: - Como Modelo, deixou o seu exemplo; como Mestre, deixou o seu ensino; como Pastor, mantém vigilância e observa atento quais as ovelhas que ouvem a sua voz e procuram encaminhar-se ao Aprisco do Senhor.

            Por isso mesmo, parece-nos de real importância relembrar sempre algumas das suas preciosas advertências, como estas:

            “- Eu sou o caminho, a Verdade e a Vida.”

            Em boa lógica, diz-nos o nosso Salvador: procurai-me e descobrireis a Verdade e esta vos conduzirá à Vida.”

            “ - As ovelhas do meu rebanho ouvem a minha voz e o seguem-me.”

            Sabemos quanto foi Jesus humilde e dócil, em atenção ao Pai Celestial, pelo santo amor que lhe votava, procuremos imitá-lo e Ele reconhecerá que somos seus amigos.

            “- O meu preceito é este: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei.”

            A lógica deste preceito é tão clara, tão pura, tão bela, que apenas temos que deplorar nossa incapacidade moral para o exercício de preceitos como este. Por isso mesmo maior deve ser nosso empenho na remodelação dos sentimentos.

            Meus amigos, o momento é de ação, porque as palavras de Jesus convertem-se em fatos. Apliquemo-nos ao amor espiritual, esse amor que reabilita o Espírito, e teremos glorificado no amor nosso Divino Mestre.

Evangelização – parte 2

por Geminiano Barboza

Reformador (FEB) 16 de Junho de 1916

             Esse prurido evangelista da parte dos cultores da “letra” da Escritura é providencial, é valioso concurso prestado aos nossos sucessores.

            Bem sabeis que a Seara é grande e os operários poucos. Bem conheceis a parábola de Jacó.

            Nada sucede no mundo sem causa.”

            É isso mesmo.

            São chegados os tempos da “grande evangelização”. Mas, os espíritas discutem ainda a autenticidade de Revelação Evangélica, em vez de estudarem os Evangelhos em Espírito e Verdade, a fim de se habilitarem à prática do ensino espiritualista na sua forma definitiva.

            A disseminação do ensino dado sobre a letra é, pois, o desbravamento do caminho por onde seguirá de futuro o Espiritismo, no desempenho de sua grande missão.

            Convém que não esqueçamos o encadeamento da orientação religiosa, cujo “marco inicial” é Moisés. Sabeis que Jesus teve o seu caminho aparelhado por João Batista e que o ensino material precedeu o espiritual, como devia ser, segundo as leis naturais e as condições do elemento humano; de outro modo tornar-se-ía impraticável. O próprio Jesus cedeu ao império das circunstâncias. Não convinha a menor violência contra a consciência humana nem forçar a evolução natural do homem. Doutrinou, pois, Jesus, segundo a letra. Porém, escrito está:

            “- A letra mata, o espírito vivifica.”

            Mas estará a humanidade a modo de receber o ensino evangélico em Espírito e Verdade?

            Seria absurdo afirmar, quando vemos ainda entre nós tanta relutância na aceitação da Nova Revelação, como se quizéssemos imitar os escribas e fariseus em relação ao Messias.

            Não obstante, as profecias continuam  a verificar-se. O primeiro “Ai” do Apocalípse está evidenciado, porquanto o seu eco repercute por toda parte. E isto lembra-nos mais esta parábola profética.

            “- Porque se levantará nação contra nação “reino contra reino”; e haverá terremotos por diversas partes e fome. Essas coisas não serão mais do que o princípio  das dores.” (v. Marcos, cap. 13, v. 8)

            E após várias considerações, pondera o Mestre amigo, no versículo 23:

            “- Estais vós, pois, de sobreaviso, olhai que vos preveni em tudo.”

            O Evangelho de S. Mateus, porém, é neste assunto um tanto mais explícito.

            - Vede cap. 23, versículos 3 a 13; e o versículo 14, que assim se exprime:

            “- E será pregado este Evangelho do Reino, em testemunho a todas as gentes, e então chegará o fim.”

            Nada há, pois, a estranhar que, chegados os tempos, viesse o Consolador “ensinar todas as coisas”; isto é: dizer as coisas que Jesus dissera porque o “Senso humano” não as poderia ainda compreender nem suportar.        

            Dado o Consolador, começam as manifestações dos fatos característicos do período inicial da fase adventícia. E logo ao começo do século vigente torna-se tumultuária, agitada e ameaçadora a situação do planeta, revelando em fatos consecutivos um regime anormal que cada vez mais se agrava. Mas o momento atual define-se categoricamente; as profecias convertem-se em fatos. O primeiro “Ai” do Apocalípse ecoa sobre a Terra.

            Há, entretanto, a considerar que, muitas das ovelhas do Senhor distanciaram-se por demais do caminho do Aprisco; e no campo das idéias equívocas em que se internaram não se apercebem do perigo iminente em que se internaram não se apercebem do perigo iminente que as ameaça, porque, preocupadas com as coisas de sua predileção, não veem que o seu “dia” extinguiu-se e que estão em plena noite.

            Essa é a noite da consciência desviada da Luz da Verdade e assim transviada da senda do bem.

            É urgente, pois, fazer chegar a luz aos que estão em trevas.

            Se o Divino Mestre manda dar de graça o que de graça nos foi dado, agitemos o facho divino, para que se derrame a luz por toda a parte e possa aproveitar a todos. Façamos ouvir a voz do Bom Pastor, transmitindo-a como recebemos.

            Tudo parece indicar a oportunidade do testemunho evangélico pela disseminação da doutrina do Divino Mestre.

            Se muitos de nossos irmãos se preparam para a grande pregação, “dentro da letra”, preparemo-nos também nós para a grande evangelização em Espírito e Verdade.

            Não negligenciaremos, meus amigos, porque, quando todo o mundo estiver de posse de uma boa noção do ensino evangélico, facilmente colherá o Espiritismo adeptos em profusão por toda a parte.

            A propaganda espírita será tanto mais eficaz quanto mais evidenciar a supremacia dos Evangelhos.

            Já sabemos que o fim máximo, o objetvo principal da missão espírita é a regeneração da espécie humana, pelo doutrinamento e pelo exemplo.

            Ora, devemos convir que o doutrinamento evangélico, segundo a Nova Revelação, isto é - em Espírito e Verdade, constitui uma nova ciência, que determinaremos “espiritualista”, porquanto define o Espírito e instrui sobre sua origem, seu destino e seu fim.

            Porém, embrionária como se acha ainda a nova ciência, visto como não foi compreendida ainda a Nova Revelação, pelo natural receio que em muitos há despertado, urgente se faz atrair a atenção da família espírita em geral para as páginas daquele “compêndio” da Ciência  Universal, cujo estudo se impôs, porque todos devemos conhecê-lo.

            Por mais inverossímil que pareça, esta é, entretanto, uma das fulgurantes lições que a Revelação oferece - a persuação da ciência universal - suprema conquista do Espírito.

            Ora, de duas uma: ou o Espírito evolui para a perfeição, e neste caso terá de elevar-se tanto em “sabedoria” quanto em “pureza” – como ensina a doutrina e a Revelação confirma: - ou o Espiritismo pode exonerar-se do labor da aprendizagem, e neste caso, a própria doutrina espírita nos vem ilidindo quando nos fala de perfeição e pureza.

            Mas vós, espíritas, estais, com justa razão, convencidos de que, a doutrina dada a Allan Kardec, venerando Mestre, é realmente verdadeira em seus princípios fundamentais.

            O que é preciso definir é isto: - a Kardec foi dado o ensino preliminar, a Roustaing foi dado o ensino superior do Espiritismo; a um foi dado a filosofia espírita, ao outro a ciência espiritual, o primeiro foi o fundador, o segundo o confirmador do Espiritismo. Dias virão em que essas verdades penetrarão em cheio na consciência de todos os espíritas.

            Quanto a nós, já sentimos cheia nossa alma dessas imponentes verdades; razão por que abraçamos com igual respeito, com igual carinho, com igual amor, a doutrina de Kardec e os Evangelhos de Roustaing.

            E é essa convicção que nos impede a convidar nossos irmãos a esse batismo de luz que por aquele meio nos envia o Divino Mestre como enviara outrora aos Apóstolos o Espírito Santo.

            Já são tantas as vezes, meus amigos, que nos havemos feito ingratos para com o nosso Criador e o nosso Redentor; sejamos desta vez um pouco mais prudentes, quando vemos já em ativa aplicação as leis reinvidicadoras do Direito Divino.

            Nós somos os servos, Eles são os Senhores... Ora, os espíritas exaltam a bondade infinita do Criador (e nisto fazem muito bem, porque constatam a verdade que se vem revelando desde Abraão), mas, se um espírita duvida da mesma bondade infinita do Senhor, dando por apócrifa a obra do Espírito Santo, faz nuito mal, pois além de outras falhas revela falta de fé.

            Refleti bem.

            “- É pelo fruto que se conhece a árvore.”

            Isto, que os Evangelhos ensinam, igualmente nos ensinam os espíritos.

            “ - A letra mata, e o espírito vivifica.

            Assim dizem os Evangelhos e igualmente  os espíritos.

            “-Tudo é dado a seu tempo.” – Jesus o disse os Espíritos confirmam.

            Aí temos, meus amigos, três importantes dados, excelentes padrões de aferição perante o “senso espírita.”

            Por conseguinte, sabendo o espírita que a bondade de Deus é infinita; que é ilimitado o Amor do Divino Mestre; sabendo que “os tempos são chegados” e que – “das palavras de Jesus nem uma só se perde”; por que duvidar da assinatura dos Evangelistas, da probidade de Roustaing e, consequentemente, da autenticidade da Revelação?

            Em que consiste a incompatibilidade da Revelação perante o critério, a lógica, a razão e bem assim perante a doutrina espírita? - Vagas pretenções; idéias preconcebidas.

            Entretanto, a advertência do Cristo é clara:

            “- Não é o discípulo mais que o Mestre, nem o servo maior que seu senhor.”

            Ora, os arautos da Revelação alegam que as Verdades evngélicas foram mandadas restabelecer “à ordem do Divino Mestre e vontade do Pai.” Logo, temos aí o “Mestre e o “Senhor”.

            E basta:                                                    

            O que, porém, não basta é o ensino espírita truncado, incompleto, desviado do seu curso. A responsabilidade espírita é tremenda; por isso mesmo, a sua orientação deve ser a mais perfeita e segura.

            O momento é de ação e a ação deve ser espiritualista, com a mais viva expressão evangélica, como convém nesses dias de marcha acelerada da evolução do planeta, em que as profecias se convertem em fatos.

            É tempo de lançar as sementes evangélicas por toda a seara de Jesus.  

           Evangelização – parte 3

por Geminiano Barboza

Reformador (FEB) 16 de Julho de 1916

 

            O excesso de prudência tem arrastado muita gente a erros deploráveis.

            O excesso de zelo tem motivado lamentáveis crimes.

            Em tudo, enfim, é sempre mal o excesso, porque no excesso está o perigo; mas esse perigo pode ser evitado pela  prudência sensata e criteriosa que pôe peias no excesso.   

            Vigiai e orai (recomendou o Divino Mestre) para não cairdes em tentação, porque o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca.”

            E disse!...

            Quanto mais dilatamos o pensamento  pelo vasto campo de orientação que se nos depara naquela advertência, tanto mais forte sentimos a necessidade de estudar os Evangelhos em espírito e verdade.

            De fato, meus amigos, os espíritas têm necessidade de permanecer vigilantes e conservarem o pensamento em prece... Os inimigos são muitos e as tentações inúmeras. Um momento de distração basta para sermos colhidos por uma cilada... Há, pois, necessidade de vigiar sempre, sempre e manter a prece no coração.

            O espírita não deve esquecer jamais que: a facilidade da obsessão corresponde à facilidade do desmando; e isto evidencia o valor da prece e da vigilância.

            Mas não pairam aí nossas necessidades morais; o espírita precisa submeter-se à disciplina doutrinária, isto é: elevação moral, sentimento de humanidade, docilidade de coração etc., a fim de ser amparado, guiado e auxiliado eficazmente.

            Se assim houvessem os escribas procedido, talvez tivessem reconhecido o Messias, com o auxílio de João Btista, cujas palavras foram bastante expressivas em relação ao Cristo, quando interrogado pelos sacerdotes enviados pelos judeus, supondo ser ele o Messias prometido.

 

            “- Eu sou voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías”:

            Isto disse o Batista, depois de haver dito que não era Cristo; nem Elias nem profeta. Mas, também lhes havia dito João outras coisas que lhes podia esclarecer. Eles, porém, não ligaram importância, porque esperavam alvíçaras mais positivas, porquanto interpretavam a Escritura “ao pé da letra”.       

            O próprio Jesus em muitas de suas parábolas, deixara transparecer a originalidade do seu ser; e os atos maravilhosos que pratica ra davam fiel testemunho da essência s

            Mas, os sábios de então, o Sumo Pontifice, os doutores da igreja, os escribas e fariseus, não viam no Rabino mais que um ousado impostor, um mago aventureiro, um embusteiro audaz, um aliciador de homens, subversor da ordem e contraventor das leis.

            Procederiam de boa fé?...

            Alguns talvez; a maioria não. Verdade é que se achavam todos sob o domínio da confusão proveniente do conflito entre os fatos e a Escritura; e por mais que consultassem a “letra”, não conseguiram tirar a conclusão lógica das Escrituras conjugadas com as lições dos fatos... Por que?... Porque não eram sinceros, mas hipócritas sofismadores, cínicos exploradores da boa fé alheia.

            De costas voltadas para a Luz, como se haviam colocado, tornara-se para eles inacessível à Verdade. E, assim, reduziram a “servo indigno” o que era o seu Senhor; converteram em asqueroso réu o seu Juiz Supremo.

            Não obstante, a Missão terrena do Filho de Deus    fora consumada, coroada  pela Resurreição, que é a glorificação  do Filho no Amor do Pai e a glorificação do Pai no triunfo do Filho.

            Elevado Jesus ao seio do Pai; baixou o Espirito Santo sobre os Apóstolos, a fim de consolidar o Apostolado; foi fundada a igreja cristã, que tantos beneficios trouxe ao mundo enquanto durou aquela virtuosa plêiade de homens simples e bona, que eram o sustentáculo da Verdade Messiânica.

            Na Terra, porém, tudo é relativo e efêmero. Os Apóstolos tiveram de volver ao amoroso seio do Divino Mestre e um novo Apostolado se foi constituindo a seu modo. E dentro em breve, os novos levitas crismaram a igreja de Jesus e surgiu em seu lugar a Igreja Católica Apostólica Romana.

            Começou aí a nova orientação, a nova erudição religiosa: surgiu a hierarquia eclesiástica, vieram os concílios e com eles as novas criações – os dogmas, os sacramentos, as relíquias, os mistérios da igreja e, enfim, todas as criações hoje vulgarizadas e escudadas na eterna ameaça do imperioso preceito: “Fora da Igeja não há salvação.”         

            Entretanto, os Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo jaziam sequestrados; as advertências do Divino Mestre eram esquecidas; os ensinos religiosos eram dados calculadamente, trasfigurados, sofismados e até controvertidos.

            Mas, paremos aqui, não devemos ir mais longe; o sentimento de piedade impõe-se e aliás não somos delatores. Esse estado de coisas, porém, perdura ainda, pode ser averiguado.

            Não é pretensão nossa condenar a igreja, que sabemos de antemão condenada por quem de direito; queremos apenas demonstrar a razão do equívoco, da confusão, da insensibilidade, da cegueira, endim, que lhe faz ver no Espiritismo tão perigoso elemento para o bem estar da humanidade, como via a igreja judaica, na doutrina do Cristo, elemento perigoso ao bem estar do povo israelita.

             A razão é simples, meus amigos: as idéias e sentimentos são análogos, não pode deixar de haver analogia na prática.

            Nós, porém, não somos juízes, deixemo-los. Mas, aproveitemos os exemplos que de lá veem, não para incentivo nosso, mas para escarmento; portanto, averiguado está: em corações corruptos não se aninham sentimentos nobres; em inteligências votadas à pervenção não se abrigam pensamentos puros; pelo mesma razão porque – “não põe Deus e a Verdade nos lábios do mentiroso.”

            Por conseguinte, os espíritas, cuja responsabilidade é bem maior, porque – “muito se pedirá a quem muito se houver dado” -  os espíritas devem tributar sinceramente a mais elevada consideração às advertências do Divino Mestre.

            Os primeiros Apóstolos preservavam-se do mau fermento, preservaram na fé, conservaram-se fiéis aos preceitos e advertências; - triunfaram das perrfídias do mundo. Os escribas, porém, insuflados de sabedoria, tradições e idéias, tombaram vencidos pelas paixões.  Os sucessores dos Apóstolos, graças à sua ciência reformadora, arrastaram a igreja à falência moral; e os seus continuadores atuais, em nome das tradições e da infalibilidade da Igreja, declaram guerra ao Espiritismo.

            Em face de tais exemplos, qual deve ser a orientação dos espíritas?... A mesma dos eribas?... A dos católicos ortodoxos?

            Não, meus amigos, a dos Apóstolos, que sustentaram a orientação do Nazareno, iluminados pelo Espírito Santo.

            E não possuem os espíritas a palavra do Espírito Santo dada por escrito na Terceira Revelação?... Sejam, pois, os espíritas criteriosos, para que idéias equívocas não venhm perturbar a placidez do “espírito de doutrina” que deve manter a pureza do nosso ambiente. Nada de paridarismo, porque, segundo afirmou S. Paulo, o fundamento é só um: Nosso Senhor Jesus Cristo.

            Ora, sabeis que o Divino Mestre enviou aos Apóstolos o Espírito Santo, conforma prometera. Por que duvidar do Consolador trazido pelo Espírito de Verdade, que importa também promessa sua?...

            Pois não manda Ele aos novos escolhidos os seus mensageiros a lhes aclarar o entendimento, robustecer a fé e confortar a alma?

            Que mais resta a exigir para erguer nossa crença?... A presença do próprio Jesus?... Novo prodígios e milagres?... Mas, então não somos espíritas, semos friseus boçais... Não merecemos a oferta magistral do Consolador.

            Erguei-vos, ó almas cristãs que estais de boa fé; erguei-vos à altura do conceito que a magnanimidade do Altíssimo houve por bem dispensar-nos em cumprimento da promessa de seu amado Filho.

            O Evangelho recomendado aos espíritos é o Evangelho comentado e explicado em Espíritoe Vedade pelos Espíritos do Senhor; desprezá-lo equivale renunciar o próprio Jesus, cuja palavra relembramos:

            “- Quem me despreza, despreza Aquele que me enviou.”

            Em suma: a ordem atual, segundo orientação dos mensageiros do Além, é o estudo dos Evangelhos, é a disseminação da doutrina evangélica.

            Porém, esses mesmos mensageiros dizem mui claramente:

            Estudai os Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo em Espírito e Verdade.”

            Ora, não havendo por enquanto outra obra que possa ser assim classificada senão a Revelação Evangélica recebida pelo nosso prestigioso irmão Roustaing, para ela, creio, devem convergir nossas vistas.

            Vós outros, porém, não sois crianças abandonadas; possuis mediunidade e viveis sob a auspiciosa direção de vossos guias e protetores; se a voz da consciência não é bastante, consultai-os.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Olho por olho

 

Olho por olho

(Êxodo, cap. 21, v. 24)

por Geminiano Barboza

Reformador (FEB)    1916

 

            Eis um belo tema para estudo, esse dispositivo da lei mosaica. Seja-nos permitido toma-lo por objeto da presente meditação.

            “A letra mata, o espírito vivifica”, disse Jesus Cristo.

            “Tirai da letra o espírito” – aconselham os mensageiros do divino Mestre.

            Ora, conhecida como está hoje a crassa ignorância que dominava então o Senso humano; conhecido o alto grau de rebeldia que pesava sobre os sentimentos do homem; conhecida a ferocidade turbulenta e pertinaz dos povos daqueles tempos; concebe-se facilmente a razão de ser de um tal dispositivo de lei. “Para os grandes males os grandes remédios” – diz Perez Escrich.

            Isto explica a repugnante dureza das leis temporárias dadas a Moisés como garantia do seu domínio moral sobre o povo hebreu, confiado à sua jurisdição; leis que destoam da Lei Magna, a Lei das leis, o Decálogo.

            Consideremos, porém, que Moisés não legislava por conta própria, mas por inspiração.

            Médium em grau elevado que era, possuindo a intuição clara como possuía vidência e audição, o preposto do Altíssimo via os anjos do Senhor, ouvia a voz do Verbo de Deus e recebia inspiração dos mensageiros do céu.

            Daí dimanava a força moral de que dispunha e todo o seu poder sobre aquele povo indomável.

            Acresce a isso a circunstância de ser Moisés o iniciador da doutrina posteriormente fundada pelo Cristo, que é a mesma que hoje estudamos em espírito e verdade – a doutrina espírita.

            Como sabeis, Moisés foi o primeiro profeta do Cristianismo.

            Estas ligeiras considerações sobre a pessoa de Moisés visam apenas desviar a suposição de haver sido ele um pretencioso, um déspota, um rancoroso, um violento. Em vez disso, devemos ver nele o homem providencial, o restaurador do pacto de Israel especialmente escolhido pelo Soberano do Céu para guiar o “seu povo” na Terra, começando por tirá-lo do cativeiro em que se achava no Egito.

            Depois desse ligeiro esboço, basta atentar para o caráter corrupto e a índole rebelde daquele povo, pra nos convencermos da indeclinável necessidade de rixas e austeras leis de repressão e punição.

            Eis porque existe na legislação mosaica o aludido dispositivo – “olho por olho”.

            E porque se trata de legislação antiquíssima, de cuja época nos separa uma montanha de séculos, supõem muitos que aquele dispositivo caducou, é letra morta, é lei nula, sepultada pelos séculos. De fato, até certo ponto, essa ordem de ideias é incontestavelmente verdadeira; não devemos, porém, esquecer que o Cristo sancionou, se bem que veladamente, aquele “preceito” com outro preceito, que ainda hoje prevalece e domina o senso humano: “Quem com ferro fere com ferro será ferido.”

            Decorrerá daí um direito outorgado ao homem para ferir seu semelhante?

            Se assim é, se Jesus concede ao homem o direito de ferir seu irmão, não é muito que lhe conceda o de tirar-lhe o muito que lhe conceda o de tirar-lhe o olho. Mas, o absurdo deste conceito é palpável e vossas consciências sabê-lo-ão repelir com dignidade, porque vós bem o sentis que não é assim, porque o Cristo pregava a fraternidade, o amor ao próximo, a caridade, o perdão. Aí está a razão porque dizem muitos que a doutrina do Cristo é eivada de contradições.

            Fatalmente, meus amigos, sempre que a interpretação não for além da expressão da letra, surgirão contradições, atropelando o pensamento, transfigurando a verdade e estabelecendo a dúvida.

            Mas, não mandou o próprio Cristo restabelecer a Verdade – pela Revelação Espírita, pela Revelação Evangélica e sucessivas revelações que trazem seus mensageiros?

            Cumpre-nos abandonar a interpretação material, que já venceu sua época e preencheu o seu fim, e ocuparmo-nos com a interpretação espiritual, única que nos pode conduzir à Verdade e destruir as s contradições.

            Dos textos tradicionais daqueles tempos, ressalta a feição característica do regime moral dos povos de então; regime tumultuário e desordenado, onde dominava a cegueira da ignorância e imperavam as paixões, os vícios, os preconceitos e hábitos extravagantes; consequência natural da voluntariosa rebeldia que avassalava aqueles obscuros espíritos inveterados no erro.

            Como conter um tal povo? Como chamá-lo à ordem e incutir-lhe a ideia do respeito individual, da moral pública e privada, princípios de civismo e regime doutrinário? Como?

            Por meio de leis austeras, princípios terroristas, preceitos atrozes, dispositivos assombrosos daquele povo e da imensa responsabilidade que passava sobre seus ombros. Em compensação, recebia ele a intuição dos meios coercitivos e regeneradores que devia pôr em prática para garantir o êxito da sua árdua missão.

            Foi assim que, moralmente sustentado pelos poderes celestes, de quem se fizera dócil instrumento, conseguiu manter até ao fim sua autoridade sobre aquele povo, através de inúmeras peripécias.

            Mas aquela época passou; os séculos sucederam-se; a humanidade progrediu e o senso humano melhorou, através de penosas existências. Outro é o aspecto da humanidade em nossos dias; outras são as condições que nos envolvem. 

            Ora, a humanidade nunca esteve esquecida ou abandonada, antes esteve sempre sob a tutela dos poderes divinos, que lhe garantem a “assistência espiritual”.

            O Pai, porém, continua a ser indulgente e magnânimo. Por isso, quando julgou oportuno, fez baixar à Terra arautos do Céu, mensageiros do Cristo, a fim de despertarem a humanidade dessa letargia fatal que a vem aniquilando através dos séculos e de inúmeras existências.

            Assim, vieram as revelações e a Verdade foi restabelecida, até onde devia ser, na hora presente.

            O restabelecimento da Verdade, meus amigos, é, para nós, uma forte projeção de luz sobre as sombras dos mistérios, permitindo ver longe, através das escrituras, a fim de compreendermos a razão porque “a letra mata e o espírito vivifica”.

            Tentemos, pois, com o auxílio dos arautos da Verdade, extrair da letra o espírito, a fim de gravar no presente estudo o cunho de verdade, que deve ser a nota vibrante em todo e qualquer estudo espírita.

            No versículo 24 do capítulo 21 do “Êxodo” está escrito: - “olho por olho, dente por dente, mão em mão, pé por pé”.

            Ora, o pensamento ali é claro e pode ser assim traduzido: - mal por mal, violência por violência.” Mas, estes princípios, bem o sabemos, são anticristãos.

            Esta aparente contradição tem, naturalmente, sugerido a muitos a ideia de que Moisés, em um momento de arrebatamento, indignado contra a rebeldia do povo hebreu, cedendo à paixão humana, “tornara-se violento”, formando princípios que tão desumanos nos parecem.

            Mas quem nos disse que Moisés autorizou alguém a “utilizar” aquele instrumento de justiça?!

            Aquele formidável espantalho que figura no versículo 24, é um simples “exemplo”, meus amigos, a propósito da pena indicada no versículo 23 para o homem que ferisse uma mulher pejada, “se daí lhe resultasse a morte”. Pena: “vida por vida”.” Segue-se o exemplo – “olho por olho”, etc...

            Naquele tempo, como hoje, não podia ser dado ao homem o direito de trucidar o homem; porquanto já era vigente o Decálogo, o estatuto da família humana, dada no Monte Sinai e sancionado pelo Verbo divino, para garantia e uso de toda humanidade. O homem nunca foi autorizado à violência. Entretanto, o homem sempre foi e continua a ser violento, em consequência dos defeitos que motivaram a queda do Espírito e hoje o arrastaram ao jugo da matéria, sob o influxo do nosso ambiente “violento por sua natureza.”

            E como necessário se fizesse colocar junto ao homem fortes motivos de terror, fora Moisés inspirado no sentido de conter, ao menos em parte, a ferocidade do homem contra o homem.

            Não esqueçamos, porém, que Moisés era também profeta e iniciador da doutrina que veio a nós; Moisés pressentia em visão o futuro. Por isso mesmo, não é curial interpretar hoje aquele preceito como sendo “letra morta”, antes devemos tomá-lo por advertência permanente, traduzindo o modo por que é executada a lei providencial da Justiça Suprema.

            Se é verdade que Deus escreve o Direito por linhas tortas, o dispositivo da lei mosaica um preceito de Deus, não do homem.

                                                                                                                                                                                                                                                                                 

 

 

quarta-feira, 31 de março de 2021

Simples tributo

 


  Simples tributo 

(...a Pedro Richard por ocasião de seu desencarne)

por Geminiano Barboza

Reformador (FEB) Novembro 1918

 

            Prezado irmão... Prevista estava a tua breve partida: e Deus o sabe quanto sentimos não poder de algum modo auxiliar-te em teus últimos momentos.

            Não foi surpresa para nós o teu passamento, tua migração espiritual; foi apenas motivo de saudade e alarme à nossa gratidão, da qual tão nobre e dignamente te fizeste credor... Jamais esquecerá o signatário destas linhas a frase paternal e consoladora que em certo delicado momento lhe dirigiste:

            “- O fazer bem é sempre fácil, quando há boa vontade; custa tão pouco!"

            Pois bem; de homem a homem, não passei de um mal amigo, um ingrato!.. Deixa, pois, que te fale hoje de Espírito a Espírito, certo de que me compreenderás.

            Não se trata de um panegírico, fantasia de que não carece teu Espírito que, mercê de Deus, soube colocar-se muito acima do convencionalismo humano; isto nada mais representa que “simples tributo de gratidão”, que meu irmão certamente não recusará, agora que melhor poderá perscrutar a sinceridade do coração humano.

            Partiste!.. Nós ficamos, preenchendo nosso destino... Praza aos Céus que os teus bons exemplos de espírita convicto e disciplinado possam aproveitar a nós outros, tão sujeitos ainda às fracas contingências da matéria... Que ao menos os sirva de incentivo a tenacidade e dedicação com que te entregavas ao santo labor, no cultivo da Vinha do Senhor, no desdobramento da bendita Seara de Jesus.

            Partiste!.. Mas partiste triunfante, porque, na humildade do teu Espírito, na docilidade de teu coração e na fé inquebrantável que conservaste até ao fim; encontraste sempre a energia, a paciência e a resignação de que precisavas para vencer a tua prova final!

            Partiste!.. Mas as bênçãos daqueles a quem consolaste, a quem amparaste, a quem serviste, voam em turbilhão para o teu Espírito; impelindo-o para o Alto!

            Felizes os que partem como tu, deixando como única dor a dor da saudade e como único sentimento o da gratidão.

            Pedro Richard, que a paz de Jesus seja contigo e a benção do Pai celestial baixe sobre o teu Espírito, eis o voto do teu irmão.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Preferências


Preferências – 1

por Geminiano Barboza     Reformador (FEB) 1º Maio 1917

             É indubitável que ao homem assiste o direito de preferências.

            Sem o direito de preferência, ficaria peiado (amarrado, preso, limitado) o livre arbítrio do homem, atributo de alto conceito e incalculável valor, por ser um dos mais preciosos dons do Espírito humano, emanação do Poder Supremo e por isso mesmo adstrito às suas sábias e santas leis.

            Fica, por conseguinte, fora de discussão o direito de preferência, por isso que assenta firmemente sobre o livre-arbítrio de cada um.

            Mas, é totalmente fora de dúvida que, sobre o livre arbítrio pesa toda a responsabilidade do pensamento, da palavra e da escrita, assim como de todos os atos do homem.

            Como evitar tamanho perigo, cuja sutileza escapa, quase sempre à perspicácia mais fina e vivaz?

            Como?.. Socorrendo-se cada um da própria consciência... Não sabeis que a consciência humana é o espelho onde se reflete a Verdade divina?.. Limpai, pois, o espelho para que a Verdade nele se reflita.

            Meus amigos, as ciências humanas, obedecendo ao louvável intuito de colocar o homem na cumeada (limite, topo) do saber, tem de fato conseguido grandes maravilhas, tão úteis quanto belas, em criações, inventos e descobertas. Mas, infelizmente, conquanto pareça haver a sapiência humana conseguido a pletora (abundância) do saber, o mundo continua pobre, apesar dos tesouros depositados em seu seio; continua tateando nas trevas, quando é certo que já podia nadar num oceano de luz.

            É que o homem supõe satisfeitas todas as necessidades humanas por efeito do vigoroso incremento facultado à civilização e a grande amplitude que tomaram as ciências legadas pelo passado.

            Entretanto, como muito bem sabem todos: (sábios, filósofos e leigos) - todo tempo não é um. 

            A era que se abre diante do nosso mundo, exige urgentemente novas aplicações, novos estudos, nova orientação, novo tirocínio; porque, era de remodelação, tal qual se anuncia e cujo início já se faz sentir, fatalmente nos fará passar por uma espécie de demolição, aliás inevitável, a bem da reconstituição geral; assim na ordem físico-material, como na ordem moral e na intelectual.

            Sabeis que o homem muito se há esmerado na cultura intelectual (no que faz muito bem); mas também descurou-se muito da cultura moral e religiosa, no que muito mal andou, porque atrasou deploravelmente seu progresso espiritual e criou dificuldades ao progresso do planeta.

            Agora, porém, soou o momento da Grande Evolução, evolução acelerada, porquanto, é tempo de eximir-se o nosso mundo da triste condição de “mundo de expiação”, para entrar na categoria de “mundo de regeneração”.

            O período de transição já aí está em pleno vigor; os reveladores o dizem e os fatos o confirmam... Os fatos insólitos e ultra extravagantes, as grandes e rudes tribulações que estortegam e afligem nossa pobre humanidade, as rijas provas a que ora nos achamos submetidos e que tantas dores e tantas lágrimas produzem, provocando veementes queixas e súplicas a uns e medonhas blasfêmias e pragas a outros; finalmente, o tumultuar de crimes que por toda parte se desdobram, atestam vigorosamente a veracidade daquela afirmativa. 

            Convém, entretanto, que não nos perturbemos: “- tudo o que é tem sua razão de ser.”, - Jesus o disse. 

            A humanidade havia contraído uma grande dívida para com Deus, de cuja benevolência abusou, fazendo-se relapsa e contumaz, inspirada nas teorias materialistas cujo maior empenho é desterrar do pensamento do homem a ideia de Deus.

            Os teoristas do materialismo parecem haver esquecida a asserção categórica daquele enunciado evangélico: “...e mostrarei que Eu sou o Senhor”...” E a humanidade esquece que tudo deve a Deus e que pouco ou nada lhe dá, porquanto, o próprio tributo de amor em parte lhe há negado.

            Sabemos que as teorias controversas atinentes ao materialismo, ateísmo, negativismo, etc. foram instigadas pela ideia de combate nos erros da moderna teologia, cujas fórmulas, dogmas e ritos ortodoxos denunciavam “flagrante e tumultuoso conflito doutrinário”, tornando-se por isso inaceitáveis à Razão esclarecida.

            Mas, sabemos igualmente que os teoristas não foram coerentes nem sinceros; não agiram de boa-fé, mas somente em atenção às suas paixões e seus inferiores.

            Por isso, pretendendo libertar a alma humana do “pão falsificado” que lhe fornecia a Igreja, prejudicou-a miseravelmente oferecendo-lhe “pão envenenado" pelo fermento corruptor que suas paixões introduziram em toda a massa, conforme seus interesses.

            Estabelecida assim a confusão sempre crescente, em razão da exploração indômita dos pretensos guias e diretores da orientação dos povos; a humanidade, sempre propensa à regra do menor esforço, arrastada, aliás pelas tendências materiais, facilmente se deixou insuflar pelas teorias comodistas, que lhe desobrigam do respeito à Lei que manda “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si próprio.”

            Assim, imbuída de falsos princípios, teorias falsas e doutrinas sofismadas, vem a trôpega humanidade atropelando o próprio “destino” tropeçando nos próprios e erros, e caindo, de existência em existência, nos mais profundos abismos de iníquas culpas.

            Deste imperfeito raciocínio, propositalmente resumido, podemos desde já deduzir o seguinte:

            A massa ignara que constitui a maioria da humanidade da Terra, longe de ser inocente, é indubitavelmente culpada; mas as culpas piores decorrem do mal doutrinamento tão levianamente lançado pelos educadores da consciência humana: uns impingindo teologia falsificada, outros preconizando o sofisma corrosivo de suas teorias, e ainda outros, propinando doutrinas destiladas no laboratório de suas portentosas fontes de erudição; todos, porém, prevaricando arrogantemente.

            Como sabeis, há quase meio século baixou à Terra a doutrina espiritualista trazida pela Terceira Revelação; pois esses impenitentes envenenadores da alma humana foram os primeiros oposicionistas, os mais ferrenhos adversários que ardorosamente saíram a oferecer combate à nova doutrina enviada pelo “Cristo Redivivo”, para restabelecer, elucidar e completar a verdadeira doutrina de Paz, Amor e Caridade.

            A biblioteca espiritualista é já bastante volumosa; os fatos experimentais contam-se por milhares, sendo a maior parte constatada e dada à luz da publicidade por conceituados membros do “corpo científico mundial”, de insuspeita reputação e cultura; os fatos espontâneos por toda parte se ostentam, quais provas irrefragáveis da imortalidade do Espírito e da sua comunicabilidade com os seus irmãos da Terra; mas a Teologia caduca e a Filosofia pirrônica (incrédula) continuam a negar a possibilidade de tais fatos, para que não sejam abatidos “seu orgulho e sua vaidade”, nem diminuída sua importância de autoridades teológicas ou científicas.

            Não obstante, a Verdade germina e se propaga com incrível rapidez, sem o emprego de violência alguma ou de pérfidas manobras, mas com a naturalidade do perpassar das horas, utilizando apenas a boa vontade dos crentes e humildes.

            E tal é o império da Verdade que, muitos dos seus mais temíveis adversários curvaram-se ante a evidência e são presentemente ardentes defensores da causa espiritualista, verdadeiros baluarte da Verdade velada.

            Que belo exemplo a ser imitado!

            E como é agradável reconhecer a nobre lealdade de tais adversários!..

  Preferências – 2

por Geminiano Barboza      Reformador (FEB) 16 Maio 1917

             A preferência é, em alguns casos, o reduto da prudência, mas talvez alguma vez o refúgio da superstição e erros inveterados.

            Agora mesmo temos presente uma modesta obra, que confirma o nosso pensamento; obra cujo despretensioso conjunto, na simplicidade de sua narrativa,  

projeta benfazeja luz em qualquer consciência predisposta a receber a Verdade.

            Referimo-nos à obra intitulada “Ensinos Espiritualistas” mediunicamente recebida e completada por Willian Stainton Moses, traduzida e publicada pela Federação Espírita Brasileira, que em sua livraria colocou-a à disposição do público.

            Essa modesta obra, compendiada em pequeno volume de 352 páginas conquanto pequena no tamanho, é grandiosa no seu valor instrutivo, no terreno da elucidação do Senso moral e religioso.

            Aborda questões importantes, responde a argumentos complexos e artificiosos,

discorre magistralmente sobre as relações entre o mundo visível e o invisível, dá definições de alto interesse aos que estudam e, por efeito das luzes que esparge na alma do leitor, predispõe o homem para os grandes e proveitosos estudos espiritualistas, dos quais “não pode prescindir” o homem do futuro.

            Meus amigos; bem sabeis que o Progresso é LEI e essa lei não retroage, mas prossegue indefinidamente adstrita à Evolução, outra lei inalterável, de ação permanente.

            Pois vem: a Evolução e o progresso conduziram o homem do seu estado inicial.de crassa ignorância estúpido obscurantismo, ao grau de civilização que hoje enaltece e envaidece o homem... Pensais vos que o homem ficará aí estacionado, chumbado ao materialismo? Não!  A Evolução e o Progresso continuarão a arrastar o homem pela estrada da perfeição, com escala pela Regeneração, na grande conquista da reabilitação do Espírito.

            Notai mais: - Não é só e exclusivamente o homem que evolui e progride, mas também o planeta, que obedece às mesmas leis e não pode estacionar no estado de imperfeição e impureza em que ainda se acha.

            Por essa razão e porque se aproximasse o momento em que o nosso mundo tem de pagar o seu tributo, baixaram à Terra os Arautos do Senhor, a fim de porem de sobreaviso o homem, para que se acautelasse de modo a suavizar as dores das provas de transição.

            Bem sabeis que, “não há parto sem dor... Era justo, pois, que o homem fosse avisado e o foi em larga escala... Por toda parte se hão manifestado os mensageiros do Filho de Deus, desde o meado do século 19, lançando o misterioso aviso: “Os tempos são chegados.”

            Em 1857 baixou a Revelação Espírita, dada a Allan Kardec, a compilou e codificou; em 1863 recebia J. B. Roustaing a Revelação da Revelação, que nós cognominamos “Revelação Evangélica”. Entretanto, os Espíritos não cessavam de agir. Por toda parte irrompiam manifestações espíritas (e ainda hoje assim é) despertando as atenções, advertindo o homem, preparando o advento do Espiritualismo.

            Em 1870 era Stainton Moses atraído ao Espiritualismo, “em pleno antagonismo com as suas convicções teológicas”, e, em 1873, tendo perfeitamente desenvolvida sua mediunidade, se bem que a contragosto, recebia de Seu guia importantes instruções, dentre as quais destacamos o seguinte período:

             “- Aproxima-se o tempo em que um novo raio de luz dissipará o nevoeiro da ignorância humana; as sublimes verdades que estamos encarregados de proclamar apagarão da superfície da Terra de Deus a rivalidade sectária, a amargura teológica, a cólera e a má vontade, o rancor, o orgulho farisaico, que desfiguram o nome de Religião e tornaram entre os homens a teologia sinônimo de discórdia...

            Essa nobre ciência, que devia instruir o homem no conhecimento da natureza de Deus e inspirar-lhe alguma coisa do amor que emana da Divindade, tornou-se o campo de batalha de seitas e partidos, a planície árida onde os mais mesquinhos preconceitos são imiscuídos com as mais miseráveis paixões. O deserto estéril onde o homem apenas demonstra a sua completa ignorância a respeito do assunto de que trata com tanto devotamento.” (Seção XVL pags. 202 a 203 da obra citada.)

             Como vedes, meus amigos, vem de longe o aviso paternal, o incentivo amigo, o convite ao estudo e à meditação... Mas, o homem, sempre refratário à luz e à verdade espirituais, continuou, zombeteiro e folgazão, a deliciar-se nos gozos da matéria, esquecido de que possui com o corpo uma alma, que maior desvelo lhe deve merecer, porque a alma não morre com o corpo, mas continua viva, para assumir a responsabilidade dos atos do homem.

            E, agora, que parece o nosso mundo se haver colocado fora das leis de normalidade e justiça, admiram-se “os próprios refratários” da incoerência brutal dos fatos e da indómita crueldade que ora domina o mundo.

             Não vêm nisso os refratários o resultado das preferências imprudentes; consequência do desprezo à Lei e seus preceitos... Não compreendem que, havendo chegado o momento das reivindicações, cumpre-se a palavra de Deus:- “...e mostrarei que Eu sou o senhor.”

            Analisando a boa fé, perfunctoriamente embora, julgamos licito supor, dentro dos preceitos da lógica, que, “se os mentores, os educadores e os doutrinadores dos povos” houvessem trilhado a estrada ampla e clara da Razão, da Verdade e da Justiça, com retidão e lealdade, certamente o resultado seria   TODO benéfico, plausível, próspero e confortável; assim no domínio da moral pública e privada como na religiosidade; assim nas relações os homens entre si como nas relações do homem com o seu Deus.

            Faltou lhes, naturalmente, predisposição espiritual, que lhes devia facultar o estímulo, o conselho, a advertência, qual sucedera a Stainton Moses por parte do seu guia espiritual, conforme se vê desta pequenina amostra:

            - 0 Evangelho da humanidade é o Evangelho de Jesus Cristo; o único que se torna necessário a homem, o único que pode prover as suas faltas e ajuda-lo em suas necessidades.

            Ora, é precisamente desse Evangelho que se têm esquecido os preparadores da Consciência mundial: educadores, instrutores, doutrinadores; e assim todos quantos, de boa ou má fé, se hão dedicado à orientação do Senso humano.

            E porque assim pensamos, e porque obedecemos ao princípio da caridade espiritual, não encerraremos este nosso modesto estudo sem chamarmos mais uma vez a atenção dos estudiosos para aquela interessante obra (Ensinos Espiritualistas), cuja elucidação, insinuante e adaptável, ainda pode salvar do naufrágio muitas almas periclitantes.

            Sentimos não poder reproduzir aqui muitos do belos e eloquentes ensinamentos de que é depositário o livro de Moses, mas não fugiremos ao desejo de atrair a atenção dos amigos de bons estudos para o magistral argumento contido nas páginas 241 a 243 cujo critério deixa evidenciada a superioridade da fonte de onde emanou.

            Concluiremos, pois, aconselhando aos senhores intelectuais, literatos, educadores e pastores espirituais a leitura espiritualista, como “essencial” aos seus misteres; porquanto, a orientação do futuro repousará inevitavelmente em bases concretas e estáveis, sob os auspícios do “Espiritualismo”, cuja era se inicia e cujos efeitos são já manifestos e incontestável o seu progresso incessante e feliz, na sua humildade benfazeja.  

            Nós, que vimos do Credo católico, não por apostasia, mas por coerência espiritual, porque nos devorava a sede da Verdade teológica, a Verdade oculta nos mistérios e nos  subterfúgios, e sempre vedada aos leigos; nós, que nos convertemos ao Espiritismo a fim de apaziguar nossa consciência; hoje que sentimos suavizada a nossa sede, confortada a nossa alma satisfeita e tranquila a consciência; cumprimos um dever de lealdade fraternal bradando com vigor e sem cessar:- “Vinde amigos, vinde irmãos, vinde comungar conosco na mesa farta da Verdade espiritual, abastecida pela Terceira Revelação... Vinde aprender a  penetrar os mistérios, a fim de entrardes no conhecimento de que “o homem só se eleva pelo Espírito – tanto quanto se abate pela matéria.

            Vinde comungar conosco e, sem esforço, compreendereis a enigmática parábola de Jesus:

            “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que vem de Deus.”

            Pois bem, a Palavra de Deus é hoje fartamente distribuída. As livrarias espíritas são verdadeiros repositórios de excelentes obras. Visitai a livraria da Federação Espírita Brasileira, e verificareis a verdade do que afirmamos.

            E, uma vez que aqui estamos em cumprimento do dever ao serviço da Verdade. Não cometeremos a imprudência de reter no pensamento o que a consciência ordena que proclamemos.

            Tomai, meus amigos, todos vós, muito cuidado com as vossas preferências; porque, se o vosso livre arbítrio é soberano, tremenda é a RESPONSABILIDADE que sobre ele paira.