Preferências – 1
por Geminiano Barboza Reformador (FEB) 1º Maio 1917
É indubitável que ao homem assiste o direito de preferências.
Sem o direito de preferência, ficaria
peiado (amarrado, preso, limitado) o livre arbítrio do homem, atributo
de alto conceito e incalculável valor, por ser um dos mais preciosos dons do
Espírito humano, emanação do Poder Supremo e por isso mesmo adstrito às suas
sábias e santas leis.
Fica, por conseguinte, fora de
discussão o direito de preferência,
por isso que assenta firmemente sobre o livre-arbítrio de cada um.
Mas, é totalmente fora de dúvida
que, sobre o livre arbítrio pesa toda
a responsabilidade do pensamento, da palavra e da escrita, assim como de todos
os atos do homem.
Como evitar tamanho perigo, cuja
sutileza escapa, quase sempre à perspicácia mais fina e vivaz?
Como?.. Socorrendo-se cada um da
própria consciência... Não sabeis que a consciência humana é o espelho onde se
reflete a Verdade divina?.. Limpai, pois, o espelho
para que a Verdade nele se reflita.
Meus amigos, as ciências humanas, obedecendo ao
louvável intuito de colocar o homem na cumeada (limite, topo) do saber, tem de fato conseguido
grandes maravilhas, tão úteis quanto belas, em criações, inventos e
descobertas. Mas, infelizmente, conquanto pareça haver a sapiência humana
conseguido a pletora
(abundância) do saber, o mundo continua pobre,
apesar dos tesouros depositados em seu seio; continua tateando nas trevas,
quando é certo que já podia nadar num oceano de luz.
É que o homem supõe satisfeitas todas as necessidades
humanas por efeito do vigoroso incremento facultado à civilização e a grande
amplitude que tomaram as ciências legadas pelo passado.
Entretanto, como muito bem sabem
todos: (sábios, filósofos e leigos) - todo tempo não é um.
A era que se abre diante do nosso mundo, exige
urgentemente novas aplicações, novos estudos, nova orientação, novo tirocínio;
porque, era de remodelação, tal qual
se anuncia e cujo início já se faz sentir, fatalmente nos fará passar por uma
espécie de demolição, aliás inevitável, a bem da reconstituição geral; assim na
ordem físico-material, como na ordem moral e na intelectual.
Sabeis que o homem muito se há esmerado
na cultura intelectual (no que faz muito bem); mas também descurou-se muito da
cultura moral e religiosa, no que muito mal andou, porque atrasou
deploravelmente seu progresso espiritual e criou dificuldades ao progresso do
planeta.
Agora, porém, soou o momento da Grande Evolução, evolução acelerada, porquanto, é tempo
de eximir-se o nosso mundo da triste condição de “mundo de expiação”, para
entrar na categoria de “mundo de regeneração”.
O período de transição já aí está em
pleno vigor; os reveladores o dizem e os fatos o confirmam... Os fatos
insólitos e ultra extravagantes, as grandes e rudes tribulações que estortegam
e afligem nossa pobre humanidade, as rijas provas a que ora nos achamos
submetidos e que tantas dores e tantas lágrimas produzem, provocando veementes
queixas e súplicas a uns e medonhas blasfêmias e pragas a outros; finalmente, o
tumultuar
de crimes que por toda
parte se desdobram, atestam vigorosamente a veracidade daquela afirmativa.
Convém, entretanto, que não nos
perturbemos: “- tudo o que é tem sua razão de ser.”, - Jesus o disse.
A humanidade havia contraído uma
grande dívida para com Deus, de cuja benevolência abusou, fazendo-se relapsa e
contumaz, inspirada nas teorias materialistas cujo maior empenho é desterrar do
pensamento do homem a ideia de Deus.
Os teoristas do materialismo parecem
haver esquecida a asserção categórica daquele enunciado evangélico: “...e
mostrarei que Eu sou o Senhor”...” E a humanidade esquece que tudo deve a Deus
e que pouco ou nada lhe dá, porquanto, o próprio tributo de amor em parte lhe há negado.
Sabemos que as teorias controversas
atinentes ao materialismo, ateísmo, negativismo, etc. foram instigadas pela
ideia de combate nos erros da moderna teologia, cujas fórmulas, dogmas e ritos
ortodoxos denunciavam “flagrante e tumultuoso conflito doutrinário”,
tornando-se por isso inaceitáveis à Razão esclarecida.
Mas, sabemos igualmente que os
teoristas não foram coerentes nem sinceros; não agiram de boa-fé, mas somente
em atenção às suas paixões e seus inferiores.
Por isso, pretendendo libertar a
alma humana do “pão falsificado” que lhe fornecia a Igreja, prejudicou-a
miseravelmente oferecendo-lhe “pão envenenado" pelo fermento corruptor que
suas paixões introduziram em toda a massa, conforme seus interesses.
Estabelecida assim a confusão sempre crescente, em
razão da exploração indômita dos pretensos guias
e diretores da orientação dos povos; a humanidade, sempre propensa à regra do menor esforço, arrastada, aliás
pelas tendências materiais, facilmente se deixou insuflar pelas teorias
comodistas, que lhe desobrigam do
respeito à Lei que manda “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a
si próprio.”
Assim,
imbuída de falsos princípios, teorias falsas e doutrinas sofismadas, vem a
trôpega humanidade atropelando o próprio “destino” tropeçando nos próprios e
erros, e caindo, de existência em existência, nos mais profundos abismos de
iníquas culpas.
Deste imperfeito raciocínio,
propositalmente resumido, podemos desde já deduzir o seguinte:
A massa ignara que constitui a
maioria da humanidade da Terra, longe de ser inocente, é indubitavelmente
culpada; mas as culpas piores decorrem do mal doutrinamento tão levianamente
lançado pelos educadores da consciência humana: uns impingindo teologia
falsificada, outros preconizando o sofisma corrosivo de suas teorias, e ainda
outros, propinando doutrinas destiladas no laboratório de suas portentosas fontes de erudição; todos, porém, prevaricando
arrogantemente.
Como sabeis, há quase meio século
baixou à Terra a doutrina espiritualista trazida pela Terceira Revelação; pois
esses impenitentes envenenadores da alma humana foram os primeiros
oposicionistas, os mais ferrenhos adversários que ardorosamente saíram a
oferecer combate à nova doutrina enviada pelo “Cristo Redivivo”, para
restabelecer, elucidar e completar a verdadeira doutrina de Paz, Amor e
Caridade.
A biblioteca espiritualista é já
bastante volumosa; os fatos experimentais contam-se por milhares, sendo a maior
parte constatada e dada à luz da
publicidade por conceituados membros do “corpo científico mundial”, de
insuspeita reputação e cultura; os fatos espontâneos por toda parte se
ostentam, quais provas irrefragáveis da imortalidade do Espírito e da sua
comunicabilidade com os seus irmãos da Terra; mas a Teologia caduca e a
Filosofia pirrônica (incrédula) continuam a negar a possibilidade
de tais fatos, para que não sejam abatidos “seu orgulho e sua vaidade”, nem
diminuída sua importância de autoridades teológicas ou científicas.
Não obstante, a Verdade germina e se
propaga com incrível rapidez, sem o emprego de violência alguma ou de pérfidas
manobras, mas com a naturalidade do perpassar das horas, utilizando apenas a
boa vontade dos crentes e humildes.
E tal é o império da Verdade que,
muitos dos seus mais temíveis adversários curvaram-se ante a evidência e são
presentemente ardentes defensores da causa espiritualista, verdadeiros baluarte
da Verdade velada.
Que belo exemplo a ser imitado!
E como é agradável reconhecer a
nobre lealdade de tais adversários!..
por Geminiano Barboza Reformador (FEB) 16 Maio 1917
Agora mesmo temos presente uma
modesta obra, que confirma o nosso pensamento; obra cujo despretensioso conjunto,
na simplicidade de sua narrativa,
projeta benfazeja
luz em qualquer consciência predisposta a receber a Verdade.
Referimo-nos à obra intitulada “Ensinos Espiritualistas” mediunicamente
recebida e completada por Willian Stainton Moses, traduzida e publicada pela Federação
Espírita Brasileira, que em sua livraria colocou-a à disposição do público.
Essa modesta obra, compendiada em
pequeno volume de 352 páginas conquanto pequena no tamanho, é grandiosa no seu
valor instrutivo, no terreno da elucidação do Senso moral e religioso.
Aborda questões importantes,
responde a argumentos complexos e artificiosos,
discorre
magistralmente sobre as relações entre o mundo visível e o invisível, dá definições
de alto interesse aos que estudam e, por efeito das luzes que esparge na alma
do leitor, predispõe o homem para os grandes e proveitosos estudos espiritualistas,
dos quais “não pode prescindir” o homem
do futuro.
Meus amigos; bem sabeis que o
Progresso é LEI e essa lei não retroage, mas prossegue indefinidamente adstrita
à Evolução, outra lei inalterável, de ação permanente.
Pois vem: a Evolução e o progresso conduziram
o homem do seu estado inicial.de crassa ignorância estúpido obscurantismo, ao grau
de civilização que hoje enaltece e envaidece o homem... Pensais vos que o homem
ficará aí estacionado, chumbado ao materialismo? Não! A Evolução e o Progresso continuarão a arrastar o homem pela estrada da perfeição, com escala pela Regeneração, na grande conquista
da reabilitação do Espírito.
Notai mais: - Não é só e exclusivamente o homem que
evolui e progride, mas também o planeta, que obedece às mesmas leis e não pode estacionar
no estado de imperfeição e impureza em que ainda se acha.
Por essa razão e porque se aproximasse
o momento em que o nosso mundo tem de pagar o seu tributo, baixaram à Terra os
Arautos do Senhor, a fim de porem de sobreaviso o homem, para que se
acautelasse de modo a suavizar as dores das provas
de transição.
Bem sabeis que, “não há parto sem dor...
Era justo, pois, que o homem fosse avisado e o foi em larga escala... Por toda
parte se hão manifestado os mensageiros do Filho de Deus, desde o meado do século
19, lançando o misterioso aviso: “Os tempos são chegados.”
Em 1857 baixou a Revelação Espírita,
dada a Allan Kardec, a compilou e codificou; em 1863 recebia J. B. Roustaing a
Revelação da Revelação, que nós cognominamos “Revelação Evangélica”. Entretanto,
os Espíritos não cessavam de agir. Por toda parte irrompiam manifestações espíritas
(e ainda hoje assim é) despertando as atenções, advertindo o homem, preparando
o advento do Espiritualismo.
Em 1870 era Stainton Moses atraído ao
Espiritualismo, “em pleno antagonismo com
as suas convicções teológicas”, e, em 1873, tendo perfeitamente
desenvolvida sua mediunidade, se bem que a contragosto, recebia de Seu guia
importantes instruções, dentre as quais destacamos o seguinte período:
Essa
nobre ciência, que devia instruir o homem no conhecimento da natureza de Deus e
inspirar-lhe alguma coisa do amor que emana da Divindade, tornou-se o campo de
batalha de seitas e partidos, a planície árida onde os mais mesquinhos
preconceitos são imiscuídos com as mais miseráveis paixões. O deserto estéril onde
o homem apenas demonstra a sua completa ignorância a respeito do assunto de que
trata com tanto devotamento.”
(Seção XVL pags. 202 a 203 da obra citada.)
E, agora, que parece o nosso mundo
se haver colocado fora das leis de normalidade e justiça, admiram-se “os próprios
refratários” da incoerência brutal dos fatos e da indómita crueldade que ora
domina o mundo.
Não vêm nisso os refratários o resultado das preferências imprudentes; consequência do desprezo à Lei e seus preceitos... Não compreendem que, havendo chegado o momento das reivindicações, cumpre-se a palavra de Deus:- “...e mostrarei que Eu sou o senhor.”
Analisando a boa fé, perfunctoriamente embora, julgamos
licito supor, dentro dos preceitos da lógica, que, “se os mentores, os educadores e os doutrinadores dos povos”
houvessem trilhado a estrada ampla e clara da Razão, da Verdade e da Justiça,
com retidão e lealdade, certamente o resultado seria TODO
benéfico, plausível, próspero e confortável; assim no domínio da moral pública
e privada como na religiosidade; assim nas relações os homens entre si como nas
relações do homem com o seu Deus.
Faltou lhes, naturalmente, predisposição
espiritual, que lhes devia facultar o estímulo, o conselho, a advertência, qual
sucedera a Stainton Moses por parte do seu guia espiritual, conforme se vê desta
pequenina amostra:
- 0 Evangelho da humanidade é o Evangelho
de Jesus Cristo; o único que se torna necessário a homem, o único que pode prover
as suas faltas e ajuda-lo em suas necessidades.
Ora, é precisamente desse Evangelho que se têm
esquecido os preparadores da Consciência
mundial: educadores, instrutores, doutrinadores; e assim todos quantos, de boa
ou má fé, se hão dedicado à orientação do Senso humano.
E porque assim pensamos, e porque obedecemos
ao princípio da caridade espiritual, não encerraremos este nosso modesto estudo
sem chamarmos mais uma vez a atenção dos estudiosos para aquela interessante
obra (Ensinos Espiritualistas), cuja elucidação, insinuante e adaptável, ainda
pode salvar do naufrágio muitas almas
periclitantes.
Sentimos não poder reproduzir aqui muitos
do belos e eloquentes ensinamentos de que é depositário o livro de Moses, mas
não fugiremos ao desejo de atrair a atenção dos amigos de bons estudos para o magistral
argumento contido nas páginas 241 a 243 cujo critério deixa evidenciada a superioridade
da fonte de onde emanou.
Concluiremos,
pois, aconselhando aos senhores intelectuais, literatos, educadores e pastores
espirituais a leitura espiritualista, como “essencial” aos seus misteres;
porquanto, a orientação do futuro repousará inevitavelmente em bases concretas
e estáveis, sob os auspícios do “Espiritualismo”, cuja era se inicia e cujos efeitos
são já manifestos e incontestável o seu progresso incessante e feliz, na sua
humildade benfazeja.
Nós, que vimos do Credo católico, não
por apostasia, mas por coerência espiritual, porque nos devorava a sede da
Verdade teológica, a Verdade oculta nos mistérios e nos subterfúgios, e sempre vedada aos leigos; nós,
que nos convertemos ao Espiritismo a fim de apaziguar nossa consciência; hoje que
sentimos suavizada a nossa sede, confortada a nossa alma satisfeita e tranquila
a consciência; cumprimos um dever de lealdade fraternal bradando com vigor e sem cessar:- “Vinde amigos, vinde irmãos, vinde
comungar conosco na mesa farta da Verdade espiritual, abastecida pela Terceira Revelação...
Vinde aprender a penetrar os mistérios,
a fim de entrardes no conhecimento de que “o homem só se eleva pelo Espírito – tanto quanto se abate pela matéria.
Vinde comungar conosco e, sem esforço, compreendereis a
enigmática parábola de Jesus:
“Nem
só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que vem de Deus.”
Pois bem, a Palavra de Deus é hoje fartamente
distribuída. As livrarias espíritas são verdadeiros repositórios de excelentes
obras. Visitai a livraria da Federação Espírita Brasileira, e verificareis a
verdade do que afirmamos.
E, uma vez que aqui estamos em cumprimento
do dever ao serviço da Verdade. Não cometeremos a imprudência de reter no pensamento
o que a consciência ordena que proclamemos.
Tomai, meus amigos, todos vós, muito
cuidado com as vossas preferências; porque,
se o vosso livre arbítrio é soberano, tremenda é a RESPONSABILIDADE que sobre ele
paira.
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