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sábado, 5 de dezembro de 2020

Três respostas

 

Três Respostas

A Redação       Reformador (FEB) 16 Março 1924

             Durante o ministério público de Jesus, um homem pertencente, segundo Mateus, à classe preponderante dos escribas, achegando-se ao Senhor, lhe disse:

            “Mestre, eu seguir-te-ei para onde quer que fores.”

            Quem destarte formulou a promessa não estava em situação de lhe compreender o alcance, nem de sentir o peso das responsabilidades decorrentes.

            Iludia-se.

            Os escribas, bem sabe o leitor, eram “doutores que ensinavam a lei de Moisés e a explicavam ao povo.”

            0s discípulos de Jesus, por Ele chamados - espíritos descidos para acompanha-lo na missão terrena - eram gente simples, humilde e pobre, sem posição social.

            Celso os denominou vagabundos e mendigos.

            Ao fazer a espontânea promessa, que os evangelistas nos transmitiram, o presunçoso letrado de Israel supôs encontrar franco acolhimento.

            Talvez visasse vantagens de ordem material.

            O discipulado era sacrifício pessoal, dedicação e sofrimento.

            Poderia aspira-lo o escriba, seguindo o exemplo do divino Mestre?

            As raposas tem seus covis e ninhos as aves do céu; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.

            Foi esta a resposta do Senhor que, na frase evangélica, “não necessitava de que lhe dessem testemunho de homem algum, pois Ele bem sabia por si mesmo o que havia no homem” - ipse enim sciebat quid esset in homine. (João, II, 25)

 *

             Outra pessoa, segundo Lucas, veio dizer a Jesus:

            “Eu, Senhor seguir te-ei, mas dá licença que eu vá primeiro dispor dos bens que tenho em minha casa.”

            Esse irmão preestabelece condições para, em tempo futuro, satisfazer o compromisso. Precisa dispor dos bens, liquidar os negócios. Pede adiamento. Qual o prazo para essa liquidação? Como seria levada a efeito?

            Durante o penado dilatório, manteria o pretendente a primitiva resolução?

            Poderiam surgir imprevistas dificuldades e chegar o momento do regresso à vida espiritual,

            Jesus sentenciou:

            Nenhum, que mete a sua mão no arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.”

            Vamos transcrever a propósito, o seguinte ditado inserido na grande obra de ROUSTAING:

             “É preciso que as condições pessoais, egoísticas não te façam voltar atrás e abandonar a obra que tens de executar. Começaste a caminhar para a frente, segue teu caminho, pois parar é recuar.” (1)

               (1) Os Quatro Evangelhos (trad. de Guillon Ribeiro) vol.II, pág. 54

 *

             Tem sido objeto de muitos e variados comentários a resposta de Jesus ao discípulo (na versão do primeiro Evangelho) o qual lhe pedira permissão para ir enterrar o pai:

            “Segue-me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos.”

            A feição deste artigo não nos permite acompanhar os comentadores.

            O leitor poderá verificar, com facilidade, as explicações, perfeitamente harmônicas, de ALLAN KARDEC e ROUSTAING. (1)

                 (1) A. KARDEC-O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXUI, nr. 7 e seg.; ROUSTAING - Obra e vol. cít., pág. 50 e seg.  

           A lição de Jesus é toda espiritual.

            Observemos, de passagem, que a lei mosaica vedava ao sumo pontífice assistir a enterro, embora fosse do pai ou da mãe (Levítico, XXI, II)

            Aos nazarenos ou nazireus foi imposto o mesmo preceito. (Números, VI, 6, 7)

*

Em Mateus, (VIII, 19-22) e Lucas (IX, 57-62) encontram-se os textos citados acima.

            Invocando-os, pretendemos acentuar a concordância entre a lição evangélica e o ensino dos Espíritos, conforme costumamos fazer nesta coluna.

            O espírita, obreiro da seara, deve compreender as suas responsabilidades de crente.

            Não lhe é lícito recuar.

            Cumpre-lhe, ao contrário, executar de boa vontade a tarefa a que se obrigou.

            A fé lhe não foi imposta. Adquiriu-a pelo esforço próprio.

            Adotando a doutrina com as suas normas diretoras, sabe os resultados provenientes dos desvios, nesta existência e na outra post mortem.

            A denominada morte é passagem para a vida real - janua vitae - encarnação é descida do Espirito à matéria, onde fica encarcerado.

            O Espiritismo vem assim explicar as palavras do Senhor, que de novo esplendem pela voz dos seus mensageiros.

            Seja-nos permitido encerrar este artigo com a lição de ALLAN KARDEC:

             “A vida espiritual é a verdadeira, por ser a vida normal do Espírito. A existência terrestre é apenas transitória e passageira, espécie de morte, se a compararmos ao esplendor e atividade da vida espiritual. O corpo não passa de grosseira veste, envolvendo momentaneamente o Espírito, qual cadeia que o prende ao solo terreno, e por cuja libertação sente-se feliz. O respeito que se tem pelos mortos não se liga à matéria, mas pela lembrança ao espírito ausente... Jesus ensinou ao homem, dizendo-lhe: Não vos inquieteis com o corpo, mas pensai antes no Espirito: ide ensinar o reino de Deus; ide dizer aos homens que a sua pátria não é a Terra, mas o céu, onde somente está a verdadeira vida.”

 


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