Três
Respostas
A Redação Reformador (FEB) 16 Março 1924
“Mestre, eu seguir-te-ei para onde
quer que fores.”
Quem destarte formulou a promessa
não estava em situação de lhe compreender o alcance, nem de sentir o peso das
responsabilidades decorrentes.
Iludia-se.
Os escribas, bem sabe o leitor, eram
“doutores que ensinavam a lei de Moisés e a explicavam ao povo.”
0s discípulos de Jesus, por Ele
chamados - espíritos descidos para
acompanha-lo na missão terrena - eram gente simples, humilde e pobre, sem
posição social.
Celso os denominou vagabundos e
mendigos.
Ao fazer a espontânea promessa, que
os evangelistas nos transmitiram, o presunçoso letrado de Israel supôs
encontrar franco acolhimento.
Talvez visasse vantagens de ordem
material.
O discipulado era sacrifício
pessoal, dedicação e sofrimento.
Poderia aspira-lo o escriba,
seguindo o exemplo do divino Mestre?
“As
raposas tem seus covis e ninhos as aves do céu; mas o Filho do homem não tem
onde reclinar a cabeça.”
Foi esta a resposta do Senhor que,
na frase evangélica, “não necessitava de
que lhe dessem testemunho de homem algum, pois Ele bem sabia por si mesmo o que
havia no homem” - ipse enim sciebat quid esset in homine. (João, II, 25)
“Eu,
Senhor seguir te-ei, mas dá licença que eu vá primeiro dispor dos bens que
tenho em minha casa.”
Esse irmão preestabelece condições
para, em tempo futuro, satisfazer o compromisso. Precisa dispor dos bens,
liquidar os negócios. Pede adiamento. Qual o prazo para essa liquidação? Como
seria levada a efeito?
Durante o penado dilatório, manteria
o pretendente a primitiva resolução?
Poderiam surgir imprevistas dificuldades
e chegar o momento do regresso à vida espiritual,
Jesus sentenciou:
“Nenhum,
que mete a sua mão no arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.”
Vamos transcrever a propósito, o seguinte
ditado inserido na grande obra de ROUSTAING:
“É preciso que as condições pessoais, egoísticas não te façam voltar atrás e abandonar a obra que tens de executar. Começaste a caminhar para a frente, segue teu caminho, pois parar é recuar.” (1)
(1) Os Quatro Evangelhos (trad. de Guillon Ribeiro) vol.II, pág. 54
“Segue-me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos.”
A feição deste artigo não nos permite
acompanhar os comentadores.
O leitor poderá verificar, com
facilidade, as explicações, perfeitamente harmônicas, de ALLAN KARDEC e
ROUSTAING.
(1)
A lição de Jesus é toda espiritual.
Observemos, de passagem, que a lei
mosaica vedava ao sumo pontífice assistir a enterro, embora fosse do pai ou da
mãe (Levítico, XXI, II)
Aos nazarenos ou nazireus foi
imposto o mesmo preceito. (Números, VI, 6, 7)
*
Em Mateus, (VIII, 19-22) e Lucas (IX, 57-62) encontram-se os textos citados acima.
Invocando-os, pretendemos acentuar a
concordância entre a lição evangélica e o ensino dos Espíritos, conforme
costumamos fazer nesta coluna.
O espírita, obreiro da seara, deve
compreender as suas responsabilidades de crente.
Não lhe é lícito recuar.
Cumpre-lhe, ao contrário, executar
de boa vontade a tarefa a que se obrigou.
A fé lhe não foi imposta. Adquiriu-a
pelo esforço próprio.
Adotando a doutrina com as suas
normas diretoras, sabe os resultados provenientes dos desvios, nesta existência
e na outra post mortem.
A denominada morte é passagem para a
vida real - janua vitae - encarnação
é descida do Espirito à matéria, onde fica encarcerado.
O Espiritismo vem assim explicar as
palavras do Senhor, que de novo esplendem pela voz dos seus mensageiros.
Seja-nos permitido encerrar este
artigo com a lição de ALLAN KARDEC:
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