Cegueira
sacerdotal
A Redação Reformador (FEB) 1º Maio 1924
A Sinopse e o quarto Evangelho dão noticia, concordemente, da prédica de João Batista, “o maior dos nascidos de mulher”, o qual não só anunciou a vinda do MESSIAS, como O reconheceu, divinamente aureolado, e dele deu testemunho público.
Em sua linguagem simbólica, dizia o PRECURSOR, trazendo
aos contemporâneos a lembrança de ELIAS, o grande profeta das solidões do Carmelo:
“Aparelhai o
caminho do Senhor; fazei retas as suas sendas. Todo o vale será cheio e ficarão
arrasados os montes e os cabeços; os caminhos tortos tornar-se-ão direitos e
planos os escabrosos. Todo o homem verá o SALVADOR enviado por DEUS...
“Já o machado está posto à raiz das árvores, e assim toda
árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.” (LUCAS, III,4-6 e
9)
Era a voz que clamava, no deserto.
João teve aderentes e discípulos, aludidos no Evangelho,
vindos do próprio centro metropolitano, Jerusalém, e de muitos lugares da Judeia;
mas os representantes oficiais da religião judaica não o aceitaram, não lhe
deram crédito, nem lhe seguiram o ensino.
Havia surgido a aurora do messianismo.
A incredulidade de Israel em face da prédica de JOÃO, no
deserto, cresceu e se avolumou, quando JESUS anunciou de público a boa nova.
“Não é este o filho do carpinteiro? Não lhe conhecemos a família?..
É um possesso de Belzebú. Nenhum profeta pode vir da Galileia.”
O SENHOR ensinava no templo e nas sinagogas, nas cidades
e aldeias, nos campos e à borda do mar... Era a bondade e o amor, sob a forma
humana.
A suspicaz autoridade religiosa, de instituição divina,
segundo acreditava, com todo o seu poderio e influência, abriu hostilidades
contra o divino MESTRE. Acompanharam-na as seitas e grupos que, em harmonia ou
em antagonismo, existiam na Palestina: fariseus de várias espécies, orgulhosos,
ritualistas e hipócritas; saduceus incrédulos, ricos e aristocratas; escribas
letrados e doutores da lei. Não precisamos mencionar a massa ignara dos fanáticos.
Como não fantasiamos, pedimos permissão para, a propósito,
fazer referências aos textos evangélicos pelos quais nos devemos guiar.
Depois de pregar na sinagoga de Nazaré, JESUS foi expulso
da cidade e os Judeus quiseram precipita-lo do monte ali existente, mas não
conseguiram realizar o intento. (LUCAS, IV; 29, 30.)
Em
Jerusalém, quando JESUS doutrinava no templo, os Judeus, munindo-se de pedras,
tentaram lapida-lo. ELE, porém, encobriu-se
e se retirou. (João, IX, 59.)
Tramada uma conspiração contra a sua vida, após
sucessivas ameaças, “os príncipes dos sacerdotes e os fariseus enviaram quadrilheiros
para o prenderem.” A diligência não deu resultado. (João, VII, 32, 45.)
Depois da ressurreição
de Lázaro, os pontífices e fariseus, reunidos em conselho, adotaram o voto de
Caifás, pontífice do ano, para ser assassinado JESUS. Resolveram também matar Lázaro.
(João, XXI, 47- 53; XII, 10.)
Afinal, JESUS foi preso, condenado e executado.
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No mês de abril último, a Federação comemorou, em sessão
especial, a tragédia do Calvário.
Aliás, sem data prefixada, a nossa Associação a comemora
todos os dias.
Preso e interrogado pelo pontífice, respondeu-lhe o SENHOR: “Eu falei publicamente ao mundo. Eu sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde concorrem todos os judeus e nada disse em secreto.” (João, XVIII, 20.)
Os Judeus lapidaram profetas e levaram JESUS ao Gólgota.
Convém, entretanto, advertir que eles admitiam a livre prédica
nos templos e nas sinagogas. Nesses lugares, consagrados ao culto, qualquer pessoa
poderia comentar as escrituras, expor ideias e tornar públicas as inspirações
ou revelações, como faziam os profetas.
As igrejas não adotaram essa norma. Não se limitaram a
cercar de muros a sua dogmática.
Foram além, impediram,
durante séculos, a liberdade de pensamento e de consciência - conquistas
modernas contra as quais, ainda hoje, Roma, em sua cegueira, opõe, inutilmente,
o Sylabus de Pio IX.
Os escribas e fariseus de hoje, mais intolerantes do que os de Sion, entendem que o ciclo das revelações - para cuja interpretação supõem ter o monopólio - encerrou-se, em Patmos, com o Apocalipse.
Negam a NOVA
REVELAÇÃO, como os seus antecessores negaram a messiânica.
Apagadas as fogueiras inquisitoriais, trancados os
calabouços medievais e extintos os antigos processos da tortura, eles manejam, na
atualidade, muitas armas.
Proclamamos, impávidos, a verdade, aos quatro ventos e a
defendemos; mas não nos é licito usar de represálias, porque “dente por dente,
olho por olho” não é a nossa lei. Seguimos a do CRISTO.
Rogamos ao SENHOR que os cure da cegueira.
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