quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Cegueira sacerdotal

 

Cegueira sacerdotal

A Redação      Reformador (FEB) 1º Maio 1924

             A Sinopse e o quarto Evangelho dão noticia, concordemente, da prédica de João Batista, “o maior dos nascidos de mulher”, o qual não só anunciou a vinda do MESSIAS, como O reconheceu, divinamente aureolado, e dele deu testemunho público.

            Em sua linguagem simbólica, dizia o PRECURSOR, trazendo aos contemporâneos a lembrança de ELIAS, o grande profeta das solidões do Carmelo:

            Aparelhai o caminho do Senhor; fazei retas as suas sendas. Todo o vale será cheio e ficarão arrasados os montes e os cabeços; os caminhos tortos tornar-se-ão direitos e planos os escabrosos. Todo o homem verá o SALVADOR enviado por DEUS...  

            “Já o machado está posto à raiz das árvores, e assim toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.” (LUCAS, III,4-6 e 9)

            Era a voz que clamava, no deserto.

            João teve aderentes e discípulos, aludidos no Evangelho, vindos do próprio centro metropolitano, Jerusalém, e de muitos lugares da Judeia; mas os representantes oficiais da religião judaica não o aceitaram, não lhe deram crédito, nem lhe seguiram o ensino.

            Havia surgido a aurora do messianismo.

            A incredulidade de Israel em face da prédica de JOÃO, no deserto, cresceu e se avolumou, quando JESUS anunciou de público a boa nova.

            “Não é este o filho do carpinteiro? Não lhe conhecemos a família?.. É um possesso de Belzebú. Nenhum profeta pode vir da Galileia.”

            O SENHOR ensinava no templo e nas sinagogas, nas cidades e aldeias, nos campos e à borda do mar... Era a bondade e o amor, sob a forma humana.

            A suspicaz autoridade religiosa, de instituição divina, segundo acreditava, com todo o seu poderio e influência, abriu hostilidades contra o divino MESTRE. Acompanharam-na as seitas e grupos que, em harmonia ou em antagonismo, existiam na Palestina: fariseus de várias espécies, orgulhosos, ritualistas e hipócritas; saduceus incrédulos, ricos e aristocratas; escribas letrados e doutores da lei. Não precisamos mencionar a massa ignara dos fanáticos.

            Como não fantasiamos, pedimos permissão para, a propósito, fazer referências aos textos evangélicos pelos quais nos devemos guiar.

            Depois de pregar na sinagoga de Nazaré, JESUS foi expulso da cidade e os Judeus quiseram precipita-lo do monte ali existente, mas não conseguiram realizar o intento. (LUCAS, IV; 29, 30.)

            Em Jerusalém, quando JESUS doutrinava no templo, os Judeus, munindo-se de pedras, tentaram lapida-lo. ELE, porém, encobriu-se e se retirou. (João, IX, 59.)

            Tramada uma conspiração contra a sua vida, após sucessivas ameaças, “os príncipes dos sacerdotes e os fariseus enviaram quadrilheiros para o prenderem.” A diligência não deu resultado. (João, VII, 32, 45.)

            Depois da ressurreição de Lázaro, os pontífices e fariseus, reunidos em conselho, adotaram o voto de Caifás, pontífice do ano, para ser assassinado JESUS. Resolveram também matar Lázaro. (João, XXI, 47- 53; XII, 10.)

            Afinal, JESUS foi preso, condenado e executado.

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            No mês de abril último, a Federação comemorou, em sessão especial, a tragédia do Calvário.

            Aliás, sem data prefixada, a nossa Associação a comemora todos os dias.

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             Preso e interrogado pelo pontífice, respondeu-lhe o SENHOR: “Eu falei publicamente ao mundo. Eu sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde concorrem todos os judeus e nada disse em secreto.” (João, XVIII, 20.)

            Os Judeus lapidaram profetas e levaram JESUS ao Gólgota.

            Convém, entretanto, advertir que eles admitiam a livre prédica nos templos e nas sinagogas. Nesses lugares, consagrados ao culto, qualquer pessoa poderia comentar as escrituras, expor ideias e tornar públicas as inspirações ou revelações, como faziam os profetas.

            As igrejas não adotaram essa norma. Não se limitaram a cercar de muros a sua dogmática.

            Foram além, impediram, durante séculos, a liberdade de pensamento e de consciência - conquistas modernas contra as quais, ainda hoje, Roma, em sua cegueira, opõe, inutilmente, o Sylabus de Pio IX.

            Os escribas e fariseus de hoje, mais intolerantes do que os de Sion, entendem que o ciclo das revelações - para cuja interpretação supõem ter o monopólio - encerrou-se, em Patmos, com o Apocalipse.

            Negam a NOVA REVELAÇÃO, como os seus antecessores negaram a messiânica.

            Apagadas as fogueiras inquisitoriais, trancados os calabouços medievais e extintos os antigos processos da tortura, eles manejam, na atualidade, muitas armas.

            Proclamamos, impávidos, a verdade, aos quatro ventos e a defendemos; mas não nos é licito usar de represálias, porque “dente por dente, olho por olho” não é a nossa lei. Seguimos a do CRISTO.

            Rogamos ao SENHOR que os cure da cegueira.


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