Antes e
depois da conversão
A Redação Reformador (FEB) 1º Março 1924
São estados psicológicos bem
dessemelhantes.
O ego permaneceu inalterável; mas
houve grande mudança nas ideias e nas ações correspondentes e consequentes.
Outros pensamentos, outros rumos.
O converso, a quem aludimos,
simultaneamente agente e paciente, ora iluminado pela Nova Revelação, percebe,
compreende, sente e pode analisar a sua renovação espiritual.
Poderíamos inquiri-lo.
Amigo, que pensamentos te ocorriam, em face do sofrimento? Hoje, como encaras a dor?
Foram
muitas as aflições, muitos os momentos de amarguras e angústias.
Em horas de fraqueza, de tédio e
desalento, te insurgias contra o destino, descrias da Providência, que veste os
lírios do campo e alimenta as aves do céu, blasfemavas e até passava-te pela
mente a solução resultante do suicídio - inominável crime.
Não sabias sofrer. Iam sendo
agravados os tormentos pela tua própria irritação e descrença, manifestações,
pensamos nós, das antigas taras do orgulho.
- Se pensasse então, como penso hoje...
Todos os convertidos podem repetir
esta frase.
Se, agora, ferir-te um rude golpe,
saberás suportá-lo, como crente submisso à lei, resignado e confiante.
O sentimento religioso, outrora
incerto e vacilante, apagado e quase extinto, ressurgiu com vigor, firmou-se e
se apurou.
Bem o sentes.
A prece, grande força à disposição
do crente, é repelida pelos desesperados.
Feliz o que aprendeu a orar e o sabe
fazer...
Tiveste a ventura de achar o
caminho, após o sofrimento.
Outros desfrutaram, durante anos uma
existência de prazeres e regalos, a exemplo do rico descuidoso, figurado na parábola
evangélica.
Quando soou a hora da adversidade,
não estavam preparados para resistir e sofrer.
Na sociedade contemporânea, como na
antiga, tem numerosos representantes essa classe, aplaudida e adulada, de gozadores
egoístas, futuro sofredores.
A lei não abre exceções.
Porque sofremos? Não seria difícil a resposta imediata:
Sofremos porque somos imperfeitos, falidos,
culposos, encarnados em planeta expiatório.
Não resgatando as faltas, temos de
padecer ainda na erraticidade, depois de abandonado aos vermes o corpo
material.
A resposta é para espíritas. Não a compreendem os incrédulos et pour cause. Ela pressupõe a existência e a solução de outras questões sobre o destino das almas, à descida à matéria, a volta ao espaço, as vidas sucessivas e o progresso espiritual.
O sofrimento de que tanto nos
queixamos, por ignorância, não é pena imposta pela vontade arbitrária de um
Soberano irritado e ofendido pelos atos do homem.
O sofrimento é a sanção pela infração
de leis morais e serve para o progresso do paciente, neste mundo e no Além.
A doutrina das igrejas, em contrário,
foi inventada pela política sacerdotal para servir aos interesses da orgulhosa
casta dos fariseus...
Encontramo-los, possuidores de
fortuna, que se divertem e gozam.
Outros vergam ao peso dos trabalhos
e da miséria.
Aqueles não estão isentos da dor.
A todos colhe a morte.
Onde está a felicidade? Onde estiver a virtude.
Quais são os felizes? A resposta encontramo-la no Evangelho.
Se as seitas religiosas,
transigentes e acomodatícias, não entenderam as “bem-aventuranças” do Sermão da
Montanha, os mensageiros do Senhor vêm relembra-las à humanidade e faze-las
resplandecer:
Bem-aventurados os simples, os
humildes, os mansos, os aflitos, os famintos e sequiosos de justiça, os
misericordiosos, os limpos de coração, os pacíficos, os perseguidos e
caluniados, como discípulos de Jesus.
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