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quinta-feira, 1 de março de 2018

Passes Magnéticos



Passes mediúnicos
por Areobaldo Lellis
Reformador (FEB) Março 1946

Tenho lido, em estatutos de muitas associações espíritas, figurando no rol de seus fins, ser um deles a aplicação de passes magnéticos. Embora essa declaração não impossibilite o registro, em Cartório, dos ditos estatutos, para que as associações passem a ter personalidade jurídica, tal afirmativa não expressa a verdade, consoante os ensinamentos doutrinários, por não corresponderem à natureza dos fatos.

Encarado o Espiritismo como ciência, religião ou filosofia, possui ele sempre um atributo específico: o atributo espírita, isto é, encontra as suas legítimas raízes nos seres desencarnados. Assim, quando se fala em passes, no Espiritismo, compreende-se que tais passes só podem ser mediúnicos e, não, magnéticos, embora eles tenham esse caráter. Vou explicar melhor. O homem só é homem quando vivo. Se está morto, ninguém dá mais o chama de homem e, sim, de cadáver. Porque isto? pela razão simples de ter se retirado dele a vida ou melhor, a fonte da vida, que é o Espírito. Por isto é que a "Gênese", primeiro livro da Bíblia, nos ensina haver Deus criado o homem à sua imagem e semelhança, porque o homem, a que ela se refere, é o Espírito e não o corpo físico. Quer isto dizer que a matéria nada cria nem produz, sendo tudo obra da centelha divina, repartida por todas as coisas e seres, espalhada por todo o universo, a qual na espécie humana se denomina Espírito, modo com que se convencionou chamar aquela centelha divina, quando alcança um certo período de sua evolução aqui na Terra. Tal é o ensinamento científico da doutrina.

Sendo o Espírito a fonte da vida, todo poder magnético vem dele. Sabemos todos que o sapo pode ser atraído por uma cobra, que o magnetiza à distância. O batráquio, sob a ação magnética do réptil, vem saltando e dele se aproximando, até ser pela cobra sacrificado. Porém, se pusermos um sapo vivo diante de uma cobra morta, mesmo que ela esteja de olhos abertos e dirigidos para o sapo, esse não será atraído, por faltar à cobra o seu poder magnético. E porque lhe falta esse poder? Porque a centelha divina, que era a razão de ser de sua existência terrena, dela se desprendeu, restando apenas o corpo físico sem vida, isto é, o cadáver. Essa centelha é o espírito da cobra, mas, como se convencionou chamar-se espírito à centelha que em nós vibra, nos termos acima referidos, chegamos, por ignorância dos ensinamentos científicos, à errônea conclusão de que a cobra, por ser um animal inferior, não possui espírito, nem tem alma.

Quando a cobra atrai o sapo, ou o sapo atrai a lagartixa ou a lagartixa atrai um inseto qualquer, o fenômeno de atração se dá em virtude de seu poder magnético, maior do que o do animal sobre o qual ele irradia. Porém, não é do seu corpo físico que nasce a força magnética mas da centelha divina, que lhe dá a vida. Nestes casos verifica-se o magnetismo animal. Do mesmo modo, quando, a título de espetáculo, um magnetizador qualquer, em um palco de teatro, hipnotiza uma pessoa, dá-se aí o magnetismo animal ainda, porque o poder de hipnose é do próprio magnetizador, tem origem no seu espírito. E se ele, para isto, ministra passes na pessoa, então podemos afirmar, com toda propriedade, que esses passes são magnéticos.

Do exposto, vê-se que a força magnética é atributo da centelha divina nos vários reinos da Natureza, dessa mesma centelha, a que chamamos espírito no homem. Das condições de potencialidade desse atributo depende a maior ou
menor força magnética de cada qual. A prova prática e ao mesmo tempo científica, de que a centelha se derrama por todo o Universo, temos na pedra ímã, para o reino mineral, e na gurarema ou pau d'alho para o reino vegetal.

Sendo o poder magnético atributo do espírito e não da matéria, é fácil compreender-se que, quando o Espírito desencarna, leva consigo esse atributo ou propriedade. Preliminarmente, deve ficar esclarecido não haver fenômeno mediúnico sem a presença de um médium. Médium é todo ser vivo, por ser a mediunidade uma faculdade do Espírito, faculdade que nem se perde, nem se tira, como erradamente se diz por ai.

Assim, nas associações espíritas ou fora delas, quando um espírita ministra um passe, esse é absolutamente mediúnico, embora, seja magnético. Seria, somente magnético, se ele fosse dado por um magnetizador, destituído de fé religiosa, de modo a não atrair, pelo seu próprio poder magnético, uma entidade incorpórea, no sentido da prática de um benefício. Porém, não se verifica isto nos centros espíritas. Aí tudo se faz sob os imperativos da fé e da convicção lógica de que, ao ter de aplicar um passe, a pessoa que vai realizar pede antes pelo pensamento a assistência dos bons protetores. Destarte, o seu passe é mediúnico, porque à sua força magnética vem juntar-se a do Espírito desencarnado, seu protetor. Assim como, nas horas das sessões doutrinárias ou mediúnicas, muitos Espíritos são atraídos ou trazidos, conforme as suas condições morais, para aquele ambiente, assim também os bons Guias e Protetores ali comparecem para a obra misericordiosa, que lhes toca.

Da conjugação dessas duas forças magnéticas, a do médium e a do Espírito desencarnado, resulta, então, o passe mediúnico, por haver nele a interferência de dois fatores distintos. Para que o passe, ministrado em semelhantes condições, fosse magnético, era preciso fosse dado apenas pela pessoa, sem a colaboração da entidade espiritual. Aí ele seria magnético, por haver concorrido apenas o que cientificamente denominamos magnetismo animal.

A maneira de aplicação dos passes mediúnicos varia muito, podendo obedecer às normas clássicas estabelecidas pelos livros científicos que tratam do magnetismo animal como a outros modos, que o próprio Espírito desencarnado cria para seu uso. Conheço um médium cujo protetor, ao incorporar para ministrar passes, os faz por meio de castanholas, vibrando os dedos com grande ruído. Outros se limitam à imposição das mãos sobre a cabeça, outros ainda fazendo correr as mãos sem tocar no corpo da pessoa, vibrando apenas lambadas pela ação do dedo polegar sobre o médio, Essas lambadas ou chicotadas, feitas em torno de quem recebe os passes, podem parecer sem importância, à primeira vista. Entretanto, possuem a sua utilidade, tal a de desfazer o campo imantado, existente em torno da pessoa.

Os médiuns de mais acentuada sensibilidade, costumam experimentar os efeitos desse campo de imantação fluídica, constituído em redor das pessoas, que estão sob a ação de más irradiações.

Possuem os passes uma dupla finalidade: a de afastar, pela força de repulsão, o Espírito irradiador que opera junto de sua vítima, e a de retirar-lhe os fluidos pesados, que a estão molestando. Em qualquer dos casos, o seu valor é incontestável, pela natureza do pensamento que os determina.

Uma das características mais impressionantes da importância dos passes mediúnicos se encontra na presteza dos seus efeitos, ao contrário do que ocorre nos passes propriamente magnéticos. Quem se der ao trabalho de ler as variadas obras sobre magnetismo animal, verá que os mais afamados passistas desse gênero jamais conseguiram curas rápidas de seus doentes, Porque? Pela circunstância de lhes faltar uma potencialidade mais forte, que lhes seria dada por um Espírito bom que consigo viesse operar. Daí a presteza com que se alcançam curas com os passes mediúnicos, nos casos em que eles se imponham. Esta superioridade de força é que torna os passes mediúnicos uma das mais poderosas armas como elemento terapêutico, no campo da medicina espírita. E porque resultam da conjugação de duas forças magnéticas ou eletrodinâmicas, no sentido justo da prática do bem, é que eles não devem figurar nos estatutos das nossas instituições espíritas como simples passes magnéticos. Estes são próprios dos Espíritos encarnados e, por isso mesmo, não possuem a potencialidade dos mediúnicos, onde se dá a intervenção de uma outra força extra corpórea.

Só a falta de conhecimentos da ciência espírita pode explicar esse erro e até certo ponto, essa irreverência para com entidades que ajudando em tais circunstâncias os trabalhos espíritas, se veem desclassificadas nos auxílios que nos prestam com tamanha boa vontade. Nessa incompreensão assenta, por sua vez, a campanha desenvolvida contra o Espiritismo e encontra a sua razão de ser para as perseguições, de que são vítimas todos os aplicadores de passes mediúnicos, pelo fundamento de não haver ainda a medicina acadêmica incluído, entre os seus métodos terapêuticos, o uso dos passes magnéticos, embora admitindo, no campo da neuriatria, essa coisa esdrúxula e absurda que é a auto sugestão, isto é, a faculdade, de que seríamos possuidores, de nos curar de uma desordem nervosa, convencendo-nos de que nada temos, sempre que nos dissermos portadores de uma nevrose qualquer.

Dia virá, em que tais coisas serão mais bem ajuizadas, máxime entre os espíritas, quando os conhecimentos científicos alcançarem maior repercussão em suas associações, abrindo clareiras no acervo dos nossos conhecimentos, Nesse dia, então, os passes mediúnicos substituirão, em alguns estatutos, os magnéticos.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Kardec, Roustaing e o Neo-Espiritismo


Kardec, Roustaing e o Neo-Espiritismo 
por Areobaldo Lellis
Reformador (FEB) Dezembro 1938

            O Espiritismo não é novo, pois as suas origens mergulham em eras imemoriais. Pode-se dizer ter ele nascido com o primeiro homem. Assim, as suas noções vieram sendo lentamente trazidas ao conhecimento da humanidade, através do tempo e do espaço, mas sempre veladas à consciência dos povos, que delas só receberam, como verdade indestrutível, a da imortalidade da alma.

            As velhas civilizações do Oriente, que precederam à vinda do Nazareno, ampliaram para os homens a esfera desses conhecimentos, com a fundação de escolas e templos, onde tais estudos eram permitidos a determinadas pessoas. Deste modo criaram-se as escolas filosóficas, que deram ao mundo as notáveis personalidades de Pitágoras, Sócrates, PIatão, Plutarco, Hipócrates, não falando nos que os precederam na Índia, no Egito e na Palestina, como Hermes, Krishna, Buda e as grandes figuras da civilização hebraica, que vão de Moisés aos reis e profetas, enchendo as páginas luminosas do Antigo Testamento.

            Foi, entretanto, no reinado de Augusto que o velário ligeiramente se rompeu, que se esgarçou o véu que encobria os grandes tesouros das verdades eternas, com o aparecimento de Jesus, dois mil anos depois da vinda de Moisés. Já naquela época dois conceitos se haviam firmado na consciência universal dos povos: o da imortalidade da alma e o da unidade de Deus.

            Jesus, levantando uma ponta do véu atrás do qual se escondiam aquelas verdades, deixou nos Evangelhos a sementeira, da qual, quando a época fosse chegada, devia abrolhar, crescer, florescer e frutificar a portentosa árvore, a cuja sombra teria de se acolher a humanidade, na ânsia de palmilhar o caminho que a levasse a Deus. Essa árvore era o Espiritismo. Materializadas a ciência e a religião dentro dos imperativos da vaidade dos homens, asfixiadas sob o peso da obscuridade espiritual da espécie humana, houve o Criador por bem determinar se iniciasse a obra de renovação do próprio campo religioso, surgindo no seio do Cristianismo Lutero, dando a conhecer aos povos os Evangelhos, sonegados ao conhecimento dos homens pelo Vaticano.  A atitude do frade alemão forçou o papado a divulgação idêntica, aparecendo a Vulgata, tradução da Bíblia, fornecida às nações, até então ignorantes das Sagradas Escrituras.

            Abria-se, assim, no seio do Cristianismo o caminho para a vinda do Consolador
prometido por Jesus, porque os Evangelhos começavam a ser conhecidos, para a sua interpretação fora da letra, em espírito e verdade. Eram chegados os tempos, dezoito séculos após a promessa do Mestre, e as primeiras revelações espíritas aparecem e entram a interessar a Allan Kardec, que viu, na série de fenômenos objetivamente por ele próprio verificados, a chave de um notável problema científico e religioso, capaz de, pela sua solução, transformar o nosso mundo. Pouco tempo depois, Kardec publica o “Livro dos Espíritos”, no qual são dispostas as linhas mestras da doutrina, e em 1864 dá à publicidade “Os Evangelhos segundo o Espiritismo”, tendo antes editado o “Livro dos Médiuns”. Estava, assim, codificado o Espiritismo como expressão do Cristianismo redivivo.

            Precisamos, entretanto, reconhecer que o Espiritismo, em sua complexidade, em sua pureza e em sua verdade se acha condensado nos Evangelhos, que são a fonte onde a humanidade Irá beber os ensinamentos sobre as verdades eternas, consoante o grau do seu progresso espiritual. Kardec, ou, melhor, os Espíritos que o instruíram na concepção e realização de sua obra, tiveram suas atenções voltadas para a ponto de vista religioso, cuidando de levar à consciência do povo a noção dos seus deveres para com Deus, mostrando-lhe, consequentemente, que só na prática do decálogo se poderia encontrar o caminho do reino do céu.

            Se bem o “Livro dos Espíritos” nos dê a superestrutura da ciência espírita, ele não nos disse tudo no assunto. Os Evangelhos de Kardec consubstanciam apenas a parte moral da doutrina. constituindo os fundamentos da filosofia espírita.

            Kardec tirou dos Evangelhos somente a parte moral, concretizada nas parábolas e nas instruções do Mestre, para aí firmar as bases da doutrina filosófica. Mas, convenhamos em que o Espiritismo não está apenas naquelas parábolas e nas instruções, porém na obra toda dos evangelistas. Da anunciação de Zacarias à aparição de Jesus à Madalena e aos discipulos, em todas as páginas dos Evangelhos, a revelação do Consolador palpita e se oferece ao exame, à meditação e à interpretação dos estudiosos e dos crentes. Assim, a obra de Kardec necessitava ser completada.

            Coube a Roustaing completá-la. Confirmando o que de luminoso e excelso Kardec produziu com a ajuda de entidades esclarecidas, Roustaing, também ajudado por elevados Espíritos, colocou a humanidade no pórtico do grande edifício, que viria a ser futuramente a ciência espírita. A psicologia experimental confirma, nos dias que passam, as asserções de Roustaing, mostrando que as duas obras, longe de se repetirem, se completam na ministração do conhecimento das verdades eternas, que estruturam o neo-espiritualismo.

            O Espiritismo, dentro da verdadeira concepção filosófica, não pertence ao número das ciências exatas, no conceito em que temos essas ciências. Ele está sujeito a evolver, ainda não tendo dito a última palavra, que jamais dirá.

            No tempo e no espaço, Jesus nos vem paulatinamente enriquecendo com ensinamentos novos, de conformidade com as transformações sofridas pelos nossos espíritos e pelos rumos que formos emprestando á nossa vida terrena.

            A evolução do Espiritismo exige que não fiquemos adstritos somente aos ensinamento de Kardec, porque ele é a luz, é a sabedoria, fugindo por isso mesmo aos imperativos da ortodoxia, em que a fé sem exame impede os surtos da consciência. Aquele que só admite os ensinamentos kardecistas é, parece-nos, um espírito que ainda não alcançou evoluir bastante.
Vitória, Outubro de 1938.