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domingo, 19 de abril de 2015

Mediunidade Sublimada


Mediunidade Sublimada

por Francisco Thiesen
Reformador (FEB) Maio 1971

            “A mediunidade não requisitará desenvolvimento indiscriminado, mas sim, antes de tudo, aprimoramento da personalidade mediúnica e nobreza de fins, para que o corpo espiritual, modelando o corpo físico e sustentando-o, possa igualmente erigir-se em filtro leal das Esferas Superiores, facilitando a ascensão da Humanidade aos domínios da luz"
("Evolução em dois Mundos", Espírito André Luiz,
médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, pág. 137, 3ª edição da FEB).


            Francisco do Monte Alverne (Espírito), colaborador da obra da renascença da fé religiosa no coração humano, em mensagem simples e sábia nos lembra que "se há leis que presidem ao desenvolvimento do corpo, há leis que regem o crescimento da alma". "Cristo-Homem veio plasmar o Homem-Cristo". "Com ele começa a agir o escopro do verdadeiro bem, operando sobre a dureza da animalidade o gradual aperfeiçoamento da alma divina". "0 Evangelho é, por isso, o viveiro celeste para a criação de consciências sublimadas" ("Falando à Terra" médium Francisco Cândido Xavier págs. 37-8 – 2ª edição da FEB).

            A integração do médium na harmonia das leis eternas da evolução anímica é cometimento dos mais nobilitantes, mas implica a reformulação da própria existência, que passará a ser pautada no estudo e no trabalho, na renúncia de si mesmo e na dedicação ao próximo... É a trilha difícil e áspera de quem demanda as plagas do espírito, restaurando em plena viagem os danos infligidos a outrem em frustradas experiências do pretérito. Muitos se enganam, mal avaliando a extensão dos deveres que os aguardam e subestimando as investidas daqueles que os espreitam às margens do caminho.

            Ninguém enfrentará regiões desconhecidas e distantes, na Terra mesmo, sem o prévio cuidado de inteirar-se sobre os seus habitantes, usos e costumes, vantagens e inconvenientes de nelas excursionar. Por igual, nenhuma criatura criteriosa se entregará à prática medi única sem antes instruir-se a respeito das suas faculdades, dos ensinos morais da Doutrina Espírita, do Mundo Invisível e da natureza e dos fins do programa a que deverá vincular-se para sempre.

            Preliminarmente, o médium não deverá ignorar que, no Espiritismo, “a fé é raciocinada" e que tudo será examinado e ponderado, construtivamente, para que dolorosos desenganos o não surpreendam no futuro. Portanto, deverá "vigiar e orar" continuamente. "Porque a Doutrina Espírita é em si a liberalidade e o entendimento, há quem julgue seja ela obrigada a misturar-se com todas as aventuras marginais e com todos os exotismos, sob pena de fugir aos impositivos de fraternidade que veicula. Dignifica a Doutrina que te consola e liberta, vigiando-lhe a pureza e a simplicidade, para que não colabores, sem perceber, nos vícios da ignorância e nos crimes do pensamento" ("Religião dos Espíritos", Emmanuel, médium Francisco Cândido Xavier, edição da FEB). Médium algum lucrará espiritualmente participando de trabalhos de grupos e centros cujas diretrizes se não estribarem no estudo sistemático do Evangelho de Nosso Senhor Jesus-Cristo e das obras básicas da Codificação Kardequiana, e cujos programas não derem ênfase à disciplina de horário, assiduidade, autocontrole e amor cristão a todas as criaturas. Não lucrará, outrossim, dispersando atividades e energias na frequência a mais de um centro ou grupo, pois somente os mais experimentados conseguem manter-se em equilíbrio psíquico frente a variações de correntes mediúnicas.

            O Espírito André Luiz, às págs. 165-6 do livro "Mecanismos da Mediunidade", recebido por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, nos diz que "visto a distância, o homem, na arena carnal, pode ser comparado a um viajor na selva de pensamentos heterogêneos, aprendendo, por intermédio de rudes exercícios, a encontrar o próprio caminho de libertação e ascese. Mentalmente exposto a todas as influências psíquicas, é imperioso se eduque para governar os próprios impulsos, aperfeiçoando-se moral e intelectualmente, para que se lhe aprimorem as projeções". "Na floresta mental em que avança, o homem frequentemente se vê defrontado por vibrações subalternas que o golpeiam de rijo, compelindo-o à fadiga e à irritação, sejam elas provenientes de ondas enfermiças, partidas de desencarnados em posição de angústia e que lhe respiram o clima psíquico, ou de oscilações desorientadas dos próprios companheiros terrestres desequilibrados a lhe respirarem o ambiente".

            As obras de André Luiz constituem curso precioso sobre a vida espiritual e seu intercâmbio, sob todas as angulações, com a esfera dos encarnados. Noutra delas ("Nos Domínios da Mediunidade", recebida por Francisco Cândido Xavier), colhemos estes ensinos: "Cada consciência marcha por si, apesar de serem numerosos os mestres do caminho. Devemos a nós mesmos a derrota ou a vitória. Almas e coletividades adquirem as experiências com que se redimem ou se elevam ao preço do próprio esforço. O homem constrói, destrói e reconstrói destinos, como a Humanidade faz e desfaz civilizações, buscando a melhor direção para responder aos chamados de Deus". "Assim considerando, vemos no planeta milhões de criaturas sob as teias da mediunidade torturante, milhares detendo possibilidades psíquicas apreciáveis, muitas tentando o desenvolvimento dos recursos dessa natureza e raras obtendo um mandato mediúnico para o trabalho da fraternidade e da luz".

            Na verdade, o conhecimento do Espiritismo é vasto e sua aquisição se faz com estudo perseverante e aprimoramento espiritual ao longo do tempo, em condições, por vezes, as mais adversas, segundo as necessidades cármicas de cada espírito ou conforme a natureza das experiências individuais de cada consciência nas vias da sublimação ambicionada. Porque, conforme ensinamento de Emmanuel, "os ociosos do entendimento não são dignos do pão do espírito".

            O livro da médium Yvonne A. Pereira, "Recordações da Mediunidade", inspirado pelo Espírito Bezerra de Menezes, é repositório de grande valia aos médiuns, contendo as experiências de uma vida humana dedicada ao trabalho e ao estudo, com as peripécias próprias de quem entra em comunhão com o mundo invisível e busca decifrar lhe os segredos. As desilusões, os tropeços, as surpresas, episódios de outras vidas e suas consequências de acordo com a lei de ação e reação, as admoestações e conselhos dos guias, tudo nele se encontra narrado, com simplicidade, na forma de memórias da própria médium.

            A seriedade da Doutrina dos Espíritos é a garantia da tranquilidade dos seus profitentes, e só quando assim entendida e vivida assegura consolação e alegria. A sua finalidade é a transformação espiritual da Humanidade, desencarnada e reencarnada, não constituindo, por isso, mais uma religião entre as muitas que o mundo conhece, mas a Religião, o Cristianismo restaurado, vivo, atuante, buscando recolher ao redil do Senhor quantos ainda se demoram nos precipícios da ilusão e do erro.

            Os espíritas e os médiuns precisam estar sempre atentos aos problemas da obsessão, chaga terrível quase generalizada nesta época de grandes transições por que atravessa o nosso orbe. O desempenho e a orientação da atividade mediúnica não se efetuam com suficiente proveito em inexistindo razoável entendimento dos fenômenos obsessivos, sua técnica, seus mecanismos; e, inversamente, sua profilaxia, tratamento e cura, através do desdobramento de vasta, dinâmica e sábia movimentação de recursos e valores morais no campo da desobsessão. Os que lerem "Libertação", "Nos Bastidores da Obsessão" e "Dramas da Obsessão", livros recebidos pelos médiuns Francisco Cândido Xavier, Divaldo P. Franco e Yvonne A. Pereira, adquirirão conhecimentos satisfatórios à compreensão de
assunto tão complexo.

            Completando este trabalho, destinado a orientar a seleção de boas obras sobre mediunidade e obsessão aos companheiros que não dispõem de muito tempo para pesquisas, apresentamos, ainda de "Mecanismos da Mediunidade", de André Luiz, estes esclarecimentos:

            "Em Jesus e em seus primitivos continuadores, encontramos a mediunidade pura e espontânea, como deve ser, distante de particularismos inferiores, tanto quanto isenta de simonismo. Neles, mostram-se os valores mediúnicos a serviço da Religião Cósmica do Amor e da Sabedoria, na qual os regulamentos divinos, em todos os mundos, instituem a responsabilidade moral segundo o grau de conhecimento, situando-se, desse modo, a Justiça Perfeita, no íntimo de cada um, para que se outorgue isso ou aquilo, a cada Espírito, de conformidade com as próprias obras.

            "O Evangelho, assim, não é livro de um povo apenas, mas o Código de Princípios Morais do Universo, adaptável a todas as pátrias, a todas as comunidades, a todas as raças e a todas as criaturas, porque representa, acima de tudo, a carta de conduta para a ascensão da consciência à imortalidade, na revelação da qual Nosso Senhor Jesus-Cristo pregou a mediunidade sublime como agente de luz eterna, exaltando a vida e aniquilando a morte, abolindo o mal e glorificando o bem, a fim de que as leis humanas se purifiquem e se engrandeçam, se santifiquem e se elevem para a integração com as Leis de Deus". 

Grifos do Blog!

domingo, 13 de janeiro de 2013

Licenças Perniciosas


Licenças Perniciosas
         
            O homem do mundo que é possuidor de sensatez, na convivência mundana, usa, mas não abusa, concorda, mas não conive[1], ensina, mas não impõe, discorda, mas não se inimiza, diverge, mas não dissente, mantendo em todos os momentos uma diretriz de equilíbrio que o torna verdadeiro cristão. Compreende que a sua saúde interior resulta do comportamento que se aplica na convivência com os seus pares.

            O homem cristão, discípulo sincero do Evangelho de Jesus Cristo, compreende em maior profundidade os compromissos que lhe assinalam a rota e por isto mesmo sabe que é livre, mas não tem licença de se comprometer com as vinculações negativas da vida, que lhe cumpre superar. Diante das licenciosidades que lhe abrem portas convidativas ao acesso, mantém uma atitude digna, discreta, sem envolver-se nas fantasias que levam à indigência espiritual e compelem ao aniquilamento dos ideais superiores da vida. Sente-se escravo da verdade, por isso não mente. Compreende que a saúde é fator primacial da vida, portanto, luta contra a doença. No báratro das viciações que se multiplicam galvanizantes ou douradas, percebe o lado negativo das concessões agradáveis que levam à sensualidade ― bafio[2] pestilencial de morte que entorpece o sentimento e perturba a razão ―. Abstém de enrodilhar-se nas malhas constritoras do mal que urde[3] toda uma série de aflições e vexames, que terminam por destruir o que há de mais elevado no ser. Coloca-se em vanguarda contra as facilidades morais que arestesiam os centros do discernimento, por mais favoráveis se lhe apresentem, mesmo quando doando um cabedal glorioso de transitória posição de relevo no mundo. Resguarda-se contra os vícios sociais, os pequenos crimes que são as matrizes dos grandes delíquios[4] espirituais. Afirma os seus valores legítimos, não pelo envilecimento da personalidade, porém através da manutenção dos requisitos que o tornam verdadeiramente digno de ser respeitado e imitado. Não aquiesce diante da mentira, da inveja, da embriaguês, da concupiscência, da calúnia, dos tóxicos, estabelecendo uma normativa de comportamento que lhe constitui a couraça de segurança, ao mesmo tempo abrindo as portas da liberdade por onde avança resoluto, na marcha que o conduza para a paz.

            Enquanto medram as licenciosidades, que vão, a pouco e pouco, dominando o homem e a sociedade hodiernos, o cristão verdadeiro sabe que a sua segurança é o Evangelho, sua definição é o Bem, sua metodologia é a Caridade, sua salvação é o Amor.

            Sem qualquer pieguismo ou manifestação de covardia moral, estabelece um estado de paz interior que os conflitos e as convulsões de fora não conseguem desconectar.

            Caracteriza-se a degenerência de um povo, a queda de uma comunidade pela explosão aberrativa das permissividades morais que neles se multiplicam. Quando combalem os valores éticos, desmoronam-se os alicerces da vida humana.

            Verdade é que muitas vezes se tornam legais as excrescências do caráter humano, apesar disso jamais se tornam morais.

            Aqueles que compactuam com as licenciosidades douradas são também criminosos que se unem para os homicídios recíprocos da vida interior. Enquanto vibram, estonteantes, em sensações enganosas, as expressões do prazer, na atualidade do sexo que tresvaria[5], fazendo do homem um feixe de instintos animalizantes e da mulher um objeto de uso indiscriminado, sem desejarmos referir-nos aos grandes comprometidos da História, não podemos sopitar[6] referências a alguns deles, como Cláudio e Messalina que, não obstante a posição relevante à cabeça do Império Romano, se entregavam à exaustão dos sentidos, culminando pela alucinação do desejo infrene[7] e da degeneração mental; Justiniano e Teodora, esta última uma atriz arrancada do bordel para o primeiro ponto de destaque da comunidade, exercendo lamentável influência, inclusive na Religião... Mais recentemente Paulina Bonaparte que, tendo o irmão à frente do Império Francês, se entregou à volúpia insana do prazer até o total aniquilamento das forças... E quantos outros?!...

            Seria difícil eleger os grandes prevaricadores e as atormentadas da contemporaneidade. É verdade, que a mulher que envileceu os sentimentos, no rebaixamento da sexualidade, e que brilha, despertando inveja, provocando ciúmes, é, no íntimo, uma infeliz, vitimada em si mesma. Espírito sofrido, que foi ludibriado nos seus sentimentos mais profundos, jornadeia nas luzes enganosas da glória, que logo se apagam, sem contar com um braço amigo que lhe conceda dignidade e apoio quando as carnes trôpegas perderem o momentâneo viço, e o fulgor dos olhos apagar a sua luminosidade. Poderá estar ajaezada e adereçada de gemas de alto custo, todavia sempre experimenta o travo profundo da soledade e o ácido tormentoso de transitar sem amor.  Se lhe veio das carnes um filho, órfão de pai vivo, terá que segurá-lo em transe de dor num misto de mágoa, amor e agonia profunda quão devastadora. Se derrapa na miséria econômica, que muitas vezes precede ou sucede à moral, passa combatida, com a ferida aberta do sentimento ultrajado onde o veneno da insensatez humana aumenta cada vez mais a pústula, tornando-a mais dolorosa. Ninguém dela se apiada. Desculpam o cômpar[8] Que contribuiu para a sua queda, mas não a ela que tombou. Em verdade, poucos lembram de que a sua queda se consumou porque uma mão anônima e acovardada empurrou-a pela escada abaixo da dignidade, permanecendo santa, na própria vergonha.

            Os vícios, que são frutos dos distúrbios da emotividade, da insegurança e das ambições desnorteadoras deste século de misérias e de glórias, de despudor e de renúncias, objetivam o saciar do egoísmo na sua multiface de paixões.

            Não vos deixeis enredar nas malhas bem entretecidas das ações destrutivas dos vícios, por mais simples que vos pareçam!

            A barragem poderosa que sustém as águas arrebenta-se, quando uma pequena infiltração lhe mina as resistências. As pirâmides colossais levantaram-se pedra sobre pedra. A escada da degradação dos costumes começa no primeiro passo para baixo e não encontra fundo, porque quem cai moralmente e se deixa derruir[9] tomba sempre um degrau a mais.

            Detende o vosso passo e erguei vosso sentimento!

            O melhor conselheiro do ser é a consciência tranquila.

            Inutilmente procurar-se-ão psicoterapeutas, analistas, medicações se não se erradicarem do sentimento profundo as marcas dos crimes perpetrados contra a consciência pessoal ou coletiva.

            Analisai o Evangelho, comprometendo-vos com ele e, livres como sois, não useis da vossa licença para destruir a oportunidade da atual reencarnação.

            O Apóstolo Paulo gritava com emoção que era escravo do Cristo; João da Cruz, o místico espanhol, entregando-se totalmente ao Mestre Galileu, tornou-se o protótipo do senhor de si mesmo e Tereza de Ávila, que com ele compartia as excelências espirituais, escreveu emocionada: “Me muero, por que non muero”, a sofrer, porque não morrer para ela constituía verdadeiramente uma forma de morte.

            O homem que encontra Jesus e que O segue rompe a grilheta que o ata aos vícios dissolventes, estes que infelicitam o coração.

            Avançar com o espírito estóico no rumo da felicidade íntima, através da retidão do caráter e da preservação dos costumes, é a diretriz que vos chega, com o objetivo de edificardes, no mundo, uma humanidade melhor, onde todos encontraremos a verdadeira paz hoje ou amanhã.

Francisco do Monte Alverne
por Divaldo P. Franco
in “Florilégios Espirituais”
 3ª Edição 1983





[1] Diz-se daquele que está secretamente de acordo com outrem para a prática de alguma ação condenável
[2] Mau cheiro que se desprende de uma coisa que esteve muito tempo em recinto fechado e úmido
[3]  Enredar, tramar, maquinar, intrigar: urdir uma traição.
[4] Liquefação de um corpo sólido por efeito da umidade atmosférica. Desmaio, desfalecimento, síncope
[5] Praticar desvarios, estar fora de si, delirar. Dizer ou fazer disparates.
[6] Adormecer. Abrandar, acalmar. Desalentar, debilitar, enlanguescer. Fig. Alimentar esperanças em. Dominar, vencer: sopitar desejos.
[7] Sem freio; desenfreado, descomedido
[8] Igual; que está a par.
[9] Desmoronar, derribar; destruir.




quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Licenças Perniciosas




Licenças Perniciosas
            O homem do mundo que é possuidor de sensatez, na convivência mundana, usa, mas não abusa, concorda, mas não conive[1], ensina, mas não impõe, discorda, mas não se inimiza, diverge, mas não dissente, mantendo em todos os momentos uma diretriz de equilíbrio que o torna verdadeiro cristão. Compreende que a sua saúde interior resulta do comportamento que se aplica na convivência com os seus pares.

            O homem cristão, discípulo sincero do Evangelho de Jesus Cristo, compreende em maior profundidade os compromissos que lhe assinalam a rota e por isto mesmo sabe que é livre, mas não tem licença de se comprometer com as vinculações negativas da vida, que lhe cumpre superar. Diante das licenciosidades que lhe abrem portas convidativas ao acesso, mantém uma atitude digna, discreta, sem envolver-se nas fantasias que levam à indigência espiritual e compelem ao aniquilamento dos ideais superiores da vida. Sente-se escravo da verdade, por isso não mente. Compreende que a saúde é fator primacial da vida, portanto, luta contra a doença. No báratro das viciações que se multiplicam galvanizantes ou douradas, percebe o lado negativo das concessões agradáveis que levam à sensualidade ― bafio[2] pestilencial de morte que entorpece o sentimento e perturba a razão ―. Abstém de enrodilhar-se nas malhas constritoras do mal que urde[3] toda uma série de aflições e vexames, que terminam por destruir o que há de mais elevado no ser. Coloca-se em vanguarda contra as facilidades morais que arestesiam os centros do discernimento, por mais favoráveis se lhe apresentem, mesmo quando doando um cabedal glorioso de transitória posição de relevo no mundo. Resguarda-se contra os vícios sociais, os pequenos crimes que são as matrizes dos grandes delíquios[4] espirituais. Afirma os seus valores legítimos, não pelo envilecimento da personalidade, porém através da manutenção dos requisitos que o tornam verdadeiramente digno de ser respeitado e imitado. Não aquiesce diante da mentira, da inveja, da embriaguês, da concupiscência, da calúnia, dos tóxicos, estabelecendo uma normativa de comportamento que lhe constitui a couraça de segurança, ao mesmo tempo abrindo as portas da liberdade por onde avança resoluto, na marcha que o conduza para a paz.

            Enquanto medram as licenciosidades, que vão, a pouco e pouco, dominando o homem e a sociedade hodiernos, o cristão verdadeiro sabe que a sua segurança é o Evangelho, sua definição é o Bem, sua metodologia é a Caridade, sua salvação é o Amor.

            Sem qualquer pieguismo ou manifestação de covardia moral, estabelece um estado de paz interior que os conflitos e as convulsões de fora não conseguem desconectar.

            Caracteriza-se a degenerência de um povo, a queda de uma comunidade pela explosão aberrativa das permissividades morais que neles se multiplicam. Quando combalem os valores éticos, desmoronam-se os alicerces da vida humana.

            Verdade é que muitas vezes se tornam legais as excrescências do caráter humano, apesar disso jamais se tornam morais.

            Aqueles que compactuam com as licenciosidades douradas são também criminosos que se unem para os homicídios recíprocos da vida interior. Enquanto vibram, estonteantes, em sensações enganosas, as expressões do prazer, na atualidade do sexo que tresvaria[5], fazendo do homem um feixe de instintos animalizantes e da mulher um objeto de uso indiscriminado, sem desejarmos referir-nos aos grandes comprometidos da História, não podemos sopitar[6] referências a alguns deles, como Cláudio e Messalina que, não obstante a posição relevante à cabeça do Império Romano, se entregavam à exaustão dos sentidos, culminando pela alucinação do desejo infrene[7] e da degeneração mental; Justiniano e Teodora, esta última uma atriz arrancada do bordel para o primeiro ponto de destaque da comunidade, exercendo lamentável influência, inclusive na Religião... Mais recentemente Paulina Bonaparte que, tendo o irmão à frente do Império Francês, se entregou à volúpia insana do prazer até o total aniquilamento das forças... E quantos outros?!...

            Seria difícil eleger os grandes prevaricadores e as atormentadas da contemporaneidade. É verdade, que a mulher que envileceu os sentimentos, no rebaixamento da sexualidade, e que brilha, despertando inveja, provocando ciúmes, é, no íntimo, uma infeliz, vitimada em si mesma. Espírito sofrido, que foi ludibriado nos seus sentimentos mais profundos, jornadeia nas luzes enganosas da glória, que logo se apagam, sem contar com um braço amigo que lhe conceda dignidade e apoio quando as carnes trôpegas perderem o momentâneo viço, e o fulgor dos olhos apagar a sua luminosidade. Poderá estar ajaezada e adereçada de gemas de alto custo, todavia sempre experimenta o travo profundo da soledade e o ácido tormentoso de transitar sem amor.  Se lhe veio das carnes um filho, órfão de pai vivo, terá que segurá-lo em transe de dor num misto de mágoa, amor e agonia profunda quão devastadora. Se derrapa na miséria econômica, que muitas vezes precede ou sucede à moral, passa combatida, com a ferida aberta do sentimento ultrajado onde o veneno da insensatez humana aumenta cada vez mais a pústula, tornando-a mais dolorosa. Ninguém dela se apiada. Desculpam o cômpar[8] que contribuiu para a sua queda, mas não a ela que tombou. Em verdade, poucos lembram de que a sua queda se consumou porque uma mão anônima e acovardada empurrou-a pela escada abaixo da dignidade, permanecendo santa, na própria vergonha.

            Os vícios, que são frutos dos distúrbios da emotividade, da insegurança e das ambições desnorteadoras deste século de misérias e de glórias, de despudor e de renúncias, objetivam o saciar do egoísmo na sua multiface de paixões.

            Não vos deixeis enredar nas malhas bem entretecidas das ações destrutivas dos vícios, por mais simples que vos pareçam!

            A barragem poderosa que sustém as águas arrebenta-se, quando uma pequena infiltração lhe mina as resistências. As pirâmides colossais levantaram-se pedra sobre pedra. A escada da degradação dos costumes começa no primeiro passo para baixo e não encontra fundo, porque quem cai moralmente e se deixa derruir[9] tomba sempre um degrau a mais.

            Detende o vosso passo e erguei vosso sentimento!

            O melhor conselheiro do ser é a consciência tranquila.

            Inutilmente procurar-se-ão psicoterapeutas, analistas, medicações se não se erradicarem do sentimento profundo as marcas dos crimes perpetrados contra a consciência pessoal ou coletiva.

            Analisai o Evangelho, comprometendo-vos com ele e, livres como sois, não useis da vossa licença para destruir a oportunidade da atual reencarnação.

            O Apóstolo Paulo gritava com emoção que era escravo do Cristo; João da Cruz, o místico espanhol, entregando-se totalmente ao Mestre Galileu, tornou-se o protótipo do senhor de si mesmo e Tereza de Ávila, que com ele compartia as excelências espirituais, escreveu emocionada: “Me muero, por que non muero”, a sofrer, porque não morrer para ela constituía verdadeiramente uma forma de morte.

            O homem que encontra Jesus e que O segue rompe a grilheta que o ata aos vícios dissolventes, estes que infelicitam o coração.

            Avançar com o espírito estóico no rumo da felicidade íntima, através da retidão do caráter e da preservação dos costumes, é a diretriz que vos chega, com o objetivo de edificardes, no mundo, uma humanidade melhor, onde todos encontraremos a verdadeira paz hoje ou amanhã.

Francisco do Monte Alverne
por Divaldo P. Franco
in “Florilégios Espirituais”
Ed.  3ª Edição 1983



[1] Diz-se daquele que está secretamente de acordo com outrem para a prática de alguma ação condenável
[2] Mau cheiro que se desprende de uma coisa que esteve muito tempo em recinto fechado e úmido
[3]  Enredar, tramar, maquinar, intrigar: urdir uma traição.
[4] Liquefação de um corpo sólido por efeito da umidade atmosférica. Desmaio, desfalecimento, síncope
[5] Praticar desvarios, estar fora de si, delirar. Dizer ou fazer disparates.
[6] Adormecer. Abrandar, acalmar. Desalentar, debilitar, enlanguescer. Fig. Alimentar esperanças em. Dominar, vencer: sopitar desejos.
[7] Sem freio; desenfreado, descomedido
[8] Igual; que está a par.

[9] Desmoronar, derribar; destruir.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

'Esclarecimentos'


Esclarecimentos
           
            A morte, longe de ser a “cessação da vida”, desvela, em plenitude, realidades inimaginadas pelas mais argutas concepções humanas.

         Paisagens exuberantes, multidões pulsantes e engenhos surpreendentes, movimento, som e cor, certamente que noutra dimensão vibratória, aguardam o viajante carnal após a jornada física, oferecendo-lhe mais completa visão e compreensão da realidade.

         Invisível ao estado material, não implica inexistente, o que inspirou Anaxágoras[1] a formular o conceito: “Tudo o que vemos é a materialização do invisível”, deixando, em transparência, entender que o último é o real por ser preexistente...

         Seria, então, melhor, o verbete desencarnar, adotado por Allan Kardec, no moderno Espiritualismo ou simplesmente, no Espiritismo.

         Não se surpreendam os nossos leitores com a adoção, de nossa parte, em toda esta Obra, da terminologia espírita, que nos pareceu mais consentânea, mais própria para exteriorizarmos o nosso pensamento.

         Ocorre que, não havendo morte e sim abandono da carne através do fenômeno da interrupção da vida orgânica, fomos convidados a um reexame de comportamento mental em torno da religião e da Vida em si mesma.

         Não travamos conhecimento direto com as Obras espíritas, enquanto no corpo somático, já que retornamos, quando “O Livro dos Espíritos” estava sendo divulgado em França[2]. Todavia, após o despertar, recuperando os dons preciosos da visão e do discernimento, tomamos conhecimento da Nova Revelação que se espraiava na Terra, dando cumprimento à promessa de Jesus sobre o Consolador.

         Quanto de emoção e júbilo inundaram-nos o ser, difícil é descrevê-lo!

         Amante do Evangelho e cultor das páginas do Velho Testamento, abeberamo-nos das fontes inexauríveis das informações revolucionárias, permitindo embriagar-nos de esperanças e ações renovadoras com que nos pudéssemos incorporar à legião dos obreiros anônimos e infatigáveis, na tarefa da restauração da fé.

         Sem abdicar dos conhecimentos com que a Igreja Romana nos norteara os passos, e à qual devemos os instantes mais felizes da vida física, adicionamos, aos informes que possuíamos, a luz esfuziante da razão, renovando os conceitos em torno da imortalidade e da comunicabilidade da alma, da justiça divina, do céu e do inferno, da eucaristia, do sacrifício da missa, como de outras colocações teológicas ora confrontadas com os fatos que, de visu, podíamos melhor e mais profundamente compreender. Isto não implica esquecimento da dívida de gratidão para com a Fé que nos dulcificou a alma, guiando-a para o Bem, embora as prerrogativas que se atribuíam à Religião e das quais buscamos, quanto pudemos, ser um ardoroso defensor e divulgador afervorado.

         Abordando temas sob angulação mais feliz do que antes fizéramos, muitos críticos sinceros irão tentar fazer paralelos de estilo procurando o orador do passado, cuja vaidade intelectual desapareceu com as cinzas do corpo...

         Abandonados os períodos frequentes e as constantes citações em Latim, buscando a fraseologia simples, sem qualquer presunção sacra, Espírito que se descobre a si mesmo, iniciando experiências dantes não vividas, objetivamos alertar e, se possível, instruir pessoas desatentas ou ignorantes dos problemas espirituais.

         Outros críticos, os que se comprazem em acionar os camartelos da destruição, sempre armados para a agressão ácida e a censura perniciosa,
encontrarão bons argumentos para os seus tentames e atuações, não fugindo, eles mesmos, que se acreditam “donos da verdade” à sua “hora da verdade”, já que a morte a ninguém poupa. De surpresa em surpresa, mudarão de comportamento e verificarão quanto foram vãs e inglórias as empresas negativas a que se entregaram.

         A indigestão pela cultura, que se não diluiu prodigamente em atos de beneficência e amor, de libertação de consciências e fraternidade, é tão propiciadora de desditas quanto a falta das letras e do humano saber.

         O Espírito são os seus valiosos empreendimentos de amor e solidariedade fraternal, com cujo patrimônio ganha altura e paz.

         Estas páginas foram elaboradas ao largo de quase três anos, quanto nos permitiram os labores imediatos cá abraçados.

         Não trazem qualquer vislumbre de presunção literária nem de exibição de talentos.

         Destituídas de novidades reais, são contributos que se adicionam aos valiosos esforços dos nobres Benfeitores Espirituais encarregados de clarificar e conduzir o homem moderno ao fanal imortalista.

         São florilégios espirituais da alma renovada pela fé racional, abrasadora, que impulsiona para a frente e liberta de qualquer coação ou algema.
         Esperamos que possam despertar alguém hibernado na indiferença ou sensibilizar alguma alma interessada em seguir o rio da vida que ruma na direção do delta da plenitude espiritual.

         Dar-nos-emos por felizes, se lograrmos ser lido e meditado.

         Rogamos ao Dispensador de Bênçãos que a todos nos inspire e ampare, nas elevadas tentativas de crescer e evolver dos rumos da perfeição.

Francisco do Monte Alverne (espírito)
por Divaldo Franco
in Florilégios Espirituais’, 3ª Ed Alvorada (1983)



[1] Da Wikipedia: Discípulo de Péricles. Filósofo grego do período pré-socrático.
[2] Frei Francisco do Monte Alverne desencarnou cego no dia 2 de dezembro de 1857. (Nota da Editora).